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  • O desafio de cuidar de doentes ou idosos
    Despertai! — 1997 | 8 de fevereiro
    • O desafio de cuidar de doentes ou idosos

      “HAVIA momentos em que eu preferia poder fugir da situação. Mas, ele precisava de mim mais do que nunca. Às vezes, eu me sentia muito só.” — Jeanny, que por 18 meses cuidou de seu marido de 29 anos, que morreu de um tumor no cérebro.a

      “Há momentos em que me irrito com minha mãe, mas, depois, fico aborrecida comigo mesma. Sinto-me frustrada quando não me saio bem.” — Rose, 59 anos, que cuidou de sua mãe, de 90 anos, confinada ao leito.

      A notícia de uma doença terminal ou crônica pode ser devastadora para a família e para os amigos. “Por ocasião do diagnóstico, a família sempre se sente sozinha. Talvez não conheça ninguém que tenha tido um problema semelhante”, diz Jeanne Munn Bracken, no livro Children With Cancer (Crianças com Câncer). Em muitos casos, os familiares ou amigos ficam “atônitos e incrédulos”, como Elsa, quando soube que sua grande amiga, Berta, de 36 anos, tinha câncer. Sue, cujo pai estava doente, sentiu um “mal-estar e um vazio no estômago”, quando se deu conta de que seu pai morreria de câncer.

      Familiares e amigos talvez se vejam, de repente, na obrigação de cuidar das necessidades físicas e emocionais de um doente. Talvez tenham de preparar refeições nutritivas, supervisionar a medicação, providenciar transporte da pessoa ao médico, receber as visitas do doente, escrever cartas por ele, e muitas, muitas outras coisas. Muitas vezes tais atividades atropelam uma já carregada agenda.

      Com a piora de seu estado, porém, o doente exige ainda maiores cuidados. O que, por exemplo? “Tudo!”, exclama Elsa, referindo-se ao caso de sua amiga Berta, que vivia confinada ao leito. “Dar banho, comida, auxiliá-la nos vômitos, esvaziar as bolsas de urina.” Kátia, apesar de trabalhar fora por tempo integral, tinha de cuidar de sua mãe debilitada. Sue, já mencionada, fala de “tirar e registrar a temperatura [de seu pai] a cada meia hora, umedecendo-o quando a temperatura aumentava e trocando a roupa dele e a de cama a cada poucas horas”.

      A qualidade da ajuda que se dá ao doente depende muito do bem-estar dos que lhe prestam a ajuda. Muitas vezes, porém, os sentimentos e as necessidades destes passam despercebidos. Se os resultados fossem apenas dor nas costas e tensão nos ombros, já seria suficientemente ruim. Mas, como a maioria dos cuidadores (pessoas que cuidam pessoalmente de um doente ou idoso) confirma, é um serviço que cobra um enorme custo emocional.

      “Foi muito embaraçoso”

      “Estudos referem-se freqüentemente à aflição resultante do comportamento anormal e embaraçoso e das explosões verbais [do paciente]”, diz The Journals of Gerontology. Por exemplo, Gillian conta o que aconteceu quando uma amiga, numa reunião cristã, pediu para conhecer a sua mãe idosa. “Mamãe lançou apenas um olhar distante, sem reação”, lembra-se Gillian, com pesar. “Foi muito embaraçoso, e meus olhos se encheram de lágrimas.”

      “É uma das coisas mais difíceis de suportar”, diz Joana, cujo marido sofre de demência. “Isso o torna um tanto insensível à etiqueta”, explica. “Quando comemos num restaurante, às vezes, ele vai a outras mesas, experimenta a geléia, e coloca a colher usada de volta no mesmo recipiente da geléia. Ao visitar vizinhos, ele é capaz de cuspir no caminho de acesso à casa. É muito difícil deixar de pensar que outros provavelmente comentem esses hábitos, e talvez o considerem uma pessoa de lamentável falta de bons modos. Isso me constrange.”

      “Eu temia que, se não cuidássemos . . .”

      Cuidar de um parente muito doente pode ser apavorante. A pessoa talvez tema o que o avanço da doença possa causar — talvez até mesmo a morte do paciente. Ou talvez receie não ter a força ou a habilidade para atender às necessidades do doente.

      Elsa explica a razão de seus temores: “Eu temia machucar a Berta, aumentando assim o seu sofrimento, ou fazer algo que lhe encurtasse a vida.”

      Às vezes, o doente passa seus temores para quem cuida dele. “Meu pai tinha pavor de se engasgar, e, às vezes, entrava em pânico”, revelou Sue. “Eu temia que, se não cuidássemos, ele se engasgaria e passaria pelo que mais temia.”

      “As recordações talvez o façam sofrer”

      “Sentir tristeza é normal para quem cuida de um parente com doença crônica”, diz o livro Caring for the Person With Dementia (Como Cuidar de uma Pessoa com Demência). “Com a progressão da doença, você pode sentir a perda de um companheiro e de uma relação que era importante para você. As recordações talvez o façam sofrer.”

      Jennifer conta como a família foi afetada pela deterioração constante da saúde de sua mãe. “Sentimo-nos feridos. Sentíamos falta de sua conversa animada. Ficamos muito tristes.” Gillian explica: “Eu não queria que minha mãe morresse, nem que ela sofresse. Eu chorava muito.”

      “Eu me sentia rejeitada, irada”

      O cuidador talvez se pergunte: ‘Por que tinha de ser eu? Por que os outros não ajudam? Será que não enxergam que não estou dando conta? Não pode o doente ser um pouco mais cooperador?’ Talvez a pessoa se irrite profundamente com o que pareça ser uma crescente e injusta demanda do doente e de familiares. Rose, mencionada na abertura, diz: “Na maioria das vezes sinto raiva de mim mesma — no íntimo. Mas mamãe diz que isso se reflete no meu semblante.”

      Quem dá assistência pode virar alvo das frustrações e ira do próprio doente. No livro Living With Cancer (Conviver com o Câncer), o Dr. Ernest Rosenbaum explica que alguns pacientes “talvez, às vezes, sintam raiva e depressão que descarregarão na primeira pessoa que aparecer por perto . . . Essa ira, em geral, resulta de uma irritação com trivialidades com as quais, em tempos normais, o paciente nem se importaria”. É compreensível que isso aumente a carga sobre os já desgastados nervos dos que dão o seu melhor para cuidar do doente.

      Maria, por exemplo, cuidou muito bem de uma amiga, na fase terminal. Mas, às vezes, a amiga parecia ser sensível demais e tirava, precipitadamente, conclusões erradas. “Ela chegava a ser mordaz e rude, embaraçando os que lhe eram achegados”, Maria explica. Como isso afetou Maria? “No momento, a pessoa parece ‘entender’ o doente. Mas, ao remoer o assunto, eu me sentia rejeitada, irada, insegura — e sem inclinação para mostrar o necessário amor.”

      Um estudo publicado em The Journals of Gerontology concluiu: “A ira tem o potencial de atingir níveis elevados quando se cuida de idosos ou doentes [e], às vezes, resulta em violência real ou cogitada.” Os pesquisadores descobriram que quase um em cada cinco cuidadores temia tornar-se violento. E, mais de um em cada 20, realmente ficaram violentos com o paciente.

      ‘Sinto-me culpada’

      Muitos cuidadores têm sentimentos de culpa. Às vezes, tais sentimentos vêm na esteira da ira, isto é, eles se sentem culpados porque, ocasionalmente, se irritam. Emoções assim podem desgastá-los a ponto de sentirem-se incapazes de continuar a prestar ajuda.

      Há casos em que a única alternativa é internar o paciente numa casa de repouso ou num hospital. Pode ser uma decisão traumática, talvez prejudicando as emoções do cuidador. “Quando, por fim, me vi obrigada a internar mamãe numa casa de repouso, eu sentia como se a estivesse traindo, descartando-a”, diz Jeanne.

      Quer a pessoa seja internada, quer não, seus familiares íntimos talvez se sintam culpados de não fazerem o suficiente por ela. Disse Elsa: “Muitas vezes eu lamentava ter pouco tempo. Às vezes, minha amiga simplesmente não me deixava sair.” Pode haver também preocupação em não negligenciar outros deveres familiares, em especial se o cuidador passa muito tempo no hospital ou precisa trabalhar mais tempo para ajudar a pagar as crescentes despesas. “Preciso trabalhar para ajudar a pagar as contas”, lamentou certa mãe, “mas me sinto culpada de não poder ficar em casa com meus filhos”.

      Obviamente, os cuidadores precisam desesperadamente de apoio, em especial depois da morte do paciente. “A minha mais crítica responsabilidade [depois da morte do paciente] . . . é aliviar sentimentos de culpa do cuidador, que ele muitas vezes não expressa”, diz o Dr. Fredrick Sherman, de Huntington, Nova York.

      Se esses sentimentos não forem expressos, poderão prejudicar tanto a quem dá como a quem recebe a ajuda. Como podem os que dão ajuda lidar com esses sentimentos? E o que podem fazer outros — familiares e amigos — para ajudá-los?

      [Nota(s) de rodapé]

      a Alguns nomes foram mudados.

      [Quadro na página 5]

      ‘Não ache que tem de ser elas!’

      “SABEMOS que 80% dos que cuidam de idosos no lar são mulheres”, diz Myrna I. Lewis, professora adjunta no departamento de medicina comunitária da Escola de Medicina Monte Sinai, em Nova York.

      Um estudo sobre mulheres que cuidam de doentes ou idosos, publicado em The Journals of Gerontology, uma publicação especializada em gerontologia,b mostrou que 61% delas disseram não receber nenhuma ajuda da família ou de amigos. E, mais da metade (57,6%), disse não receber suficiente apoio emocional do marido. Em Children With Cancer, Jeanne Munn Bracken sublinha que, enquanto a mãe talvez leve a maior parte da carga de cuidar do paciente, “o pai talvez se escuse e se concentre mais no seu emprego”.

      Contudo, uma significativa proporção de assistência é prestada por homens, diz a Dra. Lewis. Por exemplo, é considerável o número de maridos que têm esposa com mal de Alzheimer. E eles certamente não são imunes ao estresse que cuidar de um cônjuge doente provoca. “Esses homens talvez sejam os mais vulneráveis de todos”, continua Lewis, “porque, em geral, são mais velhos do que as esposas e, talvez, eles mesmos, não gozem de boa saúde. . . . A maioria deles não tem experiência nos aspectos práticos de cuidar de uma pessoa debilitada”.

      As famílias precisam evitar a tendência de sobrecarregar um membro da família que, aparentemente, se sai bem nesse desafio. “Há muitos casos em que sempre o mesmo membro da família cuida do paciente, às vezes, sucessivamente, de vários deles”, diz o livro Care for the Carer (Cuidar de Quem Cuida). “Uma elevada proporção desses são mulheres que, por sua vez, também já estão envelhecendo. . . . As mulheres, em geral, são candidatas ‘naturais’ à tarefa de cuidar de pessoas debilitadas . . . , mas a família e os amigos nunca devem achar que tem de ser elas.”

      [Nota(s) de rodapé]

      b Gerontologia é definido como “ramo do conhecimento que trata do envelhecimento e dos problemas dos idosos”.

      [Foto na página 6]

      Quem cuida de um doente ou idoso precisa de apoio para lidar com sentimentos de culpa e de ira

  • Como lidar com os sentimentos
    Despertai! — 1997 | 8 de fevereiro
    • Como lidar com os sentimentos

      ESTÁ cuidando de um parente gravemente enfermo? Neste caso, talvez se sinta um tanto confuso e assustado. O que fazer? Considere os sentimentos contra os quais lutam alguns cuidadores, e as sugestões que os têm ajudado a enfrentá-los.

      Constrangimento. Vez por outra, a conduta do doente pode causar constrangimento a você. Mas, explicar a natureza da doença a amigos e vizinhos pode ajudá-los a entender e talvez induzi-los a ser compassivos e pacientes. (1 Pedro 3:8) Se der, fale com outras famílias em situação similar. A troca de experiências pode amenizar seu constrangimento. Sue explica o que a ajudou: “Eu tinha tanta pena de meu pai que isso superava qualquer constrangimento. E seu senso de humor também ajudava.” Sim, o senso de humor — do doente e dos cuidadores — é um ótimo recurso para abrandar nervos irritados. — Note Eclesiastes 3:4.

      Medo. Não conhecer bem a doença pode apavorar. Se possível, busque aconselhamento profissional sobre o que esperar com a evolução da doença. Aprenda a cuidar do doente nessas circunstâncias. Para Elsa, uma das coisas que mais a ajudou a lidar com seus temores foi falar com outros cuidadores e com enfermeiras de casas especializadas com respeito ao que esperar com a piora da paciente. Jeanny aconselha: “Enfrente e controle seus temores. O medo do que possa acontecer muitas vezes é pior do que a realidade.” O Dr. Ernest Rosenbaum recomenda que, independentemente das causas, seus temores devem “ser discutidos assim que surgirem”. — Note Provérbios 15:22.

      Pesar. Não é fácil lidar com o pesar, em especial como cuidador. Talvez você sofra com a perda do companheirismo, ainda mais se o paciente não puder mais falar, nem entender claramente e nem mesmo reconhecer você. Outros talvez demorem a entender tais sentimentos. Falar sobre seu pesar com um amigo compreensivo, que ouça com paciência e empatia, pode produzir o muito necessitado alívio. — Provérbios 17:17.

      Ira e frustração. São reações normais quando se cuida de um paciente em estado grave cujo comportamento, às vezes, é difícil. (Note Efésios 4:26.) Reconheça que, em muitos casos, o culpado pelo comportamento aflitivo é a doença, não o doente. Lucy lembra-se: “Quando eu realmente me irritava, acabava chorando. Mas, daí, eu tentava levar em conta o estado do doente e a sua doença. Eu sabia que ele precisava de mim. Isso me ajudava a prosseguir.” Esse discernimento pode tornar mais ‘vagarosa sua ira’. — Provérbios 14:29; 19:11.

      Culpa. Sentimentos de culpa são comuns entre os cuidadores. Mas, esteja certo de que seu serviço é essencial, embora seja muito difícil. Aceite o fato de que você nem sempre agirá com perfeição, em palavras e em ações. A Bíblia nos lembra: “Todos nós tropeçamos muitas vezes. Se alguém não tropeçar em palavra, este é homem perfeito, capaz de refrear também todo o seu corpo.” (Tiago 3:2; Romanos 3:23) Não deixe que sentimentos de culpa o impeçam de tomar medidas positivas agora. Quando se sentir aborrecido por algo que disse ou fez, com certeza descobrirá que dizer “eu lamento” fará com que você e a pessoa de quem você cuida se sintam melhor. Certo homem que cuidou de um parente doente aconselha: “Faça o melhor que puder sob as circunstâncias.”

      Depressão. A depressão é muito comum, e compreensível, em famílias que lutam contra uma doença grave. (Compare 1 Tessalonicenses 5:14.) Certa mulher, que toma conta de pessoas debilitadas, e que sofre de depressão, explica o que a ajuda: “Muitos nos agradecem pela ajuda. Umas poucas palavras de encorajamento podem dar-lhe novo ânimo para prosseguir, quando você está muito cansado ou deprimido.” A Bíblia diz: “A ansiedade no coração do homem é o que o fará curvar-se, mas a boa palavra é o que o alegra.” (Provérbios 12:25) Outros talvez nem sempre percebam a necessidade que você tem de encorajamento. Assim, às vezes, você talvez precise primeiro expressar abertamente a “ansiedade” em seu coração a fim de receber “a boa palavra” de encorajamento de outros. Mas, se a depressão persistir, ou se agravar, pode ser bom consultar um médico.

      Incapacidade. Uma doença debilitante talvez lhe dê uma sensação de incapacidade. Aceite a realidade de sua situação. Reconheça suas limitações — a responsabilidade de controlar a doença do paciente não é sua, mas você pode prestar ajuda compassiva. Não espere perfeição de si mesmo, do paciente ou dos que cooperam com você. Um enfoque equilibrado não só alivia os sentimentos de incapacidade mas, também, a carga de trabalho. Muitos que já cuidaram de um parente debilitado aconselham, com sabedoria: aprenda a viver um dia de cada vez. — Mateus 6:34.

      [Destaque na página 8]

      “Enfrente e controle seus temores. O medo do que possa acontecer muitas vezes é pior do que a realidade.”

      [Quadro na página 7]

      Encorajamento dos que cuidam de doentes ou idosos

      “NÃO se aflija com pensamentos negativos sobre si mesmo. Eles são normais sob tais circunstâncias. Não reprima seus sentimentos. Desabafe com alguém, se possível; quebre a rotina — dê uma volta — para se recompor.” — Lucy, que trabalha numa clínica dando assistência a cuidadores e a pacientes.

      “Se houver familiares ou amigos dispostos a ajudar, aceite a ajuda. É vital dividir a carga.” — Sue, que cuidou de seu pai que morreu de doença de Hodgkin.

      “Aprenda a cultivar um senso de humor.” — Maria, que ajudou a cuidar de uma amiga que morreu de câncer.

      “Mantenha-se forte espiritualmente. Achegue-se bem a Jeová, e ore sem cessar. (1 Tessalonicenses 5:17; Tiago 4:8) Ele dá ajuda e consolo por meio de seu espírito, sua Palavra, seus servos terrestres e Suas promessas. Tente ser o mais organizado possível. Por exemplo, é útil ter uma tabela de quando e que remédio dar e uma escala de serviço para os ajudantes.” — Hjalmar, que ajudou seu cunhado antes de esse morrer.

      “Aprenda tudo o que puder sobre a doença do paciente. Isso ajudará você a saber o que esperar dele e de você mesmo, e como cuidar do paciente.” — Joana, cujo marido sofre de mal de Alzheimer.

      “Lembre-se de que outros já passaram por isso e foram bem-sucedidos, e que Jeová pode ajudar você a enfrentar o que quer que aconteça.” — Jeanny, que cuidou de seu marido, até a morte dele.

      [Foto na página 8]

      Para abrandar seus temores, descubra o máximo que puder sobre a doença

      [Foto na página 9]

      Falar com um amigo compreensivo pode trazer muito alívio

  • Cuidar dos que cuidam: como outros podem ajudar
    Despertai! — 1997 | 8 de fevereiro
    • Cuidar dos que cuidam: como outros podem ajudar

      “EU E Lawrie estamos casados há 55 anos — muito tempo — e que anos felizes! Se eu pudesse mantê-lo em casa, eu o manteria. Mas a minha saúde começou a fraquejar. Por fim, tive de interná-lo num asilo. A dor emocional de contar isso é quase demais para mim. Eu o amo e respeito profundamente, e visito-o sempre que posso. Fisicamente, não posso fazer mais.” — Anna, de 78 anos, que por mais de 10 anos cuida de seu marido que tem mal de Alzheimer e que há 40 anos cuida também de uma filha com síndrome de Down.a

      O caso de Anna não é nada incomum. Uma pesquisa feita nas ilhas Britânicas revelou que “em algumas faixas etárias (40 e 50) nada menos que uma em cada duas mulheres é cuidadora [de doente crônico ou de idoso]”. Como já visto, o abalo emocional e os problemas dos cuidadores podem parecer insuportáveis, às vezes.

      “Penso que pelo menos 50% dos cuidadores se deprimem no primeiro ano de sua atividade”, diz o Dr. Fredrick Sherman, da Sociedade Americana de Geriatria. Para idosos, como Anna, a decadência de seu próprio vigor e saúde pode agravar muito a situação.

      Para ajudar os cuidadores a executar as suas responsabilidades, temos de conhecer as suas necessidades. Quais são estas, e como podemos supri-las?

      Os cuidadores precisam desabafar

      “Eu tinha de aliviar minhas tensões”, disse uma mulher que ajudou a cuidar de uma amiga que estava morrendo. Como vimos no artigo anterior, os problemas muitas vezes ficam mais leves se forem discutidos com um amigo compreensivo. Muitos cuidadores que se sentem encurralados pelas suas circunstâncias descobrem que falar a respeito de sua situação os ajuda a aclarar seus sentimentos e aliviar a pressão acumulada.

      “Gostava muito quando os amigos entendiam que ambos precisávamos de apoio moral”, diz Jeanny, recordando a época em que ela cuidou de seu marido. Ela explica que os cuidadores precisam de encorajamento e, às vezes, de um ombro amigo. Hjalmar, que ajudou a cuidar de seu cunhado doente, concorda: “Eu precisava de alguém que ouvisse meus temores e problemas e entendesse como eu me sentia.” A respeito de um grande amigo seu, Hjalmar acrescenta: “Era muito bom visitá-lo, nem que fosse só por meia hora. Ele me escutava. Realmente se importava. Isso me reanimava.”

      Os cuidadores podem derivar tremendo encorajamento de um ouvinte compreensivo. ‘Seja rápido no ouvir, vagaroso no falar’, é o sábio conselho da Bíblia. (Tiago 1:19) Um artigo em The Journals of Gerontology revelou que “simplesmente saber que o apoio está disponível muitas vezes já é o suficiente para se conseguir um expressivo alívio”.

      Mas, além de um ouvinte interessado e apoio moral, o que mais podem precisar os cuidadores?

      Ajuda prática

      “O paciente e a família se beneficiam de todos os meios pelos quais o amor e o encorajamento possam ser expressos”, observa o Dr. Ernest Rosenbaum. Para começar, tal ‘amor e encorajamento’ podem ser expressos durante uma visita pessoal, num telefonema, ou num bilhete (talvez junto com flores ou outro presentinho).

      “As breves visitas de nossos amigos eram muito consoladoras”, lembra-se Sue, a respeito do apoio que sua família recebeu quando seu pai morria de doença de Hodgkin. “Uma das minhas amigas”, continua, “atendia o telefone e ajudava a lavar e a passar a nossa roupa”.

      Apoiar os cuidadores pode, e deve, incluir ajuda específica e tangível. Elsa lembra-se: “Eu achava útil quando os amigos ofereciam ajuda real. Eles não diziam apenas: ‘Se eu puder fazer algo, avise-me.’ Eles diziam: ‘Vou fazer compras. O que você quer que eu compre para você?’ ‘Posso cuidar de seu jardim?’ ‘Posso vir aqui e ler alguma coisa para sua amiga.’ Algo mais que achamos prático foi pedir que os visitantes deixassem mensagens escritas num caderno de anotações quando minha amiga doente estava cansada ou dormindo. Isso nos dava muito prazer.”

      Pode-se oferecer ajuda específica em um grande número de tarefas. Rose explica: “Eu apreciava quando me ajudavam a arrumar as camas, a escrever cartas pelos meus pais, a dar atenção às visitas deles, a adquirir remédios, a lavar e arrumar o cabelo, a lavar a louça.” Outra ajuda que a família e os amigos podem dar é se revezarem em preparar refeições.

      Se for apropriado, pode-se também prestar serviços básicos de enfermagem. Por exemplo, o cuidador talvez precise de alguém que o ajude a alimentar ou a banhar o paciente.

      Familiares e amigos conscienciosos talvez ofereçam ajuda nos estágios iniciais da doença, mas, que dizer se a doença se prolongar? Com a nossa própria agenda apertada, é fácil despercebermos as pressões contínuas — e possivelmente crescentes — dos cuidadores. Como seria triste se o tão necessário apoio começasse a minguar!

      Se isso acontecer, pode ser aconselhável que o cuidador convoque uma reunião familiar para discutir o assunto. Em muitos casos, é possível recrutar a ajuda de amigos e parentes que se tenham oferecido para ajudar. É o que Sue e sua família fizeram. “Quando as necessidades surgiram”, ela conta, “nós nos lembramos daqueles que se ofereceram para nos ajudar e lhes telefonamos. Achávamos que podíamos contar com eles”.

      Dê-lhes uma folga

      “É absolutamente essencial”, diz o livro The 36-Hour Day (A Jornada de 36 Horas), “tanto para você [o cuidador] como para [seu paciente] — que você periodicamente ‘fuja’ do esquema de 24 horas de ajuda ao doente crônico. . . . Tirar folgas do atendimento ao [paciente] é uma das coisas mais importantes que você pode fazer para que possa continuar a ajudar alguém”. Será que os cuidadores concordam?

      “Definitivamente sim”, responde Maria, que ajudou a cuidar de uma grande amiga, que morria de câncer. “Periodicamente, eu precisava ‘me libertar’ e providenciar outra pessoa para cuidar dela por algum tempo.” Joana, que cuida de seu marido que sofre de mal de Alzheimer, é da mesma opinião. “Uma de nossas maiores necessidades”, diz ela, “é ter, de vez em quando, uma folga”.

      Mas, como podem eles folgar das pressões de suas responsabilidades? Jennifer, que ajudou a cuidar de seus pais idosos, indica como conseguia alívio: “Uma amiga da família de vez em quando cuidava da minha mãe por um dia, para nos dar uma folga.”

      Uma maneira de dar uma folga ao cuidador é você levar o paciente para dar umas voltas, se isso for prático. Joana diz: “É reanimador quando alguém leva meu marido para um passeio, pois assim posso tirar um tempinho só para mim.” Ou talvez você possa passar algum tempo com o paciente na casa dele. Seja como for, faça o possível para que o cuidador tenha seus indispensáveis momentos de descontração.

      Tenha em mente, no entanto, que nem sempre é fácil para os cuidadores tirarem uma folga. Talvez se sintam culpados de se afastar da pessoa amada. “Não é fácil afastar-se e procurar diversão ou repouso”, admite Hjalmar. “Eu queria estar sempre ao lado dele.” Mas ele encontrou maior paz mental tirando folgas quando a necessidade de atenção ao seu cunhado era mínima. Alguns usam os serviços de instituições de assistência a adultos em necessidade, por algumas horas.

      Fim das doenças

      Certamente, cuidar de um parente gravemente enfermo é uma enorme responsabilidade. Não obstante, pode ser muito gratificante e satisfatório. Pesquisadores, bem como cuidadores, apontam como bom resultado o fortalecimento das relações familiares e com amigos. Os cuidadores, sem exceção, desenvolvem novas qualidades e habilidades. Muitos recebem também benefícios espirituais.

      E, o mais importante, a Bíblia indica que Jeová e seu Filho, Jesus Cristo, são os “cuidadores” mais compassivos. As profecias bíblicas garantem que o fim das doenças, do sofrimento e da morte está próximo. Em breve, o amoroso e prestimoso Criador do homem recompensará os justos da Terra com vida eterna num novo mundo perfeitamente sadio — onde “nenhum residente dirá: ‘Estou doente.’” — Isaías 33:24; Revelação (Apocalipse) 21:4.

      [Nota(s) de rodapé]

      a Alguns nomes neste artigo foram mudados.

      [Destaque na página 11]

      O bem-estar do doente depende diretamente do bem-estar de quem cuida dele

      [Destaque na página 12]

      O apoio de bons amigos contribuirá muito para que não se desista nos momentos mais difíceis

      [Quadro na página 12]

      Cuidar de doentes ou idosos pode ser recompensador

      ‘RECOMPENSADOR?’, há quem talvez se pergunte. ‘Como assim?’ Note o que os seguintes cuidadores disseram à Despertai!:

      “Abrir mão de interesses e desejos pessoais não significa menos felicidade. ‘Há mais felicidade em dar do que há em receber.’ (Atos 20:35) Pode ser muito gratificante cuidar de quem você ama.” — Joana.

      “Sou grato de que pude ajudar minha irmã e meu cunhado numa época de real necessidade — sem esperar retribuição. Ficamos mais achegados. Espero um dia poder usar a experiência que adquiri para ajudar outra pessoa em situação similar.” — Hjalmar.

      “Como eu disse mais de uma vez a minha amiga doente, Berta, eu recebi muito mais do que dei. Aprendi a mostrar empatia e a ser paciente. Vi que é possível manter uma atitude positiva mesmo sob as circunstâncias mais difíceis.” — Elsa.

      “Tornei-me uma pessoa mais forte [espiritualmente]. Vim a entender melhor o que significa depender de Jeová Deus diariamente e vê-lo atender às minhas necessidades.” — Jeanny.

      [Quadro na página 13]

      Ao visitar quem cuida de um doente ou idoso

      • Ouça com empatia

      • Elogie de coração

      • Ofereça ajuda específica

      [Fotos na página 10]

      Ajude os que cuidam de um doente ou idoso fazendo compras ou cozinhando para eles, ou ajudando-os a cuidar do paciente

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