BIBLIOTECA ON-LINE da Torre de Vigia
BIBLIOTECA ON-LINE
da Torre de Vigia
Português (Brasil)
  • BÍBLIA
  • PUBLICAÇÕES
  • REUNIÕES
  • yb97 pp. 66-123
  • Benin

Nenhum vídeo disponível para o trecho selecionado.

Desculpe, ocorreu um erro ao carregar o vídeo.

  • Benin
  • Anuário das Testemunhas de Jeová de 1997
  • Subtítulos
  • Isto é Benin
  • O berço do vodu
  • Os primeiros anos
  • Estende-se a pregação das boas novas
  • Um polígamo encontra a verdade
  • Vodu em oposição a Jeová
  • A oposição se intensifica
  • Espalhados, mas continuando a dar testemunho
  • Ele devolveu os apetrechos religiosos
  • Enfatizadas as aulas de alfabetização
  • Sacerdote católico e sacerdote juju juntam forças
  • Testemunho cabal dado na prisão
  • Publicações bíblicas na língua gun
  • Alguns mostraram que “não eram dos nossos”
  • Um polígamo acha um modo melhor
  • O desejo dum moribundo
  • A chegada de missionários treinados em Gileade
  • Hora de casar-se
  • Providencia-se um lugar adequado para a filial
  • Honestidade — o modo certo
  • Mudanças no governo
  • Novembro de 1975 — houve uma detenção
  • Dezembro de 1975 — advertências na rádio e nos jornais
  • Março de 1976 — as restrições aumentam
  • Abril de 1976 — irmãos presos em Cotonou
  • Aumenta a intensidade da perseguição
  • Os últimos momentos para os missionários ali
  • 27 de abril de 1976 — detenção do coordenador da Comissão de Filial
  • Busca feita no lar missionário/Betel
  • À Sûreté Nationale
  • O último dia em Benin
  • Deportados!
  • Sob proscrição
  • “Cautelosos como as serpentes”
  • “A palavra de Deus não está amarrada”
  • “Sou apenas precursor”
  • Um dia que não será esquecido
  • Alegres por poderem reunir-se para adoração
  • Ansiosas de dar testemunho da verdade
  • Um local para congressos
  • Os missionários retornam
  • Uso sábio da liberdade
Anuário das Testemunhas de Jeová de 1997
yb97 pp. 66-123

Benin

Foi em abril de 1976. Soldados com armas automáticas bateram na porta do Lar de Betel. “Saiam e participem na cerimônia do hasteamento da bandeira!” exigiu o oficial comandante. Uma turba irada entoava lemas políticos.

Lá dentro, os missionários continuaram com sua consideração do texto bíblico para o dia, como era seu costume. “Os poderes dos céus serão abalados”, era o texto bíblico em consideração. (Mat. 24:29) Como isso deu força aos missionários naquela manhã! Lá fora, os soldados hastearam a bandeira no terreno da filial da Sociedade. Haviam assumido o controle da propriedade!

Pouco depois, os soldados mandaram todos os missionários sair. Permitiu-se-lhes levar apenas os pertences pessoais que pudessem carregar nas suas malas. Sem demora, os missionários foram embarcados na caminhoneta da Sociedade e escoltados para fora do país.

Quando a caminhoneta saía do terreno de Betel, um irmão jovem, passando de bicicleta, aproximou-se. “O que está acontecendo? Aonde os levam?” perguntou. Os missionários fizeram sinal para que fosse embora, temendo que ele também fosse preso.

O que tinha levado à proscrição das Testemunhas de Jeová em Benin? Como é que as Testemunhas locais se mantiveram firmes durante aquele período difícil de 14 anos? Voltaram os missionários para lá? E quando as restrições por fim foram levantadas, como usaram as Testemunhas de Jeová em Benin a sua recém-encontrada liberdade?

Isto é Benin

Um país com formato dum buraco de fechadura, imprensado entre o Togo e a Nigéria, na costa da África Ocidental — isto é Benin. Talvez o conheça pelo seu nome anterior, Daomé. As pessoas aqui são cordiais e amigáveis, e o clima é agradável. Embora uns 60 grupos étnicos falem mais de 50 línguas locais, o idioma nacional é o francês.

Benin é o lugar de casas em forma de castelos em miniatura e de antigos reinados africanos. Numa lagoa azul encontra-se Ganvié, uma cidade lacustre, chamada por alguns de a Veneza da África. Ali, as ruas são rios e os táxis são pirogas coloridas. Dois parques nacionais, o Pendjari e o “W”, se encontram no norte do país, e ali os leões, os elefantes, os macacos, os hipopótamos e outros animais andam livres na savana. Ao sul, as palmeiras balanceiam segundo a música dos ventos oceânicos.

No entanto, a vida às vezes tem sido bastante dura para o povo desta terra. No começo do século 17, Kpassè, governante do reino de Houéda, entrou em relações comerciais com os mercadores de escravos, franceses, ingleses e portugueses. Em troca de quinquilharias e armas, este rei impiedoso vendeu seus próprios patrícios. Estes foram embarcados em navios em Gléhoué, agora chamada Ouidah, e transportados para o Haiti, para as Antilhas Holandesas e para a América. O comércio de escravos continuou desde o século 17 até o começo do século 19. Então, por fim, foi abolido em muitos países.

Foi no começo do século 20, porém, que as pessoas em Benin tiveram a oportunidade de ficar livres dos grilhões dum tipo muito mais perverso de escravatura — da servidão à religião falsa em todas as suas medonhas formas. Em Benin, esta inclui o vodu.

O berço do vodu

O animismo é a religião tradicional, e entre os animistas daqui, o deus considerado supremo é Mahou. Ele é representado por um grande número de deuses secundários, ou vodus, aos quais se oferecem sacrifícios em certos dias festivos. Por exemplo, Hébiosso é o deus do trovão, e o deus Zangbeto supostamente protege à noite os campos dos lavradores. Inferiores a esses vodus são os deuses menores, também os que se acredita ser os espíritos dos falecidos. Por isso, pratica-se o culto dos antepassados. Em muitas casas encontrará um asen, um tipo de pequeno guarda-chuva de ferro forjado, ornamentado com símbolos em memória dum ente querido que faleceu.

Os relacionamentos com esses deuses exigem um intermediário, um sacerdote ou uma sacerdotisa fetichistas, um tipo de pai-de-santo ou mãe-de-santo. Depois de passar três anos num convento fetichista, o sacerdote é considerado apto para se comunicar com os deuses e com outros espíritos. Esta poderosa hierarquia exerce uma enorme influência sobre a vida dos beninenses que aderem a ela.

Os praticantes deste tipo de adoração crêem que a pessoa, depois de morrer, pode voltar em forma espiritual e matar os outros membros da família. Muitos vendem seus bens e se endividam grandemente para pagar sacrifícios de animais e suntuosas cerimônias com o fim de apaziguar os parentes falecidos. Em resultado, a família pode ficar empobrecida. O temor supersticioso engendrado por essas crenças mantém as pessoas em servidão.

As chamadas religiões cristãs também estão representadas aqui, e muitas vezes são praticadas em conjunto com o animismo. As pessoas não costumam achar objetável a mistura das duas formas de adoração, mas deixar de participar nas tradições animistas é considerado um grave pecado. Todavia, muitos têm feito isso.

Os primeiros anos

Foi em 1929 que a verdade bíblica, que realmente pode libertar as pessoas dos temores supersticiosos, chegou a Daomé. O irmão Yanada, da tribo gun, depois de aprender a verdade com os Estudantes da Bíblia (como se chamavam então as Testemunhas de Jeová) em Ibadan, na Nigéria, voltou para ensiná-la aos membros da sua tribo. Ele ajuntou um grupo de seis pessoas na sua cidade nativa, Porto-Novo, a capital, e começou a estudar a Bíblia com elas. Deste grupo, Daniel Afeniyi, natural da Nigéria, apegou-se firmemente à verdade e foi batizado em 1935. Mas a perseguição movida pelos clérigos locais obrigou o irmão Yanada a voltar à Nigéria, e o recém-batizado Daniel Afeniyi teve de voltar para a sua localidade, Daagbe. Quando outras quatro Testemunhas nigerianas começaram a pregar em Porto-Novo, foram presas e imediatamente deportadas.

Em 1938, doze irmãos da tribo ibo, na Nigéria, foram designados para pregar em Porto-Novo. Para o aborrecimento dos clérigos protestantes, muitas pessoas apreciavam o que as Testemunhas ensinavam à base da Bíblia. Moïse Akinocho, comerciante, da tribo ioruba, foi uma delas. Ele tinha sido metodista, praticando também o culto dos antepassados. Em resultado da pressão dos clérigos, as Testemunhas de Jeová foram novamente obrigadas a deixar Porto-Novo. Mas quando as chamas da perseguição ficaram intensas para aqueles irmãos ibos, o irmão Akinocho apoiou-os e disse: “Se a administração vai matar todas as Testemunhas de Jeová, estou pronto para ser morto.” Ele continuou firme na fé até a sua morte em 1950.

Durante a Segunda Guerra Mundial, as Testemunhas nigerianas não mais puderam entrar em Benin. No entanto, as sementes da verdade haviam sido lançadas, e posteriormente, com um pouco de rega e de cultivo, começaram a brotar depressa. Esta oportunidade veio logo depois da guerra. Nourou Akintoundé, nativo de Benin, tornara-se Testemunha de Jeová enquanto na Nigéria. Em 1948, ele retornou ao seu país natal como pioneiro, passando grande parte do tempo dando testemunho a outros sobre Jeová Deus e Seu propósito, conforme revelado na Bíblia. O resultado excedeu a todas as expectativas.

O relatório de serviço de campo de maio de 1948 declarou: “É deveras emocionante enviar o relatório de um novo país. O evangelho penetrou no Daomé francês [Benin] e as pessoas de boa vontade estão afluindo ao ‘sinal de aviso para as nações’.” — Isa. 11:12.

Naquele mesmo mês, fez-se um requerimento ao governador de Daomé, solicitando o reconhecimento oficial da Sociedade. Este foi passado para o alto comissário em Dacar, no Senegal. Todavia, depois duma demora de mais de um ano, a autorização foi negada. Apesar disso, a obra continuou a expandir-se. Wilfred Gooch, na época superintendente de filial na Nigéria, escreveu mais tarde: “Havia tanto interesse latente ali, que em seis semanas 105 pessoas se juntaram ao pioneiro [o irmão Akintoundé] no serviço de campo. Nos próximos poucos meses, este pioneiro continuou a divulgar as boas novas em cidades vizinhas, e o bom aumento continuou — atingindo-se em julho de 1948 um auge de 301 publicadores do Reino.”

Estende-se a pregação das boas novas

De Porto-Novo, a pregação das boas novas se estendeu a cidades e localidades remotas. O irmão Akintoundé levava consigo alguns recém-interessados para dar testemunho em lugares tais como Lokogbo e Cotonou. Eles ficavam numa localidade por alguns dias, sendo acolhidos e hospedados por recém-interessados dali. Naquele tempo, os interessados começavam a pregar junto com os irmãos visitantes logo depois do seu contato inicial.

Menos de quatro meses depois de o irmão Akintoundé ter voltado a Benin, realizou-se em Porto-Novo um congresso de três dias. Estavam presentes W. R. Brown (da Bíblia), Anthony Attwood e Ernest Moreton, da filial na Nigéria. Trinta pessoas foram batizadas naquela ocasião, o que desagradou muito aos missionários protestantes. Estes fizeram todo o possível para dissuadir os recém-interessados, mas estes permaneceram firmes. Um dos batizados nesse congresso declarou: “Se tiver examinado tudo e achado que alguma coisa não é boa — isso cabe a você decidir. Quanto a mim, achei isso muito bom.” Muitos outros também examinaram o que as Testemunhas de Jeová ensinavam e verificaram que “é muito bom”. Em janeiro de 1949, havia três congregações em Benin — Porto-Novo, Lokogbo e Cotonou.

Um polígamo encontra a verdade

Embora a atividade das Testemunhas de Jeová não estivesse legalizada neste país, em janeiro de 1949 concedeu-se permissão para realizarmos uma assembléia em Cotonou. Usaram-se carros de som para anunciar o programa, e mais de 1.000 pessoas ouviram o discurso público “Governo de Paz”.

Um dos presentes nesta assembléia foi Sourou Houénou, escrivão e juiz, bem como chefe do grupo conhecido como Revenantes (“os que voltam do túmulo”), um grupo envolvido no culto dos antepassados. Ele tinha quatro esposas. Conseguiria fazer as mudanças necessárias para seguir os passos de Jesus Cristo? Ele abandonou o culto dos antepassados, que tem ligações espíritas. Fez isso em harmonia com a declaração de Jesus: “É a Jeová, teu Deus, que tens de adorar e é somente a ele que tens de prestar serviço sagrado.” (Luc. 4:8) Ajustou também sua situação marital em harmonia com as normas cristãs. Embora tivesse uma carreira a que se dá muito valor no sistema atual, assim como Saulo de Tarso teve antes de se tornar o apóstolo Paulo, ele considerou tudo “uma porção de refugo” e a deixou para trás. (Fil. 3:8) A fim de ficar livre para os interesses do Reino, ele deixou seu cargo como escrivão e juiz, e empreendeu o ministério de tempo integral.

A Congregação Cotonou reunia-se regularmente na casa do irmão Houénou, no bairro Missebo. Em certa ocasião, líderes católicos instigaram uma turba de crianças a interromper a reunião. Durante o discurso público, realizado no pátio da casa do irmão Houénou, cercado por muro, um garoto subiu numa árvore e passou a lançar tanto insultos como pedras por cima do muro contra o orador. Pelo visto, tinha péssima pontaria, porque nenhuma das pedras atingiu o orador. Em vez disso, uma errou o alvo e atingiu um dos jovens do grupo perturbador com tanta força, que este teve de ser hospitalizado! Todas as crianças fugiram com medo, achando que era uma punição da parte de Deus. A reunião continuou sem mais incidentes.

Vodu em oposição a Jeová

Dogbo-Tindé Ogoudina observava de certa distância o que estava acontecendo. Ela era vendedora de tecidos, tendo seu negócio na rua defronte da casa do irmão Houénou. Ela era também secretária do convento fetichista em Porto-Novo. Mas, ela ficou tão favoravelmente impressionada com a conduta das Testemunhas em face desta oposição, que passou a interessar-se na mensagem do Reino. Logo ela mesma tornou-se alvo de feroz oposição dos sacerdotes fetichistas. O principal desses proclamou que ela morreria em sete dias por causa da sua posição do lado das Testemunhas! Ele usou de feitiçaria no esforço de fazer sua predição tornar-se realidade.

Embora alguns tenham sido mortos por espíritos iníquos, a irmã Ogoudina não se deixou abalar. Ela disse: “Se o fetiche é que fez a Jeová, eu morrerei; mas se Jeová é o Deus Supremo, ele derrotará o fetiche.” Na noite do sexto dia os sacerdotes fetichistas ofereceram sacrifícios de cabritos e encantamentos ao seu fetiche — Gbeloko. Cortaram uma bananeira, trajaram-na de vestes brancas e a arrastaram pelo chão para simbolizar a morte da irmã. Depois disso, estavam tão certos do resultado, que proclamaram publicamente que a irmã Ogoudina já estava morta. Mas o que aconteceu na manhã seguinte?

A irmã Ogoudina estava ali onde tinha estado quase todas as manhãs — vendendo tecidos na feira. Não estava morta; estava bem viva! Mandou-se imediatamente uma delegação ao principal sacerdote fetichista em Porto-Novo, para informá-lo do que tinha acontecido ou, antes, do que não tinha acontecido. Ele ficou irado de que seu feitiço não teve efeito. Sabendo que isso minaria a sua influência sobre as pessoas, partiu de Porto-Novo para Cotonou com um só objetivo — achar a irmã Ogoudina e matá-la. Os irmãos locais sabiam que ia haver dificuldades, de modo que a ajudaram a fechar seu pequeno negócio e a levaram a um lugar seguro.

Depois de manter a irmã Ogoudina escondida por uma semana, o irmão Houénou alugou um carro e levou-a por toda Porto-Novo, para que todos vissem que ela estava viva. Em 1949, automóveis ainda eram raros na África, de modo que poucos passavam sem ser notados. O irmão Houénou fez questão de que ela fosse vista pelo máximo número de pessoas; depois terminaram a sua viagem diante da porta do antigo convento fetichista dela. Ela saiu do carro e proclamou publicamente, ao ouvido de todos que, embora o principal sacerdote fetichista tivesse lançado um feitiço de morte sobre ela, Jeová, seu Deus, fora o vencedor! Ele é que provou ser para ela “uma torre forte”. (Pro. 18:10) Apesar de ter saúde fraca, ela continuou a servir fielmente a Jeová até o fim dos seus dias. Sua atitude corajosa ajudou outros adoradores fetichistas a se livrar dos laços do espiritismo.

A oposição se intensifica

Perto da época da Comemoração, em 1949, programou-se um discurso especial em Porto-Novo. Mais de 1.500 interessados estiveram presentes. Esta notícia, porém, não agradou nada aos clérigos. De novo, eles instigaram as autoridades contra os irmãos, e dez destes foram presos.

Um irmão relatou mais tarde: “Os irmãos foram mantidos em custódia por alguns dias e depois libertados, após receberem uma forte advertência para não ‘ensinar ou pregar naquele nome’. Esta oposição ofereceu aos irmãos a oportunidade de dar testemunho perante ‘reis e governadores’ e explicar a esperança que eles têm.” — Note Atos 4:17.

A Comemoração foi realizada em secreto naquele ano, com uma assistência de 134, que incluía cinco que tomaram dos emblemas. Batismos eram realizados à noite, na lagoa de Porto-Novo. Os locais de reunião eram mudados constantemente, e sempre havia um irmão de guarda. Antes de cada reunião, preparava-se uma mesa com comida; quando alguém se aproximava, os irmãos se sentavam depressa à mesa e fingiam tomar juntos uma refeição. E usufruíam mesmo uma refeição — de excelente alimento espiritual!

Os irmãos sempre tinham de ser cautelosos — conforme Jesus disse, “cautelosos como as serpentes, contudo, inocentes como as pombas”. (Mat. 10:16) As autoridades procuravam continuamente o irmão Akintoundé, que achavam ser o chefão das Testemunhas. Certo dia, enviaram um policial à sua procura. Não sabendo onde o irmão Akintoundé morava, o policial pediu a um senhor ali que lhe mostrasse a casa do Sr. Akintoundé. Segundo o costume do povo hospitaleiro de Benin, o homem fez isso. Acontece que o homem que lhe indicou a casa era o próprio irmão Akintoundé! O policial não o reconheceu. Quando chegaram lá, não foi surpresa que o irmão Akintoundé não estivesse em casa! Por fim, porém, em junho de 1949, quando a obra das Testemunhas de Jeová foi oficialmente proscrita, o irmão Akintoundé voltou à sua nativa Nigéria.

Em agosto de 1949, o governo publicou um aviso contra as publicações da Torre de Vigia, fixando a pena em dois anos de prisão e numa multa de 500.000 F CFA (cerca de R$ 1.000) para quem fosse encontrado distribuindo essas publicações em qualquer língua. O alvo especial eram a revista A Sentinela e o livro “Seja Deus Verdadeiro”. Os irmãos não se deixaram desanimar por esses acontecimentos. Sabiam muito bem que Jesus Cristo dissera: “O escravo não é maior do que o seu amo. Se me perseguiram a mim, perseguirão também a vós.” — João 15:20.

Naquela época, Kpoyè Alandinkpovi, um dos primeiros a aceitar a verdade neste país, fazia bom uso da vestimenta tradicional dos homens beninenses para ajudá-lo no ministério. O roupão de mangas compridas que usam, chamado bubu, tem um bolso interno bastante grande. Quando o irmão Alandinkpovi tinha certeza de que havia encontrado alguém realmente interessado, ele metia a mão no roupão e puxava para fora um livro ou um folheto escondido naquele bolso grande. Ele sempre fingia que este era o único, mas sempre parecia haver mais um, quando encontrava outro faminto da verdade.

Espalhados, mas continuando a dar testemunho

“Prega a palavra, ocupa-te nisso urgentemente, em época favorável, em época dificultosa.” (2 Tim. 4:2) Este conselho, escrito pelo apóstolo Paulo, foi tomado a peito pelas Testemunhas de Jeová em Benin, e a obra de testemunho progrediu mesmo “em época dificultosa”. Na última parte de 1949, um dos recém-designados pioneiros beninenses, Albert Yédénou Ligan, foi a Zinvié, uma pequena localidade ao norte de Cotonou. Logo no primeiro dia em que esteve ali, contatou Josué e Marie Mahoulikponto. Estes reconheceram em pouco tempo o tom da verdade nos ensinos bíblicos que ouviram. Embora Josué fosse protestante, ele praticava o culto dos antepassados, tinha duas esposas e era o principal sacerdote fetichista do deus Zangbeto. No mesmo mês em que entraram em contato com a verdade, abandonaram todas essas práticas. Sua recém-encontrada crença não foi bem recebida pelos seus familiares, que se opunham amargamente, até mesmo expulsando-os da casa da família e destruindo sua roça.

O casal Mahoulikponto fugiu da localidade para salvar a vida, e estabeleceu-se em Dekin, uma das povoações lacustres. Esta mudança serviu para divulgar a verdade numa nova região. O chefe da localidade de Dekin foi o primeiro ali a aceitar a verdade. Em dois anos, 16 pessoas naquela região aceitaram a adoração verdadeira, embora fossem presas e espancadas pelas autoridades, e todas as suas publicações, inclusive suas Bíblias, fossem destruídas.

Enquanto dava testemunho numa localidade, em 1950, um pioneiro encontrou um homem que lhe disse que havia ali um senhor idoso que, à base da Bíblia, ensinava as mesmas coisas que o pioneiro. Esse senhor idoso era o irmão Afeniyi, um dos do grupo original que havia aprendido a verdade neste país e que fora batizado em 1935. Embora tivesse estado isolado, o irmão Afeniyi não fora esquecido por Jeová, nem se esquecera da alegria que sentira ao ser libertado das crenças antibíblicas da sua anterior religião protestante. Sua esposa nunca aceitou a verdade, e o vodu estava profundamente arraigado na localidade onde ele pregava, mas o irmão Afeniyi não desistiu. Por anos, ele podia ser visto ensinando fielmente a Bíblia a outros. Ele faleceu à idade de 80 anos, depois de ter servido fielmente a Jeová por mais de 42 anos.

No começo de 1950, as Testemunhas continuaram a sofrer ondas de perseguição. Na região de Kouti, um policial encontrou um grupo de irmãos estudando o texto do dia. Alguns deles foram presos, amarrados com cordas e levados perante o comandante, ou oficial do distrito. Mais tarde foram soltos, com o aviso severo de não mais pregar ou realizar reuniões. Não obstante, o povo de Jeová reconhecia a importância de continuar a se reunir regularmente para estudar a Palavra de Deus, fazendo-o secretamente quando necessário. Um dos anciãos locais escreveu: “Agora, a única oportunidade para nossos irmãos se reunirem é acordar de manhã bem cedo para estudar. Os que têm bicicleta vão a lugares longínquos para dar testemunho . . . Até mesmo levar uma Bíblia é perigoso. Apesar dessas dificuldades, continuaremos a pregar a palavra até o fim.” Em março de 1950, reuniram-se fielmente para a Comemoração da morte de Cristo. Não ‘retrocederam’ por medo. (Heb. 10:38) No começo de 1951, havia sete congregações relatando serviço, e 36 dos 247 publicadores que relatavam eram pioneiros.

Ele devolveu os apetrechos religiosos

No começo dos anos 50, muitos de nossos irmãos não sabiam ler bem; mas faziam o possível para dar testemunho, e Jeová abençoou seus esforços. Certo dia, dois irmãos tentavam explicar a verdade bíblica a uma pessoa quando apareceu Samuel Ogungbe. Ele contou mais tarde: “Eu não o sabia na ocasião, mas esses homens eram Testemunhas de Jeová, e estavam discordando entre si por não conseguirem ler a sua própria Bíblia na língua gun. Entrei na conversa e pude ajudá-los, visto que havia aprendido a ler a Bíblia em gun.” Acontece que Samuel Ogungbe era tesoureiro e membro da junta da Igreja Querubim e Serafim. Os membros desta religião são facilmente reconhecíveis; eles usam uma comprida veste branca e um boné branco, por acreditarem ser a noiva de Cristo. Mas, apesar das suas próprias ligações religiosas, Samuel Ogungbe achou interessante a conversa com essas Testemunhas de Jeová. Combinaram continuar a palestra no sábado, apenas quatro dias mais tarde. Entretanto, antes disso aconteceu algo que o deixou temeroso.

“A igreja a que eu pertencia usa adivinhação e predição do futuro, junto com outras artes mágicas”, explicou ele. “No dia depois do meu primeiro contato com as Testemunhas de Jeová, fui à igreja como era meu costume. Fui imediatamente advertido por outros membros da igreja, que haviam consultado os espíritos, para ter muito cuidado por dois motivos — primeiro, porque embora ocupasse um alto cargo na igreja, eu estava em perigo de ‘abandoná-la’ e, segundo, porque eu teria logo graves problemas estomacais, que seriam fatais a menos que seguisse o conselho dado pelos espíritos. Disseram que eu devia comprar sete velas, junto com incenso de olíbano e mirra, para uma cerimônia especial com orações em voz alta, e jejuar por sete dias. Desobedecer significaria para mim a morte.”

Mais tarde, ele admitiu francamente: “Quando fui para casa, na quinta-feira à noite, eu estava com medo. Na sexta-feira de manhã, comecei a orar e a jejuar, sabendo que logo teria de decidir se ia continuar com as minhas palestras com as Testemunhas, ou não. Eu quase não fui ao encontro delas, mas decidi no último momento cumprir o compromisso. Conversamos sobre muitas coisas, e elas me convidaram à sua reunião no domingo.” Houve rápidas mudanças. Membros da igreja com que Samuel Ogungbe se associava tentaram dissuadi-lo, mas ele ficou convencido de que havia encontrado a verdade. Devolveu todos os seus apetrechos religiosos e, naquele mesmo mês, passou a participar no serviço de campo. Dentro de seis meses, foi batizado em símbolo da sua dedicação a Jeová. A propósito, o irmão Ogungbe não morreu por causa da sua recém-encontrada crença. Ele serviu fielmente a Jeová por mais de 40 anos, até a sua morte em 1996.

Enfatizadas as aulas de alfabetização

É possível dar testemunho sem se ser alfabetizado, mas a leitura da Palavra de Deus pode ajudar a obter força para suportar situações difíceis. Saber ler também é um fator importante no ensino eficaz. No entanto, nos anos passados, muitos em Benin, incluindo nossos irmãos, não sabiam ler; de modo que a Sociedade incentivou os irmãos a organizar aulas de alfabetização. No começo, essa instrução era dada de forma pessoal, um ensinando outro. Depois, nos anos 60, estabeleceram-se aulas de alfabetização nas congregações.

Até o presente, continua a haver aulas de alfabetização em muitas das congregações em Benin. Além disso, outros são ajudados individualmente. Mas com a disponibilidade de escolas públicas melhores, tem diminuído a necessidade de tal ajuda. Depois de alguém ter aprendido a entender o sentido do que há na página impressa, ele pode pessoalmente aplicar isso de forma mais plena na própria vida e pode usar a Palavra de Deus com mais eficácia para ajudar outros. — Efé. 6:14-17.

Sacerdote católico e sacerdote juju juntam forças

Os clérigos, incapazes de refutar a verdade ensinada pelas Testemunhas de Jeová à base da Bíblia, muitas vezes recorriam às autoridades seculares no esforço de impedir a obra do povo de Jeová. Num caso, um sacerdote católico e um sacerdote juju juntaram forças para livrar a região de Dekin das Testemunhas de Jeová. Fizeram acusações perante as autoridades, misturando meias-verdades com falsidades descaradas, afirmando que as Testemunhas seduziam as pessoas para se revoltarem contra o governo, que elas prediziam uma guerra mundial, que pregavam o fim do mundo e que se negavam a pagar impostos! O sacerdote juju disse ao comandante distrital que, por causa das Testemunhas, os espíritos se negavam a dar chuva e que, por isso, o país estava ameaçado por uma fome! O sacerdote católico disse que as Testemunhas eram responsáveis por suas orações e as missas não serem ouvidas por Deus.

Pessoas sinceras compreenderam o que esses ataques realmente eram — um sinal de medo por parte dos líderes religiosos. Eles temiam que a obra das Testemunhas de Jeová se firmasse entre o povo. Esses ataques só serviram para fortalecer a confiança dos irmãos em Jeová. Um relatório escrito naquela época dizia: “Os irmãos realmente ‘se mantêm firmes em um só espírito, com uma só alma esforçando-se lado a lado pela fé das boas novas’, e Jeová abençoa seus esforços com aumentos. (Fil. 1:27) Temos fé em que ele continue a fazer isso.”

Continuou Jeová a abençoar os esforços decididos deles? Certamente o fez! Apesar de dura oposição e perseguição, o número dos que participavam em dar testemunho do Seu nome e Reino aumentou de 301 em 1948 para 1.426 em 1958! Às vezes, porém, o testemunho era dado na prisão.

Testemunho cabal dado na prisão

Quando David Denon, de Porto-Novo, foi preso por não parar de servir a Jeová, ele considerou a prisão seu território. E tinha mesmo uma assistência cativa! Mas a sua pregação desagradou ao diretor da prisão, que mandou transferi-lo para outra. Todavia, ali ele recebeu tratamento melhor e pôde pregar a outros presos sem impedimento. O próprio chefe dos guardas passou a interessar-se, e mais dois presos aceitaram a verdade e participaram com o irmão Denon em pregar no seu território — atrás das muralhas da prisão.

Durante o dia, o irmão Denon, que gozava de muita confiança, era mandado para fora da prisão para trabalhar como carpinteiro na casa do superintendente da polícia. Este homem também mostrou interesse na mensagem da Bíblia, permitindo até que o irmão Denon fosse para casa, a fim de trazer-lhe algumas publicações — as mesmas publicações pelas quais o irmão Denon tinha sido preso!

Logo chegou mais ajuda para cobrir esse território incomum. Em 1955, mais cinqüenta publicadores nigerianos entraram em Benin para ajudar a levar as boas novas a partes isoladas do país. Todo o grupo foi preso e levado à cadeia local. Mas esta não era suficientemente grande para acomodar todos, de modo que as irmãs e alguns dos irmãos foram mandados para casa. Vinte e sete irmãos, presos sob a acusação de distribuir “publicações proibidas”, foram transferidos para uma prisão no interior do país, à espera do julgamento. Enquanto ali, eles não perderam tempo. Ao chegarem da Nigéria, não era este o território em que pretendiam trabalhar, mas havia ali pessoas que precisavam ouvir as boas novas. Em resultado da sua atividade, pelo menos 18 pessoas mostraram interesse, inclusive oficiais e o médico da prisão.

No fim de agosto, essas Testemunhas foram levadas a julgamento. A notícia do evento se espalhou, e mais de 1.600 pessoas estiveram presentes. Sacerdotes católicos vieram de muitas partes e disseram a muitos que os irmãos seriam sentenciados a 12 anos de prisão — dizendo isso antes de começar o julgamento!

Entretanto, o juiz foi favorável e permitiu que os irmãos dessem um bom testemunho no tribunal. Ele comparou as Testemunhas a Jesus Cristo, que foi levado a julgamento embora nunca tivesse cometido algum delito. O juiz disse lamentar que tinha de dar sentenças de três meses à maioria dos irmãos. As sentenças, porém, contariam desde o momento de terem sido presos, o que ocorreu quase três meses antes. Os irmãos aproveitaram bem o tempo remanescente na prisão. Durante o mês de agosto, cada um deles relatou mais de 100 horas de pregação da mensagem do Reino atrás das muralhas da prisão! Todo este incidente trouxe as atividades das Testemunhas de Jeová à atenção do público de forma espetacular.

Publicações bíblicas na língua gun

Ter publicações na língua do povo comum é de muita ajuda para ensinar-lhe a verdade bíblica. A língua gun é muito falada neste país. Como os irmãos ficaram felizes de receber em 1955, na língua gun, o tratado O Que É Que as Testemunhas de Jeová Crêem?. A isto seguiu-se, em 1957, o Ministério do Reino, que ajudou os irmãos a organizar com mais eficiência suas Reuniões de Serviço e a atividade do serviço de campo. Uma sociedade bíblica também começou a reimprimir a Bíblia inteira na língua gun.

A seguir veio o folheto “Estas Boas Novas do Reino”. Quando se receberam os primeiros exemplares, programou-se estudar o folheto em todos os Estudos de Livro de Congregação. Logo cedo no ano seguinte, tornou-se disponível para distribuição pública. O efeito foi realmente notável. As pessoas humildes neste país aceitavam de bom grado sua explicação clara da verdade bíblica. Em abril de 1958, atingiu-se um novo auge de 1.426 publicadores — 85 por cento mais do que a média do ano anterior.

A ampla aceitação dessas publicações na língua gun foi tão animadora, que logo começou o trabalho de tradução do livro “Seja Deus Verdadeiro”. Exemplares mimeografados de A Sentinela, na língua gun, também se tornaram disponíveis, a partir do número de 1.º de dezembro de 1960. Todas essas publicações ajudaram os irmãos a ter maior apreço pela verdade e a auxiliar outros a se livrarem da servidão à religião falsa.

Alguns mostraram que “não eram dos nossos”

Quando alguém aprende que se lhe haviam ensinado mentiras, ele pode rapidamente abandonar sua religião anterior e começar a adorar a Jeová. Mas continuar a praticar a adoração pura exige humildade e amor genuíno a Jeová, a disposição de progredir à madureza cristã e de aplicar a Palavra de Deus em todos os aspectos da vida. Nem todos os que em Benin tinham começado tão entusiasticamente a pregar prosseguiram neste rumo. Alguns mostraram que “não eram dos nossos”. — 1 João 2:19.

Quando um superintendente da Congregação Gbougbouta se desviou da verdade, ele tentou persuadir Kouadinou Tovihoudji a fazer o mesmo. O irmão Tovihoudji lembrou-lhe com tato que, quando tinha sido servo de Jeová, havia dito a outros que o amor de alguns pela verdade esfriaria. (Mat. 24:12) O irmão Tovihoudji acrescentou que, visto que o amor do próprio superintendente havia esfriado, ele podia ver que aquilo que a Bíblia dizia era verdade. O irmão Tovihoudji sabiamente não o acompanhou, mas permaneceu fiel a Jeová.

No entanto, nem todos os irmãos souberam claramente como lidar com os que não mais queriam seguir os princípios justos de Deus. Precisavam de ajuda. Em 1959, Theophilus Idowu, superintendente de circuito nigeriano, foi designado para a cidade de Porto-Novo, a fim de edificar os irmãos. Estes se alegraram de vê-lo, mas ficaram um pouco desanimados quando viram que ele não conhecia a língua deles. Havia necessidade de intérpretes para os seus discursos e para as palestras com os anciãos. O irmão Idowu percebeu que havia problemas que precisavam ser resolvidos nas congregações. Mas, visto que não sabia falar a língua, estava limitado no que podia fazer. Isto o perturbou, de modo que passou a aprender a língua gun. Fez progresso rápido, e em pouco tempo conseguiu ajudar os irmãos mesmo em situações difíceis. Aos poucos, cuidou-se dos problemas; os que escolheram levar uma vida moralmente impura e se apegaram a ela, foram expulsos da congregação.

Uma das principais fraquezas continuava a ser a falta de entendimento por parte dos mais novos que não sabiam ler e escrever. Todavia, os que entenderam claramente a verdade e a gravaram no coração fizeram profundas mudanças na vida. Germain Adomahou foi um deles.

Um polígamo acha um modo melhor

O pai de Germain Adomahou tinha 12 esposas. No entanto, Germain, mesmo antes de se tornar Testemunha, decidiu ter apenas uma esposa. Ele podia notar que, embora ter muitas esposas fosse sinal de abastança e de influência, havia amargas disputas e ciúmes entre as esposas do seu pai. Mas, depois de Germain se casar, sua esposa não teve filhos, o que é uma desonra entre alguns africanos. Apesar das suas anteriores boas intenções, ele logo tomou mais duas esposas. Posteriormente, tomou de novo mais duas, perfazendo o total de cinco. Não demorou muito até surgirem amargas rivalidades e ciúmes na sua própria casa. No esforço de se esquecer desses problemas, recorreu a outras mulheres que não eram suas esposas. Sua casa ficou igual à do seu pai, de que não havia gostado nada.

Embora fosse adorador de fetiches, procurou consolo e conselho dum sacerdote católico, que lhe disse que, a fim de ir para o céu, ele teria de ser batizado. Não se falou nada sobre a sua adoração de fetiches, suas cinco esposas ou sobre o que a Bíblia diz a respeito de ter relações com mulheres com quem o homem não está casado. Germain foi batizado pela igreja e continuou na sua religião fetichista, e com sua poligamia. Nada mudara realmente. Daí, em 1947, ele obteve um exemplar do livro “A Verdade Vos Tornará Livres”. Depois de lê-lo, rompeu com a Igreja Católica e com a sua religião fetichista. No entanto, a poligamia e um modo imoral de vida ainda prendiam seu coração. Deu-se conta de que, para se tornar um do povo de Jeová, teria de renunciar a essas coisas. Daí, certo dia, as coisas mudaram.

Alguns da Congregação Abomey das Testemunhas de Jeová foram presos e encarcerados. Esta notícia se espalhou pela localidade. Germain nunca vira pessoas de outras religiões serem tratadas assim. Estava profundamente impressionado com a disposição das Testemunhas de Jeová de suportar perseguição para pregar a mensagem da Bíblia. Ficou convencido de que as Testemunhas de Jeová eram verdadeiros cristãos. (2 Tim. 3:12) Tomou uma decisão. Renunciou ao seu estilo de vida polígamo, harmonizou-se com os ensinos da Bíblia e dedicou sua vida a Jeová Deus.

No entanto, sua recém-encontrada crença não lhe permitia simplesmente abandonar suas ex-esposas. Embora não mais vivesse com elas, cuidou das suas necessidades tanto materiais como espirituais, até que se casaram mais tarde. Duas das suas ex-esposas tornaram-se mais tarde servas dedicadas de Jeová; a mais jovem casou-se com um ministro de tempo integral e por fim serviu com o marido no serviço de circuito. Muitos dos filhos nascidos dos casamentos polígamos também aprenderam a verdade.

O desejo dum moribundo

Outros também ansiavam conhecer a verdade. Amos Djagun era o líder duma igreja metodista em Kilibo, uma localidade no norte de Benin, e Silas Fagbohoun era um dos seus membros de destaque. Mas quando uma Testemunha de Jeová visitou a casa de Silas Fagbohoun, este declarou francamente que tanto ele como muitos outros estavam dessatisfeitos com a confusão na sua igreja, e que eles sabiam que se permitiam ali práticas erradas. Ele mesmo tinha duas esposas e várias concubinas, entre estas a esposa de um dos principais pregadores leigos da sua igreja.

Depois que as Testemunhas visitaram Amos Djagun, este ajuntou muitos dos membros da igreja, dos quais sabia que ansiavam conhecer a verdade. O superintendente de circuito, que na época estava de visita, mostrou-lhes como estudar a Bíblia com a ajuda do livro “Seja Deus Verdadeiro” e o folheto “Estas Boas Novas do Reino”. Mostrou-lhes também como fazer bom uso do texto do dia. Muitos deles, inclusive Amos Djagun e Silas Fagbohoun, aceitavam de bom grado as coisas que aprendiam.

Naturalmente, Silas Fagbohoun ansiava que sua esposa e seus filhos aceitassem sua recém-encontrada crença, mas parecia haver pouca reação da parte deles. Na noite antes do seu falecimento, em junho de 1963, Silas chamou seu filho mais velho, Joseph, para a beira da sua cama e disse: “Lamento que até agora você não tomou posição firme a favor da religião verdadeira. Saiba que aquilo que você agora rejeita é a verdade que conduz à vida eterna. Oro para que Jeová esteja com você na tarefa difícil que lhe deixo; doravante você é responsável por todos os seus irmãos. Cuide deles em sentido material e especialmente em sentido espiritual.” Será que se realizaria o último desejo do irmão Fagbohoun?

Joseph parecia aferrado aos seus conceitos. Com o tempo, matriculou-se numa escola secundária, protestante, em Cotonou. Enquanto ali, teve com o capelão uma conversa sobre as Escrituras, perante uma turma de 80 estudantes. A resposta do capelão à maioria das perguntas era: “Isto continua sendo um mistério divino.” Joseph, com a ajuda do livro “Seja Deus Verdadeiro”, pôde dar respostas satisfatórias a muitas perguntas bíblicas. Lembrando-se do último desejo do seu pai, Joseph pediu publicamente, perante toda a turma e o capelão, que seu nome fosse riscado da lista dos membros protestantes. Ele estava livre! Foi batizado em julho de 1964 e ingressou no serviço de pioneiro regular em 1969.

A esposa do irmão Fagbohoun, Lydie, embora uma pessoa muito boa e de bom coração, não via nenhuma necessidade de mudar de religião. Ela acreditava que podia ter a vida eterna embora continuasse a ser protestante. Seus olhos se lhe abriram, porém, quando um pastor já de certa idade, da sua igreja, quis ter relações sexuais com ela, a fim de “consolá-la” na sua viuvez. Ela nunca mais pôs os pés naquela igreja! Com o encorajamento do seu filho e a ajuda dum pioneiro especial, ela começou a estudar com as Testemunhas de Jeová. Com o tempo, não só ela foi batizada, mas quase todos os filhos aceitaram a verdade.

A chegada de missionários treinados em Gileade

Quanto os irmãos se alegraram com a chegada dos primeiros missionários da Escola de Gileade, em 3 de fevereiro de 1963! Keith e Carroll Robbins eram formados da 37.ª turma de Gileade. Arranjaram um lugar para morar e logo estudaram a língua gun. Os irmãos ficaram muito incentivados com a presença dessas co-Testemunhas, pessoas brancas — o que para eles era evidência da união da fraternidade mundial. Andando de bicicleta, os missionários não só visitavam congregações no mato, mas também treinavam outros designados para fazer isso. Quando se viram obrigados a retornar ao seu nativo Canadá, para cuidar de responsabilidades familiares, os irmãos locais sentiram uma grande perda.

Nos meses seguintes, mais dois missionários canadenses foram designados para Benin — Louis e Eleanor Carbonneau. Eles falavam francês, de modo que pouco depois da sua chegada se estabeleceu em Cotonou uma congregação de língua francesa. Haver em francês muitas publicações disponíveis para o estudo contribuiu para o rápido crescimento espiritual daquele grupo.

O irmão Carbonneau foi o presidente da Assembléia de Distrito “Frutos do Espírito”, em Abomey, em novembro de 1964. A polícia estava presente, como era costume em grandes ajuntamentos. Não acharam nada de errado; de fato, foram amigáveis com os irmãos e gostaram dos discursos bíblicos. Ficaram também maravilhados de ver 1.442 pessoas, algumas do norte e outras do sul, todas juntas como irmãos. Isto era notável, porque na época havia distúrbios em que nortistas e sulistas se confrontavam.

Outros missionários também serviram em Benin — alguns apenas por pouco tempo; mas outros vieram com o desejo de torná-lo seu lar. Depois de certa demora, devido à agitação política em Benin, Don e Virginia Ward, e Carlos e Mary Prosser, chegaram no começo de 1966. Pouco depois da sua chegada, em março de 1966, estabeleceu-se uma filial em Cotonou, para supervisionar a pregação das boas novas neste país.

Desde 1948, as Testemunhas de Jeová tinham procurado obter reconhecimento oficial da sua obra de educação bíblica em Benin, mas este lhes fora negado. Quanta alegria lhes deu, portanto, quando viram o nome da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados de Pensilvânia no diário oficial de Benin, com a notificação de que as Testemunhas de Jeová podiam ensinar a Bíblia de porta em porta em todas as partes do país e que os missionários tinham permissão para realizar suas atividades sem impedimento!

Hora de casar-se

Antes de 1966, não havia nenhuma providência da parte do governo para o registro legal dos casamentos. Todos os casamentos haviam sido celebrados de forma tradicional, mas os irmãos também enviavam uma declaração assinada à filial. No entanto, em 1966, o governo providenciou o registro legal dos casamentos, embora não fosse mandatório. Os missionários mostraram às Testemunhas locais que era importante que seu casamento fosse registrado, em harmonia com esta provisão legal.

Isto criou uma variedade de problemas para os irmãos. Primeiro, custava dinheiro — que era difícil de conseguir. Segundo, os recém-casados teriam de fornecer sua data de nascimento. Esta nem sempre era conhecida, visto que raras vezes se guardavam registros exatos. Apesar desses obstáculos, os do povo de Jeová estavam decididos a que o matrimônio fosse “honroso” aos olhos de Deus. — Heb. 13:4.

As Testemunhas em Hetin, uma povoação quase que toda só de casas em palafitas, decidiram que seria menos dispendioso providenciar que o escrivão oficial do registro de casamento viesse a elas, em vez de fazer 25 casais ir até lá. Por serem tantos, o escrivão concordou. Quando finalmente chegou, encontrou 60 casais esperando para legalizar seu casamento! O que tinha acontecido? Enquanto se tomavam providências para este casamento em massa, os outros aldeões ficaram sabendo disso. Visto que os líderes da sua própria igreja não lhes ofereceram nenhuma ajuda para registrar seu casamento, perguntaram às Testemunhas se também podiam aproveitar os serviços do escrivão do governo quando viesse. Num período de cerca de quatro meses, a congregação aumentou rapidamente de 69 para 90 publicadores.

Providencia-se um lugar adequado para a filial

Para o funcionamento adequado da filial, precisava-se dum lugar apropriado. Don Ward havia sido construtor antes de ingressar no serviço de tempo integral. Durante 1968, ele usou essa experiência para a construção dum prédio que conjugasse a filial e um lar missionário, em Cotonou. Com a ajuda de 16 pioneiros e muitas Testemunhas locais, a construção levou apenas oito meses. No andar térreo do prédio, havia um excelente Salão do Reino, bem como escritório, refeitório e uma área de expedição para a filial. No andar de cima, seis dormitórios davam vista para um grande jardim cheio de palmeiras. Uma lagoa reluzente, com pescadores em pirogas, podia ser vista além do muro do jardim.

O dia 12 de janeiro de 1969 ficará marcado como dia especial na história teocrática de Benin. Naquele dia foram dedicados a Jeová a nova filial e o lar missionário. Os irmãos achavam que esse belo prédio era deveras evidência da bênção de Jeová sobre a sua obra. De valor ainda maior do que esse prédio, porém, eram as personalidades cristãs edificadas com qualidades piedosas.

Honestidade — o modo certo

Daniel Aïnadou, que trabalhava num dos hotéis de alta categoria, certo dia teve a qualidade da sua personalidade cristã posta à prova. Quando levava a calça de um dos hóspedes do hotel ao tintureiro, encontrou num dos bolsos o equivalente a R$ 1.600,00. Esta quantia representava para ele o salário de dois anos de trabalho. O que faria? Ali estava ele com uma fortuna nas mãos, e ninguém por perto.

Este irmão tinha sido batizado há pouco tempo, mas estudara recentemente em A Sentinela um artigo sobre a honestidade. Ele estava decidido a não desagradar a Deus por ficar com o que não lhe pertencia. Falou sobre o dinheiro ao recepcionista no balcão do hotel. Mas quando este viu todo esse dinheiro, ele levou o irmão à parte e disse: “Fiquemos com o dinheiro e façamos disso nosso pequeno segredo.” “Não posso fazer isso”, disse nosso irmão. “Sou cristão e Testemunha de Jeová.” “Eu também sou cristão”, protestou o recepcionista. “Vou regularmente à igreja católica. Não vejo nada de errado em ficar com este dinheiro. Afinal, o homem o perdeu, não perdeu?” Sem se deixar abalar, nosso irmão levou o dinheiro ao dono do hotel, que o guardou no cofre da casa.

Algum tempo depois, o hóspede voltou ao quarto e procurou freneticamente seu dinheiro — debaixo da cama, no armário, atrás das cadeiras. Não o encontrou em parte alguma. Muito aflito, foi ao dono do hotel, que lhe assegurou que seu dinheiro não estava perdido, mas no cofre do hotel. Ao saber que um dos empregados do hotel o havia entregado, o hóspede queria conhecer essa pessoa honesta. Muito impressionado, o hóspede disse: “Sei que as Testemunhas de Jeová são gente boa. Quando eu voltar à França, vou procurá-las, porque quero saber mais sobre elas.” Até mesmo o gerente do hotel, que antes dava pouca atenção às Testemunhas de Jeová, disse então que se sentia feliz de que trabalhavam para ele.

Este incidente não foi logo esquecido. Mais tarde, outro hóspede supostamente perdeu uma pequena quantia de dinheiro e acusou o irmão Aïnadou de tê-lo furtado. Quando o dono do hotel soube do incidente, ele veio prontamente em defesa do irmão e contou a experiência acima.

Nos anos que se seguiram, relataram-se em Benin constantes aumentos no número das Testemunhas ativas. Em 1971, vinte e dois missionários serviram aqui no campo e na filial. Em 1975, havia 2.381 publicadores ativos no ministério de campo, em comparação com apenas 290 lá em 1950. Jeová certamente estava abençoando os sinceros que se livraram da servidão à religião falsa. Entretanto, esse aumento não agradou a todos. Mais nuvens escuras de perseguição começaram a surgir no horizonte.

Mudanças no governo

“Pour la révolution?” (Está pronto para a revolução?) “Prêt!” (Pronto!) Esses eram os cumprimentos comuns ouvidos nas ruas de Benin quando o regime marxista-leninista passou a tomar conta do país no começo de 1975. No término de cada carta procedente dum órgão do governo havia as palavras: “Prontos para a revolução, a luta continua!”

Os do povo de Jeová são conhecidos no mundo todo como neutros em questões políticas, e sua consciência treinada pela Bíblia não lhes permite repetir tais lemas. (João 15:19; 18:36) Isto lhes causou muita hostilidade.

Novembro de 1975 — houve uma detenção

Pierre Worou estava empenhado no ministério, em novembro de 1975, quando se encontrou com um homem que o cumprimentou com um lema político. Quando o irmão Worou não respondeu na afirmativa, foi prontamente levado ao posto policial. A polícia tentou fazê-lo repetir os lemas, mas ele se negou a isso. Obrigaram-no a andar de joelhos e cotovelos por várias horas. O irmão Worou manteve-se firme.

Por fim, alguns irmãos falaram com os policiais responsáveis, e visto que era domingo, concordaram em soltá-lo ao fim do dia. O que tinha ocorrido alertou os irmãos ao que os aguardava.

Dezembro de 1975 — advertências na rádio e nos jornais

Durante dezembro, a rádio operada pelo governo, “A Voz da Revolução”, atacou a religião organizada como um todo. Noticiou-se que grupos de jovens saquearam certas igrejas. Muitos revolucionários advertiram as Testemunhas para deixarem de pregar. Até 14 de janeiro de 1976, as autoridades já haviam obstruído o testemunho público em diversos lugares. Salões do Reino foram fechados em seis lugares, e as reuniões foram impedidas em três casas particulares. Em Hetin, o Salão do Reino foi ocupado e usado para reuniões políticas. No entanto, em alguns dos centros maiores, os pioneiros e os missionários ainda puderam continuar no ministério sem muita interferência.

Março de 1976 — as restrições aumentam

Em 24 de março de 1976, a filial em Benin relatou ao Corpo Governante das Testemunhas de Jeová: “As autoridades, em diversos setores do país, continuam a restringir de várias formas as atividades religiosas. Muitas cerimônias fetichistas e outras religiosas foram proibidas em muitas partes do país. Também se proibiu a pregação de casa em casa ou em diferentes bairros das cidades e aldeias.”

Duas semanas mais tarde, a filial relatou adicionalmente ao Corpo Governante: “Numa região no norte (Gouka), todos os irmãos da congregação (mas não as irmãs) foram presos e ficaram detidos por 72 horas. Foi um aviso para que não pregassem e para tentar obrigar os irmãos a repetir lemas políticos, o que se negaram a fazer. . . . Informaram os irmãos de que eles podiam reunir-se no seu Salão do Reino, desde que colocassem uma bandeira na frente dele e que, tanto antes como depois de cada reunião, organizassem uma sessão de cânticos e de lemas políticos. Os irmãos sabiam que não podiam fazer isso e se viram obrigados a continuar suas reuniões nos lares dos irmãos.”

Abril de 1976 — irmãos presos em Cotonou

A tensão política continuou a aumentar no país. No começo de abril, a maioria dos locais de trabalho já tinha cada semana períodos de estudo de lemas políticos, cerimônias com a bandeira, o hino nacional e cursos “ideológicos”. Os que não participavam nessas reuniões deviam ser denunciados às autoridades. Uma dessas reuniões foi convocada numa área de Cotonou em que três irmãos e uma irmã trabalhavam. Os irmãos negaram-se a assistir à reunião; a irmã foi, mas negou-se a participar. Na segunda-feira seguinte, quando foram trabalhar, primeiro a irmã e depois os três irmãos foram obrigados a correr pelas ruas na frente dum carro policial, até a sede da polícia — uma distância de uns cinco quilômetros. Na época, a irmã estava grávida de quatro meses. No posto policial, eles não mudaram de atitude; negaram-se a repetir os lemas políticos. Embora muito espancados, permaneceram fortes — os golpes físicos não quebrantaram a sua fé.

Carlos Prosser, representando a Comissão de Filial de Benin, escreveu ao Corpo Governante em 7 de abril de 1976: “Justamente enquanto eu escrevia esta carta, vieram visitar-me o chefe distrital com seu guarda e seu secretário. Ele fez perguntas sobre lemas, continência à bandeira, etc., e eu pude explicar-lhe alguns desses pontos. Ele mencionou também que alguns de nosso pessoal foram presos por se negarem a participar nessas coisas, e mencionou também uma lista de nomes que estava preparando. A visita foi bastante amigável, mas ele foi bem específico em alguns pontos, por exemplo, dizendo que não se nos permitia mais pregar nas casas das pessoas, mas que devíamos ficar no nosso ‘templo’. Não sabemos o que esses homens de autoridade pretendem fazer, mas uma coisa é certa: as Testemunhas de Jeová estão ficando cada vez mais conhecidas, e oramos para que tudo isso sirva de testemunho. Todos os missionários começam a perguntar-se quanto tempo nos sobra aqui.”

Aumenta a intensidade da perseguição

Em 16 de abril de 1976, numa transmissão de rádio à nação, o ministro do interior criticou fortemente as Testemunhas de Jeová. Entre outras coisas, disse que as Testemunhas de Jeová negam-se a participar em cursos de ideologia e que se lhes ensina que não podem repetir lemas políticos. Em linguagem forte, ele declarou que, se as Testemunhas de Jeová não mudassem de atitude até o fim do mês, todos os seus representantes, que são ‘agentes licenciados da CIA [Agência Central de Informações, dos EUA]’ — uma difamação do papel dos missionários — seriam deportados do país!

Esses comentários foram transmitidos por cerca de duas semanas, em todas as partes de Benin. Muitos dos que nunca antes tinham ouvido falar das Testemunhas de Jeová começaram a perguntar-se: ‘Quem é esta gente de que falam tanto?’ Essas transmissões criaram muita curiosidade, e o nome de Jeová foi ouvido em todo o país a um ponto que as próprias Testemunhas nunca poderiam atingir por meio da sua atividade pública, então restrita.

Outros representantes da repartição do chefe distrital vieram à filial para obter os nomes de todos e outros pormenores. Eles queriam os nomes de todos os homens-chave no país. Deram-se-lhes os nomes dos missionários que moravam no lar missionário na filial. Depois de irem embora, retiraram-se do local todos os registros e arquivos da Sociedade, os quais foram bem escondidos.

No dia seguinte, 17 de abril, dois policiais voltaram, querendo ver o encarregado. Visto que ambos fumavam, o irmão Prosser disse-lhes que teriam de apagar seus cigarros antes de entrar. Eles acataram o pedido e foram convidados a entrar no escritório. Ainda queriam os nomes de todos os irmãos responsáveis no país inteiro. Mas, já então, os arquivos importantes da filial não iam mais ser encontrados, mesmo que decidissem fazer uma busca.

Os últimos momentos para os missionários ali

Em 26 de abril de 1976, alguns irmãos acharam sábio dirigir-se ao chefe distrital em Akpakpa, para esclarecer o assunto. Se a filial tivesse sabido da sua intenção, essa ação teria sido desaconselhada. Embora alguns anciãos locais tentassem dissuadir os desta delegação bem-intencionada, estes insistiram em ir. O resultado foi desastroso. Depois de falar com eles por algum tempo, o chefe distrital gritou alguns lemas políticos, e quando eles não responderam, mandou prendê-los.

Na ocasião, ainda havia no país 10 dos 13 missionários. A irmã Mahon esperava um bebê e o casal se tinha preparado para voltar à Inglaterra em algumas semanas. Em vista da situação ameaçadora, a filial os havia incentivado a partir o mais breve possível, em vez de esperar até o último momento. Eles tinham feito isso. Maryann Davies, do lar missionário de Porto-Novo, estava no Canadá, porque sua mãe estava doente.

Na noitinha de 26 de abril, os missionários que restavam passaram a ficar “presos” no Lar de Betel — não podiam sair, nem podia alguém entrar. Não havia telefone. Os missionários começaram a fazer as malas, para o caso de serem deportados.

27 de abril de 1976 — detenção do coordenador da Comissão de Filial

Na manhã seguinte, um policial armado veio buscar o irmão Prosser. Mandou que entrasse na caminhoneta da Sociedade e a dirigisse; durante todo este tempo, o policial apontava a arma para ele. O irmão Prosser foi levado ao posto policial em Akpakpa para ser interrogado. Não o maltrataram fisicamente, mas tentaram intimidá-lo com maus-tratos verbais.

“Dê-nos os nomes de toda a sua gente principal!” gritou o policial. O irmão Prosser respondeu: “Não lhe posso dar os nomes de meus irmãos. Se os quiser, poderá ir ao Salão do Reino e anotá-los.” Eles aceitaram isso. Mas o irmão sabia que não havia nenhum perigo, porque já por algum tempo não se realizavam reuniões no Salão do Reino. Essas eram então realizadas em lares particulares com grupos de Estudo de Livro de Congregação.

“Que nos diz sobre Samuel Hans-Moévi? Conhece-o? Não é ele um dos seus?” Esta pergunta foi um choque para o irmão Prosser. Tinha sido na casa do irmão Hans-Moévi que haviam ocultado os registros da Sociedade em duas velhas malas surradas. Estes registros continham os nomes de muitos irmãos. Será que a polícia já havia encontrado esses registros? O irmão Prosser conseguiu manter uma aparência calma, enquanto bem no íntimo orava a Jeová pedindo orientação.

Por fim, o interrogatório acabou. Não se revelaram nomes, e não se causou dano físico ao irmão Prosser. Deixaram-no então ir embora — sozinho! Alguns anos mais tarde, refletindo sobre esse momento, o irmão Prosser disse: “Meu primeiro pensamento foi: ‘O que posso fazer para ajudar os irmãos?’ Depois pensei: ‘Cuidado! pode ser uma armadilha. Talvez planejem seguir-me, na esperança de os levar aos irmãos.’”

“Em vez de voltar diretamente para casa”, lembrou o irmão Prosser, “dirigi a caminhoneta pela ponte e à cidade, para ver se havia alguma correspondência no correio. Não queria fazer nada que dificultasse a situação para os irmãos. Mas estava desesperadamente querendo vê-los, para assegurar-lhes que todos estávamos bem e para dar-lhes algumas orientações para os dias à frente.

“Comecei a voltar para casa, todo o tempo pensando em como contatar os irmãos. De repente, levantou-se um vento forte e começou a cair uma chuva torrencial. Sem qualquer aviso, passou velozmente por mim uma motocicleta com duas pessoas. Eu me perguntei quem seria, visto que era perigoso passar assim numa ponte estreita, especialmente numa chuva torrencial. Quando a moto estava na minha frente, o homem na garupa virou a cabeça e levantou seu capacete, de modo que pude reconhecê-lo. Para meu espanto, era um membro da Comissão de Filial! E o motoqueiro era outro membro! Eu não os havia visto por dias, por termos estado sob prisão domiciliar no lar missionário/Betel.

“A chuva continuou a cair forte, e a maioria das pessoas correu em busca de abrigo. Eu dirigi a caminhoneta pela ponte, passei pela rua que levava à nossa casa e parei no acostamento . . . orando . . . aguardando . . . esperando ver meus irmãos, talvez pela última vez.

“Pareceu passar muito tempo, mas finalmente encostou ao lado a moto com os dois irmãos. Foi uma ocasião ideal para falar, visto que ninguém estava por perto, por causa da chuva. Eu disse aos irmãos que era preciso levar os registros da Sociedade para outro lugar, por causa do que a polícia dissera no interrogatório. Consideramos também assuntos referentes aos pioneiros especiais, as providências para que os superintendentes de circuito visitassem rapidamente todas as congregações, informando-as sobre o que estava acontecendo, e planos para continuar as reuniões em grupos pequenos, em lares particulares. Parecia certo de que em breve viria a proscrição.”

Busca feita no lar missionário/Betel

Na tarde de terça-feira, 27 de abril, os militares cercaram o lar missionário/Betel. Portavam armas automáticas. Postaram um soldado na entrada, outro na porta dos fundos e outros no jardim. Mandaram todos os missionários descer ao refeitório e os mantiveram ali sob a mira de armas. Um por um, os missionários foram levados aos seus quartos, onde os soldados fizeram uma busca, pensando que podiam encontrar informações para provar que os missionários eram espiões americanos ou revolucionários estrangeiros. Os soldados entraram no quarto de Margarita Königer e começaram a busca. Ora! Tinham agora nas mãos alguns documentos incriminatórios — ou assim pensavam. Tinham pegado o testamento do pai da irmã Königer na língua alemã! Eles tinham certeza de que se tratava duma mensagem em código. No quarto de Peter Pompl encontraram o que achavam ser uma fórmula secreta, mas que na realidade era uma receita médica para pé-de-atleta.

O quarto de Carlos e Mary Prosser foi o último em que fizeram a busca. Numa mala, os soldados encontraram uma grande soma de dinheiro. Tinha sido retirada da conta bancária da Sociedade dois dias antes, por se temer que a conta talvez fosse bloqueada. Visto que todos os missionários tinham estado por algum tempo sob prisão domiciliar, não haviam conseguido tirar o dinheiro da casa. Por algum motivo, quando os soldados o encontraram, eles quase que ficaram com medo de tocá-lo e colocaram-no rapidamente de volta na mala. A quantia inteira foi depois entregue intata à filial em Lagos, na Nigéria.

A irmã Prosser descreve a cena: “Um dos soldados me disse: ‘A senhora já está aqui por muito tempo, de modo que certamente conhece os nomes de alguns dos encarregados da sua congregação.’ Respondi: ‘Ora, o senhor sabe como é aqui; ninguém é realmente chamado pelo seu nome inteiro. Conhecemo-los como Papai Emanuel ou Mamãe Eugênia, e assim por diante. Eu realmente não sei como todos escrevem seu nome.’ O soldado que fez a pergunta teve de rir, e disse: ‘A senhora realmente já está aqui por muito tempo!’”

A irmã Prosser prossegue: “Notamos que um dos homens tinha parado de fazer a busca no nosso quarto e estava sentado. Seu oficial comandante notou isso e mandou que prosseguisse com o serviço. A resposta dele foi tocante, ao levantar os olhos e dizer: ‘Já conheço o senhor e a senhora Prosser por muitos anos, e eles muitas vezes consideravam a Bíblia comigo na minha casa. Como posso agora vir para cá e fazer uma busca no seu quarto?’”

Os soldados terminaram a busca no quarto do casal Prosser e desceram. Não haviam encontrado nada incriminatório. A maioria dos missionários já havia passado boa parte da noite retirando os nomes das pastas do arquivo, que por acaso ainda estavam na filial. Esses nomes foram eliminados pela descarga do vaso sanitário ou então foram queimados. Durante a busca, um dos guardas notou um monte de cinzas no jardim e perguntou de que era. “Ora, é ali que queimamos nosso lixo”, respondeu o irmão Prosser. Ambos, o guarda e o irmão Prosser, sabiam que ali se tinham queimado documentos importantes.

“Ora, vejam só”, gritou um dos soldados que fazia a busca na área da expedição. Os soldados haviam encontrado as fitas junto com o texto dum drama bíblico dum congresso de distrito. Tinham certeza de que os nomes dos personagens do drama tinham de ser os dos homens-chave da organização. Alegremente ajuntaram as fitas e o texto como evidência.

À Sûreté Nationale

Os soldados mandaram que os missionários pegassem seus passaportes, e os levaram à Sûreté Nationale (Segurança Nacional), um órgão do Ministério do Interior. Seus papéis de deportação foram lidos para eles — os missionários seriam levados de carro até à fronteira e expulsos na hora, sem mesmo deixá-los voltar para casa, para pegar seus pertences. Felizmente, já era então tarde, e a maioria dos policiais tinha ido para casa. Visto que não havia ninguém para escoltá-los até a fronteira, os missionários foram mandados de volta para casa e deviam estar prontos para partir às 7 da manhã.

“Quando chegamos em casa”, conta o irmão Prosser, “já era bem mais de 20 horas. Sabíamos que seria uma noite difícil. Milhares de revolucionários haviam cercado nossa casa e entoavam lemas políticos, urinando contra a parede e chamando os missionários de nomes feios. Essa conduta durou a noite inteira. Ninguém dormiu muito, se é que dormiu, porque não sabíamos o que a turba irada lá fora podia fazer. Alguns se perguntavam no íntimo se seriam feridos naquela noite, ou se viveriam para ver o dia seguinte. As irmãs não fraquejavam nem choravam, mas se mantinham ocupadas em fazer as malas e em encorajar umas às outras. Graças a Jeová, os revolucionários não entraram na casa, e ninguém foi atacado fisicamente. No entanto, a tensão emocional e a hostilização psicológica foram uma prova que os missionários só conseguiram suportar com o apoio de Jeová, com oração e encorajamento mútuo.” Como era importante nos ajudar uns aos outros e confiar em Jeová nas próximas horas!

O último dia em Benin

Os primeiros raios do sol da manhã passavam pelas nuvens por volta das 6 horas da manhã, anunciando o começo dum novo dia. Era o dia 28 de abril — uma data que não seria prontamente esquecida. Como era seu costume, os missionários se reuniram para o desjejum às 7 horas, para considerar o texto do dia. Este certamente não era um dia para se negligenciar o estudo da Palavra de Deus! Todos os missionários sabiam que precisariam ter força especial para passar o dia.

Theophilus Idowu, um nigeriano que anos antes aprendera a língua gun, servia de tradutor na filial, embora não morasse na propriedade. Ele estivera observando de perto toda essa situação, do lado de fora. Visto que ninguém podia entrar ou sair, não havia pão para o desjejum dos missionários. O irmão Idowu sabia disso, de modo que foi à padaria, comprou pão e apresentou-se ao soldado no portão de Betel como entregador de pão. Ele trajava roupa velha e esfarrapada, usando um chapéu puxado sobre o rosto, para que ninguém da gente ainda lá fora o reconhecesse. O guarda o deixou entrar. Como os missionários ficaram animados ao verem mais uma vez o rosto sorridente do querido irmão Idowu! Este simples gesto deu um novo sentido à oração: “Dá-nos hoje o nosso pão para este dia.” (Mat. 6:11) Deveras, os missionários viam a mão de Jeová no assunto e isso lhes dava força.

“Bang! Bang! Bang!” Alguém estava batendo no portão principal. Ao começar a consideração do texto do dia, ouviu-se lá fora muita comoção. O chefe distrital e outros revolucionários tinham erguido um mastro de bandeira, em sinal de que esse prédio pertencia doravante “ao povo”. Mandaram que os missionários saíssem para participar na cerimônia do hasteamento da bandeira. Esses não tinham certeza se seriam levados à força, mas todos estavam decididos a não participar nisso. Um dos missionários, Paul Byron, declarou: “Terão de arrastar-me à força para fora.” Seu comentário serviu para fortalecer a determinação dos outros missionários. Por algum motivo — talvez pela intervenção de Jeová — os soldados não forçaram os missionários a sair. Isto lhes deu mais alguns minutos para terminarem a consideração do texto do dia.

Após a cerimônia do hasteamento da bandeira, os oficiais militares mandaram que os missionários trouxessem seus pertences para baixo. Estes foram cabalmente vasculhados, permitindo-se-lhes levar apenas o que havia nas malas. Todos os outros bens tiveram de ser deixados. Os soldados levaram o irmão Prosser pelos quartos do Betel, para trancar as portas, e exigiram que lhes entregasse as chaves. A filial foi confiscada! Foi com coração pesaroso que uns poucos irmãos locais observaram toda esta cena de certa distância, fora dos muros de Betel, quando seus queridos missionários foram tirados do seu lar, escoltados como criminosos por uma guarda armada.

Deportados!

Os missionários foram de novo levados à Sûreté Nationale, e a cada um deles foi entregue o documento de deportação. Todos, com exceção de Margarita Königer e Gisela Hoffmann, foram embarcados na caminhoneta da Sociedade e levados para a fronteira da Nigéria. As irmãs Königer e Hoffmann foram mais tarde levadas para a fronteira de Togo.

O guarda armado sentado no veículo junto com a maioria dos missionários estava muito tenso. Tinha certeza de que escoltava criminosos perigosos até a fronteira. No entanto, permitiu que o veículo parasse para ser abastecido de gasolina. O jovem frentista no posto, reconhecendo o veículo da Sociedade, perguntou o motivo de todo este rebuliço. “Somos missionários, sendo deportados por pregar sobre a Bíblia”, respondeu triste o missionário. “Não se preocupem, vocês vão voltar algum dia”, respondeu ele. As palavras do jovem mostraram-se verazes, mas não imediatamente.

Sob proscrição

O jornal Ehuzu, de Benin, de 30 de abril de 1976, levava a manchete “PROSCRITA A SEITA DAS ‘TESTEMUNHAS DE JEOVÁ’ NA REPÚBLICA POPULAR DE BENIN”. Perseguição não era novidade para os do povo de Jeová neste país. Desde os primeiros anos, Satanás tem trabalhado arduamente para impedir que as águas da verdade penetrassem neste baluarte da religião falsa.

Nos dias, nas semanas e nos meses depois da expulsão dos missionários, muitos irmãos — mais de 600 — fugiram do país com pouca coisa material, mas com muita espiritual. Muitos dos que ficaram, tanto jovens como idosos, foram impiedosamente espancados. Outros perderam todos os seus pertences e seu emprego.

Os irmãos que ocupavam cargos de importância na força de trabalho foram os mais atingidos, visto que se esperava que encerrassem cada carta, atendessem as chamadas telefônicas e cumprimentassem as pessoas com lemas políticos tais como “Pronto para a revolução?” e “A luta continua!”. Apollinaire Amoussou-Guenou tomava conta duma clínica na região de Cotonou. Ele se negava a participar em tais atividades, por dar seu apoio exclusivamente ao Reino de Deus. Os familiares suplicaram-lhe que repetisse os lemas, mesmo que realmente não concordasse com o que iria dizer. “Pense nos seus filhos”, lembrou-lhe um jovem sobrinho. Quando a perseguição contra o povo de Jeová se intensificou, ele decidiu sair de Benin, indo para a Nigéria.

Da Nigéria, ele escreveu: “Em relativamente pouco tempo, perdi tudo em sentido material — casa, automóvel e trabalho. Moro agora numa casa em construção, aqui na Nigéria. Não há nem janelas, nem portas, nem cimento no piso. Meus nove filhos estão comigo e, felizmente, os dois mais velhos encontraram emprego. Temos de lutar contra vermes, mosquitos, chuva e o frio. Um irmão nos deu uma pequena cama, que usamos como berço para nosso bebê de três meses. Contentamo-nos com o que temos, ao passo que continuamos a ter esperança no nosso amoroso Deus, Jeová, que em breve acabará com todas as lágrimas nos nossos olhos.” Depois de se impor a proscrição, os apuros de muitos irmãos eram similares aos dele.

“Cautelosos como as serpentes”

Essas condições não conseguiram impedir a religião verdadeira. Ainda havia muitos que prezavam grandemente ficar livres da servidão religiosa. Os superintendentes de circuito continuavam a visitar as congregações, porém, em geral apenas por dois ou três dias por vez. Os irmãos tinham de usar de cautela e de precaução para não ser presos. A maioria dos superintendentes de circuito usava roupa velha e suja ao entrar numa cidade, usualmente antes do amanhecer ou após o pôr-do-sol, para ninguém notar a sua chegada. Caso alguém suspeitasse de quem eram, eles sempre estavam prontos para trocar rapidamente de roupa. Zacharie Elegbe, agora membro da Comissão de Filial de Benin, lembra-se de visitar congregações como superintendente de circuito naquela época. “Lembro-me de certa vez passar o dia inteiro num silo de milho, feito de adobe, enquanto as autoridades me procuravam”, disse ele. “Eu podia ouvir suas vozes, mas eles nunca pensaram em me procurar no silo. No fim do dia, pude seguir caminho.”

Naquele tempo, para se realizar uma reunião maior era preciso obter permissão da prefeitura local. Os servos de Jeová, porém, mostraram ser “cautelosos como as serpentes, contudo, inocentes como as pombas”. (Mat. 10:16) Ao se saber que um casal queria casar-se, pedia-se às autoridades locais permissão para realizar uma recepção. Esta usualmente era concedida sem problema. O presidente costumava iniciar o programa por explicar como se realizaria a “recepção de dois dias”. Uma recepção de dois dias? Sim. Acontece que a recepção na realidade era um congresso de distrito em miniatura. Os recém-casados sentavam-se na fileira da frente, diante dos oradores, e proferiam-se discursos bíblicos em benefício dos recém-casados e da assistência feliz. Numa dessas ocasiões, na aldeia de Hetin, mais de 600 estavam presentes na “recepção”, e 13 foram batizados. Muitos dos aldeões mencionavam que as Testemunhas de Jeová tinham recepções de casamento muito estranhas — especialmente quando souberam do batismo! Os funerais também ofereciam oportunidades para realizar assembléias.

As publicações bíblicas eram trazidas ao país de diversos modos — de canoa, de bicicleta, em mochilas, por trilhas no mato ou de outras maneiras que na ocasião parecessem apropriadas. Nem todas as autoridades se opunham violentamente ao nosso trabalho. Assim, em 1984, quando dois irmãos jovens cruzaram um rio de canoa, com uma carga de publicações procedente da Nigéria, foram surpreendidos por dois inspetores da alfândega no lado de Benin. Apreenderiam as publicações, ou seriam os irmãos espancados e presos? “O que há nos sacos?” quis saber um dos inspetores. “Publicações bíblicas”, responderam os irmãos. “Mostrem-nos.” Os irmãos ofereceram a cada um deles um exemplar da brochura Viva Para Sempre em Felicidade na Terra!, que aceitaram prontamente. “Ainda estão trazendo publicações para as Testemunhas de Jeová?” Os irmãos ficaram tensos, sem saber o que dizer. “Vão embora”, disse o inspetor da alfândega. Os dois irmãos agradeceram silenciosamente a Jeová. Exemplos assim fortaleciam a confiança dos irmãos em que Jeová abençoava seus esforços de levar alimento espiritual aos irmãos “no tempo apropriado”. — Mat. 24:45.

“A palavra de Deus não está amarrada”

As Testemunhas que ainda estavam em Benin não podiam refrear-se de falar sobre as verdades preciosas que tinham no coração. Foi assim que houve uma mudança na vida de Maurice Kodo. Ele era professor numa escola em Calavi, uma localidade a uns 20 quilômetros de Cotonou. Imaginava que, sendo uma boa pessoa, iria para o céu. No entanto, quando entrou em contato com as Testemunhas de Jeová, aprendeu da Bíblia que se exigia mais dele, se quisesse ter a aprovação de Deus. Um primo apresentou Maurice a um vizinho que era Testemunha, e este vizinho, notando o interesse de Maurice na Bíblia, ofereceu-lhe prontamente um estudo bíblico domiciliar, gratuito. Maurice e sua esposa começaram a estudar a Bíblia e progrediram rapidamente. Ele logo queria participar na pregação, visto que estava convencido de ter encontrado a verdade. Naturalmente, os irmãos tinham de ter certeza da sua sinceridade. Outros haviam fingido interesse, só para traí-los. No entanto, este não era o caso de Maurice Kodo. Ele aproveitava todas as oportunidades para falar sobre a verdade a parentes, amigos e colegas de trabalho.

Então, em 11 de fevereiro de 1982, o irmão e a irmã Kodo foram presos. Foram encarcerados junto com o irmão que havia estudado a Bíblia com eles e com um recém-interessado com quem o irmão Kodo estudava. Por quê? Ou eram Testemunhas de Jeová ou haviam falado aos vizinhos sobre o Reino de Deus, ou mostrado interesse no que as Testemunhas ensinavam. Segundo o relatório preparado pelas autoridades, a aldeia de Calavi estava se tornando “uma colméia de atividade” das Testemunhas de Jeová. Isto desagradava muito às autoridades.

Os quatro presos, incluindo a esposa do irmão Kodo, foram postos numa cela junto com o pior tipo de criminosos e nas condições mais desumanas. Foram informados de que podiam ficar livres se fizessem uma coisa simples — assinar uma carta, dizendo que deixariam de ser Testemunhas de Jeová. Nossos irmãos se recusaram terminantemente a fazer isso. Não podiam negar o seu Deus, Jeová. Sua dedicação a ele era incondicional e não era negociável. Esta atitude enfureceu os oficiais, e eles confiscaram todas as publicações bíblicas que os irmãos tinham consigo na cela.

Os dois filhos do irmão e da irmã Kodo, Nadine e Jimmy (respectivamente de seis e de três anos), adoeceram. A irmã Kodo perguntou se podia voltar para casa, a fim de cuidar dos seus filhos doentes. Isto lhe foi negado, mas se concedeu permissão para que cuidasse deles na prisão. Havia então seis na prisão, incluindo os filhos!

Como iam celebrar a iminente Comemoração? Os irmãos locais conseguiram levar-lhes sorrateiramente pão asmo e vinho para a celebração. O irmão Kodo recorda-se: “Foi estranho. Enquanto celebrávamos a Comemoração, havia certa calma na prisão, de modo que nossa celebração da Comemoração não foi perturbada.”

Por fim, o oficial local responsável pelo seu encarceramento foi transferido para outra parte do país. O homem que o substituiu era mais favorável; assim, em 26 de maio, três meses e meio depois de presos, foram libertados.

Quatro anos mais tarde, o irmão Kodo ficou novamente atrás das grades duma prisão — esta vez por não repetir lemas políticos. Ele contou depois como aproveitou sabiamente o tempo: “Servi como pioneiro auxiliar enquanto na prisão. Esta vez, pude manter um bom suprimento de publicações para uso no ‘meu território pessoal’. Preguei aos outros detentos, aos guardas e aos policiais, e dirigi muitos estudos bíblicos.” Embora ele estivesse na prisão, ‘a palavra de Deus não estava amarrada’. — 2 Tim. 2:9.

Olhando para trás, os irmãos concordam que a aldeia de Calavi deveras se tornou “uma colméia de atividade” do povo de Jeová. Seu número aumentou, de 4 publicadores em 1982 a ponto de haver agora duas congregações prósperas ali, com mais de 160 publicadores. Desde o seu batismo, o irmão Kodo teve o privilégio de ajudar mais de 30 pessoas a obter a liberdade, não das cadeias duma prisão, mas de Babilônia, a Grande, o império mundial da religião falsa.

Em fins dos anos 80, começaram a ocorrer mudanças no governo. Ninguém tinha certeza do resultado. Mas a ferrenha perseguição movida aos do povo de Jeová começou a abrandar. Em algumas regiões, mas não em todos os lugares, podiam até mesmo realizar abertamente as reuniões.

“Sou apenas precursor”

Durante essa época, aconteceu algo que indicava que ainda havia muitos em Benin que de bom grado aceitariam as verdades libertadoras da Palavra de Deus. Pierre Awhanto ficou desanimado com a hipocrisia religiosa, com o amor ao dinheiro e com a imoralidade na Eglise du Christianisme Celeste (Igreja do Cristianismo Celeste), da qual era membro. Embora essa igreja praticasse a cura pela fé, ela não foi capaz de salvar o filho dele da morte. ‘Deus chamou seu filho para o céu’, disse-lhe o pastor. Dessatisfeito com esta explicação e perturbado com as práticas permitidas na igreja, deixou-a em 1973, com a intenção de fundar a sua própria religião. Ele queria uma religião livre da hipocrisia e das práticas iníquas que tinha observado em outras partes.

Tornou-se assim auto-proclamado fundador e pastor da Igreja Ayi-Wiwé (do Sagrado Coração). Em 1964, ele tinha sido contatado pelas Testemunhas de Jeová. Ele as admirava. Tinha certeza de que, se estabelecesse a sua própria igreja, ele também poderia ter uma religião livre da ganância e da imoralidade, assim como as Testemunhas de Jeová. Em pouco tempo, sua igreja aumentou para mais de 2.700 seguidores em 21 congregações. Ele gozava de influência e de riqueza.

Certo dia, veio a ele um homem para ser curado. Tinha uma infecção na pele, que já persistia por bastante tempo. Pierre Awhanto curou-o. O homem ficou tão satisfeito, que lhe deu uma casa como recompensa!

No entanto, a imoralidade e a ganância, as mesmas práticas que haviam motivado Pierre Awhanto a fundar a sua própria religião, começaram então a infiltrar-se na sua igreja. Ele passou a dar-se conta de que, se quisesse a adoração pura, não podia só imitar o povo de Jeová — teria de se tornar parte dele. Passou a estudar a Bíblia com as Testemunhas de Jeová. Aos poucos, começou a ensinar do púlpito o que estava aprendendo no seu estudo da Bíblia com as Testemunhas. Muitas vezes ele terminava seus sermões com a curiosa declaração: “Sou apenas precursor. Os genuínos portadores da verdade virão mais tarde.” Muitos dos que o ouviam se perguntavam o que isso significava.

Depois de aumentar a freqüência dos seus estudos com as Testemunhas para duas vezes por semana, ele se deu conta de que teria de tomar uma decisão. Convocou todos os seus pastores para uma reunião. Havia 28 deles. Usando as Escrituras, explicou a diferença entre a religião verdadeira e a falsa. Naquela reunião, tomou-se a decisão de eliminar todas as imagens nas igrejas deles e que os clérigos não mais usariam vestes especiais. Mandou-se então que os pastores contatassem as Testemunhas na sua própria localidade, para ter um estudo bíblico domiciliar. Os pastores de muitas das igrejas começaram a fazer o que Pierre Awhanto fizera. Nas quartas-feiras, os líderes da igreja estudavam a Bíblia, e aos domingos baseavam seus sermões no que haviam aprendido. Mais tarde, o arranjo de quarta-feira tornou-se o Estudo de Livro de Congregação, e o sermão de domingo, um discurso público.

Em 1989, Pierre Awhanto convocou uma reunião de todos os seus seguidores. Mais de 1.000 estiveram presentes na reunião em Porto-Novo. Naquela ocasião, ele lhes disse: “Lembram-se de que eu costumava terminar meus sermões por dizer: ‘Sou apenas precursor. Os genuínos portadores da verdade virão mais tarde’? Eles finalmente vieram — são as Testemunhas de Jeová!” Este anúncio deu margem a uma sessão de perguntas e respostas que durou sete horas! Nem todos consideravam isso como boas novas. Alguns preferiam seu próprio modo de vida, que incluía ter várias mulheres. No entanto, só em Benin, mais de 75 ex-membros da Igreja Ayi-Wiwé já foram batizados e outros cerca de 200 estão estudando e progredindo com o mesmo objetivo. Muitos do grupo também aprendem a ler e a escrever.

Quanto a Pierre Awhanto, ele foi batizado em junho de 1991. Cortou legalmente todos os laços com a sua religião anterior. Oito das suas anteriores igrejas foram convertidas em Salões do Reino. E que dizer da casa que recebera como presente do homem a quem tinha curado? O irmão Awhanto a devolveu a ele. É compreensível que o homem tenha ficado muito surpreso. Mas o nosso irmão explicou que agora, que tinha encontrado a verdade, ele sabia que qualquer cura que havia conseguido realizar não fora o resultado do poder de Deus, mas sim dos demônios.

Como anima ver pessoas — sim, mesmo um grande número delas — serem libertadas dos erros religiosos e obter “um conhecimento exato da verdade”. (1 Tim. 2:4) E chegara a ocasião de se poderem reunir livremente para ser instruídas na Palavra de Deus.

Um dia que não será esquecido

Em 24 de janeiro de 1990, dois irmãos de Benin viajaram a Lagos, Nigéria, com um documento importante na mão. Queriam avisar a filial na Nigéria, que cuidara da obra em Benin durante aqueles anos difíceis, que o Decreto N.º 004, de 23 de janeiro de 1990, proclamava que o decreto anterior (N.º 111, de 27 de abril de 1976), que proscrevia a obra das Testemunhas de Jeová na República de Benin, doravante era írrito e nulo! Por fim, as Testemunhas de Jeová estavam oficialmente livres para pregar em público e para realizar reuniões cristãs! Como seriam as Testemunhas locais informadas disso?

Fizeram-se planos para uma reunião em Cotonou. Todavia, os irmãos que a organizaram não divulgaram de antemão o motivo da reunião. As Testemunhas locais não podiam deixar de se perguntar por que estavam sendo convidadas a um salão público no centro de Cotonou. Ao chegarem, como ficaram surpresas de ver uma grande faixa dando boas-vindas às Testemunhas de Jeová! ‘Como se pôde fazer isso? Somos proscritos’, pensavam muitos dos irmãos. Alguns se perguntavam: ‘Será uma armadilha?’

A reunião era para começar às 10 horas da manhã, mas às 9 horas todos os assentos já estavam tomados. Dentro do salão havia duas grandes faixas. Uma exibia as palavras de Revelação 4:11: “Digno és, Jeová, sim, nosso Deus, de receber a glória, e a honra.” A outra destacava o Salmo 144:15: “Feliz o povo cujo Deus é Jeová!”

Quando a reunião começou, o presidente anunciou que, segundo o documento que tinha na mão, “o governo anulou a proscrição da nossa obra!” O irmão Olih, membro da Comissão de Filial da Nigéria, que estava presente, conta: “Os aplausos e as palmas que aclamaram este anúncio foram tais que, se o prédio não tivesse sido bem construído, teria desmoronado sob a crescente avalanche de estrondosas ovações. Daí, as palmas pararam de repente, como se os presentes se quisessem lembrar do que fora dito. Então começaram de novo, e isto durou por alguns minutos. O presidente mencionou o Salmo 126, mas não conseguiu lê-lo por causa das palmas. Muitos de nós, inclusive o presidente, tínhamos lágrimas nos olhos. Era como presenciar uma cena de ressurreição, ao passo que os irmãos olhavam uns para os outros e seguravam as mãos uns dos outros, em gratidão e alegria.”

Nos discursos que se seguiram, os irmãos foram elogiados pela sua perseverança durante os 14 anos de proscrição. Não era a ocasião para se verterem lágrimas amargas, mas chegara o tempo para edificar, para usarem sabiamente a recém-encontrada liberdade, empreendendo o serviço de pioneiro, se a sua situação o permitisse, ou habilitando-se para outros privilégios de serviço nas congregações. Seria importante continuar a confiar em Jeová, que agora dera a vitória ao seu povo! A reunião durou quatro horas sem interrupção, mas para os presentes parecia ser de apenas poucos minutos.

O último orador mencionou que, apenas poucos dias antes, quando os irmãos se encontravam na rua, tinham cuidado para não traírem uns aos outros. Mas agora, foram informados de que podiam recuperar o tempo perdido por cumprimentar livremente seus irmãos. Cerca de duas horas depois da oração final, feita de todo o coração, muitas Testemunhas ainda estavam diante do prédio, abraçando-se e beijando-se, e revendo conhecidos. A liberdade religiosa tinha um sabor agradável. Mas como iriam os irmãos usar agora esta liberdade?

Alegres por poderem reunir-se para adoração

Era preciso limpar, pintar e reparar Salões do Reino, para ficarem em condições de uso. Os irmãos contribuíram liberalmente seu tempo e seus recursos para este trabalho. A Sociedade providenciou que os superintendentes de circuito visitassem rapidamente todas as congregações, passando dois ou três dias em cada uma. Começara a reorganização.

Que alegria é ver as famílias vindo novamente aos seus Salões do Reino! A assistência às reuniões costuma ser duas ou três vezes maior do que o número de publicadores. Muitos chegam de bicicleta; alguns de motocicleta ou de piroga. Outros vêm a pé, e mesmo tendo de andar alguns quilômetros, isso não os impede. As mamães carregam o filho mais novo nas costas, num pano envolto no torso. Os filhos mais velhos ajudam os mais novos. O pai freqüentemente carrega os livros preciosos usados nas reuniões — preciosos porque, por meio deles, Jeová fornece instruções, preciosos também porque cada um dos livros grandes pode representar o salário de um dia.

Com o tempo, todos os Salões do Reino, no país inteiro, o lar missionário em Porto-Novo e a propriedade da filial em Cotonou, confiscados durante a proscrição, foram devolvidos aos seus donos legítimos. As reformas básicas na filial e no lar em Porto-Novo foram feitas prontamente, e em agosto de 1990, menos de um mês depois da devolução da propriedade à Sociedade, realizou-se ali uma assembléia com uns 2.000 presentes. Todos se aperceberam de que as Testemunhas de Jeová usavam de novo esta propriedade para o seu trabalho de educação bíblica.

A filial em Benin começou a funcionar de novo em setembro de 1991, possibilitando um contato mais estreito com os irmãos e dar-lhes maior ajuda nas suas necessidades espirituais.

Ansiosas de dar testemunho da verdade

As Testemunhas de Jeová em Benin queriam pregar as boas novas do modo como seus irmãos faziam em outros países. Durante os 14 anos de proscrição, o testemunho se dava na maior parte de forma informal. Mesmo alguns dos anciãos nunca tinham dado testemunho de casa em casa. Mas, com um pouco de encorajamento e instrução, começaram a fazer isso.

Em Benin, dar testemunho não é difícil. As pessoas, em geral, gostam da Bíblia. Muitas vezes convidam a Testemunha visitante a sentar-se e escutam com atenção. Enquanto as Testemunhas vão de uma casa para outra, não é incomum que alguém numa bicicleta as chame, pedindo os números mais novos de A Sentinela e Despertai!.

É bastante comum que muitos da mesma família morem em casas ao redor dum mesmo pátio. Por respeito, a Testemunha pede para falar primeiro com o chefe da família. Depois se fazem visitas aos filhos adultos dele e às famílias deles, cujas casas dão para o mesmo pátio.

Para mostrar seu apreço por tudo o que Jeová fez por eles, centenas entraram no serviço de pioneiro após o fim da proscrição. Em 1989, havia 162 pioneiros especiais, regulares e auxiliares; em 1996, havia 610 deles.

Que tipo de receptividade têm tido? Um casal de pioneiros especiais foi designado para uma cidade onde não havia Testemunhas. Em poucos meses, chegou a época da Comemoração da morte de Cristo. Os interessados naquela cidade souberam que costumamos celebrar a Comemoração num Salão do Reino, mas ali não havia nenhum. Um desses interessados falou a um homem que tinha um terreno grande e perguntou se podiam limpar uma parte dele para construir um Salão do Reino. O homem era favorável ao trabalho das Testemunhas, de modo que concordou. Em poucos dias, os dois pioneiros especiais e os interessados haviam limpado o terreno e construído um lindo Salão do Reino com paredes de folhas de palmeira trançadas e uma cobertura de sapé. Na entrada havia dois arcos feitos de ramos de palmeira e decorados com flores. Quando uma sacerdotisa vodu, local, tentou instigar oposição, os anciãos da cidade responderam: “A senhora não é dona do terreno nesta localidade. Queremos que as Testemunhas de Jeová fiquem aqui. Se elas forem embora, a senhora também irá!” Ela não causou mais dificuldades. Na Comemoração, havia 110 pessoas presentes, das quais apenas os pioneiros especiais eram Testemunhas batizadas.

Um local para congressos

Pouco depois do fim da proscrição, adquiriu-se um terreno de 5 hectares, em Calavi, uma localidade perto de Cotonou, e mais tarde se comprou um terreno adjacente de 4 hectares. Foi nesta localidade que alguns dos nossos irmãos haviam ficado encarcerados, porque as autoridades disseram que a região era “uma colméia de atividade” das Testemunhas de Jeová. Como se tornaram verazes essas palavras! Em 1990, o povo de Jeová pôde realizar ali um congresso em liberdade e no seu próprio terreno!

Mas como se podia construir um local de congresso para 4.000 pessoas, a um custo ao alcance dos meios de nossos irmãos? Dum modo típico das Testemunhas de Jeová no oeste da África. Os irmãos foram ao mato e cortaram bambus e folhas de coqueiro. Os colmos de bambu serviram de assentos. Fincaram-se no chão troncos que sobressaíam dele uns 50 centímetros, em intervalos de 1,2 metro. Estes serviram de pés para os assentos. Dois colmos mais longos de bambu foram colocados sobre os troncos de 50 centímetros de altura e amarrados. Pronto! Lá estava um banco para 15 pessoas. Usaram-se colmos maiores de bambu para sustentar a estrutura do teto, no qual se trançaram folhas para a cobertura. Embora tal construção não seja à prova de água, abriga contra o quente sol africano, e os dentro dela sentem-se bastante confortáveis.

No devido tempo, pretende-se construir novos prédios para a filial, bem como um Salão de Assembléias, com as laterais abertas, de material mais durável.

Os missionários retornam

Cerca de três meses depois da suspensão da proscrição, emitiu-se outro decreto governamental. Este anulava o decreto que resultara na deportação dos missionários em 1976, e declarava que as Testemunhas de Jeová estavam livres para fazer trabalho missionário em Benin.

Em resposta a esta ação oficial, em novembro de 1990, designaram-se novamente missionários para Benin. Tab e Janis Honsberger, que haviam servido em Dacar, Senegal, foram designados para Benin. Michel Muller e sua esposa, Babette, bem como Claude e Marie-Claire Buquet, chegaram a Benin alguns dias depois. Eles tinham servido recentemente no Taiti.

O irmão Honsberger se lembra: “Ficamos agradavelmente surpresos com a reação das pessoas que encontramos quando começamos a pregar de porta em porta na nossa nova designação. Elas até nos davam boas-vindas a Benin! Um homem disse que, quando os missionários das Testemunhas de Jeová partiram anos atrás, o país começou a ir água abaixo.” Lembre-se das palavras do jovem frentista num posto de gasolina, dirigidas aos missionários que partiam 14 anos antes: “Não se preocupem, vocês vão voltar algum dia.” Suas palavras se haviam cumprido — os missionários tinham voltado!

O irmão Buquet chama Benin de paraíso para os missionários, porque muitos dos beninenses têm um profundo amor a Deus e à Bíblia. Muitos dos mais de 50 missionários que agora servem em Benin já foram parados na rua por alguém que queria um estudo bíblico ou saber a resposta a uma profunda pergunta bíblica!

Uso sábio da liberdade

Anos atrás, habitantes de Benin foram vendidos como escravos e levados de navio para o além-mar. Terrível como isso foi, outro tipo de escravidão, resultante da religião falsa, persiste até o presente. Ela aprisiona o coração e a mente de pessoas que talvez achem que estão livres. Às vezes, ela causa mais medo do que o chicote dum feitor de escravos.

Milhares de pessoas em Benin foram libertadas de tal servidão e se tornaram alegres Testemunhas de Jeová. Sabem também o que significa ‘não fazer parte do mundo’, em imitação de Cristo. Em resultado disso, estão livres da servidão ao “governante deste mundo”, de quem Jesus disse que não tinha poder sobre ele. (João 12:31; 14:30; 15:19) Os anos de intensa perseguição sofrida pelas Testemunhas de Jeová em Benin não as levaram de volta à servidão. Elas conheciam bem as palavras de Jesus Cristo: “Se me perseguiram a mim, perseguirão também a vós.” (João 15:20) E sabiam que o apóstolo Paulo havia escrito: “Todos os que desejarem viver com devoção piedosa em associação com Cristo Jesus também serão perseguidos.” (2 Tim. 3:12) Embora por algum tempo ficassem privadas da liberdade de se reunir abertamente para a adoração e para dar a outros testemunho em público — algumas sendo até mesmo mantidas em prisão — ainda assim, continuavam a ter liberdades que nenhum humano lhes podia tirar.

Agora já se passaram cerca de sete anos desde a suspensão da proscrição e de as Testemunhas de Jeová terem recebido novamente reconhecimento legal. Será que nossos irmãos beninenses usaram sabiamente esta liberdade? Pouco antes da imposição da proscrição, havia cerca de 2.300 proclamadores do Reino ativos no país. Agora há mais do que o dobro deste número. Quanto aos que participam no ministério de tempo integral, são agora três vezes mais. Muitos aceitam o convite de ‘tomar de graça a água da vida’. (Rev. 22:17) Quando as congregações se reúnem para a Comemoração da morte de Cristo, junta-se a elas um grande número de pessoas interessadas, de modo que a assistência é quatro vezes maior do que o número de Testemunhas. É óbvio que se precisa fazer ainda muito mais para ajudar esses interessados a reconhecer e a aplicar todas as coisas que o próprio Jesus ordenou. — Mat. 28:19, 20.

Há também muitas situações difíceis que as pessoas precisam enfrentar enquanto este velho sistema de coisas continuar. No entanto, é animador visitar as congregações do povo de Jeová em Benin e observar de primeira mão a liberdade que a Palavra de Deus já deu às pessoas ali. Há aquele ex-polígamo na aldeia de Logou que, por causa do seu desejo de ter a aprovação de Jeová, livrou-se das tradições antibíblicas, locais, e agora vive com uma só esposa. Há aquele jovem na Congregação Togoudo Godomey, cujo pai lhe ofereceu a oportunidade de obter uma educação que muitos estariam ansiosos de aproveitar, e que prometeu que o filho, com o tempo, se tornaria sacerdote vodu, e herdaria a casa e as esposas do pai; mas o filho preferiu servir a Jeová. Há aquela irmã em Tori-Cada Zounmé, que antes passara muitos anos num convento vodu, mas que agora é pioneira regular. Um jovem, que costumava ganhar a vida roubando, revestiu-se da nova personalidade e serve agora como pioneiro especial em Kotan. Um ex-militar, que antes perseguia os do povo de Jeová, é agora pioneiro regular e servo ministerial. Estes, e muitos iguais a eles, atarefam-se em ajudar pessoas sinceras a aprender como se livrar da servidão religiosa, assim como eles mesmos foram ajudados. Sabem por experiência que, “onde estiver o espírito de Jeová, ali há liberdade”. — 2 Cor. 3:17.

[Foto na página 72]

Nourou Akintoundé voltou a Benin como pioneiro e ajudou muitos a começar a servir a Jeová

[Foto na página 80]

Aula de alfabetização em Sekandji (1996)

[Foto na página 86]

Germain Adomahou abandonou a poligamia para viver com sua primeira esposa, Vigue

[Foto na página 89]

Amasa Ayinla e sua família, quando era superintendente de circuito em Benin

[Foto na página 90]

Carlos e Mary Prosser, missionários, prontos para o serviço de campo

[Foto na página 95]

A Escola do Ministério do Reino, em 1975, na época de tensão política em Benin

[Foto na página 102]

Peter Pompl com Mary e Carlos Prosser — todos deportados de Benin — servem agora na Nigéria e em Camarões

[Foto na página 115]

Pierre Awhanto, anteriormente um auto-proclamado ministro, agora é ministro ordenado do verdadeiro Deus

[Fotos na página 116]

Reunião em que se anunciou a suspensão da proscrição

[Foto na página 118]

Local de assembléias em Calavi

[Fotos na página 123]

A filial em Benin, com a Comissão de Filial no ano de serviço que passou (da esquerda para a direita): Zacharie Elegbe, Tab Honsberger, Souʹou Hounye

[Gravura de página inteira na página 66]

    Publicações em Português (1950-2026)
    Sair
    Login
    • Português (Brasil)
    • Compartilhar
    • Preferências
    • Copyright © 2025 Watch Tower Bible and Tract Society of Pennsylvania
    • Termos de Uso
    • Política de Privacidade
    • Configurações de Privacidade
    • JW.ORG
    • Login
    Compartilhar