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Somos predestinados pelos nossos genes?Despertai! — 1996 | 22 de setembro
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Somos predestinados pelos nossos genes?
“COSTUMÁVAMOS pensar que o nosso destino estava escrito nas estrelas. Agora sabemos que, em grande medida, o nosso destino está escrito nos genes.” Assim disse James Watson, citado no início do livro Exploding the Gene Myth, de Ruth Hubbard e Elijah Wald. Logo abaixo da citação de Watson, porém, vem a citação de R. C. Lewontin, Steven Rose e Leon J. Kamin: “Não conhecemos nenhum comportamento social humano significativo que esteja tão embutido nos nossos genes que não possa ser moldado por condições sociais.”
A sobrecapa desse livro resume parte do seu conteúdo e inicia com a pergunta crucial: “É genético o comportamento humano?” Noutras palavras, é o comportamento humano determinado inteiramente pelos genes que transmitem as características e traços biológicos hereditários do organismo? Deve certo comportamento imoral ser aceitável à base de que é genético? Devem os criminosos ser tratados como vítimas de seu código genético, podendo reivindicar menos responsabilidade por causa de predisposição genética?
É inegável que os cientistas fizeram muitas descobertas benéficas neste século. Entre estas o fascinante DNA, a chamada planta da nossa constituição genética. As informações do código genético têm intrigado cientistas e leigos. O que realmente descobriram as pesquisas no campo da genética? Como se usam as descobertas para apoiar a doutrina moderna da pré-programação ou predestinação?
Infidelidade e homossexualidade
Segundo um artigo no jornal The Australian, certas pesquisas genéticas alegam ter encontrado evidência de que “a infidelidade provavelmente está nos nossos genes. . . . Parece que o nosso coração traidor foi feito para ser assim”. Imagine o mal que essa atitude poderia causar nos casamentos e nas famílias, criando uma desculpa para quem quisesse reivindicar isenção de responsabilidade por uma vida promíscua!
Sobre a homossexualidade, a revista Newsweek publicou uma matéria sob o título “Nascido ou Criado?”. Dizia: “A ciência e a psiquiatria lutam para entender as novas pesquisas que sugerem que a homossexualidade pode ser uma questão de genética, não de criação. . . . Na própria comunidade gay, muitos saúdam a indicação de que o comportamento gay começa nos cromossomos.”
Daí o artigo cita o Dr. Richard Pillard, que disse: “Um componente genético na orientação sexual diz: ‘Não é uma falha, tampouco é falha sua.’” Fortalecendo esse argumento de “nenhuma falha”, Frederick Whitam, que pesquisa a homossexualidade, diz que “as pessoas tendem, quando se lhes diz que a homossexualidade é biológica, a dar um suspiro de alívio. Isso livra da culpa as famílias e os homossexuais. Significa também que a sociedade não precisa se preocupar com coisas tais como professores gays”.
Às vezes, a chamada evidência de que as tendências homossexuais são determinadas pelos genes é apresentada pela mídia como factual e conclusiva, em vez de como possibilidade e inconclusiva.
A revista New Statesman & Society joga água fria na tendência para a retórica: “O leitor fascinado pode muito bem ter despercebido a natureza vaga da factual evidência física — ou, na verdade, a falta total de base para a clamorosamente errada afirmação científica de que a promiscuidade ‘está codificada nos genes masculinos e impressa na placa de circuito do cérebro masculino’.” No seu livro Cracking the Code (Decifrando o Código), David Suzuki e Joseph Levine apresentam suas reservas a respeito da atual pesquisa genética: “Embora seja possível argumentar que os genes influenciam o comportamento num sentido geral, é uma coisa muito diferente mostrar que um gene específico — ou par de genes, ou mesmo um grande número de genes — realmente controlem detalhes específicos das reações de um animal ao seu meio ambiente. Neste ponto, é legítimo perguntar se alguém já encontrou, no estrito sentido molecular de localização e manipulação, quaisquer segmentos de DNA que previsivelmente afetem comportamentos específicos.”
Genes do alcoolismo e da criminalidade
O estudo do alcoolismo tem fascinado muitos pesquisadores de genética no decorrer dos anos. Alguns afirmam que os estudos demonstram que a presença, ou a falta, de certos genes é responsável pelo alcoolismo. Por exemplo, The New England Journal of Medicine disse, em 1988: “Durante a última década, três investigações separadas produziram evidência conclusiva de que o alcoolismo é um traço hereditário.”
Contudo, alguns especialistas no campo do vício estão desafiando agora o conceito de que o alcoolismo seja influenciado largamente por fatores biológicos. Um artigo no The Boston Globe, de 9 de abril de 1996, disse: “Não há nenhum gene do alcoolismo à vista, e alguns pesquisadores reconhecem que o máximo que provavelmente encontrarão é uma vulnerabilidade genética que permite a algumas pessoas beber demais sem ficarem bêbedas — uma característica que pode predispô-las ao alcoolismo.”
O jornal The New York Times falou a respeito de uma conferência realizada na Universidade de Maryland, EUA, intitulada “O Sentido e o Significado das Pesquisas sobre Genética e Comportamento Criminoso”. A idéia de que existe um gene criminoso é de cativante simplicidade. Muitos comentaristas parecem ávidos de adotar a idéia. Um escritor sobre temas científicos da The New York Times Magazine disse que o mal pode estar “incrustado nos espirais dos cromossomos que os nossos pais nos transmitiram na concepção”. Um artigo no The New York Times disse que a constante discussão sobre genes da criminalidade cria a impressão de que o crime tem “uma origem comum — uma anormalidade do cérebro”.
Jerome Kagan, psicólogo de Harvard, prevê que virá o dia em que testes genéticos identificarão crianças de traço violento. Há quem sugira que pode haver esperança de se controlar o crime pela manipulação genética, em vez de por reformas sociais.
A linguagem dos artigos a respeito dessas especulações sobre a base genética para o comportamento muitas vezes é vaga e sem convicção. O livro Exploding the Gene Myth refere-se a um estudo realizado por Lincoln Eaves, geneticista do comportamento, que disse ter encontrado evidências de uma causa genética da depressão. Depois de pesquisar mulheres propensas à depressão, Eaves “sugeriu que a maneira de ver as coisas e de ser [das mulheres] podem ter tornado mais provável a ocorrência dessas aflições esporádicas”. “Aflições esporádicas”? As mulheres pesquisadas haviam sido “estupradas, assaltadas, ou despedidas do emprego”. Teria a depressão causado essas experiências traumáticas? “Que tipo de raciocínio é esse?”, continua o livro. “As mulheres haviam sido estupradas, assaltadas, ou despedidas do emprego, e estavam deprimidas. Quanto mais traumática a experiência que haviam tido, tanto mais crônica era a depressão. . . . Talvez tivesse valido a pena procurar uma ligação genética se ele [Eaves] tivesse descoberto que a depressão não se relaciona com nenhuma experiência na vida.”
Essa mesma publicação diz que esses casos são “típicos da maioria das informações atuais a respeito da genética [do comportamento], tanto na mídia como nas revistas científicas. Elas misturam fatos interessantes, suposições sem base e desvairados exageros da importância dos genes na nossa vida. Notável a respeito desses escritos é o seu conteúdo vago”. Continua: “Há uma grande diferença entre associar genes com condições que seguem o modelo mendeliano de hereditariedade e usar hipotéticas ‘tendências’ genéticas para explicar quadros complexos como câncer ou alta pressão sanguínea. Os cientistas dão mais um salto quando sugerem que a pesquisa genética pode ajudar a explicar o comportamento humano.”
Mas, em vista do precedente, ainda restam estas perguntas comuns: Por que, às vezes, descobrimos que mudados padrões de comportamento emergem em nossa vida? E que controle temos nessas situações? Como ganhamos e mantemos o controle da nossa vida? O próximo artigo poderá elucidar algumas dessas perguntas.
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Controle a sua vida agora!Despertai! — 1996 | 22 de setembro
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AS PESQUISAS científicas sobre o comportamento e a motivação humanos têm-nos beneficiado de muitas maneiras. Talvez tenhamos sido ajudados a tratar melhor certa doença por conhecê-la mais a fundo. Mas convém ser cautelosos com as teorias sensacionalistas, em especial as que parecem contrariar princípios bem estabelecidos.
Na questão da genética e do comportamento, pergunta-se: Podemos abdicar de nossas responsabilidades e não admitir culpa pelas nossas ações? Podemos escusar-nos, ou até mesmo culpar outra pessoa, ou outra coisa, por alguma imprudência ou erro nosso, engrossando assim o número dos “não-eu” desta geração? De modo algum. A maioria das pessoas aceitam de bom grado o crédito por qualquer sucesso que tenham tido na vida, assim, por que não deveriam desejar aceitar também a responsabilidade pelos seus erros?
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