Honduras
ELE havia lutado muito contra a tempestade uivante que ameaçara lançar seu navio contra a mesma costa que acabava de descobrir. Quando por fim conseguiu livrar-se daquelas águas traiçoeiras, Cristóvão Colombo supostamente suspirou e disse: “Graças a Deus que nos livramos destas profundezas!” A palavra em espanhol para profundezas, honduras, evidentemente tornou-se o nome deste país. Quer dizer, é assim que Honduras obteve seu nome, segundo dizem alguns livros de História.
Atualmente, é muito mais fácil partir de Honduras — ou chegar ao país — do que foi para Colombo. É um dos sete pequenos países na faixa estreita de terra que liga a América do Norte à América do Sul. Com cerca de cinco milhões de habitantes ocupando 112.000 quilômetros quadrados, não é nem o maior, nem o mais populoso país da América Central. Mas é o mais montanhoso. Encontrando-se a 15 graus latitude norte, tanto o seu litoral no Caribe como o no Pacífico usufruem o calor tropical, ao passo que o interior montanhoso é muito mais fresco.
Desde as montanhas, cobertas até o cume de pinheiros, até a selva tropical nas terras baixas, ondulantes, onde crescem os famosos mognos e cedros hondurenhos, seguindo até os pântanos úmidos e, mais além, até as praias ladeadas por palmeiras e as lagoas, na costa do Caribe, esta terra tem muita beleza pitoresca para magnificar o Criador e para satisfazer a alma.
A população é igualmente variada e interessante — índios, brancos, negros e uma bela mistura de todas as três raças. Os índios maias foram os primeiros a vir para cá. Donde vieram, ninguém sabe com certeza.
Há notáveis similaridades entre as pirâmides maias e os zigurates do Egito e de Babilônia, e há também paralelos interessantes na religião. A adoração dos maias, com seus múltiplos deuses, e com sua crença na imortalidade da alma e da punição após a morte, não se diferenciava muito da religião babilônica. Nem foram essas crenças muito alteradas com o advento da cristandade.
A cristandade penetrou no país à força. Os conquistadores espanhóis convergiram sobre Honduras em 1524. Como era seu costume, impuseram aos nativos a língua espanhola e a religião católica. Até hoje, cerca de 95 por cento dos hondurenhos são católicos. O período colonial terminou uns três séculos mais tarde, em 1821, quando se declarou a independência. Os espanhóis não foram os únicos ávidos de explorar esta terra de flora e fauna exuberantes, e abundante em ouro e prata. No entanto, os invasores subseqüentes não foram chamados de colonizadores, mas de piratas. Tanto William Parker como Sir Francis Drake ameaçavam a costa hondurenha nos anos de 1570.
Aurora da verdade
A religião babilônica, tanto do tipo dos antigos maias como do da variedade atual da cristandade, mantiveram o povo por muitos séculos nas trevas e preso na ignorância, na superstição e no espiritismo. Foi só nestes últimos dias que surgiu um raio de luz espiritual em Honduras.
Em 1930, Miss Freddie Johnson, uma pequena senhora solteira, de uns 50 e tantos anos, começou a pregar a mensagem do Reino ao longo da costa norte e nas Islas de la Bahía (Ilhas da Baía). Acompanhada só pelo seu cavalo, esta pioneira ungida precisava ter forte fé e grande resistência para contatar pessoas nas espalhadas plantações de banana e nas cidades costeiras de Tela, La Ceiba e Trujillo. Naquele tempo, não havia estradas — apenas trilhas através da selva úmida. Um trem de locomotiva a vapor, da companhia de frutas, levava-a parte do caminho. Poucos já haviam visto a Bíblia; muitos, mesmo que tivessem visto uma, não sabiam ler. Não obstante, durante aquele ano, ela deixou mais de 2.700 livros e folhetos com pessoas interessadas. Ela retornou em 1934, e de novo em 1940 e 1941.
Com exceção de um único publicador trabalhando em 1943, não há registro de pregação adicional, até a chegada dos primeiros missionários em outubro de 1945. Em meados de 1946, Nathan H. Knorr visitou Honduras e estabeleceu ali uma filial, dando à obra uma base organizada. Naquele mesmo ano, o servo (superintendente) de filial, Donald Burt, formado na terceira turma de Gileade, viajou ao interior para avaliar as necessidades e as condições de vida com que futuros pioneiros especiais se confrontariam.
Dentre os primeiros sete missionários estava Darlean Mikkelsen. Depois de se formar na terceira turma de Gileade, ela foi designada para a capital de Honduras, Tegucigalpa, em fevereiro de 1946. Não conseguia nem pronunciar o nome da cidade e teve de verificar isso. Soube que em lenca, uma língua índia, “Tegucigalpa” significa “Colinas de Prata”. Era antigamente comum ver tropas de 15 ou 20 burros procedentes das minas nas colinas entrando lenta e penosamente na cidade com cargas de prata. Quando Darlean chegou, o aeroporto tinha apenas uma casa de madeira e uma pista muito curta. No entanto, ficou aliviada ao verificar que a capital era mais desenvolvida do que esperava.
Entre aqueles primeiros missionários estavam também Loverna Grell e sua filha Ethel. Loverna ficou surpresa de que, na chegada, foi avisada que logo o dia seguinte seria seu “dia de cozinha”. É costume nos lares missionários que cada pessoa ou casal se reveze em preparar as refeições. Loverna achou isso um grande desafio; a maioria das frutas e dos legumes não lhe eram familiares, e para comprá-los, ela tinha de pechinchar com os vendedores numa língua ainda pouco conhecida.
Ao todo, o ano de 1946 viu nove missionários servindo em Honduras. Formou-se a primeira congregação, e as perspectivas pareciam boas. Os missionários dirigiam 57 estudos bíblicos domiciliares. Entre 1946 e 1949, a média dos publicadores do Reino aumentou de 19 para 256, e o número de congregações, de uma para seis. Ao mesmo tempo, os estudos bíblicos aumentaram vertiginosamente, de 57 para 160!
Penduraram uma tabuleta
Perto do fim de 1946, Everett e Gertrude Weatherbee, e um casal de missionários recém-chegados, estabeleceram-se na segunda maior cidade de Honduras, San Pedro Sula. Situada a uns 58 quilômetros do mar do Caribe, esta cidade, embora conhecida como a capital industrial, fica numa das regiões mais ricas e mais férteis do país. Abençoada com suficiente chuva, as bananas, as laranjas, os abacaxis e a cana-de-açúcar da região crescem o ano inteiro num fértil ambiente verde.
Os recém-chegados penduraram logo uma tabuleta na entrada, que anunciava: “Salão do Reino das Testemunhas de Jeová.” O nome de Jeová quase não era conhecido naquela região, de modo que a tabuleta atraía bastante atenção. Até mesmo alguns membros da Igreja Evangélica local vieram ouvir um discurso público. O pastor não se agradou disso. Devotou seu próximo sermão a condenar as Testemunhas de Jeová, até mesmo citando os nomes daqueles que haviam assistido ao discurso, para envergonhá-los em público. Sua diatribe só serviu para despertar mais interesse; na semana seguinte, ainda mais evangélicos estavam presentes no Salão do Reino!
Dez quilômetros ao leste de San Pedro Sula, na cidade de La Lima, a obra também progredia, mas naquele tempo havia apenas uma congregação de língua inglesa. Ela não conseguia dar conta do crescente número de interessados que falavam espanhol. Havia necessidade duma congregação em espanhol, mas havia um problema a resolver.
Uma grande parte da população não via nenhuma vantagem no casamento legal; os amigados simplesmente passavam a morar juntos e a ter filhos. Freqüentemente, depois de passar a novidade da situação, os homens abandonavam a família, usualmente para ficar com uma mulher mais jovem. Muitas mulheres que foram abandonadas ainda lutavam para cuidar dos filhos, enquanto trabalhavam fora por tempo integral. De modo que por fim se formou uma congregação de língua espanhola só depois de haver suficientes homens legalmente casados para cuidar dela. Jeová abençoou esses esforços, pois, em apenas um ano, o número dos publicadores em La Lima pulou de 24 para 77.
Visita do presidente
O destaque de 1949 foi a visita de N. H. Knorr e de Roger Morgan, na assembléia geral em Tegucigalpa. Eles viajaram depois para San Pedro Sula e La Ceiba, proferindo discursos para encorajar as congregações.
Na assistência em La Ceiba estava Oscar, um menino de nove anos. Sua mãe levantava-se todos os dias às 4 horas da manhã a fim de fazer tortillas para vender, aprontando-se depois para o serviço de campo às 9 horas. Oscar era um menino bem esperto, e por ser Testemunha de Jeová e ser digno de confiança, um comerciante local o usava para levar dinheiro ao banco. Às vezes, ele carregava tanto quanto US$1.500. Durante a visita do irmão Knorr, o jovem Oscar sempre se espremia para ocupar o lugar ao lado dele. Mais tarde, tornou-se ministro de tempo integral. Oscar morreu afogado num acidente trágico, em 1956. Ele nunca será esquecido.
As Testemunhas de Jeová no ar
As visitas feitas de casa em casa, conforme estabelecidas por Jesus Cristo, são marca registrada do povo de Jeová em Honduras. Mas, nos primeiros anos, os trabalhadores eram poucos, e grande parte da população era inacessível, visto que havia poucas estradas pavimentadas. Assim, as transmissões da verdade por rádio eram bastante eficazes. Em 1949, a emissora de rádio HRQ, de San Pedro Sula, convidou as Testemunhas a fornecer um programa semanal de 15 minutos. Era intitulado “Seja Deus Verdadeiro”, baseado no livro do mesmo nome. Naturalmente, naqueles dias, nem todos tinham rádio, mas visto que a maioria daqueles que o possuíam tocavam-no bem alto, muitos além daqueles que tinham rádio usufruíam os programas.
Por quatro anos, o programa continuou sem problemas. Mas, certo dia, o dono da HRQ leu na revista Despertai! um artigo sobre Suyapa, “santo” padroeiro do país. O dono era devoto de Suyapa — na realidade, sua emissora também era chamada de Rádio Suyapa. Zangado, mandou uma mensagem ao lar missionário, dizendo que nossa irradiação seria terminada. O pessoal da emissora gostava das Testemunhas e argumentava com o dono, mas em vão. Se ele escutou a emissora naquele dia, deve ter ficado surpreso ao ouvir o locutor dizer: “O programa ‘Seja Deus Verdadeiro’ foi interrompido pelo dono desta emissora. Todo o pessoal da emissora acha isso muito lamentável e uma violação da liberdade de expressão em Honduras.”
No ínterim, o gerente de outra emissora propôs um programa diário de instrução bíblica, a ser chamado de Hora Católica. Pediu ao sacerdote local tomar parte nele, mas ele o recusou, dizendo que estava ocupado e não estava interessado em educação bíblica. Aborrecido, o gerente replicou que, se o sacerdote não se importava, ele sabia quem se importava. Obteve publicações das Testemunhas e as lia pelo rádio. Pouco depois, missionários o contataram e lhe forneceram a matéria chamada “Coisas em que o povo pensa”. O sacerdote objetou, mas o gerente replicou: “O senhor teve a sua chance e a recusou.” De modo que o programa continuou.
“Tendes de ser santos, porque eu sou santo”
Nos anos 50, houve dois períodos de declínio. No ano de 1950 houve uma queda na média do número de publicadores, de 256 para 208. Por que motivo? O espírito de Jeová induziu a sua organização a insistir em que todo o seu povo seja limpo aos seus olhos. (Veja 1 Pedro 1:16.) Alguns resistiram a este espírito e abandonaram sua posição entre os trabalhadores de Deus. Em resultado desta peneiração, os próximos quatro anos foram abençoados com um aumento no número tanto de publicadores como de congregações.
Todavia, em 1954 aplicou-se outro golpe que abalou o trabalho por vários anos a seguir. O servo de filial, designado em setembro de 1953, teve de ser desassociado. Sua transgressão, por sua vez, teve um efeito debilitante sobre outros. Alguns sabiam da atividade pecaminosa dele antes de ela ser relatada, e por terem fechado os olhos a isso, em vez de terem a coragem de intervir, eles também tropeçaram. (Veja Levítico 5:1.) Outros tinham pena de ele ser desassociado, porque era benquisto entre os irmãos. Felizmente, porém, ele foi mais tarde readmitido e tem servido fielmente desde então.
Não obstante, o dano fora feito, e recaiu sobre Aldo Muscariello, o novo servo de filial, cuidar do assunto. Ele reconheceu que outros fatores também eram responsáveis pelos decréscimos. Muitos publicadores e missionários contavam prematuramente seus estudantes da Bíblia como publicadores, até mesmo entregando relatórios por eles sem o seu conhecimento. A filial explicou que esses estudantes tinham primeiro de habilitar-se antes de serem publicadores.
Honduras impressionava o irmão Muscariello como país de contrastes, onde o gado e os burros compartilhavam as estradas com automóveis e caminhões; onde havia cabanas de sapé ao lado de casas modernas; onde a estação chuvosa era seguida por apenas uma estação, a quente e poeirenta. Uma noite ele estudava com uma família à luz de vela numa casa de adobe de um só cômodo, de chão batido, nas encostas das colinas de Tegucigalpa, e na noite seguinte o fazia numa sala espaçosa, bem iluminada, da embaixada guatemalteca.
A obra prossegue de novo
A obra avançava, penetrando no território em todas as direções. O belo arquipélago hondurenho, tendo por ilhas principais Roatán, Utila e Guanaja, fica no Caribe a uns 50 quilômetros da costa norte, no segundo maior recife de coral do mundo. Essas ilhas são acessíveis por avião, barca ou, para os que não sofrem de enjôo, por goleta. A goleta é um barco pequeno, usualmente cheio de mercadorias. Ocasionalmente, uma é sobrecarregada e afunda. Nas ilhas, muitas casas são de madeira, pintadas com todas as cores e construídas em palafitas sobre a água, tendo como acesso um estreito passadiço.
Em 1948, Donald Burt, bem como os missionários William e Ruby White, viajaram a Coxin’s Hole, a principal cidade de Roatán, para estimular a obra na ilha. Desde então, muitos, principalmente irmãos estrangeiros, tentaram estabelecer-se nessas ilhas e pregar as boas novas ali. Até agora, tem havido pouca aceitação.
Quando Lloyd Aldrich, servo de filial nos anos 60, visitou Roatán, achou os habitantes religiosos, sociáveis, informais e descontraídos. Notou com interesse que, se o orador por acaso fizesse uma pergunta retórica no seu discurso público, a assistência se expressava e lhe respondia. Por exemplo, quando um orador perguntou: “Quanta água tem no mar?” alguém respondeu: “Deus é que sabe, e ele não diz.” Tratando de assuntos de família, certo orador comentou que algumas mulheres importunam e tiranizam o marido, e por fim até assumem a chefia. Do fundo do salão, uma voz respondeu fervorosamente: “Amém!”
Para Mosquitia!
A maioria dos hondurenhos nunca se atreveu a entrar em Mosquitia, o extremo oriental do país. Na maior parte consistindo em florestas virgens, ricos vales e densa mata pluvial, esta região pouco povoada tem sido ao longo dos séculos o lar de todo tipo de pessoas, desde índios paya e miskito, que ainda falam seus antigos dialetos nativos, e zambos, descendentes de negros casados com os ferozes índios caraíbas, até fugitivos, piratas e traficantes de escravos.
Embora na época poucos ali falassem quer espanhol, quer inglês, alguém tinha de levar-lhes as boas novas. Assim pensava o superintendente de circuito Gerald Hughes, em 1957, e fizeram-se arranjos para uma viagem de pregação. Com ele foi Cristóbal Valladares, que mais tarde se tornou a primeira Testemunha hondurenha a ingressar no serviço de circuito. Junto com um grupo, partiram para Trujillo, onde sua viagem de pregação ia realmente começar.
Levaram consigo apenas o necessário e contrataram um pequeno barco a motor, que não tinha nenhum “luxo”, tal como beliches, assentos, rádio, bússola ou instrumentos de navegação. Mas tinha um capitão e tripulação competentes, todos peritos no manejo do barco. Isto também era bom, porque além da ponta chamada de Cabo Honduras, o mar era bravio. Um homem até mesmo caiu no mar, mas foi habilmente resgatado.
Passaram-se vinte e duas horas até atracarem na pequena aldeia de Sangrelaya. Todo este tempo passaram sem comida ou água. No dia seguinte, numa piroga, partiram para o rio Negro, que seguiram até o território que deviam cobrir. Logo encontraram uma senhora interessada que falava inglês, e passaram várias horas com ela, tanto naquela ocasião como na viagem de retorno, ensinando-lhe a Bíblia. Na noitinha seguinte, 35 pessoas vieram escutar um discurso bíblico, e elas mantiveram depois os irmãos acordados até altas horas da noite, para responderem a perguntas.
O próximo destino era a Laguna de Brus. Depois de três horas de caminhada penosa ao longo da restinga que separa a laguna do mar, chegaram a uma das maiores plantações de coco do mundo, Tusí Cocal. Ali tomaram a sua primeira boa refeição depois de vários dias, e usufruíram a cordial hospitalidade do lar em que apresentaram o discurso público “Ressurreição, Inferno e Céu”. Trinta e quatro pessoas estiveram presentes, inclusive algumas mulheres com o bebê amarrado às costas. Numa aldeia no outro lado da laguna, mais de 30 vieram ouvir um discurso bíblico. As pessoas continuavam a vir, de modo que depois do Estudo da Sentinela, os irmãos apresentaram outro discurso público.
Passaram os dias atarefados em pregar, e as noites em qualquer acomodação que se lhes oferecesse. A comida variava: iúca, sardinhas, pão de coco e o café local. Finalmente, de volta em Sangrelaya, descobriram que o sacerdote estava determinado a desanimar as pessoas de dar-lhes ouvidos. E até mesmo se negou a entregar a chave para a escola pública. Não fez diferença; 62 pessoas assistiram ao discurso público em outro lugar. Dezoito dias depois do início da viagem, o grupo rumou para casa, em direção à cidade de Limón. Ali, o prefeito mostrou-lhes um livro que prezava já por muito tempo, A Harpa de Deus. Ele o adquirira 27 anos antes, quando a irmã Johnson fora pioneira na região.
Durante a sua última viagem de barco de volta a Trujillo, o grupo calculou que havia transmitido as boas novas a quase 800 habitantes espalhados em Mosquitia. Um bom começo!
Alguns ataques fracassam
Naturalmente, Satanás certifica-se de que a obra de pregação nunca prossiga sem alguma espécie de oposição. Em geral, as Testemunhas de Jeová são respeitadas em Honduras. Mesmo quando o governo tem declarado um estado de emergência, nunca tem impedido nossas reuniões. Mas, sempre há algumas pessoas de destaque com tanto preconceito, que movem o céu e a terra para impedir a pregação. Em cada caso, Jeová parece ter suscitado um moderno Gamaliel em defesa das Testemunhas. — Veja Atos 5:33-40.
Nos anos 60, havia um grupo que não mediu esforços para desacreditar as Testemunhas de Jeová aos olhos do governo, atacando-as tanto pela imprensa como pelo rádio, e exortando a que todos os missionários das Testemunhas fossem expulsos. O governo formou uma comissão especial para determinar o que se devia fazer, em vista de todas as acusações. Naquela reunião estava presente um advogado, que certa vez havia preparado uma tese sobre as batalhas legais das Testemunhas de Jeová em todo o mundo e sobre o seu proveito para a comunidade. Ele falou em favor das Testemunhas, lembrando à comissão: “Estas pessoas obtiveram direitos legais em todo o mundo, em inúmeros países.” Ele instou com o governo que fizesse pelo menos isso para as Testemunhas, se não mais. A comissão decidiu deixar as Testemunhas de Jeová continuar com suas atividades sem impedimento.
Por causa desses artigos difamatórios nas notícias, pediu-se a um supervisor distrital de escolas que verificasse os assuntos das Testemunhas de Jeová. Este homem sem preconceitos conhecia diversas Testemunhas e havia lido algumas das suas publicações. Ele vetou a investigação e recomendou que seria mais produtivo averiguar o caráter dos autores dos artigos. Argumentou que estes, mui provavelmente, eram uma ameaça maior para a segurança nacional.
As Testemunhas de Jeová são estritamente neutras no que se refere a assuntos e conflitos políticos. Esta atitude às vezes é a base para ataques injustificados. Pouco antes do congresso de distrito de 1966, o Ministro da Educação tentou fazer passar um decreto tornando obrigatório para todos os estudantes saudarem a bandeira e cantarem o hino nacional nas escolas. Mas, toda vez que a comissão se reunia, alguém pedia formalmente um adiamento. Um destes era um homem cuja esposa estudava com as Testemunhas. Ele tinha certeza de que elas deviam ter motivos bíblicos válidos para não participar em cerimônias patrióticas. O ministro enviou circulares às escolas, recomendando que os professores obrigassem os alunos a saudar a bandeira sob pena de expulsão, mas esta determinação desarrazoada nunca foi incluída na constituição.
A consciência cristã
Os alunos são os que arcam com o peso da questão da saudação à bandeira. Alguns professores, nos esforços de serem compreensivos, sem querer se tornam enganosos. Alguns dizem aos alunos que saudar a bandeira não é mais do que um sinal de respeito. Mas os filhos das Testemunhas sabem muito bem a diferença entre respeito — que têm para com as bandeiras de todas as nações — e a idolatria. Sabem também que o hino nacional de Honduras aplica à bandeira expressões tais como “emblema divino” e “santa bandeira”, dando-lhe claramente significado religioso.
Na cidade de San Juancito, um professor deu a um jovem das Testemunhas uma sugestão “útil”: que saudasse a bandeira “somente esta vez” para obter seu diploma, e que depois “confessasse” aos seus superiores religiosos e fosse perdoado. O jovem irmão explicou que, quando alguém peca, faz isso contra Deus e Cristo, e que era o temor de desagradar a Deus, não a homens, que motivava sua consciência.
Algumas autoridades militares também passaram a dar-se conta de que é a consciência, não um espírito de covardia ou rebelião, que induz o cristão a renunciar à violência. Não muito longe de Danlí, alguns irmãos estavam empenhados no ministério, quando chegou uma patrulha militar para pegar recrutas. Ordenaram a dois jovens irmãos a entrar num ônibus, que os levaria ao quartel do batalhão. Quando o irmão que dirigia o grupo soube do que tinha acontecido, obteve permissão para dar testemunho a todos no ônibus. Começou com o sargento encarregado, explicando-lhe plenamente a obra ministerial desses jovens. O sargento mandou que fossem libertados para continuarem sua obra em paz.
A guerra de 1969
Por algum tempo, os fogos da rivalidade e da desconfiança entre Honduras e El Salvador foram atiçados por propaganda nacionalista, via rádio, em ambos os países. Em Honduras, turbas abusivas às vezes juntavam-se em torno de casas e negócios de salvadorenhos. O menor incidente bastava para detonar uma explosão; foi exatamente isso o que aconteceu em julho de 1969, quando os times de futebol hondurenho e salvadorenho se confrontaram em San Salvador para a decisão do campeonato mundial de 1970. A guerra começou ali mesmo no estádio! É difícil de acreditar que hondurenhos e salvadorenhos, que por mais de uma geração haviam convivido como amigos e vizinhos, corressem em busca de revólveres e de machetes, e começassem a matar uns aos outros — mas foi exatamente o que aconteceu nas cidades e nas aldeias de ambos os países.
A guerra afetou as congregações, o ministério e as reuniões das Testemunhas por causa dos blecautes, dos toques de recolher à noite, da perda de emprego, de hostilizações e de deportações de salvadorenhos, alguns dos quais eram irmãos. O irmão Manuel Martínez, da Comissão de Filial, agora no serviço de circuito, lembra-se de que 23 irmãos dedicados na sua congregação tiveram de retornar a El Salvador. Ele acrescentou: “Fiquei confuso, sem saber o que fazer. Depois da pior parte da guerra, fui dirigir o Estudo da Sentinela, e havia apenas duas pessoas na assistência.”
Em muitas cidades, formaram-se comissões cívicas que assumiram por conta própria a tarefa de vasculhar as ruas e as casas em busca de potenciais inimigos do Estado. Esperava-se que todo membro da comunidade participasse no trabalho da comissão e em patrulhas noturnas. A irmã Rubina Osejo dirigia na época uma escola particular. A comissão cívica dirigiu-se a ela e pediu que tomasse parte. Ela se lembrou do conselho de Jesus, de sermos “cautelosos como as serpentes” e respondeu que não podia participar em patrulhas noturnas, nem podia contribuir dinheiro, mas que manteria uma vigilância espiritual, e que oraria para que guerras e injustiças acabassem em breve. — Mat. 10:16.
Às vezes, a guerra oferece aos verdadeiros cristãos a oportunidade de dar testemunho por sua conduta. Algumas Testemunhas em El Progreso tinham um vizinho salvadorenho que odiava as Testemunhas e se negava a falar com elas. Quando irrompeu a guerra, as turbas começaram a ficar de olho no seu negócio lucrativo. Mas, certo dia, quando estavam prestes a saqueá-lo, um homem que estudava com as Testemunhas gritou para a turba: “Não sejam bárbaros! A esposa deste homem é hondurenha, e vocês vão tirar a comida da boca dos seus filhos — filhos que são seus irmãos hondurenhos.” A turba acalmou-se, e o salvadorenho saiu às escondidas com alguns bens e dinheiro, e se escondeu no Salão do Reino. Mais tarde, quando recebeu de volta tudo o que era seu, ele declarou: “Agora sei que as Testemunhas de Jeová são gente honesta e de confiança, e que são neutras em assuntos de guerra.” Com lágrimas, pediu perdão aos irmãos pelo modo em que costumava tratá-los.
No furor da guerra, um irmão hondurenho foi preso e levado perante um sargento do exército, que ordenou que ingressasse no exército. O sargento ficou furioso quando o irmão explicou sua posição conscienciosa. Durante três noites, tentou quebrantar a integridade do irmão. Até mesmo ameaçou matá-lo. Tudo em vão. Meses mais tarde, este sargento perdeu seu cargo e teve de procurar um emprego secular. Foi contratado por uma mineradora local. Ali, para o seu horror, descobriu que o capataz lhe era familiar — era o mesmo irmão a quem havia perseguido! O irmão, longe de procurar vingar-se, compartilhou seu lanche e o café de sua garrafa térmica com o trêmulo ex-sargento. Aos poucos, o homem deixou de ter medo e com o tempo aceitou um estudo bíblico.
Um casal foi preso e encarcerado sob a suspeita de serem salvadorenhos. O marido nascera em El Salvador, mas já era hondurenho naturalizado; sua esposa era da Nicarágua. Um ancião e um missionário foram explicar ao diretor que este casal, agora com 70 e tantos anos, era Testemunha de Jeová e de modo algum inclinado a ser inimigo do Estado. O diretor permitiu que os dois saíssem da cela. Quando eles viram os irmãos, os dois idosos ficaram emocionados a ponto de chorarem. Vendo este afeto genuíno, apesar das diferenças de nacionalidade, o diretor libertou o casal. Todavia, o perigo maior estava à frente — eles tinham de ser levados a salvo no porta-malas dum carro. Surpreendentemente, passaram livres por todos os bloqueios nas estradas e acharam um esconderijo à beira da cidade.
Desnecessárias as armas de fogo
Quer em guerra, quer em paz, os tempos violentos em que vivemos têm induzido muitos a confiarem em armas de fogo e em outras para se defenderem. No entanto, alguns que antes haviam confiado em armas de fogo aprenderam a depositar sua confiança, em vez disso, em Jeová.
Durante a guerra, o diretor da escola na pitoresca localidade montanhosa de El Rosario também era líder dum grupo armado, que patrulhava as ruas à noite — embora hoje admita que passava a maior parte daquele tempo bebendo. Era resoluto patriota, mas objetava ao desnecessário tratamento brutal dispensado aos prisioneiros. Em certa ocasião, um parente seu, conhecido pelas suas tendências criminosas, queria matar a tiros homens, mulheres e crianças indefesos. O diretor da escola lhe disse que, se isto era um exemplo da sua grande coragem, então devia apresentar-se na linha de combate, ou então podiam ambos sacar seus revólveres — já! Anos mais tarde, este diretor tornou-se um dos verdadeiros soldados de Cristo, Testemunha de Jeová. Agora ele defende com a mesma coragem os princípios corretos — mas com a Palavra de Deus, não com uma arma de fogo.
Certa mulher, dona dum botequim, carregava um revólver, e muitos a temiam. A casa dela estava adornada com muitas imagens e ela estava aprendendo a feitiçaria, mas bem no íntimo não se sentia feliz e ansiava algo melhor. O livro Verdade abriu a porta para ela, e com a ajuda dum estudo bíblico domiciliar, começou a ‘revestir-se duma nova personalidade’. — Efé. 4:24.
Ela passou a freqüentar as reuniões e destruiu suas imagens, mas ficou desanimada quando seus “amigos” difamaram as Testemunhas. A irmã que dirigia o estudo era paciente; com o tempo, o coração desta mulher ficou tão fortalecido, que ela passou a ir de casa em casa com a sua Bíblia — mas, naturalmente, sem o revólver! Em pouco tempo, ela mesma dirigia sete estudos bíblicos. Desde o seu batismo de 1971, tem continuado a fazer progresso, sempre confiando em Jeová.
Santos já era bastante idoso quando aprendeu a verdade. Havia sido comandante militar, prefeito, juiz de paz, juiz criminal e presidente local dum partido político. Sempre carregara uma arma como símbolo de autoridade. Naquela época, havia detido alguns criminosos temidos. Quando Santos tornou-se Testemunha e iniciou seu ministério de casa em casa, descobriu que precisava de muito mais coragem na sua nova carreira do que na sua antiga. Encontrou esta coragem, não numa arma, mas em orações a Jeová.
Em certa ocasião, porém, usou-se uma arma para defender as Testemunhas. O bispo de Santa Rosa de Copán sempre procurava causar dificuldades aos irmãos. Seguia-os de casa em casa e apanhava as publicações que haviam deixado, queimando-as. Incitava seu rebanho a atirar pedras no telhado do Salão do Reino. Certa noite, durante uma reunião, alguém abriu a porta e lançou dentro um balde de lama — estragando, entre outras coisas, o vestido branco duma irmã jovem. Um irmão saiu para explicar a situação ao chefe de polícia local, que ficou indignado. Este foi falar com o bispo, e, batendo no revólver, disse-lhe: “Se eu ouvir mais uma vez que o senhor está molestando essas Testemunhas de Jeová, vou usar isto no senhor.” Não houve mais oposição por parte do bispo.
A Palavra de Jeová sobre o sangue
Ocasionalmente, as Testemunhas de Jeová em Honduras tiveram sua fé severamente provada por aqueles poucos médicos e cirurgiões que não respeitam a posição bíblica delas na questão das transfusões de sangue. Cecilia e seu marido, por exemplo, estiveram envolvidos numa grave batida com um caminhão. Quando finalmente recuperaram os sentidos, estavam num hospital, ambos gravemente feridos. O maxilar de Cecilia havia sido fraturado. Os médicos disseram-lhe que precisava duma operação e duma transfusão de sangue. Com seu maxilar quebrado, ela mal podia responder, mas Cecilia conseguiu explicar que concordaria com qualquer tratamento necessário — menos com uma transfusão de sangue. Aceitou a responsabilidade por quaisquer conseqüências da sua atitude. O médico disse-lhe que teria de sair do hospital, visto que não podiam fazer mais nada por ela.
Antes de ela poder fazer isso, certo dia foi cercada por um grupo de jovens estudantes de medicina, os quais, com risos e grosserias, queriam saber quem lhe havia enchido a cabeça com tais idéias estúpidas. Disseram-lhe que naquele hospital eram eles quem dava as ordens, não as Testemunhas de Jeová. Passaram a dar-lhe o que chamaram de “tratamento que nem mesmo animais podiam suportar”, inserindo-lhe fios metálicos sob o maxilar e torcendo-os dentro da boca. Quando ela se queixou da dor, responderam novamente com grosserias, com exceção dum jovem, que parecia um pouco mais humanitário. Ele a incentivou com as palavras: “Olhe, senhora, sei que dói muito. Peça ao seu Deus Jeová que lhe ajude a suportar isso.”
Dois dias depois, o mesmo grupo voltou, e verificou que seu trabalho não teve bons resultados. Com muito pouca compaixão, arrancaram os fios. Inseriram-lhe no queixo uma placa de barro, e deixaram-na mais três dias para se recuperar. Em todo este tempo, não podia falar; só podia pensar e orar, e ela meditava nas palavras de Provérbios 3:5: “Confia em Jeová de todo o teu coração.” Quando voltaram, ficaram surpresos. Um deles exclamou: “Vejam como ela ficou boa!” Outro acrescentou: “Deve ter sido por causa da sua obediência a Deus. Ninguém é tão obediente a Deus como esta gente.”
Sonia Marilú tinha 13 anos de idade e não tinha boa saúde. Os médicos nunca estavam de acordo sobre a causa das dores que sofria. Por fim, ela teve uma crise que resultou no seu internamento num hospital. Tinha o intestino perfurado e precisava de cirurgia imediata. Os pais explicaram aos médicos sua posição na questão do sangue. A resposta deles: “Operaremos sem sangue — se quiserem que ela morra.” Os pais levaram-na então numa viagem perigosa a El Salvador. Ela chegou ali em estado muito grave. Os médicos, um deles Testemunha, examinaram-na e fizeram a cirurgia sem o uso de sangue. Embora o estado dela tivesse piorado muito, sobreviveu à cirurgia!
Este não foi o fim da questão. Depois de quatro dias, ela de repente piorou e precisou de mais uma cirurgia. Esta vez, a operação devia ser feita por uma equipe diferente. Vendo que a contagem sanguínea dela era muito baixa, disseram: “Se não aceitar sangue, vai morrer, e sem sangue não operaremos.” Sonia firmemente rejeitou a transfusão de sangue. Visto que parecia que a menina não ia viver mais 12 horas, os médicos decidiram operá-la, como disseram, “com grande risco e de mãos atadas”. Embora o nível de hemoglobina dela tivesse caído a quatro gramas por 100 mililitros, não lhe deram uma transfusão. Na manhã seguinte, para a grande surpresa de toda a equipe, ela estava viva e melhorando. Um médico disse: “Você foi para Deus, e ele a mandou de volta. É óbvio que ele ama você.”
Sonia precisava por algum tempo de cuidados intensivos, e os médicos ainda recomendavam sangue para acelerar a recuperação. Mas aos poucos, e constantemente, ela melhorou sem sangue. Quando teve alta, um dos primeiros médicos a operá-la disse-lhe: “Você respeitou a lei de Deus, não violou a sua consciência e está livre do perigo da AIDS.”
‘Fiéis no mínimo’
O governo hondurenho trava uma luta constante contra os que cometem pequenas infrações. Vizinhos mundanos também travam uma infindável batalha por causa do amplamente arraigado hábito de tomar coisas emprestadas e não devolvê-las. Antes de serem batizados, os novos precisam aprender a mudar essas atitudes e a ser ‘fiéis no mínimo’. — Luc. 16:10.
Um casal aprendeu que não é somente direito, mas também benéfico, ‘dar a César o que é de César’. (Mar. 12:17) Durante nove anos, Edmundo e sua esposa, Estela, têm importado mercadorias da Guatemala e do México. Descobriram que alguns fiscais alfandegários estão dispostos a reduzir “extra-oficialmente” as taxas de importação. Desde o começo, identificaram-se como Testemunhas de Jeová; aos poucos, sua honestidade granjeou a confiança dos fiscais. Eles agora simplesmente preenchem as declarações, e sua palavra basta. Quando outros importadores vêem que este casal tem poucos problemas com a alfândega e não sofre constante confisco das suas mercadorias, eles pensam em também ser mais honestos.
Um irmão de San Pedro Sula tem trabalhado 18 anos na Administração de Alfândega e Receita do governo. Numa entrevista, este irmão explicou: “O induzimento de se enriquecer sem deixar a menor evidência é muito forte, mas eu não quero violar a minha consciência. Além disso, sei que os olhos de Jeová estão sempre observando. Em certa ocasião, ofereceram-me as chaves para qualquer um dum grupo de carros, desde que eu simplesmente ajustasse seu valor tributável. Embora tal oferta possa ser tentadora, não se pode comparar com o valor duma consciência limpa e o respeito de colegas de trabalho e de diretores. No ano passado, fui convidado para um seminário, e nas observações concludentes, o representante da ONU em questões alfandegárias pediu que eu me levantasse. Ele congratulou-me publicamente por ser um homem que respeita a lei, não vulnerável a subornos, e um exemplo digno de imitação.”
Progresso em territórios rurais e isolados
Os irmãos têm feito muitos esforços para contatar pessoas em territórios isolados. Esta é uma tarefa que requer sacrifícios, mas, conforme se comenta tantas vezes, as alegrias e a satisfação ultrapassam em muito a labuta.
Puerto Cortés, cidade portuária no Caribe e construída em terreno pantanoso parcialmente aterrado, agora tem várias congregações florescentes. Robert Schmidt, que serviu como missionário ali em fins dos anos 60, lembra-se de trabalhar a pé este território de 80 quilômetros de extensão, quando havia apenas uma congregação. “Naqueles dias, a viagem para visitar os lares na direção da Guatemala era difícil, sendo uma caminhada de sete dias. Apenas grupos pequenos conseguiam fazer este percurso. Os interessados freqüentemente ofereciam alimentos em troca de publicações; muitos dos que vivem dos produtos da terra têm pouco ou nenhum dinheiro. No caminho de volta, fazíamos revisitas e dirigíamos estudos bíblicos à luz de vela, à noite.” E qual foi a sua recompensa? Em 1971, formou-se uma congregação em Omoa, uma das localidades maiores naquela região.
Durante os anos 70, a Congregação Puerto Cortés fez arranjos para trabalhar territórios espalhados para o leste, enviando grupos de irmãos pelo trem da companhia de frutas ou com um velho mas confiável jipe Land-Rover. O equipamento padrão incluía uma corda forte e algumas pás. Durante a estação chuvosa, havia filas de caminhões diante de buracos de lama especialmente perigosos. Quando um caminhão conseguia passar, havia brados de alegria; mas não o conseguindo, recorriam às cordas e às pás. Imagine a cena. Tirando os calçados, os irmãos arregaçavam a calça, as irmãs suspendiam a saia, e todos cavavam. Novamente, os irmãos foram recompensados pelo seu trabalho paciente por verem surgir um grupo isolado em Baracoa e uma congregação saudável em La Junta, à margem do rio Ulúa. Ambos têm agora seu próprio Salão do Reino.
Algumas pioneiras especiais, inclusive Olga Aguilar (agora Olga Walker), da Congregação Choluteca, no sul, começaram a visitar Guásimo, um lugarejo alto nas montanhas. Com o tempo, e com a ajuda de outros irmãos, 25 pessoas passaram a reunir-se ali. No entanto, reconheceram que, a fim de progredirem espiritualmente, tinham de associar-se com outros da mesma fé. Mas como? Levava quase três horas de caminhada até Choluteca. Visto que tinham apenas burros para transporte, o amor a Jeová realmente era a força impulsora. O interessante é que usualmente eram os irmãos de Guásimo que chegavam primeiro às reuniões! Na assembléia de circuito em Choluteca, em 1970, 13 irmãos de Guásimo foram batizados. Um deles, decidido a que sua família tirasse maior proveito das reuniões, literalmente mudou sua casa para a cidade. Como? Carregando-a nas costas, peça por peça, toda vez que vinha à reunião!
Quando os irmãos da Congregação El Progreso começaram a visitar a cidade de Santa Rita, uns 24 quilômetros ao sul, o dono duma barbearia aceitou de bom grado publicações. Implorou que os irmãos ficassem e o ensinassem, mas eles queriam visitar o máximo número de pessoas da cidade antes de partir. O homem rogou: “Se ficarem comigo e me ensinarem, eu lhes darei um quarto para passarem a noite na minha casa e os alimentarei, para que não percam tempo valioso.” Ao todo, 15 irmãos foram alimentados e alojados na casa do barbeiro naquela noite.
Famílias estrangeiras chegam para ajudar
Muitos dos que não podem servir como missionários têm o espírito missionário. Assim, em 1968, quando A Sentinela começou a incentivar os irmãos a se mudarem para terras onde havia maior necessidade, a filial de Honduras recebeu centenas de cartas de pelo menos 24 países.
Grant Allinger, que era servo de filial na época, providenciou um memorando de oito páginas, fornecendo orientação pormenorizada e positiva aos que faziam indagações. Com que resultado? De 1968 a 1974, pelo menos 35 famílias se mudaram para Honduras procedentes de todas as partes do globo: Canadá, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos e até da longínqua Nova Zelândia.
Alguns enfrentaram verdadeiros desafios na tentativa de realizar seus planos. Uma família do Canadá fez as necessárias investigações, calculou o custo e providenciou a mudança. Mas então surgiu um sério problema: como financiariam a viagem? Dependiam da venda do seu carro para pagar suas dívidas, mas ao passo que se aproximava a data da partida, ainda tinham apenas 16 dólares no bolso. Jeová não se esqueceu deles. No dia antes da partida, venderam o carro! Ainda mais, quando seus amigos compareceram para lhes desejar boa viagem, cada um deixou um pouco para ajudar, e a soma chegou a US$600. Agradeceram aos amigos e agradeceram a Jeová.
Os que vieram para servir onde havia maior necessidade têm sido de verdadeira ajuda para a obra. Por exemplo, Raymond Walker chegou da Inglaterra em 1969. Levou algum tempo para ele se estabelecer e aprender a língua, mas depois ingressou na fileira dos pioneiros, trabalhou no serviço de circuito e distrito, junto com sua esposa, Olga. Atualmente, serve na Comissão de Filial de cinco membros.
“Salvação a toda sorte de homens”
Embora o apóstolo Paulo dissesse que a salvação estaria disponível “a toda sorte de homens”, ele declarou também: “Não foram chamados muitos sábios em sentido carnal, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre estirpe.” (Tito 2:11; 1 Cor. 1:26) Isto se tem mostrado verdade em Honduras. Toda sorte de pessoas — uma deslumbrante variedade — tem aceitado a verdade, mas não muitos dentre os bem ricos ou poderosos.
Considere o caso de certa mulher. Sua mãe a criou enquanto gerenciava bordéis para se sustentar. Quando a mãe faleceu, ela passou a tomar conta do negócio. Não era fácil para ela aceitar a verdade, mas o fez — e, naturalmente, acabou com o negócio da família. Em 1976, tornou-se pioneira, e agora ganha o que precisa para uma vida simples por lavar roupa.
Filander era ainda rapaz quando começou a estudar a verdade, e seu pai não gostava disso nem um pouco. Quanto mais Filander progredia, tanto mais seu pai tentava impedi-lo. Queria que seu filho cursasse a universidade e progredisse no mundo. Proibiu-lhe ir às reuniões ou ir pregar, mas o rapaz sempre achava um meio de fazê-lo. Foi batizado em 1972 e tem continuado a progredir, primeiro por ser pioneiro e depois por ser designado ancião. Depois de trabalhar na equipe de construção no Betel de Honduras, foi enviado à Colômbia para fazer um trabalho similar. No que se refere à sua família, a atitude dela tem abrandado no decorrer dos anos.
A coisa mais próxima duma ocupação que Antonio tinha era ser bêbedo, porque fora assim que passara a maior parte dos seus 80 anos. Missionários haviam estudado com ele, mas sem êxito, de modo que, quando um missionário chamado Russell Graham queria dar-lhe mais uma oportunidade, os irmãos sugeriram que não perdesse seu tempo. No entanto, Antonio tinha uma boa qualidade — era humilde. Embora sua mente tivesse ficado tão prejudicada pelo álcool, que tinha de estudar a mesma matéria três vezes, progrediu por fim até a dedicação e o batismo. Serviu fielmente a Jeová até falecer.
José foi criado na Igreja Católica, mas estudou filosofia socialista e ateísmo. Convencido pelos ensinos universitários de que a humanidade é produto da evolução, deixou totalmente de crer em Deus. A morte dolorosa de seu enteado em 1966 fez com que se desse conta de quão incapazes os humanos são em face da morte. Certo dia, um missionário explicou-lhe a esperança da ressurreição. Isso despertou seu interesse, e ele começou a reedificar sua fé em Deus, mas esta vez em base sólida. Aprendeu que o Reino de Deus, não o socialismo, é a única solução e tornou-se publicador. Desde então, foi designado ancião e tem passado alguns anos no serviço de circuito.
Os frutos do testemunho informal
Um dos aspectos mais agradáveis do ministério cristão em Honduras é o testemunho informal. Conversas em grupo nas praças, em consultórios médicos, em trens e em pontos de ônibus, são em Honduras um modo de vida. Isto torna relativamente fácil contatar pessoas de modo informal sobre o assunto da Bíblia.
Na cidade de Omoa vivia uma senhora que não gostava nada das Testemunhas de Jeová. Nunca falava com elas, nem aceitava publicações. No entanto, estava interessada em ganhar dinheiro, e por isso criava galinhas. Sabendo da atitude dela, um irmão falou-lhe informalmente sobre alguns métodos de poupar tempo e dinheiro em criar galinhas. Ora, isso ela gostou de ouvir. Algumas semanas depois, publicou-se na revista Despertai! um artigo sobre como poupar tempo e dinheiro, de modo que o irmão levou-lhe um exemplar. Ela apreciou isso, e agora aceita de bom grado nossas publicações.
Uma irmã que trabalha numa loja ficou um pouco amedrontada pelo aspecto dum freguês jovem de cabelo comprido. Tomou coragem e falou-lhe sobre a esperança do paraíso, mas ele respondeu bruscamente que não acreditava em contos de fadas, e que era hippie e viciado em drogas. A irmã persistiu em dar um breve testemunho cada vez que ele aparecia. Uma vez ela explicou que, segundo 1 Coríntios 6:9-11, o importante é o que a pessoa se torna, não o que tenha sido. Quando ele lhe perguntou o que achava do seu cabelo comprido, ela respondeu que não tinha autoridade sobre como outros se arrumam, mas acreditava no ensino bíblico de que o cabelo comprido é uma desonra para o homem. (1 Cor. 11:14) No dia seguinte, ele estava barbeado e de cabelo cortado! Pediu um estudo bíblico, e um irmão teve prazer em estudar com ele. Agora é batizado e dirige seus próprios estudos.
Certo menino tinha por hábito falar com todos os que encontrava, o que é bastante comum nos de sete anos de idade. Vendo um jovem sentado diante da casa deste com um livro na mão, o menino perguntou-lhe se estava lendo a Bíblia. Quando soube que não era — na realidade, era um manual de mecânica — ele disse ao jovem, de forma nada incerta, que só por seriamente ler a Bíblia podia ele ganhar a vida eterna. “Se quiser, meu pai pode estudar com você”, disse ele, e levou o jovem à casa para conhecer seu pai. O resultado da história é que este jovem foi batizado em 1976. Acontece que anos antes ele havia aceitado revistas duma irmã, mas perdera contato com ela. Quão importante é dar testemunho de modo informal!
Casamento
Muitos casais, quando aprendem a verdade, dão-se conta de que têm de tomar medidas para legalizar sua união. Relatou-se em 1973 que somente na Congregação Bella Vista, em Comayagua, 32 casais deram este passo — mais da metade dos 120 publicadores daquela congregação!
Teodoro e Mélida eram avós. Mélida estudava a Bíblia e decidiu que queria servir a Jeová. Teodoro, com 60 anos de idade, concordou em casar-se com ela. Assim, acompanhados por dois de seus netos, apresentaram-se na prefeitura. Pouco antes da cerimônia, Teodoro dirigiu-se ao juiz e disse: “Já pensou em casar-se algum dia?” Era de conhecimento comum que o juiz vivia com uma mulher e tinha três filhos sem ser casado.
Mas o que se deve fazer quando o companheiro, ou a companheira, não quer casar-se? Este foi o problema com que Gladys se confrontou. Ela já vivia por anos com Antonio, e eles tinham três filhos. Gladys vinha estudando com uma missionária e queria endireitar sua vida para poder servir a Jeová. Por fim, ela disse a Antonio: “Agora vou dormir com os filhos até nós nos casarmos. Quando estivermos legalmente casados, poderemos novamente dormir juntos.” Ela cumpriu a sua palavra; Antonio ficou cada vez mais rabugento. Depois de seis longos meses, capitulou e disse: “Está bem, vamos casar-nos.”
Criar filhos
Um aspecto vital de nosso ministério é ensinar aos pais a cumprirem com a sua responsabilidade dada por Deus, de treinar os filhos. Um casal com cinco filhos começou a estudar, progrediu bem e em pouco tempo freqüentava as reuniões. Essas reuniões decididamente produziram efeito. Certo dia, o missionário que dirigia o estudo bíblico para eles adormeceu enquanto fazia isso. É justo mencionar que a temperatura debaixo do telhado de zinco era provavelmente acima dos 50 graus centígrados. O pai, aplicando o conselho que ouvira nas reuniões sobre treinar os filhos, simplesmente continuou com o estudo até que o missionário acordou — muitos parágrafos mais tarde! Já se passaram alguns anos, e Jeová tem abençoado esta família diligente. O pai é servo ministerial, a esposa é pioneira auxiliar e o filho mais velho é pioneiro regular.
Ernesto, de três anos de idade, via demais televisão, e os pais, como tantos outros, preocupavam-se com isso. Ele passava o dia inteiro cantando músicas de comerciais. Para neutralizar esta influência prejudicial, os pais compraram-lhe fitas cassete de Meu Livro de Histórias Bíblicas e ensinaram-lhe a desligar a televisão. Ernesto aprendia depressa; em pouco tempo tinha decorado tão bem as fitas, que bastava dar-lhe o número da história para fazê-lo recitá-la por inteiro. Certa noite, na reunião, o pai de Ernesto evidentemente estava muito cansado. Alguém perguntou-lhe por que não dormira bem. Ele respondeu abatido: “Só conseguimos fazer Ernesto parar na história número 43.” Ernesto tem agora dez anos e está ativo no ministério. Seus pais estão felizes de que se deram ao trabalho de encher-lhe a mente com informações úteis.
Podem crianças pequenas realmente fazer suas próprias decisões à base das lições aprendidas dos pais e dos avós? O pequeno Mario, que mora em La Ceiba, tem quatro anos e passa muito tempo com a avó Chepita, que já por muitos anos é Testemunha. Certo dia, a outra avó de Mario, católica, veio em visita e perguntou ao Mario se gostaria de ir com ela à igreja. “Não mais, vovó”, respondeu. Ela perguntou por que não, e ele lhe disse: “Babilônia, a Grande, vovó!”
Vencem-se obstáculos
Naturalmente, poucos conseguem servir a Jeová sem enfrentar graves obstáculos e problemas. Quando Emilia ouviu pela primeira vez a mensagem do Reino, em 1967, ela já estava casada, embora não feliz. No começo, não levava a verdade a sério. Mas depois, quando começou a fazer algo a respeito, o marido ameaçou expulsar da casa a irmã que estudava com ela. Emilia disse firmemente: “Se você a expulsar, iremos estudar na rua.” Certo dia, Emilia parou no bar em que seu marido estava bebendo, para deixá-lo saber que estava indo à reunião. Quando ela voltou, ele a estava esperando na esquina e começou a gritar com ela, chamando-a em público de prostituta.
Apesar de tais afrontas e mesmo espancamentos, Emilia decidiu ser batizada. E apesar de mais 20 anos de constante oposição, treinou seus filhos. Desde pequeninos, ensinava a cada um deles uma apresentação bíblica a ser praticada entre os arbustos e flores do jardim. Valeu tudo isso a pena? Dentre seus oito filhos, dois são servos ministeriais e dois são pioneiros regulares. E o marido de Emilia? Ele finalmente aceitou um estudo bíblico — dirigido por uma das suas próprias filhas, uma pioneira regular!
O emprego também pode constituir um obstáculo para servir a Jeová. Empregadas domésticas em Honduras têm de trabalhar muitas horas e freqüentemente são tratadas quase como escravas, esperando-se que estejam disponíveis sete dias por semana. Muitas têm medo de perder o emprego se pedirem tempo de folga. Mas certa irmã jovem sempre deixava logo claro que aceitaria o emprego só se pudesse ter tempo para a sua adoração de Jeová. Além de cuidar da sua própria casa, dirigia onze estudos bíblicos domiciliares, sendo que a maioria dessas pessoas freqüentavam as reuniões.
Fifi ataca!
Honduras sofre sua parcela de calamidades naturais. Furacões não são nada novo neste país, mas quando o furacão Fifi atacou a costa norte, em setembro de 1974, mostrou ser a pior calamidade natural na história do país. Cerca de 1.600 Testemunhas (dois terços do total no país) viviam na região atingida. Embora 10.000 pessoas fossem mortas, nenhum dos irmãos perdeu a vida. Muitos perderam, porém, sua casa e seus bens, e inundações gigantescas devastaram os sistemas de comunicações, estradas, leitos de via férrea e pontes, dos quais todos dependem. Um grupo de Testemunhas partiu de canoa da estação ferroviária de Baracoa, para cuidar do bem-estar dos irmãos e dos estudantes da Bíblia que ficaram isolados. Verificaram que podiam viajar de canoa terra adentro até Tela, distante uns 55 quilômetros! O topo das casas e as árvores serviam de pontos de referência. Ao roçarem numa árvore, uma cobra-coral que ficara presa ali caiu agitada dentro da canoa. Eles mataram a cobra mortífera com um golpe rápido de machete, antes que pudesse causar-lhes dano.
Fifi causou outros problemas. Duas assembléias de circuito tiveram de ser adiadas. O relatório de setembro sofreu uma queda, visto que uma enorme quantidade de tempo e esforço teve de ser gasta com a prestação de socorros. Irmãos de todas as partes do mundo contribuíram, e em pouco tempo chegaram suprimentos de Nova Iorque, de Nova Orleães e de Belize. Em menos de um mês, distribuíram-se entre irmãos, suas famílias e amigos umas 29 toneladas de suprimentos. O dia 6 de novembro daquele ano mostrou ser inesquecível. Apesar de enormes obstáculos, realizou-se uma assembléia de circuito de um dia bem no coração da região da calamidade, e 4.000 estiveram presentes. Lágrimas de alegria e de alívio rolavam pela face de muitos, quando os irmãos descobriram que seus queridos amigos estavam vivos e salvos.
Durante o ano seguinte, os irmãos construíram dois novos Salões do Reino e 36 casas novas. Algumas casas foram reconstruídas no mesmo lugar, ao passo que outras tiveram de ser feitas em outro lugar, visto que o anterior era agora o leito dum rio! Um irmão foi tão apreciativo da ajuda recebida, que alterou sua nova casa para ter tanto os recursos como o espaço para incluir um novo Salão do Reino no mesmo terreno.
Grandes terremotos
“Como o trovejar de cem trens de carga.” Foi assim que um irmão descreveu o terremoto de 4 de fevereiro de 1976, que sacudiu sua casa tanto, que ela caiu das palafitas de 2,7 metros no pântano abaixo. Mais cerca de 150 casas naquela cidade também foram severamente danificadas. Mas o epicentro deste sismo de magnitude 7,5 estava logo do outro lado da fronteira, na Guatemala, e foi ali que os estragos foram realmente muito pesados. Um pescador, a alguns quilômetros da costa, naquela noite de luar, disse que ficou espantado quando viu o oceano de repente ficar liso como um espelho. Estranhamente, em toda a parte, os peixes começaram a pular para fora da água. Ele ainda não entendia o motivo disso, até que todas as luzes da cidade distante se apagaram e um horrível estrondo ecoou por cima da água.
A Falha de Motagua deslocou-se outra vez em 1980, sacudindo as pessoas de novo para fora das suas camas, mas com danos muito menores. As próprias pessoas dizem: “É um sinal dos últimos dias.” Infelizmente, a maioria não age de acordo. Apesar dos grandes terremotos e da indiferença de muitos, a obra do Reino prossegue aumentando em Honduras. Afinal, isto também é um sinal de que estamos nos últimos dias. — Mat. 24:7, 14.
Seca-se o rio Eufrates
Aos menos esclarecidos talvez pareça que a religião em Honduras está prosperando; muitas igrejas ainda estão cheias, pelo menos em ocasiões especiais. Aumenta a evidência, porém, de que as águas (simbolizando pessoas) que antes sustentavam Babilônia, a Grande, estão começando a secar-se. (Rev. 16:12; 17:1, 15) As pessoas estão começando a abrir os olhos para as desagradáveis realidades.
Por exemplo, os católicos hondurenhos são muito devotados a “santos”. Muitos deles ficaram assim grandemente abalados, em maio de 1969, quando o papa retirou uns 200 “santos” do calendário litúrgico oficial. O “Santo” Martin de Porres, um santo peruano, negro, que supostamente podia comunicar-se com animais, não foi retirado, ao passo que “São” Cristóvão, especialmente amado por motoristas de caminhão, ônibus e táxi, foi retirado por motivos de dúvida histórica. Essas decisões provocaram uma onda de repulsa da parte do povo, por ter sido enganado por tanto tempo.
Um homem de 23 anos de idade era católico fervoroso, militante de um movimento “cristão”, e segundo em autoridade depois do seu sacerdote. Certo dia, sua vida chegou a um ponto de virada. Foi visitar um amigo, quando de repente apareceu seu sacerdote, totalmente embriagado. O sacerdote começou a insultar o jovem, usando a linguagem mais vulgar e acusando-o de interferir na vida particular do sacerdote — vida que não agüentaria um bom escrutínio.
Desiludido, o homem abandonou a igreja. Poucas semanas mais tarde, “aceitou o Senhor” numa destacada religião evangélica, mas também ficou desencantado com a hipocrisia e as tradições fúteis. Portanto, um ano mais tarde, recorreu ao que ele considerou a última opção: um estudo bíblico com as Testemunhas de Jeová. Naquela época, ele não tinha as Testemunhas em alto conceito, mas ficou logo impressionado com a coerência dos seus ensinos bíblicos. Ele progrediu, ensinando à sua família o que estava aprendendo. Em 1975, dedicou sua vida a Jeová e continua a servi-lo até hoje.
Marta, uma senhora idosa, disse a Testemunhas visitantes que gostaria de saber mais sobre a Bíblia, e estava disposta a estudar com elas — mas de modo algum iria mudar de religião. As Testemunhas concordaram que não a obrigariam a ingressar em nada. Cinco meses mais tarde, ela começou a freqüentar as reuniões. Havia sido diaconisa na religião adventista. Quando membros da sua igreja finalmente chegaram a visitá-la, ela lhes disse que, ao passo que as Testemunhas estavam vivas com amor e esperança, a igreja deles estava morta.
Numa região, três famílias moravam juntas como vizinhos, mas sempre brigavam. Uma família era pentecostal, outra evangélica e a terceira, adventista. Surpreendentemente, quando um missionário lhes trouxe as boas novas, todas as três famílias aceitaram a mensagem! O missionário sugeriu que todos se reunissem num só estudo com ele. Assim, com o tempo resolveram suas diferenças. Estes são os frutos da religião verdadeira. — João 13:35.
Um fruto de séculos de ensino religioso falso, em Honduras, é a obsessão nacional com a morte. Mesmo os piores inimigos dum homem comparecem ao seu enterro e o homenageiam toda a noite com um velório em que bebem e jogam cartas. Uma pioneira, na costa norte, lembra-se de ter falado a um homem idoso fora da sua casa humilde. Quando ela olhou curiosa para aquilo em que ele estava sentado, o homem explicou que era o seu caixão. Ele já o possuía por tanto tempo, que estava ficando podre. Então indicou orgulhosamente seu novo caixão dentro da casa, bem acomodado nas vigas do teto acima da sua cama. Resta a ver a quantos caixões este homem vai sobreviver.
As bênçãos e os desafios do serviço de circuito
Os superintendentes de circuito, com a esposa, e o trabalho que fazem a favor da verdade são muito prezados em Honduras — e com bons motivos. O serviço é alegre, mas exige consideráveis sacrifícios. No início, o grande problema era o transporte. Um irmão na cidade de Siguatepeque, lá nas montanhas, lembra-se de um superintendente de circuito que chegou a pé, molhado de suor e empurrando um carrinho de mão com seu equipamento para a visita de uma semana.
Mau tempo, rios transbordantes, e a falta de estradas muitas vezes dificultavam a esses homens com a esposa ir de uma congregação para outra. Gary e Elaine Krause, missionários da 41.ª turma de Gileade, receberam a designação de trabalhar num circuito que se estendia de San Pedro Sula até Limón, à beira de Mosquitia. Quando o tempo era muito ruim, nem trem nem cavalo conseguiam passar. Mais de uma vez os Krauses tiveram de ir a pé, carregando sua bagagem uns 80 quilômetros ao longo da praia, de Trujillo a Limón, e de volta. A brisa vinda do oceano ajudava a aliviar o intenso calor tropical — mas eles achavam às vezes mais suportável andar de noite.
Aníbal Izaguirre, superintendente de circuito na costa norte, em 1970, foi designado a visitar uma aldeia remota chamada Chacalapa. O primeiro trecho da viagem foi por trem de frutas, cheio de bananas, cocos e uma variedade de animais. A seguir, uma viagem sacudida de caminhão até a aldeia de El Olvido, nome espanhol que, traduzido, significa “O Oblívio”. A fase final foi uma caminhada de quatro horas; ocasionalmente, ele vadeava rios com água até o peito, de mala na cabeça, ao passo que macacos gritavam para ele do alto das árvores. No caminho, encontrou um forte homem negro que se ofereceu a carregar sua mala e o levar ao destino. O homem grande, por fim, largou a mala numa clareira ocupada por umas 50 choupanas e anunciou: “Bem, aqui estamos em Chacalapa!” No entanto, valera a pena, porque uma das choupanas tinha o letreiro “Salão do Reino das Testemunhas de Jeová”. Onze publicadores reuniam-se ali!
Incomum no serviço de circuito é o caso de Julio Mendoza, da Congregação Juticalpa. Batizado em 1970, ingressou nas fileiras dos pioneiros especiais em 1977 e foi pouco depois treinado para o serviço de circuito, que ele iniciou em 1980. O que há de tão incomum nele? Pois bem, quer visitasse cidades quer regiões isoladas, estava acompanhado da esposa, Dunia, e da filhinha, Esther. Muitas casas rurais consistem em um só cômodo, usado para viver, dormir e cozinhar. Julio e sua família muitas vezes compartilharam este cômodo com a família anfitriã — e também com suas galinhas, perus e cabritos! Certa vez, quando não conseguiram vadear um rio, viram-se obrigados a pernoitar na única acomodação disponível: uma única rede, que os três compartilharam.
Durante os primeiros anos de serviço em Honduras, os superintendentes de circuito eram invariavelmente irmãos estrangeiros, quer missionários, quer os que vieram servir onde a necessidade era maior. Mas, com o tempo, quatro dos cinco superintendentes de circuito eram irmãos nativos. Nos últimos anos, esses homens e sua esposa, tanto nativos como estrangeiros, têm conseguido permanecer no serviço mais tempo do que no passado, apesar de doenças tais como hepatite, malária e disenteria, que grassam no ambiente rural.
Naturalmente, quando o seu serviço os leva às cidades maiores, usufruem às vezes a hospitalidade dos irmãos em belos lares. Aprenderam o segredo da adaptabilidade, assim como Paulo. (Fil. 4:11, 12) Nos últimos anos, o serviço de circuito tem sido muito mais fácil, havendo mais estradas pavimentadas e linhas de ônibus praticamente para todas as cidades.
“Pastoreai o rebanho de Deus”
Os ajustes feitos na maneira em que anciãos e servos ministeriais são designados entrou em vigor em 1972, em Honduras assim como em outras partes do mundo. De modo geral, os irmãos reagiram com apreço, esforçando-se para se habilitar. É interessante que, quando o novo arranjo foi introduzido, apenas um terço dos anciãos do país eram hondurenhos, mas em 1976 esta proporção já aumentara para dois terços.
Sendo naquele tempo a média nacional inferior a um ancião por congregação, sempre havia o perigo de se negligenciar o pastoreio do rebanho. Portanto, recomendou-se aos anciãos que treinassem os servos ministeriais na obra de pastoreio. Suas visitas deviam encorajar os irmãos e manter abertas as linhas de comunicação. Naturalmente, deviam avisar os anciãos quando havia problemas sérios.
Numa congregação pensava-se que certa irmã havia perdido todo o interesse na verdade, porque não assistia às reuniões. Mas os irmãos descobriram que ela só faltava às reuniões porque não tinha recursos para comprar sapato! Ela apreciou muito um pouco de ajuda recebida e logo estava de volta nas reuniões e no ministério.
De 1978 a 1983, a desaceleração das atividades teocráticas no país preocupava tanto os anciãos como os publicadores fiéis. Depois de analisar a situação, a Comissão de Filial descobriu duas causas principais: materialismo e falta de estudo pessoal. A televisão tivera um grande impacto, especialmente desde meados dos anos 70. Tem contribuído muito para o declínio nos hábitos de estudo. E embora o materialismo usualmente seja atribuído a nações abastadas, na realidade o amor ao dinheiro pode afetar tanto pobres como ricos. Uma missionária ficou surpresa de ver que um casal de Testemunhas possuía uma casa só de chão batido e sem água corrente — mas tinha um aparelho de televisão, um estéreo e dispendiosos móveis de sala. Essas coisas podem ser compradas a crédito, no entanto, muitas vezes tanto o marido como a esposa têm de trabalhar para pagar as dívidas. Não era de admirar que este casal faltasse às reuniões e fosse quase inativo no serviço de pregação.
A filial aumentou seu esforços de ‘pastorear o rebanho de Deus’ e de ajudar os irmãos a ‘recuperar o amor que tinham no princípio’. (1 Ped. 5:2; Rev. 2:4) Além disso, em 1981, chegaram onze missionários da recém-estabelecida Extensão da Escola de Gileade, no México, e, em 1988, três irmãos vieram da Escola de Treinamento Ministerial. Jeová tem abençoado todos esses arranjos, conforme atesta o sólido aumento desde 1984.
O serviço de pioneiro gera pioneiros
Desde 1984, tem havido uma óbvia reanimação no campo dos pioneiros. Basta comparar a média de 937 pioneiros regulares e auxiliares em 1992 com os 276 em 1976. Ao passo que o número dos publicadores dobrou, o dos pioneiros quase quadruplicou.
O que ajudou a levar as fileiras de pioneiros de volta a uma boa situação foram os artigos francos em A Sentinela e em Nosso Ministério do Reino, bem como os discursos animadores nas assembléias. Muitos servos designados nas congregações começaram a falar de forma mais positiva sobre as alegrias do serviço de pioneiro. Alguns reajustaram seus assuntos para poderem ser pioneiros regulares ou auxiliares. Aprenderam quão importante é ‘não extinguir o fogo do espírito’, e que o espírito de pioneiro é contagiante. (1 Tes. 5:19) O serviço de pioneiro gera pioneiros.
Não é necessário, conforme alguns supunham erroneamente, obter segurança financeira antes de alguém se tornar pioneiro. Por exemplo, tome o caso dum jovem irmão de Guásimo, no alto das montanhas. No dia depois de ser batizado, fez petição de pioneiro auxiliar. Ele havia trabalhado arduamente por alguns meses para comprar roupa nova, a fim de ser apresentável no ministério. Tudo foi bem na primeira semana, mas na segunda semana, ele não apareceu para o serviço de pregação. Preocupados, os outros pioneiros subiram às montanhas e descobriram que certa noite, enquanto este jovem irmão dormia, um ladrão lhe roubara a roupa que estava secando num varal. Os irmãos providenciaram alguma roupa para ele. Apesar da perda de uma semana, ele atingiu seu alvo no fim do mês. Alguns meses mais tarde, ele ainda só tinha uma calça. Mas nem isso diminuiu sua alegria de ver um dos seus estudantes da Bíblia ser batizado, apenas seis meses depois do seu próprio batismo.
Na Congregação San Lorenzo há um pioneiro cego, de 20 e tantos anos, chamado Adrian. Em 1984, sua irmã aceitou um estudo bíblico, mas este não foi oferecido a Adrian. Pensava-se que ele não poderia estudar. Sua irmã não compreendia muito bem o estudo, de modo que Adrian, que sempre escutava, explicava-lhe as coisas. Sua irmã logo perdeu o interesse. Ainda mais, ninguém sugeriu estudar com Adrian. Ele teve de pedir um estudo bíblico. Ficou tão profundamente comovido com o que aprendia que, com a ajuda da família, logo ia às reuniões.
Ao passo que a verdade se arraigava no seu coração, queria compartilhá-la com outros. Novamente, presumia-se que ele não poderia enfrentar este desafio. Adrian insistiu, e os irmãos o ajudaram a participar no serviço de pregação. No primeiro mês no ministério, ele relatou 24 horas, e depois aumentou seu serviço de mês em mês. No mês depois do seu batismo, fez petição para o serviço de pioneiro auxiliar, e não demorou muito e já era pioneiro regular. Usualmente relata mais de 100 horas, e atualmente dirige oito estudos bíblicos domiciliares. E imagine, os irmãos no começo o haviam passado por alto!
Cuidar de necessidades especiais
Pessoas em situação especial freqüentemente precisam duma medida extra do amor cristão altruísta. Por exemplo, Teresa era cega desde os três anos de idade. Havia estudado um pouco com uma Testemunha, mas no decorrer dos anos envolveu-se com diversos grupos religiosos. Alguns deles oraram por ela, para que recuperasse a vista — naturalmente, sem efeito. O que desejava mesmo era estudar novamente com as Testemunhas. A oportunidade surgiu, mas como se podia realizar o estudo? A irmã lia os parágrafos. Enquanto lia bem, com a devida ênfase e pausas, Teresa não tinha nenhuma dificuldade em responder corretamente. Em pouco tempo, Teresa queria ir às reuniões. De modo que a irmã, embora de modo algum fosse ciclista experiente, levava-a de bicicleta! Em dias de chuva, era um espetáculo e tanto vê-las chegar protegidas por um guarda-chuva e cobertas com sacos plásticos.
Nas reuniões ela falava logo para responder às perguntas, até que se lhe ensinou a esperar até que seu nome fosse chamado. Ela aprendeu a proferir discursos na Escola do Ministério Teocrático e a participar no ministério. Apesar da sua situação especial, fixa os olhos do discernimento espiritual no prêmio: aquele dia glorioso em que poderá enxergar a beleza da Terra paradísica.
Um homem idoso, quase cego, vivia nas montanhas. Ele aceitou o livro Verdade dum irmão, que fazia esforços extras para manter contato com ele. Às vezes, esse homem estava tão doente, que não podia estudar, mas quando podiam estudar juntos, ele usualmente respondia com reflexão e inteligência. De repente, porém, o homem idoso desapareceu. Os vizinhos disseram que fora morar com a filha na cidade, porque precisava de tratamento médico. Em vez de o irmão pensar que não podia fazer mais nada, o irmão tinha uma solução. Da próxima vez que assistiu a uma assembléia naquela cidade, ele foi de casa em casa à procura do seu anterior estudante. Pois bem, por fim o achou — descansando numa rede! Fizeram-se arranjos para recomeçar o estudo. Em pouco tempo, o homem idoso até mesmo aprendeu a ir sozinho às reuniões, por contar as ruas em caminho para o Salão do Reino. Com o tempo, tornou-se publicador das boas novas. Como as pessoas ficavam espantadas de ver aquele homem de cabelo branco, quase cego, de 93 anos de idade, gastar de 30 a 70 horas por mês em fazer visitas de casa em casa!
Lagos era afetuosamente chamado de Laguito pelas Testemunhas em Puerto Cortés. Era pioneiro especial por tanto tempo quanto alguém se podia lembrar. Sobre a sua idade, ele dizia apenas vagamente: “Acho que não tenho mais de 86 anos.” Laguito tinha vista muito fraca, de modo que a filial às vezes precisava decifrar seus relatórios de serviço. Certo mês ele relatou o total impossível de 1.050 horas, que revelou ser o número ainda assim notável de 150 horas. Pelo mesmo motivo, ele muitas vezes dava trombadas quando andava de bicicleta. Depois de cair com ela num riacho e ferir a cabeça, os irmãos finalmente decidiram que a única coisa bondosa a fazer era com delicadeza tirar de Laguito a bicicleta e vendê-la por ele. Mais tarde, ele ficou acamado com hepatite e nunca mais se recuperou. Não tinha parentes conhecidos, de modo que a congregação cuidou de Laguito nos seus últimos seis meses. Um irmão o acolheu na sua casa, e todos os dias alguém estava presente para cuidar das necessidades deste amado e fiel irmão idoso.
“Não eram dos nossos”
Como é de esperar, porém, nem todos permanecem fiéis. Alguns, em Honduras, tiveram de ser desassociados da congregação cristã no decorrer dos anos, especialmente por imoralidade e embriaguez. Também a apostasia, com sua arrogância e a divisão que causa, custou a alguns a sua vida espiritual. Embora isso sempre seja lamentável, a desassociação salva vidas. Mantém a congregação limpa, induz alguns transgressores a arrepender-se e às vezes até dá bom testemunho.
Por exemplo, Blanca Rosa estudava com uma missionária que estava para deixar o país. A missionária queria transferir o estudo para outra publicadora, mas Blanca Rosa não queria continuar com o estudo. No entanto, queria saber o motivo de a missionária ter de partir. “Vá à reunião hoje à noite, e entenderá”, explicou a irmã. Para satisfazer sua curiosidade, Blanca Rosa foi à reunião naquela noite e ouviu o anúncio: o marido da missionária, ele mesmo missionário estrangeiro e superintendente, foi desassociado da congregação. Blanca Rosa ficou profundamente impressionada. Ela pensou: ‘Esta é a verdade. Nem raça, nem aparência, nem posição impede que o transgressor seja expulso da congregação.’ Este foi para ela o momento decisivo na vida. Ela foi batizada e durante quatro anos tem servido como pioneira auxiliar.
Filhos pródigos
Muitas lágrimas são vertidas por pais desolados que vêem filhos e filhas amados serem desassociados ou simplesmente perder-se no lamaçal imoral deste mundo. A famosa parábola de Jesus a respeito do filho pródigo, registrada no capítulo 15 de Lucas, é fonte de consolo e de esperança para eles. Em Honduras, é costumeiro ter muitos filhos, de modo que o número de ‘filhos pródigos’ também é grande. Mas há um fundo de verdade no ditado: “Enquanto há vida, há esperança.”
Oswaldo, ainda menino, já conhecia a verdade, porque fora criado por um tio que era Testemunha de Jeová. Não se batizou. Na adolescência começou a levar uma vida dupla. Ia às reuniões e empenhava-se no serviço de campo, mas também freqüentava discotecas com sua namorada do mundo. Para satisfazer seus desejos, até mesmo roubou algo dum irmão. Ele teve de sair da casa do tio, e depois afundou cada vez mais na imoralidade e em drogas. Por fim, ingressou no exército.
Passaram-se anos; Oswaldo começou a anelar a vida que tivera antes na organização de Jeová. Mas, sentia-se sem forças para fazer algo a respeito. Por acaso, certo dia encontrou-se com o tio e disse-lhe que queria voltar. Embora o tio tivesse muitas dúvidas sobre a sinceridade de Oswaldo, deu-lhe o endereço do lar missionário. Oswaldo foi diretamente para lá e pediu um estudo bíblico. Naquela mesma semana, começou a ler novamente as revistas e a freqüentar as reuniões; isto, por sua vez, deu-lhe a força necessária para se livrar das drogas e da vida imoral. Criou coragem para compensar aqueles de quem havia furtado. Uma irmã não queria aceitar nada, mas Oswaldo insistiu em presenteá-la com um televisor e uma caixa de maçãs, para aplacar a consciência. O marido descrente da irmã ficou muito impressionado.
No entanto, Oswaldo ainda estava no exército. Queria achar um modo de receber uma baixa válida. Acontece que seu superior no clube dos oficiais foi despedido por furto, e Oswaldo foi informado de que podia substituí-lo. A promoção teria significado uma boa remuneração e trabalho agradável, mas Oswaldo foi inflexível quanto a pedir baixa. Apresentou-se ao comandante. Antes de mesmo poder mencionar a baixa, o comandante congratulou-o pela promoção! Oswaldo manteve-se firme e explicou o que realmente queria: deixar o exército e empreender o ministério de tempo integral. Para a sua surpresa, concederam-lhe o que queria. Ainda mais, as mudanças que fizera na sua personalidade, nos seus últimos meses no exército, resultaram em ele receber um diploma de congratulação. Abriram-se muitas oportunidades para dar testemunho; antes de partir, seus amigos no exército apelidaram-no respeitosamente de “O Pregador”. Agora já é batizado e pioneiro regular — um verdadeiro pregador.
Também Santiago adotava um proceder um tanto errado. Ele tinha três irmãs. Duas delas eram pioneiras regulares, a outra era pioneira auxiliar; todas as três eram ativas, diligentes e de mentalidade espiritual. Santiago não. Orgulhava-se do seu cabelo louro e o usava comprido. Seus amigos íntimos eram ladrões, bêbedos e viciados em drogas; ele compartilhava dos hábitos deles. Não era de surpreender que acabasse na cadeia quase todo mês. Apesar de tudo isso, um missionário raciocinou: “Tendo três irmãs teocráticas, certamente é impossível que o irmão delas seja inteiramente desprovido de boas qualidades.” Ofereceu-se para estudar com Santiago, que o aceitou. Mas não progredia. Por fim, o missionário terminou com o estudo, explicando que não tinha objetivo continuar se Santiago não queria aplicar aquilo que aprendia.
Passaram-se meses, e no começo de 1986, Santiago pediu que se lhe desse mais uma chance. Esta vez foi diferente: ele cortou o cabelo, preparava-se para os estudos e até mesmo dava testemunho aos ex-amigos, que começaram a evitá-lo como se fosse uma praga. Ainda assim, o missionário não ficou totalmente convencido. “Deixou realmente de fumar e de causar problemas na vizinhança?” perguntou às irmãs de Santiago. Sim, realmente o tinha deixado. Em abril permitiu-se-lhe participar no serviço de campo. Em maio, ele relatou 65 horas gastas no serviço de pregação; em junho ele dirigia cinco estudos bíblicos. Progrediu até o batismo e logo tomava a dianteira em todas as atividades espirituais da família. Em 1989 tornou-se pioneiro especial.
O que fizera Santiago mudar assim? Ele responde: “Depois de estudar da primeira vez, eu sabia o que agradava a Jeová e o que não lhe agradava. Daí, notava que cada vez que fazia algo de errado, sabendo que era errado, eu acabava tendo maiores encrencas com outras pessoas. Isto me ajudou a ver que aquilo que Jeová pede é o melhor e é para a nossa proteção. Quem obedece a Jeová sempre tem menos problemas. Eu não queria ter problemas a vida inteira, de modo que comecei a estudar de novo — mas esta vez praticando aquilo que aprendia.”
A “Bomba Azul” e outros livros
Os muitos livros da Sociedade Torre de Vigia foram de muito proveito para ajudar pessoas a mudar de vida e a achegar-se a Jeová. São bem adaptados aos alfabetizados e aos semi-alfabetizados, jovens e idosos. É impossível dizer qual deles teve o maior impacto no campo hondurenho.
Por exemplo, tome o mundialmente famoso livro Verdade, chamado de “Bomba Azul”, do qual se imprimiram e distribuíram mais de cem milhões em todo o mundo. Uma instrutora de escola dominical, numa igreja evangélica, decidiu ir ao Salão do Reino e pedir um estudo bíblico. Em caminho, encontrou-se com uma irmã que lhe perguntou por que queria estudar com as Testemunhas. Ela respondeu: “Encontrei agora a verdade, e não quero continuar como instrutora de escola dominical.” Ela havia lido secretamente o livro Verdade. Ficou desapontada de saber que seu estudo bíblico só podia ser realizado duas vezes por semana e não diariamente. Não obstante, ela progrediu bem e logo começou a freqüentar as reuniões. Quando ouviu o superintendente da Escola do Ministério Teocrático dizer que quem quisesse ser ministro de Deus devia matricular-se na Escola do Ministério Teocrático, ela fez isso. Rompeu todas as relações com a escola dominical e tomou por objetivo tornar-se verdadeira ministra de Jeová.
O livro Juventude também tem sido bem recebido em Honduras. Em algumas escolas e colégios, os professores o têm usado como base para palestras em aula. Uma moça que recebeu o livro Juventude da sua avó levou-o à escola. Sua professora examinou-o e perguntou onde o obteve. Um rapaz na classe, que também possuía um, expressou-se e disse que era publicado pelas Testemunhas de Jeová. A professora pediu que se comprassem 34 livros para serem usados na escola.
O livro Criação também tem causado um considerável impacto nas faculdades. Uma irmã que é professora sempre resistiu às pressões, tanto do diretor como de outros professores, para lecionar sobre o tema do homem pré-histórico. Quando se publicou o livro Criação, ela o usou nas aulas com bom efeito, e também deixou um com outra professora e outro com o diretor.
Em regiões tais como Puerto Cortés, quase todo diretor de escola tem esse livro. O diretor caribe de uma organização caritativa mundial, educado numa universidade na Inglaterra, leu-o várias vezes e disse: “Este livro atinge com precisão o ponto em questão. Não se pode crer em Deus e ao mesmo tempo na evolução.”
O livro Viver Para Sempre substitui agora o livro Verdade, e é fonte de esperança e de consolo para milhões. Leticia, ainda jovem, preocupava-se com a morte; sempre que sabia que alguém havia morrido, ficava acabrunhada de terrível tristeza. Ela conta: “Desde dois anos atrás, estou livre desta aflição; minha tristeza acabou.” Como? “Uma colega de faculdade tinha o livro Viver Para Sempre, mas não gostava dele e mo deu. Na página 10 eu li: ‘Você não quer morrer, nem o quer qualquer outra pessoa normal que tem certa medida de saúde. Deus nos fez com o desejo de viver, não com o desejo de morrer. . . . Um Deus amoroso certamente não criaria os homens com o desejo de viverem para sempre, tornando depois impossível que satisfizessem este desejo!’ Meditei no assunto e me senti consolada. Mais tarde, eu disse à minha colega que lhe era profundamente grata de que me tinha dado um verdadeiro tesouro.”
Naturalmente, o livro muitíssimo mais importante que usamos é a Bíblia. Em Honduras, onde as pessoas antigamente não se atreviam a ler este livro, a Tradução do Novo Mundo tem sido um instrumento de valor inestimável. Quando foi lançada em espanhol, em 1967, a colocação de Bíblias em Honduras aumentou vertiginosamente em mais de 1.000 por cento sobre a cifra de 1965. Esta excelente tradução continua a ajudar as pessoas a achegar-se ao Autor da Bíblia, Jeová.
Apenas uma revista
Para Honduras, foi um grande dia quando se começou a receber as revistas A Sentinela e Despertai! em quatro cores. Seu atrativo se refletiu num aumento de 13 por cento nas colocações naquele ano de serviço de 1986. As pessoas em Honduras realmente apreciam a grande variedade de assuntos e a autoridade bíblica das revistas. Muitas vezes se pode ver pessoas lendo-as no ônibus ou no escritório.
Na região de La Ceiba, um médico recomendou um aborto a uma mulher grávida, que repetidas vezes tivera dificuldades no parto. No entanto, ela não tinha certeza, de modo que ele a mandou embora para que pensasse nisso. No dia em que ia voltar para o retorno marcado, uma Testemunha deixou com ela uma revista. Esta tratava do assunto do aborto e ajudou-a a decidir-se firmemente contra ele. Quão felizes ficaram todos quando ela finalmente deu à luz seu bebê — sem problemas! Esta senhora começou a estudar a Bíblia. Agora tanto ela como sua filha mais velha são batizadas e servem como pioneiras auxiliares. Tudo começou com apenas uma revista.
Uma irmã deixou a revista Despertai!, que continha o artigo “Empenhe-se Pela Paz com o Próximo”, com o diretor do departamento do pessoal do Ministério da Educação. Ela ficou agradavelmente surpresa, quando 300 funcionários receberam cada um uma fotocópia deste artigo! Era para ser usada como base dum debate numa sessão de estudos. Embora a sessão fosse longa, ninguém se queixou. Em resultado da sessão, o ambiente entre os funcionários melhorou muito, e o diretor granjeou a estima e o respeito do pessoal. Isto também foi o resultado de apenas uma revista.
É de estranhar que alguns irmãos tenham uma atitude negativa para com a distribuição de revistas. Em 1981, uma pequena congregação estava colocando poucas revistas, em média apenas cerca de três por publicador, por mês. O superintendente de circuito os incentivou a serem positivos quanto ao valor real das revistas. Em pouco tempo, naquela mesma congregação, os publicadores colocavam cada um em média 16 revistas por mês. Para a sua surpresa, verificaram que algumas pessoas tinham prazer em aceitar três ou quatro revistas por vez!
Progresso adicional em território rural e isolado
Em 1970, calculou-se que as boas novas do Reino ainda chegavam apenas a 3 ou 4 de cada 10 hondurenhos. Em harmonia com sugestões feitas pelo superintendente zonal naquele ano, decidiu-se reorganizar os territórios das congregações, para se ter acesso a uma porcentagem maior da população. As congregações responderam por providenciar lotar carros ou mesmo ônibus com Testemunhas para sair uma vez por semana às áreas rurais. Mesmo assim, ainda não se podia abranger o país inteiro. Em 1971, a filial tomou a iniciativa de providenciar que os territórios não-designados que restavam fossem trabalhados uma vez por ano por pioneiros especiais temporários.
Dois pioneiros especiais, Armando Ibarra e Manuel Martínez, foram designados para trabalhar os territórios isolados na região de Olancho. Fizeram pelo menos cinco viagens às aldeias isoladas daquela vasta região. É um território de infindáveis montanhas e vales remotos, habitat de animais selvagens, tais como jaguares e cobras venenosas — mas também dos mais perigosos, homens violentos.
A fim de cobrirem mais território, concordaram em trabalhar separadamente, embora mantendo sempre contato. Certo dia, Armando deu-se conta de que não vira Manuel já por algum tempo, e foi em busca dele. Aproximando-se duma casa, ouviu alguém dizer: “Que o seu Deus ou sua Bíblia o salvem agora!” Sentiu um medo aflitivo, mas orou a Jeová e entrou. A cena era tensa. Lá estava Manuel, com as mãos ao alto, enfrentando dois homens armados de revólveres e machetes. Vendo Armando e percebendo que Manuel não estava sozinho, os homens baixaram as armas e o deixaram ir. Cautelosamente, Manuel, virado para estes homens e vagarosamente andando para trás, saiu da casa e juntou-se ao seu companheiro. Os dois partiram então para outra aldeia.
Em maio de 1987, Hector Casado, então superintendente de circuito, enviou cartas às congregações, pedindo voluntários para organizar uma excursão de seis dias às aldeias isoladas da região conhecida como Santa Bárbara. Eram necessários irmãos e irmãs de constituição forte, dispostos a penetrar a pé nas montanhas e a dormir em qualquer aldeia em que se encontrassem ao cair da noite. Setenta Testemunhas de 26 congregações e grupos isolados reuniram-se em San Pedro Sula no dia marcado. Foram divididos em oito grupos, e, depois de orarem a Jeová, partiram nas suas respectivas rotas. Encontraram todo tipo de pessoa, na maioria pobres, algumas muito favoráveis, outras hostis, muitos analfabetos e uns poucos bem versados na verdade, graças a livros adquiridos anos antes. Uma mulher queria tanto o livro Viver Para Sempre, que ofereceu em troca a sua única galinha.
Um grupo seguiu num veículo de tração nas quatro rodas por seis horas trabalhosas por tortuosas trilhas nas montanhas. Quando finalmente chegaram a uma povoação, foram acolhidos por um temporal. Isto foi providencial, porque aquela região não havia tido chuva já por vários meses. Os irmãos receberam crédito pelo temporal! Portanto, as águas da verdade também foram bem recebidas ali. Algumas irmãs voltaram naquela mesma tarde para dirigir estudos bíblicos com pessoas interessadas. Alguns desses foram continuados por correspondência.
Outro grupo trabalhou um setor virtualmente controlado por evangélicos norte-americanos, que tinham a sua própria emissora de rádio. Lançaram pelo ar uma campanha de propaganda contra as Testemunhas, descrevendo-as como fazendo visitas em pares e carregando bolsas de literatura. “Tenham muito cuidado com as Testemunhas”, avisaram. “São pessoas capazes e têm profundo conhecimento da Bíblia. Até mesmo um perito entre os nossos irmãos poderia ser enganado por elas. Evitem-nas! Não as recebam na sua casa!” Esta publicidade gratuita criou muita curiosidade e preparou o caminho para muitas palestras interessantes.
Em outra localidade, um homem hospitaleiro, mas muito pobre, ofereceu o uso da sua casa aos irmãos. Não havia problema quanto a dormir em esteiras no chão batido. Mas, antes de clarear, foram acordados por pulgas, que haviam programado um desjejum bem cedo! Nesta cidade, a fabricação de esteiras é quase a única fonte de renda. Várias mulheres, que não haviam aceitado publicações durante o dia, vieram à noitinha ao lugar onde os irmãos se hospedavam. Ofereceram as suas recém-fabricadas esteiras em troca de livros.
Depois de seis dias, o grupo dos 70 reuniu-se novamente. Haviam distribuído 623 livros e 687 revistas, e haviam gasto cerca de 2.455 horas no serviço de pregação!
Alguns se perguntaram se valeu a pena fazer tanto esforço para contatar essas pessoas isoladas, visto que é quase impossível fazer-lhes revisitas. Não devemos subestimar o poder da verdade de se arraigar no coração humano. Numa região isolada, um homem interessado viajava regularmente à cidade a fim de adquirir publicações para si. Quando o grupo que cobria esta região ficou sabendo disso, um irmão selou sua mula e seguiu para as montanhas, a fim de achar este homem. Encontrou a casa, mas a esposa do homem disse que ele não estava em casa. Onde estava? ela respondeu: “Lá fora, pregando.”
De modo similar, um superintendente relatou: “Imaginem entrar numa localidade isolada, esperando encontrar pouco interesse. Mas em casa após casa as pessoas disseram: ‘As Testemunhas de Jeová nos visitam, e estamos convencidos de que elas têm a religião certa’! Isto aconteceu conosco. Outros na mesma localidade diziam: ‘Entrem; estivemos esperando por vocês; estudamos com Don Tivo.’ ‘Quem é Don Tivo?’ perguntávamos. Não conhecíamos nenhum irmão com este nome. Parece que este homem havia recebido publicações, e a mensagem se arraigou profundamente no seu coração. Depois que Don Tivo se encontrara com uma Testemunha que lhe explicou como usar os livros para dirigir estudos bíblicos, ele empreendeu fazer discípulos. Na época em que o conhecemos, ele dirigia sete estudos bíblicos. Um era o dum casal que se preparava para legalizar seu casamento, a fim de que pudesse juntar-se a Don Tivo na pregação!”
Congressos notáveis
Em 1948, quando se realizou o primeiro congresso de distrito em Honduras, havia 467 pessoas presentes. Um comerciante presente disse: “Já era tempo que alguém aparecesse com uma mensagem dessas. É novidade para mim, mas gosto dela.”
Passaram-se dezoito anos antes de se organizar o primeiro congresso internacional. Em dezembro de 1966, reuniram-se na capital 1.422 pessoas, inclusive 225 irmãos procedentes de lugares diversos, tais como Canadá, Alemanha e Austrália. Uma caravana de 11 ônibus trouxe 450 irmãos de San Pedro Sula. A estrada pavimentada de lá até Tegucigalpa ainda estava em construção, de modo que tiveram uma viagem dura de 12 horas por sinuosas trilhas nas montanhas. Vieram irmãos de tão longe como La Ceiba, chegando um dia atrasados, porque fortes chuvas tornaram impossível a passagem do trem de frutas. Ninguém se lastimou da viagem penosa.
Ouviram os conselhos oportunos sobre o problema do nacionalismo no discurso “Ouça as Palavras de Daniel Para os Nossos Dias”. Viram o seu primeiro drama, intitulado “Considere a Bíblia Como o Nosso Guia na Vida”. Este serviu para proteger nossos irmãos que vivem em comunidades em que a fornicação é tão comum, que um homem fiel é considerado pelo público como esquisito ou talvez até mesmo como deficiente.
Tanto a imprensa como as rádios deram publicidade favorável. Naturalmente, os inimigos estavam atarefados como sempre, difundindo mentiras e publicidade negativa, mas a verdade recebeu muito mais atenção e espaço na imprensa. Conforme disse o apóstolo Paulo: “Não podemos fazer nada contra a verdade, mas somente a favor da verdade.” (2 Cor. 13:8) Sem dúvida, este congresso contribuiu para o excelente aumento que seguiu. Nos próximos três anos, 477 foram batizados, em comparação com os 175 batizados nos três anos anteriores.
De vez em quando, membros do Corpo Governante visitam os congressos, e os irmãos sempre se alegram com o estímulo que sua companhia dá. O irmão N. H. Knorr veio várias vezes. Os irmãos W. L. Barry, J. C. Booth, F. W. Franz, M. G. Henschel, W. K. Jackson, K. F. Klein, A. D. Schroeder e L. A. Swingle foram todos convidados num ou noutro dos congressos.
O Congresso de Distrito “Mantenedores da Integridade”, em 1986, foi outro evento notável. O drama “Seu Futuro Constitui um Desafio” induziu alguns irmãos e irmãs a pensar mais seriamente no serviço de pioneiro. Um irmão jovem havia planejado cursar a universidade depois do congresso, mas mudou de idéia e foi procurar um emprego secular que lhe permitisse ser pioneiro auxiliar. Sua irmã perdeu o emprego porque se negou a perder o congresso. Ela também passou a ser pioneira auxiliar.
Uma pequena assembléia de circuito, realizada numa escola em Puerto Cortés, foi notável num sentido: o superintendente de circuito não estava presente! Ficou preso no lado errado dum rio violento, sem alternativa senão ficar onde estava. Os irmãos resolveram bem a situação. Dividiram entre si as designações do superintendente de circuito, de modo que não se perdeu nada do programa. Todavia, ainda se confrontavam com um desafio: os irmãos que supervisionavam a assembléia haviam decidido que todos os oradores deviam usar paletó. No entanto, poucos irmãos nestas regiões têm paletó, porque normalmente não têm uso para ele. De modo que, quando o primeiro irmão terminava a sua parte no programa, o mesmo paletó vermelho e a gravata verde reapareceram — nas próximas três apresentações. A diferença de tamanho e de figura dos quatro irmãos deu um toque cômico a uma assembléia de outro modo normal.
Construções para a adoração verdadeira
As Testemunhas de Jeová são construtores — edificadores de personalidades cristãs, de famílias felizes, e de congregações unidas e pacíficas. Ao passo que as congregações em Honduras aumentavam, tiveram de empenhar-se em construir Salões do Reino e uma filial. Nos primeiros anos, apenas um letreiro na parede e alguns bancos na sala de estar da casa dum irmão bastavam para um Salão do Reino, mas as congregações viram logo a vantagem de construir seus próprios prédios. Em 1971, das 22 congregações em Honduras, 15 tinham seu próprio salão.
Usualmente, os Salões do Reino são simples, esmerados e apropriados para a comunidade em que estão situados. A casa de sapé, com bancos de mogno — feitos de árvores locais — no meio duma clareira no mato virgem, em Chacalapa, não custou mais de US$20 para construir. O bambu é abundante em La Junta, perto do rio Ulúa, de modo que o salão ali, com seu piso de terra e suas paredes de bambu, custou mais ou menos o mesmo. Já foi ampliado e melhorado várias vezes, mas ainda é simples e se ajusta bem ao ambiente. Em contraste, nas cidades são apropriados outros tipos de salão.
Mesmo que a estrutura seja simples, construir um salão longe de qualquer cidade maior não é fácil. Não se pode apenas apanhar o telefone e encomendar madeira, areia e cimento. Em 1973, o salão em Siguatepeque foi construído por irmãos não especializados, apenas com os materiais básicos disponíveis. Areia e cascalho eram tirados a pá do leito do rio e peneirados. Grandes pinheiros foram derrubados e arrastados por bois para fora da ravina, sendo os troncos depois montados num cavalete e serrados em vigas com uma serra de 2,7 metros de comprimento, manipulada por dois homens.
A filial, ou Betel, tem uma história interessante. Desde 1946, alugavam-se locais na capital, o que significava mudar-se de vez em quando, no decorrer dos anos. Mas, quando Harold Jackson servia como servo de filial, o aumento dos interesses do Reino indicava que se teria de construir um prédio adequado para as necessidades. Para este fim, comprou-se um terreno bem localizado, sobranceiro à embaixada americana. O trabalho começou em 1961. Já então, Lloyd Aldrich atuava como servo de filial. Baltasar Perla, de El Salvador, era o arquiteto, e Pedro Armijo, de Tegucigalpa, era o empreiteiro. As ferramentas e as técnicas de construção eram simples.
O irmão Aldrich comentou a qualidade excelente do trabalho: “Era espantoso ver o que os irmãos podiam realizar sem maquinaria ou equipamento modernos. Quase tudo foi feito a mão. As únicas duas máquinas de alguma importância eram a betoneira e um caminhão para trazer o material ao canteiro de obras.”
Em 1961 havia apenas 571 publicadores em Honduras, e as dependências da filial eram mais do que suficientes, mas em 1986, mais de 4.000 relatavam e o Lar de Betel, embora ampliado em 1978, não era mais adequado. O Corpo Governante autorizou um anexo que duplicaria o espaço existente. O trabalho começou no outubro de 1987. Que alegria era ver os voluntários internacionais em ação! Junto com a mão-de-obra voluntária de muitas congregações, terminaram um prédio excelente, que foi dedicado ao serviço de Jeová em 21 de outubro de 1989.
Retrospecto e perspectivas
A dedicação do novo Betel foi um dia feliz. Irmãos e irmãs há muito ativos no serviço do Reino vieram de toda a parte, e alegraram-se de encontrar-se novamente depois de tantos anos. Entre eles estavam alguns dos primeiros missionários a servir em Honduras: Allan e Helen Bourne, Darlean Mikkelsen, Randy Morales e Woody Blackburn, que atuou como servo de filial lá no começo dos anos 50.
Refletindo sobre a sua experiência no campo hondurenho, Werner Zinke, que serve como coordenador da Comissão de Filial desde 1978, comentou: “Pensando nos 20 anos que tenho tido a oportunidade de servir aqui em Honduras, posso dizer que Jeová nos abençoou ricamente nesta terra. Tenho visto o número dos publicadores aumentar de 1.341, em 1970, para 6.583 agora. Que privilégio é prestar um serviço ainda melhor aos nossos irmãos em Honduras nas nossas novas dependências.”
Quando Ethel Grell, pioneira desde que tinha 14 anos de idade, chegou a Honduras, com a sua mãe, Loverna, em 1946, havia apenas 15 publicadores, incluindo 7 missionários. Ela foi entrevistada numa assembléia recente e lhe perguntaram qual era a maior bênção que teve nos seus mais de 40 anos de ministério no país. Ela respondeu: “O que me faz mais feliz é ver a estabilidade e madureza da organização de Jeová, o aumento em pioneiros jovens e o enorme aumento em publicadores.”
Na dedicação do novo Betel, em 1989, o Corpo Governante foi representado por Lyman Swingle, que proferiu o discurso de dedicação. Perguntado sobre o que achava das perspectivas teocráticas para Honduras, ele olhou muito além do futuro imediato. Respondeu: “As perspectivas para Honduras e todo outro país são muito boas, porque a organização de Jeová em breve transformará a Terra inteira num paraíso.” Na verdade, este é nosso anseio — o governo do Reino de Jeová! Mas, no ínterim, ainda há trabalho a fazer. Rogamos a bênção de Jeová sobre todos os nossos irmãos hondurenhos, ao passo que se mantêm ombro a ombro com seus irmãos em outras terras trabalhando lealmente para defender o Seu nome, sob a direção de Jesus Cristo e do seu escravo fiel.
[Foto na página 152]
Loverna Grell, à esquerda, e sua filha Ethel
[Fotos nas páginas 156, 157]
Honduras, uma terra agraciada com vistosas cataratas, lindas orquídeas, pirâmides antigas e praias marítimas.
[Foto na página 158]
William e Ruby White
[Foto na página 162]
Estes missionários que servem em Honduras procedem de países tais como Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Finlândia, México, Noruega e Suécia.
[Foto na página 168]
O irmão Knorr e as gêmeas Jeanette Fischer, à esquerda, e Johneth, que começaram o serviço missionário em 1952.
[Foto na página 172]
Grant Allinger, superintendente de filial de 1963 a 1978, e esposa, Olga
[Foto na página 176]
Pregação perto de Omoa
[Foto na página 184]
O superintendente de circuito Julio Mendoza com sua esposa, Dunia, e a filha, Esther
[Foto na página 193]
Os Salões do Reino são simples, esmerados e apropriados para a comunidade.
[Fotos na página 200]
A primeira filial contrastada com a filial construída em 1961, mostrando o anexo acrescentado em 1978.
Lyman Swingle no programa de dedicação das novas dependências, em 21 de outubro de 1989.
Novas dependências da filial, terminadas em 1989, ao lado do prédio anterior.
[Foto na página 201]
Os cinco irmãos da Comissão de Filial, com as esposas, durante a visita zonal de Lloyd Barry. Da esquerda para a direita: William e Ruth Sallis, Raymond e Olga Walker, Aníbal e Cristina Izaguirre, Lloyd e Melba Barry, Werner e Ulla Zinke, Manuel e Ada Martínez.
[Mapa na página 148]
(Para o texto formatado, veja a publicação)
HONDURAS
Capital: Tegucigalpa
Língua oficial: espanhol
Principal religião: católica romana
População: 5.011.107
Filial: Tegucigalpa
MÉXICO
BELIZE
GUATEMALA
EL SALVADOR
NICARÁGUA
HONDURAS
Mar do Caribe
ISLAS DE LA BAHIA
Roatán
Puerto Cortés
Omoa
Tela
Baracoa
Trujillo
La Ceiba
Limón
Sangrelaya
Laguna de Brus
MOSQUITIA
San Pedro Sula
La Lima
Rio Ulúa
El Progresso
Santa Rita
OLANCHO
Santa Rosa de Copán
Siguatepeque
Tegucigalpa
Comayagua
Danlí
San Lorenzo
Choluteca
Guásimo
Oceano Pacífico
[Tabelas na página 207]
(Para o texto formatado, veja a publicação)
HONDURAS
Tabela da média de pioneiros
939
255
162
59
14
1950 1960 1970 1980 1992
Tabela do auge de publicadores
6.583
3.014
1.341
550
260
1950 1960 1970 1980 1992