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  • Alemanha
  • Anuário das Testemunhas de Jeová de 1999
  • Subtítulos
  • Aproveitando as oportunidades do após-guerra
  • Um campo missionário no próprio país
  • Alguns grupos de língua estrangeira
  • Até russos, servo-croatas e chineses!
  • Ansiosos por divulgar o que aprenderam
  • O que estava acontecendo na Alemanha Oriental?
  • Reunindo-se discretamente
  • Aprendendo a testemunhar sob proscrição
  • Constantes aumentos apesar da proscrição
  • Reorganização para fortalecer a fraternidade
  • Gráficas para suprir as crescentes demandas
  • A decisão de passar para a impressão off-set
  • Um novo complexo de filial
  • A mudança para Selters
  • O dia da dedicação
  • ‘Casas para o nome de Jeová’
  • Superintendentes viajantes pastoreiam o rebanho
  • Superintendente viajante vai a Brooklyn
  • Escolas especiais ajudam a suprir necessidades do campo internacional
  • Esclarecimento e demonstrações de amor transpõem uma barreira
  • A repentina queda do Muro de Berlim
  • Visita de um Trabi
  • Fartura de alimento espiritual
  • Ajustando-se para adorar a Deus em liberdade
  • Oposição não detém a obra
  • Alguns que abraçaram a verdade
  • Agora podiam contar suas experiências
  • Uma celebração vitoriosa em Berlim
  • Providenciando locais para reuniões e assembléias
  • Emocionantes congressos internacionais
  • Mais construção para suprir necessidades urgentes
  • O fim de semana da dedicação
  • Construindo, mas nem por isso deixando de pregar
  • O que aconteceu a Magdeburgo?
  • Escritório de tradução
  • Local para seminários internacionais
  • O ódio aos cristãos verdadeiros não se restringe ao passado
  • Fornecendo informações factuais à mídia
  • Resistindo mesmo depois de ter passado meio século
Anuário das Testemunhas de Jeová de 1999
yb99 pp. 66-147

Alemanha

A ALEMANHA é um grande centro de atividade internacional. Todo ano o país recebe em média 15.000.000 de turistas do exterior. Muitos vêm passar suas férias nos Alpes da Bavária, na Floresta Negra, às margens do belo rio Reno, ou em visita aos centros culturais das cidades. Outros talvez venham a negócios. O comércio externo da Alemanha é um dos maiores do mundo, com conexões em todo o globo. Durante muitos anos a economia próspera do país atraiu muitos trabalhadores estrangeiros, influindo visivelmente na constituição demográfica das grandes cidades e também no ministério das Testemunhas de Jeová na Alemanha.

Seu ministério também foi afetado pelos eventos que ocorreram durante e no fim da Segunda Guerra Mundial. Sob a ditadura de Adolf Hitler, as Testemunhas foram alvo de feroz e implacável perseguição. Com a bênção do clero protestante e católico, Hitler jurou exterminar os Ernste Bibelforscher (Fervorosos Estudantes da Bíblia), como as Testemunhas de Jeová eram então conhecidas na Alemanha. Mas elas não transigiram na sua fé. Resistiram à impiedosa perseguição.

Doze anos depois de as Testemunhas de Jeová terem sido proscritas na Alemanha, Hitler e seu partido político deixaram de existir. Em contraste, as Testemunhas de Jeová estavam ativas em divulgar o Reino de Deus e o seu significado para a humanidade. A história do que lhes aconteceu e de como se comportaram durante a era nazista continua a dar testemunho — que hoje fala ao mundo todo.

Como as Testemunhas de Jeová conseguiram se sair vitoriosas? Não por alguma habilidade especial de sua parte. E por certo não foi devido ao número de adeptos, que somava menos de 20.000 em toda a Alemanha no início da Segunda Guerra Mundial, em contraste com o poderosíssimo regime nazista. A explicação está no que o sábio instrutor Gamaliel disse muito tempo atrás, e que se acha registrado na Bíblia: “Se este desígnio ou esta obra for de homens, será derrubada; mas, se for de Deus, não podereis derrubá-los.” (Atos 5:34-39) As Testemunhas de Jeová na Alemanha mostraram-se leais a Deus, mesmo sob ameaça de morte, e Jeová cumpriu a promessa de ‘não abandonar aqueles que lhe são leais’. — Sal. 37:28.

Aproveitando as oportunidades do após-guerra

Os que sobreviveram às experiências dos anos de guerra viram que havia trabalho a ser feito. Acabavam de vivenciar eventos que eram parte do cumprimento inconfundível do que Jesus Cristo havia predito que marcaria o sinal da sua presença e da terminação do sistema de coisas. Passaram por uma guerra de escala sem precedentes na História. Sabiam o que era ser atribulados, traídos, odiados pelas nações e mortos. Viram o que era escassez de alimentos. As pessoas precisavam ser informadas a respeito do significado de tais eventos. Mesmo em campos de concentração, as Testemunhas de Jeová nunca pararam de pregar. Mas sabiam que Jesus havia predito: “Estas boas novas do reino serão pregadas em toda a terra habitada, em testemunho a todas as nações.” (Mat. 24:3-14) Havia ainda mais a ser feito, e elas estavam ansiosas por dar continuidade à obra.

Logo após a guerra, as Testemunhas de Jeová na Alemanha reorganizaram a obra de proclamação do Reino. Erich Frost, libertado após nove anos, tomou providências imediatas para que irmãos maduros visitassem, reorganizassem e fortalecessem as congregações. Alguns irmãos estavam tão fracos devido à fome que desmaiavam nas reuniões, mas estavam determinados a estar presentes para tirar proveito do alimento espiritual. No primeiro dia após a libertação, Gertrud Poetzinger andou o dia inteiro em direção a Munique, na esperança de encontrar o marido. À noite, quando pessoas bondosas lhe ofereceram comida e hospedagem, ela ainda teve disposição de ficar até depois da meia-noite testemunhando-lhes a respeito dos propósitos de Jeová. Konrad Franke, ao ser libertado, ingressou imediatamente no serviço de pioneiro regular, embora de início tivesse apenas seu uniforme listrado da prisão para vestir.

Em 1947 havia 15.856 Testemunhas de Jeová na Alemanha novamente ativas no ministério de campo, divulgando corajosamente que o Reino de Deus é a única esperança para a paz e segurança duradouras. Jeová abençoou seu ministério zeloso, e, em maio de 1975, trinta anos após o fim da guerra, havia 100.351 proclamadores do Reino ativos na Alemanha Ocidental.

Naqueles anos, não era apenas o campo alemão que recebia testemunho. Zelosas Testemunhas de Jeová na Alemanha descobriram que com seu ministério podiam alcançar pessoas de muitas nações. Como se deu isso?

Um campo missionário no próprio país

Em meados da década de 50, para suprir a demanda de mão-de-obra criada pela prosperidade econômica do país, a Alemanha começou a recrutar Gastarbeiter, ou trabalhadores estrangeiros. Houve então um grande afluxo de trabalhadores da Espanha, da Grécia, da Itália, de Portugal, da Turquia e da antiga Iugoslávia. Em 1972 esta mão-de-obra estrangeira havia crescido para mais de 2,1 milhões.

Depois do grande afluxo de trabalhadores estrangeiros entre as décadas de 50 e de 70, a Alemanha foi varrida por uma onda de refugiados da África e da Ásia na década de 80. Nos anos 90, chegaram os refugiados da Europa Oriental e dos Bálcãs. Devido a leis então liberais que ofereciam asilo político, a Alemanha veio a ser o país com o maior número de residentes estrangeiros na Europa.

As Testemunhas de Jeová encararam isso como um excelente campo missionário em seu próprio território. Visto que “Deus não é parcial” e as pessoas que foram obrigadas a sair de seu país certamente precisam do consolo que somente a Palavra de Deus pode dar, os irmãos não podiam deixar de pregar as boas novas a elas. (Atos 10:34, 35; 2 Cor. 1:3, 4) Mas não tem sido fácil contatar os 7.500.000 estrangeiros na Alemanha na própria língua deles.

A fim de terem mais êxito em transmitir a verdade bíblica a esses estrangeiros, muitos irmãos na Alemanha começaram a aprender um novo idioma. Que bela demonstração de genuíno amor ao próximo, em harmonia com o que Jesus ensinou a seus seguidores! (Mat. 22:39) Embora a maioria desses irmãos não tivessem condições de ser missionários no estrangeiro, eles não perderam tempo em aproveitar todas as oportunidades no seu próprio país. Assim, em agosto de 1998, 371 congregações e 219 grupos de língua estrangeira, num total de mais de 23.600 publicadores, participavam na pregação das boas novas. Naturalmente, o objetivo de se formarem congregações de língua estrangeira não é segregar, mas sim ajudar as pessoas que não entendem bem o alemão a aprender a verdade em sua língua materna. Muitos publicadores têm chegado à conclusão de que alguém pode até entender a verdade ensinada numa segunda língua, mas só a língua materna consegue motivar o coração.

Embora muitos grupos na Alemanha se ressintam da presença de estrangeiros e os hostilizem, entre o povo de Jeová eles são acolhidos com genuíno amor cristão. Atualmente, as Testemunhas de Jeová realizam suas reuniões em 24 idiomas além do alemão, incluindo albanês, amárico, árabe, chinês, hindi, húngaro, japonês, persa, romeno, tâmil, tigrino e vietnamita. Nos Congressos de Distrito “Ensino Divino” de 1993 na Alemanha, cerca de 10% dos 194.751 presentes assistiram a congressos em língua estrangeira. E do total dos batizados no país, cerca de 14% eram desses grupos.

Entre os que aceitaram a mensagem do Reino acha-se um casal hindu que saiu de Sri Lanka em 1983 por causa da guerra naquele país e que esperava obter tratamento médico para seu filho de seis anos. Infelizmente, o menino morreu. Mas a família veio a conhecer a Jeová, que ressuscitará os mortos e lhes concederá a oportunidade de viver para sempre. (Atos 24:15) Há também o caso de uma nigeriana que lutou na guerra da Biafra quando era adolescente. Depois de vir para a Alemanha, sua vida mudou quando aprendeu os ensinamentos de Jeová sobre a convivência pacífica. — Isa. 2:3, 4.

Entre os italianos que se tornaram Testemunhas de Jeová na Alemanha não é incomum ouvir o provérbio que diz: “Non tutti i mali vengono per nuocere” (correspondente ao português “Há males que vêm para o bem”). Isso se aplica bem no seu caso, pois muitos italianos, assim como pessoas de outros países, embora tivessem vindo à Alemanha por causa de dificuldades financeiras, acabaram encontrando algo mais valioso do que bens materiais: a verdade sobre Deus e Seu propósito.

A atividade zelosa das Testemunhas de Jeová entre tais pessoas não tem passado despercebida. A Congregação Halberstadt recebeu a seguinte carta: “Somos do acampamento central de assistência aos que procuram asilo e cuidamos regularmente de pessoas procedentes de mais de 40 nações. . . . Essas pessoas, das mais diversas culturas, tiveram de deixar para trás familiares, sua terra, sua língua e suas tradições. Não são poucos os que passaram por experiências traumáticas, e têm diante de si um futuro incerto. . . . É por isso que muitos procuram apoio e esperança na religião. Agradecemos seu generoso presente [Bíblias em vários idiomas] que torna possível a essas pessoas derivar consolo e confiança por ler a Bíblia na sua própria língua.”

Alguns grupos de língua estrangeira

INGLÊS: As congregações de língua inglesa ajudam refugiados da Nigéria, Gana, Sri Lanka, Índia, etc. Steven Kwakye, de Gana, é um dos que receberam tal ajuda. Na Alemanha, quando um rapaz de Bangladesh lhe disse que estava tentando se esquivar das Testemunhas de Jeová, Steven sugeriu que o rapaz as mandasse até ele. Quando Steven era jovem, uma Testemunha de Jeová em Gana havia conversado com ele. Agora, longe da pressão dos parentes, queria aprender mais. Hoje Steven é ancião cristão, e sua família serve a Jeová junto com ele.

TURCO: A esposa e os filhos de Rasim eram Testemunhas de Jeová por mais de dez anos, embora o próprio Rasim continuasse na fé islâmica. Mas ele percebeu que a interpretação do Alcorão diferia tanto de uma mesquita para outra a ponto de alguns muçulmanos se recusarem a ir a outra mesquita que não fosse a deles. Em visita à Turquia, Rasim não só foi a uma mesquita como também às reuniões das Testemunhas de Jeová. Na mesquita ele ouviu interpretações do Islã que diferiam do que se ensinava na Alemanha. Não havia união. Ao retornar à Alemanha, ele disse: “No Salão do Reino daqui existe o mesmo amor e o mesmo programa que no Salão do Reino na Turquia. Essa é a verdade.”

HINDI: Em 1985 Sharda Aggarwal recebeu a visita de duas Testemunhas de Jeová logo após ter orado para encontrar um deus com quem ela pudesse abrir o coração. Seu marido tinha câncer do pulmão. Ela se sentia desolada, achando que os deuses hindus não ouviam suas orações. Perguntou às Testemunhas de Jeová se Jesus era Deus. A explicação que obteve convenceu-a de que sua oração havia sido respondida. Jeová lhe pareceu ser o tipo de deus sobre quem ela queria aprender. Embora de início hesitasse em abandonar os deuses do hinduísmo com medo de desagradá-los, logo jogou fora as imagens deles e aceitou a Jeová como o verdadeiro Deus. Foi batizada em 1987, e hoje é pioneira regular, feliz de estar servindo a um Deus em quem pode confiar. Tanto o marido como o filho são servos ministeriais. — Sal. 62:8.

POLONÊS: Em 1992 formou-se uma congregação de língua polonesa em Berlim e, no mesmo ano, houve um dia de assembléia especial em polonês. Embora fosse realizada numa região da Alemanha onde há muitas pessoas de origem polonesa, ninguém esperava que a assistência lotaria o Salão de Assembléias, o Salão do Reino vizinho e o setor de alimentação. Quase não dava para acreditar que havia no total 2.523 pessoas presentes! Entre elas havia irmãos poloneses que se associavam com congregações de língua alemã. Eles ficaram maravilhados de ver a obra de pregação do Reino se expandir no campo polonês, e gostaram de ouvir as verdades bíblicas em sua língua materna.

Até russos, servo-croatas e chineses!

RUSSO: Após o fim da Guerra Fria, muitos que haviam crescido na Rússia e que falavam russo, mas que eram de descendência alemã, imigraram para o país de seus antepassados. Vieram também os que eram membros das forças armadas soviéticas que serviam no que antes era a Alemanha Oriental, junto com seus dependentes. Suas necessidades espirituais, inerentes a todos os humanos, não haviam sido satisfeitas.

A família Schlegel é de descendência alemã. Em 1992 eles saíram da península da Criméia, na Ucrânia, para morar na terra de seus antepassados. Foram contatados por uma Testemunha de Jeová procedente do Usbequistão que se tornara Testemunha de Jeová na Alemanha. Depois de estudar a Bíblia, a família inteira foi batizada.

Sergej e sua esposa Zhenya eram ateus. Mas quando lhes mostraram as respostas da Bíblia às suas perguntas, especialmente com relação ao futuro, eles ficaram impressionados. Com humildade desenvolveram fé em Jeová e fizeram mudanças na vida, embora isso implicasse em Sergej mudar de emprego e abrir mão de uma pensão a que logo teria direito.

Marina, enfermeira num hospital militar, procurava um sentido na vida. Quando recebeu o livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra, ela o leu imediatamente e logo viu que havia encontrado o que procurava. Após retornar à Rússia, visitou outros que haviam estudado com as Testemunhas de Jeová na Alemanha, a fim de incentivá-los. Logo passou a ter uma vida mais significativa no serviço de pioneiro.

Em agosto de 1998, havia 31 congregações de língua russa e 63 grupos menores, totalizando 2.119 publicadores, um aumento de 27% sobre o ano anterior.

SERVO-CROATA: Johann Strecker, superintendente viajante no território servo-croata, diz que na antiga Iugoslávia havia pelo menos 16 nacionalidades. Ele acrescenta: “É maravilhoso ver como a verdade as uniu.” Quando Munib, um muçulmano que havia servido no exército da Iugoslávia por oito anos, foi convidado para uma reunião das Testemunhas de Jeová na Alemanha, ele encontrou croatas, sérvios e pessoas de origem muçulmana reunindo-se pacificamente. Para ele, isso era quase que inimaginável! Por um mês ele simplesmente ficou observando. Quando se convenceu de que a paz e a união entre as Testemunhas de Jeová era genuína, concordou em estudar a Bíblia. Foi batizado em 1994.

Rosanda, uma católica-romana da Croácia que passara vários anos num convento, foi visitar parentes que se haviam tornado Testemunhas de Jeová na Alemanha. Depois de assistir à Escola do Ministério Teocrático e à Reunião de Serviço com eles, admitiu: “Vocês estão com a verdade. Eu sempre ficava pensando em como os primeiros cristãos pregavam o evangelho. Quando vi as duas irmãs na tribuna e a maneira como uma pregava para a outra, pensei logo: ‘Deve ser exatamente assim que os primeiros cristãos pregavam.’ ” Hoje ela é pioneira, a exemplo dos primeiros cristãos.

Alguns irmãos alemães, que aprenderam os idiomas desses grupos de língua estrangeira para poder testemunhar a eles, mais tarde mudaram-se para esses países a fim de servir ali, quando isso se tornou possível.

CHINÊS: A obra no território chinês na Alemanha é mais recente. “A maioria das pessoas que vieram da China nunca ouviu falar de nós e muito menos já leu a Bíblia”, explica Egidius Rühle, ex-missionário em Taiwan. Ele acrescenta: “Visto que a maioria dos chineses têm sede de aprender, eles absorvem conhecimento como uma esponja seca absorve água.”

Quando a 12.ª turma da Escola de Treinamento Ministerial foi apresentada à família de Betel de Selters em outubro de 1996, como foi gratificante conhecer o primeiro estudante chinês a fazer o curso na Alemanha! Ele aprendeu a verdade na Alemanha e testemunhou a uma professora chinesa de geologia, a quem deu o livro A Vida — Qual a Sua Origem? A Evolução ou a Criação?. Ela leu o livro todo em uma semana. Agora, em vez de ensinar a evolução, dirige estudos bíblicos domiciliares — eram 16 estudos, em fins de 1996.

Ansiosos por divulgar o que aprenderam

Literalmente centenas de residentes estrangeiros aprenderam a verdade na Alemanha no decorrer dos anos e depois retornaram à sua terra natal para levar avante a pregação das boas novas. Muitos agora servem quais anciãos ou servos ministeriais ou em outras posições de responsabilidade. Petros Karakaris é membro da família de Betel na Grécia; Mamadou Keita serve como missionário em Mali; e Paulin Kangala, conhecido por muitos como Pepe — é missionário na República Centro-Africana, junto com a esposa, Anke.

Desde o início da década de 90, mais de 1.500 publicadores de língua grega voltaram à Grécia, alguns como anciãos habilitados. Outros se mudaram para a Suécia, Bélgica, Inglaterra e Canadá para promover a obra de pregação entre a população de língua grega nesses países. E mesmo assim a Alemanha é, provavelmente, o país com mais publicadores de língua grega do mundo, só perdendo para a própria Grécia.

O que estava acontecendo na Alemanha Oriental?

No fim da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha foi ocupada pelos exércitos da Grã-Bretanha, da França, da União Soviética e dos Estados Unidos. O país derrotado foi dividido em quatro zonas de ocupação; cada uma das potências vitoriosas recebeu jurisdição sobre uma zona. (Berlim, a capital, também foi dividida em quatro setores de ocupação.) Visto que a zona ocupada pelos soviéticos foi a parte leste do país, esta logo passou a ser conhecida como a Zona Oriental. Em 1949, restabeleceu-se a soberania sobre essa parte da Alemanha, e ela se tornou a República Democrática da Alemanha. Mas, na realidade, o termo “Zona Oriental” simplesmente foi substituído pelo nome Alemanha Oriental. Quando as demais três zonas de ocupação tornaram-se a República Federal da Alemanha em 1955, então, de acordo com o uso popular, ela se tornou conhecida como a Alemanha Ocidental.

Depois da queda do estado nazista, as Testemunhas de Jeová na Zona Oriental não perderam a oportunidade de realizar reuniões publicamente e de participar com zelo no ministério de campo. Em meados de 1949, mais de 17.000 relatavam serviço de campo na Alemanha Oriental. Mas o alívio sentido com a queda do regime nazista durou pouco. As reuniões congregacionais foram novamente proibidas pela polícia. As publicações foram confiscadas. Estradas foram bloqueadas para impedir que as Testemunhas de Jeová comparecessem a congressos. Irmãos foram presos. Em 31 de agosto de 1950, impôs-se uma proscrição oficial. Os irmãos da Alemanha Oriental foram novamente forçados a realizar suas atividades às ocultas, desta vez por causa do regime comunista, e só voltariam a ter liberdade uns 40 anos depois.

A perseguição na Alemanha Oriental foi muito severa no início da proscrição. Em 1990 o jornal alemão Berliner Morgenpost disse: “Entre 1950 e 1961 [quando se construiu o Muro], as autoridades da Alemanha Oriental prenderam 2.891 Testemunhas de Jeová; dessas, 2.202, incluindo 674 mulheres, foram julgadas e sentenciadas a um total de 12.013 anos de prisão. Enquanto estavam presos, 37 homens e 13 mulheres morreram devido a maus-tratos, doença, desnutrição ou velhice. As cortes sentenciaram 12 homens à prisão perpétua, porém mais tarde reduziram a sentença para 15 anos.”

Mas aquilo foi apenas o começo. A proscrição durou quatro décadas. Havia períodos de aparente alívio na pressão sobre as Testemunhas de Jeová. Daí as casas eram invadidas e mais irmãos eram presos. Embora haja alguma incerteza quanto aos números exatos, os registros da própria Sociedade mostram que durante os anos da proscrição, 4.940 Testemunhas de Jeová foram presas na Alemanha Oriental em 231 locais.

Reunindo-se discretamente

Mesmo em tais condições difíceis, as Testemunhas de Jeová geralmente achavam um meio de obter publicações bíblicas para estudo. Centenas de irmãos e irmãs corajosos arriscavam sua liberdade e às vezes até a vida para cuidar das necessidades espirituais. As irmãs com freqüência desempenhavam um papel vital. Antes de se construir o Muro de Berlim em 1961, elas viajavam para o setor ocidental de Berlim, apanhavam publicações no escritório da Sociedade ali e traziam-nas de volta. Quando os espiões da Alemanha Oriental começaram a vigiar o escritório para ver quem obtinha as publicações, algumas irmãs foram presas. Assim, usaram-se outras táticas. As irmãs que atuavam como correio iam apanhar as publicações na casa de irmãos em Berlim. Embora algumas tenham sido detidas, levadas aos tribunais e recebido sentenças de prisão, o fluxo de suprimentos espirituais nunca se secou por completo.

Será que os irmãos conseguiam realizar reuniões cristãs em tais circunstâncias? Compreensivelmente, alguns sentiram certa ansiedade de início. Mas deram-se conta de que reunir-se com concristãos era importante se haveriam de manter-se espiritualmente fortes. (Heb. 10:23-25) Resolveram reunir-se discretamente, em pequenos grupos. Por razões de segurança, usavam apenas o primeiro nome. As reuniões em geral eram realizadas após o escurecer, em locais e dias diferentes. No verão as reuniões só podiam iniciar-se depois das 10 horas da noite. Mas os irmãos não se incomodavam com isso.

Embora Salões do Reino não pudessem ser usados, um fazendeiro amigável na Saxônia ofereceu o celeiro aos irmãos. O celeiro tinha uma porta nos fundos que dava para uma trilha escondida no mato. Durante todo o inverno o celeiro acomodou um grupo de cerca de 20 pessoas, que se reunia à luz de velas. Logo o fazendeiro também se tornou irmão.

Acima de tudo, os irmãos faziam preparativos para comemorar a Refeição Noturna do Senhor. Manfred Tamme lembra-se de uma ocasião em que forneceu emblemas da Comemoração a alguns irmãos que estavam presos. Ele conta: “Enchi um frasco de tônico capilar com vinho e pedi que passassem a um irmão que estava preso. O funcionário abriu o frasco, cheirou o que tinha dentro, e disse: ‘Isso é para o cabelo parar de cair?’ ‘Bem, pelo menos é o que diz o rótulo’, respondi. Ele fechou o frasco e o entregou ao irmão a quem se destinava!”

Aprendendo a testemunhar sob proscrição

A obra de pregação das boas novas do Reino de Deus não parou na Alemanha Oriental. A Bíblia não foi proscrita, de forma que os irmãos muitas vezes iniciavam conversas simplesmente referindo-se a ela. Visto que tinham poucas ou nenhuma publicação para oferecer, conversavam sobre a Bíblia usando vários textos relacionados sobre determinado assunto. Naturalmente, pregar era arriscado. Cada dia no campo podia ser o último em liberdade. Citando as palavras de um deles, a oração era a “companheira de todas as horas” dos irmãos. “Ela nos dava paz mental e serenidade. Nunca nos sentíamos sós. Mas era preciso estar sempre atento.”

Apesar dos esforços de serem cautelosos, às vezes se viam face a face com a polícia. Certa vez, quando Hermann e Margit Laube visitavam casas recomendadas por pessoas que eles já conheciam, viram um uniforme de policial pendurado no cabideiro atrás do homem que atendeu a porta. Margit ficou pálida, e o coração de Hermann começou a bater forte. Eles fizeram uma oração silenciosa. Com certeza seriam presos! “Quem são vocês?”, perguntou o homem rispidamente. Foi Margit quem respondeu: “Tenho certeza de que o conheço de algum lugar, mas simplesmente não consigo lembrar de onde. Ah, sim, o senhor é da polícia. Devo tê-lo visto em serviço.” Num tom um pouco mais amistoso, ele respondeu: “Vocês são de Jeová?” “Sim”, disse Hermann, “e o senhor deve admitir que é preciso ter coragem para bater em sua porta. Estamos interessados em sua pessoa.” Eles foram convidados a entrar. Após várias visitas, iniciou-se um estudo bíblico. Com o tempo o policial tornou-se nosso irmão cristão.

Dava-se também testemunho nas prisões. Wolfgang Meise estava na prisão de Waldheim. Certo dia ele recebeu uma carta da esposa dizendo que estivera “em Berlim e havia tomado a sopa Knorr” (marca de uma sopa bem conhecida na Alemanha). Wolfgang aproveitou a oportunidade para explicar a outro detento que isso significava que houve um congresso em Berlim e que N. H. Knorr, o presidente da Watch Tower Society, havia proferido um discurso ali. O homem nunca se esqueceu do brilho nos olhos de Wolfgang, refletindo sua alegria ao explicar a carta da esposa. Cerca de 14 anos mais tarde, depois de ter-se mudado para a Alemanha Ocidental, aquele homem começou a estudar a Bíblia e dois anos depois foi batizado em Würzburg.

Hildegard Seliger, que já havia passado anos em campos de concentração nazistas, foi sentenciada por uma corte comunista em Leipzig a mais dez anos. Mais tarde, uma guarda da prisão em Halle disse a Hildegard que ela era considerada especialmente perigosa porque ‘falava sobre a Bíblia o dia inteiro’.

Constantes aumentos apesar da proscrição

O zelo demonstrado pelos irmãos deu bons frutos. Horst Schramm diz que no início da década de 50 havia 25 publicadores na Congregação Königs Wusterhausen, mas quando o Muro de Berlim caiu, havia 161. No entanto, 43 publicadores tinham-se mudado para o Ocidente, e vários haviam falecido. Vale notar que em algumas congregações mais de 70% das Testemunhas de Jeová hoje ativas aprenderam a verdade sob proscrição.

A família Chemnitz é um exemplo disso. Bernd e Waltraud aprenderam a verdade e foram batizados enquanto eram bem jovens, nos primeiros anos da proscrição. Depois que se casaram e tiveram filhos, não permitiram que a proscrição os impedisse de criar os filhos para se tornarem servos de Jeová. Na década de 80, enquanto a obra ainda estava sob proscrição, Andrea, Gabriela, Ruben e Esther dedicaram-se a Jeová e foram batizados, seguindo o exemplo dos pais. Apenas Matthias, o mais novo, foi batizado depois da proscrição. Jeová abençoou ricamente a determinação demonstrada por esse casal apesar da proscrição. Como se sentem recompensados de saber que hoje os seus cinco filhos são membros da família de Betel em Selters!

Um ancião que ajudava a compilar os relatórios mensais do serviço de campo para a Sociedade diz: “Nos 40 anos de proscrição, não houve um mês em que alguém não fosse batizado.” E acrescenta: “Os batismos geralmente eram feitos em pequena escala, nas casas. Depois de um discurso, os candidatos ao batismo eram imersos numa banheira. O problema em geral era a dificuldade de submergir a pessoa por completo. Apesar desses pequenos inconvenientes, todos ainda se lembram com alegria do dia em que foram batizados.”

Quando foi possível voltar a publicar os relatórios de serviço de campo da Alemanha Oriental, que alegria foi saber que na década de 80 havia 20.704 publicadores ativos ali! Agora, naturalmente, o relatório é feito em conjunto. Durante 1990, o número de publicadores na Alemanha reunificada aumentou para 154.108.

Reorganização para fortalecer a fraternidade

No período em que os governantes comunistas procuravam manter as Testemunhas de Jeová naquela parte do mundo isoladas de seus irmãos cristãos em outros países, mudanças significativas estavam sendo feitas no mundo inteiro na própria organização das Testemunhas de Jeová. Essas mudanças, feitas num esforço de se harmonizar mais de perto com o que a Bíblia diz sobre a congregação cristã do primeiro século, serviram para fortalecer a fraternidade internacional e preparar a organização para o rápido crescimento durante os anos vindouros. — Note Atos 20:17, 28.

Assim, a partir de outubro de 1972, as congregações deixaram de ser supervisionadas por apenas um indivíduo, conhecido como servo de congregação, que cuidava do trabalho necessário com o auxílio de ajudantes. Em seu lugar foi designado um corpo de anciãos para supervisionar cada congregação. Em 1975, já se evidenciavam excelentes resultados dessa mudança.

No entanto, Erwin Herzig, um antigo superintendente viajante, lembra-se de que a mudança não foi bem recebida por todos. Serviu para revelar “o que havia no coração de alguns servos de congregação”, diz ele. Embora a vasta maioria revelasse ter um coração leal, a mudança eliminou os poucos que eram ambiciosos e mais desejosos de “ser o número um” do que servir os seus irmãos.

Mais mudanças estavam por vir. Na década de 70, o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová foi ampliado e reorganizado, e seu trabalho foi dividido em seis comissões que começaram a funcionar a partir de 1.º de janeiro de 1976. Um mês depois, em 1.º de fevereiro de 1976, ajustou-se a supervisão das filiais e congêneres do mundo todo. Estas não mais eram coordenadas por apenas um indivíduo que atuava como servo de filial, mas cada uma delas passou a ser supervisionada por uma Comissão de Filial designada pelo Corpo Governante.

Os irmãos Frost, Franke e Kelsey já haviam servido por vários períodos como servos da filial na Alemanha. O irmão Frost precisara deixar Betel por motivos da saúde. (Ele faleceu em 1987, aos 86 anos de idade. A história de sua vida foi publicada na Sentinela de 1.º de novembro de 1961.) Quando foi formada a Comissão de Filial de cinco membros na Alemanha, em 1976, ela incluía o irmão Konrad Franke (que havia sido preso várias vezes na era nazista) e Richard Kelsey (graduado de Gileade que já servia na Alemanha por 25 anos). Também faziam parte da comissão Willi Pohl (sobrevivente de campos de concentração e um dos integrantes da 15.ª turma de Gileade), Günter Künz (graduado da 37.ª turma de Gileade) e Werner Rudtke (um ex-superintendente viajante).

Esses membros originais, com exceção do irmão Franke, que faleceu em 1983, ainda servem na Comissão de Filial. (A história da vida de Konrad Franke aparece na Sentinela de 15 de agosto de 1963.) Dois outros irmãos que serviram por um tempo antes de sua morte foram: Egon Peter, de 1978 a 1989, e Wolfgang Krolop, de 1989 a 1992.

No presente a Comissão de Filial é constituída de oito membros. Além dos já mencionados, temos Edmund Anstadt (desde 1978), Peter Mitrega (desde 1989), também Eberhard Fabian, e Ramon Templeton (desde 1992).

Quando o ajuste na supervisão da filial entrou em vigor em 1976, havia apenas 187 pessoas na família de Betel em Wiesbaden, Alemanha Ocidental. Desde então a equipe aumentou para 1.134, incluindo pessoas de 30 nacionalidades. Isso reflete, até certo ponto, o aspecto internacional do trabalho em que a filial tem o privilégio de participar.

Gráficas para suprir as crescentes demandas

Em meados da década de 70, a gráfica da Alemanha ficava numa região de Wiesbaden conhecida como Kohlheck, na época um subúrbio tranqüilo perto da floresta, mas hoje um setor da cidade de rápido crescimento. A Sociedade já havia aumentado suas propriedades nessa área 13 vezes. Mas o número de proclamadores do Reino na Alemanha Ocidental havia crescido para uns 100.000. Era necessário um escritório maior para supervisionar o campo, e uma gráfica maior para suprir publicações bíblicas. A obtenção de mais terreno para expansão estava ficando muito difícil. Como solucionar o problema? A Comissão de Filial orou pedindo a orientação de Jeová.

Em fins de 1977 os membros da recém-designada Comissão de Filial começaram a estudar a possibilidade de construir um novo lar de Betel em outro lugar. Mas será que isso realmente era necessário? O sentimento geral era de que o fim do velho sistema devia estar muito perto. No entanto, havia também outro fator que precisava ser levado em conta. Os métodos de impressão estavam mudando, e a Sociedade se via pressionada a adotá-los a fim de poder continuar a imprimir em larga escala, independentemente do tempo que restasse para o velho sistema. Curiosamente, a experiência adquirida ao lidar com a proscrição na Alemanha Oriental tornou mais fácil para nossos irmãos em Wiesbaden fazer mudanças, quando essas se tornaram necessárias. Como assim?

A decisão de passar para a impressão off-set

Depois da construção do Muro de Berlim em 1961, tornou-se cada vez mais difícil fornecer publicações às Testemunhas de Jeová na Alemanha Oriental. Para facilitar isso, preparou-se para os irmãos de lá uma edição especial de A Sentinela em tamanho menor, contendo apenas os artigos de estudo. Produzir tal edição significava recompor os artigos. Era difícil imprimir em papel bem fino, e dobrar as folhas impressas também era trabalhoso. Quando os irmãos encontraram uma dobradeira automática capaz de realizar o serviço, descobriram que era fabricada em Leipzig, Alemanha Oriental — paradoxalmente, onde as Testemunhas de Jeová estavam proscritas e o próprio país a que se destinava a edição mais discreta de A Sentinela.

A fim de simplificar o serviço, um irmão que havia aprendido a trabalhar com a impressão off-set antes de ir a Betel sugeriu que se reproduzissem as revistas usando esse método. Os artigos de estudo poderiam ser fotografados, reduzidos em tamanho e então expostos à chapa de off-set. A filial recebeu de presente uma pequena impressora plana off-set. Com o tempo, tornou-se possível publicar não só os artigos de estudo, mas a revista inteira, inicialmente em preto e branco e por fim colorida. Da mesma forma, produziram-se também livros em tamanho pequeno.

Quando Nathan Knorr, o então presidente da Sociedade Watch Tower, visitou Wiesbaden em 1975, ele se interessou bastante pela impressão off-set. “Nada mau”, disse ele depois de examinar o que se imprimia. Quando lhe foi explicado que se tratava de uma edição especial para a Alemanha Oriental e que estávamos satisfeitos com o novo método que usávamos para imprimi-la, o irmão Knorr disse: “Irmãos que passaram por tanto sofrimento merecem o melhor que possamos lhes fornecer.” Imediatamente ele concedeu permissão para a compra de mais impressoras para realizar o trabalho.

Assim, quando Grant Suiter, membro do Corpo Governante, visitou a Alemanha em 1977 e mencionou que a Sociedade havia decidido adotar a impressão off-set em larga escala, depois de cogitar isso por muito tempo, os irmãos em Wiesbaden já tinham experiência no ramo. Indiretamente, a proscrição na Alemanha Oriental os havia preparado para isso.

No entanto, mais estava envolvido do que apenas aceitar a idéia de que era necessário uma mudança nos métodos de impressão. O irmão Suiter explicou que seriam necessárias impressoras maiores e mais pesadas. Mas onde colocá-las? Uma coisa era sonhar em ter rotativas off-set imprimindo em cores e outra bem diferente era transformar esse sonho em realidade. Estudaram-se várias possibilidades para maior expansão em Kohlheck, mas todas apresentavam problemas. O que se devia fazer?

Um novo complexo de filial

Teve início a busca de uma propriedade em outro local. Em 30 de julho de 1978, umas 50.000 Testemunhas de Jeová reunidas num congresso em Düsseldorf e uma multidão de cerca de 60.000, em Munique, foram informadas, para a sua surpresa, de que havia planos para a compra de uma propriedade onde se construiria um novo conjunto de prédios de filial.

No decorrer de quase um ano, 123 locais foram visitados. Por fim escolheu-se uma propriedade localizada numa colina sobranceira à pequena cidade de Selters. Com a aprovação do Corpo Governante, a compra foi feita em 9 de março de 1979. Negociações adicionais com mais 18 proprietários tornaram possível obter outros 65 terrenos adjacentes, resultando assim em 30 hectares para o projeto. Localizado a cerca de 40 quilômetros ao norte de Wiesbaden, Selters proporcionava fácil acesso aos caminhões. O Aeroporto Internacional Rhein-Main, de Frankfurt, ficava a menos de 65 quilômetros de distância.

O maior projeto de construção na história das Testemunhas de Jeová na Alemanha estava prestes a começar. Estávamos realmente à altura do projeto? Rolf Neufert, membro da Comissão de Construção, lembra-se: “Com exceção do irmão que era nosso arquiteto, ninguém havia trabalhado num projeto tão grande. A complexidade do empreendimento é difícil até de imaginar. Normalmente, só uma construtora com anos de experiência e todos os especialistas necessários realizaria um empreendimento tão grande e tão complicado.” Os irmãos raciocinaram, contudo, que se Jeová queria que eles construíssem, ele também iria abençoar os resultados.

Foi necessário conseguir 40 alvarás para construção, mas as autoridades locais foram muito cooperadoras, o que foi bastante apreciado. É verdade que houve alguma oposição no início, mas esta veio principalmente dos clérigos, que realizaram reuniões para instigar oposição, mas que de nada adiantou.

As Testemunhas de Jeová em todo o país se apresentaram como voluntários para ajudar na obra. A disposição que demonstraram foi notável. Diariamente havia em média 400 trabalhadores efetivos no canteiro de obras, sem contar os cerca de 200 trabalhadores “de férias”. Durante os quatro anos da construção, nada menos que 15.000 irmãos se apresentaram como voluntários.

Certo irmão se lembra: “Não importava o tempo, não importavam as dificuldades — se estava quente, fresco ou mesmo uma temperatura congelante —, o trabalho prosseguia. Às vezes, quando outros teriam encerrado suas atividades, nós estávamos apenas começando.”

Recebemos também ajuda de outros países. Jack e Nora Smith, acompanhados da filha Becky, de 15 anos, não mediram distância para ajudar na construção, viajando milhares de quilômetros desde Oregon, nos Estados Unidos. Eles assistiam ao congresso internacional em Munique quando se anunciou que a Sociedade planejava construir novos prédios de filial na Alemanha. “Que grande privilégio seria trabalhar na construção de um novo Betel!”, disseram. Colocaram-se à disposição para ajudar. Jack se lembra: “Enquanto trabalhávamos nos preparativos para o congresso em 1979, recebemos uma petição e um convite para ir o quanto antes. Ficamos tão empolgados que mal conseguíamos nos concentrar no nosso trabalho e na assembléia.”

Para acomodar os trabalhadores da construção, foi preciso reformar prédios que havia na propriedade. No inverno de 1979/80, a primeira casa foi terminada. Em setembro de 1980 lançaram-se as fundações para o novo lar de Betel. Iniciou-se também a construção da gráfica, e isso bem a tempo, pois a rotativa off-set de 27 metros de comprimento, encomendada em janeiro de 1978, chegaria no início de 1982. Até então, a gráfica, ou pelo menos parte dela, teria de estar pronta.

A maior parte do trabalho foi feita pelos próprios irmãos. Certo irmão ainda acha incrível o que aconteceu: “Nenhum de nós tinha experiência em trabalhar numa construção tão grande com uma constante rotatividade na equipe de trabalhadores. Com freqüência numa área ou outra achávamos que não havia como prosseguir, porque não tínhamos profissionais especializados para realizar determinados serviços. Mas muitas vezes na última hora, recebíamos de repente a petição de um irmão qualificado. Irmãos qualificados apareciam conforme surgia a necessidade de seus serviços.” Eles agradeceram a Jeová por sua orientação e bênção.

A mudança para Selters

Muito trabalho estava envolvido em mudar os móveis e os pertences pessoais dos cerca de 200 membros da família de Betel, isso sem mencionar todas as máquinas e equipamentos necessários. Era uma tarefa grande demais para fazer de uma vez. Pouco a pouco, departamento por departamento, e conforme a construção progredia, a família de Betel foi mudando para Selters.

Os que trabalhavam na gráfica estavam entre os primeiros a se mudar, visto que foi a primeira parte do complexo a ficar pronta. Pouco a pouco as máquinas em Wiesbaden foram desmontadas e levadas para Selters. No ínterim, em 19 de fevereiro de 1982, começou-se a imprimir em cores na nova rotativa off-set em Selters. Quanta alegria! Em maio, depois de 34 anos de funcionamento, a gráfica em Wiesbaden encerrou suas atividades.

A primeira grande tarefa para a nova rotativa off-set foi a impressão do livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra. Essa nova publicação seria lançada nos congressos de distrito de 1982, e solicitou-se à Alemanha que a produzisse em sete idiomas. O problema era que a encadernação ainda estava em Wiesbaden. De fato, ela só se mudou para Selters um ano depois. Assim, quando os cadernos do livro saíam da rotativa em Selters, eram logo levados pelo caminhão da Sociedade a Wiesbaden para a encadernação. Apesar do trabalho extra envolvido, de um total de 1.348.582 exemplares da primeira edição, os irmãos conseguiram imprimir e encadernar 485.365 livros antes dos congressos, tornando possível que os congressistas internacionais de vários países recebessem o lançamento.

Compreensivelmente, os irmãos estavam alegres, mas ao mesmo tempo tristes de se mudar. Para alguns membros da família de Betel, Wiesbaden havia sido o seu lar por quase 35 anos. Mas logo o conjunto de prédios em Wiesbaden foi repartido e vendido para várias pessoas. Ficou apenas um pequeno setor da antiga encadernação que foi transformado em Salão do Reino. Como é típico da união internacional do povo de Jeová, esse salão hoje acomoda quatro congregações: duas em alemão, uma em inglês e outra em russo.

O dia da dedicação

Terminados os retoques finais do conjunto de prédios de Selters, realizou-se a dedicação em 21 de abril de 1984. Todos que participaram na construção tinham a firme convicção de que a mão de Jeová estivera sobre eles. Haviam buscado Sua orientação e agradecido a ele ao ver obstáculos aparentemente intransponíveis serem removidos. Agora viam evidência tangível de Sua bênção nesses prédios terminados, que já estavam sendo usados para promover a adoração verdadeira. (Sal. 127:1) De fato, era uma ocasião especialmente alegre.

No começo da semana, os prédios foram abertos para a visitação do público. Diversas autoridades que haviam sido contatadas pela Sociedade foram convidadas para fazer uma visita. Os vizinhos também foram convidados. Certo visitante disse que estava lá graças ao pastor de sua igreja. Explicou que o pastor havia reclamado tanto das Testemunhas de Jeová nos últimos anos que toda a congregação já estava cansada de ouvi-lo. No domingo anterior, ele criticara de novo e duramente as Testemunhas de Jeová, alertando o rebanho para que não aceitasse o convite das Testemunhas de Jeová para visitar os prédios. “Eu havia sido convidado”, explicou o visitante, “mas havia-me esquecido da data. Se o pastor não tivesse falado no domingo passado, com certeza eu teria despercebido”.

Terminadas as visitas iniciais, finalmente chegou o dia da dedicação. Quando o programa começou com música às 9h20, que alegria foi saber que dos 14 membros do Corpo Governante na época, 13 puderam aceitar o convite de estar presentes! Visto que não era possível que todos os que de uma forma ou de outra haviam contribuído para o êxito da construção estivessem presentes, providenciou-se que 11 locais em diferentes partes do país estivessem ligados por telefone. Dessa forma uma multidão de 97.562 pessoas pôde ouvir o excelente programa.

Entre os presentes em Selters naquele dia memorável achavam-se muitos que haviam provado sua fé enquanto estavam presos em campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, junto com alguns que haviam sido soltos da prisão em tempos mais recentes na Alemanha Oriental. Entre eles se achavam Ernst e Hildegard Seliger. O irmão Seliger havia começado sua carreira no ministério de tempo integral 60 anos antes, e ele e a esposa haviam passado um total de mais de 40 anos em prisões e em campos de concentração debaixo dos regimes nazista e comunista. Após assistirem ao programa de dedicação, escreveram: “Podem imaginar como nos sentimos de poder assistir a esse maravilhoso banquete espiritual no paraíso espiritual? Do início ao fim, ouvir o maravilhoso programa foi como ouvir uma sinfonia divina de união e harmonia teocrática.” (Para mais detalhes sobre as provas de fé pelas quais eles passaram, veja A Sentinela de 1.º de junho de 1976.)

‘Casas para o nome de Jeová’

Com freqüência as pessoas ficam admiradas de ver as Testemunhas de Jeová levantarem Salões do Reino em questão de semanas, ou mesmo dias; construírem grandes Salões de Assembléias com mão-de-obra voluntária, e financiar construções de Betel no valor de milhões de dólares à base de donativos. Os residentes da Alemanha tiveram muitas oportunidades de ver todas essas atividades diante de seus próprios olhos.

O primeiro Salão de Assembléias na Alemanha Ocidental foi dedicado em Berlim Ocidental no início da década de 70. Outros se seguiram, de forma que em 1986 todas as assembléias de circuito na Alemanha Ocidental foram realizadas em salões próprios.

As bênçãos de Jeová eram evidentes ao passo que os irmãos trabalhavam nesses projetos. Em Munique, com a cooperação das autoridades municipais, conseguiu-se adquirir uma propriedade para um Salão de Assembléias a um preço muito bom ao lado da rodovia, em frente ao Estádio Olímpico e adjacente à bela paisagem do Parque Olímpico.

Não se pouparam esforços para manter ao mínimo possível os gastos com equipamentos e construção. Visto que uma usina elétrica estava sendo transferida e estava vendendo circuitos elétricos e um painel de controle de telefones, os irmãos conseguiram comprá-los por menos de 5% do preço original. A demolição de um conjunto de prédios bem na época tornou possível que eles comprassem as necessárias pias, louça sanitária, portas, janelas e centenas de metros de encanamento para água, gás e ventilação a um preço bem reduzido. A fabricação de suas próprias cadeiras e mesas resultou em ainda mais economia. Em harmonia com as normas de paisagismo da cidade, os irmãos tiveram de plantar 27 mudas de tília na propriedade do Salão de Assembléias. Um viveiro de plantas que estava fechando tinha exatamente o número de árvores que queríamos, exatamente do tamanho exigido, e elas foram adquiridas por um décimo do preço normal. Quando a cidade de Munique terminou de fazer o calçamento da maior parte de sua malha viária, toneladas de pedras foram colocadas à disposição a um preço bem reduzido. Os irmãos as adquiriram para calçar as passagens em torno do salão e o estacionamento adjacente.

Histórias similares podem ser contadas sobre outros Salões de Assembléias na Alemanha, cada uma delas com projeto exclusivo e com sua própria beleza. Cada uma delas é, realmente, “uma casa ao nome de Jeová” como o Rei Salomão descreveu o templo há mais de 3.000 anos. — 1 Reis 5:5.

Além disso, a construção de Salões do Reino prossegue num ritmo acelerado para cuidar das necessidades das 2.083 congregações na Alemanha. Hoje há 17 Comissões Regionais de Construção. Antes de se formar a primeira comissão em 1984, as Testemunhas de Jeová tinham apenas 230 Salões do Reino próprios em toda a Alemanha. Desde então, até agosto de 1998, uma média de 58 novos salões foram construídos anualmente — mais de um por semana nos últimos 12 anos!

Também na questão de construção, as Testemunhas de Jeová na Alemanha olham para além das fronteiras nacionais. Elas são parte de uma família global. Mais de 40 irmãos da Alemanha já serviram como servos internacionais, dispostos a participar na construção onde quer que a Sociedade os enviasse e por quanto tempo fosse necessário. Outros 242 têm servido por períodos variados em tais projetos em outros países.

Superintendentes viajantes pastoreiam o rebanho

Um fator importante na condição espiritual da organização tem sido o trabalho feito pelos superintendentes viajantes. Tais homens são genuínos pastores do rebanho de Deus. (1 Ped. 5:1-3) São “dádivas em homens”, conforme a descrição do apóstolo Paulo. — Efé. 4:8.

Depois da Segunda Guerra Mundial, superintendentes viajantes visitaram e animaram as congregações, trabalhando com elas no ministério de campo. Entre eles estavam os irmãos Gerhard Oltmanns, Josef Scharner e Paul Wrobel, todos batizados em 1925. Havia também Otto Wulle e Max Sandner, ambos batizados na década de 30.

Conforme surgia a necessidade, outros irmãos eram designados quais superintendentes viajantes. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial até o presente, mais de 290 irmãos participaram no serviço de viajante na Alemanha Ocidental e mais de 40 outros na Alemanha Oriental. Eles realmente deram de si mesmos para promover os interesses do Reino. Para alguns que já eram pais e avós, isso significava deixar de ver com freqüência os seus filhos e netos. Outros, ao cuidar de suas designações, também providenciaram passar tempo regularmente com seus pais idosos ou doentes.

Alguns desses ministros viajantes têm servido por décadas nesse trabalho estrênuo, porém gratificante. Por exemplo, desde meados da década de 50, Horst e Gertrud Kretschmer cobriram toda a Alemanha no serviço de viajante. O irmão Kretschmer ainda se lembra de que quando ficou no Betel de Wiesbaden para uma curta estada em 1950, Erich Frost colocou a mão no seu ombro e disse num tom cordial: “Horst, nunca fique apreensivo. Se você permanecer fiel a Jeová, ele vai cuidar de você. Sei disso por experiência própria; você também vai sentir isso. Apenas permaneça fiel.”

Em 1998 havia 125 irmãos na Alemanha servindo como superintendentes de circuito ou de distrito. São homens maduros, com uma média de 30 anos no serviço de tempo integral a Jeová. As esposas também são zelosas no ministério e animam especialmente as irmãs nas congregações que visitam.

Superintendente viajante vai a Brooklyn

Martin e Gertrud Poetzinger eram bem conhecidos entre o povo de Jeová na Alemanha. Ambos haviam servido fielmente a Jeová antes, durante e depois do Terceiro Reich de Hitler. Depois de serem libertados das prisões em campos de concentração nazistas, eles logo reiniciaram o serviço de tempo integral. Por mais de 30 anos cobriram circuitos em toda a Alemanha no serviço de viajante, e granjearam o amor e o respeito de milhares de irmãos.

Em 1959, o irmão Poetzinger fez parte da 32.ª turma de Gileade. Gertrud, que não sabia inglês, não o acompanhou, mas ficou feliz com o privilégio do marido. Para ela não era novidade ficar longe do marido. A perseguição nazista os havia obrigado a ficar separados por nove anos e isso depois de apenas alguns meses de casados. Agora, quando a organização de Jeová pedia para ficarem separados voluntariamente pela causa das atividades teocráticas, eles não pensaram duas vezes, muito menos reclamaram.

Nenhum dos dois jamais servira a Jeová visando alguma vantagem pessoal. Sempre aceitaram de bom grado as designações teocráticas. Não obstante, foi uma surpresa quando, em 1977, eles foram convidados a tornar-se membros da família de Betel na sede mundial em Brooklyn, Nova York, EUA. O irmão Poetzinger se tornaria membro do Corpo Governante!

A instrução era que ficassem no Betel de Wiesbaden até conseguirem a documentação para residência nos Estados Unidos. Acabaram esperando mais tempo do que imaginavam, por vários meses. Enquanto Martin aprimorava o seu inglês, sua dinâmica esposa também estudou inglês. Aprender um novo idioma não é fácil para uma mulher com mais de sessenta anos. Mas ela estava disposta a tudo pelo serviço de Jeová!

Vários membros da família de Betel de Wiesbaden que falavam inglês tiveram o maior prazer de ajudar Martin e Gertrud com o novo idioma. Toda vez que Gertrud ficava muito nervosa ao estudar inglês, o marido a admoestava bondosamente: “Não se afobe, Gertrud, vá com calma.” Mas Gertrud nunca fora de se acomodar. Toda a sua vida no serviço de Jeová fora caracterizada por determinação e envolvimento de toda a alma. Com essa mesma disposição ela se esforçou a aprender o novo idioma, e, em novembro de 1978, assim que a documentação de residência foi recebida, ela acompanhou o marido a Brooklyn.

Embora ficassem tristes de vê-los partir, os irmãos na Alemanha se alegraram com os novos privilégios de serviço que eles haviam recebido. Cerca de uma década depois, os irmãos sentiram muito quando souberam que Martin havia terminado sua carreira terrestre em 16 de junho de 1988, aos 83 anos.

Depois da morte do marido, Gertrud voltou para a Alemanha, onde serve como membro da família de Betel. Ela até hoje ‘não se acomodou’. E parece que isso nunca vai acontecer. Além de cuidar de sua designação em Betel, Gertrud muitas vezes passa as férias servindo como pioneira auxiliar. (Para saber mais sobre o casal Poetzinger, veja as edições de A Sentinela de 15 de maio de 1970; 1.º de agosto de 1984 (em inglês); e 15 de setembro de 1988.)

Escolas especiais ajudam a suprir necessidades do campo internacional

Desde 1978, não muito antes de o casal Poetzinger ir a Brooklyn, a Escola do Serviço de Pioneiro (um curso de treinamento prático de dez dias de duração) tem servido para fortalecer os pioneiros na Alemanha. Todo ano, realizam-se cursos em circuitos em todo o país, e são convidados todos os pioneiros que estão no serviço há um ano pelo menos e que nunca fizeram o curso. No início de 1998, 16.812 pioneiros tinham feito o curso, que foi realizado não só em alemão, mas também em espanhol, francês, grego, inglês, italiano, polonês, português, russo, sérvio-croata e turco.

Alguns que cursaram a Escola do Serviço de Pioneiro estavam passando por uma fase muito difícil. Faltando pouco mais de uma semana para a data em que Christine Amos deveria fazer o curso, seu filho morreu num acidente de carro quando voltava duma reunião. Nessa situação, será que ela estaria em condições de tirar algum proveito da escola? Como se sentiria o marido se ficasse sem ela durante esse período? Eles decidiram que ela deveria fazer o curso; seria uma bênção ter a mente totalmente absorta em coisas espirituais. O marido foi convidado a trabalhar em Betel no período em que ela faria o curso. Logo depois disso, ambos foram convidados a Selters para participar da construção. Quando a construção terminou, tiveram o prazer de participar de construções na Grécia, na Espanha e em Zimbábue. E hoje estão de novo no serviço de pioneiro na Alemanha.

Entre os que cursaram a Escola do Serviço de Pioneiro estão alguns que conseguiram fazer do serviço de pioneiro uma carreira — carreira que a seu ver apresenta constantes desafios e é muito gratificante. Inge Korth, pioneira desde 1958, diz: “O serviço de tempo integral proporciona uma oportunidade especial de demonstrar profundo amor e gratidão a Jeová diariamente.” Waldtraut Gann, que ingressou no serviço em 1959, acrescenta: “O serviço de pioneiro é uma proteção neste sistema iníquo. Sentir a mão de Jeová sobre nós traz genuína felicidade e contentamento íntimo. Os bens materiais não se comparam a isso.” Martina Schaks, que é pioneira junto com o marido, acrescenta: “O serviço de pioneiro é uma ‘escola para a vida’, pois me ensina a desenvolver qualidades como o autodomínio e a paciência. Como pioneira, sinto-me muito achegada a Jeová e à sua organização.” Para outros, o serviço de pioneiro revelou ser um trampolim para o serviço de Betel, o serviço missionário ou o serviço de circuito.

Diante da necessidade urgente de mais missionários, estabeleceu-se na Alemanha a Extensão da Escola de Gileade em 1981, a fim de tornar esse excelente curso disponível a pioneiros que falam alemão. Visto que o novo complexo de Betel ainda não havia sido terminado, as primeiras duas turmas fizeram o curso em Wiesbaden. Após a mudança para Selters, três turmas fizeram o curso ali. Essas cinco turmas eram compostas de estudantes que falavam alemão, procedentes de Luxemburgo, da Suíça e da Holanda, além de 100 estudantes da própria Alemanha. Após a formatura, os estudantes foram enviados a 24 países, incluindo regiões na África, na América Latina, na Europa Oriental e no Pacífico.

Em meados da década de 70, havia 183 servos de tempo integral da Alemanha que tinham cursado a Escola Bíblica de Gileade da Watch Tower. Em fins de 1996, graças em parte à Extensão da Escola de Gileade, esse número havia subido para 368. Como foi bom saber que em janeiro de 1997 cerca da metade desses estudantes ainda serviam como missionários em designações estrangeiras! Entre esses se acham Paul Engler, que está na Tailândia desde 1954, Günter Buschbeck, que serviu na Espanha de 1962 até ser designado para a Áustria em 1980, Karl Sömisch, que serviu na Indonésia e no Oriente Médio antes de ser transferido para o Quênia; Manfred Tonak, que após servir no Quênia, foi convidado a servir na filial da Etiópia, e Margarita Königer, cujo serviço missionário nos últimos 32 anos a levou a Madagascar, Quênia, Benin e Burkina Fasso.

Ainda outra escola, a Escola de Treinamento Ministerial (que provê instrução para anciãos e servos ministeriais que não são casados), tem fornecido cursos regularmente na Alemanha desde 1991. Irmãos que falam alemão, procedentes da Áustria, da Bélgica, da Dinamarca, da Holanda, da Hungria, de Luxemburgo, da República Tcheca e da Suíça têm tirado proveito do excelente treinamento proporcionado por essa escola, juntamente com irmãos da Alemanha. E depois da formatura alguns estudantes assumiram responsabilidades adicionais e foram enviados para a África, para a Europa Oriental e para outras partes onde há necessidade especial.

Também o próprio Lar de Betel e a gráfica em Selters não deixam de ser uma “escola”. Ali, irmãos foram preparados para servir onde havia mais necessidade quando se abriram as portas na Alemanha Oriental. A vida em Betel ajudou os irmãos a trabalhar com todo tipo de pessoas e a ver que Jeová pode usá-las apesar das imperfeições humanas, para que o Seu trabalho seja feito. Irmãos que trabalharam no Departamento de Serviço sabiam por experiência própria que os problemas podem ser resolvidos mediante a aplicação constante de princípios bíblicos e por se seguir cuidadosamente as instruções do Corpo Governante. Eles haviam aprendido de irmãos que, mesmo sob grande pressão, continuaram a manifestar os frutos do espírito, a mostrar uma atitude equilibrada, e a confiar implicitamente em Jeová. Que lições valiosas a compartilhar com irmãos de outras filiais!

Esclarecimento e demonstrações de amor transpõem uma barreira

Na última década, tem-se realizado uma campanha mundial de esclarecimento a fim de consolidar a posição das Testemunhas de Jeová na sua determinação de acatar a proibição bíblica de usar sangue. (Atos 15:28, 29) Isso tem envolvido transpor uma barreira de preconceito e desinformação. Com esse objetivo, em 1990 introduziu-se na Alemanha o programa de Serviços de Informações sobre Hospitais. Em novembro do mesmo ano, 427 irmãos compareceram a um seminário: muitos deles eram da própria Alemanha, mas os demais vieram de nove outros países. Isso serviu para fortalecer os vínculos internacionais. Os anciãos apreciaram muito a ajuda que receberam. Um ancião de Mannheim disse: “Fomos preparados para esclarecer o nosso ponto de vista com convicção e respeito, mas sem ficarmos intimidados.” Um ancião que veio da Áustria disse: “Nunca havia assistido a um seminário em que tantas informações fossem apresentadas de forma tão simples e fácil.”

Seguiram-se vários outros seminários para instruir as 55 Comissões de Ligação com Hospitais que foram estabelecidas na Alemanha desde então, para servir às necessidades das Testemunhas de Jeová com respeito a tratamento médico sem sangue. O trabalho realizado por essas comissões tem dado bons resultados. Em agosto de 1998, mais de 3.560 médicos em toda a Alemanha expressaram sua disposição de cooperar em tratar das Testemunhas de Jeová sem sangue. Incluído nesse número se acha um quarto dos médicos que a revista Focus há alguns anos classificou como “os 1.000 melhores médicos da Alemanha”.

Em janeiro de 1996, as Comissões de Ligação com Hospitais passaram a distribuir o manual especialmente preparado Cuidados com a Família e Tratamento Médico Para as Testemunhas de Jeová. (Este belo manual, destinado ao uso exclusivo da classe médica e de autoridades, traz informações sobre tratamentos alternativos sem sangue que se acham disponíveis. Tem-se feito um esforço concentrado de deixá-lo com juízes, assistentes sociais, neonatologistas e pediatras.) A maioria dos juízes agradeceram, e não raro teceram comentários sobre a qualidade e a praticidade do manual. Muitos ficaram surpresos de saber dos inúmeros tratamentos alternativos sem sangue disponíveis a pessoas que não desejam aceitar transfusões de sangue. Um juiz de Nördlingen disse: “É exatamente disso que eu preciso.” Um professor catedrático da Universidade de Saarland considerou a matéria do manual com um grupo de estudantes que faziam um curso avançado em leis civis, e deu um exame escrito baseado no assunto.

As Comissões de Ligação com Hospitais hoje operam no mundo todo, possibilitanto a cooperação internacional em situações de emergência. Nos casos em que certos medicamentos foram prescritos por um médico mas não estavam disponíveis em países em que o paciente estava, nossa rede internacional facilitou a obtenção deles e o despacho da Alemanha. Além disso, têm-se tomado providências para que irmãos de dezenas de países possam contatar médicos cooperadores na Alemanha, visando obter tal tratamento conforme a possibilidade deles.

Naturalmente, irmãos que moram na Alemanha também se beneficiam dessa cooperação internacional. Em 1995, numa viagem à Noruega, uma irmã sofreu um acidente e foi hospitalizada. Ao ser notificado, seu filho na Alemanha imediatamente pediu a ajuda dos Serviços de Informações sobre Hospitais, que por sua vez se comunicaram com a filial da Noruega. No dia seguinte a irmã foi visitada por uma Testemunha de Jeová norueguesa que, a fim de poder ser de mais ajuda, havia dirigido 130 quilômetros para apanhar uma pessoa simpatizante com as Testemunhas de Jeová que falava alemão. Mais tarde o filho expressou seus agradecimentos, escrevendo: “Que organização! Que amor! . . . Não tenho palavras para expressar o que sinto. Isso é algo realmente notável.”

Assim, a campanha de esclarecimento e demonstrações de amor têm contribuído muito para transpor uma barreira anteriormente imensa. Pouco antes disso, outra barreira também foi removida.

A repentina queda do Muro de Berlim

A repentinidade do evento pegou o mundo de surpresa, e pessoas de todas as partes acompanharam os acontecimentos pela televisão. Em Berlim milhares celebravam ruidosamente. A barreira entre o Leste e o Oeste fora removida. Era 9 de novembro de 1989.

Mais de 25 anos antes, na manhã de 13 de agosto de 1961, os berlinenses haviam ficado atônitos ao saber que autoridades da Berlim Oriental estavam construindo um muro que separaria o setor controlado pelos comunistas do restante da cidade. Berlim estava sendo geograficamente dividida nos setores oriental e ocidental, refletindo assim as nações da Alemanha Oriental e Ocidental. O Muro de Berlim talvez tenha sido o símbolo mais dramático da luta entre as duas superpotências durante a Guerra Fria.

Daí, em 12 de junho de 1987, pouco mais de dois anos antes dos eventos assombrosos de 1989, Ronald Reagan, o então presidente dos Estados Unidos, falando perto do Portão de Brandemburgo, e com o Muro de Berlim atrás de si, exigiu: “Sr. Gorbachev, abra esse portão! Sr. Gorbachev, derrube esse Muro!” Mas será que havia qualquer indício de que esse pedido seria atendido? Tratava-se apenas de uma retórica da Guerra Fria? Pelo visto, sim. Em 1989, Erich Honecker, chefe do governo da Alemanha Oriental, declarou, como que em resposta a Reagan, que o Muro ‘continuaria a existir dali a 50, e também a 100 anos’.

No entanto, com inesperada repentinidade, o Portão de Brandemburgo foi aberto e o Muro de Berlim ruiu. Um membro da família de Betel em Selters lembra-se de ter ido a uma reunião congregacional na noite de quinta-feira, 9 de novembro, e ao voltar para casa ter ligado a televisão para ver o jornal da noite. Perplexo, acompanhou a reportagem de que a fronteira entre a Berlim Oriental e a Ocidental fora aberta. Cidadãos da Berlim Oriental entravam livremente na Berlim Ocidental pela primeira vez depois de 27 anos! Ele mal podia acreditar no que via: carros cruzando a fronteira, buzinando para celebrar ao passo que mais e mais berlinenses do lado ocidental — alguns tinham se levantado da cama — se dirigiam à fronteira, enfileirando-se na direção de onde vinham pessoas da Berlim Oriental, a fim de abraçar os visitantes inesperados. Muitos choravam. O muro havia caído — literalmente da noite para o dia!

Nas próximas 24 horas, pessoas do mundo todo não tiravam os olhos da TV, presenciando esse acontecimento histórico. O que isso significaria para as Testemunhas de Jeová na Alemanha e no mundo todo?

Visita de um Trabi

No sábado seguinte, pouco antes das oito da manhã, um irmão de Betel que se dirigia ao trabalho em Selters encontrou-se com outro membro da família de Betel, Karlheinz Hartkopf, que hoje serve na Hungria. Todo entusiasmado, o irmão disse: “Tenho certeza que logo, logo, os irmãos da Alemanha Oriental começarão a vir aqui para Selters!” O irmão Hartkopf, com sua usual calma e naturalidade, respondeu: “Eles já estão aqui.” De fato, logo de manhã cedo, dois irmãos da Alemanha Oriental haviam chegado no seu carro Trabi, de dois cilindros. Com o Trabi estacionado fora do portão de Betel, os irmãos aguardavam o início do expediente.

A notícia espalhou-se rápido em Betel. Mas antes de todos terem uma chance até mesmo de ver e cumprimentar esses visitantes inesperados, mas bem-vindos, eles já estavam voltando para a Alemanha Oriental, com o carro lotado de publicações. Embora as publicações, bem como a obra das Testemunhas de Jeová, ainda estivessem oficialmente proscritas naquele país, a emoção do acontecimento deu aos irmãos renovada coragem. “Precisamos estar de volta para a reunião amanhã de manhã”, explicaram. Imagine a alegria da congregação quando esses irmãos apareceram com caixas de publicações que foram tão escassas por tanto tempo!

Durante as próximas semanas, milhares de alemães orientais afluíram à Alemanha Ocidental, muitos deles pela primeira vez na vida. É evidente que eles apreciavam a liberdade de locomoção que por muito tempo não haviam tido. Na fronteira eram recebidos pelos alemães ocidentais que acenavam para eles. As Testemunhas de Jeová também estavam ali, cumprimentando os visitantes — no entanto, com algo mais substancial do que uma mera manifestação externa de emoção. Elas distribuíam publicações bíblicas grátis a esses visitantes do Leste.

Em algumas cidades fronteiriças, as congregações fizeram esforços especiais para contatar os alemães orientais que vinham para uma visita. Visto que as publicações das Testemunhas de Jeová haviam sido proscritas por décadas, muitos sabiam pouco ou nada sobre estas. Em vez de trabalhar de porta em porta, a moda então era trabalhar de “Trabi em Trabi”. As pessoas estavam ansiosas de investigar qualquer novidade, inclusive religião. Em alguns casos, os publicadores simplesmente diziam: “Você provavelmente nunca leu essas duas revistas, porque elas estiveram proscritas em seu país por quase 40 anos.” A resposta freqüente era: “Bem, se estavam proscritas, devem ser boas. Vou ficar com elas.” Dois publicadores na cidade fronteiriça de Hof colocaram cada um até 1.000 revistas por mês. É desnecessário dizer que as congregações locais e vizinhas logo esgotaram o seu estoque de revistas.

No ínterim, os irmãos da Alemanha Oriental comemoravam sua recém-adquirida liberdade, embora inicialmente um tanto desconfiados. Wilfried Schröter, que aprendeu a verdade sob proscrição em 1972, lembra-se: “Nos primeiros dias depois da queda do Muro, naturalmente estávamos com um pouco de medo de que tudo pudesse de repente se reverter.” Menos de dois meses mais tarde, ele foi a uma assembléia no Salão de Assembléias de Berlim. Mais tarde teceu o seguinte comentário a respeito: “Simplesmente não pude conter a emoção de estar junto de tantos irmãos. Eu e muitos outros tínhamos lágrimas nos olhos ao cantar os cânticos do Reino. A alegria de estar numa ‘assembléia ao vivo’ era imensa.”

Uma expressão similar de apreço vem de Manfred Tamme. Durante a proscrição, as reuniões eram pequenas e não havia necessidade de equipamento de som. Mas agora ele diz: “Embora eu já fosse pioneiro especial por mais de 30 anos, era a primeira vez na vida que falava diante de um microfone. Ainda me lembro de como fiquei horrorizado quando ouvi minha voz sair dos amplificadores.” Mas ele diz: “Era maravilhoso de repente estar sentado junto com a congregação inteira num salão alugado.”

E foi bom escutar outras vozes, como a que Manfred ouviu alguns meses depois. Ele conta: “Em janeiro de 1990, eu estava numa sauna para tratamento de saúde. Ali eu encontrei o ex-agente da Polícial Nacional. Durante uma conversa amigável, ele disse: ‘Manfred, agora vejo que estávamos combatendo as pessoas erradas!’ ”

Fartura de alimento espiritual

“O homem tem de viver, não somente de pão, mas de cada pronunciação procedente da boca de Jeová.” As Testemunhas de Jeová em toda parte conhecem bem essa verdade fundamental que Jesus Cristo citou das inspiradas Escrituras Hebraicas. (Mat. 4:4; Deut. 8:3) Mesmo durante os anos da proscrição, com a ajuda amorosa da fraternidade internacional os irmãos na Alemanha Oriental recebiam alimento espiritual, mas em quantidades limitadas. Como ansiavam ter acesso à fartura espiritual que seus irmãos usufruíam em outros países!

Assim que o Muro de Berlim caiu, irmãos começaram a levar suprimentos de publicações para o Leste. Cerca de quatro meses depois, em 14 de março de 1990, as Testemunhas de Jeová receberam reconhecimento legal na República Democrática da Alemanha. A Sociedade tinha então permissão legal de despachar publicações. Em 30 de março, um caminhão com 25 toneladas de alimento espiritual saiu do complexo de Selters em direção ao Leste. O livro do ano de 1991 da Enciclopédia Britânica disse mais tarde: “Em apenas dois meses, a filial da Sociedade Watchtower da Alemanha Ocidental despachou 275 toneladas de publicações baseadas na Bíblia, incluindo 115.000 Bíblias, só para a Alemanha Oriental.”

Por volta daquela época, um irmão de Leipzig escreveu para uma Testemunha de Jeová na Alemanha Ocidental: “Uma semana atrás ainda estávamos importando alimento secretamente, em pequenas quantidades; logo estaremos descarregando um caminhão com quatro toneladas de alimento!”

“O primeiro carregamento de publicações chegou tão rápido”, lembra-se Heinz Görlach, de Chemnitz, “que nem estávamos preparados. Depois que recebemos o primeiro carregamento, eu tinha a maior dificuldade de chegar até a minha cama, pois meu quarto ficou abarrotado de caixas. Eu me sentia como se estivesse dormindo num recinto onde se guarda um tesouro.”

Os irmãos em Selters também já começavam a entender o que a nova situação significava para os que por tanto tempo haviam ficado cortados das coisas que para as Testemunhas de Jeová em liberdade são tão corriqueiras. Um superintendente na gráfica diz: “Um irmão idoso, vestido com roupas simples, ficou observando uma das nossas rotativas. Seu grupo de visita já tinha ido adiante, mas ele se demorou ali, absorto em seus pensamentos, observando as revistas saírem da rotativa na velocidade máxima. Com lágrimas nos olhos, ele se aproximou de um dos irmãos; era evidente que estava profundamente comovido. Tentando dizer alguma coisa em seu fraco alemão, ele gaguejou. Mas nós entendemos seu sorriso quando ele tirou do bolso interno do paletó algumas folhas de papel e nos entregou, e se foi apressadamente. O que ele havia nos dado? Uma Sentinela quase ilegível em russo, que havia sido copiada nas folhas de um livro escolar de exercícios. Quanto tempo se teria levado para fazer essa cópia da revista? Não temos como saber, mas, com certeza, centenas de vezes mais tempo do que a fração de segundo que a rotativa leva para produzir a revista.”

Os irmãos em cada grupo de estudo não mais precisavam contentar-se com algumas revistas em tipo pequeno ou revistas copiadas a mão, com as quais podiam ficar por apenas alguns dias. Agora todos tinham o seu próprio exemplar com ilustrações coloridas, além de exemplares adicionais para usar no serviço de campo.

Ajustando-se para adorar a Deus em liberdade

Ter maior liberdade apresentava seus próprios desafios. Pregar debaixo de proscrição requeria coragem. Ensinou também aos que faziam isso a confiar plenamente em Jeová. No entanto, depois que a proscrição terminou, Ralf Schwarz, um ancião cristão de Limbach-Oberfrohna, disse: “Temos de ser mais cautelosos para não sermos desviados pelo materialismo e pelas ansiedades da vida.” Em alguns casos, depois que a Alemanha Oriental foi integrada à República Federal em outubro de 1990, e com o conseqüente aumento do valor da locação de imóveis, famílias de irmãos do Leste se mudaram para moradias mais humildes. Fizeram isso a fim de poderem pagar o aluguel sem ter de trabalhar mais e assim perder as reuniões. — Mat. 6:22, 24.

Mesmo nos anos difíceis do regime comunista, os irmãos haviam continuado a participar no ministério de campo. Até mesmo iam de casa em casa, mas discretamente, talvez visitando uma casa numa quadra e daí passando para outra quadra para visitar outra casa. Alguns fizeram isso mesmo correndo um grande risco de serem presos. Martin Jahn, que tinha apenas 11 anos quando começou a proscrição, explicou algumas mudanças que agora tinham de fazer: “Todos os territórios tiveram de ser traçados de novo para que os publicadores agora pudessem trabalhar blocos de casas. Estávamos acostumados ao velho método de trabalhar somente determinados números de casas ou determinados andares. Este havia sido o procedimento normal por tanto tempo que tínhamos de ter paciência com os que achavam difícil se ajustar. Deixar de emprestar publicações, mas colocá-las, era algo novo tanto para os publicadores como para os interessados. E visto que estávamos acostumados ao nosso método, às vezes, quando voltavam do campo, os publicadores tinham mais publicações na pasta do que quando saíram.”

Havia também mudanças na atitude das pessoas. Nos anos da proscrição, muitas pessoas haviam considerado as Testemunhas de Jeová como heróis porque elas tinham coragem de defender as suas convicções. Isso lhes granjeou respeito. Com maior liberdade, muitos recebiam as Testemunhas de Jeová com certa medida de entusiasmo. Mas, passados alguns anos, as coisas mudaram. As pessoas se envolveram com o modo de vida comum a economias de mercado. Alguns começaram a achar que as visitas das Testemunhas de Jeová lhes tiravam o sossego e a tranqüilidade, e que eram até mesmo incômodas.

Testemunhar debaixo de proscrição havia exigido coragem. Ajustar-se à nova situação requeria não menos determinação. De fato, muitos irmãos concordam com o que disse certo superintendente num país da Europa Ocidental, onde a obra fora proscrita por muito tempo. Ele disse: “Trabalhar debaixo de proscrição é mais fácil do que trabalhar em liberdade.”

Oposição não detém a obra

Embora a pregação das boas novas na Alemanha Oriental tenha prosseguido com renovado vigor, o clero da cristandade de início nem se incomodou. No entanto, quando ficou evidente que as pessoas estavam realmente ouvindo as Testemunhas de Jeová, o clero começou a se preocupar. De acordo com o jornal Deutsches Allgemeines Sonntagsblatt, um pastor de Dresden que se considerava perito em religiões disse que as “Testemunhas de Jeová são como o partido comunista”. De forma que agora, em vez de os clérigos dizerem, como na década de 50, que as Testemunhas de Jeová eram espiões americanos que se opunham ao comunismo, eles agora tentavam associá-las com os comunistas. Naturalmente, as pessoas que sabiam que as Testemunhas de Jeová haviam sido proscritas durante o regime comunista por 40 anos tinham consciência de que se tratava de uma flagrante mentira.

Qual era o objetivo disso? Eles esperavam que as Testemunhas de Jeová fossem novamente proscritas, como havia acontecido na era nazista e depois sob o regime comunista. Embora elementos religiosos, apoiados por apóstatas, tentassem impedir que as Testemunhas de Jeová usufruíssem de liberdades protegidas pela constituição, as Testemunhas de Jeová faziam pleno uso das oportunidades de dar testemunho, como Jesus Cristo ordenou. — Mar. 13:10.

Alguns que abraçaram a verdade

Entre os que aceitaram a mensagem do Reino havia alguns que estiveram profundamente integrados no velho sistema. Por 38 anos Egon foi policial na Alemanha Oriental. Ele não ficou nada feliz quando a esposa começou a estudar com as Testemunhas de Jeová. Mas ficou impressionado com o comportamento amigável, amoroso e disciplinado das Testemunhas de Jeová, bem como com os oportunos artigos da revista Despertai! que recebia em casa. Ao assistir a um dia de assembléia especial com a esposa, ficou chocado quando se viu face a face com um irmão que ele no passado havia prendido. Não é de admirar que ele tenha ficado constrangido, até mesmo com sentimentos de culpa. Mas o passado não impediu que os dois se tornassem amigos. Hoje tanto Egon como a esposa são Testemunhas de Jeová batizadas.

Por 19 anos Günter havia sido membro do Serviço de Segurança do Estado, e chegara ao posto de major. Amargurado e desiludido depois do colapso do sistema para o qual havia trabalhado por tanto tempo, ele foi contatado pelas Testemunhas de Jeová em 1991. Ficou impressionado com a conduta delas e pela compreensão que demonstraram para com ele e seus problemas. Iniciou-se um estudo bíblico, e, embora ele fosse ateu, por fim convenceu-se de que Deus existe. Em 1993 estava pronto para o batismo. Hoje é um feliz apoiador do Reino de Deus.

Outro homem, sem fé em Deus e totalmente convencido de que o comunismo era a única esperança da humanidade, não teve nenhum escrúpulo em infiltrar-se na organização de Jeová para passar informações sobre suas atividades ao Serviço de Segurança do Estado. Depois de ser “batizado” em 1978, ele viveu uma mentira por dez anos. Mas hoje admite: “A conduta das Testemunhas de Jeová, com as quais convivi de perto, e o estudo dos livros Criação e Clímax de Revelação, convenceram-me de que muito do que os inimigos dizem sobre as Testemunhas de Jeová não é verdade. As provas da existência do Criador são irrefutáveis.” Pouco antes da queda do Muro de Berlim ele se viu diante de um dilema: arrumar uma desculpa para se afastar do povo de Jeová e continuar a apoiar um sistema no qual ele não mais acreditava ou admitir que era um traidor e então se esforçar a se tornar um genuíno servo de Jeová. Ele escolheu a última opção. Seu sincero arrependimento levou a um estudo da Bíblia e a um segundo batismo, desta vez com base em conhecimento exato e genuína dedicação.

Agora podiam contar suas experiências

Terminada a proscrição, as Testemunhas do Leste tinham mais liberdade para falar sobre suas experiências sob o regime comunista. Na cerimônia de dedicação de um prédio administrativo das Testemunhas de Jeová em Berlim, no dia 7 de dezembro de 1996, vários anciãos que haviam desempenhado um papel vital em manter o rebanho espiritualmente forte na Alemanha Oriental relembraram o passado.

Wolfgang Meise, Testemunha de Jeová por 50 anos, lembrou-se do que ocorreu em junho de 1951, quando ele tinha 20 anos. Num julgamento simulado, bastante anunciado, ele foi sentenciado a quatro anos de prisão. Quando ele e vários outros irmãos presos estavam sendo conduzidos para fora, umas 150 Testemunhas de Jeová que também estavam presentes no julgamento os cercaram, apertaram-lhes as mãos e começaram a cantar um cântico do Reino. As pessoas saíram nas janelas da sala do tribunal para ver o que estava acontecendo. Não era essa a impressão que as autoridades queriam deixar na mente do público. Isso pôs fim aos julgamentos simulados das Testemunhas de Jeová.

Egon Ringk lembrou-se de que no começo da proscrição cada artigo da Sentinela era datilografado com seis a nove cópias a carbono. “Um irmão caminhoneiro da Alemanha Ocidental que fazia viagens entre a Berlim Ocidental e a Alemanha Oriental colocou-se à disposição para suprir as congregações com alimento espiritual. O ‘alimento’ era passado rapidamente, em questão de três ou quatro segundos, quando dois grandes ursos de pelúcia do mesmo tamanho eram passados de um veículo para outro. Em casa, o estômago dos ursos era ‘esvaziado’, revelando importantes mensagens e informações sobre novas designações.” — Note Ezequiel 3:3.

Relataram-se também experiências sobre a coragem demonstrada pelos correios que antes da construção do muro obtinham publicações na Berlim Ocidental e as introduziam na Alemanha Oriental. Havia, naturalmente, a possibilidade de que o acesso a Berlim Ocidental algum dia fosse cortado. Foi para considerar exatamente essa possibilidade que vários irmãos da Alemanha Oriental foram convidados para uma reunião em 25 de dezembro de 1960. “Isso foi obviamente por orientação de Jeová”, disse o irmão Meise, “porque em 13 de agosto de 1961, quando o muro foi subitamente construído, nossa organização estava preparada”.

Hermann Laube contou que o primeiro contato dele com a verdade aconteceu quando ele era prisioneiro de guerra na Escócia. De volta na Alemanha Oriental, uma vez que começou a proscrição, ele viu a necessidade de suprir os irmãos com tanto alimento espiritual quanto possível. De modo que as Testemunhas de Jeová começaram a fazer a sua própria impressão usando uma impressora improvisada. “Mas sem papel, de nada adianta ter a melhor impressora”, observou o irmão Laube, lembrando-se do dia em que soube que havia papel somente para mais três edições. O que fazer então?

O irmão Laube continuou: “Alguns dias mais tarde, ouvimos alguém bater no beiral do telhado. Era um irmão de Bautzen que disse: ‘O irmão é impressor. Há várias bobinas de papel de jornal no depósito de lixo de Bautzen, sobras de uma gráfica. Eles pretendem enterrá-las. Será que o irmão teria utilidade para elas?”

Os irmãos não perderam tempo. “Naquela mesma noite reunimos um grupo, e fomos a Bautzen. Não, não eram apenas algumas bobinas, mas quase duas toneladas de papel! Nem dava para acreditar que nossos veículos frágeis pudessem transportar o papel, mas em pouco tempo todo ele havia sido levado. Tínhamos então suficiente papel para imprimir até que a Sociedade nos forneceu papel fino para a impressão em tipos pequenos.”

As circunstâncias exigiam que se tomasse o maior cuidado possível para que os nomes dos membros do rebanho fossem mantidos em segredo. Rolf Hintermeyer se lembrou: “Certa vez, depois de ter-me encontrado com alguns irmãos, fui preso e levado a um prédio para ser interrogado. Eu tinha vários pedaços de papel com endereços e outras informações. Ao chegarmos, tivemos de subir uma escadaria em espiral. Isso me deu a chance de engolir os papéis. Mas visto que eram tantos, levou bastante tempo. Quando chegamos ao topo da escadaria, as autoridades perceberam o que eu estava fazendo e me agarraram pelo pescoço. Eu também pus minhas mãos no pescoço e disse gaguejando: ‘Ufa, finalmente desceram.’ Quando ouviram isso eles me soltaram, e eu pude acabar de engoli-los de fato, já que então estavam menores e umedecidos.”

Horst Schleussner entrou na verdade em meados da década de 50, no auge da perseguição. Assim, foi com conhecimento de causa que ele disse: “Com certeza, Jeová Deus protegeu amorosamente seus servos durante os quase 40 anos em que eles estiveram debaixo de proscrição.”

Uma celebração vitoriosa em Berlim

Com a era da opressão comunista para trás, os irmãos só tinham que comemorar. Acima de tudo, queriam expressar sua gratidão a Jeová numa assembléia pública pela oportunidade que agora se lhes abria para servirem a Ele com maior liberdade.

Assim que o Muro de Berlim caiu em novembro de 1989, o Corpo Governante deu instruções para se começarem a fazer planos para realizar um congresso internacional em Berlim. Estabeleceu-se rapidamente uma organização de congresso. Na noite de 14 de março de 1990, o grupo deveria se reunir para discutir os preparativos para o congresso. Helmut Martin ainda se lembra quando o superintendente do congresso, Dietrich Förster, pediu-lhe para anunciar aos irmãos reunidos que naquele mesmo dia fora concedido reconhecimento oficial às Testemunhas de Jeová na Alemanha Oriental. A proscrição estava oficialmente encerrada!

Visto que o congresso estava sendo planejado com relativamente pouca antecedência, o Estádio Olímpico não mais estava disponível para um fim de semana. Assim, o congresso foi programado para ser de terça-feira a sexta-feira, de 24 a 27 de julho. Quando chegou a hora de ocupar o estádio, os irmãos tinham apenas um dia para preparar o local e apenas algumas horas para desmontar tudo após o congresso.

Assim, na segunda-feira, 23 de julho, centenas de voluntários já estavam no estádio às cinco horas da manhã. Gregor Reichart, membro da família de Betel de Selters, lembra-se de que “os da Alemanha Oriental arregaçaram as mangas com gosto, como se já fizessem isso por muitos anos”. Uma autoridade do estádio mais tarde comentou que estava muito satisfeito porque ‘pela primeira vez o estádio tivera uma limpeza geral’.

Uns 9.500 alemães orientais viajaram para o congresso em 13 trens fretados. Outros vieram em 200 ônibus fretados. Um ancião diz que ao contratar um dos trens, ele comentou com uma autoridade da ferrovia que três estavam sendo reservados só para a região de Dresden. O homem arregalou os olhos e perguntou: “Existem realmente tantas Testemunhas de Jeová assim na Alemanha Oriental?”

Para os que viajaram de trem fretado, o congresso começou antes mesmo de chegarem a Berlim. “Nós nos encontramos na estação ferroviária de Chemnitz para pegarmos o trem reservado para nós”, lembra-se Harald Pässler, ancião de Limbach-Oberfrohna. “A viagem a Berlim foi inesquecível. Após longos anos de proscrição, durante a qual realizamos nossa atividade em pequenos grupos às ocultas, de repente podíamos ver tantos irmãos de uma vez! Na viagem toda nós nos misturamos nos vários compartimentos do trem, falando com irmãos que não víamos por anos, até por décadas. A alegria do reencontro era indescritível. Todos haviam envelhecido alguns anos, mas haviam perseverado fielmente. Fomos recepcionados na estação de Berlin-Lichtenberg e orientados por meio de alto-falantes a nos dirigir a diferentes pontos de encontro onde nossos irmãos de Berlim esperavam com grandes letreiros. Era uma experiência completamente nova — sairmos do anonimato! Sentimos pessoalmente algo sobre o que apenas havíamos lido ou ouvido falar: somos realmente uma grande fraternidade internacional!”

De fato, para muitos irmãos, este era seu primeiro congresso. “Todos ficamos emocionados quando recebemos o convite”, lembra-se Wilfried Schröter. “Com semanas de antecedência, estávamos numa expectativa enorme. Nunca tinha sentido nada igual, e muitos outros irmãos sentiam a mesma coisa. Parecia um sonho irmos ver a fraternidade internacional reunida num enorme estádio.” É compreensível que se tenha sentido assim, pois ele se dedicou em 1972, debaixo de proscrição.

Quantas vezes os irmãos da Berlim Oriental haviam desejado viajar alguns quilômetros para atravessar a cidade, onde seus irmãos estariam reunidos num congresso! Agora finalmente podiam fazer isso.

Quase 45.000 pessoas de 64 países estavam presentes. Entre eles estavam sete membros do Corpo Governante. Eles haviam vindo para se alegrar com seus irmãos cristãos da Alemanha Oriental nesta ocasião momentosa. Foi nesse estádio que o Terceiro Reich tentou usar as Olimpíadas de 1936 para impressionar o mundo com suas realizações. Agora o estádio de novo reverberava com aplausos estrondosos, embora desta vez não para louvar atletas ou por orgulho nacional. Esses membros de uma família realmente internacional e feliz do povo de Jeová e seus aplausos refletiam sua gratidão a Ele e seu apreço pelas preciosas verdades de sua Palavra. Nessa ocasião, 1.018 se apresentaram para a imersão em água: a maioria havia aprendido a verdade na Alemanha Oriental debaixo de proscrição.

Talvez os na assistência que melhor podiam entender os sentimentos dos irmãos da Alemanha Oriental fossem os cerca de 4.500 congressistas entusiásticos da Polônia, vizinha da Alemanha Oriental. Eles também haviam perseverado durante muitos anos de proscrição e só pouco tempo antes tiveram um grande congresso depois de muitos anos. Um irmão polonês escreveu mais tarde: “Os irmãos da Polônia se sentem muito gratos pelo altruísmo demonstrado por seus vizinhos no lado ocidental, que lhes forneceram acomodações, comida e transporte grátis de ida e volta do local de congresso, sem o que teria sido impossível que muitos irmãos estivessem presentes.”

Mesmo os irmãos da Alemanha Ocidental, acostumados a ter congressos em liberdade, ficaram profundamente impressionados. “Foi emocionante ver vários irmãos veteranos fiéis — alguns dos quais haviam sido perseguidos não somente durante os 40 anos do regime comunista mas também durante o Terceiro Reich — sentados no setor reservado, onde Hitler e outros líderes do partido nazista se sentavam”, comentou Klaus Feige, da família de Betel de Selters. Esse setor especial do estádio havia sido amorosamente reservado para os idosos e os deficientes. Como isso representa bem o Reino de Deus, que agora triunfa sobre as forças políticas que haviam conspirado para interromper sua marcha rumo à vitória final!

Providenciando locais para reuniões e assembléias

Logo depois de terminada a proscrição na Alemanha Oriental, foram tomadas providências para que os irmãos de lá se beneficiassem do programa regular de assembléias, usufruído pelos servos de Jeová no mundo todo. Mesmo antes de os circuitos estarem plenamente reorganizados, as congregações foram convidadas a comparecer a dias de assembléia especial e a assembléias de circuito na Alemanha Ocidental. De início, metade dos publicadores na assistência eram da Alemanha Ocidental e metade da Alemanha Oriental. Isso fortalecia o vínculo da fraternidade e também dava aos irmãos da Alemanha Oriental oportunidade de aprender os procedimentos de congresso por trabalhar com seus irmãos da Alemanha Ocidental.

Assim que se formaram os circuitos, os irmãos do Leste foram convidados a fazer uso dos Salões de Assembléias da Alemanha Ocidental. Cinco deles (de Berlim, Munique, Büchenbach, Möllbergen e Trappenkamp) puderam ser assim usados, pois ficavam perto o suficiente da antiga fronteira. Mas, assim que possível, começaram os trabalhos para se construir um Salão de Assembléias na Alemanha Oriental. Localizado em Glauchau, perto de Dresden, ele foi dedicado em 13 de agosto de 1994, e é atualmente o maior Salão de Assembléias das Testemunhas de Jeová na Alemanha, com capacidade para 4.000 pessoas.

Deu-se também atenção à construção de Salões do Reino. Salões do Reino não eram permitidos na República Democrática da Alemanha, mas agora eram necessários para cuidar das mais de 20.000 Testemunhas de Jeová na região. A maneira em que foram feitas as construções deixava muitos admirados.

Sobre a construção de um Salão do Reino na cidade de Stavenhagen, certo jornal escreveu: “A maneira e a velocidade em que a estrutura está sendo levantada já deixou muitos observadores curiosos admirados. . . . O prédio foi erguido por uns 240 construtores especializados em 35 ofícios, todos eles voluntários e todos Testemunhas de Jeová. Tudo num fim de semana, sem remuneração.”

Outro jornal escreveu sobre um salão construído em Sagard, na ilha de Rügen, no mar Báltico: “Umas 50 pessoas, entre mulheres e homens, como abelhas laboriosas, estão preparando o alicerce do prédio. Mas o ritmo não é frenético. O clima é calmo e amistoso, como é raro ver hoje em dia. Apesar da óbvia velocidade em que trabalham, ninguém parece nervoso e ninguém é rude com os colegas, como costuma acontecer em outros canteiros de obras.”

Em fins de 1992, sete Salões do Reino haviam sido construídos e estavam sendo usados por 16 congregações. Uns 30 outros estavam sendo planejados. Até 1998, mais de 70% das congregações na antiga Alemanha Oriental estavam realizando reuniões em Salões do Reino próprios.

Emocionantes congressos internacionais

Ao passo que restrições governamentais foram removidas num país após outro da Europa Oriental, o Corpo Governante providenciou que se realizassem congressos nesses lugares. Eram ocasiões de edificação espiritual, em que se dava encorajamento para manter uma clara visão da obra que Deus comissionou a seus servos. (Mat. 6:19-24, 31-33; 24:14) Visto que muitas Testemunhas de Jeová nesses países por anos só puderam reunir-se em pequenos grupos, os congressos lhes permitiram conhecer outros irmãos e ser encorajados pela evidência das bênçãos de Jeová sobre sua fiel perseverança. Também foram convidadas delegações de outros países para que os irmãos pudessem ter uma noção maior da fraternidade internacional da qual fazem parte. Entre as delegações havia muitos irmãos da Alemanha, bem representados nos congressos internacionais realizados entre 1989 e 1993 na Polônia, na Hungria, na Tchecoslováquia e na ex-União Soviética.

Em 1991, na véspera da abertura do Congresso Internacional “Amantes da Liberdade Divina” em Praga, no que agora é a República Tcheca, o jornal Lidové noviny falou sobre o excelente trabalho feito por uma equipe de cerca de 40 Testemunhas de Jeová para montar o “equipamento de som que os seus ‘irmãos da Alemanha’ lhes haviam emprestado”. Estes não só emprestaram o equipamento de som, como também ajudaram a montá-lo. Ficaram felizes de assim poder compartilhar com seus irmãos tchecos um pouco de sua experiência de décadas de congressos. Embora as delegações alemãs a congressos geralmente fossem restritas a algumas centenas de irmãos, para esse congresso em Praga foram convidados 30.000 congressistas. E que congresso maravilhoso!

Dieter Kabus, que havia servido como superintendente de distrito na Tchecoslováquia em 1955 e nesse congresso fazia parte da delegação da Alemanha, escreveu: “Quando a Tradução do Novo Mundo [agora impressa nas rotativas da Sociedade] foi lançada, todos se levantaram, e o estádio inteiro aplaudiu espontaneamente, sem parar. Todos nos abraçamos; milhares de irmãos não se envergonharam de chorar de alegria. Lembramo-nos do tempo na prisão em que 16 irmãos compartilhavam apenas uma Bíblia. Muitos ficaram uma hora ou mais após o programa, cantando cânticos e usufruindo da maravilhosa associação.”

No ano seguinte, em 1992, delegações alemãs também estavam presentes ao congresso internacional em São Petersburgo, Rússia. Alguns congressistas talvez se lembrem de que nem tudo saiu às mil maravilhas, pelo menos no que diz respeito a hospedagem para os irmãos alemães. Mas até mesmo isso serviu de testemunho. Quando de repente foi preciso que um grupo de congressistas se mudasse de um hotel para outro, uma tradutora russa do grupo, de 50 anos de idade, ficou tão impressionada com a conduta dos irmãos que exclamou: “Vocês não são normais, vocês não gritam nem ficam irritados!” O que realmente importava para esses congressistas era o apreço demonstrado pelos seus queridos irmãos russos. Após o congresso, um irmão da delegação da Alemanha escreveu: “Não há palavras para descrever como os irmãos apreciaram o programa. Eles não tinham Bíblias nem cancioneiros, [na época ainda bem escassos na Rússia], mas prestavam a máxima atenção ao que Jeová tinha para lhes dizer.”

No ano seguinte, mais de 1.200 irmãos da Alemanha assistiram aos congressos internacionais em Moscou, Rússia, e em Kiev, Ucrânia. Quanta coisa emocionante tinham para contar quando voltaram para casa! Entre os congressistas estava Titus Teubner, superintendente viajante desde 1950, que disse: “Eu tinha prometido à minha esposa que, se um dia a obra fosse liberada no Leste, eu estaria entre os que assistiriam ao primeiro congresso em Moscou.” Depois de realmente fazer isso em 1993, ele disse: “Parece um milagre que eu tenha podido distribuir revistas sobre o governo divino em plena Praça Vermelha.” Uma congressista escreveu: “Fomos àquele congresso para encorajar os nossos irmãos russos — e sem dúvida encorajamos. Mas o contrário também foi verdade. Nossos irmãos russos nos encorajaram, dando um maravilhoso exemplo de amor, gratidão, fidelidade e apreço.”

Membros da família de Betel de Selters sentiram-se muito gratos pelo privilégio de servir a irmãos tão fiéis. E seu apreço aumentou ainda mais ao ouvirem relatórios dos motoristas de Betel que faziam entregas em outros países. Estes contavam sobre o entusiasmo com que eram recebidos, a alegria dos irmãos em ajudar a descarregar os caminhões, mesmo tarde da noite, e as orações em conjunto feitas por eles antes de se despedirem dos irmãos de Betel.

Mais construção para suprir necessidades urgentes

Com o fim da proscrição numa parte da Europa Oriental após outra, grandes congressos eram realizados, e a pregação das boas novas se intensificava. Como suprir a crescente demanda de publicações bíblicas daquela parte do campo? A filial da Alemanha foi convidada a fornecer ajuda adicional.

Já em 1988, antes da queda do Muro de Berlim, o Corpo Governante havia autorizado um aumento de 50% na filial da Alemanha. De início, a Comissão de Filial achou difícil enxergar a necessidade de tal expansão. Fazia apenas quatro anos que se dedicara um grande e novo complexo de filial. Mesmo assim, os irmãos deram entrada de documentos a autoridades locais do governo. O irmão Rudtke lembra-se: “Quando apresentamos as plantas, a autoridade do órgão público de Selters me disse, quase cochichando: ‘Meu conselho é que ampliem o mais que puderem agora, porque as autoridades nunca mais vão permitir outra expansão.’ Aquilo nos fez pensar.” Notavelmente, em poucos meses, foi obtida permissão dos vários órgãos do governo e a expansão originalmente intencionada de 50% passou para 120%!

A construção propriamente dita começou em janeiro de 1991. Mas aparentemente nem todos os irmãos estavam convencidos da necessidade de ampliação — isso a julgar pela lenta reação aos anúncios sobre a necessidade de mão-de-obra especializada, bem como pelas limitadas contribuições financeiras. O que poderia ser feito?

Evidentemente, os irmãos apenas precisavam ser mais bem informados. Assim, em 3 de outubro de 1991, realizaram-se reuniões especiais com anciãos selecionados em todos os Salões de Assembléias da Alemanha. Explicou-se que na década anterior a produção de livros na filial da Alemanha havia quase que triplicado. Com o fim da proscrição na Polônia, na Hungria, na Alemanha Oriental, na Romênia, na Bulgária, na Ucrânia e na União Soviética, as publicações estavam sendo supridas a países muito além das fronteiras alemãs. Os publicadores em tais lugares imploravam por mais publicações, e Selters estava sendo convidada a ser um centro fornecedor para tais países. Uma vez que os irmãos enxergaram claramente a necessidade, deram generoso apoio.

Na verdade, a falta de interesse inicial acabou sendo uma bênção. Como assim? Em vez de depender unicamente de voluntários da Alemanha, a filial decidiu utilizar uma provisão feita pelo Corpo Governante em 1985. Naquela época iniciou-se o programa de construção com a participação de voluntários internacionais. Antes de se terminar a construção na filial da Alemanha, 331 voluntários procedentes de 19 países haviam participado nela junto com a família de Betel.

Muitos irmãos da Alemanha também ajudaram na construção; a maior parte deles aproveitando as férias. Entre eles havia uns 2.000 publicadores da ex-Alemanha Oriental, a maioria dos quais durante a proscrição provavelmente nunca havia sonhado que um dia poderia trabalhar em Betel.

O fim de semana da dedicação

Todas as Testemunhas de Jeová na Alemanha deram a sua contribuição na construção — com mão-de-obra, apoio financeiro ou com orações. Selters era o seu Betel, um conjunto de prédios bastante ampliado que eles agora queriam dedicar a Jeová. Assim, bem antes do término da construção, já se faziam preparativos para que toda a fraternidade da Alemanha e muitos convidados do estrangeiro viessem participar da celebração.

O programa começou no sábado de manhã, 14 de maio de 1994, dando-se ênfase à “porta larga para atividade” que se abria na Europa Oriental. (1 Cor. 16:9) Era muito encorajador ouvir irmãos desses países relatarem pessoalmente os bons aumentos que já ocorriam e as perspectivas para aumentos adicionais. O entusiasmo do dia, usufruído por 3.658 pessoas em Selters, prosseguiu no domingo. Todas as Testemunhas de Jeová na Alemanha foram convidadas a reunir-se em seis estádios alugados para a ocasião — em Bremen, na Colônia, em Gelsenkirchen, em Leipzig, em Nuremberg e em Stuttgart.

Em meio ao clima de expectativa das dezenas de milhares de pessoas reunidas, o programa começou simultaneamente nos seis locais. Após uma breve recapitulação do programa de dedicação no sábado, em Selters, houve mais relatórios encorajadores de representantes do estrangeiro. O ponto alto do programa foram os discursos proferidos por membros do Corpo Governante em Gelsenkirchen, Leipzig e Stuttgart. Para que a assistência dos outros três auditórios também pudesse ouvir os discursos, estes foram transmitidos por ligação telefônica. Os 177.902 presentes foram incentivados a permanecer fortes na fé e a resistir a quaisquer pressões para fazê-los diminuir o passo. Era tempo de ação! Jeová havia aberto inesperadamente as portas da expansão na Europa Oriental, e não se devia permitir que nada impedisse a realização dessa obra. Antes de inclinarem as cabeças em agradecimento a Jeová, todos cantaram com uma só voz: “Muitos irmãos, aos milhares,/ Juntos a mim estão;/ Quais testemunhas mostram/ Zelo e retidão.” Aquela foi, sem dúvida, uma das maiores manifestações da união e da determinação que marcam o povo de Jeová.

Embora o glorioso fim de semana da dedicação chegasse ao fim, a expansão continuou. Logo cedo na manhã seguinte, os trabalhadores da construção estavam novamente atarefados. A fim de evitar desnecessária duplicação de serviços e de despesas, a Sociedade acabara de implantar um novo sistema de depósito de publicações, o que requeria mais espaço para expedição em Selters.

Em 1975, a filial da Alemanha produziu 5.838.095 livros e 25.289.120 revistas. Duas décadas depois, durante o ano de serviço de 1998, a produção havia aumentado para 12.330.998 livros, 199.668.630 revistas e 2.656.184 fitas de áudio. Esse crescimento fenomenal devia-se principalmente à demanda dos países da Europa Oriental.

Com o fim da proscrição num lugar após outro, Selters começou a enviar publicações para outros países da Europa Oriental. De fato, 68% da produção de publicações em Selters entre maio de 1989 e agosto de 1998 — isto é, 58.793 toneladas — foi enviada a 21 países da Europa Oriental e da Ásia. Isso equivale a 2.529 caminhões enfileirados, cada um com 23 toneladas de publicações.

Construindo, mas nem por isso deixando de pregar

Desde 1975, as Testemunhas de Jeová têm feito uma grande obra de construção. E como Noé, que além de construtor era “pregador da justiça”, as Testemunhas de Jeová esforçam-se a equilibrar suas responsabilidades. (2 Ped. 2:5) Elas reconhecem o valor das construções a fim de promover a adoração verdadeira hoje, mas não deixam de ter bem em mente a importância e a urgência da pregação das boas novas.

De fato, segundo o Departamento de Serviço, a atividade extra relacionada com a obra de construção em Selters na verdade aumentou o tempo gasto no serviço de campo. E, naturalmente, a construção de prédios para fins teocráticos é um testemunho em si mesmo. Salões do Reino e Salões de Assembléias de construção rápida têm sido motivo de constante admiração para os observadores. As construções feitas pelas Testemunhas de Jeová, realizadas com zelo e dedicação, ajudam a dirigir a atenção às boas novas que elas pregam. As pessoas sinceras ficam curiosas de saber que força motiva as Testemunhas de Jeová de forma não vista em quaisquer outros grupos religiosos.

O que aconteceu a Magdeburgo?

Um dos Salões do Reino dedicados nesse período foi o de Magdeburgo. Em 1923 a Sociedade havia mudado sua filial alemã de Barmen para Magdeburgo. Em 1927/28 construiu-se ali um majestoso salão de assembléias com capacidade para cerca de 800 pessoas sentadas. Para demonstrar seu apreço pelo livro A Harpa de Deus, da Sociedade Torre de Vigia, os irmãos chamaram o local de o Salão da Harpa. A parede dos fundos foi decorada com um alto-relevo representando o Rei Davi tocando harpa.

Em junho de 1933 os nazistas confiscaram a propriedade da Sociedade em Magdeburgo, fecharam a fábrica e hastearam a suástica nos prédios. Depois da Segunda Guerra Mundial, a propriedade foi devolvida aos irmãos, mas não por muito tempo. Em agosto de 1950 ela foi desapropriada por autoridades comunistas.

Em 1993, após a reunificação da Alemanha, grande parte da propriedade foi devolvida aos irmãos, e a Sociedade foi indenizada por uma boa parte do restante. Incluído na parte devolvida se achava o antigo Salão da Harpa. Após vários meses de reforma da propriedade, Magdeburgo tinha um Salão do Reino adequado e necessário.

“Esta é a terceira vez que este local é dedicado: a primeira vez foi na década de 20, depois em 1948 e agora novamente em 1995”, explicou Peter Konschak na cerimônia da dedicação. Willi Pohl, representando a Comissão de Filial na Alemanha, proferiu o discurso de dedicação. Quando era jovem, ele serviu no Betel de Magdeburgo. De fato, em 1947, quando Hayden Covington, da sede mundial, fez uma visita e falou aos irmãos nesse mesmo salão, o irmão Pohl serviu como seu intérprete. “Os irmãos podem imaginar como me sinto ao proferir esse discurso”, confidenciou ele aos 450 convidados.

Hoje, as várias congregações de Magdeburgo que se reúnem regularmente no antigo Salão da Harpa são uma prova viva da veracidade das palavras de Jeová aos seus servos, conforme registradas por Isaías há mais de 2.700 anos: “Nenhuma arma que se forjar contra ti será bem sucedida.” Ou, conforme o Rei Ezequias certa vez lembrou aos seus homens: “Conosco está Jeová, nosso Deus, para nos ajudar e para travar as nossas batalhas.” — Isa. 54:17; 2 Crô. 32:8.

Escritório de tradução

Um aspecto significativo do trabalho feito na filial da Alemanha relaciona-se com a tradução. O Departamento de Tradução para o alemão foi transferido de Berna, Suíça, para Wiesbaden, em 1956. Na época a equipe era composta por apenas quatro pessoas. Alice Berner e Erika Surber, que eram daquele grupo, serviram no departamento fielmente até sua morte. Anny Surber, também daquele grupo inicial, ainda serve no departamento. A equipe cresceu no decorrer dos anos, de forma que agora, na maioria dos casos, os irmãos na Alemanha recebem não só A Sentinela e Despertai!, como também os livros encadernados, ao mesmo tempo em que são publicados em inglês.

Além da tradução para o alemão, desde a década de 60 fazia-se também um pouco de tradução para o russo e para o polonês na Alemanha. Esse trabalho era supervisionado pelo Departamento de Serviços Estrangeiros, que cuidava da obra em vários países onde havia proscrição, incluindo a Alemanha Oriental, a Polônia e a União Soviética.

Uma vez que isso se tornou possível, alguns tradutores experientes da Polônia e vários prospectivos tradutores da União Soviética foram convidados a Selters. Ali eles tinham o equipamento necessário bem como um ambiente confortável onde poderiam receber treinamento adicional para o trabalho. Também tinham condições de beneficiar-se da experiência dos tradutores alemães, que lhes forneceram sugestões úteis sobre como lidar com problemas comuns a todos os tradutores, independentemente do idioma. Esses tradutores logo se tornaram muito estimados pelos membros da família de Betel de Selters.

Naturalmente o treinamento era temporário e no tempo devido os tradutores retornariam ao seu país de origem. Assim, depois de o novo complexo de Betel perto de Varsóvia (Polônia) ter sido dedicado em 1992, os que traduziam para o polonês, após terem concluído um trabalho extenso, juntaram-se à sua equipe de tradução na Polônia.

Antes de eles irem embora, porém, mais prospectivos tradutores — russos e ucranianos — começaram a chegar para treinamento. Os primeiros cinco chegaram em 27 de setembro de 1991 e outros mais tarde. Ao todo, vieram mais de 30.

Em janeiro de 1994 os tradutores para o russo partiram para morar no Betel que então estava em construção em Solnechnoye, perto de São Petersburgo. Os tradutores para o ucraniano, por outro lado, estavam, por ocasião da escrita deste artigo, aguardando mudar-se em breve para um novo lar de Betel na Ucrânia. De tempos em tempos, outras equipes de tradução também têm trabalhado em Selters e se beneficiado da ajuda ali recebida. Tudo isso serve de constante lembrete do propósito de Jeová de reunir pessoas “de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas” para constituir uma “nova terra”, o alicerce de uma sociedade humana dedicada a servir somente ao único Deus verdadeiro, Jeová. — Rev. 7:9, 10; 2 Ped. 3:13.

Local para seminários internacionais

A localização conveniente da filial da Alemanha tem atraído muitos visitantes. Frankfurt se orgulha de possuir o portão de entrada mais movimentado da Europa continental — o Aeroporto Rhein-Main. Visto que Selters fica a menos de 60 quilômetros desse aeroporto, muitos irmãos, mesmo estando de passagem por Frankfurt, aproveitam para fazer uma visita rápida a fim de conhecer a filial e usufruir por alguns momentos da hospitalidade da família de Betel.

Selters também tem sido um bom local para a realização de seminários internacionais e para as reuniões em que representantes de várias filiais podem consultar-se mutuamente. Assim, a Comissão Editora do Corpo Governante providenciou que representantes de 16 filiais da Europa se reunissem com irmãos de Brooklyn por quatro dias, em 1992. O objetivo era coordenar o trabalho deles para assegurar-se de que haveria amplo suprimento de alimento espiritual para todas as filiais da Europa, incluindo países com desvantagem econômica.

Mesmo antes disso, as Testemunhas de Jeová na Alemanha ofereciam publicações bíblicas gratuitamente a todas as pessoas interessadas em lê-las. Isso certamente refuta a acusação feita por opositores de que a Sociedade Torre de Vigia distribui publicações visando lucro.

Após o seminário em Selters, esse sistema de distribuição gratuita foi estendido a toda a Europa, beneficiando especialmente a Europa Oriental, onde muitos têm fome de coisas espirituais mas com freqüência sofrem dificuldades econômicas. Mas como são cobertas as despesas com a obra mundial do Reino? Por meio de donativos não-solicitados feitos pelas Testemunhas de Jeová e por outras pessoas apreciativas. E por que elas fazem tais donativos? Alguns fazem isso por reconhecerem a importância de proporcionar ao máximo número possível de pessoas a oportunidade de aprender e aplicar princípios bíblicos que podem melhorar-lhes a vida mesmo no presente. (Isa. 48:17; 1 Tim. 4:8) Outros também são motivados pelo desejo de participar em tornar possível que as boas novas do Reino de Deus cheguem às pessoas em todos os países antes de Deus acabar com este sistema iníquo de coisas. — Mat. 24:14.

Um segundo seminário realizado em 1992 enfocava a proposta de a filial da Alemanha enviar publicações diretamente às congregações nos países da Europa em vez de mandá-las para as filiais para de lá serem enviadas às congregações, como se fazia até então. Num terceiro seminário, em abril de 1993, tomaram-se medidas para incluir seis países da Europa Central nesse sistema. Em fevereiro de 1994 realizou-se outro seminário em Viena (Áustria) para os países da Europa Oriental e fizeram-se provisões para beneficiar congregações em mais 19 países.

As vantagens desse sistema são óbvias. As despesas são reduzidas porque não há necessidade de estocar publicações em cada filial; assim, não há mais necessidade de grandes departamentos de expedição em cada país. Em alguns países esse sistema eliminou a necessidade de expandir a filial. E quando novos lares de Betel são construídos, eles não mais precisam ser tão amplos, visto que se cuida da armazenagem, da embalagem e da expedição de publicações na Alemanha.

Ao passo que em 1989 a filial da Alemanha tinha em estoque uns 2.000 itens em 59 idiomas, em 1998 tinha 8.900 itens em 226 idiomas. Em abril de 1998, a filial em Selters estava suprindo publicações a 742.144 publicadores de 8.857 congregações, em 32 países.

O ódio aos cristãos verdadeiros não se restringe ao passado

Na noite da véspera de sua morte, Jesus Cristo disse a seus apóstolos: “Porque não fazeis parte do mundo, mas eu vos escolhi do mundo, por esta razão o mundo vos odeia. . . . Se me perseguiram a mim, perseguirão também a vós.” (João 15:19, 20) Assim, era de esperar que depois da queda do Terceiro Reich de Hitler, a perseguição às Testemunhas de Jeová não acabaria por completo na Alemanha. Da mesma forma, onde as proscrições impostas por regimes comunistas cessaram, embora houvesse em geral maior liberdade pessoal para o povo, a perseguição movida às Testemunhas de Jeová não cessou. Simplesmente assumiu outras formas. — 2 Tim. 3:12.

Agora, em lugar dos antigos perseguidores do povo de Jeová, apóstatas passam a espancar seus ex-associados cristãos. (Mat. 24:48-51) Em fins da década de 80 e no início dos anos 90, esses apóstatas ficaram mais ousados, aumentando a quantidade e o veneno de suas acusações falsas. Muitos apresentadores de programas de mesa-redonda na TV têm apresentado os apóstatas como “peritos” em Testemunhas de Jeová. Mas algumas pessoas sinceras não se precipitam em julgar as Testemunhas de Jeová com base nas declarações de tais ex-membros amargurados. Depois de um de tais programas, um rapaz telefonou para o escritório da Sociedade em Selters e explicou que alguns anos antes a ex-Testemunha de Jeová que foi entrevistada havia estudado a Bíblia com ele. Por razões pessoais o rapaz parou de estudar. Mas ao ver o programa na TV e reconhecer seu ex-instrutor, o rapaz ficou muito transtornado. Perguntou: “Como ele pode dizer essas coisas? Ele sabe que o que está dizendo sobre as Testemunhas de Jeová não é verdade.” O resultado foi que o rapaz voltou a estudar a Bíblia, desta vez com um ancião da congregação local.

Naturalmente, existem muitas pessoas que aceitam sem questionar o que ouvem na TV e lêem nos jornais. Em vista da freqüência do ataque contra as Testemunhas de Jeová pela mídia, a Sociedade preparou uma brochura de 32 páginas com o objetivo específico de neutralizar essa enxurrada de propaganda enganosa. A brochura se chama Jehovas Zeugen—Menschen aus der Nachbarschaft. Wer sind sie? (As Testemunhas de Jeová — Seus Vizinhos. Quem São?)

A brochura traz informações factuais tiradas de uma pesquisa de 1994 em que cerca de 146.000 Testemunhas de Jeová na Alemanha participaram. Os resultados da pesquisa facilmente refutaram muitos conceitos errôneos que as pessoas tinham sobre as Testemunhas de Jeová. Uma religião de mulheres idosas? Quatro de cada dez Testemunhas de Jeová na Alemanha são homens e a média de idade entre os membros da religião é de 44 anos. Uma religião composta de pessoas que sofreram lavagem cerebral desde a infância? Cinqüenta e dois por cento de todas as Testemunhas de Jeová tornaram-se membros da religião depois de adultos. Uma religião que dissolve famílias? Dezenove por cento das Testemunhas de Jeová são solteiros, 68% casados e 9% viúvos. Apenas 4% são divorciados, e desses grande parte já estavam divorciados antes de se tornarem Testemunhas de Jeová. Uma religião que proíbe ter filhos? Quase quatro quintos das Testemunhas de Jeová casadas têm filhos. Composta de pessoas com QI abaixo da média? Um terço das Testemunhas de Jeová falam pelo menos um idioma estrangeiro, e 69% se mantêm em dia com os acontecimentos atuais. Uma religião que proíbe os membros de apreciar a vida? Cada Testemunha de Jeová gasta 14,2 horas por semana em várias formas de lazer, sem deixar de dar prioridade aos assuntos espirituais, gastando em média 17,5 horas por semana em atividades religiosas.

Um assunto que recebeu atenção especial na brochura foi “o pequeno Oliver”. Pouco após seu nascimento em 1991, os médicos descobriram uma pequena cavidade em seu coração. No devido tempo, a mãe de Oliver providenciou que ele fosse operado, e em harmonia com suas crenças religiosas, ela encontrou médicos dispostos a fazer a cirurgia sem usar sangue. Mas os opositores deturparam os fatos numa tentativa de desacreditar as Testemunhas de Jeová. Mesmo depois de a operação ter sido feita com sucesso sem transfusão de sangue, um jornal publicou uma manchete dando a entender que Oliver, apesar da oposição de uma mãe “fanática”, havia sido salvo pelo ‘sangue vitalizador’. Essa clamorosa mentira foi exposta na brochura.

Inicialmente, a brochura se destinava apenas aos que levantassem perguntas sobre as acusações falsas lançadas contra as Testemunhas de Jeová. Mas em 1996 a capa foi mudada, oferecendo-se um estudo bíblico domiciliar gratuito na última página. Um milhão e oitocentos mil exemplares foram distribuídos em toda a Alemanha.

Fornecendo informações factuais à mídia

No mesmo ano, tomou-se ainda outra medida para lidar com a insistência dos opositores de usar a mídia para apresentar um quadro distorcido das Testemunhas de Jeová. Walter Köbe foi designado presidente de uma comissão encarregada de Serviços de Informações. Ele explica: ‘A campanha maciça lançada pelos oponentes nos obrigou a fornecer uma resposta supervisionada, facilitando o acesso a informações.’ Localizaram-se irmãos com habilidade na área de relações públicas e realizaram-se seminários para treiná-los. O país foi dividido em 22 regiões adequadas e em 1998 havia centenas de irmãos treinados atuando nelas. Eles dão atenção especial ao contato pessoal com editores e jornalistas.

Com relação ao trabalho nesse departamento, tem-se providenciado também a exibição em público do vídeo As Testemunhas de Jeová Resistem ao Ataque Nazista. A estréia da edição em alemão do vídeo Resistem se deu em 6 de novembro de 1996, no memorial do campo de concentração de Ravensbrück, onde muitas Testemunhas de Jeová haviam ficado presas. Representantes da mídia e historiadores renomados estavam presentes.

Em 1.º de setembro de 1998, multidões num total de mais de 269.000 pessoas já haviam se reunido para ver 331 exibições em público deste vídeo. Os presentes incluíam não só Testemunhas de Jeová, como também representantes da imprensa, autoridades do governo e o público em geral. Centenas de jornais teceram comentários favoráveis sobre as apresentações. Dessas exibições de vídeo, 176 incluíam uma apresentação relacionada com a perseguição nazista das Testemunhas de Jeová.

É cada vez maior o número de representantes da mídia que compartilham os sentimentos do jornalista que, em novembro de 1993, escreveu em Meissner Zeitung: ‘Os que acham que as Testemunhas de Jeová seguem ensinos bíblicos irrealísticos de forma cega e crédula ficarão surpresos de descobrir quanto conhecimento elas têm de seu Exemplo, Jesus Cristo, e como elas convertem esse conhecimento numa vida que tem objetivo.’

Resistindo mesmo depois de ter passado meio século

Já se passou mais de meio século desde que as Testemunhas de Jeová da Alemanha foram libertadas dos campos de concentração. Mas seu registro de integridade não foi esquecido. Sua história continua a dar um poderoso testemunho ao mundo. Alguns dos que estiveram em campos de concentração por não transigirem na sua fé ainda vivem por ocasião da escrita deste relato, e continuam tão zelosos no serviço de Jeová hoje como eram então. Sua posição de coragem atesta que Jeová pode preservar seu povo. Ouça o que alguns desses sobreviventes de campos de concentração, falando em nome de centenas de outros como eles, têm a dizer, e atente a suas idades (em princípios de 1998), indicadas entre parênteses:

Heinrich Dickmann (95): “Em Sachsenhausen fui obrigado a ver meu irmão August ser executado diante de todo o campo. Eu tinha a chance de ser libertado imediatamente se renunciasse à minha fé. Visto que me recusei a transigir, o comandante do campo disse: ‘Pense de novo e veja quanto tempo mais vai viver.’ Cinco meses depois, ele, não eu, estava morto. Meu lema era, e ainda é: ‘Confia em Jeová de todo o coração’.

Änne Dickmann (89): “Considero [a experiência no campo de concentração] como um treinamento para me ajudar a manter a integridade ao grandioso Criador e Dador da Vida, Jeová. Tudo o que passei serviu para enriquecer a minha vida, e me achegou mais a Deus. A fé e o amor a Deus é o que me tem motivado todos esses anos. Nunca fui obrigada a nada.”

Josef Rehwald (86): “Eu me recordo com satisfação daquela época difícil de provações porque apesar das pressões e do sofrimento, mantive a fé cristã e a neutralidade. Estou certo de que sobrevivi somente com a ajuda do Deus Todo-Poderoso, Jeová. Minha convicção cristã agora é ainda mais forte do que naquela época, e meu desejo é permanecer sem transigir do lado de Deus.”

Elfriede Löhr (87): “Quando me lembro das coisas pelas quais passei durante oito anos de prisão debaixo do regime de Hitler, não posso deixar de mencionar que estávamos preparados para tudo. É claro que, por um lado, o caminho da verdade significa luta e perseguição, mas, por outro lado, alegria e vitória. Eu não considero que aquele tempo tenha sido desperdiçado ou que não tenha sido de proveito.”

Maria Hombach (97): “Meu coração transborda de alegria de saber que tive o privilégio extraordinário de provar meu amor e minha gratidão por Jeová debaixo das circunstâncias mais cruéis. Ninguém me obrigou a isso! Muito pelo contrário, os que tentaram nos obrigar eram nossos inimigos que nos ameaçavam, para nos fazer obedecer mais a Hitler do que a Deus. Mas não conseguiram! Por ter uma consciência limpa, eu estava feliz mesmo atrás das grades.”

Gertrud Poetzinger (86): “Fui sentenciada a três anos e meio de confinamento na solitária. Enquanto estava sendo levada de volta para a minha cela depois de receber a sentença, o guarda disse: ‘Obrigado. Você restaurou a minha crença em Deus. Continue com a mesma coragem, e não lhe será difícil passar os três anos e meio.’ Ele tinha razão! Foi na solitária que senti especialmente o amor de Jeová e a força que ele dá.”

De fato, os que sobreviveram a campos de concentração continuam a resistir. Hoje, mais de meio século depois de sua libertação, o proceder de integridade dessas Testemunhas de Jeová continua a ser um testemunho vivo para o mundo e traz louvor a Jeová. Que encorajamento para todos os servos de Deus!

A pregação das boas novas ainda não acabou na Alemanha. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, mais de 800.000.000 de horas foram dedicadas à divulgação do Reino de Deus. Ao mesmo tempo, o ministério das Testemunhas de Jeová na Alemanha influiu na vida das pessoas em muitos outros países. Elas se consideram, não como um grupo nacional separado, mas como parte de uma família global constituída de adoradores de Jeová.

Uma notável evidência dessa união internacional foi evidenciada em 1998, quando 217.472 pessoas assistiram aos cinco Congressos Internacionais “O Caminho de Deus para a Vida” na Alemanha. Houve delegações de muitos países, e o programa inteiro foi apresentado em 13 idiomas. Os congressos enfatizaram a necessidade de contínua fidelidade e perseverança em pregar as boas novas. Com a ajuda de Jeová, as Testemunhas de Jeová na Alemanha estão determinadas a continuar lealmente a trilhar o caminho de Deus para a vida.

[Mapa na página 79]

(Para o texto formatado, veja a publicação)

ALEMANHA ORIENTAL

Hamburgo

Meckenheim

Selters

Frankfurt

Wiesbaden

Reutlingen

Munique

ALEMANHA OCIDENTAL

Berlim

Magdeburgo

Glauchau

[Gravura de página inteira na página 66]

[Foto na página 69]

Assembléia Internacional “Reino Triunfante” em Nuremberg, 1955

[Fotos na página 73]

Testemunhas de Jeová alemãs já ajudaram muitos imigrantes a beneficiar-se da verdade da Bíblia

[Foto na página 88]

Complexo de Betel em Wiesbaden, em 1980

[Foto na página 90]

Comissão da Filial (da esquerda para a direita). Fileira da frente: Günter Künz, Edmund Anstadt, Ramon Templeton, Willi Pohl. Fileira de trás: Eberhard Fabian, Richard Kelsey, Werner Rudtke, Peter Mitrega

[Fotos na página 95]

Alguns dentre os dez Salões de Assembléias que estão sendo usados na Alemanha

1. Glauchau

2. Reutlingen

3. Munique

4. Meckenheim

5. Berlim

[Foto na página 99]

Martin e Gertrud Poetzinger

[Fotos nas páginas 100, 101]

Filial em Selters

[Fotos na página 102]

Alguns irmãos da Alemanha que estão no serviço missionário no estrangeiro:

(1) Manfred Tonak, (2) Margarita Königer, (3) Paul Engler, (4) Karl Sömisch, (5) Günter Buschbeck

[Fotos na página 110]

Ao findarem as proscrições, grandes carregamentos de publicações foram despachados para a Europa Oriental

[Fotos na página 118]

Congresso em Berlim, 1990

[Fotos na página 124]

Primeiro Salão do Reino construído na ex-Alemanha Oriental

[Fotos nas páginas 133]

Programa de dedicação em Selters (mostrado acima), e então em seis estádios em toda a Alemanha

[Foto na página 139]

Instrumentos para neutralizar uma enxurrada de informações deturpadas

[Fotos nas página 140, 141]

Embora confinados em campos de concentração (onde as Testemunhas de Jeová eram identificadas com um triângulo roxo), esses cristãos leais (aqui mostrados em Brandemburgo em 1995) permaneceram firmes na fé

[Fotos na página 147]

Página ao lado, em sentido horário: Heinrich Dickmann, Änne Dickmann, Gertrud Poetzinger, Maria Hombach, Josef Rehwald, Elfriede Löhr

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