Ajuda ao Entendimento da Bíblia
[Matéria selecionada de Aid to Bible Understanding, Edição de 1971.]
ARREPENDIMENTO. A palavra portuguesa “arrepender-se” tem o sentido de “mudar de atitude com respeito a uma ação ou conduta passada (ou tencionada), etc., por causa de se sentir lástima ou dessatisfação” ou “sentir lástima, contrição, ou compunção pelo que a pessoa fez ou deixou de fazer”. Em muitos textos, esta é a idéia do hebraico nahhám. Nahhám pode significar “deplorar (sentir lástima), prantear, arrepender-se” (Êxo. 13:17; Gên. 38:12; Jó 42:6), embora, com igual freqüência, signifique “consolar-se” (Gên. 5:29; 37:35; 50:21), “aliviar-se ou livrar-se (como de inimigos da pessoa)”. (Isa. 1:24) Quer se sinta lástima ou consolo, pode-se depreender que está envolvida a mudança de idéia e/ou de sentimento.
Em grego, usam-se dois verbos em conexão com o arrependimento: metanoéo e metamélomai. O primeiro compõe-se de metá, “depois”, e de noéo (relacionado a nous, a mente, disposição ou consciência moral), significando “perceber, notar, captar, reconhecer ou entender”. Por isso, metanoéo literalmente significa conhecimento posterior (em contraste com previsão, ou conhecimento anterior) e significa a mudança da idéia, atitude ou propósito da pessoa. Metamélomai, por outro lado, provém de mélo, que significa “cuidar de ou ter interesse em”. O prefixo metá (“depois”) fornece ao verbo o sentido de ‘deplorar’ (Mat. 21:30; 2 Cor. 7:8), ou ‘arrepender-se’.
Assim, metanoéo sublinha o ponto de vista ou a disposição mudada, a rejeição do proceder ou da ação passada como sendo indesejável (Rev. 2:5; 3:3), ao passo que metamélomai dá ênfase ao sentimento de lástima por parte da pessoa. (Mat. 21:30) Como comenta o Theological Dictionary of the New Testament (Dicionário Teológico do Novo Testamento, Vol. IV, p. 629): “Quando, portanto, o N[ovo] T[estamento] separa os significados [destes termos], revela clara consciência da substância imutável de ambos os conceitos. Em contraste, o uso helenístico amiúde acabou com o limite entre as duas palavras.” Comentando sobre as formas substantivas (p. 628), afirma: “Junto com (colocar caracteres gregos)” [metánoia], a mudança de vontade, acha-se (colocar caracteres gregos) os [metámelos; ou, metaméleia], remorso, mediante o qual o homem sofre a dor da auto-acusação.”
Naturalmente, um ponto de vista mudado amiúde traz consigo um sentimento alterado, ou a sensação de lástima talvez preceda e conduza a uma mudança definida de ponto de vista ou de arbítrio. (1 Sam. 24:5-7) Assim os dois termos, embora tendo significados distintos, estão intimamente relacionados.
ARREPENDIMENTO HUMANO DE PECADOS
O que torna necessário o arrependimento é o pecado, deixar de satisfazer os justos requisitos de Deus. (1 João 5:17) Visto que todo o gênero humano foi vendido ao pecado por Adão, todos os descendentes dele precisam arrepender-se. (Sal. 51:5; Rom. 3:23; 5:12) Conforme indicado sob o verbete RECONCILIAÇÃO, o arrependimento (seguido pela conversão) é um pré-requisito para que o homem seja reconciliado com Deus.
O arrependimento talvez se dê quanto ao inteiro proceder da pessoa, proceder este que tem sido contrário ao propósito e à vontade de Deus e que, ao invés, tem-se harmonizado com o mundo sob o controle do adversário de Deus. (1 Ped. 4:3; 1 João 2:15-17; 5:19) Ou talvez se refira a determinado aspecto da vida da pessoa, a uma prática errada que manche e macule um proceder de outro modo aceitável; poderá referir-se a apenas um ato errado ou até mesmo a uma tendência, inclinação ou atitude errada. (Sal. 141:3, 4; Pro. 6:16-19; Tia. 2:9; 4:13-17; 1 João 2:1) Por conseguinte, o âmbito das falhas poderá ser mui amplo, ou bem específico.
Similarmente, a extensão em que a pessoa se desvia da justiça poderá ser grande ou pequena, e o grau de lástima será, logicamente, comensurável ao grau do desvio. Os israelitas “se revoltaram profundamente” contra Jeová, e estavam “apodrecendo” em suas transgressões. (Isa. 31:6; 64:5, 6; Eze. 33:10) Por outro lado, o apóstolo Paulo fala do ‘homem que dá um passo em falso antes de se aperceber disso’, e aconselha os que possuem qualificações espirituais a ‘tentarem reajustar tal homem num espírito de brandura’. (Gál. 6:1, Tradução do Novo Mundo, Ed. 1971, em inglês; Visto que Jeová considera de forma misericordiosa a fraqueza carnal de seus servos, eles não precisam ficar num estado constante de remorso, devido aos erros que resultam da imperfeição herdada. (Sal. 103:8-14; 130:3) Se estiverem andando conscienciosamente nos modos de Deus, podem sentir-se alegres. — Fil. 4:4-6; 1 João 3:19-22.
O arrependimento poderá dar-se por parte daqueles que já gozaram dum relacionamento favorável com Deus mas que se desviaram e sofreram a perda do favor e da bênção de Deus. (1 Ped. 2:25) Israel esteve em pacto com Deus; eram “povo santo”, escolhido dentre todas as nações (Deu. 17:6; Êxo. 19:5, 6); os cristãos também vieram a ocupar uma posição justa perante Deus, por meio do novo pacto mediado por Cristo. (1 Cor. 11:25; 1 Ped. 2:9, 10) No caso de tais pessoas que se desviaram, o arrependimento conduziu à restauração de sua relação correta com Deus, e aos benefícios e bênçãos conseqüentes de tal relação. (Jer. 15:19-21; Tia. 4:8-10) Para os que antes não usufruíam tal relação com Deus, tais como os povos pagãos das nações não-israelitas, durante o tempo em que vigorava o pacto de Deus com Israel (Efé. 2:11, 12), e também as pessoas de qualquer raça ou nacionalidade que estão fora da congregação cristã, o arrependimento é um passo primário e essencial para poderem adquirir uma posição correta perante Deus, tendo em vista a vida eterna. — Atos 11:18; 17:30; 20:21.
O arrependimento pode dar-se em base coletiva, bem como individual. Assim, a pregação de Jonas provocou o arrependimento da inteira cidade de Nínive, desde o rei até “o menor deles”, pois, aos olhos de Deus, todos eram partícipes do erro. (Jon. 3:5-9; compare com Jeremias 18:7, 8.) A inteira congregação de israelitas que retornaram, às instâncias de Esdras reconheceram a culpa comunal perante Deus, expressando o arrependimento através de seus representantes principescos. (Esd. 10:7-14, compare com 2 Crônicas 29:1, 10; 30:1-15; 31:1, 2) A congregação em Corinto expressou arrependimento por ter tolerado, em seu meio, um praticante de crasso erro. (Compare com 2 Coríntios 7:8-11; 1 Coríntios 5:1-5.) Até mesmo os profetas Jeremias e Daniel não se isentaram por completo de culpa, ao confessarem os erros de Judá, que levaram à sua derrubada. — Lam. 3:40-42; Dan. 9:4, 5.
O que exige o verdadeiro arrependimento
O arrependimento envolve tanto a mente como o coração. O erro do proceder ou ação tem de ser reconhecido, e isto exige uma admissão de que as normas e a vontade de Deus são justas. A ignorância (ou o despercebimento) de sua vontade e suas normas constitui uma barreira para o arrependimento. (2 Reis 22:10, 11, 18, 19; Jon. 1:1, 2; 4:11; Rom. 10:2, 3) Por esta razão, Jeová misericordiosamente enviou profetas e pregadores, concitando as pessoas ao arrependimento. (Jer. 7:13; 25:4-6; Mar. 1:14, 15; 6:12; Luc. 24:27) Por meio da divulgação das boas novas através da congregação cristã, e mormente a partir da conversão de Cornélio Deus “está dizendo à humanidade que todos, em toda a parte, se arrependam”. (Atos 17:22, 23, 29-31; 13:38, 39) A Palavra de Deus — escrita ou falada — é o meio de ‘persuadi-los’, convencendo-os da correção do modo de Deus e do erro de seus próprios modos de agir. (Compare com Lucas 16:30, 31; 1 Coríntios 14:24, 25; Hebreus 4:12, 13.) A lei de Deus é “perfeita fazendo retornar a alma”. — Sal. 19:7.
O rei Davi menciona ‘ensinar aos transgressores os caminhos de Deus, de modo que possam retornar a ele’ (Sal. 51:13), tais pecadores, sem dúvida, sendo co-israelitas. Instruiu-se a Timóteo que não contendesse ao lidar com cristãos nas congregações às quais servia, mas que ‘instruísse com brandura os que não estivessem favoravelmente dispostos’, visto que Deus talvez lhes desse o “arrependimento conduzindo a um conhecimento exato da verdade e eles voltem ao seu próprio juízo, saindo do laço do Diabo”. (2 Tim. 2:23-26) Por isso, o convite ao arrependimento poderá ser feito dentro da congregação do povo de Deus, bem como fora dela.
A pessoa tem de reconhecer que pecou contra Deus. (Sal. 51:3, 4; Jer. 3:25) Isto pode ser mui evidente no caso de blasfêmia direta ou declarada, do emprego vocal errado do nome de Deus, ou da adoração de outros deuses, como pelo uso de imagens de ídolos. (Êxo. 20:2-7) Mas, mesmo no que se poderia considerar um “assunto particular”, ou algo entre a própria pessoa e outro humano, é preciso reconhecer os erros cometidos como pecados contra Deus, o tratamento desrespeitoso de Jeová. (Compare com 2 Samuel 12:7-14; Salmo 51:4; Lucas 15:21.) Mesmo os erros cometidos em ignorância ou por engano devem ser reconhecidos como tornando a pessoa culpada perante o Regente Soberano, Jeová Deus. — Compare com Levítico 5:17-19; Salmo 51:5, 6; 119:67; 1 Timóteo 1:13-16.
O trabalho dos profetas era, mormente, o de convencer Israel de seu pecado (Isa. 58:1, 2; Miq. 3:8-11), quer fosse o de idolatria (Eze. 14:6), injustiça e opressão de seu próximo (Jer. 34:14-16; Isa. 1:16, 17), imoralidade (Jer. 5:7-9), ou o de deixar de confiar em Jeová Deus, mas ao invés, confiar em homens e no poderio militar das nações. (1 Sam. 12:19-21; Jer. 2:35-37; Osé. 12:6; 14:1-3) A mensagem de João Batista, e a de Jesus Cristo, eram brados ao arrependimento por parte dos judeus. (Mat. 3:1, 2, 7, 8) João e Jesus despojaram do povo e dos seus líderes religiosos o manto da auto-justiça e da observância de tradições humanas e da hipocrisia, expondo o estado pecaminoso deles. — Luc. 3:7, 8; Mat. 15:1-9; 23:1-39; João 8:31-47; 9:40, 41.
Obter o sentido com o coração
Para haver arrependimento então, precisa haver inicialmente uma audição e visão com entendimento, graças a um coração receptivo. (Compare com Isaías 6:9, 10; Mateus 13:13-15; Atos 28:26, 27.) A mente não só capta e discerne o que o ouvido ouve e o olho vê, mas, o que é mais importante, os que se arrependem ‘entendem [”o pensamento”, João 12:40] com os corações’. (Mat. 13:15; Atos 28:27) Por conseguinte não existe apenas o reconhecimento intelectual do erro de seus modos de agir, mas a aceitação de coração deste fato. No caso dos que já têm conhecimento de Deus, talvez seja o caso de ‘recordarem no seu coração’ tal conhecimento dele e seus mandamentos (Deu. 4:39; compare com Provérbios 24:32, Isaías 44:18-20), de modo que possam ‘voltar ao seu juízo’. (1 Reis 8:47) Com a correta motivação de coração, podem ‘reformar a sua mente, provando a si mesmos a boa, aceitável e perfeita vontade de Deus’. — Rom. 12:2.
Havendo fé em Deus e amor por ele no coração da pessoa, haverá sincera lástima, tristeza devida ao proceder errado. O apreço pela bondade e grandeza de Deus fará com que os transgressores sintam vivido remorso por terem trazido vitupério sobre Seu nome. (Coteje com Jó 42:1-6.) O amor ao próximo fará também que lamentem o dano causado a outros, o mau exemplo dado, talvez a forma como mancharam a reputação do povo de Deus entre as pessoas de fora. Procuram o perdão porque desejam honrar o nome de Deus e trabalhar para o bem de seu próximo. (1 Reis 8:33, 34; Sal. 25:7-11; 51:11-15; Dan. 9:18, 19) Penitentemente, sentem-se com o “coração quebrantado”, “quebrantados e humildes no espírito”. (Sal. 34:18; 51:17; Isa. 57:15), sentem-se ‘contritos no espírito e tremendo da palavra’ de Deus (Isa. 66:2) clamando a favor do arrependimento, e, com efeito, vêm “trêmulos a Jeová e à sua bondade”. (Osé. 3:5) Quando Davi agiu tolamente na questão do recenseamento, seu ‘coração começou a bater nele’. — 2 Sam. 24:10.
Por conseguinte, precisa haver a rejeição definida do proceder ruim, um ódio de coração a este, a repugnância por este. (Sal. 97:10; 101:3; 119:104; Rom. 12:9; confronte com Hebreus 1:9; Judas 23.) Pois “o temor de Jeová significa odiar o mal”, inclusive a exaltação de si, o orgulho, o modo ruim de agir e a boca perversa. (Pro. 8:13; 4:24) Junto com isto, precisa haver o amor à justiça e a firme determinação de se aderir dali em diante a um proceder reto. Sem tanto este ódio ao mal como o amor à justiça, não haverá força genuína para o arrependimento nem se seguirá a verdadeira conversão. Assim o rei Roboão humilhou-se sob a expressão do furor de Jeová, mas, depois disso, Roboão “fez o que era mau, pois não fixara firmemente seu coração em buscar a Jeová”. — 2 Crô. 12:12-14; compare com Oséias 6:46.
Tristeza de modo piedoso, não a do munndo
O apóstolo Paulo, em sua segunda carta aos Coríntios, refere-se à “tristeza de modo piedoso” que expressaram como resultado da repreensão que ele lhes deu na sua primeira carta. (2 Cor. 7:8-13) Ele ‘deplorara’ (metamélomai) ter de escrever-lhes tão firmemente e lhes causar dor mas deixou de sentir qualquer lástima ao ver que a tristeza que sua censura produziu foi da espécie piedosa, levando ao sincero arrependimento (metánoia) da atitude e proceder errados deles. Ele sabia que a dor que lhes causara operava para o bem deles e não lhes causaria ‘nenhum dano’. A tristeza que levava ao arrependimento não era algo que eles tampouco deveriam deplorar, pois os manteve no caminho da salvação, salvando-os do desvio ou apostasia, e dando-lhes esperança de vida eterna. Ele contrasta esta tristeza com “a tristeza do mundo [que] produz a morte”. Esta não provém da fé e do amor a Deus e à justiça. A tristeza do mundo, resultante do fracasso, do desapontamento, da perda, da punição pelo erro, e da vergonha (coteje com Provérbios 5:3-14, 22, 23; 25:8-10), amiúde é acompanhada, ou produz a amargura, o ressentimento, a inveja, e não leva a nenhum benefício duradouro, a nenhuma melhora, a nenhuma esperança genuína. (Confronte com Provérbios 1:24-32; 1 Tessalonicenses 4:13, 14.) A tristeza mundana lamenta as conseqüências desagradáveis do pecado, mas não o próprio pecado e o vitupério que constitui para com Deus. — Isa. 65:13-15; Jer. 6:13-15, 22-26; Rev. 18:9-11, 15, 17-19, contraste com Ezequiel 9:4.
O caso de Caim ilustra isto, sendo ele o primeiro que Deus concitou ao arrependimento. Caim foi divinamente avisado a que ‘se voltasse para fazer o bem’, de modo que o pecado não triunfasse sobre ele. Ao invés de arrepender-se de seu ódio homicida, ele permitiu que este o motivasse a matar seu irmão. Interrogado por Deus, forneceu uma resposta sinuosa, e somente quando foi-lhe declarada a sentença é que expressou alguma lástima — lástima quanto à severidade da punição, e não quanto ao erro cometido. (Gên. 4:5-14) Ele, assim, mostrou que “se originou do iníquo”. — 1 João 3:12.
Esaú também expressou tristeza mundana, ao saber que seu irmão, Jacó recebera a bênção do primogênito (direito que Esaú vendera insensivelmente a Jacó). (Gên. 25:29-34) Esaú bradou “de maneira extremamente alta e amargurada”, com lágrimas, buscando o “arrependimento” (metánoia) — não o seu próprio, mas uma “mudança de idéia” por parte de seu pai. (Gên. 27:34; Heb. 12:17, Tradução Interlinear do Reino das Escrituras Gregas, em grego-inglês) Deplorou a perda, não a atitude materialista que o fez ‘desprezar a primogenitura’. — Gên. 25:34.
Judas, depois de ter traído a Jesus, “sentiu remorso [metamélomai]”, tentou devolver a peita que havia barganhado, e, depois disso, cometeu suicídio por se enforcar. (Mat. 27:3-5) A enormidade do seu crime evidentemente o sobrepujou e, provavelmente, a certeza horrível do julgamento divino contra ele. (Coteje com Hebreus 10:26, 27, 31; Tiago 2:19.) Sentiu o remorso (metámelos ou metaméleia) da culpa do desengano, até do desespero, mas não existe nada que indique que expressou a tristeza piedosa que leva ao arrependimento (metánoia). Ele procurou, não a Deus, mas aos líderes judeus para confessar seu pecado a eles, devolvendo o dinheiro, evidentemente com a idéia errada de que poderia, desta forma, desfazer em certa medida o seu crime. (Compare com Tiago 5:3, 4; Ezequiel 7:19.) Adicionou, ao crime de traição e de contribuir para a morte dum homem inocente, o de matar a si mesmo. Seu proceder se realça em nítido contraste com o de Pedro, cujo choro amargo, depois de ter negado ao Senhor, provinha dum coração quebrantado e levou à sua restauração. — Mat. 26:75, coteje com Lucas 22:31, 32.
A lástima, o remorso e as lágrimas, então, não são uma medida segura do genuíno arrependimento; a motivação de coração é determinante. Oséias expressa a denúncia de Jeová contra Israel, pois, em sua aflição “não clamaram a [Ele] por socorro de seu coração, embora continuassem uivando sobre as suas camas. Estavam vadiando por causa do seu cereal e do seu vinho doce . . . E passaram a retornar, não a algo mais elevado . . .” Seus uivos por alívio no tempo da calamidade tinha motivação egoísta e, se lhes fosse concedido alívio, não usariam a oportunidade para aprimorar sua relação com Deus, por meio da aderência mais de perto às Suas altas normas (compare com Isaías 55:8-11); eram como um “arco frouxo” que jamais atinge o alvo. (Osé. 7:14-16, coteje com Salmo 78:57; Tiago 4:3.) O jejum, o pranto e a lamentação eram apropriados — mas apenas se os arrependidos ‘rasgassem os seus corações’ e não simplesmente suas vestes. — Joel 2:12, 13 veja JEJUM; PRANTO.
Confissão do erro
A pessoa arrependida, então, humilha-se e busca a face de Deus (2 Crô. 7:13, 14; 33:10-13; Tia. 4:6-10), suplicando seu perdão. (Mat. 6:12) Não é como o fariseu auto-justo, da ilustração de Jesus, mas como o cobrador de impostos a quem Jesus representou como batendo no peito e dizendo: “Ó Deus, sê clemente para comigo pecador.” (Luc. 18:9-14) Declara o apóstolo João: “Se fizermos a declaração: ‘Não temos pecado’, estamos desencaminhando a nós mesmos e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar e para nos purificar de toda a injustiça.” (1 João 1:8, 9) “Quem encobre as suas transgressões não será bem sucedido, mas, ter-se-á misericórdia com aquele que as confessa e abandona.” — Pro. 28:13, compare com Salmo 32:3-5; Josué 7:19-26; 1 Timóteo 5:24.
A oração de Daniel, em Daniel 9:15-19, é um modelo de confissão sincera, expressando preocupação primária com o nome de Jeová, e baseando seu apelo ‘não segundo os nossos atos justos . . . mas segundo as tuas muitas misericórdias’. Compare, também, a expressão humilde do filho pródigo. (Luc. 15:17-21) Os sinceramente arrependidos ‘elevam seu coração junto com as palmas das mãos a Deus’, confessando sua transgressão e procurando o perdão. — Lam. 3:40-42.
Confessar os pecados uns aos outros
Tiago aconselha: “Confessai abertamente os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sejais sarados.” (Tia. 5:16) Tal confissão não é porque qualquer humano sirva de “mediador” ou de “ajudador [“Advogado”, Almeida]” para o homem perante Deus visto que apenas Cristo preenche esse papel em virtude de seu sacrifício propiciatório. (1 Tim. 2:5, 6; 1 João 2:1, 2) Os humanos, por si mesmos, não podem realmente corrigir o erro contra Deus, em seu próprio favor ou em favor de outros, não podendo prover a expiação necessária. (Sal. 49:7, 8) Os cristãos, contudo, podem ajudar uns aos outros, e suas orações a favor de seus irmãos, ao passo que não exercem nenhum efeito sobre a aplicação da justiça por parte de Deus (visto que apenas o resgate de Cristo serve para remir pecados), deveras contam perante Deus ao solicitar que Ele preste sua necessária ajuda e dê forças àquele que pecou e que procura auxílio. — Veja ORAÇÃO (A Resposta às Orações).
[Continua]