Ajuda ao Entendimento da Bíblia
[Do compêndio bíblico, Aid to Bible Understanding, Edição de 1971, extraímos a matéria que segue.]
ESDRAS, LIVRO DE. O registro das ordens imperiais para se restaurar a adoração de Jeová entre os judeus, depois da desolação de setenta anos de Jerusalém, e o relato da obra feita, apesar dos obstáculos, a fim de conseguir isto. O propósito do escritor era, evidentemente, mostrar como Jeová cumpriu suas promessas de restaurar Israel do cativeiro em Babilônia e restabelecer a adoração verdadeira em Jerusalém. Ele apegou-se de perto a este propósito, por todo o livro. Esta é, pelo que parece, a razão das omissões do que se deu em certos espaços de tempo, tais como entre os Esdras capítulos 6 e 7 do livro, pois o escritor não tentava fornecer um relato histórico completo sobre as épocas.
ESCRITOR
Esdras, como sacerdote, perito, copista qualificado e homem que tinha “preparado seu coração . . . para ensinar regulamento e justiça em Israel” e para corrigir as coisas que faltavam na adoração de Jeová, conforme executada entre os israelitas repatriados, estava eminentemente apto a escrever o livro que traz seu nome. O poder real, concedido a ele pelo rei da Pérsia, dar-lhe-ia razão e autoridade adicionais para fazer a necessária pesquisa, e seria lógico que tal homem escrevesse um registro deste importante segmento da história de sua nação. (Esd. 7:6, 10, 25, 26) O livro é honesto, portanto, em usar a primeira pessoa para o escritor, desde o capítulo 7, versículo 27, até o capítulo 9. A maioria dos peritos concordam que o livro de Esdras prossegue com o relato histórico do ponto em que Crônicas o deixa, como uma comparação de 2 Crônicas 36:22, 23 e Esdras 1:1-3 demonstrará. Isto, novamente, aponta para Esdras como o escritor. A tradição judaica semelhantemente atribui a autoria a Esdras.
AUTENTICIDADE
O livro de Esdras é incluído no cânon hebraico. Originalmente, estava combinado com Neemias, formando um só rolo. O Talmude segue esta tradição, mas, desde o século dezesseis as Bíblias Hebraicas impressas fazem uma divisão, embora contem os dois livros como um só no número total de livros das Escrituras Hebraicas. A tradução de Matos Soares (católica) usa os títulos de I e II Esdras, seguindo a forma de soletração grega. Comenta, contudo, que o segundo livro também é conhecido como Neemias. Há um livro apócrifo, em grego, chamado Esdras III. É composto de trechos de Segundo Crônicas, Esdras, Neemias e certas lendas populares; também há o livro falsamente chamado Esdras IV.
A maior parte de Esdras foi escrita em hebraico. Mas, considerável porção se acha em aramaico, visto que Esdras copiou dos registros públicos e documentos oficiais. Estes incluem as cópias das cartas enviadas aos reis persas, por parte de oficiais “de além do Rio [Eufrates]”, e as respostas e decretos régios que dão ordens a tais oficiais. Também, Esdras supriu breve história de ligação destes documentos. O aramaico era a linguagem diplomática e a usada no comércio internacional nos dias de Esdras. As partes em aramaico são encontradas nos capítulos 4 a 7. Parte das informações de Esdras foram copiadas dos arquivos judaicos, e esta parte se acha, evidentemente, em hebraico. Tais fatos também fortalecem o argumento da autenticidade do relato de Esdras.
Esdras 7:23-26 registra que o governo persa aprovava a lei de Moisés como tendo aplicação aos judeus, e que os persas, destarte, tiveram parte na restauração da adoração verdadeira. A arqueologia confirma isto. Documentos em papiro foram encontrados, na ilha de Elefantina, no Egito, que datam do século quinto A. E. C. Em um deles, Dario II fornece instruções para a guarda da Páscoa por parte da colônia judaica naquela ilha. As referências de Esdras aos reis persas os colocam em sua ordem exata. Atualmente, a maioria dos peritos aceitam a exatidão do livro; The Westminster Dictionary of the Bible (Dicionário Bíblico de Westminster) afirma francamente que “não existe dúvida quanto à confiabilidade do conteúdo histórico”. O registro do livro é, por conseguinte, fidedigno, e Esdras era um personagem histórico real.
TEMPO E CENÁRIO
O livro de Esdras foi escrito em cerca de 460 A. E. C., junto com os livros de Crônicas. Esdras inicia por relatar o decreto de Ciro para a restauração dos judeus, de Babilônia. Foi no primeiro ano de Ciro que este rei persa expediu uma proclamação de restauração. (Esd. 1:1) Judá e Jerusalém tinham ficado desoladas de habitantes, no outono setentrional de 607 A. E. C., quando os deixados por Nabucodonosor se mudaram para o Egito. O septuagésimo ano da desolação de Jerusalém, o último sábado imposto sobre a terra, terminaria no outono setentrional de 537 A. E. C. O decreto de Ciro deve ter sido expedido em fins de 538 A. E. C., ou no início de 537, por dois motivos. A desolação tinha de durar até terminar o septuagésimo ano, e não se poderia esperar que os israelitas libertos viajassem no inverno setentrional chuvoso, como seria o caso se o decreto tivesse sido feito alguns meses antes. Provavelmente, foi expedido no início da primavera setentrional de 537 A. E. C., a fim de dar aos judeus a oportunidade de viajarem na estação seca, e chegarem a Jerusalém, e armarem o altar no primeiro dia do sétimo mês (tisri) do ano 537 A. E. C., em 28/29 de setembro, segundo o calendário gregoriano. — Esd. 3:2-6.
Após descrever a Páscoa e a festividade dos pães não fermentados, realizadas depois de o templo estar terminado, em 515 A. E. C., Esdras pula o período de tempo subseqüente, até o sétimo ano do reinado de Artaxerxes, rei da Pérsia, 468 A. E. C., quando Esdras pessoalmente entra no quadro. Esdras usa a primeira pessoa desde o capítulo 7, versículo 27, até o capítulo 9, mas muda para a terceira pessoa no capítulo 10, colocando-se em segundo plano, a fim de concentrar-se na atividade dos príncipes, dos sacerdotes e dos levitas, e do resto dos que tinham sido repatriados, em especial lidando com a correção da situação daqueles que se casaram com mulheres estrangeiras.
ESBOÇO DO CONTEÚDO
I. Decreto de Ciro para retorno dos judeus (fins de 538 ou princípio da primavera setentrional de 537 A.E.C.) (Esd. 1:1 a 3:6)
A. 42.360 israelitas, além de 7.337 escravos, junto com 200 cantores, retornam sob Zorobabel, o Tirsata (governador) (Esd. 1:5 a 2:70)
B. Chegam a Judá no sétimo mês (tisri), erguem altar, oferecem sacrifícios (Esd. 3:1-6)
II. Reconstrução do templo (Esd. 3:7 a 6:22)
A. No segundo ano lança-se alicerce do templo (Esd. 3:7-13)
B. Durante anos, adversários desanimam construtores do templo; em 522 A. E. C., têm êxito em recorrer a “Artaxerxes”, obtendo decreto para parar construção do templo, até segundo ano de Dario I (Histaspes), 520/519 A. E. C. (Esd. 4:1-24)
C. Ageu e Zacarias estimulam Zorobabel e Jesua ao trabalho de reconstrução (Esd. 5:1, 2)
D. Oficiais de “além do Rio” questionam autoridade dos construtores, que continuam seu trabalho (Esd. 5:3-17)
1. Investigação feita por Dario I dos registros depositados em Babilônia e Ecbátana (Esd. 6:1, 2)
2. Dario I, referindo-se ao decreto original de Ciro, expede ordem, por escrito, de que a obra de reconstrução prossiga, sem impedimentos (Esd. 6:2-14)
E. Concluída a construção do templo no terceiro dia do décimo segundo mês (adar) do sexto ano de Dario I (515 A. E. C.); templo reconstruído é inaugurado; páscoa e festividade dos pães não-fermentados são realizadas (Esd. 6:15-22)
III. Em 468 A.E.C., Artaxerxes concede permissão a Esdras, por escrito, para ir a Jerusalém; chegada em Jerusalém (Esd. 7:1 a 8:36)
A. Carta de Artaxerxes a Esdras (Esd. 7:11-26)
1. Dispostos podem ir para Jerusalém (Esd. 7:12, 13)
2. Ouro, prata, e utensílios, são fornecidos (Esd. 7:14-23)
3. Sacerdotes, levitas, servos do templo, são isentos dos impostos (Esd. 7:24)
4. Esdras recebe poder de designar magistrados e juízes para impor a lei de Deus e a lei do rei (Esd. 7:25-28)
B. Concluída em quatro meses a viagem a Jerusalém (Esd. 8:1-36)
1. Cerca de 1.500 homens apresentam-se para a viagem (Esd. 8:1-14)
2. Rio Aava, lugar de ajuntamento e de inspeção; sacerdotes estão, mas evidentemente nenhum levita comum está presente (Esd. 8:15)
3. Levitas e netineus de Casifia são convidados, juntam-se ao grupo (258 homens ao todo) (Esd. 8:16-20)
4. Procuram o caminho direito da parte de Deus pesam-se ouro, prata e utensílios (valor de cerca de US$ 4.800.000, de 1971; uns Cr$ 105,6 milhões, de 1979) (Esd. 8:21-30)
5. Partida de Aava no décimo segundo dia do primeiro mês; alcançam Jerusalém no primeiro dia do quinto mês; depois de três dias de repouso, dinheiro e utensílios são entregues aos sacerdotes no templo (Esd. 8:31-36; 7:7-9)
IV. Abolem-se os casamentos com esposas estrangeiras (Esd. 9:1 a 10:44)
A. Oração e confissão pública de Esdras a favor do povo (Esd. 9:1-15)
B. Grande número de pessoas, inclusive sacerdotes e levitas, se arrependem (Esd. 10:1-6)
C. Todos em Judá são convocados a Jerusalém; feito acordo (Esd. 10:7-14)
D. Esposas estrangeiras e seus filhos são todos despedidos em questão de cerca de três meses (Esd. 10:15-17)
E. Registro dos que dispensaram esposas estrangeiras (Esd. 10:18-44)
Veja o livro “Toda a Escritura É Inspirada por Deus e Proveitosa”, págs. 85-88.
OLIVEIRA [Heb., záyith; Gr., elaía]. A oliveira era, sem sombra de dúvida, uma das plantas mais valiosas nos tempos bíblicos, tendo igual importância à da videira e da figueira. (Juí. 9:8-13; 2 Reis 5:26; Hab. 3:17; Tia. 3:12) Ela aparece logo no início do relato bíblico, visto que, depois do Dilúvio, foi uma folhinha de oliveira trazida pela pomba que indicou a Noé que as águas tinham baixado. — Gên. 8:11.
A oliveira (Olea europaea) pulula na Palestina, especialmente ao longo da costa, nas planícies da Filístia (Deu. 28:40; Juí. 15:5), e lá nos altiplanos centrais, bem como por toda a zona do Mediterrâneo. Ela floresce em solo rochoso, gredoso, seco demais para outras plantas, e pode suportar freqüentes secas. No tempo do Êxodo do Egito, os israelitas receberam a promessa de que a terra para a qual iriam era uma terra de “azeitonas e de mel”, com ‘vinhedos e olivais que não plantaram’. (Deu. 6:11; 8:8; Jos. 24:13) Visto que a oliveira é uma árvore de crescimento lento e poderá levar até dez anos ou mais para começar a produzir boa safra, o fato de que tais árvores já cresciam era uma vantagem decisiva para os israelitas. A árvore é excepcionalmente duradoura, produzindo frutos por centenas de anos, e sugere-se que algumas oliveiras da Palestina remontam à parte inicial da Era Comum.
As oliveiras (olivais) representam revigorante vista por toda a Palestina, não raro crescendo em terraços rochosos das encostas ou acarpetando os vales. A árvore pode atingir uma altura de 12,20 metros. O tronco nodoso, com sua casca de cor cinzenta, possui profusos ramos, que apresentam densa folhagem de folhas delgadas, cinza-esverdeadas. Embora muitos não a considerem como tal, a oliveira é uma sempre verde. Em geral floresce em maio e fica recoberta de milhares de flores amarelo-pálidas. A facilidade com que tais flores são sopradas pelo vento é mencionada na Bíblia. (Jó 15:33) O seu fruto, ou azeitonas, são verdes quando não maduras, mas amadurecem, adquirindo uma cor purpurina forte até a negra. A colheita é feita no outono setentrional (outubro-novembro), e o método antigo de ripar ou varejar a árvore ainda é freqüentemente empregado. (Deu. 24:20; Isa. 24:13) Nos tempos bíblicos, os respigadores colhiam os frutos remanescentes. (Isa. 17:6) Por natureza, a árvore produz alternadamente, isto é, sua boa safra é seguida de uma não tão boa no ano seguinte. O fruto fresco contém uma substância amarga, removida por se deixar de molho em salmoura, e as azeitonas são comidas cruas ou em picles. Seu principal valor, porém, reside em seu óleo, que compõe, por peso, de até 30 por cento ou mais do fruto fresco. Uma boa árvore, produzindo de 37,8 a 56,8 litros por ano, poderia assim prover a taxa de gorduras necessárias à dieta de uma família de cinco ou seis pessoas. A madeira da oliveira é muito dura e precisa ser secada durante anos para ser de valor na marcenaria.
A oliveira não só vive por séculos, mas, se cortada, produz até cinco novos rebentos de suas raízes, desenvolvendo-se em novos troncos, e as árvores velhas também se perpetuam, amiúde, desta forma. Novas árvores são freqüentemente plantadas por se usarem zambujos ou mudas cortadas duma árvore já crescida. Assim, a ilustração do salmista é muito apta, quando assemelha os filhos do homem abençoado a “mudas de oliveiras ao redor da tua mesa”. — Sal. 128:3.
ENXERTO
As oliveiras bravas que cresciam nas encostas das colinas eram, amiúde, submetidas a enxerto com estacas de árvores cultivadas e produtivas, a fim de produzirem bons frutos. Era bem contrário ao costume regular, portanto, que uma espécie silvestre fosse enxertada numa árvore cultivada, visto que a espécie silvestre continuaria a produzir seus próprios frutos. Isto sublinha a força da ilustração de Paulo em Romanos 11:17-23, onde assemelhou os cristãos gentios, que se tornaram parte do ‘descendente de Abraão’, a ramos de uma oliveira brava enxertados numa árvore cultivada, para substituir os ramos improdutivos que foram quebrados e que representavam os membros judeus naturais, rejeitados, que foram removidos da simbólica árvore por sua falta de fé. (Gál. 3:28, 29) Este ato, “contrário à natureza”, sublinha a bondade imerecida de Deus para com tais crentes gentios, sublinha os benefícios que resultam para eles como ramos de “uma oliveira brava” em receberem da “untuosidade” das raízes do olival, assim removendo qualquer base para jactância por parte destes cristãos gentios. — Coteje com Mateus 3:10; João 15:1-10.
OLIVAIS E LAGARES
Quando as condições permitiam, quase todo povoado da Palestina possuía seu próprio olival. A safra ruim, como quando é prejudicada por seu principal inimigo, a lagarta, constituía grave desastre para o povo. (Amós 4:9) O rei Davi possuía valiosos olivais na região da Sefelá. (1 Crô. 27:28) A cordilheira a E de Jerusalém, de cerca da “distância da jornada de um sábado”, era famosa por suas oliveiras, nos dias do rei Davi, e, já no tempo de Zacarias era chamada de “monte das oliveiras”. (2 Sam. 15:30; Zac. 14:4; Luc. 19:29; 22:39; Atos 1:12) O grande número de antigos lagares de pedra para azeitonas, encontrados por toda a Palestina, testificam o extensivo cultivo dessa árvore. Os “jardins” daquele tempo tinham, com freqüência, a natureza de um pomar e não raro continham uma prensa para azeitonas. Assim, o jardim chamado Getsêmani, para onde Jesus se retirou depois da última ceia com seus discípulos, deriva seu nome do termo aramaico gath shemanín, que significa “prensa de óleo”. As azeitonas também eram pisadas, às vezes. — Miq. 6:15.
USO FIGURADO
A oliveira é usada figuradamente na Bíblia como símbolo de frutividade, beleza e dignidade. (Sal. 52:8; Jer. 11:16; Osé. 14:6) Seus ramos achavam-se entre os usados na Festividade das Barracas. (Nee. 8:15; Lev. 23:40) Em Zacarias 4:3, 11-14, e Revelação 11:3, 4, usam-se oliveiras quais símbolos dos ungidos e testemunhas de Deus.
GETSÊMANI [um lagar de óleo]. Provavelmente um jardim de oliveiras, equipado dum lagar para trituração das azeitonas. Getsêmani estava localizado a E de Jerusalém, do outro lado do vale do Cédron (João 18:1), ou no próprio Monte das Oliveiras, ou perto dele. (Luc. 22:39) Ali Jesus Cristo amiúde se reunia com seus discípulos. (João 18:2) Na noite da Páscoa de 33 E.C., ele, junto com seus discípulos fiéis, retirou-se para esse jardim, a fim de orar. Encontrado e traído por Judas Iscariotes, Jesus foi ali preso por um bando armado. — Mat. 26:36-56; Mar. 14:32-52; Luc. 22:39-53; João 18:1-12.
O local exato do jardim de Getsêmani não pode ser determinado, porque (segundo o testemunho de Josefo) todas as árvores ao redor de Jerusalém foram abatidas durante o sítio romano em 70 E.C. (Guerras Judaicas, em inglês, Livro V, cap. XII, par. 4; compare com a página 128, Vol. 8, da tradução de V. Pedroso) Uma tradição identifica Getsêmani com o jardim que foi murado pelos franciscanos em 1848. Mede cerca de 46 por 43 metros, e localiza-se na bifurcação da estrada na encosta O e ao sopé do Monte das Oliveiras. Oito oliveiras, existentes neste jardim, já existem há séculos.
[Foto na página 27]
Local tradicional do Jardim de Getsêmani, com o Portão de Ouro e uma parte do Zimbório da Rocha ficando visível, do outro lado do Vale do Cédron.