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Despertai! — 1994
g94 22/10 pp. 8-15

Nós não apoiamos a guerra de Hitler

CONFORME NARRADO POR FRANZ WOHLFAHRT

MEU pai, Gregor Wohlfahrt, serviu no exército austríaco na Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918) e lutou contra a Itália. Centenas de milhares de austríacos e italianos foram mortos. Os horrores dessa experiência mudaram completamente o conceito de meu pai sobre religião e guerra.

Papai viu sacerdotes austríacos abençoar as tropas, e ele soube que sacerdotes italianos no outro lado faziam o mesmo. Assim, ele indagava: “Por que são os soldados católicos exortados a matar outros católicos? Deviam os cristãos ir à guerra uns contra os outros?” Os sacerdotes não tinham respostas satisfatórias.

Respostas às perguntas de meu pai

Depois da guerra, papai casou-se e foi morar nas montanhas da Áustria, perto das fronteiras da Itália e da Iugoslávia. Ali eu nasci, em 1920, o primeiro de seis filhos. Quando eu tinha seis anos, mudamo-nos para St. Martin, alguns quilômetros para o leste, perto da estância de Pörtschach.

Enquanto morávamos ali, ministros das Testemunhas de Jeová (chamados de Estudantes da Bíblia na época) visitaram meus pais. Em 1929 deixaram o folheto Wohlfahrt Sicher (Certeza de Prosperidade), que respondeu a muitas das perguntas de meu pai. O folheto mostrava biblicamente que o mundo estava sendo controlado por um governante invisível chamado Diabo e Satanás. (João 12:31; 2 Coríntios 4:4; Revelação [Apocalipse] 12:9) A influência do Diabo sobre a religião, a política e o comércio deste mundo era responsável pelos horrores que papai presenciou na Primeira Guerra Mundial. Finalmente, papai havia encontrado as respostas que procurava.

Ministério zeloso

Papai solicitou publicações da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados e passou a distribuí-las a parentes e, daí, de casa em casa. Hans Stossier, um jovem vizinho de apenas 20 anos, logo se juntou a ele no ministério de casa em casa. Em pouco tempo, cinco de nossos parentes também se tornaram Testemunhas — o irmão de papai, Franz, sua esposa Anna, mais tarde o filho deles, Anton, a irmã de meu pai, Maria, e seu marido, Hermann.

Isto causou uma comoção e tanto na nossa pequena cidade de St. Martin. Na escola, uma aluna perguntou ao nosso professor de religião, que era católico: “Padre Loigge, quem é esse novo deus Jeová que o Wohlfahrt está adorando?”

“Não, não, crianças”, respondeu o sacerdote. “Não é um novo deus. Jeová é o Pai de Jesus Cristo. Se eles estão divulgando a mensagem por amor a esse Deus, isso é muito bom.”

Lembro-me de que meu pai muitas vezes saía de casa à uma hora da madrugada, carregado de publicações bíblicas e com um sanduíche. Seis ou sete horas depois ele chegava ao ponto mais distante de seu território de pregação, perto da fronteira da Itália. Eu o acompanhava nas viagens mais curtas.

Apesar de seu ministério público, papai não negligenciava as necessidades espirituais de sua própria família. Quando eu tinha uns dez anos, ele começou um estudo bíblico regular semanal com todos os seis filhos, usando o livro A Harpa de Deus. Noutras ocasiões, a nossa casa ficava lotada de vizinhos e parentes interessados. Logo havia uma congregação de 26 proclamadores do Reino na nossa cidadezinha.

Hitler chega ao poder

Hitler chegou ao poder na Alemanha em 1933, onde pouco depois a perseguição contra as Testemunhas de Jeová aumentou. Em 1937, papai assistiu a um congresso em Praga, na Tchecoslováquia. Os congressistas foram alertados às provações à frente, de modo que na sua volta papai nos exortou a nos prepararmos para a perseguição.

No ínterim, aos 16 anos, comecei a trabalhar como aprendiz de pintor de casas. Eu morava com um mestre pintor e cursava uma escola profissionalizante. Um sacerdote idoso que havia fugido da Alemanha para escapar do regime nazista dava aulas de religião na escola. Quando os alunos o saudaram com “Heil Hitler!” ele mostrou desagrado e perguntou: “Onde é que está a nossa fé em Deus?”

Eu aproveitei a oportunidade e perguntei por que os católicos usam títulos tais como “Vossa Eminência” e “Santo Padre”, visto que Jesus disse que todos seus seguidores são irmãos. (Mateus 23:8-10) O sacerdote reconheceu ser errado fazer isso e que ele mesmo estava em apuros por se recusar a curvar-se perante o bispo e beijar a sua mão. Daí, eu perguntei: “Como é possível matar companheiros católicos com a bênção da Igreja?”

“Esta é a maior vergonha!”, exclamou o sacerdote. “Jamais devia acontecer de novo. Nós somos cristãos, e a Igreja não devia se envolver em guerras.”

Em 12 de março de 1938, Hitler entrou na Áustria sem resistência, e logo anexou-a à Alemanha. As igrejas rapidamente se alinharam com ele. De fato, menos de uma semana depois, todos os seis bispos austríacos, incluindo o Cardeal Theodore Innitzer, assinaram uma fulgurante “declaração solene” em que diziam que, nas vindouras eleições, “é imperativo e um dever nacional que, como alemães, nós, bispos, votemos no Reich alemão”. (Veja a página 9.) Houve uma grande recepção em Viena, onde o Cardeal Innitzer foi um dos primeiros a receber Hitler com a saudação nazista. O cardeal ordenou que todas as igrejas austríacas hasteassem a bandeira suástica, tocassem os sinos e orassem pelo ditador nazista.

Aparentemente da noite para o dia mudou o cenário político na Áustria. Tropas de assalto, de uniformes marrons e a suástica na braçadeira, surgiam por toda a parte. O sacerdote que havia dito que a Igreja não devia se envolver em guerras foi um dos poucos sacerdotes que se recusaram a dizer “Heil Hitler!”. Uma semana depois ele foi substituído por outro sacerdote. A primeira coisa que este fez ao entrar na sala foi bater os pés, erguer o braço e saudar: “Heil Hitler!”

Pressão para se amoldar

Todos estavam expostos à pressão dos nazistas. Quando eu cumprimentava as pessoas com “Guten Tag” (Bom-dia), em vez de “Heil Hitler”, elas se irritavam. Umas 12 vezes fui denunciado à Gestapo. Certa vez, um grupo das tropas de assalto ameaçou o mestre pintor com quem eu morava, dizendo que se eu não fizesse a saudação nazista e não ingressasse na Juventude Hitlerista, eu seria enviado a um campo de concentração. O pintor, simpatizante do nazismo, pediu-lhes que fossem pacientes comigo, pois tinha certeza de que, com o tempo, eu mudaria. Ele explicou que não queria me perder porque eu era um bom trabalhador.

Com a tomada nazista, havia grandes manifestações que se prolongavam noite adentro, e as pessoas gritavam lemas fanaticamente. Todos os dias as rádios berravam discursos de Hitler, Goebbels, e outros. A submissão da Igreja Católica a Hitler se acentuava, à medida que os sacerdotes rotineiramente oravam por Hitler e o abençoavam.

Papai lembrou-me da necessidade de adotar uma posição firme, dedicar minha vida a Jeová e ser batizado. Falou-me também a respeito de Maria Stossier, irmã mais nova de nosso vizinho Hans, que havia tomado posição em favor da verdade bíblica. Maria e eu havíamos decidido nos casar, e papai exortou-me a ser de encorajamento espiritual para ela. Maria e eu fomos batizados em agosto de 1939 pelo irmão dela, Hans.

Integridade exemplar de meu pai

No dia seguinte, papai foi convocado para o serviço militar. Embora a sua saúde debilitada, resultante de padecimentos sofridos durante a Primeira Guerra Mundial, de qualquer maneira o isentaria de servir, papai disse aos entrevistadores que, como cristão, jamais se envolveria de novo na guerra, como fez quando era católico. Por causa dessa declaração ele foi detido para investigação posterior.

Uma semana depois, quando a Alemanha invadiu a Polônia, o que deu início à Segunda Guerra Mundial, ele foi levado a Viena. Enquanto era mantido ali, o prefeito de nossa cidade escreveu afirmando que papai era responsável por outras Testemunhas de Jeová se terem recusado a apoiar Hitler e que, por conseguinte, devia ser executado. Em resultado disso, papai foi enviado a Berlim, e pouco depois foi condenado à decapitação. Ele foi mantido em ferros dia e noite na prisão de Moabit.

No ínterim, escrevi ao meu pai em nome da família e disse a ele que estávamos decididos a seguir o seu fiel exemplo. Papai não era exatamente um homem emotivo, mas pudemos ver como ele se sentia pelas manchas de lágrimas na última carta que nos escreveu. Ele estava muito feliz de que nós entendíamos a sua posição. Escreveu palavras de encorajamento, mencionando cada um de nós por nome e exortando-nos a nos manter fiéis. A esperança dele na ressurreição era forte.

Além de papai, mais de 20 outras Testemunhas de Jeová estavam na prisão de Moabit. Oficiais nazistas de alta patente tentavam persuadi-las a renegar a fé, mas sem êxito. Em dezembro de 1939, cerca de 25 Testemunhas foram executadas. Ao saber da execução de papai, mamãe expressou sua grande gratidão a Jeová por ter dado ao papai a força para permanecer fiel até a morte.

Começam as minhas provações

Algumas semanas depois, fui convocado para prestar serviços, mas logo constatei que a atividade principal era o treinamento militar. Expliquei que não serviria no exército, mas que poderia executar outras tarefas. Contudo, quando me recusei a cantar canções marciais nazistas, os oficiais ficaram furiosos.

Na manhã seguinte compareci de roupa civil, em vez de usar o uniforme militar que nos havia sido fornecido. O oficial responsável me disse que não tinha outra alternativa senão colocar-me na masmorra. Ali eu passei a pão e água. Mais tarde, foi-me dito que haveria uma cerimônia de saudação à bandeira, e fui alertado de que a recusa de participar resultaria em fuzilamento.

No pátio de treinamento havia 300 recrutas, além de oficiais. Recebi a ordem de passar pelos oficiais e a suástica e fazer a saudação a Hitler. Derivando força espiritual do relato bíblico a respeito dos três hebreus, eu simplesmente disse “Guten Tag” (Bom-dia) quando passei. (Daniel 3:1-30) Recebi a ordem de passar de novo. Desta vez eu não disse nada, apenas sorri.

Quando quatro oficiais levaram-me de volta à masmorra, eles me disseram que estavam tremendo porque achavam que eu seria fuzilado. “Como é possível”, perguntaram, “que você estivesse sorrindo e nós tão nervosos?” Disseram que gostariam de ter a minha coragem.

Alguns dias depois, o Dr. Almendinger, um oficial de alta patente do quartel-general de Hitler em Berlim, chegou ao campo. Fui chamado à sua presença. Ele explicou que as leis haviam se tornado bem mais duras. “Você não tem noção alguma do que lhe aguarda”, disse ele.

“Oh!, sim, eu tenho”, respondi. “Meu pai foi decapitado pela mesma razão algumas semanas atrás.” Ele ficou atônito e em silêncio.

Mais tarde, chegou de Berlim outro oficial de alta patente, e novas tentativas foram feitas para me fazer mudar de idéia. Depois de ouvir por que eu não violaria a lei de Deus, ele apanhou a minha mão e, com lágrimas escorrendo no rosto, disse: “Eu quero salvar a sua vida!” Todos os oficiais presentes ficaram comovidos. Daí, fui levado de volta à masmorra, onde fiquei ao todo 33 dias.

Julgamento e prisão

Em abril de 1940, fui transferido para uma prisão em Fürstenfeld. Alguns dias depois minha noiva, Maria, e meu irmão Gregor, me visitaram. Gregor era apenas um ano e meio mais novo do que eu, e ele havia tomado uma posição firme pela verdade bíblica na escola. Lembro-me de que ele exortava nossos irmãos mais jovens a se prepararem para a perseguição, dizendo que havia um só caminho: servir a Jeová! A preciosa hora que passamos nos encorajando mutuamente foi a última vez que o vi com vida. Mais tarde, em Graz, fui condenado a cinco anos de trabalhos forçados.

No outono de 1940, fui colocado num trem com destino a um campo de trabalhos forçados na Tchecoslováquia, mas fiquei detido em Viena e colocado na prisão ali. As condições eram horríveis. Não só passei fome, mas, durante a noite eu era picado por grandes mosquitos que faziam a minha pele sangrar e arder. Por razões que eu então desconhecia, fui mandado de volta à prisão em Graz.

Havia interesse no meu caso, porque a Gestapo descrevia as Testemunhas de Jeová como mártires fanáticos que queriam a sentença de morte para ganhar uma recompensa celestial. Em resultado disso, tive a excelente oportunidade de falar por dois dias perante um professor e oito estudantes da Universidade de Graz, explicando que apenas 144.000 pessoas seriam levadas para o céu a fim de governar com Cristo. (Revelação 14:1-3) Minha esperança, disse eu, era desfrutar de vida eterna em condições paradísicas na Terra. — Salmo 37:29; Revelação 21:3, 4.

Depois de dois dias de indagações, o professor disse: “Cheguei à conclusão de que você tem os pés no chão. Não é seu desejo morrer e ir para o céu.” Ele expressou pesar pela perseguição contra as Testemunhas de Jeová, e desejou-me felicidades.

No início de 1941, fui colocado num trem com destino ao campo de trabalhos forçados de Rollwald, na Alemanha.

Vida dura no campo de concentração

Rollwald ficava entre as cidades de Frankfurt e Darmstadt, e tinha cerca de 5.000 prisioneiros. O dia começava às 5 da manhã com a chamada, que levava umas duas horas, à medida que os oficiais sem pressa atualizavam a sua lista de prisioneiros. Éramos obrigados a permanecer sem nos mexer, e muitos prisioneiros foram duramente espancados por não permanecerem perfeitamente estáticos.

O desjejum consistia de pão feito de farinha de trigo, serragem e batatas, muitas vezes podres. Daí íamos trabalhar num pântano, cavando valas para drenar a terra para fins agrícolas. Depois de trabalharmos no pântano o dia inteiro sem calçados adequados, os nossos pés inchavam como esponjas. Certa vez meus pés ficaram em tão péssimo estado que parecia que estavam com gangrena, e tive medo de que teriam de ser amputados.

Ao meio-dia nos era servida uma mistura experimental chamada de sopa. Levava um pouco de nabo ou de repolho e, às vezes, incluía carcaça moída de animais doentes. A boca e a garganta ardiam, e em muitos de nós apareceram grandes furúnculos. À noite recebíamos mais “sopa”. Muitos prisioneiros perderam os dentes, mas eu havia sido avisado da importância de exercitar os dentes. Eu mastigava um pedaço de madeira de pinho ou galhinhos de aveleira, de modo que nunca perdi os meus.

Mantendo-se forte espiritualmente

Num esforço de quebrar a minha fé, os guardas me isolaram das outras Testemunhas de Jeová. Visto que eu não tinha publicações bíblicas, eu recordava textos que havia decorado, tais como Provérbios 3:5, 6, que nos exorta a ‘confiar em Jeová de todo o coração’, e 1 Coríntios 10:13, que promete que Jeová ‘não permitirá que sejamos tentados além daquilo que podemos suportar’. Por trazer tais textos à lembrança e confiar em Jeová em oração, sentia-me fortalecido.

Às vezes eu via uma Testemunha de Jeová em trânsito, de um campo para outro. Se não podíamos nos falar, nós nos encorajávamos mutuamente acenando com a cabeça ou com um punho cerrado erguido. Ocasionalmente eu recebia cartas de Maria e de minha mãe. Numa delas soube da morte do meu querido irmão Gregor, e em outra, mais para o fim da guerra, da execução de Hans Stossier, irmão de Maria.

Mais tarde, foi transferido para o nosso campo um prisioneiro que conheceu Gregor, quando estavam juntos na prisão de Moabit, em Berlim. Dele fiquei sabendo de detalhes do que acontecera. Gregor havia sido condenado à morte na guilhotina, mas, num esforço de quebrar a sua integridade, o costumeiro período de espera antes da execução foi prolongado para quatro meses. Durante esse período fez-se todo tipo de pressão para fazê-lo transigir — suas mãos e pés eram amarrados por pesados ferros, e raramente era alimentado. Mas ele jamais vacilou. Foi fiel até o fim — 14 de março de 1942. Embora entristecido pelas notícias, isso me fortaleceu para permanecer fiel a Jeová, custasse o que custasse.

Com o tempo, soube também que meus irmãos mais novos, Kristian e Willibald, e minhas irmãs mais novas, Ida e Anni, haviam sido levados a um convento usado como reformatório em Landau, Alemanha. Os meninos foram severamente espancados por se recusarem a dizer heil Hitler.

Oportunidades para dar testemunho

A maioria dos detentos nos pavilhões em que eu vivia eram prisioneiros políticos e criminosos. Muitas vezes eu lhes dava testemunho, à noite. Um deles era um sacerdote católico de Kapfenberg, chamado Johann List. Ele havia sido preso porque falara à sua congregação a respeito de coisas que havia ouvido nas transmissões de rádio britânicas.

A situação de Johann era muito difícil, pois ele não estava acostumado a trabalho braçal pesado. Era um homem agradável, e eu o ajudava a alcançar a sua quota de trabalho, para que ele não entrasse em apuros. Ele disse que se sentia envergonhado de estar preso por razões políticas e não pela defesa de princípios cristãos. “Você está realmente sofrendo como cristão”, disse ele. Quando foi libertado, cerca de um ano depois, ele prometeu visitar minha mãe e minha noiva, promessa esta que ele cumpriu.

Minha vida melhora

Em fins de 1943, ganhamos um novo comandante de campo, chamado Karl Stumpf, um homem alto e de cabelos brancos, que passou a melhorar as condições no nosso campo. Sua casa estava escalada para ser pintada, e, quando soube que eu era pintor, ele me confiou a tarefa. Foi a primeira vez que fui tirado do trabalho no pântano.

A esposa do comandante não conseguia entender por que eu havia sido preso, embora o marido lhe tivesse explicado que eu estava ali por causa da minha fé como Testemunha de Jeová. Ela se compadeceu de mim por estar esquelético e me alimentava. Arranjou mais serviços para mim, de modo que eu pudesse me recuperar fisicamente.

Quando os prisioneiros do campo foram convocados para combater nas linhas de frente, em fins de 1943, minha boa relação com o comandante Stumpf me salvou. Eu expliquei a ele que preferiria morrer a tornar-me culpado de sangue por participar na guerra. Embora a minha posição de neutralidade o colocasse numa situação difícil, ele conseguiu manter meu nome fora da lista dos convocados.

Últimos dias da guerra

Durante janeiro e fevereiro de 1945, aviões americanos em vôos rasantes nos encorajavam lançando panfletos que diziam que a guerra estava perto do fim. O comandante Stumpf, que havia salvo a minha vida, providenciou-me roupas civis e ofereceu a sua casa como esconderijo. Saindo do campo, eu vi um caos avassalador. Por exemplo, crianças de uniforme e armadas, com lágrimas escorrendo pelo rosto, fugindo dos americanos. Temendo deparar-me com oficiais das SS que iriam querer saber por que eu não portava arma, decidi voltar para o campo.

Pouco depois, o nosso campo foi completamente cercado por tropas americanas. Em 24 de março de 1945, o campo se rendeu, hasteando bandeiras brancas. Como fiquei surpreso ao saber que havia outras Testemunhas no âmbito do campo que também haviam sido poupadas da execução pelo comandante Stumpf! Que alegre encontro tivemos! Quando o comandante Stumpf foi preso, muitos de nós contatamos os oficiais americanos e atestamos pessoalmente e por carta em seu favor. Em resultado disso, três dias depois ele foi libertado.

Para meu espanto, fui o primeiro dos cerca de 5.000 prisioneiros a ser libertado. Depois de cinco anos de detenção, parecia um sonho. Com lágrimas de alegria, agradeci a Jeová em oração por ter-me preservado vivo. A Alemanha só se rendeu em 7 de maio de 1945, umas seis semanas depois.

Ao ser libertado, imediatamente contatei outras Testemunhas de Jeová na região. Foi organizado um grupo para estudo da Bíblia, e, nas semanas seguintes, empreguei muitas horas testemunhando a pessoas nas redondezas do campo. Ao mesmo tempo, consegui emprego de pintor.

De volta para casa

Em julho, consegui comprar uma motocicleta e iniciei minha longa jornada para casa. A viagem levou vários dias, pois muitas pontes na rodovia haviam sido dinamitadas. Quando finalmente cheguei em casa, em St. Martin, ao subir a estrada vi Maria colhendo trigo. Quando finalmente me reconheceu, ela veio correndo. Imagine o feliz reencontro! Mamãe largou a sua foicinha e também veio correndo. Hoje, 49 anos depois, ela tem 96 anos de idade e é cega. Ela ainda está lúcida e continua sendo uma fiel Testemunha de Jeová.

Eu e Maria nos casamos em outubro de 1945, e, desde então, temos tido o prazer de servir juntos a Jeová. Fomos abençoados com três filhas, um filho e seis netos, todos eles servindo zelosamente a Jeová. Ao longo dos anos tenho tido a satisfação de ajudar muitas pessoas a se firmar em favor da verdade bíblica.

Coragem para perseverar

Muitas vezes já me perguntaram como foi possível, como jovem, encarar a morte sem medo. Esteja certo — Jeová Deus dá a força para perseverar, se você está decidido a permanecer leal. Aprende-se bem depressa a confiar plenamente nele através da oração. E saber que outros, incluindo meu próprio pai e meu próprio irmão, perseveraram fiéis até a morte, serviu para ajudar-me a também permanecer leal.

Não foi apenas na Europa que o povo de Jeová não tomou partido na guerra. Lembro-me de que durante os julgamentos de Nurembergue, em 1946, um dos oficiais de alta patente de Hitler estava sendo interrogado sobre a perseguição contra as Testemunhas de Jeová nos campos de concentração. Ele tirou do bolso um recorte de jornal que dizia que milhares de Testemunhas de Jeová nos Estados Unidos estavam em prisões americanas por causa de sua neutralidade durante a Segunda Guerra Mundial.

De fato, os cristãos verdadeiros seguem corajosamente o exemplo de Jesus Cristo, que manteve a integridade a Deus até o seu último suspiro. Até hoje muitas vezes me lembro dos 14 membros da nossa pequena congregação em St. Martin nos anos 30 e 40, que, por amor a Deus e a seus semelhantes, recusaram-se a apoiar a guerra de Hitler e, por esta razão, foram mortos. Que grandioso reencontro será quando forem ressuscitados para a vida sem fim no novo mundo de Deus!

[Foto na página 8]

Meu pai

[Fotos nas páginas 8, 9]

Abaixo, à esquerda: Cardeal Innitzer votando em apoio do Reich alemão

À direita: A “Declaração Solene” em que seis bispos declaram ser seu ‘dever nacional votar no Reich alemão’

[Crédito]

UPI/Bettmann

[Foto na página 10]

Em 1939, eu e Maria ficamos noivos

[Foto na página 13]

A nossa família. Da esquerda para a direita: Gregor (decapitado), Anni, Franz, Willibald, Ida, Gregor (pai, decapitado), Barbara (mãe), e Kristian

[Foto na página 15]

Com Maria hoje

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