Pesquisas com animais — reações violentas
CASO fosse possível tabular o número preciso de quadrúpedes utilizados em experimentos de laboratório e como modelos de pesquisas médicas, o total mundial, anual, seria assombroso. Calcula-se que, pelo menos, 17 milhões de animais — cães, gatos, primatas, cobaias e coelhos — sejam usados todo ano, apenas nos Estados Unidos. Ratos e camundongos constituem 55 por cento deste total. Visto não haver registros precisos de onde tais animais são usados e quantos são, alguns peritos consideram que estes totais são, no máximo, estimativas imprecisas. Algumas fontes situam o total, para os Estados Unidos, em torno de cem milhões. Acha chocantes estes números?
Embora o sacrifício destes animais peludos não deixe de ter sua finalidade, sente repulsa só em pensar nisso? Considera imoral tal matança? Milhões de pessoas sentem repulsa de ver os animais serem usados em pesquisas. Alguns argumentam que o abuso dos animais é especieismo. Um especieista é alguém que tem “preconceito em favor dos interesses de sua própria espécie e contra os interesses de outra espécie”. (Point/Counterpoint Responses to Typical pro-Vivisection Arguments [Respostas de Ponto/Contraponto Para os Argumentos Típicos a Favor da Vivisecção]) Segundo os que são a favor da libertação dos animais, os especieistas “crêem que o fim justifica os meios, e que é preciso causar o mal [aos animais] para atingir o bem [em prol dos humanos]”.
Por outro lado, o ponto de vista científico é resumido nas seguintes perguntas: Ressente-se de um sistema que advoga a matança de animais, de modo que os médicos possam aprender novas técnicas ao realizar operações em humanos ou impedir a disseminação de doenças mortíferas? Está disposto a descartar os fármacos e as tratamentos que salvam vidas, por saber que foram primeiramente testados em animais? Estaria disposto, sim, preferiria que seu filho ou um de seus genitores, que sofreu morte cerebral, fosse usado numa cirurgia experimental, em vez de um animal? E, por fim, há o seguinte: Caso as pesquisas com um animal pudessem salvar você ou um ente querido de uma excruciante doença ou da morte, recusar-se-ia a permiti-las, por ter o conceito de que é imoral sacrificar um animal para salvar um humano?” Alguns diriam que tal dilema não é tão fácil de solucionar.
O Movimento de Libertação Animal
Todavia, na década de 1980, havia um sentimento crescente contra o uso de animais em pesquisas. Hoje em dia, tal sentimento tem sido traduzido numa rede mundial de organizações ativas que continuam a crescer em força e em números. São bastante expressivos em exigir a abolição total do uso de todos os animais em experimentos médicos ou laboratoriais.
Os ativistas a favor dos direitos dos animais fazem-se ouvir por meio de manifestações nas esquinas, através de lobbies políticos, de revistas e de jornais, do rádio e da televisão, e, mais acentuadamente, por táticas militantes e violentas. Disse um destacado ativista canadense a respeito do movimento de libertação: “Está-se espalhando rapidamente pela Europa, Austrália e Nova Zelândia. Os Estados Unidos tornam-se mais fortes. Há um crescimento fenomenal no Canadá. Existe um grupo de redes que se espalha em todo o mundo e a tendência global é de apoio aos movimentos mais agressivos a favor dos direitos dos animais.”
Algumas destas ‘redes agressivas’ dispõem-se a usar a violência em apoio de sua causa. Nesses últimos anos, pelo menos 25 laboratórios de pesquisas nos Estados Unidos foram vítimas do vandalismo por parte de grupos de defesa dos direitos dos animais. Laboratórios universitários tem sido atacados com bombas. Estes ataques causaram milhões de dólares de prejuízo. Foram destruídos importantes registros e dados valiosos. Animais de pesquisas têm sido roubados e soltos. Em uma dessas ações, destruiu-se valiosa pesquisa sobre cegueira infantil. Equipamentos caros, avaliados em centenas de milhares de dólares, têm sido destroçados.
Numa carta-aberta às autoridades universitárias e à mídia, um grupo militante jactou-se de que destruir um microscópio de US$ 10.000 em cerca de 12 segundos, com uma barra de ferro de US$ 5, foi “um retorno muito bom para o nosso investimento”. Em outros locais de pesquisas, médicos e cientistas encontraram sangue derramado sobre seus arquivos e materiais de pesquisas, e lemas liberacionistas pintados com spray sobre as paredes. Uma notícia menciona ter havido “fustigamento, inclusive ameaças de morte, contra os cientistas e suas respetivas famílias”. Nos Estados Unidos, os militantes da libertação dos animais mandaram mais de uma dúzia de ameaças de morte ou de violência a cientistas individuais. Numa transmissão feita pela BBC de Londres, em 1986, um comentarista disse: “O que une os ativistas é a convicção de que a ação direta — a destruição de propriedades, e até mesmo de vidas — é moralmente justificável na guerra para libertar os animais.”
Disse um líder da libertação dos animais: “Ninguém ficou ferido, mas existe perigosa ameaça . . . Mais cedo ou mais tarde, alguém revidará, e humanos poderão ficar feridos.” Em 1986, na mesma entrevista, a líder da libertação dos animais predizia que haveria violência na Grã-Bretanha e na Alemanha Ocidental. Algumas ocorrências, em forma de bombas incendiárias e de atos violentos, confirmaram a predição dela. Nos Estados Unidos, cometeram-se atentados contra a vida de um senhor cuja empresa realiza experiências com animais. Rápidas medidas tomadas pela polícia impediram que ele fosse vítima dum atentado a bomba. No entanto, nem todos os que são a favor da libertação dos animais concordam com tais táticas violentas e ilegais.
Por Que Se Opõem?
Segundo a revista The Journal of the American Medical Association, “a maioria dos indivíduos preocupados com a utilização de animais em pesquisas biomédicas pode ser dividida em duas categorias gerais: (1) os preocupados com o bem-estar animal que não se opõem às pesquisas biomédicas, mas querem garantias de que os animais sejam tratados de forma tão humana quanto possível, que o número dos animais usados seja o mínimo absoluto exigido, e que os animais só sejam usados quando necessário”. Este grupo, de acordo com pesquisas recentes, constitui a maioria menos clamorosa.
O segundo grupo, de acordo com a mesma fonte, são “os preocupados com os direitos dos animais, que assumem uma posição mais radical e que se opõem totalmente à utilização de animais em pesquisas biomédicas”. “Os animais possuem direitos fundamentais inalienáveis”, disse o co-diretor de um de tais grupos. “Se um animal tiver a capacidade de sentir dor ou medo, então ele tem o direito de não lhe infligirem tais coisas.” “Não existe base racional para se afirmar que um ser humano tenha direitos especiais”, disse outra pessoa que servia como porta-voz. “Seja um rato, seja um porco, seja um cão, seja um menino. São todos mamíferos.”
Muitos liberacionistas profundamente convictos opõem-se à utilização de animais como alimento, em roupas, no esporte e até mesmo como bichos de estimação. Pescadores têm sido lançados na água por aqueles que se opõem à pesca e ao consumo de peixes. Pessoas que usam casacos de pele e roupas e acessórios de couro animal têm sofrido abusos verbais nas ruas. Lojas têm sido invadidas e custosos casacos de pele destruídos por aqueles que adotam um conceito mais radical sobre o uso e abuso de animais. “Não comerei ovos no desjejum, nem usarei artigos de couro”, expressou um deles. “Por trás de praticamente toda fatia de bacon e de todo ovo de aspecto inocente”, avisava um boletim da “Humane Society” dos Estados Unidos, “esconde-se uma longa e oculta história de insuportável sofrimento”. Repleto de fotos de leitoas e galinhas confinadas em pequenos galinheiros e gaiolas, o boletim fazia a acusação de que tais condições, bem comuns na indústria de criação de porcos e de galinhas, tornavam “um prato de ovos com bacon nada menos do que ‘o desjejum da crueldade’”. Obviamente, a defesa dos direitos dos animais envolve sentimentos fortes e sinceros.
Histórias de Horror
Muita gente acredita ser plenamente justificada a oposição às pesquisas com animais. Um dos casos mais infames envolvia o Laboratório de Ferimentos na Cabeça, de prestigiosa universidade americana. Vídeos roubados num reide dum grupo de libertação dos animais, revelavam “macacos que recebiam marteladas na cabeça, dum martelo-mecânico, enquanto alguns pesquisadores davam risadas dos espasmos sofridos por tais criaturas, cujos cérebros estavam sendo danificados”, informou a revista Kiwanis, de setembro de 1988. Isto resultou no corte de fundos governamentais para tal laboratório.
Há também o abominável teste Draize, por demais conhecido das indústrias de cosméticos, xampus, detergentes e soda cáustica. Este teste é usado para medir a irritação causada por produtos que podem atingir os olhos duma pessoa. Tipicamente, de seis a nove coelhos-albinos são colocados em troncos que só deixam a cabeça e o pescoço deles de fora. Isto impede que cocem os olhos, depois de se derramar a substância química sobre eles. Relata-se que os coelhos berram de dor. Até mesmo muitos pesquisadores opõem-se amargamente a esta forma de teste, e estão tentando acabar com seu uso. Os movimentos em prol dos direitos dos animais documentam muitas histórias de horror, produzidas nos laboratórios de pesquisas com animais.
Os militantes da libertação dos animais não tem alto conceito sobre o Dr. Robert White, previamente citado. A Sociedade Americana AntiVivessecção escreveu que ele “é o infame vivisseccionista de Cleveland que tem transplantado as cabeças de macacos e mantido cérebros de macacos vivos em fluidos, fora do corpo”.
Como em muitas controvérsias, existem dois extremos, e então existe um meio-termo que tenta obter os melhores e eliminar os piores efeitos. À guisa de exemplo, existe alguma alternativa prática da experimentação com animais? É a rejeição total das pesquisas com animais a única solução viável e equilibrada? Nosso próximo artigo considerará tais questões.
[Quadro na página 9]
Diferentes Pontos de Vista
‘CREIO que os animais tem direitos que, embora diferentes dos nossos, são igualmente inalienáveis. Creio que os animais têm o direito de não lhes infligirmos nenhuma dor, medo ou privação física. . . . Têm o direito de não ser brutalizados de forma alguma, quer como recursos alimentares, para divertimento, quer para qualquer outro fim.” — Naturalista Roger Caras, ABC-TV News, EUA (Newsweek, 26 de dezembro de 1988).
‘Olhando numa ampla perspectiva, não posso desperceber o enorme bem resultante das pesquisas. As vacinas, os tratamentos, as técnicas cirúrgicas e os processos desenvolvidos nos laboratórios têm aumentado tremendamente a expectativa de vida no último século . . . Nesta luz, não utilizar animais para pesquisas poderia ser encarado como a escolha desumana: Nós dispúnhamos do meio de aprender a minorar a doença, mas não o utilizamos.” — Marcia Kelly, Health Sciences, outono setentrional de 1989, Universidade de Minnesota.
“Eu digo ‘Não’ à experimentação com animais. Não só por razões éticas, mas mormente por razões científicas. Tem-se demonstrado que os resultados dos experimentos com animais não são de forma alguma aplicáveis aos seres humanos. Existe uma lei natural relacionada com o metabolismo . . . segundo a qual uma reação bioquímica, estabelecida para uma espécie, só é válida para aquela espécie específica, e para nenhuma outra. . . . A experimentação com animais é falaciosa, inútil, cara e, além disso, cruel.” — Gianni Tamino, pesquisador da Universidade de Pádua, principal faculdade de medicina da Itália.
[Foto na página 7]
Coelhos presos em troncos para serem submetidos a testes Draize nos olhos
[Crédito]
PETA
[Crédito da foto na página 8]
UPI/Bettmann Newsphotos