Perguntas dos Leitores
Têm surgido muitas perguntas envolvendo as testemunhas de Jeová e a sua posição a respeito das transfusões de sangue. As seguintes tem sido as mais freqüentes, procedentes de diversas partes da terra.
● Quais são as bases bíblicas para a objeção às transfusões de sangue?
Jeová fêz com Noé um pacto, logo depois do Dilúvio, e incluiu nele a seguinte ordem: “A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis.” (Gen. 9:4) A Lei dada por intermédio de Moisés continha as seguintes restrições: “Não comereis nem gordura nem sangue.” “Não comereis sangue.” “Qualquer homem da casa de Israel, ou dos estrangeiros que entre eles peregrinam, que comer sangue, contra ele porei o meu rosto, e o cortarei dentre o seu povo. Porque a vida da carne está no sangue. Eu vol-o dei sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas; porquanto é o sangue que faz expiação em virtude da vida [pela alma, Al]. Quanto a vida de toda a carne, o seu sangue é uma e a mesma cousa com a sua vida; portanto eu disse aos filhos de Israel: Não comereis o sangue de qualquer carne que seja.“(Lev. 3:17;7:26;17:10, 11, 14; 19:26) E nas Escrituras Gregas, a instrução dada aos cristãos é: “O espírito santo e nós próprios somos a favor de não vos acrescentar nenhuma carga adicional, exceto estas coisas necessárias, que vos conserveis livres das coisas sacrificadas, aos ídolos, e de sangue, e das coisas mortas sem que se deixasse escorrer seu sangue, e da fornicação.” — Atos 15:19, 20, 28, 29; 21:25, NM.
● Não se aplica esta proibição a respeito do sangue somente ao sangue de animais, e não ao sangue humano?
Jeová certamente não disse ao seu povo que drenassem de sangue os corpos humanos antes de comê-los, visto que não estava autorizando o canibalismo. Portanto, embora se desse nos textos precedentes a primeira consideração ao sangue de animais, não se deve desperceber que as proibições registradas eram contra “todo o sangue“ (Tr), não deviam comer “nenhum sangue” (Al). “o sangue de qualquer carne que seja“. Isto abrange a carne humana. O sangue animal era para “fazer expiação pelas vossas almas“. (Al) Não obstante, Paulo mostrou que este sangue dos animais sacrificiais não fazia realmente expiação, mas apenas tipificava o sangue de Jesus. Se o sangue animal típico era sagrado, quanto mais o sangue humano antítipico! Para se provar que a proibição incluía o sangue humano, note-se o que ocorreu quando três homens arriscaram as suas vidas para trazer água ao sedento Davi: “David, porém, não a quiz beber, mas a derramou em libação a Jehovah, e disse: Não permita meu Deus que eu faça isso. Beberei eu o sangue destes homens que expozeram as suas vidas? pois com perigo das suas vidas a trouxeram.” (1 Crô. 11:17-19) Visto que fora obtida com perigo para a vida humana, Davi considerou a água como sangue humano, e aplicou à ela a lei divina quanto a todo o sangue, a saber, derramou-a ao chão. “Não comerás o sangue; derramá-lo-ás como água sobre a terra.” — Deu. 12:16, 23, 24.
● Visto que o doador do sangue não morre e não se perde nenhuma vida humana, por que se aplicam as proibições bíblicas as transfusões?
Chamamos novamente a atenção à resposta dada a pergunta anterior, e perguntamos: Morreram os três homens que apanharam a água para Davi? Não. Não considerou Davi isso como circunstância atenuante que lhe permitia beber a água que ele considerava como sangue humano? Não. A morte da criatura que fornece o sangue não tem nada que ver com isso. A proibição era contra absorver sangue no organismo, e este fato simples não pode ser alterado por engenhosos raciocínios e sutil sabedoria mundana.
● Visto que os cristãos não se acham sob a Lei de Moisés que da ênfase a estas restrições quanto ao sangue, por que deviam ser restritos por tais ordenanças?
As restrições quanto ao sangue existiam antes da Lei Mosaica, tendo sido dadas séculos antes, conforme registrado em Gênesis 9:4, Continuaram a existir para serem observadas pelos cristãos, mesmo depois de findar a Lei Mosaica, por ser pregado na estaca de tortura de Cristo. A primeira resposta neste grupo de perguntas e respostas mostrou que esta restrição ao sangue é básica para os cristãos, pois quando se enviaram instruções sobre os requisitos mínimos, este conceito sobre o sangue foi incluído nestas “coisas necessárias”. Portanto, este princípio quanto ao sangue existia antes e depois da Lei Mosaica, no entanto, era tão vital, que foi também incorporado e enfatizado na mesma.
● Levítico 3:17 declara: “Não comereis nem gordura nem sangue.“ Portanto, por que evitar o sangue, quando se come gordura?
A Lei Mosaica exigia que se queimasse no altar a gordura dos animais sacrificiais, conforme mostram os versículos anteriores ao citado na pergunta. A gordura era bem própria para isso, visto que queimava facilmente. No entanto, o ponto apresentado aqui em resposta à pergunta é que a proibição quanto à gordura é uma particularidade da Lei Mosaica. Ao passo que o sangue é proibido em outros lugares, além de no pacto da Lei, a gordura não o é; portanto, quando a Lei foi abolida pelo seu cumprimento, terminou a proibição da gordura, do mesmo modo que a proibição de se comer porcos, coelhos, enguias, etc.
● Por que não recusam as testemunhas de Jeová comer carne, visto que algum sangue permanece na mesma, mesmo que se tenha devidamente sangrado o animal?
Alguns dizem que se trata do fluido intersticial e não de sangue, o que escorre da carne. Qualquer sangue que permanecesse no corpo coagularia depois de um tempo e depois de ficar exposto ao ar, e, portanto, não seria liquido quando comprado no açougue. Todavia, um livro de reputação sobre fisiologia apresenta um argumento razoável no sentido de que um pouco de sangue coagulado fica para trás, mesmo quando se drena bem a carcassa. No esforço de remover todo o sangue, os judeus estritos vão a grandes extremos. O Código de Lei Judaico, uma compilação de leis e costumes judaicos por certo rabino e publicada por uma editora hebraica na cidade de Nova Iorque, pormenoriza os grandes cuidados a serem dispensados a carne. A carne é submersa em água por meia hora, depois é salgada e colocada numa posição de drenar, por uma hora, ao passo que o sal extrai o sangue, e depois é lavada completamente três vezes. No entanto, as testemunhas de Jeová não vão a tais extremos, que são típicos do zelo farisaico, que se ocupava com trivialidades e negligenciava os preceitos mais importantes da Lei”. Era conforme Jesus lhes disse: “Guias cegos! que coais um mosquito e engolis um camelo.” (Mat. 23:23, 24) O ponto é o seguinte: Jeová Deus deu a ordem de não se comer o sangue, quando disse que o homem podia comer a carne dos animais. Naquele tempo ele deu a instrução de que os seus requisitos seriam satisfeitos se se deixasse sangrar ou drenar o corpo do animal. Queremos cumprir a sua lei nesta questão do sangue, e quando seguimos o seu requisito de sangrar o animal, e satisfazemos assim a sua exigência, não é isso o suficiente? Não precisamos ficar absurdos e sofismar feito fariseus, acumulando fardos além dos requisitos da lei divina. — Mat. 23:4.
● Muitos dizem que aceitar uma transfusão de sangue não é igual a comer sangue. É correto este ponto de vista?
O paciente no hospital pode ser alimentado por via oral, através do nariz ou pelas veias. Quando se aplicam soluções de açúcar de modo intravenoso, chama-se isso de alimentação intravenosa. De modo que a própria terminologia hospitalar reconhece como alimentação o processo de introduzir nutrição no organismo através das veias. Portanto, o enfermeiro que aplica a transfusão ao paciente alimenta-o de sangue, através das veias, e o paciente que a recebe alimenta-se através das veias. Depois de terem acabado todas as invencionices, raciocínios e sofismas engenhosos, resta o fato nu e cru de que boa quantidade do sangue de uma criatura foi deliberadamente absorvida no organismo de outra criatura. Isto é o que foi proibido por Deus, não importa qual o método.
● Se a transfusão foi bem sucedida, talvez até salvando uma vida, não é isso prestar um serviço cristão? Não disse Jesus: “Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos“?
Jesus disse isso, conforme registrado em João 15:13. Ele acrescentou também: “Vos sois os meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando.“ (João 15:14) Ele derramou o seu sangue por aqueles que lhe obedecem, não o derramando no estilo duma transfusão, mas na estaca de tortura, em morte sacrificial, apresentando assim o valor de sua vida no altar antítipico de Jeová para a redenção da humanidade obediente, conforme tipificado pelos sacrifícios de animais sob a Lei Mosaica. A transfusão de sangue não é cristã. Seu sangue era dum determinado tipo, e, para fins de transfusão, beneficiaria apenas certas pessoas com sangue compatível, sendo mortífero para muitos outros. Não morreu Cristo por toda espécie de homens, por todos os que provaram a sua amizade por ele, obedecendo às suas ordens? Também, somente o sangue de Cristo Jesus tem mérito resgatador e expiador de pecados, portanto, os humanos imperfeitos não deviam tentar colocar-se na posição exclusiva dele por argumentar que eles depõem a sua vida pelos seus amigos, assim como Cristo fez pelos seus. Além disso, as oportunidades de vida abertas pelo seu sangue derramado são de vida eterna num novo mundo, não de um curto prolongamento da atual existência temporária. Qualquer vida salva pelas transfusões é de curta duração.
E fazer isso em desobediência às ordens de Deus pode custar a vida eterna. Nenhum proveito temporário pode justificar esta grande perda permanente. A água levada a Davi quando ele padecia fisicamente sede teria sido bom para o seu corpo e lhe teria dado um alívio bem-vindo; mas ele não achou que este proveito justificasse a violação do princípio da lei de Jeová quanto ao sangue. (1 Crô. 11:17-19) De modo similar, os israelitas achavam-se em certa ocasião quase que em completo esgotamento físico e estavam famintos, necessitando urgentemente de alimento. Mataram animais, e, na sua pressa de saciar as suas necessidades físicas, comeram a carne sem tomar o tempo de deixar o sangue escorrer. O bem físico que isso trouxe aos seus organismos não justificava a sua violação da lei de Deus sobre o sangue, nem impediu que fossem repreendidos como transgressores. — 1 Sam. 14:31-34
E que os entusiastas da transfusão, com complexo de salvador, ponderem o fato de que as transfusões, em muitas ocasiões, causam dano, difundem doenças e causam freqüentemente a morte, o que naturalmente, nunca recebe publicidade. Ora, está disposto a assumir a responsabilidade pelos maus resultados tanto assim como está disposto a aceitar o crédito pelos bons resultados? É possível que o seu sangue cause a morte de alguém. Lembre-se de que a lei de Deus permitia que até mesmo aquele que matasse acidentalmente um homem fosse executado pelo vingador da vitima, a menos que o matador fugisse para cidades de refúgio especialmente providas e permanecesse ali. (Num. 35:9-34) Ensina-se aos cristãos de que devem ter mais cuidado com a vida humana do que tinham os judeus naturais. Dizemos novamente, não resulta nenhum bem da violação da lei de Deus, não importa o que a sabedoria mundana apresente para justificá-la perante os homens. — Luc 16:15; 1 Cor 3:19.
● Devemos então concluir que as testemunhas de Jeová se opõem a que as pessoas façam uso das transfusões?
Esta seria a conclusão errada. As testemunhas de Jeová não se opõem a que as pessoas façam uso das transfusões, mas deixam a cada um o direito de decidir por si próprio o que pode fazer de boa consciência. Os israelitas achavam-se obrigados a lei de Deus que proibia comer carne que contivesse sangue coagulado, mas não tinham objeção nenhuma a que os de fora da organização de Deus a comessem, e até forneciam carnes não sangradas aos de fora, que regularmente comiam tais coisas de qualquer modo. (Deu. 14:21) Cada um decide por si próprio e leva a responsabilidade pelo seu proceder. As testemunhas de Jeová consagram as suas vidas a Deus e sentem-se obrigadas pela Sua Palavra, e com isto em vista, decidem individualmente seu próprio proceder e levam a sua própria responsabilidade pessoal perante Deus. Portanto, é como Josué disse certa vez aos israelitas: “Se vos parece mal o servirdes a Jehovah, escolhei hoje a quem haveis de servir; . . . Eu e minha casa, porém, havemos de servir a Jehovah. — Jos. 24:15.
● Que queria Jesus dizer quando disse, conforme registrado em João 3:13, que “ninguém subiu ao céu, senão aquele que desceu do céu, a saber, o Filho do homem“? Visto que ele, naquela ocasião estava ainda na terra, referia-se ele a tempos de sua existência pré-humana, quando ele, como o Verbo de Deus, talvez tenha aparecido como porta-voz angélico de Deus, ascendendo depois novamente ao céu? — F. B., Estados Unidos.
Não, o texto de João 3:13 não se refere à sua atividade pré-humana como o Verbo de Deus. Temos de tomar em consideração o contexto da declaração. No tempo em que Jesus falou estas palavras ele tinha descido do céu, tendo nascido como humano, mas ainda não tinha ascendido, e isso só ocorreu quarenta dias depois de sua ressurreição dentre os mortos.
Queira observar que João 3:13 começa com a palavra “ora” na Revisão Autorizada da tradução de J. F. Almeida, e com “além disso” na Tradução do Novo Mundo, ligando assim esta declaração a anterior. Jesus estava falando a Nicodemos, um governante dos judeus, que viera a ele de noite, e acabava de explicar os requisitos para se entrar no reino de Deus. Embora Nicodemos fosse instrutor do povo, achava difícil entender como alguém podia nascer de novo para entrar no reino celestial. Por isso, Jesus lhe respondeu: “Tu és mestre em Israel, e não compreendeu estas cousas? Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto, contudo não aceitas o nosso testemunho. Se tratando de cousas terrenas não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais? Ora, ninguém subiu ao céu, a saber, o Filho do homem.” (João 3:10-13, ARA) Em outras palavras, Jesus estava dizendo a Nicodemos que ele, cuja habitação tinha sido o céu, junto a seu Pai, desde o principio da criação, tinha descido do céu e estava em condições de instruí-lo sobre assuntos celestiais; mas, se Nicodemos não aceitasse a sua instrução,então não havia outro modo em que pudesse obter o conhecimento que queria, porque ninguém, em nenhuma ocasião, tinha ascendido ao céu, a fim de obter tal conhecimento, e descido de lá com ele. Jesus não estava falando sobre qualquer ascensão prévia dele próprio.
A Versão Almeida acrescenta no fim do versículo as palavras “que está no céu“. Mas, Jesus não estava no céu quando fêz esta declaração; estava na terra, conversando com Nicodemos. Em harmonia com isto, uma nota marginal na tradução de Ferrar Fenton indica que estas palavras “são omitidas pelas melhores e mais antigas autoridades”. Por esta razão são omitidas em traduções tais como a Versão Brasileira, o Novo Testamento Revisado, a Revisão Autorizada da tradução de Almeida, a versão católica feita sob os auspícios da Liga de Estudos Bíblicos, a Tradução do Novo Mundo, e outras.