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Visita à Terra PrometidaA Sentinela — 1996 | 15 de agosto
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Visita à Terra Prometida
SUPONHA que um amigo lhe dissesse que comprou para você — de presente — uma casa novinha, num lugar bonito e sossegado. Você ficaria curioso de saber como é a casa. Sem dúvida ficaria morrendo de vontade de vê-la pessoalmente, de entrar em cada aposento e examinar um a um. Afinal, é sua casa nova!
Em 1473 AEC, Jeová legou à nação do Israel antigo um novo lar: a Terra Prometida, uma faixa de território de cerca de 500 quilômetros no sentido norte—sul e 55 quilômetros de largura, em média.a Situada na região que é chamada de Crescente Fértil, a Terra Prometida era um lugar deleitoso para viver, dotado de características inigualáveis.
Mas por que você estaria interessado numa “casa” que foi dada a uma outra pessoa, especialmente alguém que viveu tanto tempo atrás? Porque conhecer essa terra histórica pode acentuar seu apreço pelos relatos bíblicos. “Nas terras da Bíblia”, escreveu o falecido professor titular Yohanan Aharoni, “Geografia e História estão tão profundamente interligadas que uma não pode ser realmente entendida sem a ajuda da outra”. Além disso, em seu apogeu, a Terra Prometida foi uma amostra, em pequena escala, do que o paraíso, sob o Reino de Deus, significará em breve para a humanidade em toda a Terra! — Isaías 11:9.
Em seu ministério terrestre, Jesus Cristo recorreu a cenas comuns na Terra Prometida para ensinar certas lições práticas. (Mateus 13:24-32; 25:31-46; Lucas 13:6-9) Nós também podemos aprender muita coisa considerando certos aspectos da Palestina antiga. Vamos entrar em alguns dos seus aposentos, por assim dizer, e examinar certas características peculiares dessa terra, que foi o lar do povo de Deus por muitos séculos. Conforme veremos, a Terra Prometida tem muito a nos ensinar.
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Lições práticas da Terra PrometidaA Sentinela — 1996 | 15 de agosto
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Lições práticas da Terra Prometida
A TERRA PROMETIDA de que fala o registro bíblico sem dúvida alguma era inigualável. Nessa região relativamente pequena é grande a variedade de aspectos geográficos. No norte, montanhas de picos nevados; no sul, regiões quentes. Existem ali terras baixas produtivas, regiões desérticas desoladas e regiões montanhosas para pomares e pastagens.
A diversidade em altitude, clima e solo dá lugar a ampla variedade de árvores, arbustos e outras plantas, incluindo algumas que crescem em regiões frias, alpinas; outras, no deserto tórrido; ainda outras, na planície aluvial ou no planalto rochoso. Certo botânico calcula que existem cerca de 2.600 variedades de plantas na região! Os primeiros israelitas que foram inspecionar a terra logo encontraram evidências de seu potencial. Voltaram de um dos vales de torrente com um cacho de uvas que, de tão grande, tinha de ser carregado numa barra, por dois homens! Esse foi o motivo de o vale ser batizado de Escol, que significa “Cacho [de uvas]”.a — Números 13:21-24.
Mas examinemos mais detidamente alguns aspectos geográficos dessa inigualável faixa de terra, especialmente a região sul.
A Sefelá
A margem ocidental da Terra Prometida é a costa, no mar Mediterrâneo. A cerca de 40 quilômetros continente adentro fica a Sefelá. A palavra “Sefelá” significa “Terra Baixa”, mas é na realidade uma região montanhosa e só pode ser chamada de baixa se comparada com as montanhas de Judá, a leste.
Observe o mapa em corte, que acompanha este artigo, e note a relação da Sefelá com os territórios circundantes. A leste ficam as montanhas de Judá; a oeste, a planície costeira da Filístia. Assim, a Sefelá servia como zona-tampão, uma barreira que nos tempos bíblicos separava o povo de Deus dos inimigos. Qualquer exército invasor que viesse pelo oeste teria de passar pela Sefelá antes de avançar sobre Jerusalém, a capital de Israel.
Um incidente como esse ocorreu no nono século AEC. A Bíblia relata que o Rei Hazael, da Síria, “passou a subir e a lutar contra Gate [provavelmente na fronteira da Sefelá], e a capturá-la; depois Hazael fixou a sua face para subir contra Jerusalém”. O Rei Jeoás conseguiu deter Hazael, subornando-o com uma variedade de objetos de valor tirados do templo e do palácio. No entanto, esse relato ilustra que a Sefelá era de importância crucial para a segurança de Jerusalém. — 2 Reis 12:17, 18.
Dá para tirar uma lição disso. Hazael queria conquistar Jerusalém, mas primeiro tinha de passar pela Sefelá. Satanás, o Diabo, está “procurando . . . devorar” os servos de Deus, mas em muitos casos primeiro tem de penetrar numa fortificada zona de proteção. Para os servos de Deus, a zona de proteção é o apego aos princípios bíblicos, sobre más companhias e materialismo, por exemplo. (1 Pedro 5:8; 1 Coríntios 15:33; 1 Timóteo 6:10) Transigir princípios bíblicos em geral é o primeiro passo para pecados graves. Portanto, mantenha a segurança na zona de proteção. Acate os princípios bíblicos hoje, e não violará as leis de Deus amanhã.
A região montanhosa de Judá
Mais para o interior, partindo-se da Sefelá, fica a região montanhosa de Judá. É uma área montanhosa que produzia cereais, azeite de oliva e vinho de boa qualidade. Graças à elevada altitude, Judá também era um excelente refúgio. Foi por isso que o Rei Jotão construiu “fortes e torres” lá, para onde o povo podia fugir em busca de segurança em épocas de distúrbios. — 2 Crônicas 27:4.
Jerusalém, também chamada de Sião, era uma parte de destaque da região montanhosa de Judá. Parecia segura, já que três dos seus lados estavam cercados por vales íngremes e o lado norte, segundo o historiador Josefo, do primeiro século, estava protegido por três muralhas sucessivas. Mas um refúgio precisa de mais do que muralhas e armas para ser seguro. Precisa ter água também, que é essencial durante um sítio, porque, encurraladas e sem água, as pessoas logo se veriam obrigadas a render-se.
Jerusalém recebia do reservatório de Siloé um suprimento de água. No entanto, no oitavo século AEC, prevendo um sítio pelos assírios, o Rei Ezequias construiu uma muralha externa para proteger o reservatório de Siloé, que assim ficou dentro das muralhas da cidade. Ele também tapou as fontes fora da cidade, para que os sitiadores assírios ficassem numa situação desesperadora, à procura de água. (2 Crônicas 32:2-5; Isaías 22:11) E não foi só isso. Ezequias arranjou um jeito de desviar um suprimento extra de água para dentro de Jerusalém!
O que Ezequias fez é considerado um dos grandes feitos de engenharia da antiguidade: a escavação de um túnel, partindo da fonte de Giom até o reservatório de Siloé.b Era, em média, de 1,8 metro de altura e tinha 533 metros de extensão. Imagine só! Um túnel de mais de meio quilômetro de extensão, escavado na rocha! Hoje, uns 2.700 anos depois, quem visita Jerusalém pode caminhar por essa obra-prima de engenharia, comumente conhecida como túnel de Ezequias. — 2 Reis 20:20; 2 Crônicas 32:30.
Os esforços feitos por Ezequias para proteger e aumentar o suprimento de água de Jerusalém podem ensinar-nos uma lição. Jeová é “a fonte de água viva”. (Jeremias 2:13) Seus pensamentos, contidos na Bíblia, são capazes de sustentar a vida. É por isso que o estudo pessoal da Bíblia é essencial. Mas as oportunidades de estudar, e o conhecimento que se assimila no estudo, não caem do céu. Talvez seja preciso ‘escavar túneis’, como que através de sua atarefada rotina diária, para poder arranjar tempo. (Provérbios 2:1-5; Efésios 5:15, 16) Tendo iniciado, apegue-se à sua programação, dando prioridade máxima ao estudo pessoal. Cuide para que ninguém nem nada o prive desse precioso suprimento de água. — Filipenses 1:9, 10.
As regiões de terras desérticas
A leste das montanhas de Judá fica o ermo de Judá, também chamado de Jesimom, que significa “Deserto”. (1 Samuel 23:19, nota) Próximo do mar Salgado, essa região árida apresenta desfiladeiros rochosos e penhascos escarpados. O ermo de Judá, que tem um declive de uns 1.200 metros em apenas 24 quilômetros, fica protegido dos ventos ocidentais que trazem chuvas, de modo que a precipitação pluvial é limitada. Esse sem dúvida é o ermo para onde o bode para Azazel era enviado no Dia da Expiação, uma vez por ano. É também o lugar para onde Davi fugiu de Saul. Nele Jesus jejuou por 40 dias e depois foi tentado pelo Diabo. — Levítico 16:21, 22; Salmo 63, cabeçalho; Mateus 4:1-11.
Aproximadamente a 160 quilômetros a sudeste do ermo de Judá fica o ermo de Parã. Muitos acampamentos de Israel, durante a jornada de 40 anos do Egito até a Terra Prometida, foram armados nesse ermo. (Números 33:1-49) Moisés escreveu sobre o “grande e atemorizante ermo de serpentes venenosas e de escorpiões, e de terra sedenta sem água”. (Deuteronômio 8:15) É de admirar que milhões de israelitas tenham sobrevivido! Mas Jeová os sustentava.
Que isso nos sirva de lembrete de que Jeová pode sustentar-nos também, mesmo neste mundo espiritualmente árido. Nós também caminhamos entre serpentes e escorpiões, ainda que não sejam de verdade. Talvez precisemos ter contato diário com pessoas que não têm escrúpulos de falar coisas que são como veneno e podem facilmente infectar nosso modo de pensar. (Efésios 5:3, 4; 1 Timóteo 6:20) As pessoas que se esforçam a servir a Deus apesar desses obstáculos merecem ser elogiadas. Sua fidelidade é uma forte evidência de que Jeová de fato as está sustentando.
Os montes do Carmelo
O nome Carmelo significa “Pomar”. Essa região fértil, no norte, de cerca de 50 quilômetros de comprimento, está adornada com vinhais, olivais e árvores frutíferas. O promontório dessa cadeia colinosa é de uma graça e beleza memorável. Isaías 35:2 fala do “esplendor do Carmelo” como símbolo da gloriosa produtividade da terra restaurada de Israel.
No Carmelo ocorreram vários eventos notáveis. Foi lá que Elias desafiou os profetas de Baal e onde ‘caiu fogo da parte de Jeová’ como prova de Sua supremacia. Também, foi do topo do Carmelo que Elias chamou atenção para a pequena nuvem que virou uma chuvarada, num milagre que pôs fim à seca em Israel. (1 Reis 18:17-46) Eliseu, o sucessor de Elias, estava no monte Carmelo quando a mulher de Suném foi pedir-lhe ajuda para seu filho, que estava morto. Eliseu o ressuscitou. — 2 Reis 4:8, 20, 25-37.
As encostas do Carmelo ainda têm pomares, olivais e videiras. Na primavera, elas ficam cobertas por um tapete de flores, num espetáculo magnífico. “Tua cabeça sobre ti é como o Carmelo”, disse Salomão à sulamita, talvez aludindo à sua abundante cabeleira ou ao porte majestoso de sua cabeça bem torneada sobre o pescoço. — O Cântico de Salomão 7:5.
O esplendor que era característico dos montes do Carmelo nos faz lembrar da beleza espiritual com que Jeová favorece a organização de seus adoradores na atualidade. (Isaías 35:1, 2) As Testemunhas de Jeová realmente vivem num paraíso espiritual e concordam com os sentimentos do Rei Davi, que escreveu: “As próprias cordas para medir caíram para mim em lugares aprazíveis. Realmente, minha própria possessão mostrou-se agradável para mim.” — Salmo 16:6.
É verdade que a nação espiritual de Deus tem de enfrentar desafios difíceis hoje em dia, assim como os israelitas antigos enfrentaram contínua oposição dos inimigos de Deus. No entanto, os genuínos cristãos nunca perdem de vista as bênçãos de Jeová, entre as quais a sempre crescente luz da verdade da Bíblia, a fraternidade mundial e a oportunidade de ganhar a vida eterna no paraíso terrestre. — Provérbios 4:18; João 3:16; 13:35.
“Semelhante ao jardim de Jeová”
A antiga Terra Prometida era de encher os olhos. Foi bem descrita como terra em que ‘manava leite e mel’. (Gênesis 13:10; Êxodo 3:8) Moisés chamou-a de ‘terra boa, terra de vales de torrentes de água, de fontes e de águas de profundeza surgindo no vale plano e na região montanhosa, terra de trigo e de cevada, e de videiras, e de figos, e de romãs, terra de azeitonas e de mel, terra em que não se come pão com escassez, em que não se carece de nada, terra cujas pedras são ferro e de cujas montanhas se extrai o cobre’. — Deuteronômio 8:7-9.
Se Jeová pôde dar uma terra rica e linda como essa a seu povo na antiguidade, certamente ele pode dar aos seus servos fiéis na atualidade um glorioso paraíso, que se estenderá por toda a Terra, com montanhas, vales, rios e lagos. Não há dúvida de que a antiga Terra Prometida, com toda a sua diversidade, foi só um antegosto do paraíso espiritual em que as Testemunhas de Jeová vivem hoje e do futuro paraíso terrestre no novo mundo. Nele se cumprirá a promessa registrada no Salmo 37:29: “Os próprios justos possuirão a terra e residirão sobre ela para todo o sempre.” Quando Jeová der esse lar paradísico à humanidade obediente, como as pessoas serão felizes de poder examinar todos os seus “aposentos”, e isso para sempre!
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