Gosto da ponte Rio-Niterói!
Do correspondente de “Despertai!” no Brasil
PERMITA-ME contar-lhe, em breves palavras, por que gosto tanto da Ponte Rio-Niterói! Sou muito viajado, já vi muitas pontes. Mas, aquele longo tapete cinza-claro, como que de mármore, sobre as águas azuis da linda Baía de Guanabara, é duma beleza ímpar. Seu perfil gracioso, suas linhas esguias e leves me atraem. Se aproximar pessoas, facilitando suas relações, a ponte contará com mais um ponto a seu favor. Deixe que me apresente: Sou Artur, gaivota macho, e fiz de uma das 130 ilhas da baía o meu lar. Ganhei carinhosamente esse nome depois que a ponte recebeu o nome oficial de Ponte Presidente Costa e Silva.
De conversa em conversa, fiquei sabendo que desde 1875 se cogitava dum túnel ou ponte para ligar o Rio de Janeiro a Niterói. Após vários projetos, decidiu-se afinal pela ponte. E, graças ao financiamento dum consórcio inglês, a Rainha Elizabeth II descerrou, em 9 de novembro de 1968, a placa comemorativa do início das obras.
Desde então, nossa já agitada baía presenciou uma atividade incomum. Embora mais preocupados com a fuga dos peixes assustados, espreitávamos os humanos e nos perguntávamos como venceriam os desafios da ponte à engenharia nacional e mundial. Apreciamos muito a tecnologia humana, quando não é usada para dizimar as espécies animais. Aliás, alguém lembrou bem que as pontes promoveram a criação da primeira escola de engenharia do mundo, a École des Ponts et Chaussées, em Paris, em 1747.
Um dos maiores desafios era o das fundações. O solo do fundo da baía é coberto de espessa camada de detritos orgânicos, e só bem abaixo está a rocha sólida. Naturalmente, como gaivota, não espera que lhe forneça os pormenores técnicos. Soube, porém, que até raios laser foram usados para o cravamento de tubulões na rocha, então concretados sob a água. As cabeças dos tubulões foram amarradas entre si com vergalhões de aço, cercadas de chapas de concreto e então concretadas. Surgiram assim as bases para os 120 pares de pilares do trecho marítimo. Essas fundações chegaram a atingir cotas de 70 metros abaixo do nível médio do mar, e os pilares ocos, com paredes de 20 a 25 centímetros, chegam a atingir 60 metros. Assim, na parte central, a ponte corresponde a um prédio de 45 pavimentos. Para os pilares, ao invés de formas fixas, usaram-se as deslizantes, o que permitiu seu levantamento à razão de 25 cm por hora. Na prova de carga, suportaram 1.750 toneladas, bem mais do que se espera deles!
Daí, procedeu-se à montagem do tabuleiro, cuja face superior seria a pista de rolamento. Com os acessos, a ponte tem 13,9 km, dos quais 8,2 sobre o mar. A pista foi feita com aduelas, enormes caixões pré-moldados, com 4,80 m de comprimento, 12,60 m de largura e 13 m de altura. Sua montagem, um espetáculo à parte, foi feita por uma viga de lançamento francesa, parte trem, parte guindaste, de 164 m e pesando 300 toneladas. Uma vez encaixadas umas nas outras, as aduelas eram coladas com resina epoxi e por suas bainhas passavam os cabos de protensão. Cada vão normal entre os pilares é formado por 16 pares de aduelas.
O vão central, porém, é feito de três vigas de aço especial. Os módulos foram pré-fabricados na Inglaterra, e as vigas foram montadas aqui, tendo 848 metros ao todo. A maior delas, de 300 metros, é o maior vão do mundo para esse tipo de ponte. Tais vigas permitem a passagem marítima livre de mais de 60 metros, idêntica à de outras pontes famosas como a Verrazano-Narrows, de Nova Iorque. E a altura máxima da ponte é de 72 metros, não impedindo o tráfego aéreo, mesmo dos Jumbos e DC-10.
O árduo esforço dos 10.000 operários e supervisores foi por fim recompensado. Em 4 de março de 1974, a ponte foi inaugurada, não faltando o típico “carnaval” tão a gosto de cariocas e fluminenses. Nós, as aves, passamos por muitos sustos com o pesado trânsito de 37.761 veículos e chegamos a temer forte concorrência dos “pescadores”. De início, alguns colegas tentaram competir com os velozes carros, que corriam os 100 km permitidos nas seis pistas de tráfego. Mas, essa velocidade não é algo para nenhuma gaivota botar defeito!
Espera-se que o alto custo de Cr$ 1 bilhão seja coberto pelo pedágio dentre 10 a 13 anos. Bem, se tiver oportunidade, venha visitar a ponte. À noite, iluminada por seus 799 postes, ela se torna um espetáculo deslumbrante. Mas, por favor, evite assustar os peixes ou poluir ainda mais a baía, pois, embora goste muito da ponte, não posso passar sem meu jantar favorito!