RESGATE (REDENÇÃO)
As palavras portuguesas “resgate” e “redenção” provêm da mesma fonte, o latim. “Redenção” vem de redemptio, referindo-se ao “ato ou efeito de remir ou redimir”. Em geral, contudo, “resgate” (de origem incerta) transmite a idéia de livramento, como do cativeiro ou de alguma obrigação ou circunstância indesejável. “Redenção”, hoje em dia, transmite também a idéia de “resgate, libertação”. (Veja o Grande Dicionário Etimológico-Prosódico da Língua Portuguesa, de S. Bueno; 1968; Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, de A. G. Cunha; 1982.)
As duas palavras são empregadas na tradução de vários termos hebraicos e gregos. Em todos estes termos, a similaridade inerente reside na idéia de fornecer um preço ou uma coisa valiosa para obter o resgate ou a redenção. A idéia de troca é, por conseguinte, comum a todos, bem como a idéia de correspondência, equivalência ou substituição. Isto é, uma coisa é dada em troca de outra, satisfazendo as exigências da justiça e resultando no equilíbrio dos assuntos.
O substantivo hebraico kópher provém do verbo kaphár, que significa, basicamente, “cobrir”, como em Noé cobrir a arca com alcatrão. (Gên. 6:14) O termo kaphár, contudo, é empregado quase que inteiramente para descrever a satisfação da justiça por meio da cobertura ou expiação de pecados. O substantivo kópher refere-se à coisa dada para realizar isto, o preço de resgate. (Sal. 65:3; 78:38; 79:8, 9) Uma cobertura corresponde à coisa que ela cobre, quer em sua forma (como no caso duma tampa material, tal como a “tampa [khappóreth]” da Arca, do pacto [Êxo. 25:17-22]), quer em seu valor (como no caso dum pagamento feito para cobrir os danos causados por um ferimento).
Como meio de equilibrar a justiça e resolver os assuntos com seu povo Israel, Jeová, no pacto da Lei, designou vários sacrifícios e ofertas para expiar ou cobrir pecados, incluindo os dos sacerdotes e dos levitas (Êxo. 29:33-37), ou de outros indivíduos ou da nação como um todo (Lev. 1:4; 4:20, 26, 31, 35), e para purificar o altar e o tabernáculo, fazendo expiação pelos pecados do povo que os cercava. (Lev. 16:16-20) Com efeito, a vida do animal sacrificado era dada em lugar da vida do pecador, o sangue do animal fazendo expiação sobre o altar de Deus, isto é, na medida possível. (Lev. 17:11; compare com Hebreus 9:13, 14; 10:1-4.) O “dia da expiação [yohm hakkippurím]” pode com igual propriedade ser chamado de “dia dos resgates”. (Lev. 23:26-28) Estes sacrifícios eram exigidos se a nação e sua adoração haviam de obter e manter a aceitação e a aprovação do Deus justo.
Ilustrando bem o sentido de uma troca redentora, havia a lei referente ao proprietário de um touro conhecido como escornador, ao qual se permitira que andasse solto, a ponto de matar alguém. O proprietário do touro devia ser morto, pagando com a própria vida pela vida da pessoa morta. No entanto, visto que ele não matou de forma deliberada ou direta uma outra pessoa, caso os juízes julgassem apropriado impor-lhe um “resgate [kópher]”, em vez de executá-lo, então ele precisava pagar tal preço de redenção. A soma avaliada e paga era vista como ocupando o lugar de sua própria vida, e compensando a vida que fora perdida. (Êxo. 21:28-32; compare com Deuteronômio 19:21.) Por outro lado, não se podia aceitar nenhum resgate para o assassino deliberado; apenas a própria vida dele podia cobrir a morte da vítima. (Núm. 35:31-33) Evidentemente porque um recenseamento envolvia vidas, na ocasião em que este era feito, cada varão com mais de 20 anos tinha de dar a Jeová, por sua alma, um resgate [kópher]de meio siclo — o mesmo preço se aplicando no caso, quer o indivíduo fosse rico, quer pobre. — Êxo. 30:11-16.
Visto que qualquer desequilíbrio da justiça desagrada a Deus, bem como aos humanos, o resgate ou a cobertura podia ter o efeito adicional de evitar ou aplacar a ira. (Compare com Jeremias 18:23; também com Gênesis 32:20, onde ‘aplacar’ traduz kaphár.) O marido enraivecido com o homem que cometeu adultério com sua esposa, contudo, recusa qualquer “resgate [kópher]”. (Pro. 6:35) O termo pode também ser utilizado com respeito aos que deviam exercer a justiça, mas que, em vez disso, aceitam um suborno ou presente como “peita [kópher]” para ocultar da vista o erro. — 1 Sam. 12:3; Amós 5:12.
O hebraico padháh, de acordo com o lexicógrafo Gesenius, contém a idéia básica de “desprender”, isto é, de “soltar ou deixar sair”, como pelo pagamento dum preço de resgate (pidhyón; Êxo. 21:30). Assim, este termo sublinha o livramento realizado pelo preço de resgate, ao passo que kaphár dá ênfase à qualidade ou ao conteúdo do preço, e à sua eficácia em equilibrar a balança da justiça. O livramento ou redenção (padháh) pode ser da escravidão (Lev. 19:20; Deut. 7:8), ou de outras condições aflitivas ou opressivas (2 Sam. 4:9; Jó 6:23; Sal. 55:18), ou da morte e da sepultura. (Jó 33:28; Sal. 49:15) Faz-se freqüente referência a Jeová resgatar do Egito os da nação de Israel, para serem sua “propriedade particular” (Deut. 9:26; Sal. 78:42), e a redimi-los do exílio na Assíria e em Babilônia, muitos séculos depois. (Isa. 35:10; 51:11; Jer. 31:11, 12; Zac. 10:8-10) Também neste caso, a redenção envolvia um preço, uma troca. Ao redimir Israel do Egito, Jeová evidentemente fez com que o preço fosse pago pelo Egito. Israel era, efetivamente, o “primogênito” de Deus, e Jeová avisou Faraó de que a recusa teimosa deste em livrar Israel faria com que se exigisse a vida do primogênito de Faraó, e do primogênito de todo o Egito — quer humano, quer animal. (Êxo. 4:21-23; 11:4-8) Similarmente, em troca pela derrubada de Babilônia por parte de Ciro e da libertação que ele concedeu aos judeus, relativa à sua condição de exilados, Jeová deu o “Egito como resgate [forma de kópher] por [seu povo], a Etiópia e Sebá” em lugar deles. O Império Persa conquistou assim mais tarde aquelas regiões e, desta forma, ‘grupos nacionais foram dados em lugar das almas dos israelitas’. (Isa. 43:1-4) Tais trocas estão em harmonia com a declaração inspirada de que o “iníquo é [ou, serve como] resgate [kópher] para o justo; e quem age traiçoeiramente toma o lugar dos retos”. — Pro. 21:18.
Outro termo hebraico associado com a redenção é ga’ál, e este termo transmite, primariamente, a idéia de recobro, recuperação ou recompra. (Jer. 32:7, 8) Vê-se sua similaridade com padháh pelo seu emprego paralelo com tal termo em Oséias 13:14: “Da mão do Seol os remirei [padháh]; da morte os recuperarei [ga’ál].” (Compare com Salmo 69:18.) O termo ga’ál ressalta o direito de recobro ou de recompra, quer através dum parente próximo duma pessoa cuja propriedade, ou cuja própria pessoa, precisa ser recomprada ou recobrada, quer pelo seu proprietário original, quer pelo próprio vendedor. Um parente próximo, chamado go’él, era assim um “resgatador” (Rute 2:20; 3:9, 13), ou, em casos em que estava envolvido um assassínio, um “vingador de sangue”. — Núm. 35:21.
A Lei continha provisões para que, no caso de um israelita pobre, cujas circunstâncias o obrigaram a vender suas terras hereditárias, sua casa na cidade, ou até a si próprio em servidão, “um resgatador, intimamente aparentado com ele”, ou go’él, tivesse o direito de “comprar de volta [ga’ál] o que seu irmão vendeu”, ou o vendedor mesmo pudesse fazê-lo, caso dispusesse de recursos. (Lev. 25:23-27, 29-34, 47-49; compare com Rute 4:1-15.) Caso um homem fizesse uma oferta votiva a Deus, de uma casa ou dum campo, e então desejasse recomprá-la, tinha de pagar o valor da propriedade, além de um quinto a mais de seu valor estimado. (Lev. 27:14-19) No entanto, nenhuma troca podia ser feita de algo ‘devotado à destruição’. — Lev. 27:28, 29.
No caso de assassínio, não se concedia santuário ao homicida premeditado nas designadas cidades de refúgio, mas, depois da audiência judicativa, ele era entregue pelos juízes ao “vingador [go’él] de sangue”, um parente próximo da vítima, que então matava o assassino. Visto que não se permitia nenhum “resgate [kópher]” para o assassino, e visto que o parente próximo, com direito de resgate, não podia recobrar ou recuperar a vida de seu parente morto, ele legitimamente cobrava a vida daquele que tinha tirado a vida de seu parente pelo assassínio. — Núm. 35:9-32; Deut. 19:1-13.
Nem sempre é um preço tangível
Conforme se mostrou, Jeová “remiu” (pa dháh) ou ‘reivindicou’ (ga’ál) Israel do Egito. (Êxo. 6:6; Isa. 51:10, 11) Mais tarde, visto que os israelitas continuaram a “vender-se para fazer o que era mau” (2 Reis 17:16, 17), Jeová, em várias oportunidades, ‘vendeu-os às mãos de seus inimigos’. (Deut. 32:30; Juí. 2:14; 3:8; 10:7; 1 Sam. 12:9) O arrependimento deles O movia a recomprá-los ou reivindicá-los da aflição ou do exílio (Sal. 107:2, 3; Isa. 35:9, 10; Miq. 4:10), desta forma realizando o trabalho dum Go’él, um Resgatador aparentado deles, uma vez que Ele havia desposado a nação. (Isa. 43:1, 14; 48:20; 49:26; 50:1, 2; 54:5-7) Quando Jeová os ‘vendia’, as nações pagãs não lhe pagavam nenhuma compensação material. O retorno ou a renda de tal ‘venda’ pode ter sido algo diferente de tais coisas tangíveis como bens, ou dinheiro. A título de exemplo, os israelitas ‘venderam-se’ a fim de derivar prazer de seu erro, assim como o Rei Acabe ‘vendeu-se para fazer o mal’, a fim de obter tal prazer. (1 Reis 21:20) Assim, também, embora tivesse motivos corretos, Jeová podia ‘vender’ seu povo em troca de algo não-tangível, seu pagamento sendo a satisfação de sua justiça e o cumprimento de seu propósito de fazer com que seu povo fosse corrigido e disciplinado pela rebelião e desrespeito que demonstrava. — Compare com Isaías 48:17, 18.
Da mesma forma, a ‘recompra’ da parte de Deus não precisava envolver o pagamento de algo tangível. Além do caso da libertação voluntariamente efetuada por Ciro dos israelitas exilados, Jeová, quando libertava Seu povo, não pagava nada às nações opressoras, uma vez que estas tinham agido sem justa causa e com dolo, ao escravizarem o Seu povo. Antes, Jeová exigiu certo preço dos próprios opressores, fazendo com que pagassem com suas próprias vidas. (Compare com Salmo 106:10; Isaías 41:11-14; 49:26.) Ser o Seu povo vendido às nações pagãs não lhes trouxe “nada” de seus escravizadores no sentido de verdadeiro benefício ou alívio, e Jeová, por conseguinte, não precisava fazer nenhum pagamento aos captores deles a fim de equilibrar os assuntos. Antes, Ele realizou a recompra ou resgate por meio do poder de “seu santo braço”. — Isa. 52:3-10; Sal. 77:14, 15.
O papel de Jeová como Go’él abrangia assim a vingança dos erros cometidos para com seus servos, e resultou na santificação e na vindicação de seu próprio nome contra os que usaram a aflição de Israel como desculpa para vituperá-lo. (Sal 78:35; Isa. 59:15-20; 63: 3-6, 9) Como o Grande Parente ou Redentor tanto daquela nação como de seus indivíduos, Ele conduziu a “causa jurídica” deles para fazer justiça. — Sal. 119:153, 154; Jer. 50:33, 34; Lam. 3:58-60; compare com Provérbios 23:10, 11.
O PAPEL DE CRISTO JESUS COMO RESGATADOR
As informações precedentes lançam a base para se entender o resgate provido para a humanidade por meio do Filho de Deus, Cristo Jesus. A necessidade dum resgate, por parte da humanidade, surgiu mediante a rebelião no Éden. Adão se vendeu para fazer o mal pelo prazer egoísta de escutar a voz de sua esposa e de manter a companhia constante da transgressora pecaminosa, e de partilhar a sua mesma posição condenada perante Deus. Desta forma, vendeu a si mesmo e a seus descendentes à escravidão ao pecado e à morte, o preço exigido pela justiça de Deus. (Rom. 5:12-19; compare com Romanos 7:14-25.) Tendo possuído a perfeição humana, Adão perdeu este valioso bem para si mesmo e para toda a sua descendência.
A Lei, que abrangia uma “sombra das boas coisas vindouras”, continha provisões para sacrifícios animais como cobertura para os pecados. Isto, contudo, era apenas uma cobertura simbólica ou figurada, uma vez que tais animais eram inferiores ao homem; assim, ‘não era possível que o sangue de touros e de bodes tirasse [realmente] pecados’, conforme indica o apóstolo. (Heb. 10:1-4) Aqueles sacrifícios animais representativos tinham de ser de espécimes sem mácula, perfeitos. (Lev. 22:21) O verdadeiro sacrifício de resgate, um humano realmente capaz de remover os pecados, tinha, portanto, de também ser perfeito, isento de mácula. Teria de corresponder ao perfeito Adão, e possuir a perfeição humana, se havia de pagar o preço de redenção que livraria a descendência de Adão da dívida, incapacidade e escravização a que foi vendida pelo seu primeiro pai, Adão. (Compare com Romanos 7:14; Salmo 51:5.) Apenas desta forma é que poderia satisfazer a perfeita justiça de Deus, que exige igual por igual, “alma por alma”. — Êxo. 21:23-25; Deut. 19:21.
A qualidade estrita da justiça de Deus tornava impossível que a própria humanidade fornecesse seu próprio remidor ou go’él. (Sal. 49:6-9) No entanto, isto resulta na magnificação do amor e da misericórdia do próprio Deus, no sentido de que ele satisfez seus próprios requisitos a um tremendo custo para si mesmo, dando a vida de seu próprio Filho a fim de prover o preço de redenção. (Rom. 5:6-8) Isto exigiu que o seu Filho se tornasse humano, a fim de corresponder ao perfeito Adão. Deus realizou isto por transferir a vida de seu Filho desde o céu para o útero da virgem judia, Maria. (Luc. 1:26-37; João 1: 14) Visto que Jesus não deveu sua vida a nenhum pai humano que descendia do pecador Adão, e visto que o espírito santo de Deus ‘encobriu com sua sombra’ a Maria, evidentemente desde o tempo em que ela concebeu até o tempo do nascimento de Jesus, Jesus nasceu isento de qualquer herança do pecado ou da imperfeição, sendo, por assim dizer, “um cordeiro sem mácula nem mancha”, cujo sangue podia provar-se um sacrifício aceitável. (Luc. 1:35; João 1:29; 1 Ped. 1:18, 19) Ele manteve esse estado isento de pecados por toda a sua vida, e assim, não se desqualificou. (Heb. 4:15; 7:26; 1 Ped. 2:22) Como ‘partícipe de sangue e carne’ ele era um “parente próximo” da humanidade, e possuía a coisa de valor — sua própria vida perfeita, conservada pura através de provas de integridade — com a qual podia resgatar a humanidade, emancipando-a. — Heb. 2:14, 15.
As Escrituras Gregas Cristãs tornam claro que o livramento do pecado e da morte é, deveras, efetuado pelo pagamento dum preço. Diz-se que os cristãos foram “comprados por um preço” (1 Cor. 6:20; 7:23), tendo um “dono que os comprou” (2 Ped. 2:1), e Jesus é apresentado como o Cordeiro que ‘foi morto e com seu sangue comprou pessoas para Deus, dentre toda tribo, e língua, e povo, e nação’. (Rev. 5:9) Nestes textos, emprega-se o verbo agorázo, significando simplesmente comprar no mercado (agorá). O termo relacionado exagorázo (libertação pela compra) é utilizado por Paulo ao mostrar que Cristo libertou “por meio duma compra os debaixo de lei”, mediante sua morte na estaca. (Gál. 4:5; 3:13) Mas a idéia de redenção ou de resgate é mais freqüente e mais plenamente expressa pelo termo grego ly’tron e outros termos relacionados.
Ly’tron (de ly’o, que significa “soltar”) era especialmente empregado pelos escritores gregos para referir-se a um preço pago para resgatar os prisioneiros de guerra ou para livrar os que estavam em servidão ou em escravidão. (Compare com Hebreus 11:35.) Em suas duas ocorrências bíblicas, descreve o dar Cristo “a sua alma como resgate em troca de muitos”. (Mat. 20:28; Mar. 10:45) Uma forma especial desta palavra, antílytron, aparece em 1 Timóteo 2:6. A obra A Greek and English Lexicon of the New Testament (Léxico Grego e Inglês do Novo Testamento; p. 47), de Park-hurst, diz que significa: “um resgate, preço de redenção, ou, antes, um resgate correspondente. ‘Significa propriamente um preço com o qual se redimem do inimigo os cativos; e aquela espécie de troca em que a vida de um é remida pela vida de outro.’ Por isso, Aristóteles usa o verbo antilytróo para remir vida com vida.” Destarte, Cristo “se entregou como resgate correspondente por todos”. (1 Tim. 2:5, 6) Outras palavras relacionadas são lytróo, livrar ao receber resgate (Tito 2:14; 1 Ped. 1:18, 19), e apoly’trosis, livramento por resgate. (Efé. 1:7, 14; Col. 1:14) É evidente a similaridade do emprego destas palavras com o dos termos hebraicos considerados. Eles descrevem, não uma compra ou livramento comum, mas uma redenção ou um resgate, uma libertação efetuada pelo pagamento de um preço correspondente.
Embora disponível para todos, o sacrifício de resgate de Cristo não é aceito por todos, e “o furor de Deus permanece” sobre os que não o aceitam, assim como também sobrevêm aos que de início aceitam tal provisão, e então se desviam dela. (João 3:36; Heb. 10: 26-29; contraste com Romanos 6:9, 10.) Eles não obtêm nenhum livramento da escravização aos Reis Pecado e Morte. (Rom. 5:21) Sob a Lei, o assassino deliberado não podia ser resgatado. Adão, por seu proceder premeditado, trouxe a morte sobre toda a humanidade, sendo por isso um assassino. (Rom. 5:12) Por isso, a vida de Jesus, oferecida em sacrifício, não é aceitável a Deus como resgate para o pecador Adão.
Mas Deus se agrada de aprovar a aplicação do resgate para remir aqueles que, dentre a descendência de Adão, valem-se de tal livramento. Conforme Paulo expressa: “Assim como pela desobediência de um só homem muitos foram constituídos pecadores, do mesmo modo também nela obediência de um só muitos serão constituídos justos.” (Rom. 5:18, 19) Por ocasião do pecado de Adão, e de ser ele sentenciado à morte, a descendência ou raça dele estava toda por nascer, em seus lombos, e, assim, todos morreram junto com ele. (Compare com Hebreus 7:4-10; Romanos 7:9.) Jesus, como homem perfeito, “o último Adão” (1 Cor. 15:45), possuía uma raça ou descendência por nascer em seus lombos, e, quando morreu inocentemente, como perfeito sacrifício humano, esta raça humana em potencial morreu junto com ele. Ele voluntariamente se abstivera de produzir uma família para si mesmo, mediante a procriação natural. Antes, Jesus utiliza a autoridade que Jeová lhe concedeu, à base do seu resgate, para dar vida a todos os que aceitam esta provisão. — 1 Cor. 15:45; compare com Romanos 5:15-17.
Assim, Jesus era, deveras, um “resgate correspondente”, não para a redenção desse pecador, Adão, mas para a redenção de toda a humanidade que descendia de Adão. Ele os resgatou (ou recomprou), de modo que se tornassem a sua família, fazendo isto por apresentar o pleno valor de seu sacrifício de resgate ao Deus de absoluta justiça, no céu. (Heb. 9:24) Desta forma, ele obtém uma Noiva, uma congregação celeste formada de seus seguidores. (Compare com Efésios 5:23-27; Revelação 1:5, 6; 5:9, 10; 14:3, 4.) As profecias messiânicas também mostram que ele terá uma “descendência” como “Pai Eterno”. (Isa. 53:10-12; 9:6, 7) Para ser isto, o seu resgate precisa abranger mais do que aqueles incluídos em sua “Noiva”. Em aditamento aos “comprados dentre a humanidade como primícias” para formar aquela congregação celeste, por conseguinte, outros devem beneficiar-se de seu sacrifício de resgate e obter a vida eterna mediante a remoção de seus pecados e da acompanhante imperfeição. (Rev. 14:4; 1 João 2:1, 2) Uma vez que os da congregação celeste servem junto com Cristo como sacerdotes e ‘reis sobre a terra’, estes outros beneficiários do resgate têm de ser súditos terrestres do reino de Cristo, e, como filhos dum “Pai Eterno”, eles alcançam a vida interminável. (Rev. 5:10; 20:6; 21:2-4, 9, 10; 22:17; compare com Salmo 103:2-5.) Este inteiro arranjo manifesta a sabedoria de Jeová, e sua justiça, ao equilibrar perfeitamente a balança da justiça, enquanto demonstra benignidade imerecida e perdoa os pecados. — Rom. 3:21-26.