-
Como a viuvez afetou duas mulheresA Sentinela — 2001 | 1.° de maio
-
-
Como a viuvez afetou duas mulheres
SANDRA é uma viúva que mora na Austrália. Quando seu marido faleceu uns anos atrás, de início, ela ficou em estado de choque. “Dar-me conta de que de repente tinha perdido meu cônjuge e melhor amigo deixou-me totalmente arrasada. Nem consigo me lembrar como voltei do hospital para casa e o que fiz no resto daquele dia. Nas semanas seguintes, meus temores se transformaram em constantes dores físicas.”
Sandra tem uma amiga mais idosa, Elaine, viúva já por uns seis anos. Elaine cuidou do marido, David, por seis meses antes de ele morrer de câncer. Seu pesar foi tão intenso que, pouco depois do falecimento do marido, ela sofreu uma cegueira temporária. Dois anos depois, ela desmaiou em público. Seu médico não encontrou nenhum sinal de doença física. Mas, ele descobriu que Elaine havia contido o pesar, de modo que lhe recomendou ir para casa e fazer força para chorar. “Levou bastante tempo para eu extravasar meu pesar”, admitiu Elaine, acrescentando que, quando se sentia solitária, “eu costumava ir para o quarto e enterrar minha cabeça na roupa de David”.
Deveras, o falecimento dum cônjuge amado pode causar uma variedade de reações, porque a viuvez realmente envolve mais do que apenas viver sem marido. Por exemplo, Sandra achava por um tempo que tinha perdido a identidade. Assim como muitas outras mulheres, logo depois de ficar viúva, ela se sentia vulnerável e insegura. Sandra se recorda: “Acostumada a que meu marido tomasse as decisões finais, de repente fiquei sozinha para tomá-las. Não conseguia dormir bem. Sentia-me cansada e fatigada. Não sabia o que devia fazer.”
Histórias como a de Sandra e de Elaine repetem-se diariamente no mundo inteiro. Doenças, acidentes, guerras, limpeza étnica e violência em geral contribuem para o aumento do número de viúvas.a Muitas dessas mulheres sofrem caladas, sem saber o que fazer. O que podem amigos e parentes fazer para ajudá-las a ajustar-se à viuvez? O artigo seguinte apresenta algumas sugestões que podem mostrar-se úteis.
[Nota(s) de rodapé]
a Outras mulheres estão numa situação similar à das viúvas, porque seus maridos as abandonaram. Embora a separação e o divórcio criem problemas peculiares, alguns dos princípios considerados no artigo seguinte também podem ajudar as mulheres em tais situações.
-
-
Como ajudar as viúvas nas suas provaçõesA Sentinela — 2001 | 1.° de maio
-
-
Como ajudar as viúvas nas suas provações
UMA das histórias mais conhecidas sobre viúvas é o relato bíblico de Rute e sua sogra, Noemi. Ambas eram viúvas. Noemi, porém, não só perdeu o marido, mas também os dois filhos, um dos quais tinha sido o marido de Rute. Visto que viviam numa sociedade agrícola que dependia muito dos homens, a situação delas era mesmo trágica. — Rute 1:1-5, 20, 21.
No entanto, Noemi tinha como grande amiga e consoladora sua nora Rute, que se negou a abandoná-la. Com o tempo, Rute mostrou ser para Noemi “melhor do que sete filhos” — não só por causa do seu profundo amor a Noemi, mas também por seu amor a Deus. (Rute 4:15) Quando Noemi recomendou que Rute voltasse para a sua família e suas amigas moabitas, Rute respondeu com uma das mais comoventes expressões de lealdade já registradas: “Aonde quer que fores, irei eu, e onde quer que pernoitares, pernoitarei eu. Teu povo será o meu povo, e teu Deus, o meu Deus. Onde quer que morreres, morrerei eu e ali serei enterrada. Assim me faça Jeová e assim lhe acrescente mais, se outra coisa senão a morte fizer separação entre mim e ti.” — Rute 1:16, 17.
A atitude de Rute não deixou de ser notada por Jeová Deus. Ele abençoou a pequena família de Noemi e Rute, e Rute depois casou-se com o israelita Boaz. O filho deles, que se tornou antepassado de Jesus Cristo, foi cuidado por Noemi como se fosse o seu próprio filho. Esta história é um exemplo de como Jeová preza as viúvas que se achegam a ele e que confiam nele. Além disso, a Bíblia nos diz que ele dá valor aos que ajudam amorosamente às viúvas nas suas provações. Então, como podemos hoje dar apoio às viúvas entre nós? — Rute 4:13, 16-22; Salmo 68:5.
Ofereça ajuda específica, sem ser insistente
Ao oferecer ajuda a uma viúva, é melhor ser claro e específico, mas não insistente. Evite comentários vagos, tais como: “Avise-me quando precisar de alguma coisa.” Isto seria quase como dizer: ‘Mantenha-se aquecida e bem alimentada’ à viúva que está com frio e com fome, e não fazer nada para ajudá-la. (Tiago 2:16) Muitas não pedirão ajuda quando precisarem de algo; antes, preferem sofrer caladas. Ajudar a tais requer discernimento, perceber quais são as necessidades delas. Por outro lado, tomar iniciativa demais — como que tomando conta da vida da viúva — pode resultar em ressentimentos ou em conflito. Por isso, a Bíblia enfatiza a necessidade de equilíbrio nos tratos com outros. Embora ela nos incentive a demonstrar interesse altruísta nas pessoas, ela nos lembra de não ser intrometidos. — Filipenses 2:4; 1 Pedro 4:15.
Rute mostrou ter tal atitude equilibrada para com Noemi. Embora se apegasse lealmente à sua sogra, Rute não a pressionava ou dominava. Tomava iniciativas sensatas, tais como conseguir alimentos para Noemi e para si mesma, mas também acatava as instruções de Noemi. — Rute 2:2, 22, 23; 3:1-6.
Naturalmente, o que é preciso pode variar muito de uma pessoa para outra. Sandra, já mencionada, disse: “Eu tinha o que precisava na minha aflição — amigos muito queridos e amorosos, que me apoiavam.” Elaine, já mencionada, por outro lado, precisava de um pouco de privacidade. Portanto, ser prestimoso significa ser discernidor e equilibrar o respeito pela privacidade da outra pessoa com a disposição para ajudar quando for necessário.
O apoio da família
Uma família cordial e amorosa, se houver uma, pode contribuir muito para assegurar a uma viúva que ela conseguirá lidar com a situação. Embora alguns membros da família talvez possam dar mais ajuda do que outros, todos podem contribuir com algo. “Se alguma viúva tiver filhos ou netos, que estes aprendam primeiro a praticar a devoção piedosa na sua própria família e a estar pagando a devida compensação aos seus pais e avós, pois isto é aceitável à vista de Deus.” — 1 Timóteo 5:4.
Em muitos casos, talvez não seja necessário dar apoio financeiro ou “compensação”. Algumas viúvas têm recursos suficientes para cuidar das suas necessidades, e outras se habilitam para receber as provisões governamentais disponíveis em alguns países. Mas, caso as viúvas passem necessidades, os membros da família devem ajudá-las. Quando uma viúva não tiver parentes achegados para dar-lhe apoio ou esses parentes não puderem ajudar, as Escrituras incentivam os concrentes a dar-lhe ajuda: “A forma de adoração que é pura e imaculada do ponto de vista de nosso Deus e Pai é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas na sua tribulação.” — Tiago 1:27.
Os que seguem estes princípios bíblicos deveras ‘honram as viúvas’. (1 Timóteo 5:3) Honrar alguém, na realidade, significa respeitá-lo. Os honrados sentem-se valorizados, prezados e dignificados. Não acham que outros os ajudam meramente por um senso de dever. Rute, embora ela mesma fosse viúva por algum tempo, deveras honrou Noemi por certificar-se voluntária e amorosamente de que se cuidasse das necessidades físicas e emocionais de Noemi. Na realidade, a atitude de Rute logo lhe granjeou uma boa reputação, de modo que o seu futuro marido lhe disse: “Todos na cidade do meu povo se apercebem de que és uma mulher de bem.” (Rute 3:11, nota, NM com Referências) Ao mesmo tempo, o amor que Noemi tinha a Deus, sua natureza altruísta e seu profundo apreço pelos esforços de Rute em seu favor sem dúvida faziam Rute sentir prazer em ajudá-la. Que belo exemplo Noemi é hoje para as viúvas!
Achegue-se a Deus
Naturalmente, os membros da família e os amigos não podem preencher o vazio deixado pela morte do marido. Por isso é importante que a pessoa que perdeu o cônjuge se achegue especialmente ao “Pai de ternas misericórdias e o Deus de todo o consolo, que nos consola em toda a nossa tribulação”. (2 Coríntios 1:3, 4) Tome o exemplo de Ana, uma viúva devota, que tinha 84 anos na época em que Jesus nasceu.
Quando o marido de Ana faleceu depois de terem estado casados por apenas sete anos, ela recorreu a Jeová em busca de consolo. “[Ela] nunca estava ausente do templo, prestando noite e dia serviço sagrado, com jejuns e súplicas.” (Lucas 2:36, 37) Retribuiu Jeová a devoção piedosa de Ana? Sim! Mostrou-lhe seu amor de modo bem especial por permitir que visse o bebê que se tornaria o Salvador do mundo. Como isso emocionou e consolou Ana! É evidente que ela sentiu a verdade do Salmo 37:4: “Deleita-te também em Jeová, e ele te concederá os pedidos do teu coração.”
Deus age por meio de concristãos
Elaine declarou: “Por muito tempo, depois do falecimento de David, eu sentia uma dor física, como se alguém estivesse enfiando uma faca no meu peito. Pensei que fosse indigestão. Certo dia, senti-me tão mal, que pensei em consultar um médico. Uma irmã e amiga espiritual observadora sugeriu que meu pesar poderia ser um fator, e incentivou-me a pedir a Jeová ajuda e consolo. Aceitei o conselho dela na mesma hora e fiz de coração uma oração silenciosa, pedindo que Jeová me sustentasse no meu pesar. E ele o fez!” Elaine começou a sentir-se melhor, e logo depois até mesmo suas dores físicas desapareceram.
Especialmente os anciãos congregacionais podem oferecer amizade bondosa às viúvas enlutadas. Por darem regularmente apoio espiritual e consolo com tato e discernimento, os anciãos podem ajudá-las a permanecer achegadas a Jeová apesar das suas provações. Quando necessário, os anciãos também podem ajudar a providenciar apoio material. Tais anciãos compassivos e perspicazes deveras se tornam “como abrigo contra o vento”. — Isaías 32:2; Atos 6:1-3.
Consolo permanente da parte do novo Rei da Terra
Aquele a quem a idosa Ana se alegrou de ver há uns dois mil anos é hoje o Rei messiânico do Reino celestial de Deus. Este governo em breve eliminará todas as causas de tristeza, até mesmo a morte. Sobre isso, Revelação (Apocalipse) 21:3, 4, diz: “A tenda de Deus está com a humanidade . . . E [Ele] enxugará dos seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem clamor, nem dor. As coisas anteriores já passaram.” Notou que este texto se refere à “humanidade”? Deveras, os humanos serão libertados da morte, bem como de todo o lamento e clamor que ela causa.
No entanto, há ainda outras boas novas! A Bíblia promete também a ressurreição dos mortos. “Vem a hora em que todos os que estão nos túmulos memoriais ouvirão a sua voz [a de Jesus] e sairão.” (João 5:28, 29) Assim como Lázaro, a quem Jesus ressuscitou dos mortos, eles sairão como humanos, não como criaturas espirituais. (João 11:43, 44) Aqueles que depois ‘fizerem boas coisas’ serão levados à perfeição humana e sentirão pessoalmente o cuidado paternal de Jeová, quando ele ‘abrir a sua mão e satisfizer o desejo de toda coisa vivente’. — Salmo 145:16.
Aqueles que tiverem perdido um ente querido na morte e que depositam fé nesta esperança segura acham que ela é motivo de muito consolo. (1 Tessalonicenses 4:13) Portanto, se você for viúva, não deixe de ‘orar incessantemente’ pelo consolo e pela ajuda que você precisa diariamente para levar seus diversos fardos. (1 Tessalonicenses 5:17; 1 Pedro 5:7) E cada dia tome tempo para ler a Palavra de Deus, para ser consolada pelos pensamentos de Deus. Se fizer isso, verá como, apesar de todas as provações e desafios que enfrenta como viúva, Jeová pode realmente ajudá-la a ter paz.
[Destaque na página 5]
Ser prestimoso significa equilibrar o respeito pela privacidade da outra pessoa com a disposição para ajudar quando for necessário
[Foto na página 7]
A idosa viúva Ana foi abençoada por Deus
-