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Os escritos sagrados da ÍndiaPor Que Devemos Adorar a Deus com Amor e Verdade?
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Capítulo 3
Os escritos sagrados da Índia
O GURU NANAQUE E O GURU GRANTH SAHIB
Segundo o Guru Granth Sahib, o guru Nanaque, fundador do siquismo, nunca reconheceu plenamente a autoridade das escrituras hindus, porque ele se opunha às cerimônias védicas, ao sistema de castas e à adoração de uma multidão de deuses. Remontando, porém, à origem das crenças de Nanaque, o escritor sique Khushwant Singh observa: “Mesmo uma leitura casual de seus hinos revela a influência do Rigveda, dos Upanixades . . . e do Bagavat Gita.” Portanto, para entendermos o Guru Granth Sahib, precisamos examinar as fontes de seus ensinamentos — os Vedas, os Upanixades e o Bagavat Gita. — The Sikh Gurus and Sikh Religion (Os Gurus Siques e a Religião Sique), de Anil Chandra Banerjee, 1983, páginas 133-4.
O BRAMI — A RAIZ DA ESCRITA DA ÍNDIA
As escritas das línguas indianas, como sânscrito, hindi, punjabi, marata, malaiala, tâmil e bengali, “originaram-se basicamente do brami, a escrita usada pelo imperador Asoka no terceiro século a.C., segundo as mais antigas inscrições indianas existentes”. — Indian Manuscripts, Biblioteca Britânica, 1977, página 1.
“O brami, protótipo tradicional de todas as escritas indo-arianas, talvez tenha sido introduzido no oitavo ou sétimo século a.C.” — A Dictionary of Hinduism, de Margaret e James Stutley, 1977, página 267.
OS VEDAS
Os mais antigos hinos dos quatro Vedas (Rig-Veda, Iajur-Veda, Sama-Veda e Atarva-Veda) foram compostos quase 3.000 anos atrás e foram transmitidos oralmente de professor para aluno. “Foi só no século quatorze d.C. que o Veda foi assentado por escrito.” — A History of India, P. K. Saratkumar, 1978, página 24.
OS UPANIXADES
Mais de cem tratados sobre filosofia e misticismo hindus foram compostos cerca de 2.500 anos atrás. “Embora os mais antigos Upanixades já estivessem compilados por volta do ano 500 a.C., continuaram a ser escritos até a época em que se espalhou a influência maometana na Índia.” — A History of Indian Philosophy, de Surendranath Dasgupta, edição indiana de 1975, volume 1, página 39.
OS PURANAS
Uma forma de escritos em sânscrito de antigas lendas e de mitologia hindu. “Nenhum dos dezoito principais Puranas é anterior ao período dos Guptas (320-480 d.C.), embora grande parte da matéria lendária seja mais antiga.” — Hinduism, de M. Stutley, 1985, página 37.
MAHAVIRA E OS ÁGAMAS
Os ensinamentos englobados nas escrituras jainistas, coletivamente chamadas de ágamas, são atribuídos em parte a Mahavira e seus discípulos. Qual era a fonte de seus ensinamentos?
“A filosofia do jainismo inspirou-se principalmente no sistema ateísta Sankhya”, observa Epics, Myths and Legends of India (Epopéias, Mitos e Lendas da Índia), de P. Thomas, 1980, página 132. A filosofia de Sankhya (também Samkhya), por sua vez, baseia-se nos Upanixades e ensina que é possível a libertação do sofrimento e o renascimento por meio de conduta correta e práticas do ascetismo. Portanto, para entender as crenças jainistas, precisamos considerar sua origem: os Upanixades.
O GURU GRANTH SAHIB
Uma coleção de quase 6.000 hinos compostos por vários gurus siques, bem como por místicos hindus e muçulmanos. “O Guru-Granth foi compilado pelo quinto guru sique, Arjun, em 1604 d.C.” — Sri Guru Granth Sahib (Mestre Guru Granth Sahib), traduzido pelo Dr. Gopal Singh, 1987, volume 1, página XVIII.
AS EPOPÉIAS
O Ramayana conta a história de Rama, um príncipe que mais tarde governou na capital Ajodhya, norte da Índia, e foi deificado como o sétimo avatar de Víxenu.
O Mahabharata descreve o conflito entre duas famílias pelo domínio da parte superior da Índia há uns 3.000 anos.
“Tanto o Rāmāyaṇa de Vālmiki como o Mahābhārata de Vyāsa devem ter sido concluídos entre os anos 500 a.C. e 200 d.C., o primeiro na primeira metade desse período e o último na segunda metade.” — Advanced History of India, de K. A. Nilakanta Sastri e G. Srinivasachari, 1982, página 59.
OS ÁGAMAS
Escrituras jainistas compiladas em sânscrito e em prácrito sobre a vida e os ensinamentos de Mahavira, que viveu há mais de 2.400 anos. “O cânon das escrituras de Svetambara, que não recebeu forma definida até quase o ano 500 d.C., consiste em aproximadamente quarenta e cinco textos, em seis grupos.” — Abingdon Dictionary of Living Religions (Dicionário Abingdon de Religiões Vivas), editado por Keith Crim, 1981, página 371.
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Os Vedas: a busca da verdadePor Que Devemos Adorar a Deus com Amor e Verdade?
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Capítulo 4
Os Vedas: a busca da verdade
De todas as escrituras hindus, as mais antigas e mais importantes são os Vedas. Até hoje são a principal fonte das cerimônias hindus, realizadas por ocasião do nascimento, do casamento e da morte. Seus hinos revelam como os adoradores buscam a bênção de Deus e a prosperidade no cotidiano.
2 Os hindus ortodoxos crêem que os Vedas são Sruti, revelação de Deus, e, por conseguinte, isentos de erro e de imperfeição. Por outro lado, Buda, que é reverenciado por muitos como a nona encarnação de Víxenu, rejeitou a autoridade deles, descrevendo-os como uma ‘selva inexplorada’. Há uma variedade de outras crenças entre esses conceitos opostos.
3 Os richis (videntes) disseram que compuseram os hinos védicos com a sua própria ‘habilidade e conhecimento’.1 Num hino dedicado a Agni, certo richi ora assim: “Inspirado pela poesia, compus este hino em seu louvor . . . , tal como um habilidoso artista modela uma carruagem.”2 Como acontece com poetas e artistas, os richis se sentiram impelidos no íntimo a compor mais de mil hinos védicos. Qual é a importância desses?
O código moral védico
4 Guiados pela consciência, os richis expõem a imoralidade como algo ruim. Aconselham ao jogador: “Não jogue mais com dados, mas cultive seu campo.”3 Quando perturbados por uma consciência pesada, eles oram: “Se nós, humanos, cometemos alguma ofensa contra os deuses, ó Varuṇa, ou por descuido violamos suas leis, não nos cause dano, ó deus, por esse pecado.”4
5 Alguns dos hinos dos richis são inspirados nas qualidades que temos, de amor e bondade. Por exemplo, os membros da família são exortados a ser “achegados uns aos outros como um recém-nascido bezerro o é à vaca. . . . Que a esposa fale ao marido palavras doces, sempre propícias. Irmão não odeie seu irmão, nem irmã sua irmã”.5
A busca da verdade por parte dos richis
6 Os Vedas revelam a notável sede dos richis pela verdade. Revelam também os limites de seu entendimento. Para descobrirem o significado da vida, perguntam-se sobre a origem do Universo: “De que madeira ou de que árvore [os deuses] esculpiram o céu e a Terra?”, pergunta um richi.6 Certos hinos indicam que a matéria existiu antes de Deus, ao passo que outros declaram que foi Deus quem produziu a matéria com que formou o Universo.
7 Segundo ainda outro hino, os deuses fizeram o Universo imolando um homem cósmico. “A Lua foi produzida de sua mente (manas), o Sol (surya), de seu olho, . . . de sua cabeça, o céu, de seus pés, a Terra.”7 Dele surgiram também as diferentes castas e os animais.
8 Essas explicações, porém, não satisfizeram plenamente aos richis que desejavam conhecer a verdade. Por conseguinte, ao concluírem os Vedas, ainda se perguntam: “Quem sabe a verdade? Quem sabe dizer quando e como surgiu o Universo? Os deuses [védicos] são posteriores ao começo dele: quem sabe, portanto, de onde veio esta criação? Só aquele deus que vê do mais alto céu: só ele sabe de onde veio este Universo, e se foi feito ou é incriado. Só ele sabe, ou talvez não saiba.”8
9 Os richis dirigiram seus hinos a elementos naturais deificados como o sol, o céu, o vento e o fogo. Mas não consideravam nenhum destes a divindade suprema. Conseqüentemente, no último livro do Rig-Veda, eles perguntam: “Que Deus devemos adorar com a nossa oferenda?”9 Em outras palavras, qual dos 33 deuses dos Vedas é o Criador a quem devemos adorar com amor e verdade?
10 Ao completarem os Vedas, os richis não haviam encontrado o verdadeiro Deus para o adorarem. Ainda estavam em busca dele. Os Vedas, portanto, não são uma revelação da verdade de Deus, mas um registro da sincera busca dele por parte dos richis. Os Upanixades, o próximo grande conjunto de escrituras da Índia, dão prosseguimento à busca.
[Quadro na página 10]
Os Vedas: sabia que . . .
“O Atarva-Veda . . . não era originalmente reconhecido como sendo canônico como o eram os três outros Vedas. Desenvolveu-se quando o sacerdote Adhvaryu começou a procurar agradar o povo e a produzir encantamentos mágicos e feitiçaria contra doenças, inimigos e demônios.” — A New History of Sanskrit Literature (Nova História da Literatura Sânscrita), de Krishna Chaitanya, 1962, página 33.
[Quadro na página 11]
Como podem ser avaliados os Vedas segundo os seguintes critérios?
Devem:
1. Magnificar a Deus e responder a nossas perguntas a respeito dele
2. Estar livres de mitos
3. Estar livres de demonismo
[Foto na página 10]
Os rituais hindus, como os que são realizados por ocasião do nascimento, do casamento e da morte (veja a página seguinte), baseiam-se nos Vedas
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Os Upanixades: o amor à filosofiaPor Que Devemos Adorar a Deus com Amor e Verdade?
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Capítulo 5
Os Upanixades: o amor à filosofia
“Todos os sistemas filosóficos e as religiões da Índia, heréticas ou ortodoxas, surgiram dos Upanixades”, declara o livro The Vedic Age (A Era Védica).1 É nessas composições que se ensina primeiro o ciclo do carma e do renascimento — a crença comum dos hindus, dos jainistas e dos siques. Que mais ensinam?
Reflexões sobre o significado da vida
2 Os Upanixades continuam a busca da verdade, busca esta em que os richis se empenharam e que começou com os Vedas. “Nos Upaniṣads, os sábios partiram da idéia de que existe um controlador ou ente supremo que preside sobre o homem e sobre o Universo”, observa o Dr. S. Dasgupta. Ele acrescenta: “Mas qual era a sua natureza? Poderia ser identificado com qualquer . . . nova deidade ou não era de modo algum uma deidade? Os Upaniṣads nos apresentam a história dessa busca.”2
3 Nos retiros das florestas, os sábios meditavam e debatiam sobre perguntas tais como: “Qual é a origem do Universo? . . . De onde viemos? Que poder sustenta a nossa vida? Onde encontramos descanso [na morte]? Quem dirige nossas alegrias e nossas tristezas?”3 Esperando encontrar respostas por meio de seu próprio raciocínio e experiência, em vez de por meio de uma revelação divina, eles disseram: “Informem-nos isto, ó filósofos.”4
Os frutos da filosofia
4 Os sábios atribuem a criação do mundo a Brama que, segundo Isa Upanishad, é um ser à parte do Universo. (Versículo 1) O Mundaka Upanishad, por outro lado, considera Brama como o próprio Universo. Um terceiro conceito, baseado no Svetasvatara Upanishad, sugere que, embora Brama seja real, o Universo é simplesmente uma ilusão (maya).
5 Um relato sobre a criação, no Chandogya Upanishad, afirma que o mundo nasceu de um ovo gigantesco. Sobre a origem da vida, o Brihadarayanka Upanishad declara que o Criador, sentindo-se solitário e infeliz, “atingiu o tamanho de um homem e de uma mulher entrelaçados e, daí, dividiu-se em dois, criando um marido e uma mulher. . . . Deste modo, criou o macho e a fêmea de todas as criaturas, até das formigas”.5
6 O que acontece na morte? Segundo o Katha Upanishad, o jovem Nachiquetas aproxima-se de Iama, o deus da morte, e pede: “Quando um homem morre, surge esta dúvida: alguns dizem que ‘ele existe’ e outros que ‘ele não existe’. Ensine-me a verdade.” Iama responde: “Até mesmo os deuses tinham esta dúvida nos tempos antigos, pois é misteriosa a lei da vida e da morte. Peça outra graça.”6 Nachiquetas persiste, porém, e Iama por fim expõe a doutrina do renascimento.
7 Descrevendo esse ciclo de renascimentos, o Chandogya Upanishad relata que, na morte, a alma da pessoa vai para a Lua e permanece ali até que suas “boas obras sejam consumidas”.7 Depois disso, ela cai como chuva na Terra para “renascer aqui como arroz e cevada, como ervas e árvores”. Precisa então esperar para entrar num ventre até que “uma pessoa ou outra o ingira como alimento e o emita como sêmen”.8 Sua casta, ou forma de vida, é determinada quando renasce, segundo seu carma anterior.
Continua a busca
8 Como os Vedas, “os Upanixades deixaram algumas grandes questões não solucionadas”, observa o livro India. “O hindu individual ainda está livre para decidir se crê na Suprema Realidade como um espírito . . . impessoal . . . ou como um Deus pessoal. . . . Similarmente, o crente pode decidir crer que o mundo é um aspecto de Brama ou que é simplesmente Sua criação — ou pode permanecer indeciso.”9
9 Embora o ensinamento do carma e do renascimento seja considerado hoje pelos hindus devotos como verdade divinamente revelada, lemos no livro The Vedic Age que “os Upanixades não contêm ‘conceitos sobre-humanos’, mas humanos, tentativas absolutamente humanas de se aproximar da verdade”.10 Assim também, o livro Advanced History of India observa: “Os upanixades revelam a natureza das suposições sobre a Verdade, de pontos de vista diferentes, levando essas suposições por fim à evolução dos sistemas [indianos] de filosofia.”11
10 Portanto, para o leitor conhecer a verdade de Deus, é preciso que continue a busca em algo além dos Vedas e dos Upanixades. Se fizer isso, demonstrará que realmente ama a Deus e deseja adorá-lo com verdade. Portanto, examinemos a seguir as epopéias e o Bagavat Gita, tradicionalmente as principais entre as escrituras Smriti. Será que elas podem ajudar-nos em nossa busca?
[Quadro na página 13]
Os Upanixades: sabia que . . .
“Literalmente, [“Upanixade”] significa sentar-se perto devotadamente, e faz-nos lembrar de modo concreto de um discípulo aplicado que aprende de seu guru, seu mestre espiritual. Significa também ensinamento secreto — secreto, sem dúvida, porque é um ensinamento concedido apenas aos que estão espiritualmente preparados para recebê-lo.” — The Spiritual Heritage of India (A Herança Espiritual da Índia), do swami Prabhavananda, 1980, página 39.
[Quadro na página 13]
Como podem ser avaliados os Upanixades segundo os seguintes critérios?
Devem:
1. Magnificar a Deus e responder a nossas perguntas a respeito dele
2. Estar disponíveis a todos
3. Ser fáceis de entender
4. Ensinar doutrinas certas e boa moral
5. Estar livres de mitos
[Foto nas páginas 12 e 13]
O ensinamento do ciclo do carma e dos renascimentos originou-se dos Upanixades
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As epopéias: verdades e fábulasPor Que Devemos Adorar a Deus com Amor e Verdade?
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Capítulo 6
As epopéias: verdades e fábulas
“Desde o começo, o Rāmāyana e o Mahābhārata exerceram profunda influência sobre a Índia”, observa o swami Prabhavananda. Suas lendas “forneceram a poetas e dramaturgos, teólogos e pensadores políticos, pintores e escultores, sua . . . inspiração que nunca falha”.1 Sem dúvida, muitas dessas lendas lhe são conhecidas. O que acha delas?
2 Atualmente, muitos hindus recorrem às epopéias como fonte de orientação moral e espiritual. Outros lhes atribuem primariamente valor histórico, em vez de valor religioso. Mas será que contêm verdades a respeito de Deus e da adoração dele?
Elementos de verdade
3 “A grande batalha descrita no Mahabharata pode ter base histórica na lembrança de uma batalha travada no norte da Índia, no décimo século a.C.”, sugere M. Stutley em Hinduism.2 Os arqueólogos comprovaram que alguns lugares mencionados nessa epopéia existiram realmente entre os anos 800 e 400 AEC. “A essência das epopéias foi, porém, aumentada e embelezada” ao longo dos séculos, para incluir “uma grande quantidade de lendas, de mitos e de fantasias mesclados com moralidade, religião e filosofia”, observa a obra History of Philosophy Eastern and Western (História de Filosofia Oriental e Ocidental).3
4 A história relatada no Mahabharata sobre Manu, que salvou a humanidade de um dilúvio global, contém também alguma verdade histórica. O dilúvio foi “o evento mais importante que marcou a história do mundo antigo, e as lendas comuns sobre o dilúvio sugerem que o mesmo evento foi descrito nos relatos indianos, hebraicos e babilônicos”, diz a obra The Vedic Age.4a
5 Esse mesmo livro diz que a história de Rama, quando “destituída de seus elementos miraculosos, fabulosos, incríveis e mitológicos, indica claramente que ele [Rama] era um grande rei que espalhou idéias e instituições arianas a regiões em toda a parte”.5
6 Além desses aspectos históricos, as epopéias contêm princípios morais e religiosos. Por exemplo, o Mahabharata incentiva as pessoas a ser hospitaleiras, dizendo: “Até mesmo aos adversários que nos visitam como hóspedes se deve demonstrar a devida hospitalidade; a árvore provê sombra com suas folhas ao homem que a derruba.”6 Em outra parte, diz: “O céu não se agrada tanto de dádivas dispendiosas, oferecidas com a esperança de uma recompensa futura, como das menores dádivas sinceras, retiradas de ganhos honestos e santificadas pela fé.”7
Contos imaginários
7 Em contraste com esses bons princípios, porém, as epopéias refletem às vezes as opiniões de seus compiladores. Por exemplo, no Ramayana, diz-se que a Terra é sustentada por oito elefantes que se movem quando cansados e assim causam terremotos. Os compiladores tampouco conheciam a fonte do rio Ganges, no Himalaia. Pensavam que destilava dos céus. — Ramayana 1:40-44.
8 Sabia o leitor que os escritores do Mahabharata adotaram o conceito prevalecente na época, de que as mulheres foram criadas só para corromper os homens castos, com o fim de impedi-los de ganhar a salvação? (Mahabharata 13:40) Até mesmo o Gita considera as mulheres como sendo de nascimento inferior e as classifica como escravas servis. Crê nisto? Parece-lhe isto justo e razoável? — Bagavat Gita 9:32.
9 A falta de uma inspirada Sruti levou os escritores épicos a criar fábulas para responder a perguntas. Por exemplo, para explicar a morte, o Mahabharata declara que houve época em que os humanos se multiplicaram sem morrer e se tornaram tantos que “não havia espaço para respirar”.8 Temendo que isto resultasse em ‘a Terra afundar-se nas águas’, o Criador produziu uma deusa para causar morte aos humanos, ou por doenças, ou por ferimentos. — Mahabharata 12:248-250.
10 Segundo os eruditos indianos, os compiladores das epopéias criaram também suas lendas. No Gita, Críxena afirma ser Deus. A respeito disto, o Dr. S. Radhakrishnan diz: “O poeta Vyasa [que o escreveu] imagina vividamente como Críxena, Deus encarnado, falaria sobre si mesmo.” Similarmente, o autor M. Hariharan observa que “outra pessoa deve ter deificado a Críxena, fazendo-o realizar obras sobrenaturais”.9 No Ramayana, Rama não afirma ser um deus, mas meramente um humano que sofre por causa de seus pecados. — Ramayana 3:63, 64.
As epopéias: a escolha
11 Os poemas épicos eram originalmente cantados nas cortes dos reis durante os grandes festivais realizados para proclamar a fama dos príncipes. Os compiladores lhes acrescentaram mais tarde fábulas religiosas.10 “O mais brilhante desses acréscimos”, observa D. D. Kosambi, “é o Bhagavad-Gītā, um discurso proferido presumidamente pelo deus Críxena pouco antes do combate. O próprio deus era novo, sua suprema divindade não seria reconhecida senão séculos mais tarde”.11 Deste modo, nas epopéias há lado a lado verdades históricas e fábulas religiosas.
12 Portanto, ao continuar a sua busca da Sruti, uma completa revelação da verdade de Deus, considere a seguir os Puranas, nos quais se baseia atualmente a adoração hindu.
[Nota(s) de rodapé]
a O relato hebraico, que é o mais antigo e o mais exato, aparece em Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, nos Gê capítulos 6, 7 e 8.
[Quadro na página 14]
As Epopéias: sabia que . . .
“Encerrado num livro da grande epopéia indiana, o Mahābhārata, acha-se o Bhagavad-Gītā, ou Canto de Deus, a obra mais popular de toda a literatura religiosa da Índia. . . . Sem incorrer em contradição, pode-se dizer que é a Bíblia Sagrada da Índia, embora, diferentemente dos Upaniṣads [Upanixades], não seja reconhecido como Śruti, ou escritura revelada, mas apenas como Smṛti, ou tradição que elabora as doutrinas dos Upaniṣads.” — The Spiritual Heritage of India, do swami Prabhavananda, 1980, página 95.
[Quadro na página 15]
Como podem ser avaliadas as epopéias segundo os seguintes critérios?
Devem:
1. Magnificar a Deus e responder a nossas perguntas a respeito dele
2. Ensinar doutrinas certas e boa moral
3. Estar livres de mitos
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Os Puranas e a atual adoração hinduPor Que Devemos Adorar a Deus com Amor e Verdade?
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Capítulo 7
Os Puranas e a atual adoração hindu
A adoração hindu atualmente baseia-se nas escrituras conhecidas como Puranas. Ao contrário dos Vedas, promovem o uso de imagens, rituais em templos e peregrinações a lugares sagrados. Por meio dessas práticas, os adoradores buscam a bênção de Deus para se livrar do ciclo de renascimentos.
2 “Os Purāṇas têm sido chamados ‘o Veda da plebe’, visto que apresentam muita matéria tradicional e ortodoxa em forma de mito e lenda, história e símbolo”, observa a obra Hindu World (O Mundo Hindu).1 Embora os Puranas não sejam de modo geral aceitos pelos brâmanes e reformadores ortodoxos, gozam de popularidade entre os hindus mais simples. Será que lhe podem ser de ajuda para adorar a Deus com verdade? Considere o que ensinam.
A Criação segundo os Puranas
3 Influenciados por idéias védicas, os compiladores do Víxenu Purana criam que o Universo consistia em sete níveis superiores, estando a Terra na base, e sete níveis inferiores, habitados por seres metade homens, metade serpentes.
4 No Bhagavata Purana, o Sol e a Lua, segundo se pensa, giram em torno da Terra. Diz-se que a Lua, ao descrever sua órbita, por ter velocidade maior, ultrapassa o Sol. A Terra, que descansa sobre uma cobra, é dividida em continentes que estão separados por oceanos de água, vinho e ghee (manteiga semilíquida de leite de búfala). — Bhagavata Purana 5:16-22, 25.
A busca de Deus
5 Os Puranas, como os Vedas e os Upanixades, continuam a busca do verdadeiro Deus. Embora os sábios adorem muitas deidades, desejam sinceramente saber: “Que deidade deve um devoto que deseja a libertação adorar . . . ? Quem é o deus dos deuses?” Como são importantes estas perguntas!
6 Em resposta, o Brahma Purana observa que, embora Brama, Víxenu ou Xiva sejam adorados, o verdadeiro Criador é outro.2 Confirmando este ponto, Brama declara no Bhagavata Purana que tanto ele como Xiva ainda precisam sondar a natureza do Criador. — Bhagavata Purana 2:6.
7 Efetivamente, sem uma revelação divina, era impossível aos sábios conhecer a Deus. Em resultado disso, alguns adoradores chegaram a imaginá-lo um humano, um animal ou até mesmo um ser metade homem, metade animal. O Bhagavata Purana descreve Víxenu como um peixe “de cor dourada, com chifre e corpo que se estende por dez milhões de yojanas”.3a O Vayu Purana retrata-o como um javali de cor escura, da altura de 6.400 quilômetros.
8 Os compiladores das lendas purânicas imaginavam também que os deuses tinham fraquezas humanas. O Brahmavai Purana declara que os sábios não adoram Brama porque ele foi amaldiçoado por ter cometido um grande erro.4b Outros Puranas descrevem Xiva como “um mau provedor [que] deixou sua família passar fome, ao passo que ele próprio era dado ao ópio e a outras drogas”, segundo a obra Hindu World.5
9 Incomodado com relatos sobre as relações de uma deidade com as ordenhadoras locais, um rei no Bhagavata Purana pergunta: ‘Como pode o senhor divino, que nasceu para estabelecer a virtude e reprimir vícios, praticar o oposto, a saber, a corrupção das esposas de outros homens?’7 A isto, o sábio responde que, se seres superiores se desviam da virtude, então não pode ser considerado pecado, assim como não se pode atribuir culpa ao fogo se este consumir coisas impuras.8
Métodos de adoração
10 A adoração purânica se centraliza em templos, ou santuários, cuidadosamente projetados. Seus projetos fundamentais seguem um mandala, que, segundo o swami Harshananda, “é um diagrama geométrico com poderes ocultos”.9 O objeto mais sagrado do templo é o iantra, uma placa de ouro com diagramas ocultistas. Era usado no passado pelos seguidores das seitas do tantrismo, que praticavam rituais eróticos, retratados nas paredes dos grandes templos hindus e jainistas.
11 Os ídolos são banhados em água ou em leite pelos adoradores que esperam ganhar riqueza ou boa saúde. Também, segundo o Brahmavai Purana aplicam-se tilakas na fronte das pessoas para assegurar o poder mágico dos rituais.10 Acendem-se lâmpadas e oferecem-se flores para afastar espíritos maus, ao passo que se decantam mantras que louvam as deidades ou suplicam seu favor.
12 O Skanda Purana remonta o uso de ídolos a uma maldição sobre os deuses lançada pela deusa Parvati por causa da intrusão deles na sua vida privada. A Encyclopaedia of Puranic Beliefs and Practices (Enciclopédia de Crenças e Práticas Purânicas) declara: “Isto parece explicar a prática [hindu] de adorar blocos de pedra como deuses e também ídolos bem esculpidos.”11
Qual será a sua escolha?
13 Os hindus classificam os Puranas como Smriti porque esses escritos não são de inspiração divina, mas são de origem humana. Portanto, se desejarmos sinceramente que Deus aceite nossa adoração e nos abençoe, precisamos continuar a buscar a Sruti. Que orientação nos podem dar os gurus?
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