As casas superornamentadas do Haiti
DO CORRESPONDENTE DE DESPERTAI! NO HAITI
AS ENCANTADORAS casas superornamentadas do Haiti não saíram de um conto de fadas. São de verdade. Mas, pintadas de verde, amarelo, vermelho, azul e castanho-avermelhado, sua riqueza de detalhes e sua beleza saídas de outra era lhes conferem uma aura dos livros de contos de fadas.
Seu estilo arquitetônico combina formas graciosas com uma estrutura rígida que pode ser de madeira, de alvenaria, ou de uma combinação de ambos os materiais. Algumas têm janelas grandes que dão para sacadas cobertas assentadas em pilares de madeira, como se descansassem sobre pernas de pau. Às vezes, colunas de concreto ou de madeira com interior de ferro adornam varandas grandes que levam aos jardins. Tudo é adornado com madeira rendilhada; rosáceas, cata-ventos e cúpulas acrescentam um toque de fantasia.
No princípio do século 19, as casas superornamentadas eram populares entre a classe média deste país das Índias Ocidentais. O custo de importar materiais como tijolo amarelo, placas de amianto e pinho americano as colocava além das posses do povo. Hoje, elas são prédios históricos que atraem turistas a Porto Príncipe e a outras cidades. Os visitantes admiram sua madeira ricamente trabalhada, conhecida como carpintaria gótica. Este estilo superornamentado desenvolveu-se nas Américas depois que a invenção do torno mecânico para madeiras o tornou viável.
Influência francesa
Apontando outra influência no desenvolvimento das casas superornamentadas do Haiti, o arquiteto Paulo Mathon, cujo pai, León, foi um dos pioneiros deste estilo arquitetônico, disse certa vez à Despertai!: “Estranho como pareça, em se tratando de prédios com menos de um século de idade, sua origem é incerta. Embora não possamos negar a influência da carpintaria gótica, precisamos procurar a fonte de inspiração nas escolas que os promotores das casas superornamentadas cursaram. A influência francesa parece bem evidente, embora tenham sido feitas adaptações à vida, à cultura e ao clima haitianos.”
Arquitetos haitianos que estudaram na França introduziram este estilo de construção no Haiti. Paulo Mathon disse: “Eles prepararam engenheiros e mestres-de-obras para executar seus projetos. Escolas de carpintaria formavam verdadeiros especialistas em madeira trabalhada. E havia também um espírito artístico no ar que incentivava a disseminação deste tipo de arquitetura. Com o passar do tempo, tudo isso se perdeu. As imitações são de má qualidade.”
As casas foram bem projetadas para proporcionar moradias suficientemente frescas no clima tropical. Tetos duas vezes mais altos do que nos edifícios modernos fornecem ambientes maiores para a circulação do ar, aumentando a dissipação do calor. Portas e janelas largas com venezianas que as cobrem por inteiro garantem boa ventilação cruzada em cada ambiente. O uso farto de madeira no assoalho e nos painéis de parede também propicia bom isolamento contra o calor externo. E ainda assim essas casas estão perdendo terreno para estilos mais recentes.
Relíquias de museu
O surgimento dos aparelhos de ar condicionado modernos obviamente diminuiu parte do encanto delas. Dá-se preferência a prédios de concreto por sua durabilidade, visto que estruturas de madeira gradualmente se tornam ocas, carcomidas por cupins. Naturalmente, alguns arquitetos incorporam estilos superornamentados nas casas novas e mais duráveis, e outros estão restaurando casas superornamentadas velhas, usando concreto para tornar a armação mais durável.
Mesmo assim, as casas superornamentadas não recuperarão a glória do passado, embora algumas continuem a ser casas imponentes. Parecem estar destinadas a sobreviver como relíquias de museu — lembretes graciosos e ricos em detalhes duma ímpar arquitetura haitiana.