“Não se fazem mais carros como antigamente!” — Ou será que fazem?
“Houve uma falha do computador”, lamenta o dono de um novo carro aerodinâmico, ao retornar da oficina do revendedor autorizado. “Certamente não se fazem mais carros como antigamente!” A esposa dele meneia a cabeça, concordando, e acrescenta: “Mal consigo diferençar nosso carro de todos os outros. Eles são todos tão parecidos.”
EU SOU restaurador e colecionador de carros antigos, de modo que ouço bem amiúde tais queixas de donos de carros novos. Muitos deles são fãs de um modelo que possuíam no passado, embora o carro que possuem agora seja, em geral, mais confiável, mais seguro e mais fácil de dirigir. Será que seus sentimentos afetuosos pela “Old Betsy” [nome que se dá, em inglês, ao velho carro favorito] se originam das doces memórias dos velhos tempos, em vez do desempenho real do carro?
Colecionar Carros Antigos
No meu caso, o gosto por carros antigos — sua restauração e preservação — provém de encará-los como objetos de arte e como expressões do bom gosto e da tecnologia das épocas e dos países em que foram produzidos.
Se muitos colecionadores acharem o mesmo modelo desejável e acontecer que exista pouca oferta dele, então o valor desse automóvel subirá vertiginosamente. Por exemplo, em 19 de novembro de 1987, num leilão realizado em Londres, Inglaterra, um raríssimo cupê esportivo Bugatti Royale alcançou o preço de US$ 9.900.000!
Na maioria dos casos, contudo, os amigos e os vizinhos geralmente ficam atônitos quando o mais recente objeto de arte é rebocado pelo colecionador até sua casa. Ficam imaginando se a carroceria enferrujada, infestada de insetos, não ficaria melhor se deixada onde foi encontrada. O colecionador, porém, já vê o automóvel como ele ficará quando restaurado à sua antiga beleza radiante. Assim, ele sorri e diz para si mesmo: “Certamente não se fazem mais carros como antigamente!”
Será Mesmo Verdade?
Sim, é verdade. ‘Não se fabricam mais carros como antigamente.’ Em certos sentidos, devemos ficar felizes com isso, e, em outros sentidos, devemos ficar tristes. Vamos examinar alguns modelos. Por exemplo, um antigo Rolls-Royce tinha sido anunciado como o “Melhor Carro do Mundo” e “o carro veloz mais seguro do mundo”. Podia acelerar de 0 a quase 100 quilômetros horários em cerca de 24 segundos e alcançava a velocidade máxima de cerca de 130 quilômetros por hora. Nada mal para um veículo a motor que pesava 2,27 toneladas métricas! Mas, como você conseguiria freá-lo? O fabricante jactava-se com precisão de que, por meio de um especialmente projetado servomecanismo ligado à caixa de câmbio, o carro era “dotado de um poder de freagem grandemente aumentado”. Mas, ao passo que um exemplar restaurado desse Rolls-Royce ainda mantém o desempenho original, segundo as especificações, ele não seria apropriado para as modernas condições das estradas.
Esse Rolls-Royce, embora seja um crédito para seu designer, não usufrui os benefícios de outros 60 anos do conhecimento e da experiência automotivos acumulados. Assim, não dispõe de freios hidráulicos e antibloqueio, não tem cintos de segurança, luzes do freio, indicadores de direção, faróis dianteiros selados, almofadas internas anticolisão, apoio para a cabeça, e muitas outras inovações que melhoraram o desempenho e a segurança — coisas que nós achamos corriqueiras hoje em dia, ou encaramos como a mais recente tecnologia.
A Mais Recente Tecnologia?
Será que todos os aparelhos que vemos nos carros atuais são realmente inventos novos? Não. Muitos itens opcionais e acessórios de seu carro já foram desenvolvidos há muitos anos. Você poderia ter comprado este Packard 1936 com as seguintes características: lubrificador do chassis, que lubrificava continuamente o chassis; controle da suspensão, que permitia que o motorista ajustasse os amortecedores às condições da estrada; refrigerador do óleo do motor, que fazia circular o óleo do cárter num receptáculo especial, através do qual o refrigerante do motor fluía, desta forma estabilizando a temperatura do óleo.
Os modelos dos anos 60, como o Ford Mustang 1966, apresentavam uma variedade e uma quantidade de equipamentos opcionais nunca antes disponíveis. Carros de preços moderados, de produção em série, podiam ser pedidos com motores de vários tamanhos diferentes, em muitas cores variadas, e com uma lista aparentemente infindável de acessórios que garantem seu bom desempenho e o conforto das pessoas. Em muitos casos, o mesmo carro podia ser obtido como sedã, conversível ou fastback. Embora se fabricassem centenas de milhares dum determinado modelo, se você desejasse, poderia pedir um equipado bem do jeito que queria.
Todos São Parecidos!
Os carros atuais são deveras parecidos por várias razões. Os designs atuais parecem ser cada vez mais influenciados pela tecnologia e pela economia. O resultante design da carroceria é um produto significativamente influenciado pelos testes do túnel de vento em que os engenheiros medem a coeficiência de resistência. Um coeficiente baixo de resistência resulta numa quilometragem melhor e contribui para maior estabilidade do veículo na estrada.
Portanto, o design final da carroceria é grandemente influenciado pelas leis físicas relacionadas com as estradas e a resistência ao ar, a inércia e a relação entre peso e volume. Acrescente-se a estes fatores certas exigências de segurança e várias necessidades dos passageiros e o resultado é muitos carros com silhueta parecida. Mas, naturalmente, o que o público considera de classe pode mudar, e os fabricantes teriam de mudar de acordo com isso.
Assim, com um misto de emoções podemos afirmar: “Não se fazem mais carros como antigamente!” — Contribuído.
[Crédito da foto na página 15]
Rolls Royce Heritage Trust
[Fotos nas páginas 16, 17]
Rolls-Royce P1 Faux Cabriolet 1929.
Packard 1936, Model 1401.
Mustang GT Fastback 1966.
[Crédito das fotos]
Rolls Royce Heritage Trust