Ajuda ao Entendimento da Bíblia
[A matéria condensada que segue abaixo foi extraída de Aid to Bible Understanding, Edição de 1971.]
CAFARNAUM [aldeia de Naum, ou, cidade do consolo]. Uma cidade de importância capital no ministério de Jesus, situada na margem NO do mar da Galiléia. Possuía uma coletoria, de onde Jesus convocou Mateus para ser seu discípulo (Mat. 9:9), e talvez um posto militar, pois ali residia um centurião. (Mat. 8:5) Tais indícios, além do fato de que morava ali um assistente do rei, bastante rico para ter escravos (João 4:46-53), parecem tornar provável que Cafarnaum tivesse certas dimensões e importância, sendo por isso digna de ser chamada de “cidade da Galiléia”. — Luc. 4:31.
Têm se sugerido dois sítios principais como o local original de Cafarnaum. As ruínas de Khan Minyeh, situada junto ao mar da Galiléia, no canto NE da planície de Genesaré, foram consideradas por muitos como o provável local de Cafarnaum, mas as escavações feitas ali indicam que as ruínas são de origem arábica. Isto deixa Tel Hum, extensiva ruína a um pouco menos de 4,8 km mais adiante na margem, a NE de Khan Minych, e a cerca da mesma distância a SO do ponto em que o rio Jordão deságua no mar da Galiléia. A planície costeira aqui é bem estreita, mas, nos tempos antigos uma estrada saía do Jordão, descia e passava por Cafarnaum e atravessava a planície de Genesaré, ligando-se à grande Estrada Tronco, a principal estrada que partia da Mesopotâmia e de Damasco, atravessava a Palestina e chegava ao Egito. Várias fontes fluem pela planície de Genesaré, desaguando nas águas azuis do mar da Galiléia, e a grande quantidade de matéria vegetal que tais fontes transportam atrai grande número de peixes, tornando essa área um excelente local para os pescadores.
O lar dos pescadores Pedro e André localizava-se em Cafarnaum, e foi aqui que Jesus curou a sogra de Pedro, e, depois disso, a casa foi cercada por pessoas que traziam pessoas enfermas e possessas de demônios para que ele as curasse. — Mar. 1:29-34; Luc. 4:38-41.
Cafarnaum foi incluída por Jesus junto com as cidades próximas, de Corazim e Betsaida, como um dos lugares em que realizara a maioria de suas obras poderosas. (Mat. 11:20-24; Luc. 10:13-15) Cafarnaum fora exaltada até os céus em sentido espiritual, pela presença, pela pregação e pelos milagres de Jesus, mas seria então rebaixada, por assim dizer, até o Hades, que aqui representava a profundeza de seu rebaixamento. A antiga Sodoma certamente teria produzido dez pessoas justas, caso tivesse sido tão altamente favorecida como fora Cafarnaum. Atualmente Cafarnaum, como Sodoma, não mais existe como cidade, as suas ruínas em Tel Hum estendendo-se por cerca de 1,6 km ao longo das margens do mar.
Uma das mais excelentes ruínas de sinagogas já descobertas foi achada nas escavações feitas em Tel Hum, o prédio tendo originalmente dois pavimentos medindo cerca de 20 m de cumprimento. Embora fosse do segundo ou terceiro século E.C., sugere se que pode ter sido construída no local de anterior sinagoga que datava do tempo do ministério terrestre de Jesus.
CAIFÁS [depressão]. José Caifás era o sumo sacerdote durante o ministério de Jesus. (Luc. 3:2) Era o genro do sumo sacerdote Anás (João 18:13; veja ANÁS.) e foi designado para tal cargo pelo antecessor de Pôncio Pilatos, Valério Grato, por volta do ano 18 E.C., embora alguns afirmem que possa ter sido até no ano 26. Ele reteve o cargo até o ano 36 ou 37, por mais tempo do que qualquer dos seus antecessores imediatos, isto se devendo à sua perita diplomacia e cooperação com a regência romana. Ele e Pilatos, segundo se informa, eram bons amigos. Caifás era saduceu. — Atos 5:17.
Sendo um líder da trama para eliminar Jesus, Caifás profetizou, embora isso não partisse dele próprio, que Jesus morreria dentre em pouco pela nação, e deu seu apoio de todo o coração a esse intuito. (João 11:49-53; 18:12-14) No julgamento de Jesus perante o Sinédrio, Caifás rasgou suas roupas e disse: “Ele blasfemou!” (Mat. 26:65) Quando Jesus estava diante de Pilatos, Caifás, sem dúvida, clamava ali: “Para a estaca com ele! Para a estaca com ele!” (João 19:6, 11); ele estava ali, pedindo que Barrabás fosse liberto, ao invés de Jesus (Mat. 27:20, 21; Mar. 15:11); ele estava ali, bradando: “Não temos Rei senão César” (João 19:15); ele igualmente estava ali, protestando contra o letreiro sobre a cabeça de Jesus: “O Rei dos Judeus.” — João 19:21.
A morte de Jesus não marcou o fim do papel de Caifás como o principal perseguidor do cristianismo em sua infância. Os apóstolos foram logo em seguida conduzidos à força perante este regente religioso, e ordenou-sê-lhes energicamente que parassem de pregar, eles foram ameaçados e até mesmo açoitados, mas isso de nada valeu. Apesar de Caifás, “cada dia, no templo e de casa em casa continuavam [a pregar] sem cessar.” (Atos 4:5-7; 5:17, 18, 21, 27, 28, 40, 42) O sangue do justo Estêvão logo foi adicionado às manchas do sangue de Jesus sobre as saias de Caifás, que também supriu a Saulo de Tarso de cartas de apresentação, de modo que a campanha assassina dele pudesse ser estendida até Damasco. (Atos 7:1, 54-60; 9:1, 2) No entanto, não demorou muito até que Vitélio, uma autoridade romana, removesse Caifás do cargo, no que tal homem humilhado, não conseguindo suportar tal vitupério, alegadamente cometeu suicídio.
LIVRO [Heb. sépher, livro, rolo, carta, escrito, documento, registro; Gr., bíblos (o âmago ou substância do caule do papiro), biblíon, livro, rolo].
Um “livro” primitivo talvez fosse uma tábua ou uma coleção de tabuinhas de argila, de pedra, de cera, de madeira recoberta de cera, de metal, de marfim, ou, talvez, até mesmo um conjunto de cacos de louca (Grego, óstraka), etc. Rolos escritos a mão eram formados de folhas ligadas de papiro, de pergaminho (pele de animais, tais como ovelhas e cabritos), ou do material mais fino, o velino, feito da pele de bezerros jovens, e, ainda mais tarde, de linho, de papel de linho, etc. Finalmente, um livro tornou-se uma coleção de folhas dobradas, consecutivas, escritas a mão ou impressas, amarradas com corda, costuradas, coladas, costuradas a máquina ou presas de outro modo, formando um só volume encadernado.
Quanto aos rolos, usualmente apenas um dos lados era escrito (quando em couro, o lado originalmente peludo). O material de escrita era às vezes enrolado num pau. O leitor começava a ler em uma ponta, segurando o rolo na sua meio esquerda, e abrindo-o em torno do pau com a direita (se lia o hebraico; o contrário, se lia o grego). Se o registro era longo, o rolo talvez fosse enrolado em dois país, com a parte do meio do texto ficando visível, quando apanhado para ser lido. Daí a palavra “volume”, derivada da palavra latina volvere, que significa “dar volta”, e de volumem, que significa “rolo”.
Um tamanho comum das folhas usadas para fazer rolos era o de 23 a 28 cm de altura, e de 15 a 23 cm horizontalmente. Várias dessas folhas eram unidas, lado a lado, com cola.
As beiradas do rolo eram aparadas, alisadas com pedra-pomes e coloridas, geralmente de preto. Mergulhá-lo em óleo de cedro protegia o rolo de insetos. A escrita era usualmente feita de um lado do rolo, a menos que houvesse mais informações do que poderiam caber na parte interna. Daí, às vezes, escrevia se um pouco do lado de fora, ou no reverso. Os rolos visionários que continham julgamentos, vistos pelos profetas Ezequiel e Zacarias e pelo apóstolo João, foram escritos em ambos os lados. Isto parece indicar que os julgamentos eram grandes, extensos e de peso. — Eze. 2:10; Zac. 5:1-3; Rev. 5:1.
Importantes documentos eram selados com uma massa de argila ou de cera, contendo a impressão do selo do escritor ou fabricante, preso ao documento por cordinhas. O apóstolo João viu, em visão, um rolo com sete selos, que foi entregue ao Cordeiro por aquele que estava no trono. — Rev. 5:1-7.
Rolos primitivos parecem ter tido até quatro colunas em cada página, ao passo que os posteriores em geral continham uma só coluna. O rolo de Jeremias consistia em “páginas-colunas”. Ao serem lidas três ou quatro colunas, o Rei Jeoiaquim cortou esse trecho do rolo e o lançou ao fogo. (Jer. 36:23) As dezessete faixas do Rolo do Mar Morto de Isaías continham cinqüenta e quatro colunas de texto, cada uma tendo de vinte e oito a trinta e duas linhas.
Nos rolos de papiro, as folhas eram feitas de duas camadas de papiro, uma em ângulo reto com a outra. As folhas eram coladas, de modo que as faixas horizontais formavam a superfície interna do rolo, apresentando uma superfície lisa para escrita e um guia para a escrita no mesmo nível. O título, numa pequena faixa de papiro, era ligado à borda superior, podendo ser facilmente lido, quer o rolo ficasse em posição vertical, quer fosse colocado numa prateleira. Rolos de pergaminho ou de velino amiúde eram pautados, para orientação da pena do escritor. Tais linhas aparecem no rolo de Isaías. Os registros dos antigos arquivos nacionais de Israel e de Judá, bem como os escritos inspirados dos profetas de Jeová, embora às vezes chamados de “livros”, apresentavam-se realmente sob esta forma de rolo. — 1 Reis 11:41; 14:19; Jer. 36:4, 6, 23.
Cada sinagoga, algo que surgiu depois do exílio babilônico, conservava e utilizava rolos das Santas Escrituras, e havia leitura pública deles, a cada sábado. (Atos 15:21) O próprio Jesus leu um rolo desse tipo, provavelmente um rolo semelhante ao Rolo do Mar Morto de Isaías. — Luc. 4:15-20.
Parece que os cristãos usavam mormente o rolo ou livro em forma de rolo pelo menos até o fim do primeiro século E.C. O apóstolo João escreveu a Revelação por volta de 96 E.C., e o livro chama a si mesmo de rolo, no Rev. capítulo 22, versículos 18 e 19. Mas o livro em forma de rolo era muito difícil de manejar. Seria difícil transportar vários livros da Bíblia em forma de rolos. Seria ainda mais inconveniente, com efeito, seria praticamente impossível, consultar rapidamente certas declarações comidas num grande rolo. Os indícios são de que os cristãos mostrara-se prontos a adotar o códice ou livro de folhas, porque se interessavam em pregar as “boas novas” e consultavam e indicavam muitas referências nas Escrituras, em seu estudo e em sua pregação da Bíblia.
Quanto ao fato de que os cristãos, se não inventaram o livro de folhas, assumiram a liderança no uso do mesmo, o Professor E. J. Goodspeed, em seu livro Christianity Goes to Press (O Cristianismo Utiliza a Imprensa), páginas 75, 76, afirma: “Havia homens na primitiva igreja, vivamente alertas quanto à parte desempenhada pela editoração no mundo greco-romano, os quais, no seu zelo de espalharem através daquele mundo a mensagem cristã, aproveitaram-se de todas as técnicas da editoração, não só as antigas e tradicionais, bem batidas, mas as mais recentes e mais progressivas, e fizeram uso delas ao máximo, na sua propaganda cristã. Ao fazerem isso, começaram a usar, em ampla escala, o códice, agora em uso universal. Seu evangelho não era mistério esotérico e secreto, mas algo que devia ser proclamado de cima das casas, e tornaram sua ocupação levar a efeito o antigo dito dos profetas: ‘Publicai as boas novas.’ A escrita dos evangelhos de per si foi uma grande coisa, naturalmente, mas sua compilação, junto com sua publicação como uma coleção, foi uma medida totalmente diferente, e uma de quase tanta importância quanto a escrita de alguns deles.”
O Professor Goodspeed cita o discurso presidencial do Professor Henry A. Sanders perante a Associação Americana de Filologia, em dezembro de 1937, sobre o aparecimento do códice ou livro de folhas, dizendo: “Já no fim do primeiro século A.C., e ainda mais no primeiro século A.D., começaram a surgir códices no comércio de livros. Para a literatura cristã, os códices já eram usados provavelmente desde o primeiro.”
[Continua]
[Foto na página 21]
Ruínas da sinagoga em Cafarnaum.