Ver através dos olhos da criança
A MAIORIA dos pais há de concordar pelo menos em um ponto: ter êxito em criar um filho é um dos maiores desafios que eles já enfrentaram. Existem incontáveis palavras escritas sobre como fazer isto e ser bem-sucedido. Existe, porém, um método que é acessível a todos os adultos, sejam eles pais, avós, tias e tios, sejam apenas amigos. Quando se trata de entender e treinar os filhos, já tentou ver as coisas através dos olhos da criança? Exatamente o que se passa por aquelas cabecinhas?
Lembre-se, as crianças são gente miúda. Termos este conceito delas nos ajudará a entender como nós somos encarados por elas. Elas nascem pequeninas num mundo de gente que é bem maior em tamanho, autoridade e poder. Para uma criancinha, os adultos podem representar proteção, conforto e ajuda, ou ser uma ameaça intimidadora.
Elas não São Pequenos Adultos
Outro importante ponto do conhecimento de causa é ser cuidadoso em não cometer o erro de tratá-las como pequenos adultos. A infância deve ser um dos períodos mais felizes da vida. Não há necessidade de fazê-las percorrê-la depressa, ou fazer com que a percam por completo. Deixe que elas a usufruam. Como pai ou mãe, poderá aproveitar a oportunidade para inculcar neles os princípios morais necessários para que se tornem, com o tempo, adultos bem-ajustados.
Ao lidar com bebezinhos, ver as coisas através dos olhos da criança não perde o valor. Por exemplo, o choro jamais deve ser um convite para pais frustrados baterem nela. Chorar ou choramingar é o modo natural de o bebê recém-nascido expressar suas necessidades. Depois de a criança sair do ventre protetor da mãe, ela consegue expressar de modo bem audível seu ponto de vista por um forte choro!
Incentive-a e Oriente-a em Vez de Fazer Exigências
É bom incentivar os esforços das crianças de expressar-se. Seu ponto de vista pode revelar problemas, e um problema claramente entendido é muito mais fácil de solucionar. Mas o modo como respondemos ao que dizem é tão importante quanto conseguir fazer que se expressem. Wendy Schuman, editora-associada da revista Parents (Pais), oferece o seguinte conselho sobre como devemos tentar conversar com os filhos: “Pôr empatia em suas palavras. . . é o conceito central subjacente em grande parte do recente trabalho da comunicação entre pais e filhos. Mas apenas a empatia não basta, se não se traduzir em linguagem empática. E isto não surge naturalmente nos lábios da maioria dos pais.”
Em outras palavras, se o filho for desrespeitoso ou tiver feito algo chocante, que necessita ser corrigido, devemos esforçar-nos arduamente de não permitir que nossa atitude e nosso tom de voz se igualem ao nosso aborrecimento ou frustração. Naturalmente, é muito mais fácil dizer isto do que fazê-lo. Mas lembre-se, respostas duras ou depreciativas, tais como “Seu burro!”, ou, “Você não consegue fazer nada direito?’, jamais melhoram uma situação já difícil.
Muitos pais já verificaram que mostrar empatia por elogiar, especialmente antes de aconselhar, pode dar resultados positivos. Novamente, neste caso, há oportunidade de ver as coisas através dos olhos da criança. A maioria das crianças consegue discernir muito bem quando tal elogio é dado com um motivo oculto, ou quando não provém do coração. Por conseguinte, ao elogiarmos nossos filhos, devemos certificar-nos de que o elogio seja genuíno e merecido.
Renomado psicólogo infantil, o Dr. Haim G. Ginott, em seu livro Between Parent and Child (Entre Pais e Filhos), sublinha que os pais devem elogiar realizações, em vez de a personalidade. Por exemplo, depois que seu filho fez uma estante para livros, e orgulhosamente a mostra a você, o seu comentário: ‘Essa estante não só é atraente, mas também é prática’, edificará a confiança dele. Por quê? Porque você está elogiando uma realização dele. Assim sendo, seu elogio é realístico para seu filho. No entanto, a expressão: ‘Você é um grande carpinteiro’, talvez não faça isso, porque você se focaliza nele como pessoa.
O Dr. Ginott comenta: “A maioria das pessoas crê que o elogio aumenta a confiança duma criança e a faz sentir-se segura. Na realidade, o elogio pode resultar em tensão e num mau comportamento. . . Quando os pais dizem a um filho: ‘Você é um bom menino’, ele talvez não aceite isso, porque o quadro que faz de si mesmo é bem diferente. . . O elogio deve referir-se, não aos atributos da personalidade do filho, mas a seus esforços e a suas realizações. . . O elogio tem duas partes: as nossas palavras e as deduções feitas pela criança. Nossas palavras devem expressar claramente que apreciamos o esforço, o trabalho, a realização, a ajuda e a consideração da criança.”
Esta sugestão sensata de elogio acha-se em harmonia com o conselho inspirado de se mostrar generosidade, conforme encontrado em Provérbios 3:27: “Não negues um benefício a quem dele precisa, sempre que em teu poder estiver o fazê-lo.” — Pontifício Instituto Bíblico.
Na verdade, pode-se dizer que, não importa que boa recomendação ou sábio conselho nós leiamos, não existe atalho para o que alguns chamam de programa de 20 anos de criação dum filho ou duma filha. Exige-se paciência, amor, compreensão e consideração. Mas grande ajuda no sentido do êxito é aprender a ver e a entender o comportamento do seu filho pequeno “através dos olhos da criança”.
“Filho sábio é aquele que alegra o pai”, escreveu o sábio Rei Salomão. (Provérbios 10:1) Que o melhor entendimento do modo de pensar e do ponto de vista de seu filho o ajude a ter esta mesma experiência alegradora.