Venezuela
VISITAR a Venezuela pode dar a impressão de se dar uma volta ao mundo. O que se poderá ver? Talvez um índio caçando na selva com uma lança. Uma señora bem-vestida fazendo compras numa butique de luxo. Convidados dançando à noitinha numa fiesta, ao ritmo de batuque africano. Um menino enrolando-se no seu poncho para se proteger contra o vento frio das montanhas, enquanto corre para juntar suas ovelhas. E mais de 71.000 Testemunhas de Jeová — jovens e idosas, de muitas formações — atarefadas em falar a outros sobre o verdadeiro Deus e o Seu Reino.
A maioria dos venezuelanos tem suas raízes numa mistura de antepassados índios, espanhóis e africanos. Desde a Segunda Guerra Mundial, muitos imigrantes europeus da Espanha, da Itália e de Portugal tornaram-se uma parte notável da população. E o observador não pode deixar de ficar impressionado com o número de jovens que há em toda a parte.
A Venezuela, situada na costa norte da América do Sul, é deveras um país de notáveis contrastes. Os 2.800 quilômetros do litoral caribenho, de brisas tropicais, contrastam-se com montes encimados por neve e com as selvas luxuriantes. Não somente há vastas planícies chamadas de llanos, mas também deslumbrantes cataratas, tais como Cuquenán, com uma queda direta de 600 metros, e o Salto Angel, ou Salto de Anjo, o mais alto do mundo, com uma queda de 979 metros, originário dum rio subterrâneo procedente da mesa rochosa mais acima. A capital, Caracas, com uns 4.000.000 de habitantes, é uma metrópole moderna com sofisticados shopping centers. Uma rede de boas estradas a ligam com o interior. Mas olhando de cima, para a prosperidade de Caracas, vêem-se centenas de milhares de pessoas que moram em favelas nas encostas dos morros.
O ambiente religioso na Venezuela
A vasta maioria dos venezuelanos é de católicos romanos, embora a Igreja não mais domine o povo como antigamente. Os índios nativos, muitas vezes nominalmente católicos, têm seus próprios ritos e superstições, assim como também têm os de descendência africana. A feitiçaria e o espiritismo são muito populares aqui. Muitos usam amuletos para se proteger contra o mau-olhado. O culto de María Lionza, similar ao vodu, está amplamente difundido. Também os grupos religiosos evangélicos estão aumentando em número.
“Santos” e “virgens” desempenham um papel destacado na vida dos católicos venezuelanos. Cada região do país tem o seu próprio “santo” ou “virgem”. Na maioria dos lares há quadros religiosos. Em algumas residências, acima da porta de entrada, há um raminho para afastar os maus espíritos, ou se deixa numa mesa a Bíblia aberta no Salmo 91, na crença de que isso dará à família certa proteção.
Freqüentemente, ao lado do retrato do seu “santo” favorito há um de Simón Bolívar, que conseguiu para a Venezuela e para mais quatro países sul-americanos a independência do domínio espanhol. Confirmando a honra que se lhe dá, encontrará aqui na Venezuela o Aeroporto Internacional Simón Bolívar, a Universidade Simón Bolívar, a Avenida Simón Bolívar, a Cidade Bolívar e o Estado de Bolívar. A moeda também se chama bolívar. Toda cidade na Venezuela tem uma praça central, quase sempre chamada de Plaza Bolívar. Expressões atribuídas a ele muitas vezes são vistas pintadas com cuidado em muros públicos.
Ao mesmo tempo, porém, uma das notáveis características dos venezuelanos é seu profundo respeito por Deus e uma professa crença na Bíblia. Dificilmente alguém é ridicularizado por querer falar de coisas espirituais. Esta atitude receptiva oferece um solo fértil para o plantio das sementes da verdade a respeito de Jeová Deus e Seus propósitos.
Mulheres com verdadeiro espírito missionário
Quando grande parte do mundo ainda procurava lidar com as condições resultantes da Primeira Guerra Mundial, e Adolf Hitler criava dificuldades na Europa, duas Testemunhas de Jeová que moravam no Texas, EUA — uma mulher chamada Kate Goas e sua filha Marion — decidiram que queriam fazer mais para divulgar a mensagem de paz contida na Bíblia. Escreveram à sede da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados em Brooklyn, Nova York, perguntando onde poderiam servir melhor; explicaram que sabiam falar espanhol. Sua designação? A Venezuela.
Chegaram de navio em 1936 e alugaram um quarto na capital, Caracas, que naquele tempo tinha uma população de 200.000 habitantes. Mais de uma década antes, alguns Estudantes da Bíblia — como as Testemunhas de Jeová eram então chamadas — tinham visitado a Venezuela e distribuído milhares de tratados bíblicos nas cidades principais, mas não permaneceram no país. Kate Goas e sua filha, porém, não estavam na Venezuela apenas para uma visita breve. Embora Kate tivesse aparência fina e delicada, ela carregava uma enorme bolsa com publicações e um fonógrafo ao ir de porta em porta. Ela e a filha cobriram sistematicamente toda Caracas. Depois disso, mudaram-se para o interior do país, viajando grandes distâncias de ônibus por estradas poeirentas de terra. Pregaram em lugares tais como Quiriquire, El Tigre, Ciudad Bolívar no leste e em Maracaibo no oeste.
No entanto, tiveram de voltar para os Estados Unidos em julho de 1944 por Marion ter contraído malária. Kate Goas, numa carta à Sociedade, datada de 2 de agosto de 1944, escreveu o seguinte: “Colocamos muitas publicações . . . Depois de termos dado testemunho praticamente em toda a República, continuamos a encontrar pessoas que gostam das nossas publicações e que as lêem cada vez que passamos por lá . . . Agora, depois de dois anos de testemunho constante em Caracas, sete pessoas, seis irmãs e um irmão, tomaram posição a favor da justiça, tendo sido batizadas . . . Esses irmãos sentem-se felizes com o seu conhecimento cristão sobre Jeová e Seu Reino . . . Deu-se realmente, vez após vez, um bom testemunho em toda Caracas, e o conteúdo das publicações é bem conhecido . . . Sinceramente a favor da Sua Teocracia, Kate Goas.” Esse “um irmão” aqui mencionado era o jovem Rubén Araujo, sobre quem saberemos depois mais alguma coisa. (Falando em batismo, os sete que haviam sido batizados pela irmã Goas foram novamente batizados em 1946 por um irmão, em harmonia com o modelo bíblico, que mostra batismos realizados apenas por varões que estavam numa relação aprovada com Jeová.)
Lança-se o alicerce para a expansão do testemunho
Na época em que Kate Goas escreveu a carta à Sociedade, faziam-se em Brooklyn planos para enviar à Venezuela missionários treinados na Escola Bíblica de Gileade da Torre de Vigia. Nathan Knorr e Fred Franz, na época presidente e vice-presidente da Sociedade Torre de Vigia (EUA), viajaram repetidas vezes à América Latina a fim de lançar o alicerce para expandir a obra missionária ali. Programaram uma visita à Venezuela para 1946. Três missionários formados na Escola de Gileade haviam sido designados para a Venezuela, mas ainda não tinham recebido seus vistos. Quem organizaria as coisas para a visita do presidente em 9-12 de abril de 1946?
Um dos três missionários foi mandado na frente com um visto de turista. Ele chegou lá de avião e se hospedou na casa de Jeanette Atkins, uma pessoa hospitaleira que tinha aprendido a verdade com Kate Goas. Mas três semanas depois da sua chegada, o missionário desapareceu misteriosamente. Sua hospedeira e amigos contataram a polícia e as linhas aéreas, descobrindo finalmente que ele voltara aos Estados Unidos por causa de muita saudade.
Antes de isso acontecer, porém, os irmãos Knorr e Franz fizeram uma visita muito proveitosa ao grupo na Venezuela. Rubén Araujo conta que, no mesmo dia da chegada deles, realizou-se uma reunião no pátio da casa de Jeanette Atkins, onde 22 pessoas ouviram discursos dos irmãos visitantes.
Entre os presentes estava Pedro Morales, muito entusiasmado com as boas novas. “Em fins dos anos 30”, disse ele mais tarde, “Kate Goas e sua filha deixaram comigo o livro Riquezas na feira principal de Maracaibo. Anos mais tarde, comecei a lê-lo, e isso desvendou a Bíblia para mim. Quando cheguei à parte sobre a marcação das testas dos merecedores, foi como um fogo no meu íntimo! (Eze. 9:4) Passei a procurar pessoas que tivessem esta publicação. Encontrei quatro pessoas que tinham recebido livros de alguém de Trinidad. Reunimo-nos toda noite para estudar o livro Riquezas, revezando nossas casas como local de reunião.”
Quando Pedro recebeu um convite para ir a Caracas (uma distância de uns 700 quilômetros) para a reunião a ser realizada durante a visita do irmão Knorr, ele e um amigo decidiram fazer a viagem. Mas havia problemas. Pedro continuou, dizendo: “Minha esposa, grávida, começou a ter dores de parto e meu negócio precisava da minha atenção. O que devia fazer? Fiz com que uma parteira ficasse com a minha esposa e deixei meu negócio de doces aos cuidados dos meus três filhos, da idade de 14, 12 e 10 anos. Depois fomos de ônibus a Caracas, uma viagem difícil de dois dias em estradas de terra.” Que alegria foi para ele encontrar-se com as Testemunhas em Caracas! Enquanto ali, recebeu um telegrama de Maracaibo: “Esposa bem. Filho melhor ainda. Tomei conta do negócio. Justo Morales.” Seu próprio irmão tinha chegado inesperadamente da Colômbia e tomado conta da situação.
Logo no primeiro dia dessas reuniões especiais em Caracas, o irmão Franz falou sobre “Testemunhas de Jeová no Crisol”. O irmão Knorr prosseguiu então com o tema, sendo interpretado por Fred Franz. Como esta palestra foi reveladora! Enfocava o que a Bíblia diz que os cristãos devem esperar das mãos do mundo, e forneceu pormenores da perseguição intensa que as Testemunhas de Jeová haviam sofrido na Europa durante a Segunda Guerra Mundial.
No dia seguinte houve o batismo em Los Chorros, numa piscina ao pé duma cascata. Dez pessoas foram batizadas naquele dia, inclusive Winston Blackwood (contatado pela irmã Goas em Quiriquire) e seu filho Eduardo, Horacio Mier y Terán e seu irmão mais moço, Efraín, Pedro Morales, Gerardo Jessurun, do Suriname, Israel Francis e José Mateus.
Pedro Morales e mais dois irmãos do oeste do país ficaram muito contentes quando o irmão Knorr disse que a Sociedade enviaria missionários a Maracaibo assim que o governo o permitisse. O próprio Pedro tornou-se pioneiro regular e continuou neste serviço até a sua morte.
Impelidos pelo amor à verdade bíblica
Antes da chegada dos missionários, a sede da Sociedade, em Brooklyn, tinha recebido relatórios do pequeno grupo formado pela irmã Goas. Havia apenas um punhado de publicadores, com pouquíssimas publicações. Muitas vezes, os livros tinham de ser emprestados aos interessados. O relatório de março de 1946 mostrava nove proclamadores das boas novas na Venezuela, sendo o grupo cuidado por Josefina López, visto que ela era a mais ativa do grupo.
Rubén Araujo se lembra do excelente exemplo dado pela irmã López: “Na época, eu era adolescente . . . Josefina López era mãe de quatro filhos e duas filhas, e estava muito entusiasmada com o que aprendia da irmã Goas. Quase todos os dias após a escola, eu ia à sua casa e conversava com ela sobre as coisas novas que ela aprendia da verdade. Embora fosse dona-de-casa atarefada, a irmã López conseguia sair para pregar de casa em casa e dirigir estudos bíblicos todos os dias após o almoço, depois de o marido e seus filhos mais velhos terem voltado para o trabalho. Ela era para todos nós um bom exemplo e realmente tinha o espírito de pioneiro, fazendo em média entre 60 e 70 horas por mês como publicadora. Depois de mais de 40 anos, ainda há cartas vivas de recomendação dela em Caracas.”
Outra no grupo original era Domitila Mier y Terán, uma viúva. Ela sempre tivera inclinação para coisas espirituais. Seu pai tinha uma Bíblia que ela gostava de ler, e quando ele faleceu, ela vasculhou a casa para achá-la. A Bíblia dele era a única herança que queria. O que encontrou foi apenas parte da Bíblia, o resto tendo sido rasgado pelo mau uso. No entanto, ela prezava mesmo esta parte e usou-a até que mais tarde conseguiu comprar uma Bíblia nova, completa. Certo dia, uma amiga que adquirira o livro Reconciliação, publicado pela Sociedade, entregou-o a Domitila, dizendo que ela, por ser leitora ávida da Bíblia, ia gostar mais do livro. Domitila, no esforço sério de localizar os publicadores do livro, visitou os adventistas e outros grupos protestantes. Por fim, para o prazer de Domitila, Kate Goas chegou à sua casa, e Domitila concordou imediatamente em estudar a Bíblia com ela. Dois dos seus filhos, batizados durante a primeira visita dos irmãos Knorr e Franz, serviram posteriormente como superintendentes de circuito, e um terceiro, Gonzalo, como ancião de congregação. Mais outro filho, Guillermo, embora presente quando Kate Goas visitou a casa deles pela primeira vez, só foi batizado em 1986.
“E quanto tempo vocês vão ficar?”
Em 2 de junho de 1946, pouco depois da visita do irmão Knorr, chegaram os outros dois missionários do grupo designado para a Venezuela. Eram Donald Baxter e Walter Wan. O jovem Rubén Araujo estava ali para recebê-los em Caracas. Olhando para eles com certa suspeita, sem dúvida lembrando-se ainda da experiência com o missionário anterior, Rubén perguntou no seu fraco inglês: “E quanto tempo vocês vão ficar?”
Rubén providenciara um Estudo de A Sentinela, e este foi realizado no mesmo dia em que os missionários chegaram. Ele tentou pôr em prática as instruções que o irmão Franz lhe dera. Fez o melhor que pôde, mas no estudo era o único homem para tudo. Rubén lia a pergunta. Depois a respondia. Depois lia o parágrafo. Ele se lembrava de que o estudo não devia passar de uma hora, de modo que obedientemente parou com o estudo para não passar da hora, embora tivesse abrangido apenas 17 parágrafos, não a lição inteira! A experiência viria com o tempo e com paciência.
Hoje, refletindo na partida repentina do primeiro missionário, Rubén Araujo acrescenta: “Pouco tempo depois, o vazio que ele deixara foi preenchido pelos dois novos formados em Gileade. Como nos sentimos felizes com esta dádiva da organização de Jeová em forma desses missionários, para nos ajudar na Macedônia venezuelana!” (Note Atos 16:9, 10.) Antes disso, o irmão Knorr dissera ao irmão Baxter: “Fique naquela designação nem que o mate!” Pois bem, não matou o irmão Baxter, e ele ainda serve na Venezuela quase 50 anos depois disso.
Adaptação ao novo ambiente
O primeiro lar missionário em Caracas ficava na Avenida Bucares, 32, no bairro chamado El Cementerio. Foi também ali que se abriu uma filial em 1.º de setembro de 1946, tendo a Donald Baxter como servo de filial. As condições de vida eram longe de ser ideais. A rua não estava pavimentada, e não havia água encanada. É compreensível que os missionários ficassem bastante aliviados quando a filial e o lar missionário se mudaram de El Cementerio para El Paraíso, um lugar com água encanada.
O irmão Baxter se lembra dos problemas dos missionários com a pronúncia da língua e dos seus sentimentos de frustração. Estavam ansiosos de usar seu treinamento de Gileade para ajudar, mas ao chegarem foram incapazes de se comunicar. No entanto, esta dificuldade temporária foi mais do que compensada pelos resultados favoráveis no campo. Referente ao primeiro testemunho que deram nas ruas, o irmão Baxter conta: “Decidimos ir a uma parte no centro da cidade conhecida como El Silencio e ver o que ia acontecer. Meu companheiro, Walter Wan, ficou parado numa esquina e eu noutra. As pessoas estavam muito curiosas; nunca tinham visto nada igual. Quase não precisávamos dizer nada. As pessoas chegavam a fazer fila para obter as revistas, e colocamos todas as nossas revistas em 10 a 15 minutos. Como era diferente do que estávamos acostumados nos Estados Unidos!” Walter Wan disse: “Fazendo um inventário, descobri para o meu espanto que, em quatro dias momentosos de louvar a Jeová nas ruas e nas feiras, assim como fizeram Jesus e os apóstolos, eu tinha colocado 178 livros e Bíblias.”
O primeiro relatório enviado pela filial à sede em Brooklyn, Nova York, mostrou um total de 19 publicadores, incluindo os dois missionários e quatro pioneiros regulares. Esses pioneiros eram Eduardo Blackwood, Rubén Araujo, Efraín Mier y Terán e Gerardo Jessurun. Eduardo Blackwood começara a ser pioneiro durante o mês da visita do irmão Knorr, e os outros três se alistaram pouco depois. Nove estavam pregando no interior do país. Winston e Eduardo Blackwood, que moravam em El Tigre, davam testemunho em direção ao sul até Ciudad Bolívar, e em direção ao leste até os campos petrolíferos perto de Punta de Mata e Maturín. Pedro Morales e outros pregavam em Maracaibo. Ao leste do lago Maracaibo, nos campos petrolíferos de Cabimas e Lagunillas, pregavam Gerardo Jessurun, Nathaniel Walcott e David Scott. Mais tarde juntou-se a eles Hugo Taylor, que em 1995 ainda servia como pioneiro especial. Ao todo, eles cobriam uma vasta área do país. O irmão Baxter e o irmão Wan logo descobriram por experiência o que isso significava.
Visitas feitas a todos os grupos
Em outubro e novembro de 1947, os dois missionários viajaram juntos para o extremo oeste e para a parte leste do país, a fim de ver o que se podia fazer para ajudar os grupos pequenos. Seu objetivo era organizar esses grupos em congregações. “Viajávamos de ônibus, o que na Venezuela realmente era uma experiência e tanto”, conta o irmão Baxter com um sorriso, ao refletir sobre aquela memorável expedição. “Os assentos nesses ônibus eram pequenos e muito juntos, visto que a maioria dos venezuelanos são pequenos; de modo que nós dois, norte-americanos, vimos que quase não havia lugar bastante para as nossas pernas. Não era incomum ver em cima do ônibus camas, máquinas de costura, mesas, galinhas, perus e bananas, ao lado da bagagem dos passageiros. O passageiro que ia apenas a pouca distância não se dava ao trabalho de colocar suas galinhas ou seus objetos pequenos em cima, mas os levava consigo dentro do ônibus e os empilhava no corredor entre os assentos. O ônibus teve pane, de modo que, por várias horas, até a chegada de outro, ficamos presos num ermo onde havia apenas cactos e cabritos. Depois disso, ainda ficamos sem combustível.”
Em cada um dos quatro lugares visitados, encontraram um grupo de cerca de dez pessoas que se reuniam na sala da casa de alguém. Os missionários mostraram-lhes como realizar reuniões, como relatar regularmente sua atividade à filial e como conseguir publicações para a sua pregação.
Enquanto estava em El Tigre, o irmão Baxter notou que Alejandro Mitchell, um dos novos irmãos ali, tomara bastante literalmente a admoestação de Mateus 10:27, de pregar dos altos das casas. Ele montara um alto-falante no alto da sua casa, e todos os dias, mais ou menos por meia hora, ele lia em voz alta partes selecionadas dos livros Filhos ou O Novo Mundo, bem como de outras publicações da Torre de Vigia. Fazia isso num volume tão alto, que podia ser ouvido a vários quarteirões de distância! Não é de admirar que isso perturbasse os vizinhos. Foi-lhe sugerido que seria melhor pregar de casa em casa e abandonar o alto-falante.
A viagem para visitar os diversos grupos pequenos foi bem proveitosa. Durante os dois meses de viagem, os irmãos puderam batizar 16 pessoas.
Missionários chegam a Maracaibo
Maracaibo, na parte noroeste do país, é a segunda maior cidade da Venezuela. Dois dos seus destaques são o calor e a grande umidade. É também a capital do petróleo da Venezuela. A parte nova da cidade se distingue em nítido contraste da cidade velha, perto das docas; esta parte antiga, com suas ruas estreitas e suas casas de adobe, de estilo colonial, quase não mudou desde o século passado.
Seis missionários chegaram a Maracaibo de navio cargueiro em 25 de dezembro de 1948. Vinham trajados de pesadas roupas de inverno, por terem saído da fria Nova York. No grupo havia Ragna Ingwaldsen, batizada em 1918 e que ainda é pioneira na Califórnia, Bernice Greisen (agora “Bun” Henschel, membro da família de Betel na sede mundial), Charles e Maye Vaile, Esther Rydell (meia-irmã de Ragna), e Joyce McCully. Foram acolhidos no pequeno lar dum casal recém-associado com as Testemunhas. Ali os missionários suados arrumaram do melhor modo possível suas 15 malas grandes e 40 caixas de publicações. Quatro dormiram em redes e dois em camas feitas de caixas de livros, até que encontraram uma casa para alugar como seu lar missionário.
Ragna se lembra de que os seis pareciam muito estranhos aos maracuchos, nome popular dos habitantes de Maracaibo. Algumas missionárias eram altas e loiras. “Muitas vezes, ao ir de casa em casa, éramos seguidas por até dez criancinhas nuas, que prestavam atenção ao modo estranho de nós falarmos a língua deles”, disse Ragna mais tarde. “Nenhum de nós seis sabia mais do que uma dúzia de palavras em espanhol. Mas quando riam de nós, simplesmente ríamos com eles.” Na época em que os missionários chegaram, havia apenas quatro publicadores em Maracaibo. No começo de 1995, havia 51 congregações, com um total de 4.271 publicadores.
Sua oração foi ouvida
O casal que bondosamente acolhera os seis missionários no seu lar era Benito e Victoria Rivero. Benito recebera o livro “Está Próximo o Reino” de Juan Maldonado, um pioneiro de Caracas. Mais tarde, quando Pedro Morales visitou Benito para oferecer-lhe um estudo, Benito ficou entusiasmado; ele não somente estudou, mas também começou logo a assistir às reuniões do pequeno grupo. Incentivou também a esposa a assistir, contando-lhe — por ela gostar de cantar — que os cânticos entoados ali eram muito lindos. Ela o acompanhava, mas realmente não entendia tudo o que se dizia, de modo que freqüentemente adormecia.
Certa noite, em casa, pensando que sua esposa estava dormindo, Benito orou a Jeová em voz alta e pediu-lhe que a esclarecesse. Ela ouviu a oração e ficou profundamente comovida. Após o falecimento de Benito, em 1955, Victoria tornou-se pioneira regular e depois pioneira especial.
Abrangem-se zonas rurais em torno de Maracaibo
Entre os que aceitaram a verdade na região de Maracaibo estava o pai de Rebeca (agora Rebeca Barreto). Ela tinha apenas cinco anos quando Gerardo Jessurun começou a estudar a Bíblia com o pai dela, que progrediu e foi batizado em 1954. Ela tem maravilhosas recordações de participar na pregação enquanto ainda menina. “Nós alugávamos um ônibus, e a congregação inteira ia às zonas rurais”, conta ela. “Os camponeses tinham pouco dinheiro, mas gostavam das publicações. Era um espetáculo e tanto, no fim do dia, ver irmãos e irmãs tomar o ônibus carregando ovos, abóboras, milho e galinhas vivas, que tinham recebido em troca de publicações.”
Mas nem todos gostavam de vê-los. A irmã Barreto se lembra dum incidente ocorrido na aldeia de Mene de Mauroa. Ela diz: “Ao passo que íamos de porta em porta, o sacerdote católico local nos seguia, rasgando as publicações que as pessoas tinham aceitado e dizendo-lhes que não escutassem as Testemunhas de Jeová. Ele instigou uma turba que incluía muitos jovens e conseguiu levá-los a tal fúria, que começaram a atirar pedras em nós. Diversos irmãos e irmãs foram atingidos.” O grupo de Testemunhas correu ao prefecto da localidade em busca de ajuda. Este, bondosamente disposto para com as Testemunhas, disse ao sacerdote que teria de mantê-lo no seu escritório por um par de horas, ‘para a própria proteção dele contra esses pregadores’. A multidão, então sem líder, dispersou-se e as Testemunhas gastaram alegremente as próximas duas horas, livre de hostilização, para dar um testemunho cabal na cidade.
Chegada de mais ajuda
O território era vasto e havia necessidade de ajuda adicional para cuidar dele. Mais trabalhadores recém-formados na Escola de Gileade chegaram em setembro de 1949, com o fim de participar na colheita espiritual. Estavam dispostos, mesmo ansiosos, de participar, mas isso não significava que lhes era fácil. Quando Rachel Burnham chegou a ver as luzes do porto através da vigia da sua cabine no navio Santa Rosa, ela achou que nunca na vida tinha se sentido tão aliviada de ver algo. Ela se tinha sentido mareada desde que o navio partiu de Nova York. Embora fosse apenas três horas da manhã, toda emocionada acordou as outras três moças. Sua irmã Inez e as outras moças, Dixie Dodd e sua irmã Ruby (agora Baxter), haviam gostado da viagem, mas se alegraram de chegar à nova designação.
Para recebê-las havia um grupo que incluía Donald Baxter, Bill e Elsa Hanna (missionários que haviam chegado no ano anterior), e Gonzalo Mier y Terán. Tomaram um ônibus para levá-los do porto até Caracas. O motorista parecia querer tornar a viagem especialmente assustadora para as recém-chegadas e certamente o conseguiu. Fazia as curvas fechadas, uma após outra, muitas vezes à beira dum precipício e numa velocidade que parecia alta demais! As irmãs falam desta viagem até hoje.
Foram designadas à filial e lar missionário em El Paraíso. Rachel serviu fielmente no campo missionário até o seu falecimento em 1981; Inez, em 1991. As outras daquele grupo ainda servem lealmente a Jeová.
Recordando os primeiros meses na sua designação, Dixie Dodd diz: “Sentimos muita saudade de casa. Mas não poderíamos ter ido nem até o aeroporto, mesmo que quiséssemos. Não tínhamos dinheiro suficiente!” Em vez disso, fixaram a atenção no fato de que a organização de Jeová as incumbira duma designação como missionárias num país estrangeiro. Por fim, deixaram de sonhar com voltar para casa e se esforçaram no serviço.
Mal-entendidos
Para a maioria dos missionários, o problema era a língua — pelo menos por algum tempo.
Dixie Dodd se lembra de que uma das primeiras coisas que lhes ensinaram era dizer: “Mucho gusto”, sempre que fossem apresentadas a alguém. Naquele mesmo dia, foram levadas a um Estudo de Livro de Congregação. Em caminho, no ônibus, repetiam a expressão vez após vez: “Mucho gusto. Mucho gusto.” “Mas quando fomos apresentadas”, diz Dixie, “já a tínhamos esquecido!” Com o tempo, porém, conseguiram lembrar-se.
Bill e Elsa Hanna, que serviram como missionários de 1948 a 1954, lembravam-se por muito tempo de algumas das suas trapalhadas. Certa vez, quando o irmão Hanna queria comprar uma dúzia de ovos brancos, ele pediu huesos blancos (ossos brancos) em vez de huevos blancos. Numa outra ocasião, queria comprar uma vassoura. Temendo que não tivesse sido entendido, tentou ser mais específico: “Para varrer ‘el cielo’” (o céu), disse ele, em vez de el suelo (o chão). O lojista, com um senso de humor, respondeu: “Que ambição o senhor tem!”
Elsa, esposa de Bill, foi à embaixada, pedindo para remover seu passaporte em vez de o renovar. “O que a senhora fez”, perguntou a secretária, “engoliu-o?”
Genee Rogers, missionária que chegou em 1967, ficou no começo um pouco desanimada quando, depois de cada apresentação bem ensaiada, a moradora se virava para a sua companheira e perguntava: “¿Qué dijo?” (O que ela disse?) Mas a irmã Rogers não deixou de tentar, e nos cerca de 28 anos como missionária, ajudou 40 pessoas a aprender a verdade e a progredir até o batismo.
Willard Anderson, que chegou de Gileade com a esposa Elaine em novembro de 1965, admite abertamente que a língua nunca tinha sido seu ponto forte. Sempre pronto para rir dos seus próprios erros, Willard diz: “Estudei espanhol por seis meses no ginásio, até que meu professor me fez prometer nunca mais ter aulas com ele!”
Mas com o espírito de Jeová, a perseverança e um bom senso de humor, os missionários logo passaram a sentir-se à vontade com a nova língua.
Até as casas têm nome
O que era diferente para os missionários não era só a língua. Precisavam usar um sistema diferente de manter registro das casas que queriam revisitar. Antigamente muitas casas em Caracas não tinham número. O dono de cada casa escolhia um nome para ela. As casas da classe alta são conhecidas como quintas e muitas vezes levam o nome da dona da casa. Por exemplo, o endereço de alguém pode ser o de Quinta Clara. Muitas vezes é a combinação dos nomes dos filhos: Quinta Carosi (Carmen, Rosa, Simon). O dono da primeira casa alugada pela Sociedade para servir de filial e lar missionário já lhe dera o nome de Quinta Savtepaul (São Vicente de Paula), e visto que estava situada numa rua principal, ficou logo bem conhecida como lugar de reunião das Testemunhas de Jeová.
Em 1954, quando se comprou uma casa recém-construída para servir de filial e lar missionário, cabia aos irmãos usar sua imaginação e escolher um nome adequado. Lembrando-se da admoestação de Jesus, “deixai brilhar a vossa luz perante os homens”, escolheram o nome Luz para a casa. (Mat. 5:16) Embora a filial fosse mais tarde mudada para um local maior, no começo de 1995 a Quinta Luz ainda era o lar de 11 missionários.
O centro de Caracas tem um sistema de endereços todo peculiar. Se perguntar a alguém o endereço duma loja ou dum prédio de apartamentos, talvez lhe diga algo como “La Fe a Esperanza”. Você talvez diga: ‘“Fé à Esperança”? Mas isto não parece ser um endereço.’ Acontece que no centro de Caracas cada interseção tem um nome. De modo que o endereço que procura está na quadra entre as interseções Fé e Esperança.
Da Venezuela para Gileade e de volta
No decorrer dos anos, 136 missionários treinados em Gileade, incluindo 7 beneficiados pelo curso da Escola de Treinamento Ministerial, vieram à Venezuela de outros países — dos Estados Unidos, do Canadá, da Alemanha, da Suécia, da Nova Zelândia, da Inglaterra, de Porto Rico, da Dinamarca, do Uruguai e da Itália. Entre 1969 e 1984, não chegaram novos missionários à Venezuela procedentes de Gileade, por ser impossível obter vistos. No entanto, em 1984, um grande esforço para conseguir permissão para que dois casais viessem ao país foi bem-sucedido, e mais dois missionários chegaram em 1988. Também seis Testemunhas locais foram beneficiadas pelo treinamento em Gileade.
Durante a visita do irmão Knorr em 1946, o jovem Rubén Araujo perguntou se podia habilitar-se para algum dia cursar Gileade. “Sim, se você melhorar seu inglês”, foi a resposta. “Nem é preciso dizer que me senti muito feliz”, diz Rubén. “Três anos depois, em outubro de 1949, recebi do irmão Knorr uma carta de convite para cursar a 15.ª turma, programada para começar no inverno, no início de 1950.”
Os outros cinco irmãos que cursaram Gileade foram Eduardo Blackwood e Horacio Mier y Terán (ambos batizados em 1946 durante a primeira visita do irmão Knorr), Teodoro Griesinger (sobre quem falaremos ainda mais), Casimiro Zyto (que emigrara da França e se naturalizara venezuelano) e, mais recentemente, Rafael Longa (que tem servido como superintendente de circuito).
Alguns estavam à procura, outros não
Lá em 1948, Víctor Mejías, em Caracas, refletia sobre um mundo melhor. Pensava sinceramente que este pudesse ser alcançado através dos esforços dos homens, e estava disposto a fazer a sua parte. Mas, também tinha dúvidas.
Naquele ano, Josefina López, uma Testemunha muito gentil, deixou com a esposa de Víctor, Dilia, o livro “A Verdade Vos Tornará Livres”. O título interessou a Víctor, de modo que começou a ler o livro. Ficou sabendo por que os próprios humanos nunca poderiam produzir um mundo realmente livre. Em pouco tempo, ele e a esposa assistiam às reuniões das Testemunhas. Mais tarde ele disse: “Embora as pessoas presentes fossem estranhas, eram tão amigáveis, que isso me convenceu de que eram diferentes. Lembro-me também de ter ficado impressionado quando vi o irmão Knorr, presidente da Sociedade, numa assembléia no Club Las Fuentes, em Caracas. Ele era tão diferente dos líderes religiosos, dos heróis e dos artistas famosos, que querem ser vistos pelos homens. Fiquei impressionado com a sua humildade e despretensão.” Em pouco tempo, Víctor também transmitia a outros a verdade que pode tornar as pessoas livres — sim, livres até mesmo do pecado e da morte. Há poucos anos, relembrando as décadas que tinha devotado a transmitir a verdade bíblica a outros, o irmão Mejías disse: “Estes anos têm sido os mais felizes da minha vida.”
Em 1950, ano em que Víctor Mejías foi batizado, outro jovem em Caracas, Teodoro Griesinger, perguntou a Ronald Pierce, que acabava de iniciar seu serviço missionário: “Explique-me o sentido do número 666 no Apocalipse.” O pai de Teodoro lhe deixara uma grande Bíblia alemã, e ele a lia de vez em quando: “O que me interessava não era tanto o passado”, explica Teodoro, “mas o futuro, as coisas que ainda iam acontecer, mencionadas no Apocalipse”. Satisfeito com a explicação dada pelo irmão Pierce, concordou com a proposta deste, de estudar o livro “Seja Deus Verdadeiro”. O livro era em espanhol, a Bíblia de Teodoro era em alemão e tanto o instrutor como o estudante falavam inglês. O progresso foi rápido. Por volta de 1951, Teodoro já se alistara como pioneiro, no ano seguinte aceitou uma designação para ser pioneiro especial em Puerto La Cruz, em 1954 formou-se na Escola de Gileade e depois empreendeu o serviço de superintendente de circuito na Venezuela.
Por volta da época em que Ronald Pierce começou a estudar com Teodoro Griesinger, um homem robusto, Nemecio Lozano, vivia numa aldeia de índios fora de El Tigre para evitar a polícia. Era um valentão e hábil com uma faca. O chefe dos índios tinha medo dele e fazia o que ele mandava, de modo que, na realidade, o chefe era Lozano. As Testemunhas tinham sido avisadas a seu respeito, mas assim mesmo lhe pregaram. Ele interrompeu e disse bruscamente: “Escutem! Não quero que me expliquem as coisas. Quero lê-las por mim mesmo.” Mas as publicações tinham-se esgotado. Pois bem, ele insistiu em ficar com o livro pessoal do irmão, “A Verdade Vos Tornará Livres” — mas só depois de certificar-se de que não faltava nenhuma página! Seria o livro de proveito para alguém como ele?
Em uma semana, ele já tinha lido o livro, tinha obtido alguns folhetos para distribuir e tinha começado a pregar por conta própria. Quando as Testemunhas voltaram para contatá-lo, perguntaram-lhe ansiosamente o que estava dizendo às pessoas. Ele respondeu: “Pode ter este folheto pela quantia irrisória de um medio” (uma moeda local). Explicaram-lhe com tato como podia expressar-se melhor.
Para assistir às reuniões em El Tigre, 30 quilômetros distante, ele andava a cavalo ou de bicicleta, e às vezes a pé. Aos poucos, substituiu seus modos anteriores pelas qualidades cristãs. Não demorou muito, e já gastava tanto tempo na pregação, que o superintendente de circuito o incentivou a se alistar como pioneiro. Em 1955, foi enviado como pioneiro especial, e ele e sua esposa, Omaira, ainda servem como tais.
Mantêm a pureza espiritual
No início, a luz da Palavra de Deus nem sempre brilhava com nítida clareza em todas as localidades. Alguns dos que se associavam com o grupo de estudo em El Tigre tinham idéias que trouxeram consigo do mundo. Rafael Hernández e sua esposa, que entraram em contato com a verdade lá em 1947, lembram-se de um irmão no grupo que se reunia em El Tigre, que interpretava seus sonhos. E por um tempo, alguns pensavam que, enquanto um casal era fiel um ao outro, não precisava legalizar seu casamento. Mas, aos poucos, essas idéias foram substituídas em resultado da sólida instrução bíblica.
Entretanto, em fins dos anos 40, um dos dez que foi batizado em 1946, durante a primeira visita do irmão Knorr à Venezuela, começou a promover seus próprios ensinos na tentativa de conseguir seguidores. Leopoldo Farreras, hoje ancião na Ciudad Guyana, lembra-se do que aconteceu. Ele fora principal coroinha (monaguillo) na Igreja Católica Romana, mas deixara-a à idade de 20 anos por causa da flagrante imoralidade dos clérigos. Via então mais alguém usando sua autoridade de modo impróprio. Apesar da falta de experiência e da sua juventude na época, Leopoldo manteve-se firme nesse período difícil em El Tigre e mostrou-se leal a Jeová e sua organização.
Alguns anos mais tarde, a esposa de Leonard Cumberbatch, agora ancião em El Tigre, começou a estudar com as Testemunhas de Jeová. “Minha reação foi terrível”, admite Leonard. “Nós sempre tínhamos vivido juntos em paz e com amor, mas uma vez que ela começou a estudar a Bíblia, eu me tornei sarcástico. Numa ocasião, ela me censurou por correr perigosamente com o carro. Eu lhe disse que não se preocupasse, porque seu Deus, Jeová, ia salvá-la — afinal, de qualquer modo ela ia viver para sempre. Não diminuí a marcha.
“Eu lhe disse que as Testemunhas se aproveitavam dela, que eu sabia mais sobre a Bíblia do que elas e que queria falar com elas. Aceitaram meu desafio. Resultou em uma conversa agradável. Falhei em provar que estavam ensinando falsidades, de modo que concordei em estudar a Bíblia com elas, Cinco meses depois do início do estudo, fui batizado. Fui designado dirigente dum grupo em Anaco, visto que eu possuía um carro. Servir àquele grupo envolvia uma viagem de ida e volta de 160 quilômetros. Depois me pediram que cuidasse de outro grupo a 30 quilômetros de distância. Agora há congregações nessas cidades.”
A própria cidade de El Tigre, situada no leste da Venezuela, é um importante centro comercial. Tornou-se também um importante centro da adoração verdadeira. No começo de 1995, havia sete congregações das Testemunhas de Jeová em El Tigre, com um total de mais de 730 publicadores das boas novas.
Uma joalheira pára de fabricar imagens
Ao sudeste de El Tigre encontra-se a Ciudad Bolívar, na margem sul do rio Orinoco. É um lugar movimentado, com muito tráfego no rio. Em 1947, uma Testemunha de Jeová visitou María Charles naquela cidade. María diz: “Sou joalheira de profissão, e estava sentada trabalhando na minha loja, certo dia, quando entrou Alejandro Mitchell com uma sacola de pano pendurada no ombro. Eu disse: ‘O que tem aí?’ Ele respondeu: ‘É um tesouro especial.’ ‘Ora, se tiver aí ouro, eu o compro’, disse eu, ‘este é meu negócio’. Ele disse que aquilo que tinha era melhor do que ouro. ‘Que eu saiba, a única coisa melhor do que o ouro é a Bíblia’, disse eu. Alejandro admitiu que eu tinha razão e tirou uma Bíblia e outras publicações.
“Eu gostava de ler, mas nunca conseguira entender a Bíblia, de modo que lhe disse: ‘Eu compro o que tem aí.’ Naquele dia, fiquei com 11 revistas dele e com os livros “Está Próximo o Reino”, Salvação e uma Bíblia nova. Fiquei tão fascinada com o que lia, que decidi não trabalhar na joalheria por uma semana, para poder dedicar-me à leitura. Ao ler o livro “Está Próximo o Reino”, fiquei impressionada com o exemplo de João, o Batizador, e disse a mim mesma: ‘Eu gostaria de ser pregadora destemida assim como ele.’”
María andou indagando sobre o local de reunião das Testemunhas, mas foi informada de que não havia nenhum na Ciudad Bolívar. O mais próximo estava em El Tigre, a uns 120 quilômetros de distância. Sem se intimidar, ela foi para lá, achou o lugar, assistiu a uma reunião e deixou uma nota para que Alejandro Mitchell fizesse o favor de visitá-la na Ciudad Bolívar.
No ínterim, ela descobriu que um alfaiate na vizinhança também tinha o livro “Está Próximo o Reino”. Ele sabia onde se reunia um pequeno grupo para ler A Sentinela. María foi junto para lá e conheceu ali Leopoldo Farreras, a mãe e a irmã dele, e mais alguns. Ela gostou da reunião e ficou tão entusiasmada com a matéria estudada, que levantou a mão em toda pergunta!
Depois de acabado o estudo, Leopoldo Farreras perguntou-lhe: “Donde vem a senhora?” María respondeu: “Da minha joalheria, mas não farei mais imagens.” Sorrindo por causa da resposta franca dela, Farreras perguntou-lhe: “Por que não?” “Por causa do que diz o Salmo 115:4-8”, respondeu María.
O grupo ainda não estava organizado para dar testemunho em público. Na realidade, foi este novo membro, María Charles, que sugeriu que obedecessem à ordem bíblica de pregar. Equiparam-se com cartões de testemunho e com publicações, e começaram a levar as boas novas aos habitantes da Ciudad Bolívar de forma organizada. Os primeiros anos foram muito difíceis, porque as pessoas temiam os clérigos. Mas os esforços fiéis do grupo zeloso produziram resultados. Em 1995, na Ciudad Bolívar havia nove congregações e um total de 869 publicadores.
Chegam mais missionários
Uma notícia emocionante chegou em 1950 à filial em Caracas. Mais 14 missionários iam ser enviados à Venezuela, e mais três lares missionários seriam abertos — em Barquisimeto, em Valencia e em Maracay. Mas conseguiriam os missionários entrar no país? O presidente da Venezuela acabava de ser assassinado; havia um toque de recolher após as 18 horas; as comunicações ficaram afetadas.
O primeiro avião a chegar ao país após o assassinato aterrissou no aeroporto perto de Caracas. Desembarcaram 14 novos missionários. Mas não havia ninguém à espera deles. Naquelas circunstâncias, simplesmente não eram esperados. Ralphine (Penny) Gavette, uma dos 14, conta: “Entramos em três táxis, preparados com o endereço da filial. Encontrar o lugar, a Avenida Páez, em Caracas, não era problema; mas é uma avenida muito comprida, e não conseguimos encontrar a casa. Estava escuro, depois da hora do toque de recolher, e os taxistas ficavam nervosos. Por fim, Vin Chapman, um dos missionários, pediu que o motorista parasse, e ele mesmo ia bater numa porta e perguntar pelo endereço, embora seu espanhol fosse muito limitado. Quando bateu, quem abriu a porta foi Donald Baxter, o superintendente de filial. Que alívio!”
Os missionários designados para Barquisimeto, uns 270 quilômetros ao sudoeste de Caracas, descobriram que esta era uma cidade muito religiosa. Nos anos 50, as pessoas estavam muito arraigadas na tradição e resistiam a mudanças.
Mas as reações variavam, dependendo do que se fazia e quem o fazia. Referente ao primeiro sábado em que os missionários saíram para dar testemunho nas ruas, o irmão Chapman conta: “Nós cinco ficamos nas esquinas principais do setor comercial no centro da cidade. Causamos muita sensação! Naquela época, quase não havia americanos em Barquisimeto e nenhuma moça americana. Eu não parecia conseguir colocar revistas, mas as meninas as colocavam com grande sucesso!” Num outro dia, porém, quando foram à feira para comprar alimentos, as quatro moças decidiram usar seus jeans. Em poucos minutos, quase cem mulheres formaram um círculo em volta delas, apontando e gritando: “¡Mira! ¡Mira!” (Veja! Veja!) Não estavam acostumadas a ver moças na rua com tal roupa. Naturalmente, as moças foram logo para casa e trocaram de roupa.
A maioria das pessoas naquela região nunca tinham visto uma Bíblia. Mesmo quando se usava uma Bíblia católica, não queriam aceitar o que ela dizia. Alguns nem mesmo queriam ler um texto da Bíblia, com medo de estarem pecando por fazer isso. No primeiro ano, fez-se muito pouco progresso em Barquisimeto.
Por fim, a religião verdadeira
Nem todos em Barquisimeto haviam sido cegados pelos anos de tradição católica romana. Um notável exemplo era Luna de Alvarado, uma senhora já bastante idosa, que por muitos anos fora católica romana. Quando a irmã Ganette pela primeira vez bateu na porta dela, a senhora disse: “Señorita, desde mocinha tenho esperado que alguém viesse à minha porta e me explicasse as coisas de que me acaba de falar. Acontece que, quando era moça, eu costumava limpar a casa do sacerdote, e ele tinha uma Bíblia na sua biblioteca. Eu sabia que estávamos proibidos de lê-la, mas eu estava tão curiosa de saber o motivo disso, que certo dia, quando ninguém estava olhando, eu a levei para casa e a li em secreto. O que li fez-me perceber que a Igreja Católica não nos ensinava a verdade e assim não era a religião verdadeira. Eu tinha medo de falar a alguém sobre isso, mas tinha certeza de que algum dia aqueles que ensinavam a religião verdadeira iam chegar à nossa cidade. Quando chegou a religião protestante, no começo pensei que fosse, mas logo descobri que ensinava muitas das mesmas falsidades da Igreja Católica. Agora, aquilo que me acaba de dizer, é o que li na Bíblia tantos anos atrás.” Providenciou-se logo um estudo, e não demorou muito até Luna simbolizar sua dedicação a Jeová. Apesar de severa oposição da família, ela serviu fielmente a Jeová até a sua morte.
Eufrosina Manzanares também foi movida pelo coração a aceitar a Palavra de Deus. Quando Ragna Ingwaldsen a contatou, Eufrosina nunca tinha visto uma Bíblia. Mas concordou em que Ragna estudasse com ela. Ragna conta: “Ela tinha sido religiosa de modo formal, assistindo todo domingo à missa e sempre mantendo uma lamparina acesa diante da estátua dum ‘santo’, num nicho da parede. Para ter a certeza de que a lamparina nunca se apagaria, ela guardava litros de óleo para este fim específico!” Mas Eufrosina aplicou o que aprendeu da Bíblia. Quando aprendeu que certas coisas não agradavam a Jeová, fez mudanças na sua vida. Assim, eliminou suas imagens, parou de fumar e legalizou seu casamento. Mais tarde, sua mãe participou no estudo. Não foi fácil para Eufrosina livrar-se de seus grandes charutos. Quando tinha apenas dois anos de idade, sua mãe costumava pôr-lhe um cigarro na boca para que ficasse calada, e ela havia fumado desde então. Mas agora, para agradar a Jeová, parou de fumar, foi batizada e tornou-se publicadora muito zelosa.
Seis anos depois de se enviarem os primeiros missionários a Barquisimeto, ainda havia apenas cerca de 50 publicadores ali. Mas Jeová tem abençoado os persistentes esforços de achar os semelhantes a ovelhas. Em 1995, as 28 congregações em Barquisimeto relataram 2.443 publicadores.
Valencia, campo frutífero
Mais ou menos a meio-caminho entre Barquisimeto e Caracas encontra-se a cidade de Valencia, a quarta maior cidade na república. O ambiente das suas ruas antigas e estreitas é o da velha Espanha, e como sua homônima espanhola, Valencia é famosa pelas suas laranjas.
Do grupo de missionários que chegou à Venezuela em 1950, oito foram enviados a Valencia. Evelyn Siebert (agora Ward) lembra-se de começar em Valencia com uma apresentação decorada. “Apesar da nossa falta de conhecimento do espanhol, iniciamos muitos estudos bíblicos”, conta ela. Um destes foi com Paula Lewis. Paula era católica e muito devotada a imagens, especialmente à do “Sagrado Coração de Jesus”, a quem regularmente pedia favores. Toda semana ia à igreja, fazia seu donativo de três bolívares e orava à imagem, pedindo que seu marido voltasse para ficar com a família. Visto que ele continuava a morar separado deles, decidiu falar com mais vigor à imagem. ‘Senhor, se desta vez eu não obtiver resultados, vai ser o último donativo que lhe dou.’ Deixou ali seus três bolívares e nunca mais voltou.
No mês seguinte, Evelyn Siebert chegou à porta dela. Paula escutou com satisfação, ficou com o livro “Seja Deus Verdadeiro” (embora nem soubesse ler), e, com a ajuda de Evelyn, começou a estudar a Bíblia. Paula e uma das suas filhas estavam entre os primeiros a ser batizados em Valencia. O marido de Paula, Stephen, embora no começo não quisesse saber nada “desta tolice”, como a chamou, reconsiderou isso, voltou a viver com a família e também se tornou servo de Jeová — não em resultado da devoção a uma imagem conhecida como Sagrado Coração de Jesus, mas por causa do seu estudo da Bíblia.
Dois anos depois de os outros missionários terem chegado a Valencia, Lester Baxter (irmão mais velho de Donald) e sua esposa, Nancy, juntaram-se a eles. Especialmente Lester teve de fazer empenho para aprender o espanhol. Ele não só o precisava para seu ministério de campo, mas por ser o único irmão no grupo missionário, cabia-lhe dirigir todas as reuniões. O treinamento intensivo produziu bons resultados. Dois anos depois, quando se formou o primeiro distrito na Venezuela, Lester foi designado superintendente de distrito. Depois disso, serviu por 30 anos no serviço de viajante.
Entre os missionários que serviam em Valencia estava o baixo e loiro Lothar Kaemmer, da Alemanha, e Herbert Hudson, de olhos azuis e faces rosadas, da Grã-Bretanha. Foram por um tempo colegas de quarto e uma demonstração viva de como a verdade bíblica afeta a vida das pessoas. Acontece que Lothar, quando jovem, tinha sido membro da Juventude Hitlerista alemã, e Herbert tinha estado na Força Aérea Real britânica — inimigos durante a guerra! Mas a Palavra de Deus mudara-lhes o conceito sobre a vida. Como missionários, trabalhavam juntos para ensinar as pessoas a viver em paz — em primeiro lugar com Deus, mas também umas com as outras.
Fugir ou ficar firme?
Alice Palusky, uma das missionárias ali em Valencia, visitou em 1953 a Gladys Castillo, de 18 anos. Gladys gostou do que ouviu; no entanto, ficou um pouco desconfiada porque Alice não usava uma Bíblia católica. De modo que Gladys foi à catedral em Valencia e falou com o bispo. Explicou que estava estudando com “protestantes”, pois era isto o que achava das Testemunhas, mas queria uma Bíblia católica para verificar todos os textos. Na época, as Testemunhas eram comparativamente poucas e não muito conhecidas em Valencia. A idéia de Gladys parecia sensata ao bispo, de modo que lhe deu uma Bíblia. Gladys ficou espantada com o que lia na Bíblia, dando-se conta de que os católicos não estavam praticando o que a Bíblia ensinava. Decidiu deixar a Igreja.
Em 1955, quando se preparava para ser batizada, surgiu um teste para a sua fé. Estudava para ser professora, e faltava apenas mais um ano para a sua formatura. Na faculdade planejava-se uma cerimônia em homenagem à Virgem Maria. Esperava-se que todos assistissem à missa especial. Gladys conta: “Aqueles eram os dias do ditador Pérez Jiménez, e era comum alguém ser expulso da escola caso se recusasse a seguir as regras. Fez-se um anúncio de que aquele que não assistisse à missa podia apanhar sua carta de expulsão, que lhe negaria também a oportunidade de estudar em outra faculdade. Foi uma verdadeira prova para mim. Chegou a hora para ir à missa, e eu pensei em esconder-me no banheiro, ou fugir e ir para casa. Por fim, decidi ficar firme. Expliquei ao diretor da faculdade que eu não iria à missa porque não me considerava mais católica, mas que estudava com as Testemunhas de Jeová. Embora ele ficasse muito zangado comigo, deixou-me ir para casa. Não fui expulsa. Fiquei feliz de ter confiado plenamente em Jeová.”
Quando clérigos receberam testemunho
Entre outros, também clérigos recebiam testemunho. Marina Silva, uma das primeiras pessoas a se tornar Testemunha em Valencia, lembra-se do dia em que foi visitada pelo sacerdote da igreja que ela havia freqüentado antes de se tornar Testemunha. Ela pôde conversar com ele extensamente. Daquilo que se lembra mais claramente é que, quando ele não conseguiu localizar os textos bíblicos que Maria queria que procurasse, admitiu: ‘No seminário, estudamos tudo menos a Bíblia.’ Concordou com ela em muitos pontos; mas quando ela o incentivou a abandonar o sacerdócio e a servir a Jeová, ele disse: “Quem vai então fornecer-me o meu arepa?” (Arepa é o pão de milho local.)
Embora a própria Marina antes tivesse sido uma devota do Sagrado Coração de Jesus — dedicando toda sexta-feira a essa imagem — a verdade bíblica mudou-lhe a vida. Ela foi batizada em 1953, tornou-se pioneira especial em 1968 e ainda continua neste serviço especial. Na divulgação das boas novas, Marina teve o privilégio de ajudar a iniciar a obra em San Carlos, Temerla, Bejuma, Chirgua, Taborda, Nirgua e Tinaquillo.
Quando a mensagem da verdade chegou a Tinaquillo, um pouco ao sudoeste de Valencia, a reação inicial foi hostil. Marina se recorda de que, quando o grupo pequeno começou a trabalhar na cidade, o sacerdote local, “Monsignor” Granadillo, montou alto-falantes para advertir o povo. “A febre amarela chegou a Tinaquillo!” gritou ele. “Não escutem esta gente! Defendam a cidade e sua religião! Defendam o mistério da santíssima Trindade!” Marina decidiu visitar o sacerdote. Foi à casa dele e esperou até que voltasse.
Cumprimentou-o dizendo: “Eu faço parte da ‘febre amarela’ de que se queixou esta manhã. Gostaria de esclarecer que somos Testemunhas de Jeová. Pregamos uma mensagem importante sobre o Reino de Deus, uma mensagem que a igreja devia pregar, mas não o faz.” Corajosamente, pediu-lhe que trouxesse a sua Bíblia e mostrou-lhe o texto de Atos 15:14, onde se predisse que Jeová tiraria das nações “um povo para o seu nome”. A atitude dele mudou. Disse que lamentava, pois não se dera conta de que tipo de pessoas nós éramos. Para a surpresa de todos, ele assistiu ao discurso público para o qual a irmã o convidou. Depois disso, aceitou as revistas diversas vezes na praça principal. Outros, vendo isso, também se sentiram incentivados a ficar com elas. Em 1995, havia em Tinaquillo quatro congregações e 385 publicadores.
Sementes da verdade brotam em Maracay
Deve lembrar-se de que, além dos missionários enviados a Barquisimeto e a Valencia, alguns dos que chegaram em 1950 deviam cuidar de Maracay. Esta é a quinta maior cidade da Venezuela, uns 120 quilômetros ao sudoeste de Caracas. Fica do lado leste do lago Valencia e é ladeada por morros.
Com a chegada dos missionários a Maracay, tornou-se possível realizar reuniões também nesta cidade. Na época, o grupo missionário era de irmãos solteiros. No entanto, quando Leila Proctor, missionária natural da Austrália, chegou em 1958, embora entre 12 e 20 assistissem às reuniões, havia apenas um irmão batizado em Maracay. Era Keith Glessing, o qual, com a esposa Joyce, se formara na Escola de Gileade em 1955. Por causa da falta de irmãos, precisava-se da ajuda de irmãs em diversas formas. A irmã Proctor conta: “Nós irmãs fazíamos partes na Reunião de Serviço e ajudávamos com as contas, as publicações e as revistas. Depois de cinco meses na minha designação, fui incumbida de dirigir um estudo de livro. No começo, havia apenas um publicador inativo e eu. A reunião era realizada à luz de vela numa casa com piso de terra. Não demorou muito, porém, apesar do meu horrível espanhol, que a assistência aumentou tanto, que encheu a sala, a cozinha e o pátio. Só pode ter sido devido ao espírito santo de Jeová.”
Foram tantos em Maracay que demonstraram o vivo desejo de conhecer e de servir a Jeová, que no início de 1995 havia nesta cidade 30 congregações com o total de 2.839 publicadores.
‘Eu lhe dou um tiro se for verdade!’
Em Maracay, entre os que mostraram interesse estava María, esposa de Alfredo Cortez. Joyce Glessing estudara a Bíblia com ela por seis meses. Daí, certo dia, o marido voltou para casa e encontrou ali esta gringa, como chamam aqui as americanas. Perguntou à esposa de que se tratava. Como explicação, a esposa lhe deu uma revista que Joyce deixara com ela. Este número continha um artigo sobre o espiritismo, relacionando-o com o rosacrucianismo. Ele o leu com interesse, porque envolvia suas crenças.
Quando sua esposa falou à irmã Glessing sobre o interesse do marido na revista, fizeram-se arranjos para que o marido da missionária, Keith, visitasse o Sr. Cortez. Ele fez isso e iniciou-se um estudo bíblico. Depois de apenas três semanas — um pouco prematuramente — o missionário convidou o Sr. Cortez a acompanhá-lo no serviço de porta em porta. Este aceitou, gostou muito do serviço e colocou 16 revistas. Muito contente, saiu à noite com amigos que não eram Testemunhas para celebrar seu êxito, e ficou embriagado, voltando para casa às três da madrugada!
No dia seguinte, estava arrependido e pensou: ‘Ou vou servir a Jeová de forma correta ou vou voltar ao meu anterior estilo de vida.’ Com alguma dificuldade, foi persuadido a continuar com seu estudo da Bíblia. Aos poucos, deixando para atrás seu antigo estilo de vida, progrediu e foi batizado em 1959.
Duas semanas depois, um coronel furioso, padrinho de uma das filhas de Alfredo, veio vê-lo, apontou um revólver no seu peito e ameaçou: “É verdade o que eu ouvi — que você se tornou Testemunha de Jeová? Eu lhe dou um tiro se disser que sim!” Alfredo continuou calmo e confirmou que era verdade, e explicou por quê. Aborrecido, o coronel guardou a arma e saiu furioso, dizendo que não se considerava mais padrinho da filha dele. Graças ao espírito de Jeová e ao zelo de Alfredo em dar testemunho a todos, ele ajudou 89 pessoas a conhecer a verdade e a dedicar a vida a Jeová. Serve atualmente como ancião em Cabudare, perto de Barquisimeto; um dos seus filhos é pioneiro especial; e sua filha Carolina, com o marido, servem na filial.
Cuidado, é época de carnaval!
A época de carnaval é um período de festas e de fantasias — e de jogar água nos outros! Especialmente as crianças gostam muito de molhar transeuntes insuspeitos. Não costuma ser sábio sair às ruas na segunda e na terça-feira de carnaval.
“Não prestei atenção ao aviso”, admite Leila Proctor. “No meu primeiro ano em Maracay, pensei que pudesse ir dirigir meus estudos bíblicos sem problemas. Pois bem, eu fui, mas cheguei ao meu primeiro estudo totalmente molhada, tendo sido o alvo dum balde de água jogada de cima sobre mim. Fui para o meu segundo estudo já parcialmente seca, mas fui o alvo de dois baldes de água em caminho para lá. Cheguei molhada até os ossos.” Outros missionários podem contar algo similar.
Leila, que está no lar missionário em Caracas, na Quinta Luz, arranja agora sua programação um pouco diferente na época do carnaval.
“Ele ouviu a minha oração sincera”
Quando Alfredo Amador ainda era pequeno, seu pai lhe mostrava os céus estrelados e lhe dizia o nome de algumas das constelações. “Deus fez a todas elas”, costumava dizer. Mas o pai de Alfredo morreu antes de seu filho completar dez anos. Alfredo, que morava então em Turmero, no Estado de Aragua, começou a ter dúvidas sobre a sua religião. Não lhe parecia direito que o sacerdote cobrasse dinheiro para proferir orações pelos mortos ou que os ricos pudessem fazer seus parentes sair do purgatório mais cedo do que os pobres. Cheio de dúvidas, entregou-se à bebedice, à imoralidade sexual, à violência e ao uso de drogas. Quando passou a ceifar as conseqüências do que semeara, procurou uma saída. Lembrou-se então daquelas noites em que olhava para os céus com seu pai.
“Certa tarde, sentindo-me totalmente desesperado, e com lágrimas nos olhos”, conta ele, “orei a Deus para que me deixasse conhecê-lo. Parece que ele ouviu a minha oração sincera, pois logo na manhã seguinte, duas Testemunhas de Jeová bateram na minha porta. Isso resultou em palestras interessantes, mas eu não concordei em ter um estudo bíblico. Queria ler a Bíblia por mim mesmo, embora concordasse em ir ao Salão do Reino. O irmão que me visitava levou-me também a uma assembléia perto, em Cagua. Escutando os diversos discursos, dei-me conta de que esta era a verdade. Quando os batizandos se levantaram para responder às perguntas, eu também o fiz!”
Alfredo ficou surpreso de ver que todos os outros que se tinham levantado estavam em certa parte do auditório, ao passo que ele estava em outra parte. Mas enfileirou-se com eles para ser batizado. Alguém lhe perguntou então de que congregação era. Ele nem sabia que as congregações tinham nome! Logo descobriu que não estava realmente pronto para ser batizado.
Pouco depois, casou-se com a mulher com quem vivia, e com a ajuda dum estudo sistemático da Bíblia, habilitou-se a participar com os irmãos em dar testemunho de porta em porta. Em 1975, foi batizado junto com a esposa. Agora serve como ancião cristão em Maracay. Ele aguarda o dia, no novo sistema de Deus, quando seu pai voltar na ressurreição. Poderá então dizer ao pai que o nome do Criador de quem lhe falara muitos anos atrás é Jeová, e poderá incentivar o pai a chegar a conhecer bem a Jeová.
Catástrofe em Maracay
O seis de setembro de 1987 é uma data que será lembrada pelos que moram na região de Maracay. Chuvas torrenciais causaram inundações e deslizamentos de terra que arrasaram ou inundaram completamente centenas de casas.
Muitos dos quase 2.000 publicadores em Maracay estavam assistindo a um congresso de distrito quando sobreveio a catástrofe. Ao retornarem, viram que suas casas e seus pertences tinham desaparecido. Pelo menos 160 pessoas morreram; outras centenas constavam como desaparecidas; 30.000 ficaram desabrigadas. Embora nenhuma Testemunha perdesse a vida ou ficasse gravemente ferida, 114 Testemunhas e estudantes da Bíblia perderam a casa, não lhes sobrando mais do que a roupa do corpo.
Os irmãos mobilizaram rapidamente uma eficiente comissão de socorro e administraram abundante ajuda em forma de alimentos, medicamentos, roupa pessoal e de cama. Estes suprimentos chegaram em caminhões da parte de Testemunhas preocupadas em outras vilas e cidades, até que não houve mais necessidade. Quando os irmãos encarregados se deram conta de que havia mais do que suficiente para cuidar das Testemunhas e dos estudantes da Bíblia, colocaram também alimentos e roupa à disposição de vizinhos em apuros. A sobrepujante generosidade dos irmãos e sua prontidão de ajudar deveras fortaleceram a fé.
O notável desejo de se reunir
Os venezuelanos, por natureza, são muito gregários. Gostam de estar juntos em grande número — para uma refeição, uma festa ou um passeio até a praia ou ao interior. Quando entram na organização de Jeová, este aspecto da sua personalidade continua a se destacar. Gostam muito de assembléias e de congressos. Para muitos deles, o tempo, a distância, o custo e a inconveniência não são obstáculos, desde que possam estar juntos.
Em janeiro de 1950, houve muita animação quando os irmãos se preparavam para uma assembléia de dois dias em Maracaibo. O irmão Knorr e Robert Morgan, da sede mundial, iam estar presentes. Pedro Morales ficou desapontado porque foi recusada a publicidade na imprensa local por causa da oposição da Igreja. No entanto, ao se aproximar a hora de os irmãos chegarem de avião, ele inventou outro método. Contou mais tarde: “Providenciei que todas as crianças da congregação estivessem no aeroporto, cada uma com um ramalhete de flores. Naturalmente, isso despertou o interesse dos jornalistas ali, e eles perguntaram se estavam esperando alguém especial. As crianças, bem treinadas, responderam: ‘Sim, senhor, e ele proferirá um discurso no Salão Maçônico, na rua Urdaneta N.º 6, ao lado da polícia.’ Quando os irmãos visitantes chegaram, os repórteres tiraram fotos, e a informação sobre a assembléia, junto com as fotos, apareceu nos jornais. Recebemos assim nossa publicidade.”
Durante dois dias antes da Reunião Pública, a rádio local, Ondas del Lago, também fez a cada meia hora anúncios deste discurso e que ele seria transmitido por rádio. O resultado foi muito favorável. Além dos 132 na assembléia, houve uma grande assistência por rádio. Naquele ano houve o maior aumento em número de publicadores já registrado na Venezuela — 146 por cento.
Outro congresso de distrito lembrado por muitos foi realizado na praça de touros Nuevo Circo, em Caracas, em 23-27 de janeiro de 1967. Este foi o nosso primeiro congresso internacional na Venezuela. Houve 515 congressistas estrangeiros na assistência, inclusive membros da diretoria da Sociedade Torre de Vigia (dos EUA). Os dramas bíblicos eram um aspecto novo do programa naquela época. Dyah Yazbek, que supervisionava um deles, conta: “Causaram uma grande impressão, não só por causa da novidade e da mensagem do drama, mas também por causa das 500 câmeras fotográficas dos congressistas visitantes que freneticamente registravam o acontecimento!” Essa reunião internacional atraiu muita atenção. Embora na época houvesse menos de 5.000 Testemunhas na Venezuela, a assistência chegou a 10.463. Nos três anos seguintes, o aumento no número das Testemunhas ativas no país foi de 13 por cento, 14 por cento e 19 por cento.
Não é algo incomum que um interessado assista a uma assembléia de circuito ou a um congresso de distrito mesmo antes de ter um estudo bíblico formal ou de ter ido ao Salão do Reino. E o desejo de se congregar foi notavelmente demonstrado em janeiro de 1988. Don Adams, da sede em Brooklyn, estava de visita como superintendente zonal. Alugara-se uma praça de touros em Valencia e providenciara-se um programa de duas horas. Na época, havia apenas 40.001 publicadores em toda a Venezuela. Mas 74.600 pessoas compareceram ao programa; tinham vindo dos cantos mais afastados do país. Alguns viajaram 12 horas ou mais de ônibus para estar presentes; e quando o programa acabou, tomaram de novo seus ônibus para as 12 horas de viagem de volta. Mas para as sorridentes, alegres e pacientes Testemunhas venezuelanas valeu a pena estar durante meio dia entre tantos de seus irmãos e irmãs espirituais.
Mensagem levada aos Andes
A cordilheira dos Andes se estende ao norte até a Venezuela. Três cidades principais que se encontram na região dos Andes são Mérida, San Cristóbal e Valera. O modo de vida e as atitudes das pessoas são notoriamente diferentes daqueles nas cidades costeiras e nas áreas metropolitanas.
Rodney Proctor, superintendente de distrito, que tem servido nos Andes, fez a seguinte observação a respeito dos que vivem ali: “Muitas vezes, o estranho é tratado como um estrangeiro embora esteja no seu próprio país. A Igreja ainda exerce muita influência, e de modo geral, a mensagem do Reino não é prontamente aceita. Alguns dos pioneiros especiais tiveram a experiência de passar um ano inteiro numa cidade antes de obterem uma resposta das pessoas que cumprimentam na rua. Depois do segundo ano, alguns talvez comecem a estudar a Bíblia. Dessemelhante das outras partes do país: ‘O que vão pensar os vizinhos?’ parece ser um impedimento para se atender as Testemunhas.”
No começo dos anos 50, Juan Maldonado, pioneiro de Caracas, visitou diversas cidades nos Andes, ficando algumas semanas, pregando em cada uma delas. A recepção em San Cristóbal no começo não foi animadora. O irmão Maldonado foi diversas vezes preso por causa da sua pregação franca.
Todavia, havia uma família que mostrou interesse na verdade e ele estudou a Bíblia com ela diversas vezes por semana durante a sua estada ali. Mas ela foi perseguida pelos parentes e pelo sacerdote local, a ponto de que a mãe, Angelina Vanegas, não conseguia mais trabalho suficiente para sustentar a família.
Vin e Pearl Chapman, depois de terem servido como missionários em Barquisimeto, foram designados a San Cristóbal em dezembro de 1953. Angelina Vanegas e sua família os acolheram como provisão maravilhosa de Jeová e começaram logo a sair no serviço de pregação junto com os missionários. Alguns meses depois, a mãe decidiu ser batizada. A banheira no lar missionário era bastante grande e Angelina era bem pequena, de modo que não foi difícil batizá-la.
Sesta ou salvação?
Os Chapman começaram a estudar com um casal muito pobre, Misael e Edelmira Salas. Edelmira era uma católica fervorosa. “Minha devoção era tão grande”, explica ela, “que numa ocasião em que eu estava grávida, a fim de cumprir um voto que fizera a Deus, fiz a peregrinação descalça de uma aldeia a outra, depois andei de joelhos da porta da igreja até o altar. Depois andei descalça todo o caminho de volta, e por causa disso fiquei doente e perdi o bebê.”
Na época em que nasceu seu próximo bebê, Misael e Edelmira já haviam começado a estudar a Bíblia com os Chapman. Certo dia, quando o bebê estava muito doente, Edelmira decidiu levá-lo ao hospital. Antes de ir, os vizinhos a pressionaram para que batizasse rapidamente o bebê, dizendo que, se este morresse, lhe negariam o enterro e ele iria ao limbo. Edelmira decidiu que, por precaução, passaria pela igreja em caminho para o hospital e pediria ao sacerdote que batizasse seu bebê.
“Cheguei por volta do meio-dia, e o sacerdote não se agradou nada de que o perturbasse durante a sua sesta”, conta ela. “Ele me mandou ir embora e vir noutra hora. Eu lhe disse: ‘Meu bebê está morrendo. É mais importante salvar um bebê do limbo ou que o senhor termine sua sesta?’ Aborrecido, ele condescendeu em batizar o bebê, mas mandou seu assistente, um sacristão, fazê-lo.”
O bebê sobreviveu, mas este incidente foi um ponto de virada para Edelmira. Estando então completamente desiludida com a igreja, começou a estudar seriamente a Bíblia com as Testemunhas. Depois, ela e o marido se mudaram para uma cidade chamada Colón, onde não havia Testemunhas. Quando Casimiro Zyto visitou San Cristóbal como superintendente de circuito, os missionários lhe pediram que visitasse Edelmira. Como ela ficou grata por esta visita! Nesta ocasião foi batizada.
Graças aos esforços iniciais dela, há agora uma congregação em Colón. Há também três em El Vigía, onde ela ajudou a iniciar a obra quando a família se mudou para lá. Depois de alguns anos, seu marido também foi batizado, bem como as três filhas dela.
Sacerdote incentiva a violência
Em outra aldeia nos Andes, Luis Angulo servia como pioneiro. Certo dia em 1985, alarmado com o barulho lá fora da sua casa, foi olhar e ficou atônito de ver diante da porta da frente uma mesa com um “santo” nela. Uma multidão irada clamava que as Testemunhas saíssem da localidade, e ameaçava incendiar a casa. “Damos-lhe uma semana para sair da cidade!” gritava a multidão.
O irmão Angulo conta: “Decidi que a melhor coisa era ir ao prefecto da localidade em busca de ajuda. O prefecto foi compreensivo e mandou a polícia trazer os líderes da turba. ‘Quem os organizou para fazer isso?’ perguntou-lhes. Eles por fim admitiram que fora o sacerdote católico. Num sermão durante a missa, ele incentivara seus paroquianos a nos expulsar da localidade, alegando que púnhamos em perigo o bem-estar espiritual da aldeia. ‘Esse sacerdote está louco!’ exclamou o prefecto. ‘Agora voltem para casa e deixem as Testemunhas em paz, ou todos vão parar na cadeia.’”
Pouco depois, descobriu-se que o sacerdote estava envolvido numa fraude, e como acontece tantas vezes em casos assim, ele simplesmente foi transferido para outra região.
Pessoa mudada
Em Pueblo Llano, a próxima aldeia, Alfonso Zerpa era bem conhecido. Estava envolvido na política, era beberrão, usava drogas, fumava, era mulherengo e aterrorizava a população por percorrer velozmente as duas ruas principais na sua motocicleta. No entanto, depois de se plantarem as sementes da verdade no seu coração, em 1984, estas se desenvolveram rapidamente. Alfonso começou a ver a necessidade de fazer grandes mudanças e de revestir-se da nova personalidade. — Efé. 4:22-24.
Quando veio à primeira Reunião Pública, foi o único presente além dos pioneiros especiais. “Onde está todo o mundo?” perguntou. Talvez tenha sido melhor ser ele o único. Ele tinha tantas perguntas, que os pioneiros ficaram ocupados até a meia-noite para respondê-las com a Bíblia. Depois disso, nunca perdeu uma reunião, e sua esposa Paula o acompanhava. Endireitou o seu jeito e a sua vida, e por fim se habilitou como publicador. O primeiro território que trabalhou foram aquelas mesmas duas ruas principais em Pueblo Llano! Então cortês e bem trajado de terno e gravata, conseguiu dar um excelente testemunho. Ele e Alcides Paredes, que Alfonso havia levado às reuniões e apresentado como seu melhor amigo, são agora anciãos que servem, com a família, na Congregação Pueblo Llano. Mais de 20 dos parentes de Paula também foram ajudados a apreciar a verdade.
Por fim venceram-se as barreiras aparentemente intransponíveis ao progresso, e em 1995, San Cristóbal tinha dez congregações, Mérida tinha sete e Valera quatro. Há também muitos grupos e congregações menores em toda a região dos Andes.
Necessidade de homens em Cumaná
A cidade de Cumaná, capital do Estado de Sucre, é a cidade hispânica mais antiga da América do Sul. A verdade foi levada ao povo de Cumaná de forma organizada, em 1954, com a chegada de pioneiros especiais. Mais tarde, Rodolfo Vitez e sua esposa, Bessie, missionários, vieram ajudar. Com o tempo, ele foi designado para o serviço de circuito, mas não antes de ter conseguido alugar um pequeno salão, de tê-lo limpado e pintado, bem como equipado com bancos antigos, reformados, descartados dum estádio de beisebol. Tendo um lugar em que se reunir, o número das pessoas presentes aumentou rapidamente. Mas eram quase só mulheres e crianças.
Penny Gavette e Goldie Romocean haviam sido designadas para o grupo missionário em Cumaná, e elas se lembram de que, depois de o irmão Vitez ir para o serviço de circuito, não havia homens para tomar a dianteira. Os homens simplesmente não queriam vir às reuniões. Diz Penny: “Eles costumavam dizer-nos: ‘Não gostamos desta religião. Ela não nos permite embriagar-nos e ter outras mulheres. Nossa religião nos deixa fazer o que quisermos.’ Mesmo quando havia 70 ou 80 presentes, ainda assim havia apenas cinco ou seis homens ali, e nós irmãs de vez em quando ainda tínhamos de dirigir as reuniões.
Aos poucos, porém, alguns homens começaram a vir a elas e a progredir o suficiente para ser encarregados de responsabilidades na congregação. Em pouco tempo, o pequeno Salão do Reino estava superlotado. A fraca ventilação e o aperto não impediam as pessoas de vir às reuniões. Embora as missionárias achassem que o Salão do Reino na hora das reuniões parecia mais um banho turco, o amor à verdade induzia os presentes a ficar sentados e a escutar por duas horas. Com o tempo, Jeová abriu o caminho e se construiu um novo Salão do Reino.
A obra em Cumaná tem continuado a crescer. Em 1995, havia ali 17 congregações progressistas, com o total de 1.032 publicadores das boas novas.
Seguiu os passos da irmã
Quando Penny Gavette partiu de casa na Califórnia para cursar a Escola de Gileade em 1949, sua irmã Eloise tinha apenas cinco anos. O que Penny fazia impressionava muito a Eloise. Ela se lembra de ter pensado: ‘Eu quero crescer para também ser missionária.’ Em 1971, ambas ficaram muito alegres quando Eloise, também formada em Gileade, foi designada como companheira missionária de Penny em Cumaná.
Eloise, agora casada com o superintendente de distrito Rodney Proctor, lembra-se do vasto território que ela e Penny cobriram. “Depois de dois anos de trabalho em Cumaná, minha irmã e eu decidimos que gostaríamos de dar mais atenção a algumas das localidades menores”, conta ela. “Obtivemos da filial a permissão para trabalhar nas localidades de Cumanacoa e Marigüitar, e passávamos ali dias inteiros ou fins de semana. Era muito quente, e tínhamos de ir a todo lugar a pé. Em ambas as localidades formaram-se grupos.”
As boas novas chegam a localidades fronteiriças
Na parte leste do país, morros arredondados e cobertos de florestas, ao sul do rio Orinoco, dão lugar a um planalto ao norte da fronteira com o Brasil. São impressionantes platôs de arenito que atingem 2.700 metros de altitude. Esta região pouco povoada da Venezuela é rica em recursos de ouro e de diamantes. Todavia, nas cidades pequenas desta região se procura outro tipo de tesouro. São os tesouros espirituais, “as coisas desejáveis de todas as nações”. — Ageu 2:7.
Em 1958, um grupo de cinco Testemunhas tomou um pequeno avião para ir a esta região. Colocaram centenas de revistas com a população índia. Quase 20 anos mais tarde, quando o superintendente viajante Alberto González foi a Santa Elena, junto com um grupo de irmãos de Puerto Ordaz, eles colocaram 1.000 revistas. A cidade não tinha eletricidade na época, mas um homem emprestou-lhes um gerador para projetarem slides, e estes foram vistos por uma assistência de 500 pessoas. Depois, em 1987, dois pioneiros especiais, Rodrigo e Adriana Anaya, chegaram ali de Caracas.
Os grupos religiosos que antes haviam ido a esta região lançaram a base em que as Testemunhas construíram. Católicos e adventistas ensinaram aos índios a falar e a ler espanhol. Trouxeram também a tradução Valera da Bíblia, que consistentemente usa o nome divino Jehová.
Mas alguns índios começaram a dar-se conta de que a Igreja Católica não ensinara direito o que constava na Bíblia. Por exemplo, uma índia, ao aprender o conceito de Deus sobre as imagens, exclamou: “Imagine, eles nos ensinaram que era errado adorar o sol e que os ídolos índios eram falsos, mas ao mesmo tempo as imagens da própria Igreja Católica desagradam a Deus! Tenho vontade de descer até a igreja e bater no sacerdote com um pau por me ter enganado tanto tempo!” Ela foi persuadida a não fazer isso, mas expressou os sentimentos de muitos dos habitantes daquela região.
Os índios, ali na parte sul do Estado de Bolívar, gostam muito de nossas publicações. Sendo amantes da natureza, sentem-se especialmente atraídos pelas ilustrações coloridas das criações de Deus. É interessante presenciar a colocação de uma publicação. O índio toma o livro na mão, apalpa-o, cheira-o, abre-o, suspira extasiado ao ver as ilustrações coloridas e murmura comentários de aprovação na língua pemón. Às vezes estão tão ansiosos, que passam a tirar as publicações da pasta do pioneiro e a distribuí-las entre os membros da sua família. As pessoas locais são muito hospitaleiras e freqüentemente oferecem refeições aos que lhes trazem a mensagem do Reino.
Na primeira Comemoração depois da chegada dos pioneiros especiais havia 80 pessoas presentes. Agora há ali uma congregação. Mas as tradições profundamente arraigadas dos índios fazem com que o progresso seja vagaroso.
Pronta aceitação na Amazônia
A região amazônica da Venezuela se encontra na parte centro-sul do país. Próxima à fronteira colombiana há a pequena cidade de Puerto Ayacucho. Ela está cercada por selva virgem de fascinante vida selvagem e numerosas cataratas.
Nos anos 70, Willard Anderson, superintendente de circuito, visitou Puerto Ayacucho quando havia ali apenas sete publicadores. Encontrou excelente aceitação no território; certa manhã, ele colocou 42 livros. O grupo colocou com otimismo 20 cadeiras para uma apresentação de slides, mas imagine a sua surpresa e deleite quando 222 pessoas compareceram! Existe agora em Puerto Ayacucho uma próspera congregação de mais de 80 proclamadores do Reino.
Índios guajiros em Zulia
No extremo oeste da Venezuela fica o Estado de Zulia. Os habitantes originais desta região são os índios guajiros. Em alguns lugares, como em La Boquita, eles moram em casas revestidas de esteiras e construídas sobre palafitas. Seus costumes e sua roupa são pitorescos. Os homens montam os cavalos com pernas despidas. As mulheres usam vestidos longos, multicoloridos, em forma de tenda, e suas sandálias têm grandes pompons de lã.
Entre estes índios guajiros encontram-se pessoas de disposição mansa. Sua reação inicial à mensagem da Bíblia muitas vezes é de certa reserva, porque grupos religiosos da cristandade os haviam explorado. Mas alguns reagem de modo favorável.
Frank Larson, missionário, levou um dos filmes da Sociedade ao território dos guajiros. A projeção do filme foi anunciada para as 19 horas, mas não veio ninguém. No entanto, depois de se tocar um disco defeituoso com a popular música salsa, apareceram 260 pessoas, e elas gostaram do filme. Numa outra ocasião, mais de 600 vieram ouvir um discurso proferido por Mario Iaizzo, superintendente de circuito.
Imigrantes que zelosamente divulgam a verdade bíblica
Na Venezuela, 1 em cada 6 pessoas é de origem estrangeira. Especialmente nos anos 50, grande número de imigrantes chegou de Portugal, da Itália, da Espanha e dos países árabes. Muitas vezes chegaram quase sem dinheiro, mas no decorrer dos anos estabeleceram negócios prósperos. São gente trabalhadora; sua vida está cheia de preocupação com interesses materiais. Em resultado disso, muitas vezes é difícil contatá-los com a mensagem do Reino. Naturalmente, há também imigrantes de outros países sul-americanos, em especial da Colômbia.
Aqui na Venezuela, uma Testemunha com uma longa história de serviço teocrático foi Vilius Tumas, que fora batizado na Lituânia, em 1923. Tendo sobrevivido aos dias tenebrosos do regime de Hitler na Europa, o irmão Tumas mudou-se para a Venezuela depois da Segunda Guerra Mundial. Até a sua morte em 1993, deu um excelente exemplo de serviço fiel aos seus irmãos na cidade de La Victoria, onde serviu como ancião de congregação.
Remigio Afonso, nativo das ilhas Canárias, serve como superintendente viajante na Venezuela. Ele tem contatado outros imigrantes. Verificou que numa família alguns talvez não estejam interessados, mas que outros estão ansiosos de ouvir a verdade bíblica. Assim, em Cumaná, um casal de língua árabe, que tinha um negócio, não queria dar atenção, mas a sua filha deu. “Ela pediu que lhe trouxesse uma Bíblia”, conta Remigio. “Eu disse que a traria, mas ela estava em dúvida se eu ia cumprir a minha palavra. Combinamos um dia e uma hora, e eu fiz questão de chegar na hora, o que a impressionou. Ela ficou com a Bíblia e com o livro A Verdade Que Conduz à Vida Eterna, e fizeram-se arranjos para uma irmã continuar o estudo que eu iniciei.
“Pouco tempo depois, quando eu visitava uma congregação em Güiria, vi um homem sentado na entrada duma loja defronte do Salão do Reino, lendo um livro de capa verde. Ele me acenou para chegar a ele. Era de língua árabe e me perguntou se o livro que estava lendo era um dos nossos. Era em árabe, mas eu podia ver que era ‘Seja Deus Verdadeiro’. Ele explicou que o havia recebido como presente lá da pátria e que não ia nem emprestar nem vender a alguém! Depois de certificar-me de que ele lia também espanhol, ofereci-lhe o livro Verdade, que ele aceitou prontamente, e iniciamos um estudo. Naquela semana, ele veio a três reuniões e até deu respostas no Estudo de A Sentinela.”
Dois anos mais tarde, num congresso em Maracay, um homem com uma pasta cumprimentou o irmão Afonso e perguntou se se lembrava dele. “Eu sou aquele homem de Güiria”, explicou. “Sou batizado e dirijo agora três estudos bíblicos.” No ano seguinte, num congresso de distrito na Colômbia, depois de o irmão Afonso ter tido parte no programa, uma jovem veio correndo a ele com lágrimas de alegria nos olhos e se apresentou como aquela moça de Cumaná, a quem ele tinha dado testemunho. Ela explicou que também era Testemunha batizada. Que alegria dão experiências assim!
Outro exemplo de alguém que veio de fora, fez da Venezuela seu lar e tem presenciado o progresso da obra é Dyah Yazbek. Ele se lembra de ter pregado com seus pais, seu irmão e suas irmãs em aldeias e cidades do Líbano, onde o pai havia aceitado a verdade nos anos 30. Foi um duro golpe para a família Yazbek, quando o pai, Michel, faleceu dois meses depois de chegarem à Venezuela; mas Dyah conta: “Mamãe e nós filhos continuamos na verdade, assistindo às reuniões na Congregação Norte de Caracas. Fui batizado aos 16 anos e entrei no serviço de pioneiro.” Reveses financeiros em casa reduziram seu serviço de pioneiro a apenas três anos. Mas depois de 28 anos de serviço secular nas rodas bancárias, achou que estava numa situação favorável para renunciar ao trabalho sem afetar adversamente a esposa, seus três filhos e sua mãe, que mora com eles. Alistou-se novamente como pioneiro. O irmão Yazbek serve agora como membro da Comissão de Filial. Relembrando quase 40 anos, ele se recorda do congresso de distrito na Venezuela em 1956. Ali, pela primeira vez, a assistência ultrapassou a mil. “Agora”, declara ele, “o total da assistência nos congressos de distrito ultrapassa os cem mil”.
Ajuda dos superintendentes viajantes
Em fins dos anos 40, quando Donald Baxter era o único na filial e quando no país inteiro havia apenas seis ou sete congregações, o irmão Baxter visitava esses grupos conforme podia.
No entanto, em 1951, quando Rubén Araujo voltou de Gileade, aos 21 anos de idade, ele foi designado para visitar as congregações e os grupos isolados em todo o país. Naquele ano, o número de congregações aumentou para 12. Não possuindo automóvel, Rubén viajava de ônibus ou de táxi público, e às vezes de avião ou de barco pequeno (chalanas) ao visitar lugares remotos.
Ele ainda se lembra duma visita que fez a um assinante de A Sentinela perto de Rubio, no Estado de Táchira, próximo à fronteira colombiana. O dono da fazenda disse que era suíço e que não sabia ler espanhol. “Mas pode conversar com a minha esposa, pois ela gosta da Bíblia”, disse ele. “Depois de falar com a esposa dele”, conta Rubén, “ela chamou a mãe, uma senhora de 81 anos. Quando esta viu os livros que eu tinha, perguntou se esta obra tinha alguma coisa a ver com o livro O Plano Divino das Eras. Seus olhos brilharam e ela ficou emocionada. Perguntou: ‘Quer dizer, o senhor sabe sobre o Sr. Rutherford?’ Sua filha a interpretava para o espanhol, visto que esta senhora só falava alemão. Ela disse que tinha lido e relido o livro desde que o recebeu em 1920. Também tinha visto o ‘Fotodrama da Criação’ e tinha ouvido o discurso ‘Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão’. Doze anos antes, quando viera da Suíça para a Venezuela, ela perdera contato com as Testemunhas. ‘Senti muita, muita falta de vocês’, disse ela. Demonstrou sua alegria por cantar um cântico do Reino em alemão, e eu prontamente participei com ela no mesmo cântico em espanhol. Cantamos com lágrimas de alegria nos olhos.”
Keith e Lois West, formados da 19.ª turma de Gileade, estiveram no serviço de circuito por 15 anos. As circunstâncias nem sempre eram fáceis. A visita a Monte Oscuro, no Estado de Portuguesa, ilustra isso. Keith conta: “Por causa da forte chuva na noite anterior, não podíamos ir de carro a distância que esperávamos cobrir, de modo que deixamos o carro e andamos até o rio. Tiramos os sapatos e vadeamos rio acima, e depois tivemos de subir o monte, o que nos levou ao pequeno Salão do Reino. Não havia vivalma à vista. Mas o irmão que nos acompanhava disse: ‘Não se preocupem. Eles virão.’ Ele prontamente bateu num aro metálico de pneu, e por fim chegaram cerca de 40 pessoas. Proferi meu discurso — com as pernas da calça molhadas e lamacentas. Parece que a combinação de rio frio, subida com calor até o salão e proferir o discurso com calça molhada resultou numa dolorosa doença muscular. Por algum tempo depois disso, tive de ter ajuda para subir e descer da tribuna no Salão do Reino, e freqüentemente tive de descansar durante a pregação.
A diversidade de hospedagens muitas vezes constitui um desafio para os superintendentes viajantes. Muitas vezes não há água encanada. Telhados ondulados de zinco contribuem para temperaturas internas de 30-40°C. Praticamente não se conhecem ali telas nas janelas e nas portas, de modo que o quarto — e às vezes a cama — é compartilhada com a fauna local. E o estilo de vida descontraído e gregário das famílias venezuelanas às vezes requer que os estrangeiros, acostumados a ter mais privacidade, façam ajustes. Mas a disposição amistosa e hospitaleira dos venezuelanos é notável, e a expressão “usted está en su casa” faz parte da acolhida dada ao superintendente viajante na sua chegada.
Os filmes e os slides da Sociedade foram exibidos em toda a Venezuela pelos superintendentes viajantes. Os venezuelanos gostam muito de ir ao cinema. Por isso, o superintendente de circuito sempre pode contar com uma assistência máxima. As pessoas se sentam no chão, ficam de pé ao lado ou olham de fora através das janelas. Um homem interessado gentilmente pintou um lado da sua casa de branco, para que servisse de tela. Num povoado nas montanhas perto de Carúpano, um lojista amigável forneceu a eletricidade do seu gerador (a única eletricidade disponível num raio de muitos quilômetros) e também o auditório — sua arena de briga de galos. Soltou então rojões para que as pessoas nos morros descessem. Vieram 85 delas, muitas montadas em jumentos. Era um cinema ao ar livre todo original.
Gladys Guerrero, em Maracaibo, gosta muito dos superintendentes viajantes e da sua esposa. Certo dia, no serviço de campo junto com a jovem Gladys, na cidade de Punto Fijo, Nancy Baxter, esposa do superintendente viajante, notou que a menina tinha um impedimento na fala. Gladys explicou que era algo herdado da família do lado do pai. Embora fosse muito ridicularizada por isso, não havia conseguido mudar. Mas ficou profundamente comovida quando a irmã Baxter tomou tempo para lhe ensinar a pronunciar certas palavras de forma correta e como praticar isso. “A paciência dela valeu a pena”, diz Gladys. “Agora consigo falar corretamente.” Outros também contribuíram para o desenvolvimento espiritual de Gladys.
Com confiança em Jeová, são pioneiros
Há atualmente mais de 11.000 pioneiros na Venezuela. Muitos deles começaram o serviço em resultado de encorajamento amoroso dado por outros no serviço de tempo integral.
Pedro Barreto obteve tal encorajamento. Em 1954, o superintendente de filial o convidou a entrar no serviço de pioneiro especial junto com mais três rapazes. Pedro era o mais velho, com 18 anos. O que devia fazer? “Eu era jovem e inexperiente, e não sabia nem lavar roupa e passá-la. Na realidade, nem sabia direito como tomar banho”, ri-se Pedro. Eu tinha sido batizado apenas no ano anterior. Depois de conversar com o superintendente de filial por uma hora e tanto, Pedro se decidiu. Os quatro rapazes foram designados para Trujillo, capital do estado do mesmo nome. A população da cidade, especialmente naquele tempo, era tradicionalista e muito religiosa. Esses quatro pioneiros contribuíram muito para lançar as bases ali. Entre aqueles a quem pregaram estavam alguns dos cidadãos mais destacados, incluindo o diretor do correio e o juiz do tribunal de Trujillo.
Certo dia, na praça principal, os quatro pioneiros se encontraram face a face com o sacerdote católico, bem conhecido na Venezuela por seus artigos sarcásticos, difamatórios e inexatos sobre as Testemunhas de Jeová na imprensa nacional. Ao passo que uma multidão se ajuntava, o sacerdote disse às pessoas que não dessem atenção ao que os rapazes diziam porque, segundo ele afirmava, eles estavam perturbando a paz da cidade e incomodando a todos. Exortou a multidão a se lembrar de que a crença do povo era a da Igreja Católica. “Na confusão e no tumulto”, conta Pedro, “o sacerdote proferia contra mim em voz baixa coisas ameaçadoras e usava de linguagem suja. De modo que eu dizia alto para as pessoas: ‘Ouviram o que ele acaba de dizer? . . . e ele é sacerdote!’ e eu repetia algumas das coisas que ele me dizia. Ele disse então com dentes cerrados: ‘Saiam ou eu vou chutá-los daqui!’ Eu lhe disse então que não precisava usar seus pés. Nós íamos embora.”
Este incidente chegou aos ouvidos do juiz já mencionado. Ele elogiou os pioneiros, dizendo que admirava muito a obra que faziam. A mensagem da verdade pregada por esses quatro jovens valentes se arraigou em Trujillo, e em 1995 havia duas congregações na cidade, além de congregações e grupos na maioria das vilas e aldeias da região.
Arminda López, irmã de Pedro, lembra-se de que, em fins dos anos 50, enquanto ela era pioneira em San Fernando de Apure, junto com três irmãs, Jeová sempre lhes fornecia o necessário, conforme prometera fazer aos que procuram primeiro o Reino. (Mat. 6:33) Certo mês, sua mesada de pioneiro não chegou quando a esperavam, e seu dinheiro acabou. As prateleiras estavam literalmente vazias. Para se esquecerem dos roncos do estômago, decidiram ir dormir cedo. Às 10 da noite, ouviram alguém bater na porta da frente. Olhando pela janela, viram um homem com quem dirigiam um estudo bíblico. Ele se desculpou pela hora tardia, mas disse que acabava de retornar duma viagem e que trouxera algo que achava que elas poderiam usar — uma caixa cheia de frutas, verduras e outros gêneros alimentícios! Elas esqueceram logo a cama, e a cozinha de repente virou um centro de atividade. “Deve ter sido Jeová quem induziu o homem a vir naquela noite”, diz Arminda, “visto que ia ter seu estudo no dia seguinte e podia ter facilmente esperado até então”. Arminda ainda serve como pioneira regular, agora em Cabimas.
Entre os pioneiros zelosos, quase nenhum problema é grande demais. A idade, a saúde fraca ou um opositor na família não são obstáculos intransponíveis. Embora os jovens certamente estejam representados nas fileiras dos pioneiros — no começo de 1995 havia 55 pioneiros da idade de 12 a 15 anos — de modo algum têm eles o monopólio neste serviço. Muitas irmãs, cujo marido não é Testemunha, levantam-se cedo toda manhã a fim de preparar as refeições, bem como cuidar dos filhos e da casa, para que possam encontrar-se cada dia com o grupo para o serviço de campo e para dirigir estudos bíblicos, sem negligenciar as responsabilidades de esposa.
Também irmãos casados que têm família arranjam suas atividades e conseguem com êxito satisfazer a programação de pioneiro. David González iniciou sua carreira de pioneiro enquanto ainda jovem solteiro, em 1968. Mais tarde, serviu como pioneiro especial com a esposa, Blanca, até que tiveram filhos. Agora, tanto ele como a esposa e uma filha são pioneiros regulares. Além de assumir as responsabilidades com os três filhos, ele é ancião e serve regularmente como substituto de superintendente de circuito. Como é isso possível? Ele diz que consegue isso por sacrificar coisas materiais extras que são desnecessárias e ter uma boa programação. Tem também a plena cooperação da esposa.
Depois há aqueles que estão com os anos avançados e cuja situação mudou, de modo que podem agora empreender o serviço de pioneiro. Incluem aqueles cujos filhos já cresceram e outros que se aposentaram do serviço secular. Há também alguns como Elisabeth Fassbender. Elisabeth, que nasceu em 1914, foi batizada na Alemanha no após-guerra antes de emigrar para a Venezuela, em 1953, junto com seu marido descrente. Suportou por 32 anos amarga oposição até a morte dele em 1982. Aos 72 anos de idade, com o caminho agora desimpedido para servir mais plenamente a Jeová, Elisabeth alcançou seu sonho de longa data, de ser pioneira regular.
Algo que sem dúvida contribui para o espírito bem-sucedido de pioneiro, na Venezuela, é a ausência geral do modo materialista de vida entre a maioria dos irmãos. A maioria deles não está envolvida na luta constante para ter algum luxo na casa ou para ganhar dinheiro a fim de tirar férias dispendiosas. Sem esses compromissos financeiros extras, um número maior dos do povo de Jeová acha que consegue ter o privilégio de ser pioneiro.
Campo frutífero em cultivo
Os venezuelanos, de modo geral, são um povo tolerante, que respeita a Bíblia; e com muito poucas exceções, professam crer em Deus. O domínio que a Igreja Católica exercia nos anos passados enfraqueceu, e muitos paroquianos sinceros, mas descontentes, procuram outra coisa para satisfazer suas necessidades espirituais. O envolvimento político da Igreja e os casos individuais de transgressões de sacerdotes, que de vez em quando passam a ser conhecidos, não contribuem nada para aumentar o apoio à Igreja.
Sem dúvida, todos estes fatores contribuem para a relativa facilidade com que se podem aqui iniciar estudos bíblicos. Em agosto de 1995, as 71.709 Testemunhas de Jeová na Venezuela dirigiam mais de 110.000 estudos bíblicos domiciliares. O publicador que prega regularmente não tem dificuldade em aproveitar o interesse demonstrado para iniciar estudos bíblicos progressivos. De modo geral, os estudantes assistem às reuniões e fazem rapidamente mudanças para se harmonizar com os requisitos justos de Jeová.
Em 1936, havia apenas dois proclamadores das boas novas relatando atividade na Venezuela. Em 1980, havia 15.025 publicadores. Quinze anos depois, o total de proclamadores do Reino ultrapassou os 71.000. Em 1980, havia apenas 186 congregações em todo o país. Agora há 937. E o número dos que amam e servem a Jeová continua a aumentar.
É hora de construir
Em vista do notável aumento em publicadores nos últimos anos, muitos Salões do Reino não têm espaço adequado para os que vêm assistir às reuniões. O preço do terreno, especialmente no centro das cidades, é proibitivo. Em Caracas, onde atualmente há 140 congregações e os lotes de terreno têm preços exorbitantes, não é incomum que até cinco congregações superlotadas usem o mesmo local. Aos domingos, isto fornece aos vizinhos um espetáculo interessante, quando uma congregação sai após a sua reunião e outra entra, com intermináveis apertos de mão e beijos ao passo que irmãos e irmãs se cumprimentam. Muitos têm de ficar de pé nas reuniões, e freqüentemente a ventilação é inadequada. Há uma grande necessidade de mais Salões do Reino, e com a ajuda dum Fundo para Salões do Reino, central, na Venezuela, começa a haver esforços para resolver este problema.
Apesar de poucos recursos, a reação generosa dos irmãos tornou possível a construção do primeiro Salão de Assembléias na Venezuela, em Cúa, no Estado de Miranda. Dyah Yazbek, que serviu na comissão de construção, fornece alguns pormenores. “A construção do salão em Cúa teve alguns problemas depois do primeiro ano quando, depois de erigida a estrutura e mais trabalho sendo necessário, esgotaram-se os fundos adequados. Em 12 de outubro de 1982, reunimo-nos com anciãos e servos ministeriais locais, e lhes apresentamos a situação, pedindo que eles, por sua vez, sondassem os irmãos nas congregações. O resultado foi que, três meses depois, para a nossa grande surpresa, foram doados 1,5 milhão de bolívares — uma soma considerável naquela época. Isto nos possibilitou terminar o projeto, incluindo ar-condicionado e assentos confortáveis. O salão tem mostrado ser uma verdadeira bênção para os 11 circuitos que atualmente o usam.” A Venezuela tem agora dois Salões de Assembléias, encontrando-se o outro em Campo Elías, no Estado Yaracuy.
Acomodações melhores para a filial
Uma comissão de seis irmãos maduros administra agora a obra cuidada pela filial. São Teodoro Griesinger, Keith West, Stefan Johansson (atual coordenador da Comissão de Filial), Eduardo Blackwood (que serve também como um dos quatro superintendentes de distrito), Dyah Yazbek (pioneiro regular e pai de família) e Rafael Pérez (superintendente de circuito).
Ao passo que o trabalho no campo aumentou, foi também necessário ampliar as acomodações da filial. Em novembro de 1953, quando os irmãos Knorr e Henschel visitaram a Venezuela, o irmão Knorr salientou que era bom que a Sociedade comprasse uma propriedade para servir de lar missionário e de filial. Encontrou-se uma casa grande de dois pavimentos, no bairro residencial sossegado de Las Acacias, em Caracas. A filial e a família missionária se mudaram para a Quinta Luz em setembro de 1954, e a filial funcionou ali por 22 anos.
Quando o número dos publicadores do Reino tinha aumentado para mais de 13.000, a filial mudou-se outra vez para acomodações novas — agora na cidade vizinha de La Victoria, no Estado de Aragua. Este esplêndido novo conjunto parecia mesmo enorme em comparação com a filial anterior, e para alguns era difícil de imaginar que seria usado plenamente. Mas em 1985 completou-se e dedicou-se um novo anexo, porque a parte inicial já era pequena demais.
Em poucos anos, a filial de novo ficara pequena demais, e em 1989 compraram-se 14 hectares de um terreno excelente para a construção de novas acomodações para a filial. O trabalho preliminar já foi feito, e espera-se que os novos prédios estejam prontos no futuro próximo.
“Quem tem sede venha”
Quando o apóstolo João chegou ao fim da escrita do livro de Revelação (Apocalipse), Jesus Cristo cuidou de que incluísse o seguinte: “E o espírito e a noiva estão dizendo: ‘Vem!’ E quem ouve diga: ‘Vem!’ E quem tem sede venha; quem quiser tome de graça a água da vida.” (Rev. 22:17) Este gentil convite tem sido feito às pessoas na Venezuela já por uns 70 anos. Agora com maior intensidade do que antes, chega a todas as partes do país — e com bons resultados.
O aumento da criminalidade não tem diminuído a obra. Quase sem exceção, casas e apartamentos têm grades de ferro nas portas de entrada, às vezes ainda com uma grossa corrente ou um grande cadeado. Assaltos, mesmo em plena luz do dia, são um constante perigo. Os caraqueños (os habitantes de Caracas) têm cuidado especial de não usar na rua jóias de ouro ou relógios caros. Os turistas desatentos são muitas vezes o alvo dos assaltantes. Nossos irmãos, quando pregam em bairros mais pobres, têm de ter muito cuidado. Em geral, as Testemunhas de Jeová são respeitadas. No entanto, grupos inteiros de publicadores já foram assaltados com revólver e obrigados a entregar relógio, dinheiro e jóias. Mas isso não afeta o zelo de nossos irmãos nesses bairros perigosos, e se dá um testemunho cabal.
A paciente e persistente proclamação das boas novas tem beneficiado todo tipo de pessoas. Um engenheiro e sua família, em Maracaibo, tinha firmemente rejeitado os esforços de suas amigáveis Testemunhas vizinhas para falar com eles sobre a Bíblia, e por 14 anos a conversa entre as duas famílias nunca passou dum cumprimento educado. Daí, certo dia em 1986, o filho de cinco anos das Testemunhas conversou por cima da cerca do jardim com a menina do vizinho. No fim da conversa, o menino disse: “Se meu papai desse ao seu papai o livro Criação, ele veria que fomos feitos por Jeová.” Na manhã seguinte, talvez achando que Jeová queria que tentasse de novo falar com o vizinho, o pai foi à porta dele e contou a conversa das crianças. “Assim, em nome de meu filho”, disse ele, “eu gostaria de que aceitasse este livro Criação como presente”. Para a surpresa do irmão, dois dias depois, este casal veio à casa das Testemunhas pedindo desculpas pela sua anterior atitude intransigente e expressando apreço pelo livro maravilhoso. Iniciou-se um estudo bíblico, e agora o casal e seus dois filhos mais velhos são Testemunhas de Jeová dedicadas e batizadas.
Em Barquisimeto, Ana sempre repelia as Testemunhas quando vinham à sua porta. Era uma devota do culto de María Lionza, e como tal, empenhava-se em práticas espíritas. Mas ansiava livrar-se dessas coisas que a mantinham presa. Orou a Deus para que a ajudasse a mudar de vida. Pouco depois, uma Testemunha de Jeová, Esther Germanos, a visitou. Ana não pôde deixar de se perguntar se havia uma relação entre a sua oração e a visita da Testemunha. Aceitou um estudo bíblico regular, começou a freqüentar as reuniões, logo mandou que seus inquilinos imorais se mudassem, eliminou da casa todos os objetos relacionados com o espiritismo, dedicou a vida a Jeová em 1986 e por fim sentiu a liberdade que apenas a verdade pode dar.
Hernán havia pertencido a um grupo que praticava ritos espíritas, considerava aceitável a imoralidade sexual e tomava muita bebida alcoólica durante os ritos religiosos para “fortalecer o espírito”, como diziam. As primeiras vezes que ia ao Salão do Reino, ele escutava o que se dizia e depois ia diretamente à sua igreja e proferia um discurso similar. Mas depois de assistir a uma assembléia, passou a levar mais a sério o que estava aprendendo. Daí, certo domingo em 1981, quando chegou à igreja, encontrou aquela que chamava de sua mãe espiritual espumando pela boca. Os outros lhe disseram que ela estava possessa por Satanás, o Diabo. Ele nunca mais voltou. No ano seguinte, foi batizado como Testemunha de Jeová. Ele, sua esposa e o filho mais velho são agora pioneiros regulares.
A família Martínez estava a ponto de se separar. Havia constantes ameaças de divórcio. Os filhos aproveitavam a situação para fazer o que bem queriam. Na busca desesperada de consolo, a esposa procurou uma das Testemunhas de Jeová que antes lhe falara sobre a Bíblia, e iniciou-se um estudo sem o conhecimento do marido. No ínterim, no trabalho, a secretária do marido deu testemunho a ele e providenciou que um dos anciãos estudasse com ele. Não demorou até que ele decidiu transmitir à esposa o que havia aprendido do seu estudo da Bíblia. Que surpresa foi saber que ela também estudava a Bíblia com as Testemunhas de Jeová e assistia às reuniões num Salão do Reino diferente! Daquele momento em diante, estudarem juntos a Bíblia e assistirem às reuniões como família tornou-se parte regular da sua vida familiar. Esta família, que estava a ponto de se separar, serve agora a Jeová feliz e unida.
Beatriz sonhara toda a vida com conseguir entender a Bíblia. Ela se casou, e com o marido, mudou-se para Caracas, onde se tornaram parte da alta sociedade. Ali na capital fez amizade com um homem idoso, que deixara o sacerdócio por não poder concordar com os ensinos fundamentais da Igreja. Em certa ocasião, ele lhe disse: “O único batismo válido é por imersão total, assim como praticam as Testemunhas de Jeová.” Anos depois, divorciada do marido, Beatriz se viu confrontada com um estressante problema pessoal. Desesperada, orou a Deus. Especialmente numa noite — 26 de dezembro de 1984 — passou muitas horas orando. Na manhã seguinte, a campainha da porta tocou. Irritada, olhou pelo olho-mágico da porta do seu apartamento e viu duas pessoas com pastas. Perturbada por ter sido incomodada, falou através da porta como se ela fosse a criada: “A dona-da-casa não está, e eu não posso abrir a porta.” Antes de ir embora, o casal enfiou sob a porta um convite. Beatriz o apanhou. “Conheça a sua Bíblia”, dizia. Lembrou-se das palavras do idoso ex-sacerdote. Seriam os visitantes aquela gente de que lhe falara, Testemunhas de Jeová? Estaria a sua visita relacionada com as orações dela na noite anterior? Ela abriu a porta, mas já tinham ido embora. Chamou escada abaixo para que voltassem, pedindo desculpas pela sua reação inicial e convidando-os a entrar. Iniciou-se imediatamente um estudo da Bíblia, e algum tempo depois Beatriz foi batizada como Testemunha cristã de Jeová. Feliz de finalmente ter satisfeito o desejo da sua vida, Beatriz passa agora grande parte do seu tempo em ajudar outros a conhecer a Bíblia deles.
Com a bênção de Jeová, as congregações estão aumentando rapidamente. Os Salões do Reino estão cheios e superlotados. Formam-se novas congregações. O número dos proclamadores do Reino está aumentando, como também o número dos ministros de tempo integral. A grande assistência na Comemoração e nos congressos indica que muitos mais se juntarão a nós para adorar a Jeová antes do fim deste sistema de coisas.
Ao passo que as Testemunhas de Jeová intensificam seu testemunho nas cidades, nas aldeias, nas planícies e nas montanhas da Venezuela, e vêem os notáveis resultados disso, são lembradas das palavras do apóstolo Paulo: “Nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus que o faz crescer.” — 1 Cor. 3:7.
[Foto na página 194]
Rubén Araujo, um dos primeiros venezuelanos a se tornar Testemunha batizada
[Foto na página 199]
Inez Burnham, Ruby Dodd (agora Baxter), Dixie Dodd e Rachel Burnham ao partirem de Nova York em 1949. Antes de o navio deixar a doca, todos se sentiam muito bem!
[Fotos nas páginas 200, 201]
Alguns dos missionários que têm servido por muitos anos no campo venezuelano: (1) Donald e Ruby Baxter, (2) Dixie Dodd, (3) Penny Gavette, (4) Leila Proctor, (5) Ragna Ingwaldsen, (6) Mervyn e Evelyn Ward, (7) Vin e Pearl Chapman
[Foto na página 207]
Quinta Luz
[Fotos na página 208]
Em cima: Milton Henschel falando no congresso no Club Las Fuentes, em 1958
Embaixo: Nathan Knorr (à esquerda), tendo a Teodoro Griesinger por intérprete, em 1962
[Foto na página 227]
Em 1988, mais de 74.600 lotaram a praça de touros em Valencia para um programa especial
[Fotos na página 236]
Alguns dos que têm servido como superintendentes de circuito ou de distrito (com a esposa): (1) Keith e Lois West, (2) Alberto e Zulay González, (3) Casimiro Zyto, (4) Lester e Nancy Baxter, (5) Rodney e Eloise Proctor, (6) Remigio Afonso
[Fotos na página 244]
Alguns dos que por muito tempo estão no serviço de pioneiro: (1) Dilia de Gonzáles, (2) Emilio e Esther Germanos, (3) Rita Payne, (4) Ángel Maria Granadillo, (5) Nayibe de Linares, (6) Irma Fernández, (7) José Ramon Gomez
[Fotos na página 252]
Acima: A filial em La Victoria
Comissão de Filial (da esquerda para a direita): Dyah Yazbek, Teodoro Griesinger, Stefan Johansson, Keith West, Eduardo Blackwood e Rafael Pérez
[Gravura de página inteira na página 186]