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Uma característica bem distinta do ser humanoA Sentinela — 2004 | 1.° de dezembro
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Uma característica bem distinta do ser humano
Jodie é avaliador de bens em inventários. Ele está ajudando uma cliente a separar e vender itens domésticos da falecida irmã dela. Ao examinar uma antiga lareira, encontra duas caixas velhas usadas para guardar equipamento de pesca. Quando abre uma delas, não pode acreditar no que vê. Embrulhados em papel-alumínio há maços de notas de 100 dólares num total de 82 mil dólares! Jodie está sozinho no quarto. O que deve fazer? Ficar com a caixa e não dizer nada, ou contar à cliente que encontrou o dinheiro?
O DILEMA de Jodie destaca uma das características que nos diferencia dos animais. A Enciclopédia Delta Universal declara: “Uma das características principais do homem é fazer indagações profundas sobre o que deve ou não fazer.” Um cão faminto que encontra um pedaço de carne numa mesa não se pergunta se deve ou não comê-lo. Jodie, porém, tinha a capacidade de pesar o aspecto moral da sua decisão. Se ficasse com o dinheiro, estaria roubando, mas provavelmente não seria apanhado. O dinheiro pertencia à sua cliente, que nem sabia da existência dele. Além disso, a maioria das pessoas na comunidade o considerariam tolo se entregasse o dinheiro.
O que você faria na situação de Jodie? A resposta a essa pergunta depende do código de ética que escolheu seguir.
O que significa ética?
A “ética” tem sido descrita como “o estudo das questões relacionadas ao que é moralmente certo ou errado”. (Collins Cobuild English Dictionary) O autor Eric J. Easton diz: “A ‘ética’ e a ‘moralidade’ têm o mesmo significado básico. A primeira é de origem grega (ethikos) e a segunda, latina (moralis), ambas referindo-se à autoridade do costume e da tradição.”
Por muito tempo, a religião em geral ditou as normas éticas pelas quais as pessoas viviam. Em muitas sociedades, a Palavra de Deus, a Bíblia, teve uma influência muito grande. No entanto, cada vez mais pessoas rejeitam as normas religiosas, considerando-as como nada práticas. Fazem o mesmo com o código de moral da Bíblia — consideram-no antiquado. O que tem preenchido essa lacuna? O livro Ethics in Business Life (Ética no Mundo dos Negócios) observa que “o raciocínio secular tem . . . assumido a autoridade que antes pertencia à religião”. Em vez de recorrerem a fontes religiosas, muitos procuram a orientação de peritos em ética não-religiosos. Paul McNeill, um estudioso da bioética diz: “Acho que os especialistas em ética são os sacerdotes do mundo secularizado. . . . As pessoas falam agora em termos de ética quando antes falavam em termos de religião.”
Quando você se confronta com decisões difíceis, como decide o que é certo e o que é errado? As suas normas de ética são determinadas por Deus, ou por você mesmo?
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O que é certo e o que é errado — como saber?A Sentinela — 2004 | 1.° de dezembro
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O que é certo e o que é errado — como saber?
QUEM tem a autoridade de estabelecer os padrões do que é certo e do que é errado? Essa pergunta surgiu no começo da história humana. Segundo o livro bíblico de Gênesis, Deus escolheu certa árvore no jardim do Éden para representar o “conhecimento do que é bom e do que é mau”. (Gênesis 2:9) Deus instruiu o primeiro casal humano a não comer o fruto daquela árvore. No entanto, o inimigo de Deus, Satanás, o Diabo, insinuou a Adão e Eva que, se eles o comessem, seus olhos ‘forçosamente se abririam’ e eles ‘forçosamente seriam como Deus, sabendo o que é bom e o que é mau’. — Gênesis 2:16, 17; 3:1, 5; Revelação (Apocalipse) 12:9.
Adão e Eva tinham de tomar uma decisão — aceitariam as normas de Deus sobre o que é bom e o que é mau ou seguiriam as suas próprias? (Gênesis 3:6) Eles escolheram desobedecer a Deus e comer do fruto da árvore. O que significava esse simples ato? Por se recusarem a respeitar os limites estabelecidos por Deus, Adão e Eva afirmavam que eles e seus descendentes se sairiam melhor se estabelecessem as suas próprias normas do que é certo e do que é errado. Será que a humanidade tem sido bem-sucedida em tentar agir como Deus, estabelecendo seus próprios padrões?
As opiniões variam
Depois de analisar os ensinos de pensadores destacados no decorrer dos séculos, a Encyclopædia Britannica declara que, desde os tempos do filósofo grego Sócrates até o século 20, as pessoas ‘não tinham conseguido chegar a um comum acordo ao tentar definir o que é bom, e o padrão que determina o certo e o errado’.
Por exemplo, os sofistas eram um grupo importante de instrutores gregos do quinto século AEC. Eles ensinavam que a opinião popular determinava as normas do que é certo e do que é errado. Um desses instrutores disse: “Aquilo que parece certo e aceitável para uma cidade, continuará sendo certo e aceitável naquele lugar enquanto os que moram ali pensarem assim.” Segundo essa norma, Jodie, citado no artigo precedente, devia ficar com o dinheiro, visto que a maioria na sua comunidade, ou “cidade”, faria isso.
Immanuel Kant, famoso filósofo do século 18, expressou um conceito diferente. O periódico Issues in Ethics diz: “Immanuel Kant, e outros como ele, . . . dava ênfase ao direito que a pessoa tem de decidir por si mesma.” Segundo a filosofia de Kant, desde que Jodie não interferisse nos direitos dos outros, o que ele decidisse fazer caberia inteiramente a ele. Ele não deveria permitir que a opinião da maioria ditasse seus padrões.
Como será que Jodie resolveu esse dilema? Ele não seguiu a maioria nem decidiu por si mesmo. Escolheu pôr em prática o ensino de Jesus Cristo, cujas normas de moral têm sido elogiadas tanto por cristãos como por não-cristãos. Jesus ensinou: “Todas as coisas, portanto, que quereis que os homens vos façam, vós também tendes de fazer do mesmo modo a eles.” (Mateus 7:12) Para a surpresa da sua cliente, Jodie entregou-lhe os 82 mil dólares. Quando ela perguntou por que ele não ficou com o dinheiro, Jodie explicou que era Testemunha de Jeová e disse: “O dinheiro não era meu.” Jodie levou a sério as palavras de Jesus, registradas na Bíblia em Mateus 19:18: “Não deves furtar.”
A opinião popular é um guia confiável?
Alguns poderiam dizer que Jodie foi tolo por ser tão honesto. Mas a opinião popular não é um guia confiável. Por exemplo, se você fizesse parte de uma sociedade onde a maioria acreditasse que o sacrifício de crianças é aceitável, como foi o caso de algumas sociedades no passado, isso tornaria essa prática certa? (2 Reis 16:3) E se tivesse nascido numa sociedade onde as pessoas achassem que o canibalismo é uma virtude? Significaria isso que comer carne humana não seria realmente errado? A popularidade de uma prática não a torna certa. Há muito tempo, a Bíblia advertiu contra essa armadilha, dizendo: “Não deves acompanhar a multidão para maus objetivos.” — Êxodo 23:2.
Jesus Cristo identificou outro motivo para tomarmos cuidado com a influência que as opiniões populares sobre o que é certo e o que é errado podem ter em nós. Ele expôs Satanás como “o governante do mundo”. ( João 14:30; Lucas 4:6) Satanás usa sua posição para desencaminhar “toda a terra habitada”. (Revelação 12:9) Portanto, se você estabelecer as suas próprias normas do que é certo e do que é errado à base daquilo que é popular, poderá estar adotando o que Satanás considera ser moral, e isso obviamente seria desastroso.
Pode confiar no seu próprio critério?
Então, será que cada um deveria decidir por si mesmo o que é certo e o que é errado? A Bíblia diz: “Não te estribes na tua própria compreensão.” (Provérbios 3:5) Por que não? Porque todos os humanos herdaram uma falha básica, que pode distorcer seu bom critério. Quando Adão e Eva se rebelaram contra Deus, eles adotaram as normas do traidor egoísta, Satanás, e o escolheram como seu pai espiritual. Depois transmitiram aos seus descendentes uma característica — um coração traiçoeiro, com a capacidade de reconhecer o que é certo, mas com a tendência de escolher o que é errado. — Gênesis 6:5; Romanos 5:12; 7:21-24.
A Encyclopædia Britannica, ao considerar a ética, observa: “Não nos surpreende hoje que as pessoas saibam o que deveriam fazer, do ponto de vista moral, mas em vez disso ajam segundo os seus próprios interesses. Fornecer a tais pessoas razões para fazer o que é direito tem sido um dos grandes problemas da ética ocidental.” A Bíblia expressa isso corretamente do seguinte modo: “O coração é mais traiçoeiro do que qualquer outra coisa e está desesperado. Quem o pode conhecer?” ( Jeremias 17:9) Confiaria em alguém que é conhecido como traiçoeiro e desesperado?
Deve-se admitir que mesmo os que não crêem em Deus têm a capacidade de comportar-se duma maneira moralmente correta e desenvolver códigos éticos práticos e honrosos. Na maioria das vezes, esses excelentes princípios embutidos nos seus códigos pessoais simplesmente refletem as normas de moral da Bíblia. Embora essas pessoas talvez neguem a existência de Deus, suas idéias mostram que elas têm um potencial inerente para refletir a personalidade dele. Isso prova, conforme a Bíblia revela, que a humanidade foi originalmente criada “à imagem de Deus”. (Gênesis 1:27; Atos 17:26-28) O apóstolo Paulo diz: “Elas é que são quem demonstra que a matéria da lei está escrita nos seus corações.” — Romanos 2:15.
Naturalmente, saber o que é certo é uma coisa; mas ter a força moral para fazer o que é certo é bem diferente. Como se pode ter essa força moral necessária? Visto que as ações são motivadas pelo coração, cultivar amor pelo Autor da Bíblia, Jeová Deus, pode ajudar a pessoa a desenvolver essa força. — Salmo 25:4, 5.
Como ter a força para fazer o que é bom
O primeiro passo para aprender a amar a Deus é se convencer de que seus mandamentos são realmente razoáveis e práticos. “O amor de Deus significa o seguinte”, disse o apóstolo João, “que observemos os seus mandamentos; contudo, os seus mandamentos não são pesados”. (1 João 5:3) Por exemplo, a Bíblia contém conselhos práticos que podem ajudar os jovens a distinguir o certo do errado quando precisam decidir se devem tomar bebidas alcoólicas, usar drogas ou ter relações sexuais antes do casamento. A Bíblia pode ajudar os casais a saber como resolver diferenças, e pode dar aos pais orientações sobre como criar os filhos.a As normas de moral da Bíblia, quando aplicadas, beneficiam tanto jovens como idosos, não importa qual seja a sua formação social, educacional ou cultural.
Assim como o alimento nutritivo nos dá forças para trabalhar, a leitura da Palavra de Deus pode fortalecer-nos para viver segundo as suas normas. Jesus comparou as declarações de Deus ao pão que sustenta a vida. (Mateus 4:4) Ele disse também: “Meu alimento é eu fazer a vontade daquele que me enviou.” ( João 4:34) Assimilar alimento espiritual da palavra de Deus equipou Jesus a resistir a tentações e a fazer decisões sábias. — Lucas 4:1-13.
No começo, você talvez ache difícil nutrir a mente com informações da Palavra de Deus e adotar as normas dele. Mas lembre-se de que quando você era mais jovem talvez não gostasse de certos alimentos que fazem bem à saúde. Para ficar forte, teve de aprender a gostar de tais alimentos nutritivos. Do mesmo modo, talvez leve tempo para você desenvolver gosto pelas normas de Deus. Se não desistir, passará a amá-las e a ficar espiritualmente forte. (Salmo 34:8; 2 Timóteo 3:15-17) Aprenderá a confiar em Jeová e a ser motivado a fazer “o bem”. — Salmo 37:3.
Talvez você nunca se confronte com uma situação tal como a de Jodie. No entanto, todo dia tem de tomar pequenas e grandes decisões éticas. Por isso, a Bíblia o aconselha: “Confia em Jeová de todo o teu coração e não te estribes na tua própria compreensão. Nota-o em todos os teus caminhos, e ele mesmo endireitará as tuas veredas.” (Provérbios 3:5, 6) Aprender a confiar em Jeová não só o beneficiará agora, mas lhe oferecerá também a oportunidade de viver para sempre, porque a estrada da obediência a Deus leva à vida. — Mateus 7:13, 14.
[Nota(s) de rodapé]
a Conselhos práticos da Bíblia sobre esses e outros assuntos importantes são encontrados nos livros Os Jovens Perguntam — Respostas Práticas, e O Segredo de Uma Família Feliz, publicados pelas Testemunhas de Jeová.
[Destaque na página 6]
A opinião popular pode ser influenciada por forças invisíveis
[Fotos na página 5]
No decorrer das eras, filósofos têm debatido a questão do que é certo e do que é errado
SÓCRATES
KANT
CONFÚCIO
[Créditos]
Kant: do livro The Historian’s History of the World; Sócrates: do livro A General History for Colleges and High Schools; Confúcio: Universidade Sung Kyun Kwan, Seul, Coréia
[Fotos na página 7]
A Bíblia não só nos ajuda a distinguir o certo do errado, mas também nos motiva a fazer o que é certo
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