Ajuda ao Entendimento da Bíblia
[A matéria que segue foi selecionada de Aid to Bible Understanding, Edição de 1971.]
ATOS DOS APÓSTOLOS. [Continuação]
O ESCRITOR
As palavras iniciais de Atos se referem ao Evangelho de Lucas como “o primeiro relato”. E visto que ambos os relatos são dirigidos à mesma pessoa, Teófilo, sabemos que Lucas, embora não assinasse seu nome, foi o escritor de Atos. (Luc. 1:3; Atos 1:1) Ambos os relatos têm estilo e palavreado similares. O Fragmento Muratoriano, de cerca de 170 E. C., também atribui a autoria a Lucas. Outros escritos eclesiásticos do segundo século E. C., de Irineu, de Lião, Clemente, de Alexandria, e Tertuliano, de Cartago, quando citaram de Atos, mencionaram Lucas como o escritor.
QUANDO E ONDE FOI ESCRITO
O livro abrange um período de aproximadamente vinte e oito anos, desde a ascensão de Jesus em 33 E. C. até o fim do segundo ano da prisão de Paulo em Roma, por volta de 61 E. C. Durante este período, quatro imperadores romanos regeram em seqüência: Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. Visto que relata eventos até o ano 61, não poderia ter sido concluído antes disso. Caso o relato tivesse sido escrito depois de 61, é razoável esperar-se que Lucas teria fornecido mais informações sobre Paulo; se escrito depois do ano 64, certamente teria mencionado a violenta perseguição de Nero, que começou então; e, se escrito depois de 70 E. C., como alguns argúem, esperaríamos encontrar o registro da destruição de Jerusalém. O escritor Lucas acompanhou Paulo em grande parte do período de suas viagens, inclusive na perigosa viagem para Roma, o que é evidente do seu uso dos pronomes da primeira pessoa do plural, “nós”, “nosso”, “nos” em Atos 16:10-17; 20:5-15; 21:1-18; 27:1-37; 28:1-16. Paulo, em suas cartas escritas de Roma, menciona que Lucas também estava ali. (Col. 4:14; Filêm. 24) Foi, por conseguinte, em Roma que foi escrito o livro de Atos.
Conforme já observado, o próprio Lucas foi testemunha ocular de grande parte do que escreveu, e em suas viagens ele contatou concristãos que quer participaram de certos eventos descritos quer os observaram. A guisa de exemplo, João Marcos podia contar-lhe sobre o miraculoso livramento da prisão que Pedro obteve (Atos 12:12), ao passo que os eventos descritos nos capítulos de seis a oito poderiam ter sido relatados pelo missionário Filipe. E Paulo, naturalmente, como testemunha ocular, podia suprir muitos pormenores dos eventos que aconteceram quando Lucas não estava com ele.
AUTENTICIDADE
A exatidão do livro de Atos tem sido comprovada no decorrer dos anos por meio de várias descobertas arqueológicas. Por exemplo, Atos 13:7 diz que Sérgio Paulo era o procônsul de Chipre. Ora, sabe-se que, pouco antes de Paulo visitar Chipre, esta era regida por meio dum propretor ou legado, mas a descoberta de moedas cipriotas prova que, quando Paulo esteve ali, a ilha estava sob a regência direta do Senado romano na pessoa de um governador provincial chamado procônsul. Ademais, uma inscrição encontrada em Soli, na costa setentrional de Chipre, datada do “proconsulado qe Paulo” testifica a exatidão e precisão de Lucas. Similarmente na Grécia, durante a regência de Augusto César, Acata era uma província sob a regência direta do Senado romano, mas, quando Tibério era imperador, ela era regida diretamente por ele. Mais tarde, sob o Imperador Cláudio, tornou-se novamente uma província senatorial, segundo Tácito. Descobriu-se um fragmento dum rescrito de Cláudio aos délficos da Grécia que afirma “no proconsulado de Gálio . . . Cláudio sendo o Imperador pela 26.ª vez”. Por conseguinte, Atos 18:12 está correto ao falar de Gálio como “procônsul” quando Paulo estava ali em Corinto, na capital da Acaia. Também, uma inscrição numa passagem em arco em Tessalônica mostra que Atos 17:8 é correta ao falar dos “governantes da cidade” (“poliarcas”, governadores dos cidadãos), muito embora este título não seja encontrado na literatura clássica.
Até o dia de hoje, em Atenas, o Areópago, ou Colina de Marte, onde Paulo pregou, situa-se como testemunha silenciosa da veracidade de Atos. (Atos 17:19) Termos e expressões médicas encontrados em Atos estão de acordo com os escritores médicos gregos daquele tempo. Os modos de se viajar, usados no Oriente Próximo, no primeiro século, eram essencialmente conforme descritos em Atos: por via terrestre, por caminhadas, a cavalo ou em carros puxados a cavalo (Atos 23:24, 31, 32; 8:27-38); por via marítima, por navios de carga. (Atos 21:1-3; 27:1-5) Aqueles barcos antigos não possuíam um leme único mas eram controlados por dois grandes remos daí serem mencionados com exatidão no plural. (Atos 27:40) A descrição da viagem de Paulo de navio até Roma (Atos 27:1-44), quanto ao tempo utilizado, à distância percorrida e aos lugares visitados, é reconhecida pelos marujos modernos, familiarizados com a região, como sendo inteiramente fidedigna e confiável.
Os Atos dos Apóstolos eram aceitos sem dúvida como Escritura inspirada e canônica pelos catalogadores das Escrituras do segundo até o quarto séculos E. C. Trechos do livro, junto com fragmentos dos quatro Evangelhos, encontram-se no manuscrito de papiro Chester Beatty N.º 1 (P45) do início do terceiro século E. C. O manuscrito Michigan N.º 1571, do terceiro e quarto séculos, contém trechos dos capítulos 18 e 19, e um manuscrito do quarto século, Aegyptus N.º 8683, contêm partes dos capítulos 4 a 6. O livro de Atos foi citado por Policarpo, de Esmirna, por volta de 115 E. C., por Inácio, de Antioquia, por volta de 110 E. C., e por Clemente, de Roma, talvez já em 95 E. C. Atanásio, Jerônimo e Agostinho, do quarto século, confirmam todos as listas anteriores que incluíam Atos.
Veja o livro “Toda a Escritura É Inspirada por Deus e Proveitosa”.
ATENAS [provavelmente assim chamada em honra à deusa mítica grega Atena, que correspondia à Minerva romana]. A capital moderna da Grécia e sua cidade mais destacada nos tempos antigos. Localiza-se perto do extremo sul da planície de Ática, cerca de 7 quilômetros do Mar Egeu, sendo servida pelo porto marítimo vizinho de Pireu, com o qual estava ligada nos tempos pré-cristãos por meio de longas muralhas quase paralelas. Sua localização geográfica muito contribuiu para sua grandeza na história. As montanhas que cercavam a cidade forneciam uma defesa natural, e as gargantas montanhosas estavam suficientemente distantes para evitar a possibilidade de um ataque terrestre de surpresa. Estava também distante o bastante do mar para ficar segura duma armada invasora, todavia, suas três baías naturais na vizinha Pireu eram facilmente acessíveis a partir da cidade.
CENTRO CULTURAL E RELIGIOSO
Embora Atenas gozasse de certa fama militar como a capital dum pequeno império e forte potência naval no quinto século A. E. C., distinguia-se primariamente como o centro da erudição, da literatura e da arte gregas. Tornou-se uma cidade universitária, repleta de professores, discursadores e filósofos, sendo o lar de famosos filósofos tais como Sócrates, Platão e Aristóteles. Estabeleceram-se ali quatro escolas filosóficas, a platônica, a peripatética, a epicurista e a estóica (Atos 17:18), e estas eram cursadas por estudantes de todo o império, nos tempos romanos.
Atenas também era uma cidade muito religiosa, provocando o comentário do apóstolo Paulo de que os atenienses ‘pareciam mais dados ao temor das deidades do que os outros’. (Atos 17:22) Com efeito, segundo o escritor grego Hesíodo, do oitavo século A. E. C., os gregos antigos possuíam mais de 30.000 deidades. A religião era controlada pelo Estado e este a incentivava por pagar os sacrifícios públicos, os ritos e as procissões em honra aos deuses. Podiam-se encontrar ídolos nos templos, nas praças públicas e nas ruas, e as pessoas oravam regularmente aos deuses antes de empenhar-se em suas festas ou “simpósios” intelectuais, suas assembléias políticas e suas competições atléticas. A fim de não ofender a quaisquer dos deuses, os atenienses até mesmo construíram altares “A um Deus Desconhecido”, fato a que Paulo se refere em Atos 17:23. Pausanias, geógrafo do segundo século, confirma isto, explicando que, enquanto estava viajando ao longo da estrada, do porto da Baía de Falero para Atenas (talvez percorrido por Paulo em sua chegada), notou “altares dos deuses chamados Desconhecidos, e de heróis”.
HISTÓRIA PRIMITIVA
A origem da cidade está envolta em incerteza, embora a arqueologia indique que já tinha sido habitada desde tempos bem primitivos. A cidade cresceu em torno da Acrópole, uma colina oblonga de cerca de 152 metros de altitude, que ascende perpendicularmente nos três lados. Durante o século sétimo A. E. C., foi regida por uma nobreza ou aristocracia hereditária conhecida como Eupátrida, que detinha o monopólio do poder político e também tinha controle do Areópago, o principal tribunal criminal daquele tempo. Durante a parte inicial do sexto século A. E. C., contudo, um legislador chamado Sólon fez reformas constitucionais que melhoraram o quinhão dos pobres e lançaram a base para um governo democrático. Seus princípios de governo foram implementados por Clistenes, perto do fim do século, quando este dividiu o estado de Ática em tribos artificiais e formou um conselho de 500, com 50 representantes eleitos de cada tribo. Assim, Atenas tornou-se o centro do primeiro estado a experimentar uma forma democrática de governo. Deve-se notar, contudo, que era uma democracia apenas para os cidadãos livres do país, visto que grande parte da população era constituída de escravos.
Ao iniciar-se o quinto século A. E. C., os atenienses entraram em conflito com a potência mundial então dominante, por juntar-se aos jônicos em revolta contra a Pérsia. Isto fez o rei persa, Dario (Histaspes) organizar uma campanha contra a Grécia, resultando em sua derrota em Maratona, em 490 A. E. C., principalmente pelos atenienses. Em 480 A. E. C., Atenas teve de ser evacuada e abandonada diante do rei persa Xerxes, mas uma vitória naval ateniense em Salamina logo obrigou-o a retirar suas tropas.
DO PERÍODO IMPERIAL ATÉ O CONTROLE POR ROMA
Seguiu-se um período de grande prosperidade em resultado destas vitórias, tempo durante o qual Atenas tornou-se a capital dum pequeno império, controlando a maior parte das zonas costeiras ao redor do mar Egeu e estendendo seu comércio e sua influência da Itália e Sicília, a oeste, até Chipre e a Síria, a leste. Sob a liderança capaz de Péricles, a cidade tornou-se a líder cultural do mundo antigo, alcançando brilhantes consecuções na literatura e na arte. Foi nessa época, também, que muitos prédios públicos e templos lindos foram erguidos, inclusive o Partenon (o templo de Atena), e o Erecteion, cujas ruínas ainda podem ser vistas no alto da Acrópole, na Atenas moderna. O Partenon foi considerado o principal monumento arquitetônico da antiga religião pagã e era ornamentado por uma estátua de 9,14 metros de altura, de ouro e marfim, de Atena.
Esta beleza material, contudo, não produziu verdadeiro soerguimento espiritual para os atenienses, pois os deuses e as deusas honrados por ela eram, eles próprios, representados na mitologia grega como praticando todo ato imoral e criminoso conhecido dos humanos. Assim, nos dias de Paulo, o filósofo grego Apolônio criticava os atenienses por suas danças orgíacas na festa de Dioniso (Baco) e por seu entusiasmo pelo derramamento de sangue humano nas disputas de gladiadores.
O Império Ateniense dissolveu-se depois de sua derrota pelos espartanos, nas guerras do Peloponeso, no fim do quinto século A. E. C., mas seus conquistadores demonstraram consideração pela cidade por causa de sua cultura e não a destruíram por completo. Até mesmo quando os reis macedônios, Filipe e Alexandre, controlaram a cidade, durante o quarto século A. E. C., trataram-na com favor e permitiram que continuasse como lar da democracia e da filosofia. Foi conquistada pelos romanos em 86 A. E. C., e despojada de seus negócios e comércio e, assim, já no tempo em que Jesus e os cristãos primitivos surgiram no cenário palestino, a importância de Atenas residia mormente em suas universidades e escolas filosóficas. Sua fama como cidade universitária sobrepujava a de suas principais rivais, Tarso e Alexandria. Muitos dos homens destacados de Roma viajavam até Atenas para estudar em suas escolas, e a cidade gozava de virtual autonomia.
ATIVIDADES DE PAULO EM ATENAS
Foi nesta condição que o apóstolo Paulo encontrou a cidade, por volta de 50 E. C., quando a visitou em sua segunda excursão missionária. Ele deixara Silas e Timóteo para trás, em Beréia, com instruções para viram logo que possível. (Atos 17:13-15) Enquanto os esperava, ficou irritado diante dos muitos deuses falsos da cidade e, assim, começou a arrazoar com o povo, tanto na sinagoga judaica como na feira (ou praça do mercado). (Atos 17:16, 17) Nos anos recentes, esta feira ou agora ao norte da Acrópole tem sido escavada plenamente pela Escola Norte-Americana de Estudos Clássicos. A agora não era evidentemente apenas um local de se fazerem transações comerciais, mas era também um local de se debater e dirigir assuntos cívicos. A atitude inquiridora dos atenienses, descrita no relato em Atos 17:18-21, reflete-se na crítica de Demóstenes a respeito de seus compatriotas atenienses pelo seu amor a se movimentar continuamente na feira, indagando “Quais são as novidades?”
Enquanto estava na feira, Paulo se viu acercado de filósofos estóicos e epicureus e foi considerado suspeitosamente como sendo “publicador de deidades estrangeiras”. (Atos 17:18) Este era um assunto sério sob a lei romana, que estabelecia que ‘nenhuma pessoa deve ter deuses separados, ou novos; nem deve particularmente adorar quaisquer deuses estranhos, a menos que sejam publicamente permitidos’. Paulo provavelmente conhecia tal lei, tendo, talvez, encontrado dificuldades com ela na cidade romanizada de Filipos. (Atos 16:19-24) Ele foi conduzido ao Areópago, mas quer isto significasse a colina daquele nome ou o tribunal conhecido como Areópago não pode ser declarado de forma definitiva. Alguns afirmam que, nos dias de Paulo, o próprio tribunal não mais se reunia na colina, e sim na ágora.
O eloqüente testemunho de Paulo perante estes homens ilustrados de Atenas é uma lição de tato e discernimento. Ele mostrou que, ao invés de uma nova deidade, ele pregava sobre o próprio Criador do céu e da terra que não habita em templos construídos pelo homem, e, com jeito, fez referência ao “Deus Desconhecido”, cujo altar ele vira, e até mesmo citou as obras de Arato, poeta cilício, e do Hino a Zeus, de Cleanto. (Atos 17:22-31) Embora a maioria zombasse dele, alguns atenienses, inclusive Dionísio, juiz do Areópago, e certa mulher chamada Dâmaris, tornaram-se crentes. (Atos 17:32-34) O relato não declara se uma congregação cristã foi formada ou não em Atenas nessa época.
É possível que Timóteo se tenha juntado de novo a Paulo em Atenas, e, então, fosse enviado de volta a Tessalônica; mas parece mais provável que Paulo enviasse uma mensagem a ele em Beréia para fazer tal viagem, assim deixando Paulo sem companheiros em Atenas. A expressão do verbo na primeira pessoa do plural em 1 Tessalonicenses 3:1, 2 parece ter sido usada no sentido editorial por Paulo, aplicando-se simplesmente a ele mesmo. (Compare com 1 Tessalonicenses 2:18; 36.) Se esse for o caso, então Paulo partiu sozinho de Atenas, prosseguindo até Corinto, onde Silas e Timóteo finalmente se juntaram de novo a ele. (Atos 18:5) É provável que Paulo revisitasse Atenas em sua terceira excursão missionária (55 ou 56 E. C.), visto que o registro declara que ele passou três meses na Grécia, naquele tempo. — Atos 20:2, 3.
HISTÓRIA POSTERIOR
Atenas continuou a gozar de fama como centro cultural muito depois dos dias de Paulo. O Imperador Adriano executou o trabalho final de construir o maciço templo de Zeus, conhecido como o Olímpio em 129 E. C.; tarefa iniciada por Pisistrato no sexto século A. E. C. e reconstruído por Antíoco IV entre 174 e 164 A. E. C. Este templo, com 96,90 metros de comprimento e 40,20 metros de largura, era o maior da Grécia e um dos maiores do mundo. Suas ruínas ainda podem ser vistas a sudoeste da Acrópole. Adriano também iniciou a construção dum aqueduto, ainda utilizado em Atenas, atualmente.
Em 529 E. C., contudo, o Imperador Justiniano proibiu o estudo e o ensino de filosofia em Atenas e, assim, pôs fim à glória da antiga cidade. Depois disso, mergulhou na insignificância como cidade provincial durante o período bizantino, quando o Partenon e o Erecteion foram convertidos em igrejas da cristandade. Seguiram-se mais de 250 anos de regência latina, após o que os turcos muçulmanos a controlaram durante 375 anos. O Partenon foi então transformado numa mesquita. Quando a última fortaleza turca foi capturada pelos gregos em 1833, Atenas foi escolhida como a capital do recém-formado reino da Grécia. Desde então, de simples povoado de menos de 5.000 habitantes, em 1834, Atenas se desenvolveu rapidamente numa cidade próspera e moderna, de mais de 860.000 habitantes, com uma área metropolitana com mais de 2.500.000 habitantes, segundo estatísticas de 1971. (Veja Almanaque Abril, 1979, págs. 550, 551.)
[Foto na página 15]
A Atenas moderna, mostrando o Partenon na Acrópole. e, mais adiante, a colina conhecida como Licabeto.