A busca da segurança
O SR. e a Sra B—— e seus três filhos adolescentes moravam na África. Desenvolveram durante 20 anos sua bela fazenda e investiram seus ganhos num lar confortável, em safras, em gado e em maquinaria agrícola. Isto se tornou sua pequena fortaleza, seu refúgio em tempos de dificuldade e aflição, sua fonte de refrigério e descanso após cada dia de trabalho duro. Sentiam-se seguros.
De um dia para outro, as coisas mudaram. Forças políticas haviam-se fortalecido no país durante algum tempo. Homens empenhados em causar uma mudança à força cometiam atos de terrorismo e haviam armado minas nas estradas acidentadas, não-pavimentadas, nas regiões agrícolas. Quando o Sr. B—— voltava em seu jipe Land Rover duma viagem semanal à cidade, detonou uma dessas e foi morto instantaneamente.
A Sra. B—— e seus filhos não se sentiam mais seguros. Com o aumento das ameaças de violência na vizinhança, a ansiedade de cuidar da fazenda e de não haver homem na casa, ela se sentiu obrigada a abandonar a fazenda que certa vez lhe significara segurança. A família partiu para outro país, na esperança de encontrar um modo de vida mais seguro.
Neste mesmo país africano, o cenário mudou tremendamente em poucos anos. Fazendas cercadas de rica vegetação tropical, com aspecto acolhedor, foram rodeadas de cercas altas de aço, com arame farpado por cima. Foram colocados sacos de areia ao redor das paredes das casas, e as janelas foram protegidas com tela de aço.
A vida na cidade também mudou, ao passo que cada vez mais pessoas instalavam alarmes contra ladrões, colocavam portões pesados com fechaduras e correntes à entrada das propriedades, e mantinham cães de guarda para repelir quaisquer intrusos indesejáveis. As vitrinas das lojas foram revestidas com fitas especiais para impedir que se estilhaçassem. Colocaram-se guardas para revistar os fregueses ao entrarem nos supermercados. Os que saíam em férias contratavam policiais para proteger a casa durante os períodos de ausência.
Em muitas regiões, uma viagem pela zona rural africana, que antes era tranqüila, tornou-se viagem tensa de uma cidade para outra. Os viajantes eram aconselhados a contatar a polícia antes de partir, e muitos viajavam em comboio, protegidos por veículos blindados. Lei marcial e toques de recolher tornaram-se coisas que as pessoas passaram a encarar como parte da vida diária.
À parte destas medidas de segurança, muitos que tinham condições para isso fizeram arranjos adicionais para sua própria segurança por investirem em ouro, prata, jóias e obras de arte, ou por depositarem seu dinheiro em contas bancárias estrangeiras. Fizeram isso para que, se as coisas não corressem bem, eles tivessem ainda alguns recursos.
Tais acontecimentos não são peculiares somente a esse país. É possível que tenha visto em sua comunidade algumas destas mesmas medidas de segurança e a acentuada atenção dada por muitas pessoas à segurança do próprio lar e da família. A pergunta é: Resultam tais esforços realmente na paz mental e na segurança que todos desejamos?
É o Poderio Militar a Resposta?
A mesma preocupação com a segurança se reflete nas ações dos governos. Muitos estão adotando medidas inéditas para defender suas fronteiras e proteger seus diplomatas. A visita da rainha da Inglaterra ao sul da África e a visita do papa à Irlanda envolveram a mobilização de centenas de homens unicamente com propósitos de segurança. Movimentos de navios, aviões e tropas para lugares considerados como tendo importância estratégica são interpretados por alguns países como ameaça à segurança nacional, e são amiúde combatidos por ações militares opostas.
A maioria dos governos partilha a crença geral de que a segurança nacional depende da prontidão militar. Para ilustrar isso, a UNESCO (Organização das Nações Unidas Para a Educação, a Ciência e a Cultura) relatou recentemente que os gastos mundiais em armamentos ‘não estão longe de 1 milhão de dólares (c/Cr$ 70.000.000,00) por minuto’, e que 75 por cento disto são gastos no Terceiro Mundo. (The Courier, abril de 1979, p. 19) Mas, resulta este enorme gasto militar numa sensação de verdadeira segurança para as pessoas que moram nos países onde vêem a fome e as doenças propagadas pela água fazerem diariamente milhares de vítimas?
Perguntamos novamente: Significa o poderio militar realmente segurança? De fato, pode ser que a pessoa nem se preocupe muito com isto. Mas, pode ela realmente sentir-se segura quando contempla seriamente o fato de que os governos em todo o mundo têm o suficiente na forma de engenhos explosivos para matar a todos nós várias vezes? Para ilustrar: Poderia descansar tranqüilamente à noite, com uma metralhadora sob a cama, enquanto sabe que seu vizinho tem outra igual apontada para sua casa e que ele só quer uma oportunidade para usá-la quando achar que não haverá perigo para ele mesmo?
O Desejo de Segurança Comum a Todos
É somente natural que todos nós desejemos sentir-nos seguros. Até mesmo no mundo animal há o desejo inerente de segurança. As aves constroem seu ninho nos lugares mais disfarçados e difíceis de alcançar. Os esquilos armazenam nozes para o período mais frio do ano. A gata, quando prestes a ter filhotes, investiga todos os armários da casa em busca dum canto seguro onde alimentá-los.
A pergunta com que todos nos confrontamos hoje é: Para onde podemos olhar em busca de segurança? Os animais baseiam instintivamente seu senso de segurança em coisas materiais. Mas, que dizer do homem? Baseia-se nossa segurança em coisas materiais, não nos tornando melhores do que os animais? Depende ela do nosso emprego ou, talvez, de riquezas acumuladas na forma de ouro, prata ou contas bancárias? Podem os armamentos tornar seguro nosso modo de vida? Ou a segurança deverá encontrar-se sob uma forma específica de governo que se mostre mais estável que as outras?