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  • g93 8/5 pp. 5-12
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  • Vitoriosos diante da morte
  • Despertai! — 1993
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  • A história de Ananii Grogul, da Ucrânia
  • Minha irmã sofreu tortura desumana
  • Retorno à Ucrânia e mais perseguição
  • Integridade provada na África
  • Perante um pelotão de fuzilamento
  • “Já cheiram a cadáver”
  • Um mercenário compreensivo
  • “Sigam seu caminho, sirvam ao seu Deus”
  • Recusa de contribuir por armas
  • Turbas lideradas por sacerdotes
  • Martírio inesperado
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Despertai! — 1993
g93 8/5 pp. 5-12

Vitoriosos diante da morte

“Todavia, surpreendentemente para os nazistas, [as Testemunhas] tampouco puderam ser eliminadas. Quanto mais fortemente eram pressionadas, tanto mais compactas ficavam, tornando-se duras como o diamante, em sua resistência. Hitler as lançou numa batalha escatológica, e elas mantiveram a fé. . . . Sua experiência constitui valioso material para todos que estudam a sobrevivência sob extremo estresse. Pois elas sobreviveram mesmo.” — Atribuído à Dra. Christine King, historiadora, no jornal Together.

AS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ deviam figurar na história do século 20 como o mais universalmente difamado e perseguido grupo religioso da Terra. Têm sido mal-entendidas e muitas vezes maltratadas só por causa de sua neutralidade cristã e recusa de aprender ou de praticar a guerra. Seu desligamento de todos os vínculos políticos trouxe sobre elas a ira de governantes totalitários em muitos países. No entanto, uma de suas contribuições para a História moderna é seu registro de estrita neutralidade e inquebrantável integridade.a

O historiador britânico Arnold Toynbee escreveu, em 1966: “Nos nossos tempos, na Alemanha, houve mártires cristãos que deram sua vida em vez de prestarem homenagem ao generalizado nacionalismo representado lá pelo deus humano Adolf Hitler.” Os fatos mostram que as Testemunhas de Jeová se destacavam entre esses mártires. Alguns casos devem servir para ilustrar que elas sofreram perseguição e até morte por causa de sua integridade — e isso não só no período do nazismo. Em muitas partes do mundo, seu registro de vitória diante da morte é sólido e sem paralelo.

A história de Ananii Grogul, da Ucrânia

“Meus pais tornaram-se Testemunhas de Jeová durante a Segunda Guerra Mundial, em 1942, quando eu tinha 13 anos. Pouco depois, meu pai foi detido, preso e mais tarde transferido para os campos soviéticos nos montes Urais. Quando eu tinha 15 anos, em 1944, as autoridades militares convocaram-me para o serviço preparatório nas forças armadas. Visto que eu já tinha sólida fé em Jeová, recusei-me a aprender a guerrear. Por isso, naquela tenra idade, fui sentenciado a cinco anos de prisão.

“Daí veio o dificílimo ano de 1950. Fui detido novamente e sentenciado a 25 anos de prisão por causa das minhas atividades como Testemunha de Jeová. Eu tinha 21 anos. Sobrevivi sete anos e quatro meses nos campos de trabalho. Vi muita gente morrer, inchada de fome e esgotada pelo trabalho duro.

“Depois da morte de Stalin, em 1953, as condições começaram a mudar e, em 1957, as autoridades me libertaram. Experimentei novamente a ‘liberdade’. Mas, dessa vez, fui exilado na Sibéria por dez anos.”

Minha irmã sofreu tortura desumana

“Na Sibéria, reencontrei minha irmã, que já estava inválida. Ela fora presa precisamente duas semanas depois de mim em 1950. A investigação em seu caso foi realizada de maneira totalmente ilegal. Trancaram-na numa solitária e depois soltaram ratos na cela. Estes mordiam seus pés e subiam nela. Por fim, os torturadores fizeram-na ficar em pé em água fria até o peito enquanto observavam sua agonia. Ela foi sentenciada a 25 anos de prisão por causa da atividade de pregação. Suas pernas ficaram paralisadas, mas ela conseguia usar as mãos e os braços. Foi mantida por cinco anos no hospital dum campo de trabalho e, por fim, desprezada como se estivesse morta. Depois foi mandada de volta para os nossos pais, que já haviam sido enviados para o exílio perpétuo na Sibéria, em 1951.”

Retorno à Ucrânia e mais perseguição

“Na Sibéria conheci Nadia, que se tornou minha esposa e mãe de nossos filhos. Mesmo na Sibéria prosseguimos com a nossa pregação. Fui incumbido da produção e duplicação de publicações bíblicas. Toda noite meu irmão Jacob e eu trabalhávamos num abrigo subterrâneo no porão, fazendo cópias de A Sentinela. Tínhamos duas máquinas de escrever e uma copiadora de fabricação caseira. Nossa casa era vasculhada regularmente pela polícia. Sempre iam embora de mãos vazias.

“Meu exílio chegou ao fim. Mudei-me com minha família para a Ucrânia, mas a perseguição nos acompanhou. Fui designado para servir como superintendente viajante. Tive de arranjar um emprego para sustentar minha família. Várias vezes por mês, membros da polícia secreta iam ao meu local de trabalho e tentavam persuadir-me a transigir na fé. Certa vez senti o apoio de Jeová de maneira muito especial. Fui detido e levado aos escritórios da polícia secreta em Kiev, onde fui mantido por seis dias. Durante todo esse tempo tentaram confundir-me com propaganda ateísta. Em sua maneira ímpia, comentavam sobre A Sentinela e outras publicações da Sociedade Torre de Vigia. A pressão se tornou quase insuportável. No banheiro, eu me ajoelhava e rompia em prantos, clamando a Jeová. Não, não por libertação, mas por forças para perseverar e não trair meus irmãos.

“Daí o chefe de polícia veio ver-me e, sentando-se de frente para mim, perguntou-me se eu estava realmente convencido do que defendia. Dei-lhe um breve testemunho e declarei minha disposição de morrer pela verdade. Sua resposta foi: ‘Você é uma pessoa feliz. Se eu estivesse convencido de que esta é a verdade, estaria disposto não só a ficar na prisão por 3 ou 5 anos, mas a ficar numa perna só na prisão por 60 anos.’ Ele permaneceu sentado, pensativo, em silêncio, por alguns instantes e depois continuou: ‘É uma questão de vida eterna. Pode imaginar o que a vida eterna realmente significa?’ Após uma breve pausa, ele disse: ‘Vá embora!’ Essas palavras deram-me inesperado vigor. Não mais sentia fome. Eu só queria ir embora. Tinha certeza de que foi Jeová que me fortaleceu.

“Em anos recentes as coisas têm mudado na ex-União Soviética. Agora há abundância de publicações bíblicas. Podemos assistir a assembléias de circuito e a congressos de distrito, e participamos em todas as modalidades da atividade de pregação, incluindo o ministério de casa em casa. Deveras, Jeová nos tem dado a vitória diante de muitas provações!”

Integridade provada na África

Em fins da década de 60, a Nigéria viu-se envolvida numa devastadora guerra civil. Confrontados com crescentes perdas, os soldados da região separatista, na época rebatizada de Biafra, recrutaram rapazes à força em seu exército. Visto que as Testemunhas de Jeová são politicamente neutras e recusam-se a se envolver em guerras, muitas delas em Biafra foram caçadas, sofreram brutalidades e foram mortas. Uma Testemunha de Jeová disse: “Éramos como ratos. Tínhamos de nos esconder sempre que percebíamos a chegada de soldados.” Muitas vezes não havia tempo para se esconder.

Numa sexta-feira de manhã, em 1968, Philip, um ministro de tempo integral de 32 anos, estava no povoado de Umuimo pregando a um homem idoso quando soldados biafrenses irromperam no local numa campanha de recrutamento.

“O que está fazendo?” perguntou o líder do pelotão. Philip disse que estava falando sobre o vindouro Reino de Jeová.

“Não é hora de pregar!” gritou outro soldado. “Estamos em guerra e não queremos ver homens fortes perambulando sem fazer nada.” Daí os soldados despiram Philip, amarraram suas mãos e o levaram. Israel, um ancião cristão de 43 anos, também não teve tempo de se esconder. Foi capturado enquanto preparava uma refeição para os filhos. Às 14 horas os soldados já haviam reunido mais de cem homens. Obrigaram os cativos a correr os 25 quilômetros até o acampamento militar em Umuacha Mgbedeala. Os mais lentos eram açoitados.

Israel foi informado de que carregaria uma metralhadora pesada; Philip seria treinado para usar uma leve. Ao explicarem que não podiam juntar-se a forças militares porque Jeová o proíbe, o comandante ordenou que fossem presos. Às 16 horas, todos os recrutados, incluindo os que estavam presos, receberam ordem de ficar em fila. Daí os soldados pediram que cada homem assinasse um documento em que consentia em ingressar no exército. Na sua vez de assinar, Philip mencionou as palavras de 2 Timóteo 2:3, 4 e disse ao comandante: “Já sou ‘soldado excelente de Cristo’. Não posso lutar por Cristo e também por outra pessoa. Se eu fizer isso, Cristo me considerará traidor.” O comandante deu-lhe um golpe na cabeça e disse: “Sua nomeação como soldado de Cristo está encerrada! Você agora é um soldado biafrense.”

Philip disse: “Jesus ainda não me notificou de que minha nomeação como seu soldado está encerrada, de modo que minha nomeação vigora até que eu receba essa notificação.” Diante disso, os soldados suspenderam Philip e Israel no ar e os arremessaram ao chão. Atordoados e sangrando pelos olhos, nariz e boca, os dois foram arrastados dali.

Perante um pelotão de fuzilamento

Mais tarde naquele dia, Israel e Philip foram colocados diante de um pelotão de fuzilamento. Mas os soldados não atiraram neles. Espancaram-nos aos socos e coronhadas. Depois o comandante decidiu açoitá-los até a morte. Designou 24 soldados para isso. Seis açoitariam Philip, e outros seis açoitariam Israel. Os outros 12 soldados forneceriam mais varas e substituiriam os que se cansassem.

Philip e Israel foram amarrados nas mãos e nos pés. Israel relata: “Não sei dizer quantas açoitadas levamos naquela noite. Quando um soldado se cansava, outro o substituía. Continuaram açoitando-nos mesmo depois de perdermos os sentidos.” Philip diz: “Mateus 24:13, que fala de perseverar até o fim, veio a minha mente durante a tortura, e isso me fortaleceu. Senti a dor do espancamento apenas por alguns segundos. Foi como se Jeová tivesse enviado um anjo para nos ajudar, como fez no tempo de Daniel. De outra forma não poderíamos ter sobrevivido àquela terrível noite.”

Quando os soldados terminaram, Israel e Philip foram dados como mortos. Chovia. Só na manhã seguinte os dois cristãos recobraram os sentidos. Ao verem que ainda estavam vivos, os soldados os arrastaram de volta para a prisão.

“Já cheiram a cadáver”

O açoitamento os deixara em carne viva, com feridas em todo o corpo. Israel relembra: “Não tínhamos permissão de lavar as feridas. Depois de alguns dias as moscas se banqueteavam em nós sem parar. Devido à tortura, não conseguíamos comer. Só depois de uma semana é que outra coisa além de água pôde passar pela nossa boca.”

Toda manhã os soldados os surravam com um chicote: 24 golpes em cada um. Os soldados sadisticamente chamavam isso de “café da manhã” ou “chá quente da manhã”. Ao meio-dia, levavam-nos ao campo para encarar o sol tropical até às 13 horas. Depois de alguns dias desse tratamento, o comandante os chamou e perguntou se já haviam renunciado a sua posição. Eles disseram que não.

“Morrerão na cela”, disse o comandante. “De fato, já cheiram a cadáver.”

Philip disse: “Mesmo que morramos, sabemos que Cristo, por quem lutamos, nos ressuscitará.”

Como sobreviveram a esse terrível período? Israel diz: “Philip e eu nos encorajávamos durante a provação. No começo, eu lhe dizia: ‘Não fique assustado. O que quer que aconteça, Jeová nos ajudará. Quanto a mim, nada me fará ingressar no exército. Mesmo que eu tenha de morrer, não manejarei uma metralhadora com as minhas mãos.’” Philip disse que tomara a mesma decisão. Juntos recordavam e consideravam vários textos.

Um novo comandante decidiu transferir uns cem recrutas para Ibema, um campo de treinamento na região de Mbano, parte do que é agora o Estado de Imo. Israel conta o que aconteceu então: “O grande caminhão estava pronto, e todos os recrutas já haviam embarcado. Minha esposa, June, correu até os soldados e implorou corajosamente que não fôssemos levados. Já que não lhe deram atenção, ela ajoelhou perto do caminhão, orou e concluiu com um audível amém. Daí o caminhão partiu.”

Um mercenário compreensivo

O caminhão do exército chegou ao campo em Ibema na tarde seguinte. O homem que parecia ser o encarregado era um mercenário israelense. Ao ver quão espancados e fracos Philip e Israel estavam, ele se aproximou e perguntou-lhes por que se encontravam naquele terrível estado. Eles explicaram que eram Testemunhas de Jeová e haviam recusado treinamento militar. Irado, ele voltou-se para os outros oficiais militares presentes. “Biafra com certeza perderá essa guerra”, disse ele. “Qualquer país em guerra, que moleste as Testemunhas de Jeová, com certeza perde. Vocês não deviam recrutar Testemunhas de Jeová. Se uma Testemunha de Jeová concorda em ir à guerra, ótimo. Mas, se ela se recusa, deixem-na em paz.”

O médico do campo perguntou se as duas Testemunhas haviam recebido vacinas e atestados médicos de aptidão. Visto que não, o mercenário rejeitou todos os recrutas e ordenou que fossem levados de volta para Umuacha.

“Sigam seu caminho, sirvam ao seu Deus”

Depois, a esposa de Israel e a mãe de Philip decidiram ir ao campo de Umuacha na esperança de ter notícias. Ao se aproximarem, ouviram uma comoção no campo. No portão, o guarda disse: “Testemunha de Jeová! Sua oração foi respondida. O grupo levado há três dias foi mandado de volta.”

No mesmo dia, Philip e Israel foram libertados do campo. O comandante disse a June: “Sabia que foi sua oração que tornou infrutífera a nossa estratégia?” Depois disse a Israel e a Philip: “Sigam seu caminho, sirvam ao seu Deus, e continuem a manter integridade ao seu Jeová.”

Quanto a Israel e Philip, eles se recuperaram e continuaram na atividade cristã. Depois da guerra, Israel pregou por tempo integral durante dois anos, e até hoje serve como ancião cristão. Philip serviu como superintendente viajante por dez anos e ainda participa na pregação por tempo integral. Ele também é ancião congregacional.

Recusa de contribuir por armas

Zebulan Nxumalo e Polite Mogane são dois jovens ministros de tempo integral na África do Sul. Zebulan relata: “Certo domingo de manhã, um grupo de homens veio a nossa casa e solicitou 20 rands (uns 7 dólares) para comprar armas. Pedimos respeitosamente que voltassem à noite, visto que nossa programação de domingo era muito cheia para considerarmos a questão naquele momento. Surpreendentemente, eles concordaram. Naquela noite, chegaram 15 homens. Sua expressão facial deixava claro que não estavam brincando. Depois de nos apresentarmos educadamente, perguntamos o que desejavam. Explicaram que precisavam de dinheiro para adquirir armas maiores e melhores com as quais combater a facção política oponente.

“Perguntei-lhes: ‘É possível apagar fogo com gasolina?’

“‘Não, é impossível’, responderam.

“Explicamos que a violência, da mesma forma, apenas incentivaria violência e atos de vingança.

“Parece que esse comentário aborreceu a vários dos homens presentes. Sua exigência transformou-se numa ameaça desafiadora. ‘Essa conversa é perda de tempo’, disseram com rispidez. ‘A contribuição compulsória é inegociável. Ou pagam ou enfrentam as conseqüências!’

“Nesse momento”, recorda Zebulan, “bem na hora em que as coisas estavam começando a ficar fora de controle, o líder entrou. Queria saber qual era o problema. Explicamos nossa posição, e ele ouviu atentamente. Usamos a devoção deles a suas próprias crenças políticas como ilustração. Perguntamos a eles como esperariam que um soldado treinado de sua organização reagisse se fosse capturado e obrigado a transigir em sua posição. Disseram que essa pessoa deve estar disposta a morrer por suas convicções. Sorriram quando os elogiamos pela resposta; não perceberam que nos haviam dado uma oportunidade de ouro para ilustrar o nosso caso. Explicamos que somos diferentes das igrejas da cristandade. Como apoiadores do Reino de Deus, nossa ‘constituição’ baseia-se na Bíblia, que condena todas as formas de assassínio. Por esse motivo, não estávamos dispostos a contribuir nem sequer um centavo para a compra de armas.

“A essa altura, quando a conversa atingiu um clímax, mais pessoas haviam chegado a nossa casa, de modo que por fim nos dirigíamos a uma grande assistência. Eles não perceberam com quanto fervor orávamos pedindo que a conversa tivesse um resultado favorável.

“Depois de esclarecermos a nossa posição, houve um longo silêncio. Por fim, o líder falou ao seu grupo: ‘Companheiros, eu entendo a posição desses homens. Se quiséssemos dinheiro para construir um asilo, ou se um dos nossos vizinhos precisasse de dinheiro para ir ao hospital, esses homens contribuiriam. Mas não estão dispostos a nos dar dinheiro para matar. Pessoalmente, não sou contra suas crenças.’

“Após isso, todos eles se levantaram. Apertamos as mãos e lhes agradecemos pela paciência. O que havia começado como uma situação ameaçadora que podia ter custado a nossa vida terminou numa grandiosa vitória.”

Turbas lideradas por sacerdotes

Conforme narrado pela Testemunha polonesa Jerzy Kulesza:

“No que diz respeito a zelo e a colocar os interesses do Reino em primeiro lugar, meu pai, Aleksander Kulesza, foi um exemplo a ser seguido. Para ele, o serviço de campo, as reuniões cristãs e o estudo pessoal e em família eram coisas realmente sagradas. Nem tempestades de neve, nem geadas, nem fortes ventos, nem calor eram obstáculos para ele. No inverno ele calçava os esquis, pegava uma mochila com publicações bíblicas e partia para territórios isolados da Polônia por alguns dias. Era comum deparar-se com vários perigos, inclusive violentos grupos de guerrilha.

“Às vezes, sacerdotes incitavam oposição contra as Testemunhas de Jeová, atiçando turbas. Estas zombavam delas, atiravam-lhes pedras ou as espancavam. Mas elas voltavam para casa, felizes de ter suportado insultos por Cristo.

“Naqueles primeiros anos após a Segunda Guerra Mundial, as autoridades não conseguiam manter a lei e a ordem no país. Havia caos e destruição. A polícia e as forças de segurança dominavam de dia, ao passo que as guerrilhas e várias gangues operavam à noite. Roubos e saques tornaram-se generalizados, e havia freqüentes linchamentos. Testemunhas de Jeová indefesas eram presa fácil, especialmente visto que alguns dos grupos liderados por sacerdotes concentravam-se nas Testemunhas. Justificavam a invasão das nossas casas com o pretexto de que defendiam a fé católica dos seus antepassados. Nessas ocasiões, quebravam janelas, roubavam gado e destruíam roupas, alimento e publicações. Jogavam Bíblias na cisterna.”

Martírio inesperado

“Certo dia, em junho de 1946, antes de nos encontrarmos para ir de bicicleta a um território isolado, um irmão jovem, Kazimierz Kądziela, nos visitou e conversou baixinho com meu pai. Meu pai mandou-nos sair e não nos acompanhou, o que nos surpreendeu. Saberíamos o motivo depois. Ao voltarmos para casa, ficamos sabendo que, na noite anterior, a família Kądziela havia sido brutalmente espancada, de modo que meu pai fora cuidar de irmãos gravemente feridos.

“Mais tarde, quando entrei no aposento em que eles estavam deitados, o que vi me fez chorar. As paredes e o teto estavam salpicados de sangue. Havia pessoas cobertas de curativos, deitadas nas camas, moídas de pancadas, inchadas, com costelas e outros membros do corpo quebrados. Mal podiam ser reconhecidas. A irmã Kądziela, a mãe, estava terrivelmente ferida. Meu pai os estava ajudando, e disse algo significativo antes de sair: ‘Oh! meu Deus, sou um homem tão saudável e capaz [ele tinha 45 anos e nunca ficara doente], e não tive o privilégio de sofrer por ti. Por que isso devia acontecer a essa irmã idosa?’ Mal sabia ele o que o aguardava.

“Enquanto o sol se punha, retornamos para nossa casa a três quilômetros de distância. Um grupo de 50 homens armados a havia cercado. A família Wincenciuk também foi levada para lá, de modo que éramos nove ali. Perguntou-se a cada um de nós: ‘É Testemunha de Jeová?’ Ao respondermos que sim, fomos espancados. Daí, revezando-se, dois daqueles homens brutos espancaram meu pai enquanto lhe perguntavam se pararia de ler a Bíblia e de pregar. Queriam saber se ele iria à igreja e confessaria seus pecados. Escarneciam dele, dizendo: ‘Hoje o ordenaremos bispo.’ Meu pai não disse uma palavra sequer, não soltou um gemido sequer. Suportou as torturas, quieto como uma ovelha. Ao raiar o dia, uns 15 minutos depois de os valentões religiosos terem ido embora, ele morreu, violentamente espancado. Mas, antes de partirem, escolheram-me como a próxima vítima. Na época eu tinha 17 anos. Durante o espancamento, perdi os sentidos duas vezes. Meu corpo ficou coberto de hematomas da cintura para cima por causa das pancadas. Fomos maltratados por seis horas. Tudo por sermos Testemunhas de Jeová!”

O apoio duma esposa fiel

“Eu estava no grupo de 22 Testemunhas que por dois meses ficou confinado numa cela escura de menos de dez metros quadrados. No fim daquele período nossa ração alimentar foi reduzida. Recebíamos diariamente um pouco de pão e uma canequinha de café amargo. Só dava para deitar no chão frio de cimento para dormir quando alguém era tirado da cela para interrogatório à noite.

“Fui preso cinco vezes por causa da atividade cristã, oito anos ao todo. Era tratado como preso especial. Havia uma observação no meu registro pessoal com a seguinte informação: ‘Molestem a Kulesza de tal modo que ele perca o desejo de algum dia retomar a atividade.’ No entanto, sempre que eu era libertado, voltava ao serviço cristão. As autoridades também tornaram a vida difícil para minha esposa, Urszula, e nossas duas filhinhas. Por exemplo, durante dez anos o intendente retinha parte do salário que minha esposa ganhava com trabalho duro. Diziam que era um imposto por eu editar publicações bíblicas às ocultas. Tudo era confiscado, exceto as coisas consideradas como necessidades da vida. Sou grato a Jeová por minha corajosa esposa, que pacientemente suportou comigo todos aqueles tormentos e que foi um verdadeiro apoio para mim todo o tempo.

“Vimos uma vitória espiritual aqui na Polônia; temos agora uma filial legalizada da Sociedade Watch Tower, em Nadarzyn, perto de Varsóvia. Após décadas de perseguição, existem agora mais de 108.000 Testemunhas, associadas com 1.348 congregações.”

Por que tantos mártires?

O registro de integridade das Testemunhas de Jeová no século 20 literalmente encheria volumes — milhares morreram como mártires ou sofreram prisão e indescritíveis torturas, estupros e saques, em lugares como Malaui e Moçambique, na Espanha sob o fascismo, na Europa sob o nazismo, na Europa Oriental sob o comunismo e nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Surge a pergunta: por quê? Porque líderes políticos e religiosos inflexíveis não se mostraram dispostos a respeitar a consciência treinada pela Bíblia de cristãos sinceros que se recusam a aprender a matar e que não têm parte alguma em atividades políticas. É exatamente como Cristo disse que seria, conforme registrado em João 15:17-19: “Estas coisas eu vos mando, que vos ameis uns aos outros. Se o mundo vos odeia, sabeis que me odiou antes de odiar a vós. Se vós fizésseis parte do mundo, o mundo estaria afeiçoado ao que é seu. Agora, porque não fazeis parte do mundo, mas eu vos escolhi do mundo, por esta razão o mundo vos odeia.”

Apesar de toda a perseguição mundial, as Testemunhas de Jeová têm aumentado — de 126.000 em 54 países, em 1943, para quase 4.500.000 em 229 países, em 1993. Têm tido vitória mesmo diante da morte. Estão determinadas a continuar sua ímpar obra educativa de anunciar as boas novas do Reino até que Jeová decrete seu encerramento. — Isaías 6:11, 12; Mateus 24:14; Marcos 13:10.

[Nota(s) de rodapé]

a Integridade é “inabalável aderência a um estrito código de moral ou ética”. — The American Heritage Dictionary, 3.ª Edição.

[Quadro/Foto na página 6]

Martírio na Alemanha

AUGUST DICKMANN tinha 23 anos quando Heinrich Himmler, líder das SS, ordenou que fosse fuzilado diante de todas as outras Testemunhas no campo de concentração de Sachsenhausen. Gustav Auschner, uma testemunha ocular, relatou: “Eles fuzilaram o irmão Dickmann e disseram que todos nós seríamos fuzilados se não assinássemos a declaração de renúncia à nossa fé. Seríamos levados à cova de areia, 30 ou 40 de cada vez, e fuzilariam a todos nós. No dia seguinte, as SS trouxeram, para cada um de nós, uma nota para assinar; se não a assinássemos, seríamos fuzilados. Deveriam ter visto os rostos aborrecidos deles quando foram embora sem uma assinatura sequer. Achavam que tinham nos assustado com a execução pública. Mas tínhamos mais medo de desagradar a Jeová do que das balas deles. Eles não mais fuzilaram nenhum de nós, publicamente.”

[Quadro/Foto na página 9]

O preço derradeiro

ÀS VEZES, a vitória diante da morte pode envolver pagar o preço derradeiro. Uma carta recebida da Congregação Nseleni, no norte da Província de Natal, na África do Sul, conta uma história trágica: “Escrevemos-lhes para que saibam da perda do nosso amado irmão Moses Nyamussua. Seu trabalho era soldar e consertar carros. Certa vez um grupo político pediu-lhe que soldasse suas armas de fabricação caseira, o que ele se recusou a fazer. Daí, em 16 de fevereiro de 1992, eles realizaram seu comício político, onde houve uma luta contra o grupo de oposição. À noite, no mesmo dia, ao retornarem da batalha, encontraram o irmão indo fazer compras. Eles o mataram ali com suas lanças. Por quê? ‘Você se recusou a soldar nossas armas, e agora nossos companheiros morreram na luta.’

“Isso foi um choque muito grande para os irmãos”, diz o irmão Dumakude, o secretário da congregação. “Mas”, acrescenta ele, “ainda levaremos avante o nosso ministério”.

[Quadro/Foto na página 11]

Martírio na Polônia

EM 1944, quando as tropas alemãs retiravam-se rapidamente e a frente de batalha se aproximava duma cidade no leste da Polônia, as autoridades de ocupação obrigaram os civis a cavar trincheiras antitanques. As Testemunhas de Jeová recusaram-se a participar. Stefan Kieryło, uma jovem Testemunha — batizado apenas dois meses antes —, foi obrigado a ingressar numa brigada de trabalho, mas corajosamente tomou a mesma posição neutra. Tomaram-se várias medidas para quebrantar sua integridade.

Amarraram-no nu a uma árvore no pântano para que fosse atacado por borrachudos e outros insetos. Ele suportou essa e outras torturas, de modo que o deixaram em paz. No entanto, quando um oficial de alta patente inspecionou a brigada, alguém lhe disse que havia um homem que de maneira alguma obedeceria sua ordem. Stefan recebeu ordens três vezes de cavar a trincheira. Recusou-se até a segurar uma pá. Foi morto com um tiro. Centenas de pessoas que observaram a cena o conheciam pessoalmente. Seu martírio tornou-se um testemunho da grande força que Jeová pode suprir.

[Foto na página 7]

Ananii Grogul

[Foto na página 10]

Jerzy Kulesza

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