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  • Matar em nome de Deus
    Despertai! — 1997 | 22 de abril
    • Matar em nome de Deus

      DO CORRESPONDENTE DE DESPERTAI! NA FRANÇA

      “EM NOME DE DEUS NÓS MATAMOS E CONTINUAREMOS A MATAR”

      SOB esse cabeçalho, o jornal International Herald Tribune observou: “Este século, que esporádicos otimistas gostam de chamar de esclarecido, tem sido marcado, como todos os anteriores, pela pavorosa tendência de os homens se matarem mutuamente em nome de Deus.”

      O autor citou exemplos de massacres religiosos ocorridos em séculos anteriores. Daí, referindo-se a massacres no século 20, concluiu: “O que vemos é uma apavorante continuação da selvagem intolerância de eras passadas. A religião ainda é desculpa para violência política e conquista territorial.”

      Alguns tentam justificar as guerras religiosas atuais alegando que Deus aprovou a morte de cananeus pelos israelitas do passado. Mas isso não justifica que os pretensos cristãos travem guerra hoje em dia. Por que não? Porque aqueles israelitas foram instruídos diretamente por Deus para servirem de executores de Seus julgamentos justos contra adoradores de demônios, cuja adoração incluía crassa imoralidade sexual e sacrifício de crianças. — Deuteronômio 7:1-5; 2 Crônicas 28:3.

      Uma prova de que as guerras do Israel antigo não eram conflitos comuns é a natureza milagrosa das vitórias que Deus deu àquela nação. Por exemplo, os israelitas foram certa vez instruídos a usar buzinas, jarros e tochas — instrumentos de guerra nada convencionais! Noutra ocasião, cantores foram posicionados diante de um exército israelita que se confrontava com uma força esmagadoramente superior de exércitos invasores de várias nações. — Juízes 7:17-22; 2 Crônicas 20:10-26.

      Ademais, quando os israelitas vez por outra se metiam em guerras não ordenadas por Deus, eles não recebiam as Suas bênçãos e eram derrotados. (Deuteronômio 28:15, 25; Juízes 2:11-14; 1 Samuel 4:1-3, 10, 11) Portanto, as guerras de Israel não podem ser usadas como justificativa para as guerras na cristandade.

      Em nome da religião, hindus têm lutado contra muçulmanos e siques; muçulmanos xiitas têm guerreado contra muçulmanos sunitas; e, no Sri Lanka, budistas e hindus têm matado uns aos outros.

      Típico da matança em nome de Deus foram as guerras na França, no século 16. A história dessas guerras cobre algumas das mais sangrentas páginas da história das religiões católico-romana e protestante, na Europa. Examinemos essas guerras, e vejamos o que podemos aprender delas.

  • Guerras religiosas na França
    Despertai! — 1997 | 22 de abril
    • Guerras religiosas na França

      NO DOMINGO, 1.º de março de 1562, o duque de Guise e seu irmão Carlos, cardeal de Lorena — dois pontas-de-lança do catolicismo francês — seguiam sob escolta armada para Vassy, uma aldeia a leste de Paris. Eles decidiram entrar na igreja, em Vassy, para assistir à Missa.

      De repente, ouviram o som de hinos. A cantoria vinha de centenas de protestantes, que celebravam um culto num celeiro. Os soldados invadiram o local. Na confusão resultante, houve trocas de insultos e pedras começaram a voar. Os soldados abriram fogo, matando dezenas de protestantes e ferindo uns cem mais.

      Que eventos levaram a esse massacre? Qual foi a reação protestante?

      Fundo histórico

      Durante a primeira metade do século 16, a França era próspera e bem povoada. Essa situação econômica e demográfica veio acompanhada de esforços de praticar um catolicismo mais espiritual e mais fraternal. As pessoas queriam uma Igreja menos rica e mais santa. Alguns clérigos, bem como humanistas eruditos, exigiam reformas religiosas para combater os abusos de altos prelados e a incompetência do baixo clero. Um dos clérigos que lutou por reformas foi o bispo católico Guillaume Briçonnet.

      Em sua diocese de Meaux, Briçonnet incentivava todos a lerem as Escrituras. Chegou a financiar uma nova tradução das Escrituras Gregas Cristãs para o francês. O furor da Escola de Teologia de Sorbonne, em Paris, guardiã da ortodoxia católica, logo se abateu sobre ele, interrompendo seus esforços. Mas o bispo tinha a proteção de Francisco I, rei da França de 1515 a 1547. Naquele tempo, o rei favorecia as reformas.

      Francisco I, contudo, tolerava as críticas à Igreja desde que não ameaçassem a ordem pública e a união nacional. Em 1534, extremistas protestantes espalharam cartazes que denunciavam a Missa católica como idolatria, chegando até mesmo a afixar um cartaz na porta do quarto do rei. Com isso, Francisco I deu uma guinada e lançou uma feroz campanha de repressão.

      Repressão brutal

      Em pouco tempo, protestantes estavam sendo queimados em estacas. Muitos humanistas, seus simpatizantes e seguidores do noviço protestantismo fugiram do país. As autoridades passaram a censurar livros e a controlar professores, editores e impressores.

      Os valdenses sofreram o pleno impacto da oposição oficial. Eram um grupo minoritário de pessoas que procuravam seguir a Bíblia e viviam em aldeias pobres no sudeste do país. Alguns foram queimados na estaca, centenas foram massacrados e umas 20 de suas aldeias foram devastadas. — Veja quadro na página 6.

      Ciente da necessidade de reformas dentro da Igreja, um concílio de bispos católicos reuniu-se em dezembro de 1545, em Trento, Itália. Findo o concílio, em 1563, segundo a The Cambridge Modern History, o “efeito geral . . . foi fortalecer as mãos dos que estavam decididos a erradicar o protestantismo”.

      O prelúdio da guerra

      Cansados de esperar por mudanças, muitos membros do movimento pelas reformas dentro da Igreja Católica aderiram ao protestantismo. Por volta de 1560, numerosos aristocratas franceses e seus apoiadores juntaram-se aos huguenotes, nome que se havia dado aos protestantes. Eles se tornavam cada vez mais ativistas. Suas reuniões públicas eram, às vezes, uma fonte de provocação e antagonismo. Por exemplo, em 1558, milhares deles se reuniram em Paris, por quatro dias seguidos, para cantar salmos.

      Tudo isso irritava os poderosos príncipes da Igreja Católica, bem como as massas de católicos. Instigado pelo cardeal Carlos de Lorena, o Rei Henrique II, que havia sucedido ao pai, Francisco I, promulgou o Edito de Écouen, em junho de 1559. Seu objetivo declarado era erradicar a “infame gentalha luterana”. Isso levou a uma campanha de terror contra os huguenotes, em Paris.

      Henrique II morreu algumas semanas mais tarde, de ferimentos sofridos numa competição. Seu filho, o Rei Francisco II, instigado pela família Guise, renovou o edito que previa a pena de morte para os protestantes renitentes. Francisco II morreu no ano seguinte e sua mãe, Catarina de Médicis, passou a governar em lugar do irmão de Francisco, Carlos IX, de dez anos de idade. A política de reconciliação de Catarina não agradava aos Guise, que estavam decididos a erradicar o protestantismo.

      Em 1561, Catarina organizou um seminário em Poissy, perto de Paris, que reuniu teólogos católicos e protestantes. No edito de janeiro de 1562, Catarina concedeu aos protestantes a liberdade de se reunirem para cultos fora das cidades. Os católicos ficaram furiosos! Isso preparou o cenário para o ocorrido dois meses depois: o massacre de protestantes no celeiro da aldeia de Vassy, conforme já relatado.

      As primeiras três guerras

      A chacina em Vassy desencadeou a primeira de uma série de oito guerras religiosas que mergulharam a França num horror de matança mútua, de 1562 a meados da década de 1590. Embora houvesse também questões políticas e sociais em jogo, o banho de sangue tinha como motivação primária a religião.

      A Batalha de Dreux, em dezembro de 1562, que ceifou 6.000 vidas, pôs fim à primeira guerra religiosa. A Paz de Amboise, assinada em março de 1563, concedeu aos huguenotes nobres certa liberdade para realizar cultos em alguns lugares.

      “A segunda guerra foi precipitada pelo temor dos huguenotes de uma conspiração católica internacional”, diz The New Encyclopædia Britannica. Naquele tempo, era comum os magistrados católicos condenarem cidadãos à forca simplesmente por serem huguenotes. Em 1567, uma tentativa huguenote de capturar o Rei Carlos IX e sua mãe, Catarina, foi o estopim da segunda guerra.

      Depois de falarem sobre uma batalha especialmente sangrenta em Saint-Denis, nos arredores de Paris, os historiadores Will e Ariel Durant escreveram: “Mais uma vez a França se perguntava que religião era aquela que levava os homens a tal morticínio.” Pouco depois, em março de 1568, a Paz de Longjumeau devolveu aos huguenotes a relativa tolerância de que eles já desfrutavam antes, sob a Paz de Amboise.

      Os católicos, contudo, ficaram furiosos e recusaram-se a cumprir os termos da paz. Assim, em setembro de 1568, irrompeu uma terceira guerra. Num subseqüente tratado de paz os huguenotes foram favorecidos com concessões ainda maiores. Foram-lhes cedidas cidades fortificadas, incluindo o porto de La Rochelle. Também, um importante príncipe protestante, o almirante de Coligny, foi nomeado para o conselho do rei. Os católicos novamente se enfureceram.

      Massacre na Noite de “São” Bartolomeu

      Cerca de um ano depois, em 22 de agosto de 1572, Coligny sobreviveu a um atentado, em Paris, quando saía do Palácio do Louvre a caminho de casa. Furiosos, os protestantes ameaçaram tomar medidas duras como vingança, caso não se fizesse justiça rapidamente. Numa reunião secreta, o jovem Rei Carlos IX, sua mãe Catarina de Médicis e vários príncipes decidiram eliminar Coligny. Para evitar represálias, ordenaram também a morte de todos os protestantes que haviam chegado a Paris para assistir ao casamento do protestante Henrique de Navarra e a filha de Catarina, Margarete de Valois.

      Na noite de 24 de agosto, os sinos da igreja de Saint-Germain-l’Auxerrois, do outro lado do Louvre, deram o sinal para começar o massacre. O duque de Guise e seus homens invadiram o prédio onde Coligny dormia. Coligny foi morto e atirado pela janela, e seu corpo foi mutilado. O duque católico bradava: “Matai a todos! É ordem do rei!”

      De 24 a 29 de agosto, cenas de horror macularam as ruas de Paris. Alguns afirmaram que as águas do rio Sena ficaram vermelhas do sangue de milhares de huguenotes assassinados. Outras cidades tiveram seus próprios banhos de sangue. As estimativas de mortos variam de 10.000 a 100.000; contudo, a maioria concorda que foram pelo menos 30.000.

      “Um fato, tão horrível como o próprio massacre”, disse um historiador, “foi a alegria que ele suscitou”. Ao saber da matança, o Papa Gregório XIII ordenou uma cerimônia em ação de graças e enviou congratulações a Catarina de Médicis. Ordenou também a cunhagem de uma medalha especial comemorativa da matança dos huguenotes e autorizou a pintura de um quadro do massacre que trazia os dizeres: “O Papa aprova a morte de Coligny”.

      Depois do massacre, Carlos IX alegadamente teve visões de suas vítimas e bradava para sua enfermeira: “Que mau conselho eu segui! Ó meu Deus, perdoa-me!” Ele morreu em 1574, aos 23 anos de idade, e foi sucedido pelo seu irmão Henrique III.

      Mais guerras religiosas

      No ínterim, a população católica foi instigada pelos seus líderes contra os huguenotes. Em Toulouse, clérigos católicos exortaram seus seguidores: “Matai a todos, pilhai; somos vossos pais. Nós vos protegeremos.” Por meio de repressão violenta, o rei, os parlamentos, os governadores e os capitães deram o exemplo, e as massas de católicos o seguiram.

      Contudo, os huguenotes retaliaram. Dois meses depois do massacre da Noite de “São” Bartolomeu, eles começaram a quarta guerra religiosa. Onde excediam aos católicos em número, destruíam imagens, crucifixos e altares em igrejas católicas, e até matavam. “Deus não quer que nenhuma cidade ou pessoa seja poupada”, declarou João Calvino, líder do protestantismo francês, em seu panfleto Déclaration pour maintenir la vraye foy (Declaração para manter a fé verdadeira).

      Seguiram-se mais quatro guerras religiosas. A quinta terminou em 1576, com um acordo de paz assinado pelo Rei Henrique III, concedendo aos huguenotes plena liberdade de culto em toda a França. A ultracatólica cidade de Paris com o tempo revoltou-se e expulsou Henrique III, considerado conciliador demais com relação aos huguenotes. Os católicos formaram um governo de oposição, a católica Liga Santa, liderada por Henrique de Guise.

      Finalmente, na oitava guerra, ou a Guerra dos Três Henriques, houve uma aliança de Henrique III (católico) com seu futuro sucessor, Henrique de Navarra (protestante), contra Henrique de Guise (católico). Henrique III fez que Henrique de Guise fosse assassinado, mas, em agosto de 1589, o próprio Henrique III foi assassinado por um monge dominicano. Assim, Henrique de Navarra, que havia sido poupado 17 anos antes no massacre da Noite de “São” Bartolomeu, tornou-se o Rei Henrique IV.

      Visto que Henrique IV era huguenote, Paris recusou-se a submeter-se a ele. A católica Liga Santa organizou oposição armada contra ele, por todo o país. Henrique ganhou várias batalhas, mas, quando um exército espanhol chegou para apoiar os católicos, ele finalmente decidiu renunciar ao protestantismo e converter-se à fé católica. Coroado em 27 de fevereiro de 1594, Henrique entrou em Paris, onde o povo, totalmente cansado das guerras, saudou-o como rei.

      Terminaram assim as guerras religiosas francesas, depois de mais de 30 anos em que católicos e protestantes periodicamente matavam uns aos outros. Em 13 de abril de 1598, Henrique IV baixou o histórico Edito de Nantes, que autorizava a liberdade de consciência e de culto dos protestantes. Segundo o papa, o edito foi “a pior coisa que se poderia imaginar, pois concedia liberdade de consciência a todos, a coisa mais terrível do mundo”.

      Os católicos em toda a França acharam que o edito violava a promessa de Henrique de apoiar o credo deles. A Igreja não descansou até que, mais ou menos um século depois, Luís XIV revogasse o Edito de Nantes, iniciando uma perseguição ainda mais severa contra os huguenotes.

      Frutos das guerras

      Em fins do século 16, a prosperidade da França havia declinado. Metade do reino havia sido sitiado, saqueado, seqüestrado com exigência de resgate, ou devastado. Os soldados exigiam demais do povo, levando a revoltas de camponeses. A população protestante, dizimada por sentenças de morte, massacres, exílios e retratações, chegou ao século 17 diminuída em número.

      Aparentemente, os católicos haviam vencido as Guerras Religiosas Francesas. Mas, será que Deus abençoou a sua vitória? Evidentemente não. Cansados de toda essa matança em nome de Deus, muitos franceses se tornaram irreligiosos. Foram os precursores do que tem sido chamado de orientação anticristã do século 18.

  • Que religião Deus aprova?
    Despertai! — 1997 | 22 de abril
    • INFELIZMENTE, os ódios religiosos da França do século 16 não desapareceram. No século seguinte, preconceitos profundos dilaceraram a Europa, quando católicos e protestantes voltaram aos campos de batalha na Guerra dos Trinta Anos (1618-48). Em nome de Deus, pretensos cristãos reiniciaram suas cruéis matanças mútuas.

      O ódio e as matanças religiosas não cessaram. Mais recentemente, católicos e protestantes têm-se matado mutuamente na Irlanda, e membros das religiões ortodoxa e católico-romana fizeram o mesmo no território da antiga Iugoslávia. E, por mais inacreditável que seja, na primeira e na segunda guerra mundial tanto católicos como protestantes mataram centenas de milhares de membros de sua própria religião nos campos de batalha. Justifica-se essa matança? Qual é o conceito de Deus?

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