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  • Polônia
  • Anuário das Testemunhas de Jeová de 1994
  • Subtítulos
  • Como a Bíblia chegou à Polônia
  • A luz da verdade atinge emigrantes
  • Sementes da verdade começam a brotar
  • Novo estímulo
  • Prósperas congregações polonesas nos Estados Unidos
  • Falsos irmãos procuravam subverter a fé
  • Caluniou ele o papa?
  • Teólogos tentam desacreditar Estudantes da Bíblia
  • Uma lojista transmite a verdade a um professor
  • Denodado testemunho público dado em Lodz
  • Reuniões públicas resultam em aumento em Poznan
  • O ano 1925 — época de divisão
  • A obra consegue maior estabilidade
  • Tempo de peneiração
  • Ataques e contra-ataques
  • Bênçãos pela organização correta
  • A luta se intensifica
  • Tentativas de impedir o fluxo de publicações
  • Irrompe a guerra!
  • Jeová não abandonou seu povo
  • No Governo Geral
  • Um “novo plano” no setor soviético
  • Última prova antes da era do após-guerra
  • Progresso da obra do Senhor
  • Sua fome espiritual é saciada
  • Novos campos de atividade
  • Provisões que promoveram o aumento
  • Nossos primeiros Salões do Reino
  • Congressos: oficiais e não oficiais
  • Chegam missionários treinados em Gileade
  • Batida policial no escritório em Lodz
  • ‘O mundo não era digno delas’
  • Sangrento setembro ‘medieval’
  • Hostilização oficial
  • Expulsos os missionários
  • Nem pensar em ceder ao medo
  • Câmaras de tortura do UB
  • Fiéis até a morte
  • Julgamento atrás de portas cerradas
  • O que viria a seguir?
  • Jovens demonstram fé e coragem
  • Prisões: campos para a evangelização
  • Abrem-se as portas das prisões
  • Maior atividade em face de obstáculos legais
  • Progresso em suprir alimento espiritual
  • Poderia a organização ser enfraquecida por dentro?
  • Coordenada uma ação jurídica
  • Mais “armas” — sem êxito duradouro
  • Congressos em florestas
  • Visitas de membros do Corpo Governante
  • Usufruindo a hospitalidade austríaca
  • Uma década de congressos históricos no próprio país
  • Firme apego à ordem teocrática
  • Alimento espiritual em abundância
  • Reaparecem os Salões do Reino
  • Por fim o reconhecimento legal!
  • Em escala maior do que nunca antes
  • Uma sede da Sociedade na Polônia
  • Decididos a continuar perseverando
Anuário das Testemunhas de Jeová de 1994
yb94 pp. 170-252

Polônia

UM PAÍS de planícies bem regadas e de cidades em rápido crescimento. Um país flanqueado pela Comunidade de Estados Independentes no leste, pela Eslováquia e pela República Tcheca no sul, pela Alemanha no oeste e pelo mar Báltico no noroeste. O lar de mais de 38 milhões de pessoas. Esta é a Polônia.

Mas, aos amantes da música, a Polônia faz lembrar outras coisas. É associada a compositores tais como Frederico Chopin, e também com pianistas tais como Inácio João Paderewski e Artur Rubinstein. Para os cientistas, a Polônia é o lugar de nascimento de Nicolau Copérnico, que desenvolveu a teoria de que a Terra gira em torno do Sol e que, ao mesmo tempo, ela gira em torno do seu eixo uma vez por dia. Madame Curie (Maria Skłodowska-Curie), a descobridora do rádio, também nasceu na Polônia, em Varsóvia.

Por outro lado, parte da história da Polônia tem sido de sofrimento. Embora antigamente fosse um império que se estendia pela Europa, desde o Báltico para baixo em direção ao mar Negro, durante cem anos ela virtualmente desapareceu do mapa. Depois duma breve existência como república, após a Primeira Guerra Mundial, foi novamente desmembrada e passou a estar sob domínio estrangeiro durante a Segunda Guerra Mundial. Os poloneses mal acabavam de retirar os escombros desta guerra quando a Polônia, assim como outros países do centro e do leste da Europa, foi cortada do resto do mundo por uma “Cortina de Ferro”. No entanto, nos últimos anos, esta barreira desmoronou.

Em 1985, as Testemunhas de Jeová em todo o globo começaram a ouvir relatos sobre grandes congressos internacionais de seus irmãos cristãos na Polônia. Alegraram-se mais tarde com a notícia de que as Testemunhas na Polônia tinham ultrapassado 100.000 e que duas vezes mais pessoas estiveram na comemoração da Refeição Noturna do Senhor. Mas, como era isso possível? Afinal, desde 1950, quando havia apenas 18.116 Testemunhas na Polônia, sua atividade estivera proibida ali.

Em resposta a esta pergunta, lembremo-nos das seguintes palavras registradas pelo profeta Isaías: “Nenhuma arma que se forjar contra ti será bem sucedida . . . Esta é a propriedade hereditária dos servos de Jeová.” — Isa. 54:17.

Como a Bíblia chegou à Polônia

A Polônia tem sido considerada um país “cristão” desde 966 EC, quando o Príncipe Mieszko foi batizado segundo os ritos da Igreja Católica Romana. Houve também batismos em massa dos seus súditos — o que naturalmente não significa que eles se tornaram de repente bons cristãos. Na realidade, as pessoas continuaram a observar por centenas de anos tradições e superstições eslavas, pagãs. Há os que ainda o fazem.

Por séculos depois de o país se tornar católico, a Bíblia não estava acessível ao povo polonês, nem mesmo ao clero. O Psałterz floriański (Saltério de Floriano) do século 14 e a Biblia królowej Zofii (Bíblia da Rainha Sofia) do fim do século 15 são as traduções polonesas mais antigas preservadas. Mas produziu-se apenas um único manuscrito de cada uma dessas Bíblias, e apenas poucos escolhidos tinham acesso a eles. No século 16, porém, em muitos países da Europa, inclusive na Polônia, os conceitos religiosos sofreram drásticas mudanças. Desafiou-se o dogma católico. As Escrituras Sagradas eram encaradas cada vez mais como o único critério a prevalecer. Em resultado disso, com mais freqüência, tradutores tornaram a Bíblia disponível nas línguas vernáculas, para que pudesse ser lida pelo público.

Um “Novo Testamento” em polonês, publicado em 1574, usava o nome do Criador, Jehowa (Jeová), em diversas passagens. Foi publicado por Szymon Budny, que pertencia a um pequeno grupo de pessoas desejosas de seguir a Palavra de Deus e que se chamavam simplesmente de cristãos ou de irmãos. Mais tarde, adotaram o nome de Irmãos Poloneses. Em resultado do que aprenderam, rejeitaram o dogma da Trindade.

No entanto, em 1658, o Sejm, ou parlamento, polonês decretou que se desse aos Irmãos Poloneses, sob pena de morte, um prazo de três anos — tirando-se mais tarde um ano deste prazo — para se tornarem católicos ou então deixarem o país. Qual foi o motivo disso?

O país havia passado por uma notável mudança. Durante anos, a Polônia fora conhecida como país de tolerância religiosa. As vítimas da perseguição religiosa em outras terras procuravam refúgio na Polônia. O juramento a que os reis poloneses estavam sujeitos a partir de 1573 incluía garantias tais como esta: “Prometo e juro solenemente pelo Deus Todo-Poderoso que . . . preservarei e manterei a paz e o sossego entre os que diferem com respeito à religião, e de modo algum . . . permitirei que alguém seja influenciado ou oprimido por causa da sua religião.” Na realidade, João II Casimiro Vasa (Jan II Kazimierz Waza), em cujo reinado os Irmãos Poloneses foram banidos, tinha feito este juramento. Mas, não pode haver dúvida de que seu treinamento para o sacerdócio jesuíta, antes de se tornar rei, influenciou sua atitude para com a liberdade religiosa.

Os jesuítas tinham começado a agir na Polônia em 1564, uns 84 anos antes de João Casimiro subir ao trono. Astutamente, concentravam-se na corte real para exercer sua influência. Ao mesmo tempo, procuravam conseguir o controle das escolas e assim amoldar o pensamento da população. A garantia da liberdade religiosa foi aos poucos desgastada. Os que foram treinados em escolas controladas pelos jesuítas ficaram embuídos do espírito de intolerância religiosa, manifestado em ataques violentos aos que aderiam a outras crenças, às suas casas e aos seus lugares de adoração. A Bíblia passou a ser encarada como livro proibido. Durante este período, a Polônia perdeu grande parte do seu território. As nações circunvizinhas tomaram uma parte após outra do país, até que em 1795 a Polônia desapareceu do mapa da Europa como nação independente.

No entanto, a liberdade religiosa foi novamente restabelecida por lei na Polônia. A lei não mais proíbe aos católicos romanos mudar de religião, assim como fazia sob a Constituição polonesa de 1791. A partir de 1993, a Constituição declara: “A República da Polônia garantirá aos seus cidadãos a liberdade de consciência e de religião.” Agora, mais poloneses aproveitam-se desta liberdade e recorrem à Bíblia em busca de orientação. A Igreja Católica Romana foi obrigada a abandonar a política de manter a Palavra escrita de Deus longe do povo. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, publicaram-se diversas boas traduções da Bíblia em polonês, e as Testemunhas de Jeová fazem bom uso delas. Quando as Testemunhas falam aos outros sobre as boas novas do Reino de Deus, muitos, iguais àqueles de mentalidade nobre mencionados em Atos 17:11, estão ansiosos de examinar ‘se estas coisas são assim’.

A luz da verdade atinge emigrantes

Ao passo que a Polônia caía sob o domínio de outros países, as condições às vezes se tornavam muito difíceis para o povo. Muitos poloneses, voluntária ou involuntariamente, emigraram — alguns para os Estados Unidos. A religião dos seus pais, aquela que lhes fora inculcada em casa e na igreja, era o catolicismo romano. Um considerável número deles procurou manter a identidade nacional por praticarem esta crença. Daí a noção comum de que “ser polaco é ser católico”.

No entanto, por terem deixado para trás seu ambiente tradicional, alguns começaram a mudar seu modo de pensar. Por exemplo, numa carta dirigida à Sociedade Torre de Vigia (dos EUA) em 1891, Antoszewski (que então morava em Chicago, EUA) explicou que, embora tivesse sido criado por pais católicos no setor russo da Polônia dividida, estava procurando a verdade. Quando obteve algumas das publicações da Torre de Vigia, ficou convencido de que encontrara o que estivera procurando. Quase toda noite, traduzia as informações dos livros para outro homem da Polônia, também faminto da verdade espiritual. Conforme Jesus aconselhara, não ‘esconderam esta luz espiritual debaixo dum cesto’. Começaram juntos a visitar outras famílias polonesas para transmitir-lhes as boas novas. — Mat. 5:3, 14-16.

Entre os imigrantes poloneses havia alguns que não somente aceitaram prontamente as preciosas verdades da Bíblia, mas que também as transmitiram à família e aos amigos na Mãe-Pátria. Alguns deles retornaram à sua terra natal para divulgar as novas da presença de Cristo. Sob o título “Progresso da Obra no Estrangeiro”, a Torre de Vigia de Sião de 15 de junho de 1895, em inglês, relatou: “O irmão Oleszynski, polonês de coração bom e honesto, que aceitou a verdade há uns três anos, voltou à sua terra natal à procura de consagrados, a fim de pregar-lhes o grandioso evangelho do resgate, da restituição e da chamada para cima.”

No começo, tiveram de usar as publicações disponíveis em inglês e alemão. Mas o trabalho de transmitir a verdade bíblica aos patrícios teve muita ajuda, em 1909, quando a Sociedade Torre de Vigia publicou tratados em polonês para distribuição gratuita. Uma edição condensada, em polonês, dos Estudos das Escrituras também foi publicada naquele ano. E desde 1915 A Sentinela em polonês passou a ser impressa regularmente, todo mês.

Sementes da verdade começam a brotar

No outono de 1905, a gerência duma fábrica de rendas foi assumida por um novo diretor procedente da Suíça, um Estudante da Bíblia de nome Sr. Bente. Apesar de ter de comunicar-se com os seus empregados por meio dum intérprete, granjeou a confiança deles, e sua casa tornou-se um lugar de reunião para aqueles que queriam aprender algo sobre a genuína fraternidade cristã. Em pouco tempo, eles passaram a realizar palestras regulares, considerando acontecimentos da época à luz da Palavra de Deus e com a ajuda de publicações bíblicas.

Este foi um período de protestos e de agitação na Rússia. Isso afetou também o território polonês sob controle russo. Ainda assim, um edito do czar russo, em 1906, concedia a todas as denominações religiosas o direito de se empenhar em atividade religiosa, pacífica.

No entanto, a luz da verdade bíblica quase não conseguiu penetrar na escuridão e passou na maior parte despercebida, exceto por parentes chegados e conhecidos daqueles que já estavam interessados na Bíblia. Não obstante, a luz espalhou-se além de Varsóvia, e formaram-se pequenos grupos em outras cidades. Estes foram visitados diversas vezes pelo irmão H. Herkendell, do escritório da Sociedade em Barmen-Elberfeld, na Alemanha, que supria os grupos com publicações.

Novo estímulo

Em maio de 1910, Charles Taze Russell, primeiro presidente da Sociedade Torre de Vigia (dos EUA), fez uma breve visita a Varsóvia. Quanta alegria isso deu ao grupo de cerca de 20 pessoas que vieram ouvi-lo! Três delas ficaram tão entusiasmadas, que se candidataram ao serviço de colportor, como se chamava então o serviço de pioneiro. Conseguiram colocar muitas publicações e encontraram pessoas interessadas em aprender sobre o iminente fim dos “tempos dos gentios”. (Luc. 21:24, Almeida) Em 1913 alguns destes interessados na Palavra de Deus formaram um grupo em Lodz, bem como em outros lugares.

No entanto, em Varsóvia começaram a surgir problemas relacionados com reuniões públicas. A polícia russa estava ficando com suspeita de tudo o que parecia ser a preparação para um levante. Mas um oficial militar, que pouco antes se interessara na verdade, interveio a favor dos Estudantes da Bíblia, de modo que se emitiu um edito concedendo-lhes reconhecimento legal. Quando a Polônia recuperou a sua independência, após a Primeira Guerra Mundial, aquele edito emitido em 1913 pelo general militar, que era governador de Varsóvia, forneceu a base legal para as atividades dos irmãos.

Por algum tempo, os Estudantes da Bíblia puderam agir normalmente. Alguns veteranos lutadores pela verdade ainda se lembram de ter ouvido seus pais falar sobre irmãos ativos na Congregação Varsóvia antes de 1914. Entre eles estavam os irmãos Kącki, Kokosiński, Barcikowski, Rudaś e Kremer. O irmão Dojczman e a irmã Maron estavam ativos em outras regiões.

Em 1914, quando irrompeu a guerra, as condições difíceis de vida — especialmente nas cidades — fizeram com que famílias dos grupos em Varsóvia e em Lodz se espalhassem. Não obstante, a atividade dos Estudantes da Bíblia não parou. Um pequeno grupo ainda realizava reuniões num apartamento em Varsóvia. Com o tempo, este grupo encontrou mais pessoas que buscavam a explicação bíblica para os acontecimentos mundiais. Por exemplo, Bolesław Uchman foi batizado em 1916, e depois serviu de esteio na Congregação Varsóvia por mais de meio século. Por volta de 1918, 50 pessoas assistiam aos discursos públicos. Quando a guerra acabou e irmãos polaco-americanos vieram prestar ajuda, a obra ganhou ímpeto.

Prósperas congregações polonesas nos Estados Unidos

Dentre todos os grupos de Estudantes da Bíblia de línguas estrangeiras nos Estados Unidos naquela época, os de origem polonesa estavam entre os maiores e mais ativos.

Embora os Estudantes da Bíblia nos Estados Unidos sofressem severa perseguição, especialmente durante 1918-19, o grupo polonês mostrou iniciativa em servir a Jeová de modo organizado. No começo de 1919, constituíram uma pessoa jurídica especialmente para cuidar das necessidades das congregações de língua polonesa. Registraram-na em Detroit, Michigan. Seu nome polonês, Strażnica — Towarzystwo Biblijne i Broszur, significa “Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Brochuras”. Não se destinava a competir com a sociedade original, a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (dos EUA). O escritório em Detroit era simplesmente encarado como filial polonesa da Sociedade. Seu fim era suprir as congregações com alimento espiritual proveniente da organização e incentivar à fidelidade durante uma época difícil, bem como ajudar a divulgar a verdade bíblica na Polônia.

Já em 1920, esta sociedade providenciou que dez representantes viajantes, chamados de peregrinos, visitassem as congregações polonesas. O total de 211.692 pessoas assistiu às 622 conferências públicas proferidas. Havia 36 colportores poloneses. A Sentinela em polonês era publicada regularmente duas vezes por mês. As congregações puderam renovar seus estoques de folhetos bem como de volumes dos Estudos das Escrituras em polonês. Em 1921 foi publicado um novo cancioneiro, Hinos da Aurora do Milênio. A tradução do folheto Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão foi recebida com entusiasmo, e dentro de um ano distribuíram-se 45.545 exemplares. Além disso, publicou-se um sétimo volume dos Estudos, bem como algum tempo depois o livro A Harpa de Deus.

Os irmãos poloneses não tinham nenhum desejo de ficar independentes dos seus irmãos de língua inglesa. Assim, em janeiro de 1921, os diretores da sociedade de Detroit escolheram como seu presidente J. F. Rutherford, que então era presidente da sociedade original. Mais tarde, em julho, durante a assembléia geral da sociedade, tomou-se a decisão de incorporá-la à associação de Pensilvânia da Sociedade. A partir de então, tornou-se ainda mais evidente que o escritório de Detroit servia como filial legal da Sociedade Torre de Vigia (dos EUA). Em maio de 1922, esta filial mudou-se para Brooklyn, que desde outubro de 1919 era novamente o centro de atividade da Sociedade. Depois disso, A Sentinela em polonês, bem como livros e folhetos eram publicados em Brooklyn.

Por causa do zelo demonstrado pelos irmãos poloneses, e por seu respeito pela organização que Jeová usava, Ele abençoou os seus esforços. Por exemplo, a Comemoração da morte de Cristo em 1921 foi celebrada em polonês em 65 lugares nos Estados Unidos, com uma assistência total de 2.942 pessoas. Um ano depois, 73 congregações e grupos poloneses relataram celebrações da Comemoração. E em 1923, a Congregação Polonesa de Chicago teve 675 pessoas presentes, o quarto maior número no mundo; somente em Nova York (906), em Londres (1.029) e em Los Angeles (850) houve uma assistência maior, em qualquer língua.

O efeito disso também foi sentido na Polônia. Em números maiores do que jamais antes, os irmãos poloneses começaram a visitar a família na Mãe-Pátria, explicando-lhes as verdades bíblicas e às vezes até ficando ali para formar congregações. Isto se tornou mais fácil em 1921, quando a Polônia adotou uma constituição democrática. Embora a Igreja Católica Romana recebesse uma posição privilegiada, garantia-se a todos a liberdade de consciência e de religião.

Enviavam-se à Polônia cada vez mais publicações da Torre de Vigia. Para facilitar a obra ali, fizeram-se em 1919 anúncios de planos para estabelecer uma filial em Varsóvia. Este escritório começou a funcionar em 1921.

Falsos irmãos procuravam subverter a fé

Durante a Primeira Guerra Mundial, os irmãos no setor polonês da Rússia tiveram seu contato cortado com o mundo exterior. Por exemplo, foi só em 1919, mais de dois anos depois de acontecido, que a Congregação Varsóvia soube do falecimento do irmão Russell — e mesmo assim apenas através de fontes particulares. Ouviram-se também rumores perturbadores sobre divisões entre os irmãos na América, e esses causaram dificuldades, especialmente quando o representante dum grupo opositor viajou dos Estados Unidos a Varsóvia para influenciar o grupo ali. Por atraírem a si a maioria dos irmãos, os opositores conseguiram o controle da sociedade jurídica então usada pelos irmãos na Polônia. Entre outras coisas, isto resultou na perda do local de reunião da Congregação Varsóvia.

Felizmente, porém, irmãos poloneses leais, na América, também providenciaram o envio duma delegação à Polônia. Esta era formada de W. Kołomyjski, um peregrino, ou orador viajante, presidente da associação de Michigan da Sociedade, e de C. Kasprzykowski. Chegando à Polônia em 1920, foram recebidos com alegria pelos irmãos em Varsóvia.

Por terem perdido seu local costumeiro de reunião, os irmãos remanescentes alugavam cinemas para estudos de congregação e conferências públicas. Os discursos públicos dominicais eram anunciados em jornais e por distribuição de convites nas ruas. Apesar dos problemas que os irmãos tinham enfrentado, havia boas perspectivas de progresso.

Naquele mesmo ano, Satanás aplicou outro golpe. Irrompeu guerra entre a Rússia soviética e a Polônia, causando uma inflação em escala nunca antes vista. Isto estorvava muito a obra. Também, nesta mesma época crítica, o irmão Kołomyjski contraiu tifo. Depois de se restabelecer, ele retornou aos Estados Unidos, onde continuou a servir como peregrino.

A pedido dos irmãos de Varsóvia, a Sociedade manteve o irmão Kasprzykowski na Polônia como seu representante. Ele mostrou ter muita iniciativa, conseguindo, por exemplo, o registro da Associação dos Estudantes da Bíblia Grupo II. Este Grupo II era formado por irmãos leais à Sociedade; substituiu a sociedade anterior, que estava nas mãos de opositores. Tendo novamente reconhecimento oficial, os Estudantes da Bíblia podiam organizar conferências públicas em escala maior. Durante 1921, às vezes até 700 pessoas assistiam a essas conferências. Os irmãos acharam também um prédio para usar como novo salão, e depois de reformá-lo, este acomodava mais de 400 pessoas.

No primeiro congresso geral (30 de outubro a 2 de novembro de 1921) houve 500 presentes, de diversas partes da Polônia, e 14 foram batizados. No ano seguinte, a assistência à Comemoração, em 32 lugares no país, atingiu o número de 657! Naquele mesmo ano, realizaram-se diversos congressos, nos quais 108 pessoas se apresentaram para a imersão em água. A obra avançava num bom passo.

Caluniou ele o papa?

Jan Kusina retornou em 1920 dos Estados Unidos para Cracóvia, uma cidade grande no território que anteriormente era da Áustria-Hungria. Embora fosse novo na verdade, conseguiu rapidamente despertar o interesse dum grupo pequeno de pessoas sinceras. Mas ele foi preso e acusado de caluniar o papa. Na realidade, porém, tudo o que tinha feito era transmitir a outros as verdades bíblicas. No tribunal, ele se estribou na Bíblia para se defender. O juiz, homem imparcial, absolveu-o.

Por volta da mesma época, Józef Krett, um irmão peregrino dos Estados Unidos que visitou Varsóvia e Cracóvia, relatou que se mandara os escolares emendar a oração no seu catecismo, para dizerem: “Livra-nos, ó Senhor, da morte repentina, da fome, do fogo, da guerra e da pestilência da heresia americana.”

Teólogos tentam desacreditar Estudantes da Bíblia

Outro repatriado, o irmão Winiarz, homem rico, mas abnegado, comprou uma casa em Cracóvia para ser usada como local de reunião. Em 1922, esta casa serviu de palco para um debate entre três irmãos e três teólogos católicos.

No ano anterior, Franciszek Puchała tinha voltado da América e publicado pessoalmente um panfleto com uma lista de 13 doutrinas da Igreja. Ele ofereceu a qualquer pessoa 10.000 marcos poloneses para cada doutrina que ela pudesse provar que se baseava nas Escrituras Sagradas. Estas incluíam a imortalidade da alma humana, o inferno de fogo, o purgatório, o ofício da missa, o celibato do clero, a confissão aos sacerdotes, o uso do rosário, e assim por diante. “Era como cutucar um formigueiro”, escreveu mais tarde o irmão Puchała.

Os clérigos, através de jornais católicos, exigiam o repúdio público do panfleto. Do contrário, declararam, processariam Franciszek Puchała por caluniar a Igreja. Não se deixando intimidar, ele convocou um debate público.

Depois de consultarem a Cúria Romana, os clérigos concordaram com o debate, mas apenas a portas fechadas, ‘por causa da natureza sagrada das coisas envolvidas’, conforme disseram. O irmão Puchała concordou. Os clérigos tinham tanta certeza de que iriam vencer, que providenciaram a presença dum advogado que moveria um processo contra os irmãos assim que estes fossem derrotados. O jornal da Igreja declarou arrogantemente: “Veremos quem tem razão — a centenária Igreja Católica Romana ou este lastimável punhado de criaturas desencaminhadas, que são incapazes até mesmo de ler corretamente as Escrituras Sagradas.”

O bem-conhecido teólogo jesuíta Jan Rostworowski chefiou a delegação católica, acompanhado por mais dois sacerdotes. Os Estudantes da Bíblia foram representados por Franciszek Puchała e mais dois irmãos. Havia também presentes estenógrafas e diversas pessoas para servirem de testemunhas. Os jesuítas vieram equipados com duas grandes malas cheias de livros. Os irmãos só tinham suas Bíblias, e dicionários gregos e hebraicos.

Os clérigos pediram que o ponto 13 no panfleto (a imortalidade da alma) fosse considerado primeiro. Depois de mais ou menos duas horas, os teólogos pediram licença, dizendo que não tinham mais tempo, e se foram. Embora nunca admitissem publicamente a derrota, confessaram num artigo de jornal: “Temos de admitir que os Estudantes da Bíblia . . . não são totalmente ignorantes.”

O debate inteiro foi publicado num folheto intitulado Bitwa na niebie (Batalha nos céus), que teve uma tiragem inicial de 10.000 exemplares e foi reimpresso diversas vezes. A comunidade tradicionalmente religiosa de Cracóvia, junto com as regiões ao redor, se viu de repente obrigada a prestar atenção. Com que resultado? Em 1923, havia 69 pessoas presentes na celebração da Comemoração em Cracóvia.

Naturalmente, os clérigos nunca perdoaram ao irmão Puchała por ter publicamente minado a autoridade da Igreja Católica Romana. Tentaram todo o possível para dificultar-lhe a vida. Enviou-se um policial para tomar nota nas reuniões no lar do irmão, e ele foi depois diversas vezes levado ao tribunal. Mais de uma vez assassinos contratados ameaçaram-lhe a vida, mas Jeová o protegeu.

Durante um sermão na aldeia de Wawrzeńczyce, um sacerdote incitou as pessoas a atacarem o irmão Puchała com paus quando este chegasse para proferir um discurso. Um grupo de mulheres super-fervorosas estava ansioso para fazer o que o sacerdote queria. Ficaram à espera do irmão Puchała desde cedo pela manhã até o fim da tarde. Quando ele chegou, dirigiu-se calmamente a elas, dizendo: “Aquela das senhoras que não tiver pecado deve ser a primeira a bater em mim com o pau.” Por fim, as mulheres se retiraram. Ao voltarem para casa, porém, foram espancadas pelos maridos com os mesmos paus que haviam levado para usar no irmão Puchała. Por quê? Porque os maridos ficaram impacientes por terem de esperar tanto pelo jantar!

Uma lojista transmite a verdade a um professor

Em 1919, a dona duma grande loja de sapatos no centro têxtil de Lodz foi a Gdansk para tratamento médico. Esta comerciante, a Sra. Mandowa, ouviu ali pela primeira vez a verdade das Escrituras Sagradas. Ela a aceitou num coração sincero. Voltou para casa com uma pilha de publicações da Sociedade e entusiasticamente falou a amigos e conhecidos sobre o que leu. Seus argumentos impressionaram profundamente um jovem professor, que foi exortado por um amigo a assistir às reuniões junto com ela.

Em 1920, este professor, Wilhelm Scheider, providenciou sua transferência da zona rural para Lodz, a fim de ter contato mais estreito com o pequeno grupo de interessados ali. A Sra. Mandowa tornou-se mais tarde Estudante da Bíblia, e o grupo que se reunia com ela foi apoiado por irmãos que ocasionalmente vinham de trem desde Gdansk, 390 quilômetros distante. O estudo das publicações da Sociedade junto com a Bíblia convenceu também o Sr. Scheider de que encontrara a verdade. Apesar de provações e tribulações, ele fez a sua vida girar em torno dela até o fim da sua carreira terrestre em 1971.

Denodado testemunho público dado em Lodz

No começo, a atividade do grupo de Lodz estava bastante limitada no que se refere ao testemunho dado em público. Mas depois que a irmã Mandowa faleceu, em 1922, os problemas que houve com o seu funeral marcaram um ponto decisivo. Os clérigos negaram-se a dar permissão para o sepultamento no cemitério. Isto deu margem a uma onda de comentários e críticas nos órgãos noticiosos. Depois de três dias de luta sobre o assunto, no qual até mesmo a polícia teve de intervir, conseguiu-se uma sepultura num pequeno cemitério muçulmano. Cerca de mil pessoas assistiram ao funeral, desejosas de saber o que os Estudantes da Bíblia realmente criam. O discurso bíblico, proferido por um irmão de Gdansk, foi o primeiro testemunho público dado em Lodz.

Daí para a frente, programavam-se com mais freqüência discursos públicos, que eram anunciados nos jornais. Para estas reuniões alugavam-se cinemas. No começo, estes eram suficientemente grandes, mas logo até mesmo o maior cinema daquela cidade de 500.000 habitantes era pequeno demais. No ínterim, grupos pequenos se reuniam em lares particulares para estudar a Bíblia e publicações bíblicas. Visto que muitas pessoas em Lodz eram de origem alemã e judia, os discursos públicos e as reuniões menores eram realizados tanto em polonês como em alemão.

Centenas, se não milhares dos que assistiam a esses discursos públicos em Lodz, eram, como o expressou o discípulo Tiago, “apenas ouvintes”, não “cumpridores da palavra”. (Tia. 1:22) Não obstante, a assistência na Comemoração havia aumentado de 25 pessoas em 1922 para 92 em 1924. E em 1924, depois de reformar uma fábrica em desuso, no centro da cidade, os irmãos em Lodz tinham um belo salão para seu primeiro congresso. Nesta ocasião havia cerca de 200 pessoas presentes.

Naquela época, os irmãos se concentravam no serviço novo de convidar as pessoas ao “Fotodrama da Criação”, um filme que começara a ser exibido na Polônia no começo dos anos 20. O programa inteiro consistia em quatro apresentações de duas horas. As multidões que queriam vê-lo eram tão grandes que, apesar de se terem contratado os maiores salões, os irmãos tiveram de repetir a projeção muitas vezes.

Reuniões públicas resultam em aumento em Poznan

Em 1910, Teofil Szmidt, à idade de 18 anos, deixou sua casa perto de Radomsko e se mudou para a Alemanha, a fim de encontrar trabalho. Ali, em 1914, soube dos Estudantes da Bíblia e foi ver o “Fotodrama da Criação”. Obteve informações satisfatórias sobre dois assuntos que o haviam preocupado por muito tempo: a volta de Cristo e o fim do mundo.

Mais tarde, depois de voltar à parte da Polônia então controlada pela Prússia, ele contatou em Poznan um grupo que lia os livros escritos por C. T. Russell. Embora ainda não fosse batizado, tomou a dianteira nas sessões de estudo ali e continuou a fazer progresso. Em 1918, durante a visita do irmão Kujat, de Berlim, Teofil Szmidt foi batizado e tornou-se também um servo na primeira congregação em Poznan. Nos próximos anos, foi zeloso em organizar reuniões públicas. Quando partiu de Poznan em 1922, a congregação tinha aumentado para uns 20 membros regulares.

Depois, o irmão Kącki mudou-se de Varsóvia para Poznan, a fim de cuidar da congregação ali. Ele tinha aprendido a verdade antes de 1914, época em que, como talentoso escultor, estava para ir a Paris a fim de receber instrução universitária. Em vez disso, dedicou-se ao serviço de Jeová. Zelosamente, alugava salões em Poznan às próprias custas e proferia animadores discursos bíblicos. Em resultado disso, a assistência à Comemoração em Poznan, em 1924, aumentou para 91 pessoas. Naquele mesmo ano, houve 281 presentes em Varsóvia, bem como 625 que assistiram em mais 13 cidades grandes e pequenas da Polônia, se contarmos apenas os grupos em que pelo menos 20 estiveram presentes. O aumento futuro parecia assegurado. Mas havia sérias provações de fé à frente.

O ano 1925 — época de divisão

Embora o irmão Kasprzykowski tivesse prestado um valioso serviço aos irmãos depois da Primeira Guerra Mundial, mais tarde, o orgulho tornou-se para ele uma pedra de tropeço. Ressentir-se ele de conselhos foi o primeiro indício deste orgulho; depois, opôs-se francamente aos irmãos. Quando A Sentinela começou a enfatizar sempre mais especificamente a responsabilidade de cada um participar na pregação das boas novas, ele encontrou ouvidos atentos entre os que estavam dispostos a nada mais do que a escutar.

Durante algum tempo, a Congregação Varsóvia continuou a simular estar unida por se reunir, mas os irmãos estavam muito divididos. A situação atingiu o clímax por ocasião da Comemoração em 1925. Dos cerca de 300 irmãos, apenas 30 continuaram leais à Sociedade.

Em pouco tempo, outras congregações foram enlaçadas. Das 150 pessoas em Lodz, somente 3 irmãos e 6 irmãs continuavam lealmente a reunir-se para o estudo da Palavra de Deus com a ajuda das publicações da Torre de Vigia. Participavam também no serviço de campo, fazendo bom uso da revista A Idade de Ouro (agora Despertai!), que começou a ser publicada em polonês em 1925.

Muitos indecisos ou confusos, vendo a espiritualidade e o zelo deste pequeno grupo em Lodz, retornaram à organização. Naquele verão, a congregação em Lodz tomou a dianteira em seguir as instruções da Sociedade no sentido de grupos “missionários” darem testemunho em territórios distantes. Alguns dos lugares onde se providenciaram conferências públicas distavam até 150 quilômetros.

No entanto, os problemas não tinham acabado. Em todo o país, havia alguns cuja motivação para servir a Deus fora muito influenciada pela crença de que receberiam a sua recompensa celestial o mais tardar em 1925. Muitos destes ficaram espiritualmente fracos ou se afastaram depois de passar este ano. Durante aquele período, diversos grupos opositores procuravam ativamente controlar as congregações, ou pelo menos enfraquecê-las. Três destes grupos opositores existem até hoje. No entanto, com o passar dos anos, tornou-se óbvio quem tinha a bênção de Deus e estava ‘pregando as boas novas do Reino de Deus’, conforme especificado nas Escrituras. — Mat. 24:14.

Depois dessas crises, a obra feita sob a direção do “escravo fiel e discreto” quase teve de começar de novo. Existiam ainda outros obstáculos; mas havia também resultados positivos. — Mat. 24:45-47.

A obra consegue maior estabilidade

A situação em Varsóvia não prometia normalizar-se prontamente. O irmão Wnorowski foi enviado à Polônia, mas depois de mais ou menos um ano, cansou-se da situação e voltou à América. Então se encarregou o irmão Szwed do escritório em Varsóvia; mas depois de um ano foi substituído por Wacław Narodowicz, o qual, embora fosse excelente orador, não gostava de trabalhar em escritório, e depois de um ano preferiu voltar ao campo.

Durante este período difícil, os irmãos leais à Sociedade não dispunham dum órgão jurídico mediante o qual pudessem programar conferências públicas, e muito menos ainda assembléias. A sociedade original estava nas mãos de opositores, e então até mesmo a Associação dos Estudantes da Bíblia Grupo II estava sob o controle de apóstatas, de Kasprzykowski e seus seguidores. As autoridades negaram-se a considerar a idéia de haver um terceiro grupo, de modo que a situação estava num impasse.

Mas Jeová atendeu as orações dos seus servos leais e providenciou uma solução. Um homem modesto de nome Całka, que aprendera a verdade antes da Primeira Guerra Mundial, tinha sido registrado em Varsóvia como membro da sociedade original de Estudantes da Bíblia. Em certa época, ele tropeçou espiritualmente, mas neste momento crítico ele tomou a iniciativa para renovar sua associação com a congregação. Consentiu também em transferir a sua procuração para Wilhelm Scheider. Isto foi de grande ajuda para os irmãos “em defender e estabelecer legalmente as boas novas”. — Fil. 1:7.

Em 1927, a Sociedade enviou à Polônia um irmão cordial e capaz, que havia visitado congregações nos Estados Unidos e na França como peregrino. Este irmão, Ludwik Kuźma, incentivou muitos a uma atividade zelosa. Mas, quando retornou à América, deu-se conta de que era necessário um contato mais estreito com a sede da Sociedade. Por conseguinte, o irmão Rutherford decidiu fazer certos ajustes organizacionais.

Visto que o irmão Narodowicz deixara o escritório em Varsóvia, mandou-se Paul Balzereit, do escritório da Sociedade na Alemanha, para encontrar alguém na Polônia que cooperasse com o escritório na Alemanha em cuidar dos servos de Jeová na Polônia. Naquela época, a Congregação Lodz tomava muito bem a dianteira no ministério de campo, de modo que o irmão Balzereit perguntou a Wilhelm Scheider, em Lodz, se aceitaria a designação. Todavia, o irmão Scheider humildemente sugeriu Edward Rüdiger, que então era tradutor da revista A Idade de Ouro, e o irmão Rüdiger cuidou desta responsabilidade por quase um ano.

Quando restrições impostas às viagens tornaram impossível que os irmãos na Alemanha dessem mais ajuda na Polônia, a supervisão geral das atividades teocráticas na Polônia foi entregue ao Escritório Centro-Europeu da Sociedade, em Berna, na Suíça. Em 1928, Martin Harbeck foi dali à Polônia, para novamente achar alguém habilitado para servir de superintendente para o campo polonês. Novamente, pediu-se ao irmão Scheider que aceitasse a designação, e esta vez a aceitou.

Evidenciou-se então um constante crescimento. Em 1927, a assistência na Comemoração havia sido de 1.101 pessoas, mas apenas 76 destes tinham relatado alguma participação na pregação das boas novas. No fim de 1928, havia 24 congregações organizadas para o serviço, e 256 publicadores relatavam regularmente alguma atividade. Em 1929, o número das congregações organizadas para pregar a mensagem do Reino atingiu 40, e em 1930 havia 55.

De vez em quando, seguindo as instruções da Sociedade, estas congregações organizavam semanas de maior atividade. Em 1929, pela primeira vez, alguns dos colportores foram transferidos para partes do sudeste da Polônia, a fim de que transmitissem as verdades do Reino aos ucranianos ali. Disse o Anuário de 1930, em inglês: “Os irmãos reconhecem cada vez mais que foram chamados, não para ficar sentados com o Senhor no vinhedo, mas para trabalhar com ele.”

Tempo de peneiração

No ínterim, o espaço alugado para o escritório em Varsóvia não era mais adequado. A procura de outro lugar na cidade não trouxe resultados; tudo era caro demais. De modo que se decidiu mudar o escritório para Lodz.

Estabeleceu-se um escritório temporário ali no local de reunião da congregação. Por fim, em 1932, encontrou-se um prédio adequado na Rua Rzgowska, 24. As congregações foram informadas sobre os fundos necessários para comprá-lo, mas os irmãos, anteriormente bem dispostos a fazer sacrifícios, não cooperaram. O dono concordou em adiar o pagamento, embora tivesse outros compradores. Novamente, não houve reação. Por quê?

Antes de a resposta tornar-se clara, Jeová providenciou ajuda de outra fonte. Três dias antes de se esgotar o prazo, a irmã Scheider conseguiu tomar emprestado o dinheiro necessário da sua comparativamente rica meia-irmã, embora esta não fosse favoravelmente disposta para com a verdade.

Logo tornou-se evidente, porém, por que as congregações tinham hesitado em fornecer os fundos para comprar um prédio em Lodz. Wacław Narodowicz, que servia como peregrino, percorrera a Polônia argumentando que o escritório devia continuar em Varsóvia e que devia ficar novamente sob a direção dele. Ele solicitara dinheiro para conseguir um lugar como escritório em Varsóvia e pedira que o dinheiro fosse entregue a ele. Embora Narodowicz fracassasse no seu objetivo, ele fez com que muitos irmãos ficassem perturbados. Mais tarde, ele se tornou apóstata.

Era uma época em que as “almas instáveis” que seguiam homens, em vez de se apegarem a Jeová e à sua organização, foram excluídas. (2 Ped. 2:14, 15) Um grande fator envolvido nisso era a atividade associada com a adoção do nome Testemunhas de Jeová. Nem todos queriam dar testemunho. Mas os que continuaram com a organização deram evidência da genuinidade do seu amor a Jeová. Isto era importante, porque os anos 30 — e os subseqüentes — mostraram ser anos em que as Testemunhas de Jeová na Polônia tiveram de lutar pela sobrevivência. Era uma época em que se demonstrava diversas vezes a veracidade de Isaías 54:17 — sim, muitas ‘armas foram forjadas’ contra os servos de Jeová, mas nenhuma delas conseguiu eliminar a verdadeira adoração.

Ataques e contra-ataques

Os clérigos católico-romanos recorriam com crescente freqüência a calúnias contra os servos de Jeová, especialmente na imprensa. Exigiam também que as pessoas entregassem quaisquer publicações recebidas dos Estudantes da Bíblia, para que fossem queimadas em público. Um caso desses, que recebeu muita publicidade, deu-se em Chojnice. A promotoria ali acusou o irmão Śmieszko, pioneiro local, de blasfêmia por meio do uso de matéria impressa. O julgamento, em 1933, foi assistido por uma grande multidão. Um sacerdote católico, de nome Janke, foi chamado para depor. Ele tinha um diploma de doutor em filosofia e era professor de religião na escola local de segundo grau. O irmão Scheider representou a Sociedade. Entre os assuntos debatidos estavam a imortalidade da alma, o tormento eterno e o purgatório. Depois, o senhor Janke, admitindo a derrota, dirigiu-se ao irmão Scheider, apertou-lhe a mão e disse que nunca mais se deixaria envolver num caso assim.

O jornal Ilustrowany Kurier Codzienny, de Cracóvia, participou no ataque contra as Testemunhas, acusando-as falsamente de serem às ocultas comunistas que entoavam canções bolcheviques, eram treinadas na União Soviética e recebiam dali pagamento. Neste caso, os irmãos processaram os responsáveis pelo jornal e o redator foi punido.

Mieczysław Skrudlik, jesuíta, publicou por conta própria folhetos que caluniavam as Testemunhas. Mas quando foi processado, alegou que estava doente. Pediu três vezes que o caso fosse adiado. No ínterim, mudou-se diversas vezes e não mais pôde ser encontrado.

No entanto, os ataques dos clérigos não eram todos verbais. Eles e seus asseclas recorriam também repetidas vezes à violência. Quando as Testemunhas se empenhavam no seu ministério de casa em casa, opositores as atacavam. Estes usavam punhos, pés, paus e pedras, destruindo publicações bíblicas e deixando as Testemunhas sangrando ou inconscientes no chão. As Testemunhas que viajavam a territórios distantes para pregar eram interceptadas, espancadas e mergulhadas em água; suas bicicletas ou motocicletas eram destroçadas; suas publicações eram confiscadas e destruídas.

Um pioneiro veterano, Bolesław Zawadzki, escreveu nas suas memórias que, enquanto se realizava uma reunião na casa de seus pais em Kielce, uma turba de 2.000 pessoas iradas, gritando, cercou a casa e atirou pedras. Usaram-se até carrinhos de mão para trazer mais pedras. Só muito depois da meia-noite é que a “brincadeira” acabou. As pedras que haviam atravessado o telhado encheram seis carrinhos quando recolhidas! Na tentativa de prevenir esta onda de perseguição, os irmãos às vezes conseguiram que os próprios perseguidores fossem punidos. Menos vezes, porém, conseguiram levar à justiça os verdadeiros instigadores, os clérigos.

Bênçãos pela organização correta

Especialmente a partir de fins dos anos 20, deu-se às congregações maior ajuda relacionada com o ministério de campo. As congregações receberam determinados territórios para o serviço de campo. Diretores de serviço regionais, enviados para visitar todas as congregações, não somente proferiam discursos, mas também treinavam os irmãos no ministério de campo. Este arranjo foi útil e reanimador. Um destes irmãos zelosos e abnegados, Ludwik Kinicki, ainda é lembrado por muitos dos antigos.

Os pioneiros — uns 30 a 50 na época — também demonstravam ter o espírito de abnegação. Pregavam de bom grado até mesmo em territórios longínquos onde não havia congregações, e andavam a pé muitos quilômetros, porque poucos tinham bicicleta. Permitia-se-lhes ficar com parte das contribuições recebidas pelas publicações, e em alguns casos eles tinham muito pouca renda adicional. No inverno, freqüentemente dormiam em montes de feno ou em palha espalhada pelo chão num celeiro, tendo o sobretudo como coberta.

As pessoas que contatavam, embora gentis, freqüentemente tinham pouco conhecimento da Bíblia ou da história secular. Stefan Milewski se lembra de que, durante a conversa com um grupo de aldeões, ele mencionou que Jesus por nascença era judeu. O povo ficou indignado e ele mal escapou de ser espancado. Gritaram irados: “O Senhor Jesus era polonês e católico!”

Todavia, as Testemunhas continuavam a mostrar zelo na busca de pessoas semelhantes a ovelhas. Em 1932, gastaram 103.323 horas no ministério, colocaram 177.505 livros e folhetos, 2.101 Bíblias e 87.455 exemplares de A Idade de Ouro. Isto levou um jornal de Varsóvia a comentar: “Os Estudantes da Bíblia, na Polônia, dificilmente seriam mais de 600.000, e a respeito deste pequeno número parece haver mais agitação do que se observa em qualquer outra religião.” Na realidade, naquele tempo, o número de Testemunhas ativas era de apenas 600! Mas aos olhos dos espectadores, o pequeno já se tornara mil. — Compare com Isaías 60:22.

A luta se intensifica

Os clérigos católicos continuavam a exercer pressão sobre as autoridades para deter as Testemunhas. As acusações lançadas contra as Testemunhas eram sempre as mesmas: difundir propaganda comunista, fazer angariações sem licença, violar o sábado dominical, e blasfemar a Igreja e seus ensinos. Em 1933 relataram-se cerca de 100 casos em que a polícia deteve publicadores. Houve também 41 casos de graves espancamentos às mãos de turbas fanáticas. Dois anos mais tarde, houve 3.000 casos em que os clérigos denunciaram as Testemunhas à polícia. Quando as acusações baseadas em um regulamento não produziam resultados, os clérigos recorriam a outro diferente, vez após vez. No entanto, mesmo antes de os casos irem a julgamento, a maioria deles foi abandonada por não terem base; outros resultaram em absolvições.

Os irmãos não tinham os meios para contratar advogados toda vez que eram presos. Mas o escritório da Sociedade fornecia-lhes assistência jurídica. Enviava-lhes centenas de documentos com informações sobre apelações, decisões favoráveis e casos que estabeleciam valiosos precedentes. Segundo as instruções dadas, os irmãos, quando no tribunal, enfatizavam a pregação das boas novas do Reino de Deus em vez de salientarem tecnicidades jurídicas. Para alguns casos mais graves, porém, havia advogados que se colocavam à disposição para defender os irmãos.

Para frustrar acusações de mascataria, a Sociedade emitiu cartões que declaravam que a pessoa tinha autorização para pregar à base da liberdade de consciência e de religião. Para os filhos das Testemunhas que freqüentavam escolas públicas e que muitas vezes não eram deixados passar de ano por sua recusa de freqüentar aulas obrigatórias de religião, a Sociedade emitiu certificados especiais. Esses atestavam que o aluno tinha feito um curso religioso na sua própria comunidade religiosa e que recebera essas ou aquelas notas. Por isso, muitas congregações mantiveram por vários anos “escolas dominicais”. Depois de muitos esforços dos irmãos, o Ministério de Educação e Denominações Religiosas emitiu um decreto obrigando as autoridades escolares a aceitar esses certificados. Uma vez inscritas as notas nos registros da escola, o menor podia passar de ano.

Algumas autoridades públicas discerniam claramente que o que motivava as acusações contra as Testemunhas de Jeová era a intolerância religiosa. Assim, o procurador do estado, da corte de apelação em Torun, num caso que envolvia uma Testemunha, rejeitou a acusação de blasfêmia, exigiu a absolvição e declarou que as Testemunhas de Jeová adotavam a mesma posição que os primitivos cristãos. Em outro caso, o promotor do estado, da corte de apelação de Poznan, negou-se a processar uma Testemunha acusada de se referir aos clérigos como parte da “organização de Satanás”. (Compare com João 8:44.) Ele mesmo mencionou a corte papal de Alexandre VI, da qual se sabia muito bem que emanara um espírito crassamente imoral. Contrastou isso então com a conduta excelente das Testemunhas de Jeová e seu zelo em servir a Jeová.

Tentativas de impedir o fluxo de publicações

Vez após vez, os clérigos se esforçavam a cortar o fluxo de publicações usadas pelas Testemunhas de Jeová na sua atividade. Sempre que possível, eles manobravam autoridades governamentais para fazer o que queriam. Por exemplo, em 1930, persuadiram o ministro do interior a cancelar nossos direitos postais referentes à revista A Idade de Ouro, que destemidamente expunha a hipocrisia religiosa. Mas apenas poucas semanas depois, o ministro foi obrigado a renunciar ao cargo e seu sucessor permitiu novamente a importação de A Idade de Ouro e sua distribuição por correio.

Aqueles que se opunham às Testemunhas finalmente conseguiram bloquear a importação de A Idade de Ouro da Suíça. De modo que os irmãos, em 1933, começaram a imprimi-la em Lodz. Toda vez que os clérigos exerciam pressão sobre o impressor, a fim de que ele não mais trabalhasse para os irmãos, estes achavam outro que de bom grado o fazia. Isto aconteceu repetidas vezes, até que, depois de muitos confiscos ordenados pelo departamento de censura, se impôs a proscrição da própria revista. Após apelarem desta decisão, os irmãos continuaram a publicar A Idade de Ouro até a confirmação da proscrição, e Augustyn Raczek, editor da revista, ser condenado a um ano de prisão.

Talvez parecesse aos opositores que eles tinham alcançado seu objetivo. No entanto, os irmãos não desistiram. O último número de A Idade de Ouro foi o de 1.º de setembro de 1936. Em 1.º de outubro daquele mesmo ano, foi substituída por uma nova revista impressa em Varsóvia. Chamando-se Nowy Dzień (Novo Dia), continuou a publicar artigos que expunham a corrupção e a hipocrisia religiosa, e que sustentavam a verdade bíblica. Foi impressa em Varsóvia até o irrompimento da Segunda Guerra Mundial.

No ínterim, em 1937, o ministro do interior proscreveu A Sentinela, usada pelas Testemunhas de Jeová, junto com a Bíblia, nas suas reuniões congregacionais. Não havia nada subversivo em A Sentinela, mas os clérigos católicos não queriam sua circulação no que consideravam ser seu domínio. Nossos irmãos, porém, decididos a “obedecer a Deus como governante antes que aos homens”, começaram a reproduzi-la em forma mimeografada. — Atos 5:29.

Nesta época, o bispo Jasiński, de Lodz, apoiado pela Ação Católica,a estabeleceu “Um Escritório Contra as Minorias Religiosas”. Esta agência, por sua vez, manipulava sistematicamente seu próprio pessoal para penetrar nos mais altos departamentos governamentais. Um dos seus objetivos era confiscar todas as publicações da Torre de Vigia. As Testemunhas, apesar de arriscarem ser apanhadas, foram em frente e publicaram duas novas brochuras. As autoridades impuseram penalidades. Mas quem estava por trás desta ação? Muitas vezes, para fazer acusações, usavam-se leis canônicas da Igreja Católica em vez de leis seculares. Dificilmente se encontraria uma prova melhor do que esta, de que toda essa campanha foi realizada sob a direção da hierarquia católica.

Durante 1937, a Ação Católica foi responsável por 75 casos de violência contra as Testemunhas; em 2 deles, irmãos foram assassinados. Dos 263 processos judiciais, 99 resultaram em absolvições e 71 em sentenças. Os demais foram adiados. Publicações foram confiscadas em 129 casos, mas em 99 casos os irmãos lutaram com êxito pela sua devolução. O relatório no Anuário de 1938, em inglês, observou: “Todos os do povo do Senhor neste país estão decididos a continuar com a obra de dar testemunho, quer agrade a homens, quer não, lembrando-se de . . . que ‘temos de obedecer a Deus antes que aos homens’.”

Certamente era isso o que achavam os publicadores nas 121 congregações dispostas a se empenhar no serviço. Em média relatavam mensalmente uns 800 publicadores, e durante o mês da Comemoração, foram 1.040! Mas os opositores estavam decididos a aplicar um golpe mortal. Sem dúvida, pensavam ter feito isso quando em 22 de março de 1938 as autoridades lacraram as portas do nosso escritório em Lodz. As publicações não podiam mais ser enviadas por correio ou por trem; tanto o remetente como o destinatário estavam sujeitos a ser punidos. As Testemunhas queriam apelar para uma corte superior, mas uma alta autoridade favoravelmente disposta confidenciou que seria em vão. O “espírito dos tempos” tinha mudado, disse ele, e mesmo que as Testemunhas ganhassem a causa, o ministro do interior se certificaria de que suas atividades em todo o país fossem severamente restritas. De modo que se decidiu não levar o caso adiante nos tribunais, mas confiar em Jeová e prosseguir de outro modo.

Acontece que a polícia, ao lacrar nosso escritório, tinha despercebido uma saída de emergência no depósito de publicações. De modo que, dia após dia, trabalhadores de Betel retiraram publicações bíblicas, por fim, toneladas delas, e as distribuíram entre as congregações. Além das publicações em polonês, havia também outras em ucraniano, russo, alemão e iídiche.

Os irmãos no território cooperavam de todo o coração em armazenar grandes quantidades de publicações para uso nos tempos dificultosos à frente. Por exemplo, Józef Włodarczyk, da região de Lublin, aceitou 12.000 folhetos, muitos livros, 500 Bíblias, 500 “Novos Testamentos”, 500 cancioneiros e 250 discos fonográficos, que depois escondeu com cuidado. Outros irmãos fizeram o mesmo, e isto se mostrou muito útil durante a guerra, quando não se recebiam novas remessas.

A proscrição de 1938 deu aos irmãos mais de um ano para se preparar para fazer a obra às ocultas durante os anos difíceis da Segunda Guerra Mundial. Dividiram o país em regiões, cada uma com várias congregações. Cada região era supervisionada pelos irmãos locais mais zelosos e tinha a responsabilidade de mimeografar publicações, especialmente A Sentinela, para as congregações. Este era o único “alimento novo” que as congregações recebiam. Este sistema de organização enfrentou com êxito o desafio lançado pelo posterior caos da guerra.

Irrompe a guerra!

A Segunda Guerra Mundial irrompeu em 1.º de setembro de 1939. O último relatório enviado da Polônia indicava que havia ali 1.039 publicadores. O que se daria com eles?

Durante a ocupação, a Polônia foi dividida em três setores. O setor ocidental foi anexado pelo Reich alemão. A parte central, incluindo as cidades de Varsóvia, Cracóvia, Lublin e mais tarde Lviv, foi chamada de Governo Geral e colocada sob administração alemã. A parte oriental foi anexada pela União Soviética. As condições diferiam de uma região para outra.

No setor ocidental, a Gestapo alemã prendeu todos os conhecidos como Testemunhas de Jeová. O sistema nazista, totalitário, tratou cruelmente a todos os que não se sujeitavam inteiramente a ele. As Testemunhas, que defendiam o Reino de Deus, eram encaradas como adversários. Ser alguém encontrado mesmo com um só número de A Sentinela, ou visto na mesma foto com uma Testemunha, era tomado como prova de que ele era criminoso. Usavam-se meios brutais para obrigar as Testemunhas a delatar os nomes e os endereços de seus irmãos e de suas irmãs espirituais. Aqueles que se negavam a trair seus irmãos ou a assinar uma declaração para renunciar à sua fé eram enviados a campos de concentração. Muito poucos transigiram. Mesmo os perseguidores se admiraram da lealdade desses servos de Jeová.

Em Lodz, a Gestapo prendeu o irmão Scheider e muitos outros, colocando-os em campos. De Poznan, 69 irmãos e irmãs foram enviados a campos alemães, 22 foram mortos. Apesar disso, foram tantos os que aprenderam a verdade em Poznan durante a guerra, que depois surgiu uma forte congregação. Seu zelo estendeu-se a territórios vizinhos e ajudou a reedificar a organização no oeste da Polônia.

Naturalmente, os irmãos também padeceram sofrimentos em muitas outras cidades e em localidades menores. Por exemplo, de Wisła, uma estância nas montanhas, de uns 6.000 habitantes naquela época, 51 irmãos e irmãs foram levados a campos de concentração. Apenas 13 voltaram.

Jeová não abandonou seu povo

É evidente que o Criador protegeu o seu povo durante este tempo de severa perseguição. Para eles, a vitória não dependia da sobrevivência, mas da fidelidade — até a morte, se fosse necessário. (Rev. [Apo.] 2:10) Um irmão contou que foi impiedosamente espancado por muitas horas, especialmente nas costas e na região dos rins. Mas ele perseverou, apesar das tentativas de obrigá-lo a denunciar outros irmãos e a trair assuntos da organização. Os maus-tratos foram repetidos no dia seguinte, só que esta vez foi muito pior. No terceiro dia, seu corpo inchado e machucado reagiu aos golpes com extrema dor. O irmão orou a Jeová pedindo alívio, até mesmo a morte. De repente, o agente da Gestapo que o açoitava passou a rogar pragas, largou o chicote e foi embora. O que tinha acontecido?

Alguns dias depois, o irmão notou este homem no corredor com a mão enfaixada. Outros presos disseram ao irmão que esse agente tinha quebrado o dedo indicador — evidentemente enquanto dava chicotadas.

As Testemunhas que conseguiram evitar ser presas não se deixavam espalhar. Reuniam-se em pequenos grupos para estudar a Bíblia e A Sentinela. As revistas que recebiam usualmente vinham de irmãos na Alemanha; depois eram mimeografadas ou copiadas a mão. Fritz Otto tinha uma parte ativa no trabalho às ocultas em Lodz durante este período de ocupação, mantendo contato com Poznan, Bydgoszcz e Gdansk. Embora as comunicações fossem ocasionalmente cortadas pelos adversários, nunca permaneceram interrompidas por muito tempo.

No Governo Geral

A situação nas partes central e meridional da Polônia era diferente. Ali as autoridades não caçavam e perseguiam as Testemunhas de Jeová tão furiosamente, de modo que os irmãos trabalhavam com vigor, embora tomando sempre as devidas precauções. Em Varsóvia, preparavam estênceis de A Sentinela; depois, os responsavéis de cada região mimeografavam a revista, usando os mimeógrafos primitivos então disponíveis. Usavam-se diversos métodos para contrabandear originais das publicações. Às vezes até mesmo soldados alemães, cuja família estava na verdade, sem saber serviam de mensageiros ao voltarem à frente oriental depois de uma licença em casa.

Houve também muitas experiências aflitivas. Em dezembro de 1942, a polícia alemã, em Varsóvia, prendeu Stefan Milewski e Jan Gontkiewicz enquanto estavam mimeografando. Eles foram prontamente mandados ao campo de concentração em Majdanek e depois a Buchenwald. Em vista disso, Ludwik Kinicki, que supervisionava a atividade das Testemunhas de Jeová em toda a região conhecida como Governo Geral, assumiu as tarefas deles. Dois anos depois, em 1944, ele foi preso, e antes do fim do ano morreu no campo de concentração em Gusen, Áustria. Será que o inimigo tinha vencido? De modo algum! Todos esses irmãos tinham mantido a sua inabalável lealdade a Jeová. E quanto aos seus opositores, tiveram a oportunidade de demonstrar perante o Juiz celestial sua atitude para com o governo de Deus. — Jó 31:14; Rom. 14:12.

Durante esta época de terror, as pessoas eram facilmente intimidadas. Todas suspeitavam umas das outras. A fim de evitar problemas desnecessários, os irmãos usavam de muita cautela ao convidarem pessoas para as reuniões ou ao apresentá-las a outros interessados. Mas as Testemunhas eram zelosas, Jeová as abençoava e novos grupos surgiram depressa.

Às vezes surgiam inesperadamente oportunidades para dar testemunho. Em fins do outono de 1940, em Wojkowice Komorne, no distrito de Katowice, faleceu um interessado. Ele havia expressado o desejo de ser enterrado pelas Testemunhas de Jeová, de modo que um irmão se preparou para proferir algumas palavras de consolo no lar do falecido. Mas no cemitério ajuntou-se uma grande multidão. Vendo-a, nosso irmão simplesmente não conseguiu refrear-se; falou por mais de uma hora sobre a esperança bíblica dos mortos. Daí em diante, as Testemunhas sempre realizavam seus funerais no domingo, para que o máximo número de pessoas pudesse ouvir a mensagem da Bíblia.

A pregação nas cidades costumava ser feita de modo informal, mas nas zonas rurais, especialmente em torno de Lublin, os publicadores começaram a empenhar-se de novo no serviço de casa em casa mesmo antes do fim da guerra. Todavia, para não atrair indevida atenção, começavam a conversa, por exemplo, por perguntar sobre a possibilidade de comprar alguma coisa. A resposta muitas vezes abria o caminho para se considerarem assuntos espirituais.

Algumas congregações organizavam excursões de testemunho a aldeias afastadas, onde descobriam que os acontecimentos relacionados com a guerra tinham mudado as atitudes das pessoas. Muitos, inclusive jovens, escutavam agora ansiosamente. As publicações que os irmãos ainda possuíam eram bem aproveitadas, e formaram-se novas congregações.

Naturalmente, Satanás empenhou-se em impedir esta expansão da adoração pura. Um modo de fazer isso foi recorrer a grupos de guerrilheiros. Alguns destes, às instigações de sacerdotes católicos, começavam a combater não só as forças de ocupação alemãs, mas também as Testemunhas, causando novas provações para a fé. As casas de irmãos eram atacadas à noite. Homens, mulheres e crianças eram espancados, e ordenava-se-lhes que fizessem o sinal da cruz, que beijassem a cruz e que pendurassem imagens de “santos” nas paredes. Os intrusos saqueavam e destruíam. Algumas famílias sofreram repetidas vezes tais ataques. Diversos irmãos foram obrigados a se esconder para continuar vivos.

Um “novo plano” no setor soviético

Um grande setor do leste da Polônia tinha sido anexado pela União Soviética em setembro de 1939. Isto significava que cerca da metade dos nossos publicadores, incluindo poloneses e ucranianos, bem como umas poucas Testemunhas russas e judias, ficaram separados da organização. Embora fossem zelosos, sua espiritualidade ficou ameaçada devido à falta de alimento espiritual atualizado. Tentaram estabelecer contato com a organização através da Eslováquia, mas isso mostrou ser extremamente difícil.

Assim, o que aconteceu foi que muitas congregações ficaram envolvidas num “novo plano”. Inicialmente, seu objetivo era ajudar os irmãos a adaptar-se à nova situação. Dava-se ênfase à necessidade de se manterem separados do mundo e de levarem uma vida “nos esplendores da santidade”. (Sal. 110:3) Este “novo plano” espalhou-se de Lviv através de Lublin até Varsóvia. No entanto, em vez de serem aconselhados a simplesmente aplicarem com cuidado o que a Palavra de Deus diz, foram logo exortados a empenhar-se em atividades que eram apenas a idéia de um homem.

Por exemplo, sob esta influência, um grupo de publicadores desorientados atacou o quartel-general militar na cidade de Bialistoque ocupada pelos alemães, retirou a suástica do telhado e a substituiu por uma bandeira branca. Foram presos e executados no mesmo dia. Estes acontecimentos eram um lembrete doloroso do que pode acontecer quando alguém confia demais em si mesmo, indo além do que está registrado nas Escrituras, e além do exemplo dado por Cristo e por seus apóstolos, não recorrendo ao “escravo fiel e discreto” em busca de orientação. — Mat. 24:45.

Última prova antes da era do após-guerra

Pouco antes de acabar a guerra, os irmãos se viram confrontados com um novo desafio. Ao passo que a frente oriental se aproximava cada vez mais, ordenava-se às pessoas que cavassem valas anti-tanques. As Testemunhas de Jeová, como cristãos neutros, não podiam participar nisso de boa consciência, e negaram-se a fazê-lo mesmo sob ameaça de morte. Dezenas delas, algumas ainda novas na verdade, foram fuziladas em público. No entanto, isto também serviu de testemunho, porque outros passaram a aperceber-se de que as Testemunhas de Jeová tinham uma fé tão forte, que preferiam morrer a abandonar seu Deus.

Por fim, acabaram-se os anos de ocupação. As Testemunhas de Jeová na Polônia tinham enfrentado com êxito severas provas. Então, em número ainda maior do que antes da guerra, empreenderam a tarefa à frente.

Progresso da obra do Senhor

As Testemunhas de Jeová que sobreviveram aos campos de concentração voltaram na primavera de 1945, prontas para prosseguir com a proclamação pública do Reino de Deus. Entre elas estava Wilhelm Scheider.

No devido tempo, ele conseguiu novamente o uso da propriedade na Rua Rzgowska, 24, em Lodz. Infelizmente, publicações novas só podiam ser recebidas quando alguém podia trazê-las pessoalmente do estrangeiro, porque o serviço postal público ainda não funcionava. Mas assim que as publicações chegavam, eram traduzidas o mais breve possível, e os estênceis eram enviados a cada região. Em pouco tempo, voluntários adicionais ofereceram-se para ajudar na obra. E Jeová induziu o coração de mais outros a apoiar a obra com contribuições materiais.

O contraste entre os servos de Jeová e os outros da população era evidente. (João 13:35) A maioria dos ucranianos, inclusive centenas de irmãos, foram relocados para o leste, dentro das novas fronteiras soviéticas. Antes de isso acontecer, porém, houve diversas erupções de ódio entre poloneses e ucranianos que viviam na parte leste e sul do Governo Geral. As Testemunhas polonesas e ucranianas, por outro lado, estavam em paz. Em certa ocasião, um irmão polonês voltava para casa depois duma reunião, acompanhando três irmãs ucranianas, quando se confrontaram com guerrilheiros ucranianos. Os guerrilheiros tentaram pegar o irmão, pretendendo fuzilá-lo, mas as irmãs protestaram, intervindo fisicamente a seu favor. A contenda durou umas duas horas. Por fim, os guerrilheiros desistiram, mas primeiro arrancaram a roupa do irmão e a queimaram. Trajando apenas a roupa de baixo, ele correu uns dois quilômetros descalço pela neve até a casa dum irmão ucraniano.

Acabadas as restrições de guerra, as Testemunhas empenharam-se com entusiasmo no serviço de campo. O primeiro relatório no após-guerra revelou que havia cerca de 2.500 publicadores. Em 1939 havia apenas 1.039. Cerca da metade deles, porém, vivia agora nas regiões anexadas pela União Soviética. De modo que, durante seis anos de guerra e de ocupação, houve na realidade um aumento de 400 por cento no restante do país! Como se mostraram verazes as palavras inspiradas do profeta Daniel: “Quanto ao povo que conhece seu Deus, eles prevalecerão e agirão com eficiência. E quanto aos que dentre o povo tiverem perspicácia, darão entendimento a muitos”! — Dan. 11:32, 33.

Em alguns lugares era bem evidente que havia um crescente interesse na mensagem do Reino. A respeito de Poznan, Jan Wąsikowski relata: “Quanta alegria deu aos irmãos que voltaram dos campos de concentração em 1945 ver que o pequeno grupo de Testemunhas havia aumentado para o animador total de uns 600 publicadores do Reino! De uma congregação ativa na cidade formaram-se três.”

Os desenvolvimentos mais espantosos, porém, eram vistos na parte leste do país. As condições de vida eram extremamente difíceis. Um superintendente de circuito relata que, depois de chegar ali em 1947, não só viu casas queimadas, mas também povoações inteiras destruídas. Os irmãos viviam em abrigos subterrâneos e em porões. Apesar disso, as congregações aumentavam numa proporção espantosa. Durante 1945 e 1946, a Congregação Teresin muitas vezes aumentava em 15 a 20 publicadores por mês, e num mês até mesmo em 42! Em 1947, ela já tinha 240 publicadores. A congregação de Alojzów tinha 190.

Sua fome espiritual é saciada

Embora os irmãos tivessem poucos bens materiais, achavam que sua principal necessidade era de Bíblias e de compêndios bíblicos. Afortunado era aquele que possuísse um exemplar das Escrituras Gregas Cristãs. Alguns publicadores tinham apenas um Evangelho para usar no serviço de campo. Mas receberam prontamente ajuda.

Em 1946, a Sociedade Torre de Vigia convidou as Testemunhas nos Estados Unidos, no Canadá, na Suíça e na Suécia a doar roupa aos concrentes nos países dilacerados pela guerra. Aproveitaram a oportunidade não só para enviar roupa, mas também caixas de Bíblias! Pouco depois chegaram milhares de exemplares do livro “A Verdade Vos Tornará Livres”, bem como 250.000 exemplares do folheto A Religião Sega o Torvelinho. Imagine a gratidão dos irmãos!

A fome pela palavra de Deus por parte das pessoas na Polônia do após-guerra era grande. Em 1946, mais de 6.000 publicadores do Reino estavam prontos para ajudar a satisfazer esta necessidade. A Sociedade ali fez o máximo que pôde para suprir publicações. Mas, visto que não tinha nenhuma gráfica central, A Sentinela, bem como folhetos e outros impressos, continuaram a ser produzidos nos setores em que o país havia sido dividido. Embora houvesse pouco equipamento, os irmãos ficaram logo bem supridos do alimento espiritual básico.

Novos campos de atividade

Diversas Testemunhas — tanto individualmente como famílias inteiras — decidiram mudar-se para uma região que por anos tinha sido habitada por alemães, mas que depois da guerra se tornou a parte oeste da Polônia. Muitos poloneses que haviam morado na parte leste da Polônia de antes da guerra, agora anexada pela União Soviética, também se mudaram para esta região ocidental. As pessoas nestes territórios recém-povoados aceitavam bem a verdade.

Um dos voluntários zelosos que servia nesta região era Stanisław Kicieniewski, que mais tarde se tornou superintendente viajante. Quando retornou do encarceramento num campo de trabalho alemão durante a guerra, estava totalmente esgotado. Mas depois dum período de recuperação, estava ansioso de ficar novamente ativo. Mudou-se com a família para Jelenia Góra. Foi a primeira família de Testemunhas a se estabelecer ali. Mais tarde, outros se juntaram a ela, e logo se formou uma congregação. Atualmente, há nove congregações naquela cidade.

De modo similar, Jan Pieniewski e esposa mudaram-se para Gorzów Wielkopolski, a fim de servir ali. O irmão Pieniewski recorda: “Em fevereiro de 1946, iniciamos nosso ministério de casa em casa, visitando primeiro os vizinhos. As primeiras três casas fizemos juntos, mas depois cada um pregou separado. Minha esposa perguntou: ‘Quando é que conseguiremos cobrir a cidade inteira?’ . . . Encontramos um homem que estava disposto a trocar uma vaca por um único exemplar da Bíblia! Nós lhe levamos a Bíblia, mas, naturalmente, não aceitamos a vaca.”

Nem todas as Testemunhas de origem alemã, que moravam na Polônia, decidiram voltar para a Alemanha depois da guerra. Para algumas delas, aprender polonês era bastante difícil. Mas a Sociedade ajudou-as no seu ministério de campo por preparar panfletos que apresentavam a mensagem do Reino tanto em polonês como em alemão. Por outro lado, quando uma irmã polonesa e sua família retornaram da França e se estabeleceram perto de Wałbrzych, eles é que se sentiam como estrangeiros, visto que havia naquela região muitas pessoas de língua alemã. Mas por tomar a iniciativa de dar testemunho, a irmã logo contatou os irmãos alemães. “Que alegria!” disse ela. “Íamos com eles no ministério de casa em casa, visitando regularmente os interessados e dirigindo estudos bíblicos.”

Percebendo a necessidade de haver pregadores das boas novas na sua região, muitos publicadores começaram a ser pioneiros. Zofia Kuśmierz escreve: “Não havia Testemunhas da região, de modo que iniciei o serviço de tempo integral. Passava cinco dias por semana no território . . . As pessoas mostravam muito interesse. Às vezes eu conseguia ajudar 20 pessoas por ano a aceitar a verdade.”

O território era enorme. Não havia ainda condução disponível. Mas Jan Skiba recorda: “Costumávamos ir a pé a muitas cidades, andando de 30 a 40 quilômetros só de ida. Partíamos de casa às cinco da manhã, trabalhávamos até o pôr-do-sol e muitas vezes retornávamos tarde da noite. Ou ocasionalmente dormíamos em algum lugar na palha.” Eles atingiam lugares onde nunca ninguém pregara as boas novas. Dentro de mais ou menos um ano após o fim da guerra, as Testemunhas estavam pregando em todas as partes do país. Em março de 1946, a Polônia relatou 6.783 publicadores do Reino!

Provisões que promoveram o aumento

Durante a Segunda Guerra Mundial, os irmãos na Polônia não tiveram contato direto com a sede mundial das Testemunhas de Jeová. Até mesmo a congênere suíça, que supervisionava muitos países europeus, recebera apenas informações limitadas sobre as Testemunhas que moravam nos territórios ocupados pelos alemães. Por isso é compreensível que as Testemunhas polonesas soubessem pouco sobre as mudanças organizacionais introduzidas em outras partes do mundo.

No entanto, apesar dos obstáculos do após-guerra, assim que o escritório de Lodz conseguiu obter as necessárias informações, as mudanças foram rapidamente implementadas. Antes disso, dera-se maior ênfase à distribuição de publicações. Mas o Informante (agora Nosso Ministério do Reino) de maio de 1946, em polonês, explicou como fazer revisitas eficazes, como estudar as publicações bíblicas com os interessados e como fazer relatórios corretos. Fizeram-se também mudanças nas reuniões congregacionais. Introduziu-se um Curso de Ministério Teocrático, agora chamado Escola do Ministério Teocrático. Esboçou-se o arranjo de visitas de servos aos irmãos (agora conhecidos como superintendentes de circuito).

Essas mudanças organizacionais resultaram em maior atividade. E como se deu no primeiro século, assim também nos tempos modernos, quando as congregações aplicavam as orientações do corpo governante, “as congregações continuavam deveras a ser firmadas na fé e a aumentar em número, dia a dia”. — Atos 16:5.

Nossos primeiros Salões do Reino

Pouco tempo depois do fim da guerra, os irmãos começaram a procurar locais que pudessem ser reformados para servir como Salões do Reino. Em Poznan, já em fins de 1945, usava-se um salão que acomodava 60 pessoas. Materiais de construção eram difíceis de conseguir, mas os irmãos eram engenhosos. Até mesmo a madeira das caixas usadas pela Sociedade para fazer remessas era usada.

Quando necessário, alugavam-se salões de clubes, cinemas ou outros prédios públicos. Quando não estavam disponíveis, realizavam-se as reuniões em casas particulares ou em apartamentos.

Nossos irmãos gostavam de música e se agradavam de usar este dom para louvar a Jeová. Nos primeiros anos do após-guerra, alguns deles organizavam coros e orquestras de amadores. Quando estes se apresentavam antes das conferências públicas, às vezes aldeias inteiras compareciam para ouvir os discursos.

Congressos: oficiais e não oficiais

Os primeiros dois congressos no após-guerra, na Polônia, foram inesquecíveis. Um deles, em junho de 1946, foi realizado na aldeia de Borówek, perto de Lublin. Compareceram cerca de 1.500 pessoas. Este congresso de dois dias, organizado pelos irmãos segundo o que sabiam, foi de natureza não oficial. Assim como se tivera de fazer em anos anteriores, certos irmãos proferiram discursos sobre assuntos da sua própria escolha. Outros contaram experiências. Quanta alegria deu aos presentes ver 260 pessoas simbolizarem pelo batismo em água sua dedicação a fazer a vontade de Jeová!

Mais adiante naquele ano, em setembro, realizou-se em Katowice um congresso nacional providenciado pela Sociedade. A assistência foi de 5.300 pessoas. Este programa destinava-se especialmente a incentivar os irmãos a uma atividade zelosa e unificada, e a realizar seu serviço a Jeová do modo como agrada a Ele.

Chegam missionários treinados em Gileade

Em 19 de março de 1947, Stefan Behunick e Paweł Muhaluk, dois formados na Escola Bíblica de Gileade da Torre de Vigia (dos EUA), desembarcaram em Gdynia do navio Jutlandia. Ambos falavam comparativamente bem o polonês e passaram prontamente a trabalhar na designação especial confiada a eles.

Um dos seus deveres mais importantes era organizar o serviço de circuito e de distrito. Isto exigiu que treinassem superintendentes viajantes — irmãos que visitariam regularmente as congregações, participariam com as Testemunhas locais na pregação, e profeririam discursos úteis e animadores. Inaugurou-se o serviço de distrito, com arranjos para assembléias regulares em cada circuito. Nos anos seguintes, realizaram-se em todo o país dezenas dessas assembléias. Em alguns casos, havia auditórios públicos à disposição, mas quando isso não ocorria, as assembléias eram realizadas em propriedades pertencentes a Testemunhas.

O primeiro distrito abrangia o país inteiro. Seu superintendente, Edward Kwiatosz, serviu fielmente a Jeová no escritório da Sociedade na Polônia até o fim da sua carreira terrestre em 1992.

Como parte do programa de treinar irmãos para cuidar de diversas necessidades, convidaram-se em 1947 pioneiros a Lodz para cursos especiais. Um deles escreveu mais tarde: “As duas semanas na Sociedade foram inesquecíveis. Eu recebia diariamente aquilo de que mais precisava.” Quatro daquele grupo foram convidados a participar em servir as congregações como superintendentes viajantes.

Os missionários não davam apenas conselhos sobre assuntos de organização, mas também se mantinham ocupados no campo, junto com os irmãos. Tanto quanto lhes era possível, visitavam os circuitos e davam ajuda prática. Os superintendentes bem como os publicadores apreciavam a ajuda deles, e muitos se lembram disso até hoje.

Batida policial no escritório em Lodz

Ao passo que a organização se expandia, as Testemunhas concentravam seus esforços em ajudar as pessoas a tirar proveito da Bíblia. Mas a oposição à sua atividade não cessou, embora vivessem então sob um governo socialista.

Já em fevereiro de 1946, o escritório em Lodz sofreu uma batida policial, e todos os irmãos que trabalhavam ali foram presos. Apenas algumas irmãs foram deixadas. O prédio foi posto sob uma vigilância de 24 horas pelo UB, ou Urząd Bezpieczeństwa (Departamento de Segurança). Mas uma das irmãs conseguiu mandar um telegrama à congênere na Suíça. Por meio deste escritório, fez-se um apelo à embaixada polonesa em Berna. Naquela época, as autoridades estavam ansiosas de ter uma boa reputação nos outros países, de modo que em uma semana os irmãos em Lodz foram soltos.

No ínterim, o UB (Departamento de Segurança) tentou fazer os irmãos cooperar com eles para manter os clérigos católicos sob vigilância, como se fossem o “inimigo comum”. Quão pouco eles entendiam o princípio da neutralidade cristã!

O interessante é que, no ano seguinte, quando as Testemunhas realizaram em Cracóvia um congresso para o país inteiro, 7.000 congressistas usaram crachás similares em formato ao triângulo roxo que tinha identificado as Testemunhas de Jeová nos campos de concentração. Não se haviam esquecido, nem deixaram outros esquecer quão severamente tinham sido perseguidas sob o regime nazista.

‘O mundo não era digno delas’

Em 1946, o escritório começou a receber relatórios sobre perversos ataques brutais contra as Testemunhas de Jeová em diversas partes do país. Especialmente impiedosos na sua oposição eram os grupos de guerrilheiros das Narodowe Siły Zbrojne (Forças Armadas Nacionais). Sua atividade não só se dirigia contra o governo comunista, mas também contra as Testemunhas de Jeová, em resultado da influência exercida pelos clérigos católicos. O que exigiam era bem similar ao que Satanás queria de Jesus Cristo. Satanás instou: ‘Faze apenas um ato de adoração a mim.’ (Mat. 4:9, 10) Esses grupos de guerrilheiros católicos exigiam: ‘Faça apenas um ato de adoração para mostrar que você é católico.’

Por exemplo, em 1.º de março, Henryka Żur, de 15 anos de idade, de perto de Chełm, acompanhava um irmão da sua congregação numa visita a interessados numa aldeia próxima. Para ela foi a última revisita. Ambos os publicadores caíram nas mãos de membros das Narodowe Siły Zbrojne que estavam pernoitando na aldeia. O irmão foi severamente espancado, mas sobreviveu. A irmã foi horrivelmente torturada por muitas horas. “Pense no íntimo o que quiser”, sugeriu um dos seus atormentadores, “apenas faça o sinal católico da cruz. Senão, há uma bala à sua espera!” Por fim, sem ter quebrantado a sua integridade, a jovem irmã foi arrastada a uma floresta nas proximidades e fuzilada.

Menos de três semanas depois, na noite de 18 de março, uma turba de 30 pessoas atacou a casa de Jan Ziemcow, no leste da Polônia. Primeiro tentaram obrigar a família a ir ao sacerdote católico local para uma confissão e para obter dele um atestado de que haviam feito isso. Quando se apresentaram verdades bíblicas, a turba ficou furiosa. Bateram impiedosamente no irmão Ziemcow com paus e ordenaram-lhe repetidas vezes que beijasse uma cruz. No seu esforço de fazê-lo renunciar à Bíblia e retornar à Igreja Católica, bateram nele até deixá-lo desacordado. Daí, depois de o reanimarem com água fria, literalmente o mataram a pauladas. Após terem cometido este assassinato, sentaram-se calmamente para jantar, antes de baterem nos demais da família até os deixarem desacordados.

Em 12 de junho ocorreu outro assassinato. Aleksander Kulesza, da região de Podlasie, tinha ido cuidar do irmão Kadziela e da sua família, que fora atacada na noite anterior. Aguardava-o uma vista horrível. Ele achou até mesmo difícil de reconhecer as vítimas! Depois de prestarem ajuda, o irmão Kulesza e sua família voltaram para casa, sem se darem conta de que já tinham sido escolhidos como as próximas vítimas.

Naquela noite, um bando cercou a sua casa e, instigado pelo pároco local, maltratou a família por seis horas. A turba estava tão decidida a obrigar o irmão Kulesza a voltar à Igreja Católica, que o espancaram até a morte. O filho dele, Jerzy, embora muito espancado naquela ocasião, ingressou dois anos depois no ministério de tempo integral e continua neste serviço até hoje.

Em 1947, um exame dos atos perpetrados contra as Testemunhas de Jeová na Polônia, para tentar convertê-las ao catolicismo, revelou que 4.000 pessoas haviam sido maltratadas — 60 delas, assassinadas. As Narodowe Siły Zbrojne haviam feito uns 800 ataques contra Testemunhas de Jeová nos seus lares. Deveras, pode-se dizer verazmente a respeito dessas hodiernas Testemunhas de Jeová o mesmo que a respeito das antigas testemunhas de Jeová: ‘O mundo não era digno delas.’ — Heb. 11:38.

Sangrento setembro ‘medieval’

Os clérigos católicos haviam inculcado em seus rebanhos uma intolerância fanática com tudo o que não estivesse em harmonia com a religião católica. Eles, representando a religião predominante da Polônia, muitas vezes aproveitavam-se injustamente de jovens escolares, bem como de adultos, usando-os para cometer atos de violência em turbas.

Quando as Testemunhas de Jeová realizaram um congresso de distrito em Lublin, em 1948, os clérigos instigaram seus rebanhos por afirmarem que as Testemunhas tinham vindo de todas as partes da Polônia para destruir santuários católicos locais. Incitaram os fiéis a defender suas igrejas e sua cidade. Uma multidão de fanáticos religiosos fez o ataque. Nesta ocasião, policiais armados, designados para cuidar da segurança do congresso, puseram os mais agressivos líderes da turba em carros e os levaram até uns 30 quilômetros para fora da cidade, antes de soltá-los longe de rotas de condução.

A situação foi um pouco diferente em 5 de setembro de 1948, quando as Testemunhas assistiram a uma assembléia de circuito em Piotrków Trybunalski, uma cidade a uns 120 quilômetros de Varsóvia. Os missionários Behunick e Muhaluk estavam presentes. Por volta das 5 horas da tarde, uma grande massa de gente se havia ajuntado por perto, aguardando o fim do programa para poderem pegar “os bispos”, como chamavam os missionários. Quando as Testemunhas saíram do salão, foram atacadas por uma turba de várias centenas de pessoas, que bateu em alguns, inclusive nos missionários, até deixá-los desacordados. Os feridos foram levados ao Hospital da Santa Trindade, onde se cuidou de seus ferimentos. Mas o pessoal do hospital, sob a influência das freiras ali, negou-se a deixá-los permanecer no hospital.

De início, a imprensa não mencionou este incidente. Mas depois de se fornecerem à embaixada americana em Varsóvia os pormenores do que tinha acontecido, os serviços noticiosos nos Estados Unidos divulgaram a ação da turba.

Menos de três semanas depois — quase que como um segundo ato dum “Sangrento setembro ‘medieval’”, como uma revista o chamou — aconteceu outra coisa na mesma região, que despertou a opinião do público. Um grupo de universitários atenderam um pedido feito pelo Ministério de Cultura e Arte, no sentido de que relíquias arquitetônicas, esculturas e pinturas existentes na vizinhança de Piotrków Trybunalski fossem catalogadas. O ministério obtivera permissão das autoridades eclesiásticas, e os estudantes começaram a trabalhar numa igreja local.

Mas em Kamiensk, uma cidade vizinha, uma excessivamente zelosa empregada do pároco entrou correndo na igreja e começou a xingar os estudantes. Ela afirmou que não eram estudantes, mas que todos eram Testemunhas de Jeová, as quais, segundo ela, se empenham em quebrar cruzes, profanar igrejas e dessacrar túmulos. Embora nenhum dos estudantes fosse Testemunha de Jeová, o sacerdote mandou-os sair imediatamente da igreja. O rumor espalhou-se velozmente às aldeias vizinhas. Não adiantava dar explicações. Uma multidão frenética, armada de paus, forcados e pedras, espancou brutalmente os estudantes, hospitalizando seis deles.

Esta vez, as autoridades reagiram prontamente. Os instigadores, inclusive o pároco e sua empregada, foram presos e sentenciados a longas penas de prisão. Este episódio pelo menos diminuiu as tentativas dos clérigos de usar a violência de turbas como instrumento contra as Testemunhas.

Hostilização oficial

Novamente, porém, estava em andamento uma dramática mudança no clima político da Polônia. Os que assumiram o poder procuravam tornar a religião subserviente ao Estado.

Conforme já observado, em fevereiro de 1946, um oficial do departamento distrital de segurança em Lodz tentara engajar as Testemunhas como espiões contra a Igreja Católica, mas as Testemunhas se recusaram a isso. Quatro meses depois, quando um agente da polícia secreta visitou de novo o escritório da Sociedade, ele começou a insistir com os irmãos a fazer o que a polícia queria, prometendo os melhores salões para as reuniões das Testemunhas de Jeová se cooperassem, mas advertiu a respeito das graves conseqüências se não o fizessem. “Ninguém pode impedir-nos”, ameaçou ele ao partir.

Mais tarde, cancelou-se a permissão para realizar certas assembléias; em outros casos, a polícia tentou dispersar os que vieram assistir a elas. Em maio de 1949, durante uma assembléia de circuito perto de Chełm, a polícia mandou parar o programa. Quando os irmãos encarregados continuaram, foram presos. As Testemunhas reuniram-se novamente no último dia, e o discurso de batismo foi proferido por um irmão que tomara o lugar de um que fora preso. Naquela tarde, cerca de mil pessoas vieram ao discurso público. A polícia prendeu um orador após outro. Assim que um era levado embora, outro ocupava o seu lugar. Antes de findar o dia, 27 irmãos haviam falado!

Expulsos os missionários

Em 24 de julho de 1949, dois anos e quatro meses depois da sua chegada à Polônia, Stefan Behunick e Paweł Muhaluk foram obrigados a deixar o país. O irmão Behunick escreveu em anotações particulares sobre aqueles anos de serviço: “Agora, em 1949, o serviço no escritório já está melhor organizado. Há maior cooperação entre as congregações. Já temos três distritos, e em junho tivemos 13.699 publicadores, duas vezes mais do que em 1947 quando [nós, missionários] chegamos. Há 710 congregações ativas, e 45 pessoas trabalham no escritório. Nossa atividade é tolerada, e a pregação de casa em casa continua.”

Na realidade, em 1949, a atividade das Testemunhas já havia sido tolerada mais tempo do que se esperava. Um ano antes, em 1948, o ministro da justiça falara sobre o tema “Liberdade religiosa na União Soviética”. Durante o seu discurso, proferido no salão da corte distrital em Lodz, ele declarara que as minorias religiosas na União Soviética se dissolveram unilateral e voluntariamente, e se haviam juntado à Igreja oficialmente reconhecida pelo Estado. As Testemunhas de Jeová entenderam que esta ‘dissolução voluntária’ das minorias religiosas na União Soviética significava que um processo similar ia ocorrer logo na Polônia. Começaram a preparar-se para trabalhar às ocultas.

Ao mesmo tempo, em harmonia com uma nova lei a respeito de sociedades, as Testemunhas apresentaram a proposta dum estatuto que descrevia a atividade da Sociedade Torre de Vigia. Pediram seu registro legal em harmonia com a nova situação jurídica.

No ínterim, mais pessoas afluíam à organização. Atingiram-se dez auges consecutivos em publicadores, com 18.116 publicadores em 864 congregações relatando em março de 1950. Naquele ano, 28.918 pessoas assistiram à Comemoração da morte de Cristo. Que forte evidência de que ainda havia muitos prospectivos adoradores de Jeová na Polônia!

Nem pensar em ceder ao medo

Então, durante a noite de 21 de abril de 1950, um grande grupo de agentes do UB, entrando por uma janela, fez uma batida no escritório em Lodz. Afirmava-se que os trabalhadores de Betel espionavam para os Estados Unidos e “tentavam derrubar à força o governo da República Popular da Polônia”. Os agentes do UB vasculharam exaustivamente o local para ver se encontravam evidências. Naturalmente, não encontraram nenhuma. Mas os documentos que tratavam da atividade religiosa das Testemunhas foram confiscados. No dia seguinte, os diretores da Sociedade foram presos.

Aqueles que ficaram no escritório decidiram imprimir o máximo número possível de revistas e distribuí-las entre as congregações. Esgotaram todo o suprimento de papel, umas 20 toneladas, e despacharam as publicações. Depois esconderam o mimeógrafo e outras máquinas, bem como os arquivos. Continuar a trabalhar no escritório sob essas circunstâncias exigia muita coragem. Durante esta época, recebiam-se cartas de supostos interessados, pedindo que os irmãos se encontrassem com eles em certos lugares na cidade. O objetivo verdadeiro, porém, era simplesmente induzir os irmãos a sair à rua, onde alguns irmãos de Betel foram realmente raptados. Depois disso, os irmãos saíam do local apenas em grupos maiores.

Na noite de 21 de junho, houve uma nova batida em Betel. Esta vez, quase todos foram presos. Os irmãos foram colocados num caminhão aberto e levados através de Lodz. Os guardas diziam zombeteiramente que isto era como dar um passeio num feriado. “Neste caso”, sugeriu um irmão, “vamos cantar”. E de repente, não fazendo caso dos protestos dos guardas, esses corajosos servos de Jeová começaram a cantar: “Quem é leal e fiel não se deixa nunca atemorizar.”

Naquela mesma noite, os lares de centenas de Testemunhas em todo o país foram vasculhados. Muitos irmãos foram presos. Os adversários do Reino de Deus queriam dissolver a organização e obrigar as Testemunhas de Jeová a ficar caladas.

Só depois de tudo isso, em 2 de julho de 1950, é que o Departamento de Assuntos Religiosos anunciou aos veículos noticiosos que rejeitava o requerimento de registro da Associação das Testemunhas de Jeová na Polônia. O anúncio arbitrário declarava que a organização estava então dissolvida e que sua propriedade seria expropriada pelo Estado.

Câmaras de tortura do UB

Para muitas Testemunhas, esta onda de prisões e de investigações foi o começo de um longo período de tortura e de sofrimento. Os investigadores tentaram obrigá-las a confessar crimes de que não eram culpadas, especialmente de agirem a favor de serviços de inteligência estrangeiros. Fizeram-se também tentativas de persuadir os irmãos a se tornarem informantes do UB. Segundo estatísticas não publicadas do UB, 90 por cento do que aquela fonte chamou de “membros da seita” passaram a receber tratamento repressivo. Em resultado disso, o número dos que puderam relatar serviço de campo caiu temporariamente para a metade.

Wilhelm Scheider foi interrogado durante oito dias e noites sem interrupção. Por meio de espancamentos brutais, os interrogadores tentaram obrigá-lo a declarar-se culpado de acusações que eles inventaram. Quando perdia os sentidos, jogavam água fria nele até se reanimar. Não recebeu nada para comer nem para beber, e certa vez foi obrigado a ficar ajoelhado por 72 horas sem interrupção. Mais tarde, ele foi transferido de Lodz para Varsóvia, e depois, por 24 dias, foi lançado nu em uma cela apertada. Ali não podia nem sentar-se, nem deitar-se, nem ficar ereto. Numa tentativa adicional de obrigá-lo a transigir, o UB prendeu e maltratou sua esposa e sua filha. Mas nada disso quebrantou sua integridade.

O mesmo tratamento foi dado a Harald Abt, o secretário da filial. Foi interrogado durante seis dias sem parar, batendo-lhe sempre na cabeça e socando-lhe o estômago. Disseram-lhe: “Embora tenha passado cinco anos num campo por ser contra o nazismo, nós ainda assim poderemos provar que você foi um homem da Gestapo.”

Edward Kwiatosz foi brutalmente espancado e não recebeu alimento por três dias. Investigadores impiedosos ameaçaram enforcá-lo. Fizeram-no passar duas semanas sem dormir. Recebeu golpes nos calcanhares com cacetes de borracha. Quebraram-lhe as costelas e o nariz; seu crânio afundou e um tímpano foi perfurado. Ao todo, sofreu 32 dias de maus-tratos. Mas não se deixou intimidar para acusar falsamente seus irmãos a fim de obter alívio. — Compare com Jó 2:4.

Outros irmãos foram similarmente maltratados. Alguns deles, ao serem interrogados por seus atormentadores, foram obrigados a sentar-se num banquinho que tinha um espigão no centro. Isto era chamado de “tratamento romano”. Sofreram tudo isso simplesmente por serem Testemunhas de Jeová, por se negarem a assinar declarações cheias de mentiras e por recusarem dar falso testemunho contra seus irmãos cristãos.

Alguns irmãos foram levados à prisão de Zawiercie, em 1950, por se negarem a assinar o Apelo de Estocolmo de cunho político. O primeiro a chegar ali foi Władysław Drabek, de Poręba. Ele foi encerrado numa masmorra escura com água até os joelhos. Podia descansar um pouco por se sentar com os joelhos dobrados num pedaço de madeira no canto. Dois dias depois, a cela estava cheia de irmãos. Todos se haviam negado a assinar o Apelo. De vez em quando, os guardas davam baldes aos irmãos para fazerem as suas necessidades. Se não os usavam logo que os recebiam, não tinham outra chance. Naturalmente, depois de uns dias, a água tinha um terrível mau cheiro.

Uma vida inteira seria curta demais para contar todos os casos de maus-tratos que as Testemunhas de Jeová sofreram depois das prisões em massa feitas em 1950. A integridade dos servos de Deus foi severamente provada, e não surpreende que alguns tenham morrido em resultado do tratamento desumano.

Fiéis até a morte

O irmão J. Szlauer tinha apenas 20 anos, em agosto de 1950, quando foi intimado a comparecer ao quartel do UB em Cieszyn para ser interrogado. Negou-se firmemente a delatar concrentes. Frustrado, o interrogador atirou nele duas vezes durante o interrogatório, e depois de uma hora, este jovem servo de Jeová morreu. Mas, antes da sua morte, conseguiu dizer ao médico: “O oficial do UB atirou em mim porque eu sou fiel a Jeová.”

Outras Testemunhas sofreram por anos antes de finalmente receberem alívio pela morte. Um superintendente viajante, Alojzy Prostak, de Cracóvia, foi preso em maio de 1952, em Szczecin. Depois de dois anos sob custódia em Varsóvia e em Lodz, estava tão machucado e esgotado, que teve de ser hospitalizado. Aceitando a sugestão dum advogado, sua esposa conseguiu que fosse solto em 1954, mas ele morreu uma semana depois. Cerca de 2.000 pessoas assistiram ao seu funeral. O irmão que corajosamente proferiu o discurso fúnebre aproveitou a ocasião para protestar contra os métodos sadísticos que os agentes do UB usavam para interrogar as Testemunhas. Depois disso, ele mesmo se viu obrigado a se esconder para não ser preso.

Em 1956, os relatórios revelaram que 16 irmãos, em todas as partes da Polônia, tinham morrido por causa de torturas pelo UB ou por se lhes negar tratamento médico. (Mais casos vieram à tona posteriormente.) Os corpos desses irmãos geralmente eram mandados às famílias enlutadas em caixões fechados, que não se lhes permitia abrir. Em outros casos, só souberam da morte dum ente querido muitos meses depois.

Julgamento atrás de portas cerradas

Sobreviventes deste tratamento desumano descreveram as tentativas feitas para obrigá-los a depor contra os diretores da Sociedade. Dois irmãos cederam sob tortura e se deixaram obrigar a dar falso testemunho. Mas o UB fabricava também sua própria “evidência”.

Usando isso, encenaram um julgamento atrás de portas cerradas, em Varsóvia, de 16 a 22 de março de 1951. Apesar de se colocarem em perigo, outras Testemunhas de Jeová se ajuntaram diante do tribunal em grande número, esperando que sua presença incentivasse seus irmãos a continuar fiéis.

Por usarem ambulâncias de paramédicos, levadas dentro do pátio interno, as autoridades tentaram levar os acusados ao tribunal sem serem vistos. Mas, quando os presos saíram das ambulâncias, os filhos de nossos irmãos que haviam conseguido ficar perto do muro do pátio gritaram palavras de encorajamento, para lembrar aos acusados que não estavam sozinhos.

Sete irmãos ficaram no banco dos réus: quatro membros da diretoria da pessoa jurídica da Sociedade na Polônia e mais três irmãos que por vários motivos eram encarados como importantes para a organização. O promotor público exigiu a pena capital para Wilhelm Scheider. A Corte sentenciou-o à prisão perpétua. Os outros três diretores foram sentenciados cada um a 15 anos de prisão, e os demais receberam sentenças menores. Todos foram colocados em prisões de segurança máxima.

O que viria a seguir?

Preocupando-se amorosamente com todas as congregações, dois superintendentes de distrito que haviam conseguido evitar ser presos, junto com diversos outros irmãos experientes, começaram a fazer planos para suprir os irmãos de alimento espiritual. Desenvolveram um sistema de comunicações que se mostrou eficaz por quase 40 anos. Designaram-se superintendentes de circuito para continuar o serviço antes feito pelos que haviam sido presos, e no fim de 1952, apesar de constantes hostilizações, o número dos que pregavam a outros sobre o Reino de Deus aumentara para 19.991!

Não era isto que as forças de segurança haviam esperado. Seu plano era livrar a Polônia das Testemunhas de Jeová num período de dois anos. Irados pelo seu fracasso, tramaram o que pensavam ser o golpe final. Houve uma nova onda de prisões. Quatro membros da Comissão do País, bem como outros irmãos e irmãs zelosos, foram presos. Fizeram-se planos para realizar um julgamento ostensivo em Lodz.

Nos meses antes do julgamento, um dos irmãos faleceu, diversos sofreram colapso nervoso, e mais outro, Zygfryd Adach, foi libertado por causa duma doença grave que contraiu na prisão. Depois de mais de dois anos de preparativos, o julgamento de cinco dias começou em 10 de março de 1955. Resultou nos mais severos veredictos desde o julgamento de Varsóvia. Três membros da Comissão do País, Jan Lorek, Tadeusz Chodara e Władysław Szklarzewicz foram sentenciados cada um a 12 anos de prisão.

Amedrontou isso as outras Testemunhas a ponto de se calarem?

Jovens demonstram fé e coragem

Até mesmo jovens escolares, Testemunhas, apegavam-se firmemente à sua fé. É verdade que nas escolas eles eram bombardeados com idéias atéias. Os que resistiam eram escarnecidos. Muitas vezes incluíam-se matérias políticas no currículo, e era compulsório participar em desfiles ou em manifestações. Algumas escolas incluíam aulas militares. Aqueles que objetavam por motivo de consciência a participar nisso usualmente eram expulsos.

Mas, em vez de ficarem desanimados, muitos destes jovens das Testemunhas ingressaram no serviço de pioneiro, fazendo assim uma grande contribuição para a divulgação da mensagem do Reino. Em 1954, com a devida cautela, realizaram-se com os pioneiros diversas reuniões especiais que duraram vários dias. Transmitiram-se-lhes algumas das informações dos discursos proferidos em Nova York durante a Assembléia Internacional Sociedade do Novo Mundo de 1953. Que fonte de revigoramento espiritual! Quanta força lhes dava serem lembrados assim de que faziam parte da amorosa fraternidade mundial do povo de Jeová!

E o que faziam os irmãos na prisão?

Prisões: campos para a evangelização

Władysław Przybysz, encarcerado pela primeira vez de 1952 a 1956, e libertado pela quarta vez em 1969, recorda: “A sentença à prisão era aceita como designação de trabalho em território não acessível a outros.” Em resultado da pregação feita atrás das grades da prisão, muitos presos souberam de Jeová e dos seus maravilhosos propósitos. Os irmãos encarcerados organizavam também pequenos grupos e providenciaram realizar diariamente breves reuniões. Mesmo atrás das grades da prisão, “o número dos discípulos multiplicava-se”. — Atos 6:7.

Graças ao comportamento exemplar das Testemunhas, houve aos poucos uma mudança de atitude por parte de alguns do pessoal carcerário. Romuald Stawski lembra-se de que em uma prisão mudou-se o cardápio, a fim de que as Testemunhas não fossem mais testadas por se lhes dar comida contendo sangue. Certo dia, trouxeram-se à cela duas grandes panelas com comida, uma delas cheia com chouriços de sangue, a outra com sopa de legumes. “Esta [sopa] é apenas para as Testemunhas”, enfatizou o guarda.

Abrem-se as portas das prisões

No entanto, em 1956, a atitude oficial para com as Testemunhas de Jeová começou a mudar. Na primavera, um superintendente de distrito, de Cracóvia, foi solto da prisão, sendo informado de que as autoridades estavam prontas para negociar com as Testemunhas. O assunto foi considerado e escolheu-se uma delegação oficial de três irmãos para se dirigir ao Departamento de Assuntos Religiosos.

Os três irmãos salientaram que estavam apenas interessados em obter informações, que os únicos autorizados a negociar eram os encarcerados diretores da Sociedade. Mas o Departamento de Assuntos Religiosos não mostrou nenhuma disposição de tratar com condenados. Uma segunda reunião também terminou sem resultado aparente quando os três irmãos salientaram que, no conceito das Testemunhas, os diretores encarcerados eram inocentes.

Pouco depois, porém, muitos irmãos e irmãs, alguns encarcerados desde 1950, foram soltos. Entre eles havia três membros da diretoria e os membros da Comissão do País, que tinham sido sentenciados mais tarde. Por fim, em agosto de 1956, Wilhelm Scheider também foi solto. O que tinha acontecido?

Envolvia mais do que apenas mudanças políticas. Os dois irmãos já mencionados, que haviam dado testemunho falso, retrataram-se, e nesta base se cancelaram formalmente as acusações contra os diretores. No entanto, havia mais. As autoridades podiam ver que as Testemunhas de Jeová aumentavam em número, e isso rapidamente. Em três anos, atingiu-se o número de 37.411 publicadores do Reino, um aumento de 87 por cento! Mais tarde, em 1972, um agente bem-informado do serviço secreto admitiu: “Vemos que divulgar os julgamentos das Testemunhas de Jeová e sua propaganda não enfraqueceu a organização, mas teve exatamente um efeito contrário.” A lealdade a Jeová saiu vencendo!

Maior atividade em face de obstáculos legais

Uma vez soltos, os irmãos deram pronta atenção às necessidades espirituais das congregações e à pregação pública das boas novas. Forneceu-se aos irmãos o Ministério do Reino, que dava bom conselho sobre como pregar e fazer discípulos. Apesar de contínuas dificuldades, as congregações estavam sendo visitadas regularmente por superintendentes viajantes e eram zelosas nas atividades teocráticas.

A Constituição polonesa garantia oficialmente a liberdade de praticar religião, e as Testemunhas de Jeová aceitavam esta garantia. Pregar de casa em casa era parte da sua adoração, de modo que se empenhavam nisto. Ainda assim, quando se empenhavam no serviço de campo, os irmãos eram presos pela polícia “por fazerem parte” do que era descrito como “associação cuja existência, constituição e objetivo é ocultado ao Estado por um manto de mistério”. Estava para começar uma nova fase da luta legal pela liberdade religiosa.

Os irmãos repetiam pacientemente sua posição nos tribunais e em cartas que eles e seus representantes legais escreviam às autoridades. Por fim, em maio de 1963, sete magistrados da Corte Suprema decidiram: “Dissolver a associação religiosa logicamente significa a proscrição de toda forma de atividade organizacional, mas não influencia o culto individual ou particular, que não é punível.” Os irmãos entenderam que isto significava que a pregação individual de casa em casa não devia ser considerada ilegal.

As Testemunhas continuavam então com ainda mais vigor o trabalho da colheita espiritual. (Mat. 9:37) O número de publicadores ativos aumentou rapidamente, em especial nas cidades grandes. Por outro lado, a situação nas regiões pouco povoadas era menos positiva. De modo que os irmãos no sul da Polônia começaram a organizar grupos de pioneiros auxiliares a serem enviados a territórios em que havia mais necessidade. Mais tarde, eles ficaram conhecidos como centros de pioneiros. Cada grupo, usualmente de doze ou mais pessoas, ficava em casas de fazenda pertencentes a irmãos, ou muitas vezes em tendas.

Esta atividade ganhou impulso quando muitos publicadores serviram como pioneiros auxiliares pelo menos uma vez por ano, com base nos centros de pioneiros. Estudos bíblicos recém-começados eram confiados aos publicadores da congregação mais próxima. Este método se usa às vezes até mesmo hoje em dia. É evidente que isso tem tido a bênção de Jeová.

Progresso em suprir alimento espiritual

Jeová, como Pai amoroso, também fornece ao seu povo alimento espiritual, fazendo-o até mesmo quando este sofre adversidades. Apesar de perseguição, as publicações eram entregues às congregações de forma bastante regular.

No começo, havia disponíveis apenas primitivos mimeógrafos manuais para a reprodução de publicações bíblicas. Um irmão recorda: “A qualidade de impressão era inferior e o número de exemplares era pequeno. A impressão por mimeógrafo exigia muito papel. Este tinha de ser levado ao lugar onde se fazia o serviço, e as revistas prontas tinham de ser distribuídas, naturalmente, tudo isso sob a cobertura da escuridão. Quando o lugar era descoberto pela polícia, significava diversos anos de prisão para o senhorio e para os que trabalhavam ali.”

No entanto, precisava-se mais do que apenas a capacidade de reproduzir publicações. Havia necessidade de aumentar a quantidade do que se imprimia e de melhorar a qualidade da impressão. Portanto, em fins dos anos 50, conseguiu-se uma pequena impressora off-set Rotaprint; mais tarde foram acrescentadas outras. O gerente bondoso duma pequena gráfica em Cracóvia ensinou aos irmãos a usar a impressora e a preparar estênceis de alumínio. Esses estênceis eram muito mais duráveis, de modo que se podiam fazer mais impressões em menos tempo.

Mais tarde, um irmão dominou a arte de fotogravura química — que aprendeu até mesmo na Academia de Ciências polonesa. Daí, os próprios irmãos passaram a fabricar o equipamento necessário. Este mostrou ser um sucesso. O tamanho dos tipos podia então ser fotograficamente reduzido, colocando-se assim mais texto na mesma quantidade de papel, que era difícil de conseguir. Além das revistas, imprimiram-se livros, o primeiro deles sendo Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado, publicado na Polônia em 1960.

Havia muitos problemas. Por exemplo, precisava-se então de mais energia elétrica. A fim de evitar suspeitas, os irmãos fizeram com que essa eletricidade não passasse pelo medidor. Mas por motivos de consciência, faziam remessas anônimas de dinheiro à companhia elétrica. Certa vez, forças de segurança descobriram perto de Gdansk uma das “padarias” das Testemunhas, conforme eram chamadas as gráficas. Os que trabalhavam ali foram levados ao tribunal e acusados, entre outras coisas, de furtar eletricidade. Mas quando os irmãos provaram que realmente haviam feito remessas anônimas de dinheiro pela eletricidade usada, esta acusação foi retirada. Deu-se um excelente testemunho.

Segundo estatísticas das forças de segurança, entre 1956 e 1969, elas descobriram e puseram fora de operação 34 dos centros de produção e distribuição de publicações das Testemunhas. Uma das suas autoridades, de Bydgoszcz, gabou-se: “O Serviço de Inteligência está tão bem organizado, que não leva mais de seis meses para localizar uma gráfica secreta das Testemunhas de Jeová.”

Este era um exagero e tanto. Não obstante, toda Rotaprint confiscada significava uma verdadeira perda. Estas máquinas complexas não eram fabricadas na Polônia, e por causa do controle do Estado, era muito difícil comprá-las. Portanto, grande parte das que tínhamos — cerca de 50 — foram produzidas pelos nossos próprios irmãos, com o apoio de Jeová.

Poderia a organização ser enfraquecida por dentro?

Visto que os ataques diretos não foram bem-sucedidos, as autoridades tentaram destruir a unidade das Testemunhas agindo por dentro. Inimigos começaram a publicar uma Sentinela falsificada, com informações que caluniavam servos leais de Jeová. Uma não identificada “comissão de doze” circulava cartas — usando endereços tirados dos arquivos do serviço secreto — que atacavam violentamente irmãos de destaque. Mas as ovelhas conheciam a voz do seu Pastor e podiam diferenciar a verdade da mentira. — João 10:27.

Lá pelo fim dos anos 50, era evidente que o abrandamento de 1956 estava para acabar. Parecia apropriado proclamar as boas novas na maior escala possível enquanto ainda podia ser feito. Houve notáveis aumentos, mas entre alguns se desenvolveu um insalubre espírito de competição. Em resultado disso, muitos publicadores novos não estavam à altura dos requisitos bíblicos. O interessado começava a ser considerado publicador se apenas acenasse que sim, ao ser perguntado se havia falado a alguém sobre a esperança do Reino, assim como fazem as Testemunhas de Jeová. Por conseguinte, passou a ser usado o lema: “Hoje interessado, amanhã publicador.” Muitos desses nem assistiam às reuniões. Assim, em março de 1959, quando relataram 84.061 publicadores, nem mesmo tantos haviam assistido à Comemoração. Uma situação assim podia facilmente enfraquecer a força espiritual da organização. — 1 Cor. 3:5-7.

Adotaram-se medidas corretivas. Aos poucos, o número de publicadores caiu, estabilizando-se finalmente em torno de 50.000. Levou quase 29 anos — até janeiro de 1988 — para se atingir um novo auge de publicadores. Mas esta vez eram mesmo publicadores, 84.559 deles!

Coordenada uma ação jurídica

Em vista dos numerosos casos em tribunais com que as Testemunhas se confrontavam, os irmãos adotaram medidas para coordenar a sua defesa jurídica. Havia uns poucos advogados hábeis e corajosos que estavam dispostos a representá-las. Apresentavam-se sólidos argumentos jurídicos, mas dava-se ênfase ao que as Testemunhas crêem e ensinam da Palavra de Deus. Em conseqüência disso, todo julgamento resultava num testemunho tanto para os juízes como para o público. Romuald Stawski, que cuida dos assuntos jurídicos das Testemunhas de Jeová, lembra-se de certo mês em que houve 30 julgamentos, sem contar aqueles referentes a assuntos de neutralidade cristã. A assistência aos julgamentos de Testemunhas aumentou até atingir umas 30.000 pessoas por ano. — Mat. 10:18.

Às vezes, autoridades governamentais expressavam abertamente seu ódio às Testemunhas. Por exemplo, em Poznan, durante o julgamento de seis superintendentes viajantes, uma irmã testificou que o promotor público lhe dissera que, se Hitler ainda estivesse vivo, ‘ele resolveria logo a questão das Testemunhas de Jeová’. Este promotor acrescentou mais tarde que estaria pessoalmente disposto a fuzilar milhares de Testemunhas.

Mas por que motivo? As atividades religiosas das Testemunhas de Jeová não constituíam nenhuma ameaça às autoridades. Isto foi claramente demonstrado em outro julgamento em Poznan, quando um advogado de defesa relembrou que uma multidão havia invadido uma penitenciária em 1956, soltando todos os presos, inclusive três Testemunhas sentenciadas a muitos anos de prisão. Mas — assim rezavam as minutas do tribunal militar da guarnição — todas as três Testemunhas “se entregaram imediata e voluntariamente à Milícia do Povo”.

Mais “armas” — sem êxito duradouro

As autoridades não pararam de tentar achar alguma “arma” que atingiria seu objetivo de pôr a organização dos servos de Jeová sob o seu controle. Em 1961 talvez achassem que estavam conseguindo isso. Por prometerem maior liberdade de atuação, induziram 15 irmãos espiritualmente fracos a requerer o registro duma denominação que atuaria independente da associação internacional das Testemunhas de Jeová. Mas os irmãos em geral não apoiavam isso. Dois anos depois, o próprio requerimento de registro foi rejeitado.

De modo que os opositores tentaram outro jeito. Procuraram algumas pessoas “influentes” que pudessem ser chantageadas. Novamente, pareceram ter êxito. Acharam um irmão, num cargo de grande responsabilidade, que violava as normas cristãs de moralidade. Os irmãos designados para verificar as acusações levantadas contra este superintendente foram de repente presos. Ele destruiu documentos que o incriminavam. Outros irmãos começaram então a receber cartas, supostamente de amigos, que desacreditavam irmãos respeitados ou então tentavam isentar o errante, ou vice-versa. É compreensível que isso causasse confusão entre os irmãos, que era exatamente o que as autoridades queriam.

Mas Jeová sabia o que estava acontecendo. (Heb. 4:13) Com o tempo, apresentou-se prova indisputável que mostrava o que realmente tinha acontecido, e o imoral que se deixara usar como joguete pelos opositores foi desassociado. A armadilha foi desfeita. Assim, mais uma arma contra os servos de Jeová não teve êxito duradouro. — Sal. 124:7.

Em 1972, os opositores pensavam ter encontrado uma nova arma. Um agente do serviço de segurança colecionara por muitos anos matéria caluniadora contra as Testemunhas. Usou-a então para escrever uma tese no empenho de colar grau como Doutor em Artes. Intitulada “O Conteúdo e a Forma da Propaganda Usada Pela Seita das Testemunhas de Jeová na República Popular da Polônia”, destinava-se a servir mais tarde como manual para autoridades jurídicas na sua luta contra as Testemunhas.

Antes de se lhe poder conferir o grau, porém, a tese tinha de ser defendida num debate público. Usualmente era apenas uma formalidade. Mas, assim que os irmãos souberam a data e o lugar onde devia acontecer, fizeram disso um assunto de oração. Apesar de terem pouco tempo para se preparar, decidiram aproveitar esta oportunidade para defender o nome de Jeová e seu povo.

Assim, em 31 de maio de 1972, quando Henryk Skibiński apresentou sua maldosa tese na Universidade em Torun, as Testemunhas de Jeová estavam no auditório. Skibiński afirmou que as Testemunhas de Jeová eram hostis ao Estado e a seus aliados, que eram espiões duma superpotência inamistosa, e que, entre outras coisas, eram contra a ciência, as transfusões de sangue e a evolução. Mas ele se sentiu obrigado a mencionar que eram conhecidas como cidadãos conscienciosos e honestos. O professor que ia conferir-lhe o grau, bem como os revisores, falaram então. Após isso, pediu-se que os da assistência se expressassem.

O irmão Jan Waldemar Rynkiewicz, de Bydgoszcz, aproveitou a oportunidade para falar extensamente, refutando de modo cabal a acusação de que as Testemunhas de Jeová eram hostis ao Estado e que eram espiões. Salientou incoerências na tese do Sr. Skibiński e a parcialidade na sua argumentação. (Por exemplo, ele havia omitido totalmente que os tribunais tinham abandonado a acusação de espionagem e tinham vindicado muitas das Testemunhas.) Além disso, o irmão Rynkiewicz chamou especialmente atenção para a contribuição que as Testemunhas fizeram para a cirurgia sem sangue — outro ponto que o Sr. Skibiński tinha omitido. A junta examinadora aceitou os documentos apresentados pelo irmão Rynkiewicz. Os irmãos Zygmunt Sawicki e Józef Rajchel, também presentes no auditório, apresentaram então corajosamente o conceito bíblico sobre o envolvimento do cristão na política e nos conflitos mundanos. Todos na assistência prestaram detida atenção. Durante a sua tentativa de refutação, o Sr. Skibiński perdeu o controle, e o presidente teve de fazê-lo calar. Não se lhe conferiu o grau de Doutor em Artes, para o grande vexame dos parentes e amigos de Skibiński, que ficaram de pé com flores nas mãos, mas sem ter ninguém a quem congratular.

Assim, exatamente 50 anos depois de as Testemunhas terem tido um famoso debate com jesuítas em Cracóvia, outro grupo de Testemunhas também travara uma batalha vitoriosa — esta vez com um adversário igualmente desesperado e ateu. Daquele tempo em diante, as autoridades ficaram um pouco menos entusiásticas para tentar justificar sua perseguição das Testemunhas. O modo em que as autoridades lidavam com as Testemunhas de Jeová também começou a mudar.

Congressos em florestas

Em fins dos anos 60, as Testemunhas da região de Śląsk Cieszyński, além de realizarem regularmente reuniões congregacionais em lares particulares, passaram também a reunir-se em grupos maiores na floresta, durante os verões. Pouco depois fizeram-se arranjos com o fim de centralizar a preparação do programa de congressos, e estas reuniões, chamadas de congressos em florestas, eram realizadas no país inteiro.

No princípio, as autoridades processavam os organizadores e os presentes nos congressos. Mas causavam as Testemunhas realmente algum dano? Consideravam simplesmente a Palavra de Deus. Com o passar do tempo, as autoridades se acostumaram com essas assembléias do povo de Jeová. Elas aumentavam constantemente. No começo vinham apenas algumas dezenas de irmãos; por volta dos anos 70, havia usualmente centenas.

Em fins dos anos 70, o programa incluía um drama bíblico, e, muitas vezes, arranjos para o batismo. Passaram a usar-se microfones, alto-falantes e gravadores. Em alguns lugares, estes congressos assumiam um caráter mais normal, sendo realizados em lugares específicos, preparados de antemão.

Visitas de membros do Corpo Governante

No fim de novembro de 1977, Frederick Franz, Theodore Jaracz e Daniel Sydlik, da sede internacional das Testemunhas de Jeová, receberam permissão para visitar a Polônia. Esta foi a primeira visita oficial de membros do Corpo Governante. Eles falaram a superintendentes, pioneiros e Testemunhas antigas em diversas cidades, discursando sobre o progresso teocrático em outras terras e respondendo a muitas perguntas. As congregações corresponderam à visita com maior atividade do Reino.

Um ano mais tarde, Milton Henschel e Theodore Jaracz visitaram a Polônia. Esta vez fizeram uma visita de cortesia ao Departamento de Assuntos Religiosos. Nos anos seguintes, o Corpo Governante pôde dar mais atenção à obra na Polônia e estabelecer contato mais estreito com superintendentes em todo o país. Os irmãos responsáveis na Polônia, recebendo mais desta bem-vinda orientação e influência teocrática, estavam assim em condições de implementar arranjos e fazer provisões para a organização local, similar aos que beneficiam o povo de Deus em muitos outros países. Ao mesmo tempo, observou-se uma notável mudança, quando representantes do governo passaram a ser mais tolerantes conosco e com nossas atividades.

Usufruindo a hospitalidade austríaca

No fim dos anos 70, alguns dos irmãos puderam assistir a congressos de distrito fora da Polônia, primeiro em Lille, na França, e mais tarde na Dinamarca. Daí, no verão de 1980, aconteceu algo incomum.

Embora a organização das Testemunhas de Jeová ainda estivesse proscrita, cerca de 2.000 Testemunhas receberam permissão oficial para assistir ao Congresso de Distrito “Amor Divino” em Viena, na Áustria. Os irmãos austríacos acolheram seus convidados com hospitalidade. Numa grande tenda armada para as sessões em polonês, todos acompanharam o programa com apreço.

Para encerrar o congresso, os diversos grupos lingüísticos reuniram-se todos no estádio vizinho. Unidos, cada grupo na sua própria língua, cantaram “A Ti Somos Gratos, Jeová”. Mesmo depois de terem participado juntos na oração final, ninguém queria ir embora. Os amorosos anfitriões austríacos haviam sido hospitaleiros não só com os convidados da Polônia, mas também com os da Hungria, da Iugoslávia e de outros países. Então, no meio dos aplausos prolongados, os olhos se encheram de lágrimas de alegria. Eram os verdadeiros cristãos alegrando-se com a união que eliminara as barreiras dolorosas tão típicas do velho mundo que está morrendo!

No ano seguinte, no Congresso “Lealdade ao Reino”, realizado na Áustria, estavam presentes mais de 5.000 Testemunhas polonesas. Esta vez, os irmãos austríacos se reuniram numa tenda e deixaram o estádio para os seus convidados. Além disso, permitiu-se aos convidados poloneses ajudar em organizar o congresso, obtendo assim experiência valiosa que mais tarde se mostraria proveitosa quando preparassem congressos grandes na Polônia.

Uma década de congressos históricos no próprio país

No mesmo ano em que essas 5.000 Testemunhas polonesas realizaram sessões de congresso num estádio na Áustria, autoridades locais em Gdansk permitiram que as Testemunhas fizessem um congresso no Salão Olivia. Em 5 de julho de 1981, havia 5.751 pessoas presentes. Também às Testemunhas na região de Cracóvia se concedeu naquele ano o uso dum pequeno ginásio de esportes. Ali, em Skawina, realizaram-se dois Congressos “Lealdade ao Reino”.

As coisas realmente estavam melhorando. Mas, então, em 13 de dezembro de 1981, a Polônia foi colocada sob lei marcial! Policiais armados e patrulhas militares assumiram seus postos em todo o país. Todos os carros que passavam eram revistados. Proibiram-se as reuniões públicas. O que significaria isso para nós?

Durante as primeiras semanas, tornou-se evidente que as Testemunhas, conhecidas pela sua neutralidade cristã, podiam reunir-se em lares particulares sem dificuldades. Apesar de restrições impostas às viagens, os superintendentes de circuito ainda podiam visitar as congregações. As publicações, embora ainda produzidas fora da vista do público, continuavam a chegar aos irmãos.

Mas, aproximava-se rapidamente o verão de 1982. O que aconteceria com os congressos de distrito? As fronteiras estavam fechadas, de modo que ninguém podia viajar para outro país. A aplicação rígida da lei marcial excluía a possibilidade de haver congressos em florestas. O que se podia fazer? Os irmãos dirigiram-se a donos de ginásios de esportes, perguntando se podiam ser alugados para congressos. Concedeu-se a permissão! Esta notícia foi recebida com entusiasmo, e realizaram-se em todo o país mais de 80 banquetes espirituais.

Em 1983, realizaram-se menos, porém, maiores congressos de distrito, geralmente em salões alugados. Pela primeira vez se permitiu que Testemunhas de países da Europa Ocidental assistissem a eles. Ao todo, houve 114.166 presentes, e 2.388 foram batizados.

Seria possível que as Testemunhas de Jeová realizassem na Polônia congressos internacionais de grandes proporções? Durante o verão de 1984, os irmãos pediram às autoridades permissão para alugar quatro estádios grandes para esses congressos em 1985. Passaram-se meses sem resposta. Até meados de fevereiro de 1985 havia incerteza sobre se a permissão seria concedida. Por fim, recebeu-se a aprovação! Restava pouco tempo. Empreendeu-se então um trabalho intenso para cuidar dos muitos pormenores envolvidos na realização de quatro congressos de três dias, em Chorzow, em Varsóvia, em Wroclaw e em Poznan. Mais de 94.000 pessoas estiveram presentes a eles, inclusive centenas de convidados do estrangeiro. Quanto se alegraram de ver 3.140 novos servos de Jeová serem batizados! Com profundo apreço prestavam detida atenção ao programa, incluindo discursos proferidos por quatro membros do Corpo Governante.

A televisão polonesa fez mais tarde dois documentários sobre a vida e a atividade das Testemunhas de Jeová na Polônia. Estes programas incluíam cenas dos congressos. Ambos os programas, intitulados “Boas Novas Sobre o Reino” e “Mantenedores da Integridade”, foram apresentados na televisão nacional.

Firme apego à ordem teocrática

Não se deve presumir, porém, que todas as pressões de fontes oficiais tivessem terminado. Embora não se impedisse às Testemunhas de pregar de casa em casa em nível congregacional, os irmãos em cargos de responsabilidade levavam um pesado fardo. Lembre-se de que a organização das Testemunhas de Jeová ainda não tinha reconhecimento legal; a proscrição nunca fora oficialmente anulada. Os congressos tinham de ser providenciados por irmãos escolhidos que obtinham a permissão como pessoas particulares. Houve tentativas de censurar partes do programa do congresso. Mas estes irmãos estavam decididos a não fazer nada sem a aprovação do Corpo Governante.

Em 1984 surgiu uma situação envolvendo os superintendentes viajantes. Um decreto da lei marcial ainda em vigor exigia que todos os homens entre 20 e 45 anos se ocupassem em trabalho secular. À base desta lei, superintendentes viajantes foram convocados aos departamentos religiosos provinciais do governo. Ali se apresentou aos irmãos um certificado preparado, com a designação de seu território. À primeira vista parecia como a legalização do seu trabalho, mas os certificados tinham de ser renovados periodicamente, e qualquer mudança de território ou de designação tinha de ser notificada. Os irmãos rejeitaram firmemente este arranjo. Suas designações como pastores do rebanho eram teocráticas, não sujeitas à aprovação ou à regulamentação de autoridades seculares.

Alimento espiritual em abundância

Atualmente, as Testemunhas de Jeová na Polônia têm belas publicações para estudo pessoal e para uso no seu ministério público. Mas o que levou a esta situação não foi um caminho de rosas. Por muitos anos, seu equipamento de impressão fora confiscado quando era encontrado. Depois as autoridades fizeram esforços para obter pelo menos um controle semi-oficial sobre o que os irmãos produziam nas suas “padarias”, ou gráficas.

Os irmãos, porém, sugeriram que se lhes permitisse importar livros, brochuras e revistas do exterior. Iguais a outras publicações religiosas, segundo a lei, estas estariam isentas da censura. A princípio, isto parecia ser um objetivo impossível de alcançar, embora os irmãos enfatizassem o valor socialmente educativo das suas publicações baseadas na Bíblia. Mas a sua persistência finalmente obteve bons resultados.

Em 1984, concedeu-se permissão para importar dos Estados Unidos até 60.000 exemplares de Meu Livro de Histórias Bíblicas. Mais tarde, conseguiram a aprovação para quantidades ainda maiores das brochuras “Eis que Faço Novas Todas as Coisas” e O Nome Divino Que Durará Para Sempre. Levou um pouco mais de tempo para se poder importar o livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra, mas uma vez conseguido, imagine a alegria de receberem um quarto de milhão de exemplares dele! Depois disso, usualmente com menos dificuldades, os livros e as brochuras, na maioria dos casos, foram supridos pela congênere da Sociedade em Selters/Taunus, na Alemanha. Em 1989, esses incluíam o livro A Vida — Qual a Sua Origem? A Evolução ou a Criação?, um assunto apropriado, mas controverso, em países ateus.

Em meados de 1988 — quase um ano antes de a Sociedade Torre de Vigia tornar-se representante legal das Testemunhas de Jeová na Polônia — começaram a chegar regularmente em quatro cores edições quinzenais de A Sentinela e mensais de Despertai! em polonês. Atualmente, recebem-se centenas de milhares de exemplares, e este número aumenta constantemente. As pessoas, em todo o país, ficaram acostumadas a ver as Testemunhas de Jeová oferecer-lhes A Sentinela e Despertai! em polonês nas ruas e nas estações de trem, e também quando os publicadores visitam-nas nos seus lares. Desde 1.º de abril de 1989, A Sentinela em polonês é publicada simultaneamente com a edição em inglês, assim como se dá com dezenas de outras línguas.

Esta enorme quantidade de publicações, de alta qualidade tanto na forma como no conteúdo, tem ajudado a divulgar as boas novas do Reino de Deus numa escala sem precedentes. O número de estudos bíblicos dirigidos para pessoas sinceras aumentou para mais de 80.000, ajudando cada vez mais as pessoas a tomar o caminho que conduz à vida eterna. É evidente que Jesus Cristo abriu bem a porta da oportunidade neste país. — Compare com Revelação (Apocalipse) 3:7, 8.

Reaparecem os Salões do Reino

Durante os anos de proscrição severa, naturalmente, não havia Salões do Reino. Mas no início dos anos 80, começaram a reaparecer. Não eram oficiais e existiam em prédios pertencentes a Testemunhas. Em 1986, realizou-se um seminário para representantes de congregações que já haviam construído um salão ou que estavam em vias de fazer isso. Consideraram-se em pormenores assuntos técnicos e legais.

Em maio de 1993, os irmãos tinham 644 Salões do Reino próprios. Outros 257 eram alugados e mais 130 estavam em construção.

Por fim o reconhecimento legal!

Lá em 1949, o requerimento pedindo o reconhecimento legal das Testemunhas de Jeová fora rejeitado pelas autoridades governamentais. Em anos subseqüentes, os irmãos tentaram repetidas vezes obter o reconhecimento legal, para que pudessem representar melhor os interesses das Testemunhas de Jeová na Polônia. Muitas vezes simplesmente não houve resposta.

Daí, em 1985, para facilitar a importação de publicações, registrou-se uma firma aprovada pelo tribunal sob o nome de Strażnica—Wydawnictwo Wyznania Świadków Jehowy w Polsce (Torre de Vigia — Casa Publicadora da Religião das Testemunhas de Jeová na Polônia). Foi um passo importante na direção de legalizar nossa atividade publicadora.

Em 1987, apresentou-se ao Departamento de Assuntos Religiosos outro estatuto proposto. Este fora cuidadosamente preparado sob a orientação do Corpo Governante. Seguiram-se dois anos de correspondência e de debates. Entre os membros da delegação que falou com as autoridades estavam dois irmãos que tinham assinado o primeiro requerimento de registro, em 1949. Imagine sua alegria quando 40 anos depois, em 12 de maio de 1989, o diretor do Departamento de Assuntos Religiosos aprovou os estatutos da Strażnica — Towarzystwo Biblijne e Traktatowe, Zarejestrowany Związek Wyznania Świadków Jehowy w Polsce (Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, Associação Religiosa Registrada das Testemunhas de Jeová na Polônia)! Todos os meios noticiosos publicaram esta informação, e as Testemunhas de Jeová no mundo inteiro se alegraram!

A diretoria original da Associação compunha-se de Harald Abt, Zygfryd Adach, Stanisław Kardyga, Edward Kwiatosz, Franciszek Mielczarek, Antoni Tomaszewski e Adam Wojtyniak. No entanto, nos anos desde a aprovação dos estatutos, a morte tirou dois desses irmãos — Harald Abtb e Edward Kwiatosz, os quais serviram fielmente a Jeová até a morte. Eles foram substituídos por Wiesław Jaśko e Jan Klaudiusz Skowron.

Obter o reconhecimento legal das autoridades seculares foi importante aqui na Polônia, mas, naturalmente, é secundário a ter o reconhecimento e a aprovação de Jeová Deus, cuja soberania será em breve vindicada perante toda a criação. — Rev. 4:11.

Em escala maior do que nunca antes

Pouco depois de se conseguir o registro legal, realizaram-se em Varsóvia, em Chorzow e em Poznan os Congressos “Devoção Piedosa”, internacionais, no verão de 1989. Congressistas procedentes de quase todos os continentes tiveram o prazer de estar presentes, inclusive milhares procedentes de outros países da Europa Oriental, bem como cinco membros do Corpo Governante. O programa para congressistas estrangeiros, em Chorzow, Poznan e Varsóvia foi simultaneamente traduzido em muitas línguas. Foi uma grande alegria ter uma assistência total de 166.000 e o batismo de 6.093 pessoas.

Depois, em 9-12 de agosto de 1990, no Estádio Dziesięciolecia, em Varsóvia, ocorreu outro evento histórico. O maior estádio da capital da Polônia ficou lotado. Congressistas da União Soviética ficavam sentados num lado, e seus irmãos e anfitriões poloneses, do outro. Foi uma experiência inesquecível ao passo que cada grupo escutava o programa na sua própria língua.

Apenas poucos dias antes, o êxito do congresso ficara ameaçado. Autoridades soviéticas tinham anunciado restrições às viagens de cidadãos do seu país à Polônia. Agentes de viagem soviéticos avisaram as Testemunhas de que seriam mandados de volta na fronteira. Mas, confiando em Jeová, os irmãos continuaram a fazer os planos para o congresso. Bem na hora, postergou-se para depois do congresso a data da vigência das restrições a viagens. Imediatamente, mais de 17.000 Testemunhas soviéticas atravessaram a fronteira. O programa de suculentos petiscos espirituais que usufruíram foi uma recompensa abundante pelos sacrifícios que tiveram de fazer para estar presentes.

Este de modo algum foi o fim. No ano seguinte, em 1991, realizaram-se mais congressos, esta vez em mais cidades. De novo evidenciava-se a bênção de Jeová. Seis dias antes de começar o congresso em Chorzow, a equipe dum famoso grupo de rock, programado a ter um concerto no estádio, armou um grande cartaz na torre do estádio. Retratava imagens e símbolos satânicos. A Comissão do Congresso protestou diversas vezes, pedindo que fosse retirado, mas em vão. Recorreram a Jeová em oração feita de coração. Durante a noite, um repentino vendaval destroçou o cartaz, resolvendo assim o problema!

Naquele mesmo ano, mais de 22.000 congressistas poloneses estavam entre os que assistiram aos congressos em Budapeste, na Hungria; em Lviv, na Ucrânia; e em Praga, no que agora é a República Tcheca. Quanto se alegraram nestas oportunidades de compartilhar a fraternidade espiritual com outros da irmandade global!

O que se podia fazer para providenciar na Polônia um centro adequado para dar supervisão às congregações e à sua pregação das boas novas?

Uma sede da Sociedade na Polônia

Depois da perda do escritório em Lodz, em 1950, os departamentos que costuma haver numa sede da Sociedade não ficavam debaixo de um só teto, mas em diversos lugares, por quase 40 anos. Uma vez legalizada a Associação Religiosa das Testemunhas de Jeová, este arranjo podia ser modificado. Escolheu-se uma casa na Rua Prosta, 17, em Marki, perto de Varsóvia, como escritório temporário para dirigir dali a obra. Depois começou a busca de um lugar permanente para se construir a sede.

Em outubro de 1989, comprou-se uma propriedade adequada, incluindo um hotel abandonado, na pequena cidade de Nadarzyn, a uns 20 quilômetros ao sudoeste de Varsóvia. O Escritório Regional de Engenharia da Sociedade na Europa elaborou as plantas, e a construção começou logo depois. Às vezes, até 600 voluntários trabalhavam no canteiro de obras. De modo que, no prazo surpreendentemente curto de um ano e oito meses, foi terminado o conjunto de prédios onde a família de Betel podia morar e trabalhar. Estas novas instalações foram oficialmente dedicadas em 28 de novembro de 1992.

Verem a eficiência dos irmãos e o modo em que trabalhavam espantou os espectadores. Um artigo intitulado “Do Modo de Deus”, no jornal Gazeta Stołeczna (Gazeta Metropolitana), comentou: “O trabalho está em pleno andamento; ninguém fica parado sem fazer nada. Todos usam capacetes de proteção durante o trabalho. Quando se programa para o dia seguinte a concretagem duma laje, os carpinteiros trabalham o tempo necessário para terminar as formas. É inconcebível que os voluntários que chegam para trabalhar no dia seguinte se vejam confrontados com demoras. . . . O principal objetivo das Testemunhas é levar as boas novas a todos os que as quiserem. Os construtores do Lar de Betel não se esquecem da sua missão. Após o trabalho, alguns deles pegam a Bíblia e alguns números de A Sentinela e saem para pregar a Palavra de Deus de casa em casa. Mantêm palestras bíblicas regulares com muitas pessoas em Nadarzyn e nas vizinhanças.”

Os irmãos na Polônia são gratos a Jeová por ter possibilitado que completassem este projeto. Confiam em que a nova sede facilite as atividades teocráticas na Polônia. Desejam também expressar sua gratidão à fraternidade global que, por orações e ajuda prática, os auxiliaram, de muitas maneiras diferentes, a perseverar até o dia de hoje.

Decididos a continuar perseverando

Os esforços dos opositores, tanto religiosos como seculares, de acabar com as Testemunhas de Jeová, fracassaram. As Testemunhas são hoje o terceiro maior grupo religioso na Polônia! Uma grande parte dos da população que não são Testemunhas de Jeová tem parentes ou conhecidos que são. Nos últimos anos, os veículos noticiosos têm escrito e falado muito sobre as Testemunhas, usualmente de modo objetivo e freqüentemente até mesmo positivo. O que mais contribuiu para isso foram os grandes congressos. Mas os irmãos também se tornaram mais eficientes em transmitir informações valiosas aos veículos noticiosos.

De modo similar, no começo de 1991, formaram-se Comissões de Ligação com Hospitais. Os membros dessas comissões têm mantido conversações proveitosas com equipes médicas em muitas das cidades grandes da Polônia. Isto tem produzido uma mudança positiva nas atitudes dos círculos médicos para com as Testemunhas de Jeová e sua posição na questão das transfusões de sangue. O jornal Ziemia Gorzowska relatou sobre o hospital em Skwierzyna: “O pessoal das equipes médicas acostumou-se aos princípios delas; não mais impõe sangue a ninguém.”

Alguns anos atrás, centenas de Testemunhas de Jeová estiveram na prisão por sua posição de neutralidade cristã. Agora, porém, como pregadores batizados e ministros ordenados de Deus, as Testemunhas de Jeová na Polônia são eximidas do serviço militar. Sua eximição é concedida pelo governo à base dum certificado emitido pela Sociedade aos que se habilitam para isso. Embora atualmente não haja nenhuma Testemunha presa por motivo de neutralidade, não se esqueceram daqueles presos que conheceram em anos passados e que mostraram interesse sincero na Palavra de Deus. Continuam a visitá-los, ajudando-os a harmonizar sua vida com a vontade de Deus.

Deu muita alegria ver que em 1993 o número dos publicadores na Polônia atingiu o auge de 113.551. São incontáveis os motivos para essas dezenas de milhares de Testemunhas serem gratas a Jeová! Viram a verdade ser transmitida de geração em geração, a ponto de que algumas famílias polonesas podem hoje orgulhar-se de saber que a quinta geração está erguendo o estandarte da verdade! Sentiram pessoalmente a benignidade da bem unida fraternidade cristã internacional! Presenciaram como Jeová os apoiou em tempos muito difíceis, dando-lhes a necessária força para ficar do lado de Reino celestial de Deus sob Jesus Cristo! Sentiram o fortalecimento da sua fé e o aprofundamento da sua confiança no Criador, refinados por inúmeras provações e perseguições! — Tia. 1:2-4.

Portanto, não é com um espírito de orgulhosa jactância, mas com humilde gratidão pelo cuidado amoroso de Jeová que afirmam a veracidade da promessa divina: “Nenhuma arma que se forjar contra ti será bem sucedida.” — Isa. 54:17.

[Nota(s) de rodapé]

a O termo Ação Católica refere-se a grupos de leigos católicos sob a direção ou o mandato de um bispo, organizados para promover objetivos religiosos, sociais e políticos da Igreja Católica Romana.

b Veja as histórias da vida do irmão e da irmã Abt em A Sentinela de 1.º de setembro de 1980.

[Fotos na página 183]

Aqui, em Cracóvia, Franciszek Puchała ofereceu uma substancial recompensa a quem pudesse provar com a Bíblia certos ensinos fundamentais da Igreja

[Fotos na página 191]

Wilhelm e Amelia Scheider, pouco depois de terem iniciado seu serviço no Betel na Polônia

[Fotos na página 193]

Jan Śmieszko, julgado por blasfêmia neste tribunal em Chojnice; o sacerdote que testificou contra ele admitiu a derrota

[Foto na página 197]

Um grupo de Testemunhas, no sul da Polônia, prontas para a atividade, em 1933

[Foto na página 199]

Quando “Złoty Wiek” (A Idade de Ouro) foi proscrita, os irmãos mudaram-lhe o nome para “Nowy Dzień” (Novo Dia)

[Fotos na página 202]

Alguns daqueles que provaram sua fé em prisões e em campos de concentração: (1) Paulina Woelfle, 5 anos. (2) Jan Otre̗bski, 4 anos. (3) Harald e Elsa Abt; ele, 14 anos; ela, 7. (4) Franz Schipp, 3 anos

[Fotos na página 207]

Em 1940, Jan Sadowski (naquele tempo e hoje) aproveitou a oportunidade para dar extenso testemunho a uma grande multidão neste cemitério

[Foto na página 215]

Entusiasmadas Testemunhas polonesas, 5.300 ao todo, reunidas em 1946 em Katowice para um congresso no após-guerra

[Fotos na página 216]

O prédio em Lodz, em 1948, e a família de Betel que servia ali

[Foto na página 217]

Henryka Żur, martirizada três anos depois de se tirar esta foto, por se recusar a fazer o sinal católico da cruz

[Foto na página 223]

Paweł Muhaluk (à esquerda) e Stefan Behunick, missionários expulsos da Polônia

[Fotos na página 227]

Neste tribunal, em Varsóvia, impuseram-se em 1951 pesadas sentenças às Testemunhas de Jeová. Da direita para a esquerda na fileira da frente: Wilhelm Scheider, Edward Kwiatosz, Harald Abt, Wladyslaw Sukiennik e um guarda

[Fotos na página 235]

Impressoras construídas e usadas pelas Testemunhas sob proscrição para imprimir publicações bíblicas, e um grupo de irmãs que por muitos anos arriscaram a vida e a liberdade para imprimir e entregar essas publicações

[Fotos na página 238]

Aqui, na Universidade de Torun, Jan. W. Rynkiewicz e mais dois refutaram publicamente acusações caluniosas feitas às Testemunhas

[Foto na página 240]

Um “congresso na floresta” em 1981

[Foto na página 251]

A comissão da congênere polonesa em 1992

[Fotos/Mapa na página 170]

(Para o texto formatado, veja a publicação)

Gdansk

Chojnice

Gorzów Wielkopolski

Bydgoszcz

Bialistoque

Nadarzyn

Poznan

Varsóvia

Lodz

Wroclaw

Lublin

Kielce

Katowice

Cracóvia

[Gráficos na página 252]

(Para o texto formatado, veja a publicação)

Publicadores

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