Como a Bíblia Usa a Palavra Lei
A LEI bíblica forma, uma parte intricada da revelação divina registrada para nós nas Escrituras Hebraicas e Gregas. Nos números de fevereiro, abril e maio de 1953 da Sentinela examinaram-se e estudaram-se assuntos jurídicos básicos. Mostrou-se que, sempre que criaturas inteligentes se reunem para um fim especial, elas formam uma organização. Para que tais organizações funcionem com bom êxito, necessita-se de alguma forma de governo. O governo, por sua vez, é definido como sendo o domínio sobre Criaturas por meio de leis, para manter em movimento as rodas da organização.
Finalmente, a própria lei é definida como sendo um código de regras de ação ou regras de conduta, orientando e dirigindo as criaturas da maneira desejada pelos governos, quer estes sejam de origem celestial, quer de humana. Estas maneiras de dirigir o povo podem ser boas ou más, dependendo de se os governos que fazem as leis são bons ou maus, perfeitos ou imperfeitos. Os governos, sendo os legisladores, são descritos como sendo os “superiores”, enquanto que as pessoas que têm de observar as leis são chamadas de “inferiores”. Os campos de ação sujeitos a regras e leis são tão vastos como o universo da criação de Deus.
Para se entender plenamente o significado da palavra “lei” em qualquer parte da Bíblia, é necessário primeiro determinar do contexto na Bíblia que campo de lei está em consideração. Trata-se dum campo de lei da criação de Jeová Deus, ou é de origem e controle humanos ou até mesmo satânicos? Uma vez determinado o campo de lei, deve apresentar-se à visão mental o exame de quem são os “superiores” que fizeram aquela lei, e quem são os “inferiores” que se espera estejam sujeitos à lei. Além disso, deve-se reconhecer que a palavra “lei”, na Bíblia, pode ser usada para referir-se a uma única lei, ou pode ser usada coletivamente para referir-se a todo um código de regras de conduta. Também, uma “ordem” dada para se aplicar a mais de uma pessoa é chamada de “mandamento”, que é outro têrmo usado para referir-se a uma lei. Por exemplo, os Dez Mandamentos dados a Moisés eram realmente dez leis básicas dadas aos israelitas.
Faremos um exame, em ordem numérica, de seis campos diferentes de lei mencionados na Bíblia. Por descobrirmos quem são os “superiores” e quem os “inferiores”, ficaremos agradavelmente surpresos em ver como aumenta imensamente nosso entendimento das Escrituras Sagradas.
LEI EDÊNICA E LEI PATRIARCAL
(1) A palavra ‘ordenar’ aparece pela primeira vez na Bíblia em Gênesis 2:16, 17: “Ordenou Deus Jehovah ao homem: De toda a árvore do jardim podes comer livremente; mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás: porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” Torna-se imediatamente aparente que esta lei pertence ao campo da lei edênica, uma lei vigente aqui na terra, no jardim do Éden e na sua civilização perfeita. Jeová Deus é claramente o legislador, o superior. Adão e Eva e sua descendência futura, como humanidade, são os que deviam guardar a lei, sendo os inferiores na organização governamental de Deus, que funcionava no Éden paradísico. A sanção ou punição pela violação da lei edênica é declarada inconfundivelmente, sendo ela a morte, a morte positiva ou certa.
Portanto, o campo da lei edênica, em que Adão mais tarde cometeu uma violação fatal, não era apenas trivial, feito pelo homem, mas originara-se do Rei Soberano do universo, sendo o da lei divina inspirada. Embora o campo da lei edênica tenha sido terminado por Jeová, contudo, qualquer lei dada por Deus, que se revela ser aplicável hoje em dia, merece nossa mais viva atenção.
(2) A próxima referência bíblica à lei são as regras que Noé e os membros de sua família foram mandados guardar. ‘“Assim fez Noé; segundo tudo o que Deus lhe ordenou, assim o fez.” Temos aqui o campo de lei patriarcal justa, conforme iniciado antes do Dilúvio. Jeová Deus é o Superior legislador e Noé e sua família são os inferiores que guardam a lei. Êste sistema de instruções jurídicas detalhadas habilitou a sociedade patriarcal de Noé e de seus associados a passar pelo Dilúvio e a começar uma nova civilização justa numa terra purificada. — Gên. 6:22; 7:9.
Nos dias de Abraão, os que se achavam na sociedade patriarcal justa receberam mandamentos jurídicos adicionais. “Porque o tenho conhecido [i.e.: Abraão], afim de que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, que guardem o caminho de Jehovah para praticarem a justiça e o juizo.” A lei da circuncisão foi uma destas leis recém-acrescentadas. Mais tarde, Jeová disse ao Patriarca Isaac: “Por tua semente se abençoarão todas as nações da terra, porque Abrahão escutou a minha voz, e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis.” De fato, êste campo de lei patriarcal não é mais vigente como código legal de leis; no entanto, contém muitos princípios e sombras proféticas de grande valor para os cristãos da sociedade do Novo Mundo atualmente. — Gên. 17:11, 12; 18:19; 26:4, 5.
A LEI MOSAICA E O NOVO PACTO
(3) A legislação mais pormenorizada mencionada nas Escrituras é a dada por meio de Moisés, em 1513 A. C. “Disse Jehovah a Moysés: Sobe a mim ao monte, e deixa-te estar ali; dar-te-ei as tábuas de pedra e a lei e os mandamentos, que tenho escrito, para que os ensines.” (Êxo. 24:12) Deu-se assim, por intermédio de Moisés, um código de mais de seiscentas leis, em adição aos Dez Mandamentos. Êste campo de lei é na Bíblia chamado comumente de “lei de Moisés” ou apenas de “a lei”. Organizou a Israel numa sociedade teocrática nacional, com Jeová Deus por seu superior régio e os próprios israelitas como inferiores, servos ou escravos de Deus.
Êste código de leis manteve Israel unido, como sociedade teocrática, por cêrca de quinze séculos, até que Deus trouxe a um fim legal êste pacto legal manuscrito, inclusive os Dez Mandamentos, quando Jesus foi pendurado na estaca, em 33 E.C. “Êle [Deus] bondosamente perdoou tôdas as nossas transgressões e apagou o documento contra nós, escrito à mão, que consistia em decretos e que estava em oposição a nós, e Êle o tirou do caminho por cravá-lo na estaca de tortura.” Por isso, os cristãos não se encontram atualmente debaixo dêste campo antigo de lei divina que já foi dado por terminado, embora também contenha uma abundância de tipos proféticos e de princípios aplicáveis à sociedade do Novo Mundo, que se desenvolve desde 1919. — Col. 2:13, 14; Rom. 7:4, NM.
(4) Desde 33 E.C., os israelitas espirituais, os cristãos ungidos, submeteram-se voluntariamente como “inferiores” ou escravos sob um novo campo de lei patrocinada por Jeová, conhecido como novo pacto feito por meio de Jesus Cristo. “Pois, se aquêle primeiro pacto [da lei mosaica] tivesse sido sem defeito, não se teria buscado lugar para um segundo [o novo pacto]; ‘Pois êste é o pacto que pactuarei com a casa [espiritual] de Israel após aquêles dias’, diz Jeová: ‘Porei as minhas leis em sua mente, e sobre seus corações as escreverei, e eu serei para êles Deus e êles serão para mim povo.’” — Heb. 8:7, 10, NM.
Portanto, desde os tempos de Jesus e até a atualidade, a sociedade das testemunhas de Jeová tem-se desenvolvido e tem operado dentro da estrutura legal do sistema cristão de coisas, edificado por regras e mandamentos proferidos por intermédio do Noé Maior, do Moisés Maior, Cristo Jesus, e seus apóstolos inspirados. As “outras ovelhas”, companheiros dos cristãos ungidos, sujeitam-se também amorosa e voluntariamente, como “inferiores”, a êste campo de regulamentos cristãos, divinamente provido, porque se tornam parte do “um só rebanho”. — João 10:16, NM.
LEI DO PECADO, LEI DA MENTE
(5) Separado do campo de lei divina mencionado acima, Paulo refere-se a outro campo de lei ao qual os cristãos se acham sujeitos, esta vez, porém, involuntariamente. “Assim, pois, eu mesmo, com a mente, sou escravo [inferior] à lei de Deus [revelada pelo novo pacto], mas com a carne, à lei do pecado.” (Rom. 7:25, NM) Êste é o campo de escravidão legal conhecido como a “lei do pecado e da morte”. (Rom. 8:2) Quem são os superiores neste campo de conduta? Paulo responde a isso por mostrar que os amos inflexíveis são o pecado, como rei, e a morte, como rei, sendo Satanás quem os apoia. (Rom. 5:21; Heb. 2:14) Por sermos pecadores, desde o tempo de Adão, achamo-nos vendidos como inferiores em escravidão, em razão de nossa herança de carne decaída. — Rom. 7:24.
(6) Jeová veio em nosso auxílio ao prover-nos amorosamente o sacrifício de resgate de Jesus Cristo. Paulo mostra que os cristãos dedicados acham-se agora em situação de vir sob outro campo de lei, conhecido como “a lei da minha mente”, já que a condenação pela lei de Moisés foi removida, tendo esta revelado que sua carne humana erra grandemente o alvo da perfeição de Deus. (Rom. 3:21-24.) “Mas agora fomos desobrigados da Lei, por têrmos morrido para aquilo pelo qual fomos mantidos presos, para que possamos ser escravos [inferiores] num novo sentido, pelo espírito, e não no antigo sentido, pelo código escrito [a lei mosaica].” — Rom. 7:6, NM; Mat. 20:28.
O antigo pacto de lei, dado por meio de Moisés, tratava da carne decaída e procurava restringir as obras da carne. (Gál. 5:19-21) À força motriz dêsse pacto de lei eram suas sanções de punição, que acumularam uma grande condenação ou maldição contra o povo judaico, por êste constantemente falhar em guardar a lei. (2 Cor. 3:9) Mas, êste novo caminho, iniciado por Jesus Cristo, tem o poder do espírito de Deus como força orientadora. (2 Cor. 3:6) O espírito de Deus orienta assim as nossas mentes nas veredas da justiça e consegue o que o antigo pacto da lei com seus Dez Mandamentos e outras leis não conseguiu. “Se sois guiados pelo espírito, não estais debaixo de lei.” — Gál. 5:18, NM.
A provisão de Jeová torna também possível que os cristãos lutem contra a tendência decadente da carne natural sob o ’Rei Pecado’. “Encontro, então, esta lei no meu caso: que, quando quero fazer o que é correto, aquilo que é mau está presente em, mim. Deleito-me realmente na lei de Deus [revelada pelo novo pacto], segundo o homem que sou no íntimo, mas, vejo em meus membros outra lei [a da carne sujeita ao ’Rei Pecado’], que guerreia contra a lei da minha mente e me leva cativo à lei do pecado, que está em meus membros.” (Rom. 7:21-23, NM) Todos os cristãos têm esta grande luta entre as “coisas da carne” e as “coisas do espírito”. — Rom. 8:4-8, NM.
Mas, na sua bondade, Jeová introduziu no cenário cristão o arranjo da benignidade imerecida, para que “viesse a dominar como rei pela justiça” e exercesse poderosa influência sôbre nossos corações, ao nos aproveitarmos diligentemente da provisão amorosa de Deus por meio de Cristo. (Rom. 5:21, NM) Tornamo-nos “escravos [inferiores] da justiça”, o que torna possível que travemos uma luta árdua em prol duma vida cristã pura e de integridade, apesar de ser forte a tendência decadente da carne. Pela ajuda de Jeová por meio de Cristo Jesus e pela nossa forte fé, somos capazes de ser vitoriosos nesta luta contra a nossa carne. Debaixo deste novo arranjo podemos produzir abundantemente os frutos do espírito, para o louvor de Jeová. — Rom. 6:17-20; Gál. 5:22-24,NM.
Ajudou-lhe este breve estudo do uso que a Bíblia faz da palavra “lei” a obter maior entendimento de sua posição como dedicado escravo cristão de Jeová Deus? Esperamos que sim.