Ajuda ao Entendimento da Bíblia
[De Aid to Bible Understanding, Edição de 1971, selecionamos a matéria condensada que segue.]
BETEL. [Continuação]
Embora Moisés, ao compilar o relato de Gênesis, fale do povoado perto, em que Abraão acampou, como sendo “Betel”, o registro subseqüente mostra seu nome cananeu original como sendo “Luz”. Jacó passou a noite perto da cidade, ao viajar de Berseba para Arã (por volta de 1781 A.E.C.), e, depois de ter um sonho sobre uma escada que alcançava os céus e ouvir a confirmação de Deus quanto à promessa abraâmica, ele posteriormente ergueu uma coluna e chamou esse local pelo nome de “Betel”, embora “o nome da cidade era anteriormente Luz”. (Gên. 28:10-19) Cerca de 20 anos depois, Deus falou a Jacó em Arã, identificando-se como aquele que falara a Jacó em Betel, e instruiu-o a voltar para Canaã. — Gên. 31:33.
Após a desonra causada a Diná, em Siquém, e o ato de vingança executado pelos filhos de Jacó contra os siquemitas, Jacó recebeu a instrução de Deus de retornar a Betel. Depois de eliminar os artigos da religião falsa dos de sua casa e de seus servos, viajou para Betel sob a proteção divina, construiu ali um altar e redeclarou o nome que havia dado ao local anteriormente, chamando-o de “El-Betel”, que significa “O Deus de Betel”. Ali morreu e foi sepultada Débora, ama-de-leite de Rebeca. Ali, também, Jeová confirmou a mudança do nome de Jacó para Israel, declarando de novo a promessa abraâmica. — Gên. 35:1-16.
Séculos mais tarde, com a entrada da nação de Israel em Canaã (1473 A.E.C.), o nome Betel é de novo usado para referir-se à cidade anteriormente chamada de Luz, ao invés de ao local do acampamento de Abraão e de Jacó. No relato do ataque contra Ai, o registro indica que os cananeus de Betel esforçaram-se a apoiar os homens daquela cidade vizinha, mas isso de nada adiantou. Se não foi naquele ponto, então, numa época posterior, o Rei de Betel sofreu derrota diante das forças de Josué. (Jos. 7:2; 8:9, 12, 17; 12:9, 16) Betel, depois disso, aparece como cidade limítrofe entre os territórios das tribos de Efraim e Benjamim. É alistada como sendo designada a Benjamim, mas o registro mostra que foi a casa de José (da qual Efraim fazia parte) que efetuou a conquista da cidade. (Jos. 16:1, 2; 18:13, 21, 22; Juí. 1:22-26) Deste ponto em diante, o nome Luz não é mais aplicado à cidade.
No período dos juízes, a morada de Débora, a profetisa, situava-se “entre Ramá e Betel, na região montanhosa de Efraim”. (Juí. 4:4, 5) Parece que, no tempo de se aplicar a justiça à tribo de Benjamim pelo crime cometido por seus membros, a arca do pacto fora temporariamente transportada de Siló para Betel, esta última cidade situando-se consideravelmente mais perto do cenário do conflito que se centralizava em Gibeá, a cerca de 11 km ao S de Betel. — Juí. 20:1, 18, 26-28; 21:2.
Betel situava-se no circuito (itinerário) visitado por Samuel, ao julgar anualmente o povo naquela cidade e em Gilgal e Mispá, e ainda era considerada como local favorecido de adoração. (1 Sam. 7:16; 10:3) No entanto, dali até a divisão do reino (997 A.E.C.), Betel só é mencionada em conexão com o posicionamento de tropas, pelo Rei Saul, em preparação para o combate contra os filisteus. — 1 Sam. 13:2.
Como uma das cidades principais do reino setentrional sob Jeroboão, Betel, outrora destacada como local de revelação por parte do verdadeiro Deus, tornou-se então renomada como centro da adoração falsa. Em Betel, no extremo S do recém—formado reino de Israel, e em Dã, no extremo N do mesmo, Jeroboão colocou os bezerros de ouro, no esforço de dissuadir o povo de seu reino de ir ao templo em Jerusalém. (1 Reis 12:27-29) Tendo sua própria casa e altar religiosos, uma época de festividades especialmente inventada, e sacerdotes escolhidos dentre as tribos não levíticas, Betel tornou-se símbolo da crassa apostasia para com a adoração verdadeira. (1 Reis 12:31-33) Jeová Deus não se demorou a expressar sua desaprovação disso, mediante “um homem de Deus” enviado a Betel para predizer sua desolação futura, e por destroçar o altar de Betel. Depois de partir de Betel, contudo, este “homem de Deus” se permitiu induzir por um velho profeta de Betel a aceitar e agir de acordo com suposta mensagem recebida dum anjo, em violação das ordens diretas de Deus, com desastrosas conseqüências para si mesmo. Morto por um leão, foi sepultado em Betel, no local pessoal de sepultamento do velho profeta, que viu, em todos esses eventos, a certeza do cumprimento da palavra de Jeová, e, assim, solicitou que seu próprio corpo fosse sepultado, quando ele morresse, no mesmo local de sepultamento. — 1 Reis 13:1-32.
O Rei Abias, de Judá, temporariamente retirou Betel e outras cidades do controle do reino setentrional (2 Crô. 13:19, 20), mas parece que Betel fora restaurada ao reino setentrional pelo menos no tempo do Rei Baasa, de Israel, visto que ele se esforçou em fortificar Ramá, bem ao sul de Betel. (1 Reis 15:17; 2 Crô. 16:1) Mesmo que o Rei Jeú mais tarde erradicasse a adoração de Baal em Israel, os bezerros de ouro continuaram imunes em Dã e Betel. — 2 Reis 10:28, 29.
Apesar da prevalência da adoração falsa ali, o registro mostra Betel como o local dum grupo de profetas, no tempo de Elias e Eliseu. Betel era também o lar dum grupo de meninos escarnecedores que zombaram de Eliseu, isto ao custo da vida de muitos deles, devido à execução divina. — 2 Reis 2:1-3, 23, 24.
Os profetas Amós e Oséias, em fins do nono e início do oitavo séculos A.E.C., proclamaram a condenação de Deus contra a corrupção religiosa centralizada em Betel. Embora Oséias faça menção direta de Betel (“casa de Deus”) apenas quando relembra a Revelação do próprio Deus ao fiel Jacó ali (Osé. 12:4), ele emprega evidentemente o nome “Bete-Áven”, que significa “casa da nulidade ou idolatria”, como se aplicando àquela cidade e expressando o desprezo de Deus por suas práticas da religião falsa. (Osé. 4:15; 5:8) Ele avisa que seu ídolo-bezerro, servido por sacerdotes dos deuses estrangeiros, tornar-se-ão motivo para lamentação do Israel idólatra, seus altos serão aniquilados, e espinhos e abrolhos cobrirão seus altares; ao passo que as pessoas, confrontadas com o exílio na Assíria, bradarão aos montes: “Cobri-nos!” e aos morros: “Caí sobre nós!” (Osé. 10:5-8; compare com Lucas 23:30; Revelação 6:16.) O profeta Amós falou em sentido similar, mostrando que, não importa quão freqüentes fossem os sacrifícios oferecidos pelo povo nos altares de Betel, suas peregrinações pias a esse lugar apenas constituíam expressão declarada da transgressão, e avisando que a ira ardente de Jeová não arderia inextinguivelmente contra eles. (Amós 3:14; 4:4; 5:5, 6) Irado contra esta profecia feita por Amós lá mesmo em Betel, o sacerdote apóstata, Amazias, acusou Amós de palavras sediciosas e ordenou-lhe que ‘voltasse para Judá, de onde viera’ e ali realizasse seu profetizar: “Mas, não mais deves profetizar em Betel, pois é o santuário de um Rei e é a casa de um reino.” — Amós 7:10-13.
Betel continuou como santuário idólatra até a queda do reino setentrional diante da Assíria, em 740 A.E.C. Assim, Jeremias, mais de um século mais tarde, podia referir-se a ela como exemplo admoestador para os que confiavam nos deuses falsos, para sua vergonha final. (Jer. 48:13) Mesmo depois disso, Betel continuou sendo um centro religioso, pois o Rei da Assíria enviou um dos sacerdotes exilados de volta a Betel, para ensinar ao povo afligido por leões “a religião do Deus do país”, e este sacerdote se fixou em Betel, ensinando ao povo “quanto a como deviam temer a Jeová”. O registro não declara se era um sacerdote Levítico ou um sacerdote do ‘deus-bezerro’, mas os resultados parecem indicar esta última hipótese, visto que “tornaram-se tementes de Jeová, porém, mostraram ser adoradores dos seus próprios deuses”, e as coisas continuaram na mesma base falsa e idólatra iniciada por Jeroboão. — 2 Reis 17:25, 27-33.
Em cumprimento da profecia de Oséias, o bezerro de ouro de Betel tinha sido levado embora pelo Rei da Assíria (Osé. 10:5, 6), mas o altar original de Jeroboão ainda estava lá no tempo do Rei Josias, de Judá. Parece que nem todos os israelitas tinham sido ainda removidos do reino setentrional pelos assírios, pois, durante o reinado de Josias, ele estendeu seu expurgo da religião falsa até Betel, e também as cidades de Samaria. Isto ocorreu durante ou após o décimo oitavo ano da regência de Josias (c. 642 A.E.C.), e tal ação destemida talvez se tenha tornado possível graças a que o Império Assírio estava então ocupado com problemas internos. Seja qual for a causa, Josias destruiu o local da adoração idólatra em Betel, queimando primeiro os ossos dos túmulos vizinhos sobre o altar, destarte dessagrando-o, em cumprimento da profecia feita pelo “homem de Deus” mais de três séculos antes. O único túmulo poupado foi o desse “homem de Deus”, desse modo poupando também os ossos do velho profeta que ocupava o mesmo túmulo. — 2 Reis 22:3; 23:15-18.
Homens, de Betel achavam-se entre os israelitas que voltaram do exílio em Babilônia (Esd. 2:1, 28; Nee. 7:32), e Betel foi recolonizada por benjamitas. (Nee. 11:31) Durante o período macabeu, foi fortificada pelo general sírio Baquides (c. 160 A.E.C.) e foi mais tarde capturada pelo general romano, Vespasiano, antes de se tornar imperador de Roma.
BÍBLIA. As Escrituras Sagradas, a Inspirada Palavra de Jeová, reconhecida como o maior livro de todos os tempos, devido à sua antiguidade, sua circulação total, o número de línguas em que foi traduzida, sua grandeza sobrepujante, como obra-prima literária, e graças à sua inegável importância para toda a humanidade. Distinta de todos os outros livros, ela não imita a nenhum deles, e não copia a nenhum. Ela se destaca pelos seus próprios méritos, dando crédito a seu Autor ímpar. A Bíblia também se distingue por ter sobrevivido a controvérsias mais violentas do que qualquer outro livro, sendo odiada por legiões de inimigos.
A palavra portuguesa “Bíblia” provém através do latim, da palavra grega biblía, que é, por sua vez, derivada de bíblos, palavra que descreve a parte interna do papiro, do qual se fabricava uma forma primitiva de papel.
DIVISÕES
Sessenta e seis livros, de Gênesis a Revelação (Apocalipse), constituem o cânon da Bíblia. A escolha desses livros específicos, e a rejeição de muitos outros, evidencia que o Autor divino não só inspirou a sua escrita, mas também, cuidadosamente, cuidou de sua compilação e de sua preservação no catálogo sagrado. Trinta e nove dos sessenta e seis livros, constituindo três quartos do conteúdo da Bíblia, são conhecidos como Escrituras Hebraicas, todos tendo sido escritos inicialmente nessa língua, com a exceção de alguns pequenos trechos, escritos em aramaico. (Esd. 4:8 a 6:18; 7:12-26; Jer. 10:11; Dan. 2:4b a 7:28) Por combinar alguns destes livros, os judeus tinham o total de apenas 22 ou 24 livros; todavia, estes abrangiam a mesma matéria. Parece, também, que era seu costume subdividir as Escrituras em três partes, como ‘a lei de Moisés, os Profetas, e os Salmos’. (Luc. 24:44) A última quarta parte da Bíblia é conhecida como Escrituras Gregas Cristãs, assim denominadas porque os vinte e sete livros que compõem esta seção foram escritos em grego. A escrita, compilação e colocação em ordem destes livros no cânon da Bíblia também demonstram a supervisão de Jeová, desde o início até o fim.
A subdivisão da Bíblia em capítulos e versículos (A Versão Rei Jaime [em inglês] tem 1.189 capítulos e 31.173 versículos) não foi feita pelos escritores originais, mas foi uma adição utilíssima, realizada séculos depois. Os massoretas dividiram as Escrituras Hebraicas em versículos; daí, no século 13 de nossa Era Comum, acrescentaram-se as divisões em capítulos. Por fim, em 1555, a edição de Robert Estienne da Vulgata latina foi editada como a primeira Bíblia inteira com as atuais divisões de capítulos e versículos.
Os sessenta e seis livros bíblicos formam, em conjunto, apenas uma única obra, um todo completo. Assim como as marcações de capítulos e versículos constituem apenas ajudas convenientes para o estudo da Bíblia, e não visam depreciar a unidade do todo, assim também se dá com a divisão da Bíblia em seções, segundo a língua predominante em que os manuscritos nos foram transmitidos. Por conseguinte, dispomos tanto das Escrituras Hebraicas como das Gregas adicionando-se a estas últimas a expressão “Cristãs” para distingui-las da Versão Septuaginta (ou dos Setenta), que é a parte hebraica das Escrituras traduzida para o grego.
AUTORIA
A tabela que acompanha este artigoa mostra que cerca de quarenta secretários ou escribas humanos foram usados pelo único Autor para registrar a inspirada Palavra de Jeová. “Toda a Escritura é inspirada por Deus”, e isto inclui os escritos das Escrituras Gregas Cristãs, junto com “o resto das Escrituras”. (2 Tim. 3:16; 2 Ped. 3:15, 16) Esta expressão “inspirada por Deus” traduz a frase grega Theópneustos, que significa “Deus-soprada”. Por ‘soprar’ sobre homens fiéis, Deus fez com que seu próprio espírito ou força ativa se tornasse operante sobre eles, e dirigisse ativamente o que Jeová queria que fosse registrado, pois, como está escrito, “a profecia nunca foi produzida pela vontade do homem, mas os homens falaram da parte de Deus conforme eram movidos por espírito santo” — 2 Ped. 1:21; João 20:21, 22; veja INSPIRAÇÃO.
Nenhum outro livro demorou tanto para terminar como a Bíblia. Em 1513 A.E.C., Moisés começou a escrita da Bíblia. Até algum tempo após 443 A.E.C., quando Neemias e Malaquias concluíram seus livros, outros escritos sagrados foram adicionados às Escrituras inspiradas. Daí, houve um lapso de tempo na escrita da Bíblia, durante quase quinhentos anos, até que o apóstolo Mateus escreveu seu relato histórico. Quase sessenta anos depois, João, o último dos apóstolos, contribuiu com seu Evangelho e três cartas para terminar o cânon da Bíblia. Assim, ao todo, estava envolvido um período de cerca de 1.610 anos na produção da Bíblia. Todos os co-escritores eram hebreus e, por isso, eram parte daquele povo, ‘incumbido das proclamações sagradas de Deus’. — Rom. 3:2.
[Continua]
[Nota(s) de rodapé]
a Veja Despertai! de 22 de abril de 1981.