Ajuda ao Entendimento da Bíblia
[Prosseguimos, nesta edição, com a seleção de matéria de Aid to Bible Understanding, Edição de 1971.]
ASSEMBLÉIA. [Continuação].
As Escrituras têm muito que dizer sobre assembléias que edificam a espiritualidade, embora também mencionem assembléias de caráter iníquo ou injusto. Os partidários de Corá são chamados de “toda a sua assembléia”. (Núm. 16:5) Em oração a Jeová, Davi disse que “a própria assembléia dos que são tirânicos tem procurado a minha alma”. (Sal. 86:14) Também, quando o prateiro Demétrio fomentou a oposição contra Paulo, em Éfeso, e se juntou uma multidão, “alguns estavam clamando uma coisa e outros outra; pois a assembléia estava em confusão, e a maioria deles nem sabia a razão por que se tinham reunido”. — Atos 19:24-29, 32.
Tendo considerado os termos bíblicos relacionados a reuniões, podemos proveitosamente examinar mais de perto as assembléias relatadas de modo bíblico. Será observado que, prevalecendo a ordem durante as reuniões do povo de Jeová, tais assembléias eram bem apoiadas, eram ocasiões de benefício espiritual e, com freqüência, eram ocasiões de grande regozijo.
De acordo com a vontade divina, Moisés e Arão reuniram todos os anciãos de Israel no Egito. As palavras de Jeová foram relatadas, realizaram-se sinais e o povo creu. (Êxo. 4:27-31) Depois disso, conforme Deus ordenou, os israelitas se ajuntaram ao sopé do monte Sinai (Horebe), presenciaram emocionante espetáculo e testemunharam quando foi dada a Lei. — Êxo. 19:10-19; Deu. 4:9, 10.
Enquanto os israelitas estavam no deserto, Jeová instruiu Moisés a fazer duas trombetas de prata, a serem tocadas para ajuntar a assembléia e para levantar acampamento. Se ambas fossem tocadas, a inteira assembléia manteria seu encontro com Moisés; se apenas uma fosse tocada, apenas os maiorais estavam sendo assim convocados. No deserto, o lugar especificado de assembléias era “à entrada da tenda de reunião”. (Núm. 10:1-4; Êxo. 29:42) Mais tarde, foi da vontade de Jeová que os israelitas se reunissem regularmente em assembléia no templo de Jerusalém, ajuntando-se ali para as três principais festividades anuais. — Êxo. 34:23, 24; 2 Crô. 6:4-6.
ASSEMBLÉIAS REPRESENTATIVAS
Às vezes, o povo de Israel era representado nos ajuntamentos pelos “maiorais da assembléia” (Êxo. 16:22; Num. 4:34; 31:13; 32:2; Jos. 9:15, 18; 22:30), ou “anciãos”. (Êxo. 12:21; 17:5; 24:1) Quando assuntos judiciais exigiam atenção, várias pessoas talvez se reunissem no portão da cidade. No entanto, quer se reunissem ali quer em outra parte, nem todos votavam, no caso em pauta, duma forma democrática. Ao invés, anciãos respeitados, teocraticamente, pesavam os assuntos à luz da lei de Deus e então anunciavam sua decisão. (Deu. 16:18; 17:8-13) Similarmente, a congregação cristã primitiva era representada em tais assuntos por aqueles que foram colocados em posições de responsabilidade pelo espírito santo. (Atos 20:28) Em Israel, se o erro exigia a sentença de morte, a inteira assembléia talvez a executasse. — Lev. 24:14; Núm. 15:32-36; Deu. 21:18-21.
ASSEMBLÉIAS GERAIS
As ocasiões de assembléia geral em Israel incluíam as festividades religiosas e as assembléias solenes (2 Crô. 34:29, 30; Joel 2:15), ou eventos de grande significado nacional, correios às vezes convocando o povo. (1 Sam. 10:17-19; 2 Crô. 30:6, 13) O sábado semanal, dia de “completo repouso, um santo congresso” (Lev. 23:3), era tempo para se considerar a Palavra de Deus, como nas sinagogas posteriores em que ‘Moisés era lido em voz alta cada sábado’. (Atos 15:21) Havia também a observância da lua nova (Núm. 28:11-15; Eze. 46:1), a festividade das trombetas (Núm. 29:1-6), o dia anual de expiação (Lev., cap. 16), a páscoa (comemorando a libertação de Israel do Egito; Êxo. 12:14), e, mais tarde, a festividade de Purim (comemorando a libertação dos judeus da aniquilação ameaçada, no Império Persa; Est. 9:20-24) e a festividade da Dedicação (em recordação da rededicação do templo, em 25 de quisleu de 165 A.E.C.; João 10:22, 23). Adicionalmente, havia três, anuais, “festividades periódicas de Jeová”: a festividade dos pães não fermentados, a festividade das semanas (mais tarde chamada Pentecostes), e a festividade das barracas (Lev., cap. 23), festividades a respeito das quais Deus decretou: “Três vezes por ano, todo macho teu comparecerá perante a face do verdadeiro Senhor Jeová.” (Êxo. 23:14-17) Reconhecendo o alto valor espiritual destas festividades, muitos homens se certificavam de que toda a sua família comparecesse a elas. (Luc. 2:41-45) Também, Moisés declarou expressamente que, a cada sete anos, durante a festividade das barracas, os homens, as mulheres, as crianças e os residentes estrangeiros de Israel deveriam congregar-se no lugar que Jeová escolhesse, “para que escutem e para que aprendam, visto que têm de temer a Jeová, vosso Deus, e cuidar em cumprir todas as palavras desta lei”. (Deu. 31:10-12) Por isso, fazia-se provisão para que os israelitas se reunissem com muita freqüência para considerar a palavra e os propósitos de Jeová. — Veja FESTIVIDADE.
Depois de ficar pronto o templo, Salomão ajuntou uma grandiosa assembléia em Jerusalém, relacionada à dedicação daquela esplêndida estrutura religiosa. Essa assembléia durou muitos dias, e, quando as pessoas foram mandadas de volta para casa, estavam ‘alegres e sentindo-se bem de coração pela bondade que Jeová havia feito a Davi e a Salomão, bem como a Israel, seu povo’. — 2 Crô. 5:1 a 7:10.
Sem dúvida, as multidões ajuntadas no templo, durante as festividades anuais, sentiam grande deleite e proveito espiritual, como na celebração da páscoa, no tempo do rei Ezequias, quando “veio a haver grande alegria em Jerusalém”. (2 Crô. 30:26) Nos dias de Neemias, convocou-se uma assembléia que resultou ser uma ocasião de “muitíssima alegria”. (Nee. 8:17) Ao povo ajuntado em assembléia em Jerusalém, Esdras leu o livro da lei de Moisés, fazendo-o perante “todos os suficientemente inteligentes para escutar”, e ficaram atentos. (Nee. 8:2, 3) Como resultado da instrução então transmitida por Esdras e outros levitas, todo o povo se regozijou, “porque tinham entendido as palavras que se lhes deram a conhecer”. (Nee. 8:12) Depois disso, comemoraram a festividade das barracas, e, no oitavo dia, “houve uma assembléia solene, segundo a regra”. — Nee. 8:18; Lev. 23:33-36.
SURGEM AS SINAGOGAS COMO LOCAIS DE ASSEMBLÉIA
Enquanto os judeus eram exilados em Babilônia, ou pouco depois disso, vieram a ser usadas sinagogas ou prédios, que eram locais judeus de assembléia. Por fim, elas foram estabelecidas em vários lugares, as cidades grandes possuindo mais do que uma. Primariamente, as sinagogas eram escolas em que as Escrituras eram lidas e ensinadas. Eram também locais de oração e de se dar louvor a Deus. Era costumeiro, da parte de Jesus Cristo e de seus discípulos, ir a elas para instruir e encorajar as pessoas presentes. (Mat. 4:23; Luc. 4:16; Atos 13:14, 15; 17:1, 2; 18:4) Por serem lidas regularmente as Escrituras nas sinagogas, Tiago pôde afirmar ao corpo governante cristão em Jerusalém: “Desde os tempos antigos, Moisés tem tido em cidade após cidade os que o pregam, porque ele está sendo lido em voz alta nas sinagogas, cada sábado.” (Atos 15:21) As modalidades básicas de adoração na sinagoga foram repassadas aos locais cristãos de assembléia (embora não com os acréscimos ritualísticos que surgiram com o tempo), onde se podia achar a leitura e exposição bíblica, incentivo, louvores a Deus e oração. — 1 Cor. 14:26-33, 40; Col. 4:16; veja SINAGOGA.
ASSEMBLÉIAS CRISTÃS
Em várias ocasiões, grandes multidões se reuniam perante Jesus Cristo, obtendo muitos benefícios, como no caso do Sermão do Monte. (Mat. 5:1 a 7:29) Ao passo que não eram assembléias especialmente programadas, às vezes duravam o tempo bastante para que fosse necessário alimentar as multidões congregadas, circunstância que Jesus enfrentou com a multiplicação miraculosa de alimento. (Mat. 14:14-21; 15:29-38) Amiúde, Cristo reunia seus discípulos e lhes dava instrução espiritual, e, depois de sua morte, os seguidores dele se reuniam, como no dia de Pentecostes de 33 E.C., quando o espírito santo foi concedido a tais pessoas reunidas em assembléia. — Atos 2:1-4.
Era costume dos cristãos primitivos ajuntar-se, em geral em pequenos grupos. No entanto, às vezes, em suas reuniões, “considerável multidão” se congregava. (Atos 11:26) Tiago, meio-irmão de Jesus, achou apropriado dar conselhos aos israelitas espirituais da congregação cristã sobre o mostrar favoritismo para com os ricos em sua “assembléia pública” (Gr., synagogé). — Tia. 2:1-9.
IMPORTÂNCIA DE REUNIR-SE
A importância de se tirar pleno proveito das provisões de Jeová para reunir-se em assembléia a fim de obter benefícios espirituais é sublinhada em relação com a observância anual da páscoa. Qualquer varão que estivesse limpo e não estivesse de viagem, mas deixasse de guardar a páscoa, deveria ser extirpado na morte. (Núm. 9:9-14) Quando o Rei Ezequias convocou os habitantes de Judá e Israel para Jerusalém, para uma celebração pascal, sua mensagem foi, em parte: “Filhos de Israel, voltai a Jeová, . . . não endureçais a vossa cerviz, assim como fizeram os vossos antepassados. Dai lugar a Jeová e vinde ao seu santuário que ele santificou por tempo indefinido, e servi a Jeová, vosso Deus, para que sua ira ardente recue de vós. . . . Jeová, vosso Deus, é clemente e misericordioso, e não desviará de vós a sua face se voltardes a ele.” (2 Crô. 30:6-9) Deixar premeditadamente de comparecer ali certamente indicaria ter abandonado a Deus. E, ao passo que tais festividades, como a Páscoa, não são observadas pelos cristãos, Paulo instou apropriadamente com eles a que não abandonassem as assembléias regulares do povo de Deus, declarando: “Consideremo-nos uns aos outros para nos estimularmos ao amor e a obras excelentes, não deixando de nos ajuntar, como é costume de alguns, mas encorajando-nos uns aos outros, e tanto mais quanto vedes chegar o dia.” — Heb. 10:24, 25; veja CONGREGAÇÃO.
ASSÍRIA. O nome se aplicava ao país que antigamente ocupava a extremidade norte da planície mesopotâmica, ou a seção do extremo norte do que é atualmente o moderno país do Iraque. Basicamente, situava-se num triângulo formado pelos rios Tigre e Pequeno Zab, tais rios constituindo, em geral, seus limites ocidental e sul, ao passo que os montes da antiga Armênia formavam o limite norte, e a cadeia montanhosa do Zagros e a terra da Média eram a fronteira oriental. Deve-se notar, contudo, que tais limites eram bem fluidos, a Assíria se espalhando ao Sul do Pequeno Zab quando a Babilônia se debilitou, mas recuando quando a sorte política assíria estava má e a de Babilônia estava em ascendência. Tal flutuação era verdadeira quanto às demais fronteiras e, especialmente a do Tigre, visto que a Assíria estendia inicialmente sua influência a Oeste daquele rio. O Império Assírio, naturalmente, veio a abranger uma área muito maior.
Havia contínua relação íntima entre a Assíria e a Babilônia, em toda a sua história. Eram estados vizinhos que ocupavam conjuntamente uma região sem nenhuma divisão natural genuína que servisse de fronteira entre seus territórios. A região da Assíria mesma, contudo, era principalmente uma área de altiplanos, em geral de terrenos escarpados e com um clima mais revigorante do que o de Babilônia. O povo parecia ser mais ativo e agressivo do que os babilônios. E representado em relevos esculpidos como tendo físico forte, tez escura, com sobrancelhas e barba cerradas, e nariz saliente.
A cidade de Assur, a única cidade da Assíria mesma localizada a Oeste do Tigre, é considerada como tendo sido a capital original da região. Posteriormente, contudo, Nínive tornou-se sua capital mais destacada, ao passo que tanto Calá como Corsabade foram usadas em certas ocasiões como capitais pelos monarcas assírios. Uma rota comercial para o Mediterrâneo e a Ásia Menor seguia ao longo da parte norte da Assíria, e outras rotas se ramificavam até a Armênia e a região do lago Urmia. Grande parte das guerras da Assíria visava obter ou manter o controle sobre tais rotas comerciais.
MILITARISMO
A Assíria era, essencialmente, uma potência militar e o quadro histórico deixado por seus feitos é um quadro de grande crueldade e cupidez. Um dos seus monarcas guerreiros, Assurnazirpal, descreve da seguinte forma a punição que deu a uma cidade rebelde:
“Construí um pilar em frente da sua porta da cidade e esfolei a pele de todos os chefes que se haviam revoltado, e recobri o pilar com sua pele. A alguns emparedei dentro do pilar, a alguns empalei em estacas sobre o pilar, . . . E cortei os membros dos oficiais, dos oficiais reais que se haviam rebelado. . . .
“A muitos cativos dentre eles, queimei no fogo, e a muitos levei como cativos vivos. De alguns decepei o nariz, as orelhas e os dedos, de muitos arranquei os olhos. Fiz uma coluna dos vivos e outra de cabeças, e prendi suas cabeças aos troncos das árvores em torno da cidade. Queimei no fogo os seus rapazes e moças.
“Capturei vivos a vinte homens e emparedei-os no muro do seu palácio . . .
“Ao resto dos seus guerreiros consumi pela sede no deserto do Eufrates. . . .”
Os relevos amiúde mostram seus cativos sendo conduzidos por cordas atadas a anzóis que traspassavam o nariz ou os lábios, ou com os olhos sendo arrancados à ponta de lança. Assim, a tortura sádica era modalidade freqüente da guerra Assíria, a respeito da qual se jactavam desavergonhadamente e que registravam com cuidado. O conhecimento sobre sua crueldade sem dúvida lhes propiciava uma vantagem militar, assolando de terror o coração daqueles que estavam em sua linha de ataque, e não raro fazendo com que sucumbisse a resistência. A Assíria foi aptamente descrita pelo profeta Naum como “guarida dos leões” e sua capital, Nínive, como a “cidade de derramamento de sangue”. — Naum 2:11, 12; 3:1.
RELIGIÃO ASSÍRIA
A religião Assíria foi principalmente herdada de Babilônia, e, embora seu próprio deus nacional, Assur, fosse visto como supremo pelos assírios, a Babilônia continuava a ser vista por eles como o principal centro religioso. O rei assírio servia como sumo sacerdote de Assur. Um selo, encontrado por A. H. Layard nas ruínas dum palácio assírio, e agora preservado no Museu Britânico, representa o deus Assur com três cabeças. A crença em tríades de deuses era destacada na adoração Assíria, bem como a de um grupo de cinco deuses. A principal tríade era formada por Aner, representando o céu; Bel, representando a região habitada pelo homem, pelos animais e aves; e Ea, representando as águas terrestres e subterrâneas. Uma segunda tríade compunha-se de Sin, a lua; Xamaxe, o sol; e Ramã, deus da tempestade, embora seu lugar fosse amiúde ocupado por Istar, a rainha das estrelas, simbolizada pela lua em crescente. (Compare com 2 Reis 23:5, 11.) Daí, seguiam-se os cinco deuses, representando cinco planetas. Comentando sobre os deuses que formavam os grupos trinitários, Unger’s Bible Dictionary (Dicionário Bíblico de Unger; p. 102) declara: “Tais deuses são invocados, às vezes separadamente, em frases que parecem erguer cada um, por sua vez, a uma posição de supremacia sobre os demais.” Seu panteão, contudo, incluía inumeráveis outras deidades menores, muitas servindo como padroeiras de cidades. Nisroque é mencionado como sendo adorado por Senaqueribe no momento em que foi assassinado. — Isa. 37:37, 38.
A religião praticada em conexão com tais deuses era animista, isto é, os assírios criam que todo objeto e fenômeno natural fosse animado por um espírito. Era um tanto diferente de outra adoração da natureza prevalecente nas nações circunvizinhas, no sentido de que a guerra era a expressão mais genuína da religião nacional. Assim, Tiglate-Pileser I disse sobre sua luta: “Meu Senhor, Assur, instou comigo”; ao passo que, em seus anais, Assurbanipal afirma: “Por ordem de Assur, Sin, Xamaxe, Ramã, Bel, Nabu, Istar de Nínive, Ninibe, Nergal e Nuscu, entrei na terra de Mannai e marchei vitoriosamente através dela.” Sargão invocava regularmente a ajuda de Istar antes de ir à guerra. Os exércitos marchavam atrás dos estandartes dos deuses, aparentemente símbolos de metal ou de madeira sobre varas. Atribuía-se grande importância aos presságios, verificados pelo exame de fígados de animais sacrificados, pelo vôo das aves, ou pela posição dos planetas. O livro Ancient Cities (Cidades Antigas), de W. B. Wright (p. 25), declara: “Lutar era o negócio daquela nação, e os sacerdotes eram fomentadores incessantes da guerra. Eram sustentados principalmente pelos despojos da conquista, dos quais uma porcentagem fixa era invariavelmente destinada a eles, antes de outros partilharem deles, pois esta raça de saqueadores era excessivamente religiosa.”
[Continua]
[Foto na página 23]
Escultura, que mostra o tratamento cruel ministrado aos cativos, encontrada em Corsabade.