Vazamento de óleo — o que fez às pessoas
VALDEZ presenciou uma explosão populacional desde o vazamento de óleo, em 24 de março de 1989. A cidadezinha passou de 2.800 para mais de 10.000 habitantes. A Exxon contratou milhares, pagando altos salários, para minimizar os danos ao meio ambiente causados pelo vazamento de óleo. O influxo de milhares de pessoas causa distúrbios sociais e econômicos que não são facilmente absorvidos pelos moradores permanentes nesta cidadezinha antes tranqüila.
Pete Wuerpel, diretor das comunicações de emergência do Alasca, sublinha algumas das mudanças trazidas pela tremenda enchente de pessoas que procuram os empregos que pagam muito bem. Numa entrevista, Wuerpel disse:
“A longo prazo, o impacto sobre Valdez poderá ser mais grave do que se possa calcular agora. A tremenda onda de pessoas que chegaram a Valdez sobrecarregou seus serviços públicos. Nas sete semanas depois do vazamento, a companhia telefônica passou de 60 troncos para mais de 170. Os esgotos, a energia elétrica, o porto só para barcos pequenos, a lixeira da cidade, o sistema rodoviário municipal — nada disso foi feito para suportar a demanda atual. Em abril, o trânsito passou de 3.000 para 9.600 veículos. O volume de movimento no aeroporto, normalmente de 20 vôos diários, atingiu um auge de 680. O impacto é absolutamente inacreditável em termos da capacidade da cidadezinha de suportá-lo.
“A crise provocada pela explosão populacional foi eclipsada pela ênfase ao vazamento de óleo e à poluição das praias, às aves e lontras-marinhas mortas, aos viveiros ameaçados e à perda dos moluscos. Houve um desarranjo da economia, a escala de salários ficou desequilibrada, as lojas procuram obter empregados confiáveis. Os preços crescentes pesam no bolso dos que recebem salários fixos.
“Nada disso é dito para rebaixar as calamidades do vazamento de óleo, mas para pôr em melhor perspectiva a tragédia total e o efeito que ela tem tido sobre as pessoas. Na minha opinião, a perturbação que isto causou à vida dos moradores de Valdez tem sido eclipsada pela publicidade mais dramática que se dá à destruição de milhares de aves e de animais.”
Entrevistaram-se algumas pessoas que já moram em Valdez há muito tempo. Como é que a explosão populacional em sua cidadezinha as atinge?
Um funcionário da companhia telefônica expressou seus conceitos, como segue:
“Já faz agora dois meses desde o vazamento, e em Valdez prevalece o caos total. Milhares de pessoas ainda estão afluindo para obter empregos de altos salários. Todo tipo de pessoas. Algumas são foragidas da lei, e elas são apanhadas. Prostitutas chegam para praticar seu comércio. A cidade não é mais das crianças. Os pais as observam atentamente, e com certeza deviam fazê-lo. Alguns filhos são negligenciados, ambos os genitores trabalhando longas horas para a Exxon. A mania do dinheiro infectou a muitos.
“Os preços subiram vertiginosamente. Dobram da noite para o dia, e, numa semana, dobram de novo. Tem uma casa para alugar? Poderá conseguir US$ 500 por noite. Alguns quartos rendem quase tanto. Poderá até alugar espaço para colocar um sofá. As casas são alugadas por US$ 5.000 ou US$ 6.000 por mês — uma notícia dizia que uma casa fora alugada por US$ 13.000. Carros têm sido alugados por US$ 250 por dia.
“Os salários pagos pela Exxon tornaram-se astronômicos. As demais empresas não podem competir com isso. Os empregados delas se demitem para trabalhar para a Exxon. Os novos trabalhadores ficam por algum tempo, então eles também vão trabalhar no vazamento. É duro para os restaurantes. Eles ficam abertos 24 horas por dia, servem a milhares de pessoas, e alguns tiveram de mudar sua equipe de trabalho quatro ou cinco vezes nos últimos dois meses — eles os perdem para os salários horários inflados da Exxon. A metade dos funcionários do hospital pediram demissão.”
A atração de todo esse dinheiro — é muito compreensível a tentação no caso de alguém com pouco dinheiro e com muitas contas a pagar! Quão fácil é raciocinar: ‘Bem, posso trabalhar no domingo, e ganhar de US$ 30 a US$ 50 por hora, trabalhar 12 horas, e ganhar em dobro, por ser domingo. Posso acabar de pagar meu carro, liquidar todas as minhas contas!’ Mas você estará deixando de lado sua família, e os valores espirituais podem ir por água abaixo. ‘Mas só irei fazer isso por pouco tempo, temporariamente, para conseguir me equilibrar!’, diz para si mesmo. Talvez sim, talvez não.
Mais sinistras são algumas das emoções suscitadas pelas frustrações. Uma pessoa disse:
“Muitos centralizam sua raiva na Exxon, e afloram extremos radicais de comportamento. Há uma perturbação no sistema de valores, uma distorção dele. Têm-se pessoas que, devido à sua frustração e à sua ira, gravitam em direção a uma conduta que, normalmente, elas desprezariam. Estão iradas com aquilo que o vazamento de óleo fez ao lindo estreito de Príncipe William, e a milhares de aves, lontras, focas e outros tipos de vida selvagem, que há muito constituem seu motivo de orgulho.
“Tal ira levou alguns a fazer com que os carros da Alyeska saíssem da estrada. Têm surgido ameaças de bombas. Até mesmo ameaças de morte têm sido feitas em Valdez contra o presidente da Exxon. Foram contratados centenas de policiais extras.”
Um professor substituto diz:
“Muitas crianças têm-se aprontado sozinhas para a escola. Conheço uma menininha de cinco anos, que está no jardim de infância, que pula da cama sozinha, de manhã, porque sua mamãe e seu papai já saíram há muitas horas para trabalhar no combate ao vazamento do óleo. Ela prepara seu desjejum, vai para a escola, volta para casa, janta, e fica sozinha até que seus pais voltem, às nove ou dez horas da noite. O que isso lhe está causando, o que está dizendo a ela? O dinheiro cegou a alguns pais, e os filhos deles estão sofrendo. As crianças em idade escolar acham-se estressadas demais para aprender. Os professores não as forçam, mas lêem historinhas para elas, ou as deixam ficar brincando.”
Uma dona-de-casa só encontra rudeza e ira:
“A superlotação aumenta o stress e a frustração, que abrem caminho para a ira e para acessos de irritação. Quando os estoques eram limitados, algumas mulheres que compravam comestíveis tiveram de deixar que outras ficassem com seu pão ou leite. Nos restaurantes, os que chegavam depois avançavam na frente de outros e tomavam mesas que outros estavam esperando uma hora para ocupar.”
Um senhor expressa suas preocupações sobre o que está acontecendo com as pessoas:
“O impacto sobre a área tem sido muito grave, no sentido de que a população quase que triplicou. Passamos de uma cidadezinha de cerca de 2.800 pessoas para mais de 9.000 pessoas. Existe o problema de obter mercadorias, e até de apenas se movimentar pela cidade. O trânsito nesta cidadezinha tem ficado congestionado, o que torna a simples locomoção uma fonte de frustração e de stress.
“As oportunidades de emprego mudaram dramaticamente. Ofertas de emprego que pagam de US$ 20 a US$ 50 por hora tornaram difícil manter um equilíbrio em suas prioridades. É desafiador impedir que o materialismo sobrepuje as responsabilidades familiares e os valores espirituais. Eu e minha esposa também temos recebido muitos telefonemas de amigos, de lugares tão distantes quanto os estados de Flórida e Nova Iorque, e até do Texas e de Oregon. Eles telefonam para saber quais as oportunidades de trabalho aqui.
“Sabemos que a economia está em dificuldades em toda a parte, atualmente, mas temos recomendado que eles não venham para cá. Eles são Testemunhas de Jeová, assim como nós, e tentamos manter acima de tudo as nossas prioridades espirituais, assistindo às reuniões e conversando com outros sobre o Reino de Deus. Achamos que isso é melhor também para eles, e não é fácil fazer isso sob as atuais condições estressantes em Valdez. O materialismo sufoca a espiritualidade, e ele grassa por aqui.
“Quão verídicas são as palavras da Bíblia, em 1 Timóteo 6:10: ‘O amor ao dinheiro é raiz de toda sorte de coisas prejudiciais, e alguns, por procurarem alcançar este amor, foram desviados da fé e se traspassaram todo com muitas dores.’”
Estas entrevistas foram realizadas dois meses depois do vazamento de óleo. Predisse-se que, por volta da presente época, o trabalho de limpeza do meio ambiente já teria terminado — 15 de setembro era a data projetada. Quando se concluir o trabalho de limpeza do vazamento de óleo, e quando acabarem os milhares de empregos e secar o dilúvio de dólares, os que moram ali há muito tempo e que mantiveram intatos os seus valores espirituais farão os ajustes necessários.
Mas talvez leve anos até que Valdez venha, de novo, a ser a cidadezinha pacata que era antes.
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“Em Valdez prevalece o caos total.”
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Ameaças de violência.
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‘Amor ao dinheiro, raiz do mal.’