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A pior epidemia da históriaDespertai! — 2005 | 22 de dezembro
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A ciência não pôde fazer nada
Por volta do início da Primeira Guerra Mundial, a ciência médica aparentemente tinha feito grandes avanços no combate a doenças. Mesmo durante a guerra, os médicos se orgulharam do sucesso na redução dos efeitos de doenças infecciosas. Na época, a revista The Ladies Home Journal declarou que os americanos não precisavam mais usar a sala como velório. A revista sugeriu que esses locais fossem usados mais pelos vivos do que pelos mortos. Mas então veio a gripe espanhola, e a medicina mostrou-se quase que totalmente impotente.
Crosby escreve: “Todos os médicos de 1918 compartilharam o maior fracasso da medicina no século 20, ou em todos os tempos, se avaliarmos o número de mortes.” Para não pôr toda a culpa na medicina, Barry observa: “Na época, os cientistas entendiam muito bem a dimensão da ameaça da gripe, sabiam curar pneumonias bacterianas secundárias e deram conselhos sobre saúde pública que salvariam dezenas de milhares de americanos. Mas os políticos ignoraram os conselhos.”
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O que sabemos hoje sobre a gripeDespertai! — 2005 | 22 de dezembro
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O que sabemos hoje sobre a gripe
EM 1997, um cientista e mais quatro ajudantes esquimós desenterraram o corpo duma jovem da camada de terra congelada no povoado de Brevig, na península Seward, Alasca. Ela estava lá desde 1918, quando caiu vítima da gripe.
Por que examiná-la depois de morta? O cientista esperava que o agente causador da gripe ainda estivesse em seus pulmões e que, por meio de técnicas genéticas avançadas, pudesse ser isolado e identificado. Por que esse conhecimento pode ser útil? Para responder, precisamos entender um pouco mais sobre como os vírus funcionam e o que os torna tão perigosos.
Um vírus capaz de matar
Atualmente sabemos que a gripe, ou influenza, é causada por um vírus que pode espalhar-se por meio de secreções respiratórias expelidas por tosse, espirro ou ao conversar.a O vírus está presente no mundo inteiro, até mesmo nos trópicos, onde pode manifestar-se em qualquer época do ano. No Hemisfério Norte, o período de maior ocorrência da gripe é de novembro a março; e no Hemisfério Sul, de abril a setembro.
O vírus influenza tipo A, o tipo mais perigoso, é pequeno em comparação com outros vírus. Geralmente é esférico, com algumas saliências na superfície. Quando o vírus infecta uma célula humana, se reproduz tão rápido que, em cerca de dez horas, entre 100 mil e 1 milhão de novas “cópias” do vírus rompem a célula e saem.
A característica assustadora desse organismo simples é sua alta velocidade de mutação. Como o vírus se reproduz muito rápido (muito mais rápido do que o HIV), suas “cópias” não são exatas. Algumas são diferentes a ponto de não serem detectadas pelo sistema imunológico. É por isso que enfrentamos diferentes vírus gripais todo ano, cada um com um novo conjunto de antígenos que desafiam nossa imunidade. Se os antígenos mudarem o suficiente, nosso sistema imunológico terá poucas defesas contra o vírus e há o risco duma pandemia.
Além disso, os vírus da gripe também infectam animais, e é aí que está o problema para os humanos. Acredita-se que o porco possa ser hospedeiro de vírus que infectam galinhas e patos, mas também, de vírus que infectam os humanos.
Assim, se um porco ficar infectado com os dois tipos de vírus ao mesmo tempo, um que infecta animais e outro que infecta humanos, os genes dos dois vírus podem se misturar, resultando numa cepa, ou variação, totalmente nova de influenza, à qual os humanos não têm imunidade. Alguns acham que comunidades rurais onde aves, suínos e pessoas vivem em proximidade — como é bem comum na Ásia, por exemplo — são prováveis fontes de novas cepas de vírus da gripe.
Por que se tornou tão mortal?
A dúvida é o que poderia ter tornado o vírus de 1918-19 um causador de pneumonia mortal em pessoas jovens. Apesar de não ter restado nenhum vírus daquela época vivo, já há muito tempo os cientistas achavam que, se encontrassem um espécime congelado do vírus, poderiam isolar seu RNA intacto e descobrir o que o tornou tão mortal. Eles realmente tiveram sucesso até certo ponto.
Graças ao espécime congelado obtido no Alasca, descrito no início deste artigo, uma equipe de cientistas conseguiu identificar e seqüenciar a maior parte dos genes do vírus de 1918-19. No entanto, os cientistas ainda não descobriram o que fez com que ele fosse tão mortal. Aparentemente, aquela cepa tinha parentesco com um vírus que infecta porcos e aves.
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