Os exploradores
Do correspondente de “Despertai!” nas Ilhas Britânicas
O QUE tinham em comum Cristóvão Colombo, os viquingues, os marinheiros polinésios e Noé? Conhecimento de que o vôo de certas aves pode ser usado para indicar a presença de terra seca.
Sabia que Colombo, na sua primeira viagem através do Atlântico, alterou seu rumo do oeste para o sudoeste porque muitos pássaros voaram naquela direção à tardinha? Alguns dias mais tarde, ele descobriu as Baamas.
Os pássaros são navegantes por excelência. Considere apenas algumas de suas proezas mais surpreendentes: Certa espécie de cuco bronzeado da Nova Zelândia é criado por ‘pais adotivos’ que não migram. Contudo, esses pássaros ainda novos revelam grande habilidade de navegação, voando em direção do norte por 4.000 quilômetros através do oceano, a bem dizer vazio, até às ilhas Salomão. Encontram-se grandes parcelas tão ao norte como as ilhas Shetland, no norte da Escócia. Entretanto, quando se aproxima a época da procriação, retornam aos milhões às ilhas Tristão da Cunha, na ponta meridional mais extrema da África. Até mesmo os pingüins que não voam têm essa habilidade de retornar ao seu lugar de origem. Pingüins Adélia que foram deixados a 3.000 quilômetros de seu lugar de origem no gelo da Antártida retornaram para lá.
Essas viagens foram documentadas cuidadosamente. Coloca-se uma placa numerada em volta da perna de um pássaro, com uma mensagem solicitando a quem encontrar o pássaro que comunique ao endereço indicado na placa, dando o local onde a ave foi encontrada. Embora apenas poucas sejam recuperadas, a técnica habilitou os cientistas a traçar as trajetórias de vôo de muitas espécies migradoras.
Em anos recentes, seguiu-se também o rastro de muitos pássaros por meio de radar. Em outros foram fixados pequenos rádios transmissores, a fim de se seguir as suas trajetórias de vôo. Mas, grande parte de nosso conhecimento foi adquirido por experiências de laboratório. Antes de examinarmos algumas dessas, será bom, para elucidação, vermos o que os navegantes humanos precisam para chegar a seu destino.
Imagine uma família que vai fazer um piquenique. Eles estacionam o carro e caminham para dentro da floresta para comer. À noitinha, ao retornarem, perdem-se e se põem a caminhar em círculos. O que precisam para encontrar o carro? Duas coisas — um mapa e uma bússola. O mapa precisa indicar-lhes onde se acha o carro e onde eles se encontram. Essa informação em si só porém, não lhes será de proveito se não puderem orientar-se no solo. Precisam de uma bússola ou algo semelhante para lhes indicar a direção certa.
Quando conhecemos bem uma cidade, não precisamos levar mapas e bússolas conosco, pois temos o mapa na mente. Será que os pássaros têm um mapa no cérebro? Como é que se orientam?
Como É que os Pássaros Navegam?
Após muita pesquisa, foi bem constatado que alguns pássaros podem voar diretamente para seu lugar de origem ao serem soltos numa região estranha. Isto exclui a possibilidade de que encontram seu caminho por primeiro voarem por perto em círculos olhando para pontos de referência que conhecem. Esses pássaros sabem realmente navegar. Isso envolve mais do que simplesmente voar em direção do sul no outono e em direção do norte na primavera num vôo migratório normal. Quanto a como sabem para onde voar, é um grande mistério; em outras palavras, não se conhece a natureza de qualquer “mapa” que porventura possuam. Atualmente, porém, conhecemos diversos métodos que os pássaros podem usar para se orientar de modo a voarem constantemente numa só direção.
Pense novamente na família já referida. Digamos que o pai tenha um mapa no bolso e o use para saber em que posição eles se encontram. Ele sabe onde se encontra o carro e entende que precisam caminhar em direção do sudeste para chegarem até esse. Mas como pode achar o sudeste? Bem, se o céu estiver sem nuvens, ele poderá localizar o sul usando um relógio e o sol. Como? Ele pode segurar o relógio horizontalmente e apontar o ponteiro das horas para o sol. O sol parece mudar de posição cerca de 15° por hora e há 30° entre quaisquer duas divisões consecutivas das horas no mostrador de um relógio. Assim, a linha a meio caminho do ponteiro que marca as horas e o “12” indicará aproximadamente o sul. Daí, é fácil encontrar o sudeste. Podem os pássaros usar também o sol para se orientar?
Orientação Durante o dia
Em 1949, Gustav Kramer conservava pombos em gaiolas em forma de tambor, com 12 recipientes para alimento, fixados em volta da beirada. Ele descobriu que podia treinar as aves a comer dos recipientes que apontavam para certa direção e que usavam o sol como orientação. (Quando o céu estava encoberto, as aves comiam de qualquer recipiente de alimento.) Assim, os pombos deram evidência de terem um relógio interno que os habilitava a contrabalançar o movimento do sol no firmamento.
Kramer verificou seus resultados usando estorninhos. Ele os treinou para comerem de certos recipientes, como antes, mas usou, em substituição do sol, uma luz em movimento. Considerando essa luz como sendo o sol, comeram de recipientes diferentes, passando de um recipiente para outro à razão de 15° por hora. Na realidade, a luz só se movia para cima e para baixo, e não horizontalmente, para se fazer uma imitação do levantar e do pôr-do-sol.
Sabe-se agora que muitas espécies de pássaros podem voar constantemente numa só direção com bastante precisão, fazendo uso do sol e do relógio interno que possuem. Quão precisas são suas medições? Bem, no equador, um erro de 1° na determinação poderia fazê-los desviar-se aproximadamente 110 quilômetros. Um erro de quatro minutos no seu relógio os levaria ao mesmo erro. E os pássaros têm a reputação de alta precisão como navegantes.
Voltemos mais uma vez para a mencionada família. Se eles esperarem até o anoitecer, poderão usar como bússola as estrelas, que são mais precisas do que o sol. Podem os pássaros fazer o mesmo? A resposta parece ser sim. Afinal, muitos pássaros só migram à noite.
Orientação Durante a Noite
Um alemão de nome Franz Sauer foi o primeiro a demonstrar, na década de 1950, a habilidade dos pássaros de usar as estrelas para se orientar. Ele usou toutinegras reais e pequenos pássaros canoros silvídeos.
Mais recentemente, Stephen E. Emlen fez experiências com os azulões norte-americanos. Ele colocou os pássaros dentro de um planetário, conservando-os em gaiolas que registravam os movimentos dos pássaros. Quando chegou o tempo de sua migração, foi-lhes mostrado um céu como o que veriam nessa época do ano estando fora. Esses pássaros demonstraram uma notada tendência de querer voar na direção que o planetário lhes indicava que era o sul, seu rumo normal de migração. É interessante notar que os azulões pareciam reconhecer, não as estrelas ou as constelações individuais, mas, antes, que o firmamento girava em torno de um ponto fixo.
Para constatar isso, Emlen apanhou azulões de seus ninhos, nunca os deixando ver o firmamento real. Ao invés de fazer girar o firmamento no planetário em torno da estrela polar, o que se dá no caso real, ele fez uma adaptação para que girasse em torno da estrela Betelgeuse. Quando chegou a época da migração, esses filhotes de azulão procuraram voar em direção oposta de Betelgeuse, para a direção que evidentemente pensavam fosse o sul.
Naturalmente, grande parte do tempo o céu está encoberto. Embora uma família em excursão não tenha dificuldade, se tiver uma bússola, para se orientar, como é que os pássaros se saem quando o céu está nublado?
Será o Magnetismo um Fator?
Em 1885, A. von Middendorf propôs que os pássaros podiam sentir o campo magnético da terra e orientar-se por esse meio. Essa hipótese foi testada muitas vezes, com resultados na maior parte negativos. Parecia inconcebível que um pequeno pássaro, tal como o tordo norte-americano, pudesse detectar o magnetismo. Em anos recentes, porém, encontrou-se evidência de que pelo menos algumas espécies usam o campo magnético da terra como orientação. Que evidência há disso?
Observou-se que houve muitos vôos rápidos de corrida entre pombos-correio sob um céu coberto de espessas nuvens. Portanto, os que faziam as experiências prenderam pequenos ímãs nos pombos individuais que haviam demonstrado a habilidade de voar para seu lugar de origem em tempo de céu nublado. Todos eles erraram o caminho. Os pombos ficaram desorientados evidentemente porque os ímãs transtornaram o campo magnético em volta deles. Em outra experiência, foram adaptados nos pombos lentes de contato foscas. Embora só pudessem enxergar a uma distância de alguns metros, um número surpreendente pôde voar num raio de 200 metros de seu pombal, depois de uma viagem de 130 quilômetros.
Outros fizeram experiências com tordos norte-americanos migradores guardados em gaiolas. Na época da migração, eles se enfileiraram na direção em que normalmente voariam. Será que o campo magnético da terra os estava orientando? Parece que sim, porque os que faziam as experiências descobriram que, usando bobinas elétricas para alterar o campo magnético, podiam fazer os tordos querer voar em outra direção.
Os cientistas acham que talvez o quadro ainda não esteja completo. Estão estudando agora como o som de baixa freqüência, a luz polarizada, o olfato, bem como as mudanças das pressões barométricas, poderiam ser empregados pelos pássaros para orientação nas suas migrações. Outros estão procurando saber quais os meios pelos quais alguns pássaros conseguem detectar o magnetismo.
Antes que o mistério seja finalmente desvendado, haverá, sem dúvida, muitas outras surpresas para nós num campo que já causou muitas surpresas.