Cuidado com os Presentes
POR QUE se dá o conselho: “cuidado com os presentes”? Não se nos insta que sigamos a “prática de dar”? E não é verdade que “há mais felicidade em dar do que há em receber”? Como poderíamos experimentar maior felicidade, se os outros se recusassem a aceitar nossos presentes? — Luc. 6:38; Atos 20:35, NM.
Tudo isto é verdade, mas há presentes e “presentes”. O cristão maduro fará um presente na base da necessidade e do mérito, assim como o conselho apostólico insta; devemos dar aos nossos irmãos que estão em necessidade e considerar dignos de dupla recompensa os que trabalham arduamente na pregação e no ensino. (1 João 3:17; 1 Tim. 5:17) Mas não dará com motivo oculto, talvez porque aquele que recebe o presente esteja em posição de lhe fazer um favor, ou, a fim de pô-lo sob uma obrigação. E, não somente o que dá o presente deve sondar o seu coração quanto ao seu motivo, mas também aquele que aceita o presente deve fazer isto, aceitando-o somente se tiver razão para crer que o presente é oferecido em boa fé.
É por isso que a Bíblia aconselha, especialmente àqueles que estão em posições de responsabilidade, e, portanto, capazes de retribuir um favor, que tenham cuidado em aceitar presentes: “Não torcerás o juízo; não te deixarás levar de respeitos humanos, nem receberás peitas.” “Não aceitarás peita [Al: presente].” — Deu. 16:19; Êxo. 23:8.
O juiz e profeta Samuel seguiu fielmente estes mandamentos, de modo que, no fim da sua longa carreira, podia perguntar ao povo de Israel: “De quem tomei o boi? ou de quem tomei o jumento? ou a quem defraudei? ou a quem maltratei? ou da mão de quem recebi uma peita para encobrir com ela os meus olhos?” Em resposta, o povo teve de admitir: “Não nos defraudaste, nem nos maltrataste, nem tomaste cousa alguma da mão de ninguém.” Note: Samuel não tinha aceito de ninguém nem uma única coisa! De quantos políticos se poderia dizer o mesmo hoje em dia? — 1 Sam. 12:3, 4.
Na realidade, isto nem mesmo se podia dizer dos filhos de Samuel, pois lemos que “se desviaram após o lucro, receberam peitas e perverteram a justiça”. Uma das razões que os anciãos de Israel apresentaram a Samuel para desejar um rei foi: “Teus filhos não andam nos teus caminhos.” — 1 Sam. 8:3-5.
Mas, terem eles um rei não resolveu as coisas, pelo menos não por muito tempo, devido à natureza decaída do homem. Assim, nos dias de Isaías, Deus repreendeu fortemente a nação de Israel: “Os teus príncipes são rebeldes, companheiros de ladrões. Cada um deles ama peitas, e anda atrás de recompensas.” — Isa. 1:23.
Nos Estados Unidos, em anos recentes, tem havido tanta troca de “presentes” em Washington, que os livros, os jornais e as revistas têm estado cheios de relatos de exposições. Tão vergonhosa era a situação, que os legisladores se viram induzidos a designar uma comissão, a fim de fazer “propostas para o melhoramento das normas éticas no governo federal”, uma admissão de que a ética estava a mais baixa de tôdas as épocas.
Esta questão de trocar presentes não está limitada aos políticos. Em princípios do ano de 1957, a imprensa pública noticiou que certo clérigo, James J. Stewart, do sudoeste dos Estados Unidos, foi destituído do cargo eclesiástico numa audiência secreta por causa da sua agitação contra a prática de os provisões da igreja solicitarem “dádivas de amor” de ministros a seu cargo, as quais, por sua vez, presenteavam a seus bispos.
Quase na mesma época, os cabeçalhos dos jornais noticiaram os negócios desonestos da parte de funcionários dos sindicatos operários. Os gigantes da indústria não somente falaram a respeito de se fazer “empréstimos” e dádivas abertas a funcionários de sindicatos operários, mas, em certos casos, acusaram que era prática tão comum, que os funcionários do govêrno haviam autorizado tais dádivas e que até forneceram o dinheiro necessário quando contratos do govêrno estavam envolvidos.
Uma exceção bem destacada foi fornecida pelo presidente Dubinsky, do Sindicato Internacional dos Trabalhadores em Roupa Feminina. Êle não somente estabeleceu uma regra proibindo estritamente que quaisquer funcionários do seu sindicato aceitem dádivas de empregadores, mas até mesmo exigiu que os que tivessem aceito presentes antes de esta regra ser estabelecida, confessassem a êle que o fizeram. Por que estabeleceu êle tal regra? Porque sabia que tais dádivas causariam “influência corrutora” sôbre os funcionários do sindicato operário. Êle estava assim pondo em destaque o que a lei de Deus, dada a Moisés, há cêrca de 3.500 anos atrás, declarava com respeito a receber dádivas ou subornos, a saber, que cegam os “que têm vista, e perverte as palavras dos justos”. Sim, “uma dádiva destrói o discernimento”. — Êxo. 23:8; Ecl. 7:7, NA.
A pessoa pode, na hora, pensar ingênuamente que não há nada de errado em aceitar uma dádiva dum aparente amigo, mas ao fazer isto ela fica inconscientemente endividada ao dador e de certa forma obrigada a êle, e seu discernimento fica desvirtuado, quer o perceba, quer não. O conselho de ser “cautelosos como serpentes, contudo inocentes como pombas”, bem pode aplicar-se a êste assunto de dar e receber presentes. A pessoa prudente refletirá duas vêzes antes de aceitar um presente de alguém, se ela estiver em posição de fazer um favor a tal pessoa. A Bíblia é realmente uma lâmpada e uma luz para todos os que desejem fazer o que é correto. — Mat. 10:16, NM.