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  • Chipre
  • Anuário das Testemunhas de Jeová de 1995
  • Subtítulos
  • Chipre na História
  • ‘Os Estudantes da Bíblia são a universidade’
  • Pioneiros zelosos divulgam as boas novas
  • Censura no tempo de guerra
  • Podiam casar-se?
  • A chegada dos formados em Gileade
  • A Igreja suscita curiosidade pelas Testemunhas
  • Debate na arquidiocese
  • Muita publicidade gratuita
  • A primeira visita do presidente da Sociedade
  • Sinos de igreja marcam outro ataque
  • Violadores da lei levados ao tribunal
  • Apresentação de A Sociedade do Novo Mundo em Ação
  • Tempos de mudança
  • Fim do domínio colonial
  • Uma prova da integridade
  • Forjaram desgraça em nome da Lei
  • Começa o programa de construções
  • Casamentos e sepultamentos
  • Assembléia Internacional “Vitória Divina”
  • 1974, ano de mudança
  • Provisão dum Salão de Assembléias
  • Questão de consciência cristã
  • Novo lugar da filial
  • Decisões jurídicas ajudam a obra
  • O ajuntamento continua
  • A verdadeira libertação de cipriotas sinceros
Anuário das Testemunhas de Jeová de 1995
yb95 pp. 66-115

Chipre

QUANDO o apóstolo Paulo e seus companheiros de viagem pregavam em Chipre, no primeiro século, encontravam intensa oposição. Um falso profeta, um feiticeiro chamado Barjesus, procurava influenciar o procônsul no esforço de impedir o ministério deles. Em vista dos métodos que o feiticeiro empregava, Paulo descreveu-o francamente como ‘cheio de toda sorte de fraude e de toda sorte de vilania, filho do Diabo, inimigo de tudo o que é justo, alguém que torce os caminhos direitos de Jeová’. (Atos 13:6-12) Também nos tempos modernos, alguns clérigos têm recorrido a métodos similares no esforço de impedir que o povo ali soubesse do grandioso propósito de Jeová, de abençoar todas as famílias da terra.

Mas, nem todos aqui em Chipre concordam com o que esses clérigos dizem e fazem. Os cipriotas têm a reputação de serem hospitaleiros. É normal oferecerem aos visitantes um doce; ou, num dia quente de verão, talvez lhes sirvam um copo de limonada fresca para tomar enquanto estão sentados à sombra duma videira carregada de uvas.

O clima aqui é temperado. Chipre fica no Mediterrâneo oriental, a uns 100 quilômetros ao oeste da costa síria e a uns 60 quilômetros ao sul da Turquia. A própria ilha é bela. Praias arenosas estendem-se até as águas tépidas do Mediterrâneo. As montanhas Tróodos, que atravessam a parte sudoeste da ilha, proporcionam um ambiente fresco, com fragrância de pinho, aos que querem fugir do calor do verão. Videiras e figueiras são uma vista comum, assim como também oliveiras e alfarrobeiras. Quando as amendoeiras estão em flor, a paisagem parece como que coberta de neve. E quando as árvores cítricas florescem, o ar tem um perfume delicado. Nas zonas rurais, vê-se freqüentemente os pastores guiando seus rebanhos de ovelhas e de cabras aos pastos. O modo de vida de muitas dessas pessoas remonta ao tempo bem antes da Era Comum.

Chipre na História

Esta ilha, embora tenha apenas 206 quilômetros de leste a oeste, tem sido influenciada de diversas maneiras por todas as sete potências mundiais da história bíblica, e, na realidade, veio a estar sob o controle direto de seis delas. A oitava potência mundial, as Nações Unidas, também fez sentir a sua presença, para manter a paz entre as comunidades de língua grega e de língua turca.

O cristianismo foi introduzido em Chipre no começo do primeiro século EC. Depois da onda de perseguição que seguiu à morte de Estêvão, em Jerusalém, alguns dos discípulos espalhados foram para Chipre e pregaram à grande comunidade de judeus que havia na ilha naquele tempo. (Atos 11:19) Mais tarde, Chipre foi incluída na primeira viagem missionária de Paulo, por volta de 47-48 EC. Um dos seus companheiros de viagem era cipriota nativo, que tivera associação com os apóstolos de Jesus Cristo em Jerusalém depois do derramamento do espírito santo em 33 EC. Eles o tinham cognominado Barnabé (Filho de Consolo). (Atos 4:34-37) Durante o ministério deles em Chipre, Paulo e Barnabé primeiro deram testemunho em Salamina, na costa leste, e depois, ao atravessarem a ilha até Pafos, no oeste. As ruínas de Salamina e de Pafos atestam o seu destaque na época em que Paulo e seus companheiros realizavam ali o seu ministério.

Foi em Pafos que o procônsul romano, Sérgio Paulo, foi convertido ao cristianismo, apesar da agitação causada pelo feiticeiro Barjesus. O procônsul, conforme diz a Bíblia, “ficou assombrado com o ensino de Jeová”. — Atos 13:12.

Cerca de dois anos mais tarde, Barnabé, junto com seu primo Marcos, retornou a Chipre para mais evangelização. — Atos 15:36-41.

‘Os Estudantes da Bíblia são a universidade’

Também nos tempos modernos se tem feito muita evangelização em Chipre. Pessoas sinceras ficaram gratas de aprender o que a própria Bíblia ensina, em contraste com as tradições de homens. Um indício inicial de que esse ensino chegara a Chipre foi dado em A Sentinela (em inglês) de 1.º de outubro de 1922. Uma carta publicada naquele número indica que um clérigo armênio recebera um tratado, mostrando que é a própria alma que morre, que ela não é imortal. Ele era grato pelo que lera. Mas ficara profundamente perturbado com a condição espiritual das igrejas em Chipre. Escreveu sobre elas: “Há muitos . . . prédios de igrejas aqui. Mas não há vida espiritual; esta já está morta há muito tempo. Os clérigos levam uma vida muito mais degradada do que o povo comum. Para mim, não sobrou mais nada senão lamentar, chorar e clamar assim como Jeremias. Procuro fazer o melhor que posso para dar o leite da verdade a gregos, armênios, turcos e judeus.” Outros armênios, fora de Chipre, também faziam o que podiam para transmitir a verdade bíblica às pessoas em Chipre.

Daí, em setembro de 1924, Cyrus Charalambous voltou dos Estados Unidos para seu Chipre natal. Ele era Estudante da Bíblia, e levou consigo muitos tratados, inclusive um bom suprimento de um com o título Onde Estão os Mortos?. Ele foi ao correio central em Nicósia, a capital, e mandou um deles a cada um dos chefes das aldeias, bem como aos professores em cada cidade e aldeia. Naqueles dias, a correspondência era transportada nas costas de um burro, e as entregas nas aldeias eram feitas uma vez por semana.

Uma publicação, um tratado intitulado Púlpito do Povo, foi recebida por um professor em Xylophagou, uma aldeia na região de plantações de batata, na parte sudeste da ilha. Este professor foi visitado por um lavrador local, Antonis Spetsiotis. Antonis, homem estudioso, começara a procurar algo para ler. Viu o tratado e logo ficou absorto no seu conteúdo. Considerou isso com outro aldeão, Andreas Christou. Com o tempo, obtiveram e leram mais das publicações da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados. Falaram também a outros sobre o que aprendiam, e alguns destes participaram com eles no estudo da Bíblia.

Cleopas, teólogo da Igreja Ortodoxa Grega, foi um dos que mostraram interesse. Embora ficasse amigo do povo de Jeová, nunca adotou uma atitude positiva para com a verdade. No entanto, ele costumava dizer: ‘O catolicismo é o jardim-de-infância, o protestantismo é a escola primária, mas os Estudantes da Bíblia são a universidade.’

Todavia, nem todos falavam bem dos Estudantes da Bíblia. O testemunho informal dado por Antonis Spetsiotis e Andreas Christou provocou a ira da sua aldeia contra eles. Informou-se o arcebispo de Chipre, e enviaram-se teólogos para neutralizar a influência dos dois irmãos. Nos dois anos seguintes, realizaram-se diversos debates — com um teólogo de um lado, e o irmão Spetsiotis do outro. Não se alugaram salões para estas ocasiões; o café local serviu muito bem para isso, visto que era ali que as pessoas se reuniam. Por fim, ambos os irmãos foram excomungados da Igreja Ortodoxa Grega, e negou-se-lhes o direito de casar-se ou de ser enterrados. De fato, quando morreu um filho de Andreas Christou, o sacerdote local recusou até mesmo deixar enterrar a criança no cemitério da aldeia, a menos que Andreas assistisse ao ofício da igreja no domingo de manhã. Com que resultado? Pois bem, a criança por fim foi enterrada, mas Andreas não foi à igreja.

No ínterim, Tryfon Kalogirou, inspetor de saúde duma aldeia no distrito de Nicósia, estava aprendendo a verdade. Ao passo que visitava as aldeias por causa de seu trabalho, fazia bom uso da Bíblia para expor os ensinos do fogo do inferno e da Trindade. No entanto, depois de sofrer a amputação de uma perna por causa duma doença, as pessoas zombavam dele, dizendo que Deus o punia por ter mudado de religião. Isto lhe causou muito sofrimento, assim como os argumentos distorcidos dos companheiros de Jó aumentaram o pesar deste. (Note Jó 4:7, 8; 12:4.) Todavia, Tryfon permaneceu um irmão fiel até a sua morte em 1960.

Pioneiros zelosos divulgam as boas novas

A obra na ilha recebeu um bom ímpeto em 1934, quando dois pioneiros, os irmãos Matheakis e Triantafilopoulos, chegaram da Grécia. A sede em Brooklyn, Nova York, despachou 43 caixas de livros em grego, em turco e em outras línguas, para serem usados por eles. Estes irmãos eram zelosos, mas no começo tiveram de lidar com muita indiferença. As pessoas, desencaminhadas pelos clérigos, pensavam que os irmãos eram comunistas ou protestantes, e foram avisadas de que eles tentavam mudar a religião das pessoas. No entanto, nas cidades maiores, especialmente os comerciantes ficaram curiosos e quiseram saber de que tratava esta “nova religião”.

Os pioneiros receberam de Brooklyn o nome de alguns assinantes das revistas da Sociedade. Um assinante era Cleopas, o teólogo. Ele obteve muitas das publicações da Sociedade e até mesmo convidou diversas vezes os pioneiros à sua casa para uma refeição. Levou também o irmão Matheakis ao Clube Helênico, onde o apresentou como ‘um homem de Atenas, representante de uma organização que publica livros úteis que explicam a Bíblia’. Naquela noite, o irmão Matheakis conseguiu distribuir 84 livros encadernados e 120 folhetos, bem como angariar 10 assinaturas para A Idade de Ouro.

Partindo de Larnaca, na costa sudeste, os dois pioneiros foram para Xylophagou, uns 26 quilômetros distante, onde se encontraram com Antonis Spetsiotis e Andreas Christou. Esses dois irmãos faziam todo o possível para transmitir o que haviam aprendido, mas como ficaram felizes de ter a oportunidade de obter um conhecimento mais exato das Escrituras! A primeira congregação de Testemunhas de Jeová em Chipre foi formada na sua aldeia.

Os pioneiros foram adiante, a Famagusta. Era um lugar de laranjais e de moinhos de vento, perto das ruínas da antiga Salamina. Enquanto os pioneiros pregavam ali, receberam uma carta da Sociedade. Esta avisava que um casal que falava grego, de nome Lagakos, viria do Egito para ajudar na obra. Que notícia boa! Quando chegou, o grupo decidiu que o irmão e a irmã Lagakos se concentrariam nas cidades, ao passo que os outros pioneiros iam dar testemunho nas zonas rurais.

Em pouco tempo formou-se outra congregação. Esta foi formada em Nicósia. Dentro da parte murada da cidade velha, havia uma população bastante grande de cipriotas turcos, e os irmãos tinham seu lugar de reunião numa casa pertencente a um muçulmano.

Aos poucos, houve mais resultados. Alguns dos irmãos cipriotas gregos empreenderam o serviço de pioneiro. Um deles foi Christos Kourtellides, homem baixo com um brilho nos seus olhos de azul-claro. Que exemplo notável de coragem e de lealdade ele deu! Durante os seus 17 anos de serviço de pioneiro, ele abrangeu quase todas as 650 aldeias na ilha. Não era uma vida fácil. Quando não se lhe mostrava hospitalidade, muitas vezes ele dormia ao ar livre. Até mesmo a sua morte abriu o caminho para um bom testemunho. O sacerdote na sua aldeia nativa negou-se a permitir que fosse enterrado no cemitério local. Foi preciso apelar para o comissário do distrito. Quando seu corpo foi finalmente enterrado, havia 150 pessoas presentes para ouvir o discurso fúnebre.

O retorno do irmão Triantafilopoulos para a Grécia e a partida do casal Lagakos para a Síria significou o fim do grupo original de pioneiros. No entanto, em 1938, havia quatro pioneiros locais e sete publicadores de congregação proclamando as boas novas, e 40 pessoas assistiram à Comemoração da morte de Cristo.

Naquele mesmo ano, Panagiotis Gavrielides, junto com uma família vizinha, entrou em contato com a verdade. No meio de grande perseguição, a mãe daquela família e suas três filhas, junto com Panagiotis, formaram um pequeno grupo para o estudo da Bíblia e o serviço na aldeia de Polemidhia. Panagiotis disse a respeito da reação dos aldeões: ‘Quando nosso pequeno grupo se reunia, era costume ouvir fortes batidas na porta e nas janelas. Um homem se opunha tanto, que foi à casa das irmãs e as espancou. Eu também tive de ir ao hospital para receber tratamento. Estranho, porém, alguns dias mais tarde, quando este mesmo homem cruzou uma ponte sentado em cima dum caminhão, de volta do trabalho, ele caiu no rio e morreu.’

Censura no tempo de guerra

Durante a Segunda Guerra Mundial, os regulamentos da censura foram aproveitados como base para confiscar as publicações da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados. Os irmãos não receberam as revistas para o estudo da Bíblia, enviadas a Chipre. Em vez disso, elas ficaram acumuladas no correio geral na capital.

Praticamente sem publicações, como se arranjaram as Testemunhas? Imprimiram em folhas de papel partes das publicações anteriores da Sociedade e as distribuíram no ministério de campo. Ocasionalmente, quando recebiam um exemplar de A Sentinela (em inglês), traduziam-no rapidamente e o usavam para o estudo. Também se realizavam assembléias durante aquele período. E, em vista do aumento no número de publicadores, formou-se mais uma congregação.

Por fim, alguns meses antes do fim da guerra, foram liberadas 3.000 revistas e 17 caixas de nossos livros e folhetos. Naturalmente, o pessoal do correio vira a pilha aumentar, e alguns deles mostraram interesse. Em resultado disso, foi possível colocar 45 livros com eles.

Podiam casar-se?

Outras situações envolvendo Testemunhas de Jeová também mantiveram as autoridades apercebidas da presença delas. Em 1939, o irmão Matheakis queria casar-se. Mas, naqueles dias, casar-se não era fácil para as Testemunhas de Jeová em Chipre. Por quê? Porque as autoridades não reconheciam as Testemunhas de Jeová como entidade religiosa e assim não lhes concediam permissão para um casamento civil. As condições do tempo de guerra dificultavam contatar os irmãos na sede em Brooklyn para pedir conselhos. Por fim, a filial em Londres emitiu uma certidão, declarando que as Testemunhas de Jeová em Chipre estavam relacionadas com a Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia na Inglaterra. À base desta certidão, as autoridades britânicas em Chipre concordaram em permitir o casamento civil do irmão Matheakis.

No decorrer dos anos, este casal fiel ficou bem conhecido pela sua hospitalidade. Sua casa sempre estava aberta para os irmãos, e eles são lembrados pela sua bondade para com os em necessidade.

A chegada dos formados em Gileade

O primeiro dos formados em Gileade a chegar à ilha foi Antonios Karandinos, um grego que havia morado nos Estados Unidos. Ele chegou em 1947, quando havia aqui apenas 33 publicadores do Reino. Tinha trabalhado como marujo e era um homem robusto. Era também um firme apoiador da verdade, e isso foi importante para poder lidar com a forte oposição que encontrou durante seu ministério em Chipre.

A oposição foi especialmente feroz quando os irmãos começaram a oferecer revistas no testemunho nas ruas. Em Famagusta, um homem agindo como instrumento da igreja constantemente os hostilizava. Instigava as pessoas contra as Testemunhas. Em resultado disso, certa vez, o irmão Karandinos viu-se cercado por uma turba, e isto causou uma obstrução no trânsito. O irmão Karandinos e o instigador da dificuldade foram levados ao tribunal; ambos foram multados. Seguiram-se outros episódios. Às vezes, os irmãos tiveram de chamar a polícia para tirar os publicadores do meio duma turba.

Foi um dia feliz para os irmãos, em 1948, quando mais dois missionários, que tiveram de deixar a Grécia, chegaram a Chipre. Em maio daquele ano, chegou também Don Rendell, da oitava turma de Gileade, depois de precisar deixar o Egito. Naquele ano, a Sociedade estabeleceu uma filial em Chipre, com Anthony Sideris por superintendente. No decorrer de alguns anos, outros formados em Gileade foram designados a Chipre, e em algumas das principais cidades estabeleceram-se lares missionários. Estes irmãos mostraram ser de muito valor em organizar as congregações de modo teocrático e em tomar a dianteira no treinamento de publicadores no ministério de campo.

No entanto, antes de poderem ser de muita ajuda, tinham de aprender a falar grego, e isto levou a alguns incidentes humorísticos. Um irmão, ao citar Revelação (Apocalipse) 12:7, disse: ‘Miguel e os ingleses batalharam com o dragão’, em vez de “Miguel e os seus anjos”, porque “anjos” e “ingleses” soam bastante similares em grego. Mas os moradores muitas vezes prestavam atenção a um estrangeiro que procurava falar a sua língua. Num caso, depois de um novo irmão ter sido batizado, ele disse a um dos missionários: ‘O que me impressionou quando você me visitou foi que, embora fosse estrangeiro, dava-se ao trabalho de aprender a minha língua. Isto me induziu a examinar o que me estava trazendo.’

A Igreja suscita curiosidade pelas Testemunhas

Embora, em média, em 1948 houvesse apenas uns 50 publicadores do Reino de Jeová na ilha, a Igreja Ortodoxa sentiu-se obrigada ‘a pôr fim a esta heresia’, como se expressou. Que táticas usou? Publicou-se uma encíclica denunciando-nos, e esta foi impressa em muitos dos diários e lida nas igrejas em toda a ilha. Enviaram-se crianças para distribuir exemplares dela de porta em porta, e cópias foram afixadas em paredes e em postes telegráficos. Fomos taxados de antipatrióticos, de anticristos e de agentes do sionismo.

Como reagiu o povo de Jeová a isso? Ora, as pessoas ficaram curiosas a respeito das Testemunhas. Queriam saber por que a Igreja se opunha tanto a nós. De modo que nossos irmãos empreenderam uma campanha de quatro meses, na qual se deixaram 72.000 folhetos nas mãos do povo — sete vezes mais do que o total de publicações distribuídas em todo o ano anterior. Isto deu às pessoas a oportunidade de descobrirem por si mesmas o que as Testemunhas de Jeová ensinam. Muitas leram nossas publicações por curiosidade. Por outro lado, alguns irmãos foram espancados e apedrejados. Em Limassol, um irmão e uma irmã foram levados ao tribunal, acusados de proselitismo e de causar perturbação, e foram sentenciados a um mês de prisão.

Debate na arquidiocese

Durante esta época, Don Rendell conheceu em Nicósia um cavalheiro influente, o qual tinha associação íntima com a Igreja Ortodoxa. Sobre esta experiência, o irmão Rendell contou mais tarde: ‘Depois duma palestra interessante, deixei com o homem o livro “Seja Deus Verdadeiro”, e na revisita ele quis saber mais. Todavia, ele disse que queria ouvir um debate entre mim e o arcebispo da Igreja Ortodoxa Grega, a quem ele conhecia. “Estaria disposto?” perguntou.

‘O irmão Sideris, superintendente da filial, concordou em acompanhar-me ao palácio do arcebispo. Ao chegarmos, fomos informados que o arcebispo “não estava passando bem”, mas que podíamos falar com um teólogo da Igreja, o qual estava ligado ao tribunal eclesiástico. Depois dum prolongado debate, perguntei ao teólogo qual seria a posição da Igreja Ortodoxa Grega se houvesse um conflito entre a Bíblia e as tradições da Igreja. Ele respondeu que a Igreja aceitaria as tradições dela. E ele certamente fez isso! Quando se citou Colossenses, capítulo 1, versículo 15, que diz que Jesus é “o primogênito de toda a criação”, ele exclamou imediatamente: “Esta é a heresia de Ário!” Era óbvio quem eram os verdadeiros apoiadores da Bíblia.’

Muita publicidade gratuita

Apesar da contínua oposição, a média de publicadores aumentou de 141, em 1949, para 204, em 1950, e 241 assistiram à Comemoração em 1950. Durante aquele ano, providenciou-se uma assembléia de circuito em Pafos, onde o apóstolo Paulo havia pregado. Alugou-se um cinema, mas o bispo local e outras pessoas de destaque na cidade exerceram pressão sobre o proprietário, no esforço de fazê-lo violar o contrato conosco. O conselho local tentou obrigar-nos a cancelar nossa assembléia por limitar o número de pessoas que podiam entrar no cinema e por criar um imposto exorbitante pelo uso do prédio. Os esforços que se fizeram para contatar o comissário britânico do distrito, para resolver a situação, foram todos bloqueados. De modo que o superintendente da filial, ele mesmo britânico, fez uma visita pessoal à casa do comissário e explicou que as Testemunhas de Jeová estavam sendo hostilizadas pelas autoridades locais. Apreciamos muito o que o comissário fez para nos ajudar. Foi colocado à nossa disposição um grande pátio ao lado do cinema, e este ofereceu espaço suficiente para os que não podiam ser acomodados dentro dele.

O bispo de Pafos ficou furioso. Igual ao antigo feiticeiro Barjesus, que tentou desviar o procônsul romano, Sérgio Paulo, da pregação de Paulo, o bispo empregou toda a sua “magia eclesiástica” milagreira. (Note Atos 13:6-12.) Ele mandou distribuir um panfleto para avisar as pessoas que os dois pioneiros das Testemunhas que moravam em Pafos foram excomungados. A isto seguiu-se logo outro panfleto, denunciando as Testemunhas de Jeová como a “heresia conhecida como quiliasmo”, o qual, segundo dizia, era “uma invenção satânica da imaginação doentia do século passado”. Em apoio da Igreja, jovens que distribuíam panfletos postavam-se ao lado de todo publicador que dava testemunho na rua. A todos os que mostravam interesse no que as Testemunhas faziam esses jovens estendiam bruscamente a folha de oposição.

Alguns jornais, mas não todos, juntaram-se ao ataque contra o povo de Jeová. Em 1950, o periódico New Political Review, de Pafos, declarou: “Os seguidores de Jeová já ascendem a centenas em nosso distrito. Amanhã serão milhares, e porão em perigo a própria existência da nossa Igreja. Por estes motivos, será necessário que nosso Santo Sínodo e nossos bispos se mexam e investiguem imediatamente este assunto terrível, e sem adiamento ou demora.” Outro jornal, Paphos, obviamente zombando da Igreja, declarou no seu número de 4 de maio de 1950: “A condição de pobreza e miséria prevalecente em algumas aldeias, bem como as extensas propriedades pertencentes a mosteiros e à Igreja, todas essas coisas têm criado o clima certo para o aumento da crença quiliástica. Citamos como exemplo uma aldeia, a saber, Episkopi, onde quase todas as terras pertencem à Igreja e os habitantes trabalham como escravos, arrendando terras ou entrando em sociedade com ela. . . . De modo que não seria de admirar se metade da população desta aldeia se tornasse Testemunhas de Jeová. . . . Em vista do acima, a Igreja em Chipre devia entender que ela não vai prevalecer com esta luta de papéis. Os quiliastas encontraram o calcanhar de Aquiles do clericalismo . . . Não basta combatê-las com panfletos.”

Com toda esta publicidade, as Testemunhas de Jeová tornaram-se a conversa da cidade. O interesse das pessoas foi muito estimulado e grande número delas veio para o discurso público no cinema. Pelo menos 500 estavam presentes.

A primeira visita do presidente da Sociedade

Um acontecimento que deu muita alegria aos irmãos cipriotas, em dezembro de 1951, foi a visita do irmão Knorr, acompanhado por Milton Henschel. O Cinema Royal foi o local duma assembléia de três dias. Era um prédio moderno, e o irmão Knorr comentou: ‘Gostaríamos de ter um lugar assim para as nossas assembléias de circuito em Nova York.’ Planejara-se uma assembléia de três dias, mas, visto que o Cinema Royal ficava numa parte residencial da cidade velha, contratou-se o Cinema Pallas, no centro de Nicósia, para a conferência pública a ser proferida pelo irmão Knorr, no domingo de manhã. Fizeram-se preparativos para dar plena publicidade a este discurso. Montaram-se quatro faixas grandes, em grego e em inglês, ao lado do Cinema Royal. Distribuíram-se duzentos cartazes pela capital. Projetaram-se anúncios na tela dos maiores cinemas. Jornais em inglês, em grego e em turco publicaram anúncios do discurso público “Enfrentará a Religião a Crise Mundial?”. Não era surpresa que o pessoal do principal jornal comunista dissesse que não podia anunciar o discurso, ‘porque era contrário às normas do partido’, e membros do pessoal do principal jornal nacionalista disseram que eles ‘primeiro tinham de ter a aprovação do arcebispo’.

Com toda esta publicidade, estávamos pensando em como reagiriam os opositores. Logo descobrimos. Certa noite, foram arrancadas as faixas no Cinema Royal. Informamos a polícia. O arcebispo mandou imprimir um panfleto no qual instava: “ATENÇÃO! FIQUE LONGE DOS MILENARISTAS.” Parte do panfleto dizia: ‘Está vendo? Convidaram um estrangeiro para dar-lhes apoio. . . . São lobos em pele de ovelha, que vêm devorar as ovelhas sensatas de Cristo. . . . Não se chegue a eles, não lhes dê atenção. Não faça caso deles; talvez caiam em si e possam ser corrigidos. Da SANTA ARQUIDIOCESE.’

Conseguiria o irmão Knorr proferir o discurso público no Cinema Pallas sem perturbação? Deixemos que uma testemunha ocular descreva a cena. Don Rendell lembra-se: ‘Era pouco depois das 10 horas da manhã quando cheguei ao cinema. Havia polícia fora da entrada, e eu podia ver uma turma de jovens andando por aí com a intenção de entrar no cinema para causar perturbação. Visto que havia irmãos que conheciam muitos dos perturbadores, eles ajudaram os policiais que mantiveram os perturbadores longe da entrada. Tive de forçar a passagem através deles para poder entrar. Às 10h30, o irmão Knorr começou o seu discurso com 420 presentes. Mas os arruaceiros religiosos lá fora começaram a bater nas portas. A polícia acabou logo com isso. Mas a questão era então: como sairíamos do cinema depois do programa? Os irmãos decidiram que, com a ajuda da polícia, manteriam os perturbadores na frente do cinema. Daí, no fim do discurso, nós fomos orientados a deixar o prédio pela saída dos fundos, o que fizemos de modo discreto, evitando assim um confronto.’

Sinos de igreja marcam outro ataque

Em 1952, Famagusta era uma linda cidade, com laranjais e limoais, e com uma extensa praia arenosa. Esta cidade, na costa leste da ilha, fica apenas a alguns quilômetros das ruínas da antiga cidade de Salamina, onde o apóstolo Paulo e seus companheiros pregaram. Mas a Famagusta atual, desde a invasão turca de 1974, na maior parte é uma cidade-fantasma, com muito poucos habitantes. No entanto, em 1952, as Testemunhas de Jeová haviam planejado uma assembléia num dos cinemas da cidade. Bem-apercebidos de que a Igreja Ortodoxa Grega havia declarado guerra total às Testemunhas de Jeová, e por causa do que havia acontecido em assembléias anteriores, pedimos a presença da polícia. A manhã de domingo era bela, e os irmãos aguardavam o discurso público planejado para o meio da manhã. No entanto, dez minutos antes de o discurso começar, e com 350 pessoas já sentadas no cinema, havia indícios de perturbação. Antonios Karandinos, missionário na cidade, era um dos indicadores na entrada da frente do cinema. É assim que ele descreveu o que aconteceu:

“Apenas 10 minutos antes do discurso público, o sino duma igreja ortodoxa vizinha começou a tocar. Conforme soubemos mais tarde, era o sinal para sacerdotes e dezenas de jovens do segundo grau começarem uma marcha contra o cinema. Que espetáculo! Havia sacerdotes encabeçando uma turba de jovens decididos a entrar no cinema. Preparamo-nos para dificuldades. A porta do cinema foi fechada, e quando tentaram forçar a entrada, eu fui maltratado por um sacerdote e minha roupa foi rasgada. A situação ficou mais ameaçadora, de modo que se pediu reforço policial e este logo apareceu. Frustrados no seu esforço de acabar com a reunião, a turba gritou e vociferou contra nós lá fora do cinema.”

Frustrados nos seus esforços, os sacerdotes levaram a turba de volta à igreja. Jeová nos dera a vitória.

Violadores da lei levados ao tribunal

Anteriormente, os bispos, os sacerdotes e os teólogos da Igreja haviam sido enviados a cidades e aldeias em toda a ilha para exortar o povo: “Quando as Testemunhas de Jeová visitarem sua aldeia ou cidade, expulsem-nas!” Nem todos fizeram o que os clérigos queriam. Os irmãos continuaram a encontrar pessoas semelhantes a ovelhas. Mas essa agitação forçosamente teria repercussões. A irmã Galatia Matheakis conta um desses incidentes em que ela estava envolvida:

‘Certo domingo de manhã cedo, 20 de nós nos reunimos para o serviço de campo. Havíamos escolhido três aldeias. Levamos cerca de duas horas para chegar ao território. Na aldeia maior, dez irmãos trabalharam de casa em casa; os dez remanescentes foram divididos para trabalhar nas outras duas aldeias. Em uma das aldeias menores, os irmãos já tinham sido expulsos às 10h30. Na aldeia maior, quase já tinham terminado, com bons resultados, quando irrompeu a violência duma turba. Bateram com cadeiras na cabeça de dois irmãos que davam testemunho no centro da aldeia, e lançaram pedras contra eles quando deixaram a aldeia. O sacerdote da aldeia reuniu então uma turba de uns 200 para pegar a todos nós. Armados de paus pesados e batendo em latas, foram à nossa procura. Primeiro encontraram um irmão e uma irmã. Bateram com paus nas costas do irmão, e lançaram pedras contra a irmã. O mesmo aconteceu à maioria de nós outros. Fizeram-nos marchar através da aldeia. Os ferimentos produzidos pelos espancamentos serviram de testemunho contra esses aldeões quando alguns dos irmãos tiveram de ir ao hospital do governo para exame.’

Nossos irmãos apresentaram queixa no tribunal. Depois de ouvir depoimentos por três dias, o juiz disse: “Creio totalmente na evidência dos querelantes e acho os acusados culpados de todas as acusações. . . . Não acredito na alegação de que os querelantes estavam ensinando que Cristo era um bastardo, etc. . . . Os querelantes foram à aldeia dos acusados para ensinar a sua crença; fizeram isso pacificamente e os acusados não tinham direito de atacá-los.”

Entre 1952 e 1953, dois missionários, Antonios Karandinos e Emmanuel Paterakis, tiveram de deixar Chipre. Estes irmãos haviam travado uma luta árdua pela fé enquanto em Chipre, e são lembrados com afeto.

Apresentação de A Sociedade do Novo Mundo em Ação

Em 1955, recebemos da Sociedade o filme A Sociedade do Novo Mundo em Ação. Grandes assistências compareceram para vê-lo. Não somente os irmãos, mas também pessoas do mundo passaram a obter uma compreensão melhor da organização de Jeová.

Entre as muitas experiências interessantes há a seguinte: na aldeia de Xylophagou, de uma população de 1.500 habitantes, o proprietário do cinema local concordou em deixar-nos usar seu cinema sem custo. Na noite em que o filme seria apresentado, o sacerdote local mandou um aldeão anotar o nome de todos os presentes. Com que resultado? Quando o sacerdote pediu a lista dos nomes, o aldeão respondeu: “Visto que quase a aldeia inteira estava presente, como é que eu podia anotar todos os nomes?”

Tempos de mudança

Desde 1878, Chipre estivera sob controle britânico. Mas nos anos 50, os cipriotas gregos, sob a direção do arcebispo Makarios, promoveram uma campanha da ENOSIS, ou união com a Grécia, à base de vínculos tais como a língua e a religião. O segmento da população de língua turca se opôs a isso.

Não obstante, houve agitação a favor da independência do domínio colonial britânico. De 1955 a 1960, uma organização chamada EOKA forçou a questão da independência por meio de ataques de guerrilheiros contra os britânicos. As Testemunhas de Jeová são completamente neutras em tais assuntos políticos, mas não puderam deixar de ficar afetadas pelo que estava acontecendo em volta delas.

Um dos primeiros incidentes nesta campanha ocorreu em Famagusta, bem perto da filial da Sociedade. Um acampamento militar britânico nas proximidades sofreu um ataque. É compreensível que os cinco missionários morando na filial, todos eles súditos britânicos, sentissem muita pressão.

Em outra ocasião, Dennis Matthews e sua esposa, Mavis, dois missionários, acabavam de chegar em casa. Quando abriram a porta dos fundos, explodiu uma bomba na casa dum vizinho, um militar britânico. Enquanto a pessoa que havia colocado a bomba estava sendo perseguida num laranjal defronte ao lar missionário, irrompeu um tiroteio. Logo depois houve uma batida na porta, mas os missionários tiveram medo de abrir, de modo que perguntaram em voz alta quem estava ali. Eram militares britânicos, ansiosos de saber se os ocupantes estavam a salvo.

Certa vez, quando os irmãos Rendell e Gabrielides estavam em Xylophagou, para ajudar nos preparativos duma assembléia de circuito, houve muita comoção do lado de fora durante o semanal Estudo da Sentinela da congregação. Surgiram soldados britânicos à porta. Avisaram-nos de que, nos limites da aldeia, um soldado britânico fora morto e outro gravemente ferido. Em resultado disso, toda a área estava agora sob o toque de recolher, e pediram que o irmão Rendell dissesse a todos no salão que fossem imediatamente para casa. No dia seguinte, todos os homens da área, inclusive o irmão Rendell, embora fosse britânico, foram reunidos e colocados num cercado de arame farpado para interrogatório. Naturalmente, as Testemunhas de Jeová não estiveram envolvidas no assassinato, de modo que por fim foram soltas e continuaram com seus preparativos para a vindoura assembléia.

Vez após vez, porém, as atividades teocráticas tiveram de ser canceladas de repente, quando confrontos entre a EOKA e as forças britânicas resultaram em toques de recolher e outras restrições. Ninguém podia estar nas ruas após o escurecer, de modo que as reuniões tiveram de ser realizadas durante o dia. Houve períodos em que as pessoas ficavam até quatro dias confinadas em casa. Todos suspeitavam dos vizinhos e tinham medo de expressar uma opinião. As Testemunhas de Jeová, porém, apesar das restrições, continuaram a consolar os sinceros.

Fim do domínio colonial

A luta contra o domínio britânico em Chipre continuou até 1960. Então, à meia-noite de 16 de agosto, Chipre tornou-se uma república e, por fim, membro das Nações Unidas. Com cenas de grande regozijo, os cipriotas gregos por fim se sentiram livres do domínio estrangeiro. Mas, era esta a verdadeira liberdade? Como passavam as Testemunhas de Jeová sob a nova república? Que os fatos históricos o expliquem.

Antes do fim do ano, houve dois atentados com bomba contra as Testemunhas. Quem era o responsável? O primeiro ocorreu em Xylophagou. Duas bombas foram colocadas na sacada do Salão do Reino. Era obviamente um ataque contra as Testemunhas de Jeová como grupo religioso. Visto que as bombas explodiram depois da meia-noite, ninguém foi ferido, embora o Salão do Reino ficasse danificado.

No segundo incidente, lançou-se uma bomba contra a casa em Pentayia, onde moravam quatro pioneiros especiais. Felizmente, eles estavam na ocasião no ministério de campo. O proprietário da casa sabia quem era responsável, e disse: ‘Visitarei o bispo e pedirei que pague os danos causados. Ao mesmo tempo, vou dizer-lhe que, se ele quiser ganhar seguidores para Cristo, terá de fazer isso pregando assim como as Testemunhas de Jeová, e não por violência.’

Um irmão e sua família, que se haviam mudado para a aldeia de Liopetri para ajudar a pequena congregação ali, também se tornaram alvos de intolerância. Não eram incomuns ameaças tais como ‘vamos queimá-lo vivo’ ou ‘temos de matá-lo’. Foi depois da meia-noite que alguns fanáticos mascarados cercaram a casa do irmão e começaram a atirar com pistolas, gritando para o irmão que, se não fosse embora no dia seguinte, ele ia ser morto. Visto que a polícia não dava proteção ao irmão e à sua família, estes decidiram mudar-se da aldeia. Não obstante, apesar de todas as tentativas de intimidar os irmãos em Liopetri, há hoje uma congregação nesta aldeia, e, recentemente, os irmãos puderam construir um excelente novo Salão do Reino.

Um incidente vergonhoso ocorreu na noite de 11 de setembro de 1962. Andreas Psaltis e sua esposa, Nina, junto com Eunice McRae, estavam no lar missionário em Famagusta, quando homens mascarados entraram por uma janela. Eles espancaram o irmão Psaltis. Então amarraram as duas irmãs e sujeitaram-nas à indignidade de rapar-lhes a cabeça. (Note 1 Coríntios 11:6.) Depois de saquearem a casa, foram embora.

Por fim, em dezembro de 1983, a tensão entre os dois grupos étnicos maiores na ilha chegou ao auge. Irrompeu violência. Houve lutas especialmente ferozes num subúrbio de Nicósia, numa localidade chamada Trachonas, onde havia uma população mista de cipriotas gregos e turcos. Diversas Testemunhas de Jeová moravam em Trachonas, e elas haviam construído ali um grande Salão do Reino. Arriscando a vida, os irmãos que moravam fora daquele distrito levaram alimentos aos concrentes na área afetada. Lamentavelmente, porém, um irmão, Andronicos Michaelidis, foi morto a facadas quando tentou ir ao trabalho.

Uma prova da integridade

Em 1964, especialmente os jovens das Testemunhas se viam confrontados com uma prova da sua integridade. Com a continuação do conflito entre as comunidades grega e turca, o governo cipriota aprovou uma lei de alistamento militar. As Testemunhas em idade militar, convocadas para o serviço militar, tiveram uma decisão séria a tomar. Será que, sob pressão, adeririam aos ensinos de Jesus Cristo? No fundo do coração, eram realmente cristãos neutros? (Mat. 26:52; João 17:15, 16) Continuariam a confiar em Jeová de todo o coração? — Pro. 3:5, 6; Isa. 2:2-4.

Muitos mostraram ter tal fé. No entanto, alguns transigiram e deixaram de ser parte da congregação cristã neutra. Outros jovens das Testemunhas preferiram deixar a ilha, o que resultou na queda da média de publicadores de 516, em 1963, para 394, em 1966. As congregações sentiam-se um pouco desanimadas.

Tomaram-se medidas para fortalecer a fé dos irmãos. Para este fim, providenciaram-se assembléias de um dia, em que se consideravam conselhos bíblicos oportunos. O resultado foi encorajador. Mas os testes ainda não haviam acabado.

Forjaram desgraça em nome da Lei

Em junho de 1966, outro golpe foi dirigido contra a organização de Jeová. O Conselho de Ministros apresentou ao parlamento um projeto de lei que afetaria muito a pregação das Testemunhas de Jeová. Era um projeto de lei que proibia o proselitismo, e estipulava que todo aquele que visitasse pessoas nos seus lares com este fim ou que distribuísse literatura religiosa para fins de proselitismo não só ficaria sujeito a até dois anos de prisão, como também teria de pagar uma multa.

Apresentaram-se muitos protestos à Câmara dos Deputados de Chipre, e fizeram-se visitas aos representantes residentes do governo britânico e do estadunidense. A Sociedade enviou uma carta ao Secretário-Geral da Nações Unidas. Em resultado dos apelos de muitas partes, este projeto de lei até hoje não foi apresentado para ratificação.

Começa o programa de construções

Em vista da expansão da proclamação do Reino, havia uma necessidade crescente de lugares adequados para reuniões. Em 1967, quando havia apenas 431 publicadores, a filial da Sociedade em Chipre iniciou um fundo para construções, e os irmãos se entusiasmaram com as perspectivas.

Fomos muito incentivados pelo irmão Henschel durante sua visita zonal em abril de 1968. Naquela época, chegou à ilha um novo casal missionário, Louis Kopsies e sua esposa, Stella. O irmão Kopsies deu uma valiosa ajuda ao programa de construções por ajudar a organizar o trabalho e por dar de si mesmo de forma exemplar.

Um passo importante nos nossos planos de construção foi a constituição, em março de 1960, de uma associação local, chamada de A Congregação (Chipre) das Testemunhas de Jeová, Ltda. Os estatutos incluíam, entre outras coisas, os dispositivos de possuir propriedades.

O primeiro projeto foi a construção dum espaçoso Salão do Reino em Famagusta, para acomodar 230 pessoas. Este não só servia à congregação local, mas, junto com o pátio anexo, coberto por extensas videiras, também fornecia um lugar para a realização de assembléias de circuito.

A seguir, deu-se atenção à filial da Sociedade. Por cerca de 20 anos, tínhamos usado locais alugados. Daí, a Sociedade comprou um terreno em Agios Dometios, subúrbio da capital. Os irmãos construíram ali um novo prédio de quatro pavimentos, incluindo um Salão do Reino no primeiro andar. Este prédio foi dedicado em 1969 por F. W. Franz, que então era vice-presidente da Sociedade Torre de Vigia (dos EUA).

No ínterim, construiu-se um belo Salão do Reino em Xylophagou, lugar da primeira congregação das Testemunhas de Jeová em Chipre, formada no começo dos anos 30. Tinha havido muita oposição nesta aldeia, quando os primeiros a mostrar interesse na verdade começaram a dar testemunho aos outros. Mas, quando os aldeões observaram os irmãos e as irmãs trabalhar juntos por três semanas, 15 ou mais horas por dia, para construir seu Salão do Reino, houve alguns que não puderam deixar de ficar favoravelmente impressionados. Agora há um Salão do Reino para acomodar 450 pessoas bem no centro da aldeia. Dentro do salão e em volta dele há também amplo espaço para realizar assembléias e congressos.

Limassol, a segunda maior cidade na ilha, e balneário na costa sul, foi a próxima cidade a receber seu próprio Salão do Reino. Além do Salão do Reino, providenciou-se também um lar missionário no andar superior. Em 1974, quando o local da filial teve de ser desocupado em Nicósia, parte do espaço no andar superior foi adaptado para servir de escritório.

A cidade bíblica de Pafos também recebeu atenção. Embora o aumento ali no começo fosse vagaroso, nos últimos anos tem havido um enorme aumento na região de Pafos. O Salão do Reino originalmente construído ali teve de ser ampliado e acomoda agora duas congregações.

Um excelente Salão do Reino foi construído na cidade de Larnaca, e um salão pré-fabricado na aldeia de Liopetri deu agora lugar a um local mais apropriado de reunião para as pessoas no que é chamado de kokina choria, ou aldeias de terra vermelha, por causa do solo vermelho.

Publicadores e pioneiros especiais, zelosos, também estiveram atarefados no canto noroeste agreste, mas belo, da ilha, uma região conhecida aos turistas por seus chamados banhos de Afrodite. Em vista da aceitação da mensagem do Reino, comprou-se um terreno em Polis Chrysochous. Ali se construiu um Salão do Reino que acomoda 70 pessoas, e ele é usado como centro da educação divina naquela região.

Casamentos e sepultamentos

Visto que por muitos anos as autoridades não nos reconheceram como religião, não era fácil realizar em Chipre casamentos e sepultamentos de Testemunhas de Jeová. No conceito da maioria dos cipriotas gregos, alguém só podia ser casado ou sepultado pela igreja estabelecida de Chipre. No entanto, em 1948, o advogado da Sociedade na ilha apresentou às autoridades coloniais britânicas um requerimento para que um ministro das Testemunhas de Jeová, autorizado pelo governo, realizasse casamentos. Como os irmãos se alegraram quando, em 1949, a gazeta do governo publicou o anúncio de que uma Testemunha, Savvas Droussiotis, fora autorizado para realizar casamentos! Mais tarde, outros irmãos também foram autorizados pelo governo para fornecer este serviço.

A questão dos sepultamentos também constituía um problema, visto que muitas vezes havia oposição dos sacerdotes ortodoxos, que se negavam a permitir que Testemunhas de Jeová ou seus filhos fossem sepultados no que a igreja considerava ser “solo consagrado”. Nas cidades, onde cada denominação religiosa tinha seu próprio cemitério, este problema era especialmente agudo. Nas aldeias, a situação era um pouco diferente; os impostos pagos pelos moradores cobriam o sepultamento no cemitério local. No entanto, em alguns casos, os clérigos questionavam este direito. Não era fácil para nossos irmãos resolver estes problemas, quando ao mesmo tempo se esforçavam a lidar com a perda dum membro da família. O problema precisava ser resolvido.

Por fim, em 1950, as autoridades concederam às Testemunhas de Jeová o direito de ter seu próprio lugar de sepultamento. Um irmão doou para este fim um terreno fora da capital. Anos mais tarde, em 1989, foi necessário um segundo cemitério, e conseguimos permissão para usar um terreno na aldeia de Nissou, onde fica atualmente a filial da Sociedade. Estas provisões mostraram ser uma grande bênção para o povo de Jeová, e têm ajudado a refutar a afirmação dos sacerdotes ortodoxos, de que, ‘se você se tornar Testemunha de Jeová, será enterrado como se fosse um cão’.

Embora se concedesse às Testemunhas de Jeová o direito legal de realizar cerimônias de casamentos, em 1971 fizeram-se esforços para interferir neste direito. Fomos informados pela Autoridade Distrital de Nicósia de que, antes de se realizar um casamento, os noivos tinham de apresentar um certificado da arquidiocese, no sentido de que não mais eram membros da Igreja Ortodoxa Grega. Como era de esperar, a arquidiocese não estava disposta a emitir tais certificados. Isto praticamente significava que nenhuma Testemunha de Jeová podia casar-se. No entanto, com a ajuda de algumas autoridades amantes da liberdade, que se davam conta de que o requisito de tais certificados fora instigado pelos sacerdotes, este requisito foi eliminado.

Assembléia Internacional “Vitória Divina”

Em novembro de 1972, o irmão Knorr visitou Chipre relacionado com planos para as Assembléias Internacionais “Vitória Divina”. Planejavam-se excursões às terras bíblicas, relacionadas com os congressos. Para nosso deleite, Chipre foi incluída, e um congresso internacional seria realizado na capital, Nicósia, em julho de 1973.

Fizemos imediatamente esforços para conseguir um estádio ou outro local adequado para o congresso, mas não fomos bem-sucedidos, principalmente porque as autoridades e os comerciantes temiam a reação da Igreja. De modo que decidimos usar uma propriedade em volta de um grande Salão do Reino em Trachonas. A Sociedade já era dona do terreno defronte do Salão do Reino, e pudemos alugar o terreno ao lado. Foi um empreendimento e tanto construir uma cobertura de bambu para toda a área, a fim de abrigar os congressistas do calor. Diariamente, num calor de mais de 40 graus Celsius, nossos irmãos e irmãs trabalhavam para realizar esta tarefa.

Um dos maiores problemas, porém, era conseguir água suficiente para as necessidades do congresso. No inverno anterior ao congresso houve pouca chuva, e a água estava sendo racionada a três dias por semana. O que se podia fazer? Um irmão, cuja casa ficava ao lado do Salão do Reino, tinha um poço no jardim. Ele estava disposto a deixar que os irmãos o usassem, mas não se havia retirado água dali já por algum tempo. Quanta água produziria? Os irmãos o limparam, instalaram uma bomba, e então esperaram ansiosamente o resultado. Começou a sair uma abundância de água! Mas era potável? Fizeram-se testes. O resultado: 100% potável! Parecia um milagre moderno. Como ficamos gratos a Jeová por esta solução dum grande problema!

Por causa da crescente atividade em volta do Salão do Reino, os opositores logo se deram conta de que estava acontecendo algo especial. Daí, certa manhã, antes do alvorecer, o irmão cuja casa ficava ao lado do Salão do Reino despertou porque seu quarto ficou iluminado por chamas. Uma pilha de bambu estava em chamas no local. Incêndio criminoso! Nossos inimigos estavam novamente em pé de guerra. Daí em diante, tomaram-se maiores precauções para garantir a segurança.

A Sociedade tinha solicitado, em benefício dos muitos visitantes que viriam à ilha e que não entendiam a língua grega, que se preparassem encenações apresentando costumes locais e a vida dos habitantes da ilha. Toda manhã, das 8 às 9h30, antes do programa regular do congresso, fizeram-se estas encenações informativas, muito apreciadas por todos os presentes. Havia também excursões a lugares históricos associados com o registro bíblico.

A realização dum congresso internacional em Chipre foi uma experiência emocionante e edificante para os irmãos locais. Ofereceu-lhes a oportunidade de ter contato pessoal com Testemunhas de muitas nacionalidades. Isto ajudou a ampliar a visão da fraternidade internacional. Além disso, a publicidade resultante da oposição da Igreja Ortodoxa a este congresso ajudou a mais pessoas em Chipre a se aperceber bem das atividades das Testemunhas de Jeová.

1974, ano de mudança

Chipre era uma meca para turistas. A economia estava prosperando. Muitos cipriotas achavam que tudo estava muito bem. Mas isso sofreu uma dramática mudança em 15 de julho de 1974.

Por muito tempo, os ilhéus haviam estado politicamente divididos. Havia duas facções opostas na comunidade cipriota grega. Por um lado, havia os apoiadores do presidente, o Arcebispo Makarios; do outro, os apoiadores do falecido general Georgios Grivas, bem-conhecido líder da EOKA, que chefiara a revolta contra o domínio colonial britânico. Num golpe armado, o Presidente Makarios foi derrubado, e perderam-se muitas vidas. Mas estes eventos foram apenas o prelúdio de acontecimentos mais trágicos.

Depois de Don Rendell ter ficado na Inglaterra por 14 anos, por motivos de saúde, ele havia retornado a Chipre em 1972 e servia como superintendente de circuito. Na época, morava na costa norte da ilha, apenas a uns 60 quilômetros da costa sul da Turquia. Foi assim que ele descreveu o que ocorreu:

‘Junto com meu companheiro, Paul Andreou, eu morava na aldeia de Karakoumi, uns 2 quilômetros ao leste de Kyrenia. Por volta das cinco da manhã de 20 de julho, ouvi uma forte explosão. Da janela da cozinha pude ver uma coluna de fumaça subir da região do porto de Kyrenia. Uma rádio turca na ilha anunciou que, por causa das condições instáveis criadas em resultado do “golpe” cipriota grego, chegavam tropas da Turquia continental à costa norte para proteger a minoria cipriota turca que morava em Chipre. Percebemos logo que estávamos no meio duma guerra. Contamos no céu 75 helicópteros. Pára-quedistas foram lançados logo atrás dos montes que cercam a cidade. Os bombardeios do mar e do ar continuaram por alguns dias; depois, certa noite, já tarde, vimo-nos obrigados a deixar nossa casa quando tropas turcas avançaram sobre a aldeia.

‘Depois de passarmos alguns dias nas montanhas, voltamos para nossa casa, mas logo fomos cercados por tropas turcas. Não fomos molestados. Perguntávamo-nos o que teria acontecido com os irmãos da nossa pequena congregação em Kyrenia. Por fim, encontramos a família do irmão Kyriazis — sete Testemunhas ao todo — e ficamos muito felizes com isso. No dia seguinte, enquanto estávamos sentados debaixo duma árvore no jardim deles, estudando o texto do dia, chegaram tropas turcas. Mandaram-nos entrar na casa. Pouco depois fomos levados ao Hotel Dome, que estava sob o controle de tropas da ONU. Não permitiram a Paul e a mim voltar à nossa casa, mas fomos mantidos no hotel ali em Kyrenia, junto com o irmão Kyriazis e sua família, e mais cerca de 650 pessoas. Depois de alguns dias, porque eu era britânico, fui levado a Nicósia, andando a pé escoltado através da terra de ninguém, e fui solto. Mas os nossos irmãos cipriotas gregos foram mantidos no hotel por vários meses antes de serem soltos. Durante esse tempo, eles se mantiveram espiritualmente fortes por realizar reuniões regulares para estudar a Bíblia, e continuaram atarefados, transmitindo a mensagem consoladora da Bíblia a outros cativos retidos no hotel.’

Qual foi o resultado dessa ação militar? As tropas turcas ocuparam cerca de um terço da ilha. Mais de 200.000 pessoas se tornaram refugiados. Entre elas, alguns do povo de Jeová. Mais de 300 irmãos perderam todos os seus bens materiais. Quatro congregações foram dispersas. O lar de Betel suportou o ataque, mas as marcas da guerra evidenciavam-se, no prédio, nas persianas furadas a bala. Dando mais valor à vida do que à propriedade, decidimos evacuar a filial. No entanto, quando a luta diminuiu, fizemos esforços para retirar alguns dos arquivos do escritório da Sociedade. Descobrimos que soldados já haviam feito uma batida na filial. A porta da frente fora arrombada, e um soldado escrevera numa das paredes: ‘Deus não nos ama, porque não encontramos aqui nada de real valor.’

Formou-se imediatamente uma comissão para cuidar das necessidades dos nossos irmãos refugiados. Os não diretamente afetados pelo conflito abriram suas casas aos seus irmãos cristãos. Socorros procedentes de Testemunhas de Jeová na Grécia e fundos da filial britânica chegaram logo. Os irmãos locais realmente apreciaram a preocupação mostrada pelo Corpo Governante em ajudá-los quando passavam necessidades. Que maravilhoso vínculo de união mantém todos os servos de Jeová bem achegados uns aos outros!

Provisão dum Salão de Assembléias

Por causa da mudança dos cipriotas turcos do sul da ilha para o norte, um cinema turco na cidade de Limassol tornou-se disponível para nós, e assinamos um contrato com o proprietário turco antes de ele ir embora. O prédio fora seriamente danificado durante as hostilidades. Mas os irmãos trabalharam arduamente para consertar o teto e de modo geral tornar o lugar aproveitável. Uma das congregações na cidade pôde usar parte do prédio para as suas reuniões. O cinema podia acomodar 800 pessoas, e em volta dele havia uma área que podia ser usada para departamentos de congresso. Sempre tivemos problemas de conseguir um lugar apropriado para os nossos congressos, de modo que este foi exatamente o que precisávamos.

Não demorou muito, porém, após o falecimento do dono anterior, que alguns em autoridade queriam tirar-nos o cinema. Mas, por fim, fez-se um arranjo com as autoridades para usarmos o cinema e parte da propriedade ao redor dele. No decorrer dos anos fizeram-se muitas melhoras no prédio, até que atingiu o padrão aceitável para a adoração de nosso Deus, Jeová.

Quando conseguimos o cinema, este tinha bastante lugar para todas as Testemunhas em Chipre. Mas, em 1994, planejamos realizar três congressos de distrito ali, para acomodar as Testemunhas e os interessados que comparecessem.

Questão de consciência cristã

Durante 1978/79, vários jornais publicaram notícias sobre a posição neutra das Testemunhas de Jeová com respeito ao recrutamento militar. Por não haver na lei nenhuma provisão para a objeção por motivos de consciência, diversas Testemunhas receberam penas de prisão.

Desde 1980, pelo menos 130 Testemunhas de Jeová foram encarceradas por sua posição neutra, e algumas receberam pela segunda, terceira e quarta vez penas de prisão. O caso de Georgios Anastasi Petrou, de 28 anos, é interessante. Em 1.º de julho de 1993, ele foi pela quarta vez condenado como objetor de consciência, e foi sentenciado a seis meses de prisão. Ao todo, seu tempo na prisão já ascendia a dois anos e dois meses. Referente a esta Testemunha, o jornal Cyprus Weekly, de 9 de setembro de 1993, noticiou o protesto da Anistia Internacional, dizendo: ‘Infelizmente, não há nada para impedir as autoridades de encarcerá-lo pela quinta, sexta e sétima vez. Será que não está na hora de as autoridade deixarem de hostilizá-lo?’

Toda semana, diversos anciãos visitam nossos irmãos que estão na prisão por motivos de neutralidade, para considerar com eles A Sentinela, bem como outras informações bíblicas edificantes. Apreciamos a cooperação das autoridades carcerárias que tornou isso possível. Os irmãos que se confrontam com a questão da neutralidade encaram isso como prova de fé e como oportunidade de dedicar mais tempo, na prisão, ao estudo pessoal da Bíblia. Os seguintes comentários de alguns são característicos: ‘Estamos preparados para ficar na prisão o tempo que Jeová o permitir’, e: ‘Nunca antes estudamos tanto.’

Os ministros do governo recebem muitas cartas de protesto de organizações de direitos humanos, pedindo que as autoridades cipriotas resolvam a questão da objeção por motivos de consciência. Em resultado disso, diversos artigos em jornais recentemente instaram com as autoridades para harmonizar a legislação com o que agora é comum na Europa. Por exemplo, o jornal Alithia, de 24 de janeiro de 1994, disse a respeito de objetores de consciência: ‘Este assunto tem de ser resolvido o mais breve possível, em harmonia com as sugestões da Europa e da ONU.’

O Parlamento Europeu exortou os estados-membros da Comunidade Européia a dar reconhecimento legal à objeção ao serviço militar por motivos de consciência. Em 1993, um artigo extenso publicado na Cyprus Law Tribune exortou as autoridades em Chipre a considerar seriamente o que países tais como a Suécia e a Holanda fizeram para lidar com esta situação.

Novo lugar da filial

Em 1981, fizeram-se mudanças em nível administrativo na filial da Sociedade. Para cuidar das necessidades da filial, convidou-se a Don Rendell, que então servia no Betel da Grécia, a voltar a Chipre para assumir os deveres de coordenador da Comissão de Filial. No ano seguinte, um casal cipriota grego, Andreas Kontoyiorgis e sua esposa, Maro, que haviam servido como pioneiros especiais na Inglaterra, foram acrescentados à família de Betel em Chipre. Visto que o lugar em Limassol mostrou ser pequeno demais, a família de Betel ficou muito satisfeita, em 1985, quando o Corpo Governante deu permissão para se construir um novo prédio para a filial.

Embora os irmãos estivessem ansiosos de iniciar o trabalho no novo local, havia problemas a resolver. Onde seria construído o novo prédio? Decidiu-se usar para isso o terreno que a Corporação das Testemunhas de Jeová de Chipre possuía em Limassol. Durante 1987, submeteram-se as plantas arquitetônicas às autoridades municipais locais, e solicitou-se o alvará de construção. No entanto, assim que ficou conhecido que as Testemunhas de Jeová planejavam construir, representantes da Igreja Ortodoxa Grega percorreram a vizinhança para conseguir assinaturas numa declaração de protesto. Em resultado disso, as autoridades recusaram conceder o alvará de construção. Os motivos alegados eram “resguardar a segurança e ordem pública, que ficariam em perigo se o alvará fosse concedido”, e também “o objetivo da construção proposta”.

Visto que esta decisão se baseava obviamente em preconceito religioso, os irmãos levaram o caso ao tribunal. Ali, a decisão foi em favor das Testemunhas de Jeová. A sentença declarava que a autoridade municipal “não [tem] autoridade para negar-se a emitir um alvará de construção por motivos de segurança pública ou da ordem pública”. A sentença continuava: “No entanto, o outro motivo alegado, a saber, ‘o objetivo da construção proposta’, . . . revela o verdadeiro motivo de se negar a solicitação do requerente.” Foi proveitoso que a questão fora resolvida judicialmente.

No entanto, mesmo antes de o tribunal dar a sentença, tornou-se cada vez mais evidente que não seria sábio situar a filial numa área onde havia uma oposição tão feroz. Providencialmente, naquela época, um irmão que tinha uma propriedade na aldeia de Nissou, a poucos quilômetros de Nicósia, ofereceu vendê-la à Sociedade. Em cerca de meio hectare de terra, havia um prédio de quatro apartamentos. Ao fundo do prédio havia um pomar de árvores cítricas, e na frente havia um pátio cercado por arbustos floridos e palmeiras. Ao lado encontrava-se o Salão do Reino local. A propriedade era ideal para a filial. Havia ali mais espaço do que estaria disponível em Limassol, seriam necessárias poucas alterações, a propriedade tinha localização central e a vizinhança era amistosa. Depois de a Comissão Editora do Corpo Governante conceder a aprovação, comprou-se a propriedade em 1988, e, em junho daquele ano, a família de Betel mudou-se para lá.

Decisões jurídicas ajudam a obra

Além do caso jurídico referente à proposta filial, tem havido outras ocasiões em que foi necessário tomar ação para “defender e estabelecer legalmente as boas novas” em Chipre. Ocasionalmente, foi necessário fazer apelações à Corte Suprema da ilha. — Fil. 1:7.

Um ponto fundamental que precisava ser esclarecido era: são as Testemunhas de Jeová o que legalmente é classificado como “religião conhecida”? Em caso afirmativo, deviam receber o mesmo tratamento que as outras religiões já existentes. O Artigo 18 da Constituição de Chipre declara:

“1. Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião.

“2. Todas as religiões, cujas doutrinas não são secretas, estão livres.

“3. Todas as religiões têm igualdade perante a lei.”

Autoridades jurídicas têm definido como “religião conhecida” a “religião que pode ser ‘conhecida’ por todos; a religião cujo dogma e princípios não são secretos, e cuja adoração é realizada em público”. As Testemunhas de Jeová satisfazem todos esses critérios.

No entanto, no campo da educação, as Testemunhas de Jeová sofriam discriminação. As escolas negavam-se a registrar “Testemunhas de Jeová” como a religião dos estudantes, embora seja costumeiro anotar a religião do estudante no boletim escolar. O assunto foi tratado com as autoridades educacionais. O Ministério da Educação declarou: ‘Não cogitamos a existência duma religião com o nome de Testemunhas de Jeová. Entendemos que as Testemunhas de Jeová são um movimento ou uma organização.’

Num memorando dirigido ao ministro da educação, datado de 16 de abril de 1991, o Procurador-Geral reexaminou o assunto à luz da Constituição de Chipre. Deu então o parecer de que as Testemunhas de Jeová são uma “religião conhecida”, de modo que a religião dos estudantes devia ser indicada no boletim escolar.

Este parecer do Procurador-Geral teve um efeito favorável sobre outras questões legais envolvendo os servos de Jeová em Chipre. Um memorando de nove páginas, emitido pela procuradoria, declarou que os ministros das Testemunhas de Jeová devem ser tratados do mesmo modo que os das principais religiões de Chipre. Numa época em que havia renovadas pressões dos opositores, isto serviu para reforçar a decisão tomada pelas autoridades em julho de 1990 a respeito das Testemunhas de Jeová. À base desta decisão, anciãos e servos ministeriais nas congregações das Testemunhas de Jeová estão eximidos do serviço militar, por serem reconhecidos como ministros de religião.

Outro acontecimento seguiu o parecer do Procurador-Geral a respeito de impostos. Em 17 de junho de 1992, o Ministério do Comércio tornou conhecida sua decisão de que a organização das Testemunhas de Jeová ficaria isenta do imposto territorial, e que os impostos já pagos desde 1981 seriam restituídos.

Nem é preciso dizer que as Testemunhas de Jeová em Chipre são gratas às autoridades que deixam de lado o preconceito e tratam todas as religiões com imparcialidade.

O ajuntamento continua

Nos tempos modernos, foi uns 70 anos atrás que a pregação das boas novas do Reino de Jeová chegou a Chipre. O que foi realizado desde então?

De uma extremidade da ilha até a outra — em cidades, aldeias e na zona rural — as pessoas receberam a oportunidade, vez após vez, de ouvir a mensagem da Bíblia. Encontraram-se ali alguns prospectivos membros do Reino celestial. Agora, muitos outros estão sendo ajuntados com a esperança de vida eterna como adoradores de Jeová na terra paradísica. Por volta do início de 1985, havia em Chipre mais de 1.000 que cantavam publicamente os louvores de Jeová.

Mas o ajuntamento não parou ali. Em março de 1994, havia em Chipre 1.554 Testemunhas ativas, e 3.141 estiveram presentes na Comemoração. Portanto, muitos ainda estão aceitando o programa de fazer discípulos e mostram o desejo de aprender tudo o que Jesus ordenou aos seus seguidores. Em toda a ilha, há 16 congregações, e elas mostram zelo pelo serviço de Jeová. No ano de serviço que passou, houve uma evidência excelente do crescente espírito de pioneiro, especialmente entre as Testemunhas mais jovens. Em março, o total de 295 Testemunhas, que era 19 por cento do total de publicadores, participaram em alguma forma de serviço de pioneiro.

Houve também progresso no treinamento dos irmãos para assumir mais responsabilidades. Isto se deu especialmente com respeito aos anciãos congregacionais, bem como à organização de congressos e assembléias.

Requer perseverança da parte dos publicadores continuar a cobrir o território regularmente. O medo do homem ainda prevalece em Chipre, onde há comunidades muito unidas, especialmente na zona rural.

Quando o amor pela verdade da Bíblia se arraíga no coração de alguém jovem, às vezes é este quem ajuda os demais da família a vencer a barreira do medo. Isto se deu numa família de seis pessoas (pai, mãe e quatro crianças) numa aldeia pequena. Uma pioneira começou a estudar a Bíblia com a mãe. Depois do terceiro estudo, ela foi a uma reunião das Testemunhas. Mas, quando surgiu oposição na família, ela parou de estudar. No entanto, sua filha de nove anos chorava continuamente, até que, por fim, a mãe passou a estudar de novo. Em pouco tempo, toda a família começou a assistir às reuniões. Esta senhora foi batizada em 1994. Seu marido estuda agora, e aquela filha também continua a estudar.

Ao passo que os publicadores participam fielmente no ministério, continuam a achar tais humildes. Também aprendem a cultivar os frutos do espírito de Deus. E evidenciam que são apoiadores leais da soberania de Jeová.

A verdadeira libertação de cipriotas sinceros

A história de Chipre registra que seus habitantes foram dominados por potências estrangeiras. Muitos cipriotas deram a vida por aquilo que consideravam ser a causa da liberdade. No entanto, o resultado nem sempre foi o que visionavam. Na geração atual, muitos perderam suas terras ancestrais, e atualmente não têm nenhuma esperança de recuperá-las. Isto se dá também com algumas das Testemunhas de Jeová. Não tem sido fácil para elas.

Mas a verdadeira liberdade não depende de onde se vive ou do que se possui. Esta liberdade é do tipo que resulta do conhecimento exato da verdade. Tal conhecimento, encontrado na Bíblia, liberta as pessoas da superstição e do medo injustificável. Substitui a intolerância religiosa pelo amor a Deus e ao próximo. Mostra o modo de se libertar da escravidão ao pecado e à morte a todos os que depositam fé na provisão amorosa de salvação feita por Jeová Deus por meio de Jesus Cristo. São estas as boas novas que as Testemunhas de Jeová levam a pessoas de todo tipo.

Sim, como se deu quando o apóstolo Paulo e seu companheiro Barnabé pregavam em Chipre, assim os líderes religiosos se opõem à pregação dessas boas novas. No decorrer da sua história moderna em Chipre, os servos de Jeová sofreram oposição primariamente da parte da Igreja Ortodoxa Grega. Mas as Testemunhas sempre se lembram do que está escrito em Jeremias 1:19: “Por certo lutarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti, pois ‘eu estou contigo’, é a pronunciação de Jeová, ‘para te livrar’.”

Elas confiam em que Jeová continuará a libertá-las dos seus inimigos e que em breve as libertará durante a vindoura grande tribulação para levá-las ao Seu novo mundo. Então se cumprirá o que está escrito em Miquéias 4:4, não só em sentido espiritual mas também de modo literal: “Realmente sentar-se-ão, cada um debaixo da sua videira e debaixo da sua figueira, e não haverá quem os faça tremer.” É verdade que há cipriotas que mesmo agora já podem sentar-se debaixo da sua videira e figueira, mas não fazem isso sem medo. No entanto, na “vindoura terra habitada”, de que a Bíblia fala, será possível usufruir essas condições sem medo de crime, de guerra ou mesmo de doença e morte. Esta será a verdadeira libertação! Sim, Jeová promete: “Eis que faço novas todas as coisas.” Ele diz também: “Estas palavras são fiéis e verdadeiras.” — Heb. 2:5-9; Rev. 21:4, 5; Sal. 37:9-11.

[Fotos/Mapa na página 66]

(Para o texto formatado, veja a publicação)

CHIPRE

Pafos

Nicósia

Limassol

Larnaca

Xylophagou

Famagusta

Salamina

[Fotos na página 71]

Antonis Spetsiotis (à direita) e Andreas Christou, as primeiras Testemunhas em Xylophagou

[Fotos nas páginas 72, 73]

O apóstolo Paulo pregou a Sérgio Paulo em Pafos, apesar da oposição dum feiticeiro (À esquerda: ruínas do palácio do procônsul)

[Foto na página 76]

Panagiotis Gavrielides

[Foto na página 79]

Nikos e Galatia Matheakis, Testemunhas zelosas, conhecidas pela sua generosa hospitalidade

[Fotos na página 80]

Alguns dos primeiros missionários treinados em Gileade:

1. Don Rendell

2. Anthony Sideris

3. Emmanuel Paterakis

4. Antonios Karandinos

[Foto na página 81]

Algumas das irmãs que serviram como missionárias em Chipre (da esquerda para a direita): Jean Baker, Yvonne Warmoes (Spetsiotis), Nina Constanti (Psaltis)

[Foto na página 86]

N. H. Knorr (2.ª fileira, à direita) com irmãos cipriotas e com missionários

[Fotos na página 87]

Uma emocionante assembléia foi realizada nos cinemas Royal e Pallas, em 1951

[Foto na página 91]

Testemunhas prontas para ir ao território, em 1955

[Fotos na página 100]

Congresso internacional sob cobertura de bambu, em Nicósia, em 1973

[Fotos na página 107]

Salão de Assembléias em Limassol

[Fotos nas páginas 108, 109]

A atual filial e família de Betel em Chipre

[Foto na página 115]

A Comissão de Filial que agora serve em Chipre (da esquerda para a direita): Andreas Costa Efthymiou, Andreas Kontoyiorgis, James Petridis

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