Ajuda ao Entendimento da Bíblia
[De Aid to Bible Understanding, Edição de 1971, selecionamos a matéria condensada que segue.]
BLASFÊMIA. [Continuação]
Visto que Jesus era o Filho de Deus e seu representante direto, as coisas proferidas contra ele podem também, corretamente, ser definidas como blasfêmia. (Luc. 22:65) Assim, também, o espírito santo ou força ativa emana de Deus e está intimamente relacionado com a pessoa de Deus; daí, Jesus podia falar sobre a “blasfêmia contra o espírito”. Esta é declarada como sendo o pecado imperdoável. (Mat. 12:31; Mar. 3:28, 29; Luc. 12:10) Visto que se mostra que a blasfêmia se origina no coração da pessoa (Mat. 15:19; Mar. 7:21, 22), então a motivação, ou a condição de coração, e o grau de negligência e premeditação envolvido, têm de relacionar-se a tal blasfêmia contra o espírito. O incidente que levou à declaração de Jesus relativa a tal pecado ser imperdoável demonstra que se refere à oposição contra a operação do espírito de Deus, não devido a um engano, uma fraqueza ou imperfeição humana, mas pela ação com conhecimento de causa, proposital e deliberada. Os fariseus viram claramente o espírito de Deus em operação em Jesus para a realização do bem, todavia, por motivos egoístas, atribuíram tal poder a Belzebu, Satanás, o Diabo, destarte blasfemando contra o espírito santo de Deus. — Mat. 12:22-32; coteje com Hebreus 6:4-6; 10:26, 27.
Semelhante a Jesus, Estêvão sofreu o martírio sob uma acusação de blasfêmia. (Atos 6:11-13; 7:56-58) Paulo, como Saulo, tinha sido blasfemador e tentara obrigar os cristãos a fazer “uma retratação” (literalmente, “a blasfemar”), mas, ao se tornar ele próprio um discípulo, sofreu blasfemas contradições da parte dos judeus e, em Éfeso, seu ensino foi possivelmente rotulado de blasfêmia contra a deusa pagã, Ártemis (Diana), por parte de certos elementos. (Atos 13:45; 19:37; 26:11; 1 Tim. 1:13) Por desassociação, Paulo entregou Himeneu e Alexandre ‘a Satanás, para que fossem ensinados pela disciplina a não blasfemarem’. (1 Tim. 1:20; confronte com 2 Timóteo 2:16-18.) Tiago mostrou que os ricos, como classe, inclinavam-se a ‘blasfemar do nome excelente’ pelo qual os discípulos eram chamados. (Tia. 2:6, 7; compare com João 17:6; Atos 15:14.) Nos “últimos dias”, abundariam os blasfemadores (2 Tim. 3:1, 2), assim como o livro de Revelação também prediz por declaração direta e por simbolismos. — Rev. 13:1-6; 16:9-11, 21; 17:3.
BOAS NOVAS [Gr., euaggélion]. Estas se referem às boas novas do reino de Deus e da salvação pela fé em Jesus Cristo. São chamadas, na Bíblia, de “as boas novas do reino” (Mat. 4:23), as “boas novas de Deus” (Rom. 15:16), as “boas novas a respeito de Jesus Cristo” (Mar. 1:1), as “boas novas da benignidade imerecida de Deus” (Atos 20:24), as “boas novas de paz” (Efé. 6:15), e as “boas novas eternas”. (Rev. 14:6) Um “evangelizador” (a palavra portuguesa sendo quase uma transliteração do grego) é um pregador das boas novas. — Atos 21:8; 2 Tim. 4:5.
SEU CONTEÚDO
Uma idéia do conteúdo e do escopo das boas novas pode ser obtida das denominações acima. Inclui todas as verdades a respeito das quais Jesus falou, e os discípulos escreveram. Ao passo que os homens da antiguidade esperavam em Deus e tinham fé, mediante o conhecimento Dele, os propósitos de Deus começaram a ‘tornar-se claramente evidentes pela manifestação de nosso Salvador, Cristo Jesus, que aboliu a morte, mas lançou luz sobre a vida e a incorrupção por intermédio das boas novas’. — 2 Tim. 1:9, 10.
Deus revelou, há muitos séculos, que se propunha fornecer as boas novas mediante Cristo, ao declarar as boas novas a Abraão, dizendo: “Por meio de ti serão abençoadas todas as nações.” (Gál. 3:8) Mais tarde, Jeová falou sobre a pregação das boas novas mediante o profeta Isaías. Jesus Cristo leu esta profecia na sinagoga de Nazaré, dizendo, depois disso: “Hoje se cumpriu esta escritura que acabais de ouvir.” (Luc. 4:16-21) A profecia de Isaías descrevia o propósito e o efeito das boas novas a serem pregadas, especialmente desde o tempo da vinda do Messias. — Isa. 61:1-3.
SEU PROGRESSO
Por ocasião do nascimento de Jesus, o anjo anunciou aos pastores: “Não temais, pois, eis que vos declaro boas novas duma grande alegria que todo o povo terá.” (Luc. 2:10) João Batista preparou o caminho para a pregação das novas por Jesus, dizendo aos judeus: “Arrependei-vos, pois o reino dos céus se tem aproximado.” (Mat. 3:1, 2) Jesus disse a respeito da pregação de João: “Desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus é o alvo para o qual os homens avançam impetuosamente, e os que avançam impetuosamente se apoderam dele.” — Mat. 11:12.
Durante o ministério terrestre de Jesus, ele confinou sua pregação das boas novas aos judeus e prosélitos, dizendo: “Não fui enviado a ninguém, senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.” (Mat. 15:24) Ao enviar os doze apóstolos, ele lhes ordenou: “Não vos desvieis para a estrada das nações, e não entreis em cidade samaritana; mas, ide antes continuamente às ovelhas perdidas da casa de Israel.” (Mat. 10:5, 6) Em certa ocasião, pregou a uma mulher dentre os samaritanos, que eram aparentados dos israelitas. Mas não entrou naquela cidade a fim de pregar. No entanto, o acatamento daquela mulher e de outros foi tão favorável que Jesus permaneceu com eles por dois dias. — João 4:7-42.
Depois da morte e da ressurreição de Jesus, ele forneceu a seus discípulos a seguinte ordem: “Ide, portanto, e fazei discípulos de pessoas de todas as nações, batizando-as em o nome do Pai, e do Filho, e do espírito santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos ordenei.” (Mat. 28:19, 20) Ele também lhes disse que sua pregação alcançaria a “parte mais distante da terra”. (Atos 1:8) Mas, durante uns três anos e meio depois disso, o espírito santo levou os discípulos a confinar sua pregação aos judeus e aos samaritanos. Daí, Pedro foi enviado por Deus para levar as boas novas à casa de Cornélio, o oficial do exército romano. (Atos, caps. 10, 11; 15:7) Desde esse tempo em diante, as boas novas foram declaradas na maior medida possível, na área mais ampla possível.
SUA IMPORTÂNCIA
O apóstolo Paulo fez a forte declaração de que as boas novas confiadas aos apóstolos eram as únicas boas novas; que, se os próprios apóstolos ou mesmo um anjo do céu declarasse como boas novas algo além do que os apóstolos tinham declarado como boas novas, “seja amaldiçoado”. Forneceu então o motivo, a saber, que as boas novas não são algo humano, não procedem do homem, mas por meio de Revelação de Jesus Cristo. (Gál. 1:8, 11, 12) Esta forte declaração se fazia mister, pois até mesmo então havia alguns que tentavam subverter a verdadeira fé por pregarem ‘outras boas novas’. (2 Cor. 11:4; Gál. 1:6, 7) Paulo avisou de uma apostasia vindoura e declarou que o ‘mistério daquilo que é contra a lei’ já estava em operação, admoestando os cristãos a lembrar-se do propósito das boas novas, e a permanecerem firmes e manterem seu apego às tradições, guiadas pelo espírito, que haviam aprendido mediante os apóstolos. — 2 Tes. 2:3, 7, 14, 15; veja TRADIÇÃO.
A fidelidade em apegar-se e em continuar a proclamar as boas novas era considerada por Jesus como mais importante do que a vida atual duma pessoa, e Paulo reconhecia que declará-las fielmente era algo vital. (Mat. 8:35; 1 Cor. 9:16; 2 Tim. 1:8) A pessoa poderia sofrer a perda de seus bens mais prezados, até mesmo sofrer perseguições, mas, por sua vez, receberia cem vezes mais agora, “casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos . . . e no vindouro sistema de coisas a vida eterna”. — Mar. 10:29, 30.
As boas novas são a pedra de toque pela qual a humanidade há de ser julgada; a aceitação das boas novas e a obediência a elas resultam na salvação; a rejeição e a desobediência a elas traz destruição. (1 Ped. 4:5, 6, 17; 2 Tes. 1:6-8) Tendo especialmente este fato em mira, a motivação duma pessoa em pregar as boas novas deve ser pura, e deve pregá-las do coração, por amor aos que as ouvem. Os apóstolos tinham tanto apreço da importância vitalizadora das boas novas e estavam tão entusiasmados com o espírito de Deus e com amor que transmitiam, não só as boas novas, mas também suas “próprias almas” aos que davam ouvidos à sua pregação. (1 Tes. 2:8) Deus fez provisões para que os proclamadores das boas novas tivessem o direito de aceitar ajuda material daqueles a quem as levavam. (1 Cor. 9:11-14) Mas os apóstolos tanto prezavam seu privilégio de portadores das boas novas que cuidadosamente evitavam obter lucro financeiro disso, ou até mesmo dar a aparência de fazê-lo com respeito à sua pregação. O apóstolo Paulo descreve seu proceder neste particular em 1 Coríntios 9:15-18 e; 1 Tessalonicenses 2:6, 9.
INIMIGOS
As boas novas têm sido amargamente combatidas, a fonte desta inimizade sendo identificada pelo apóstolo: “Agora, se as boas novas que declaramos estão de fato veladas, estão veladas entre os que perecem, entre os quais o deus deste sistema de coisas tem cegado as mentes dos incrédulos, para que não penetre o brilho da iluminação das gloriosas boas novas a respeito do Cristo, que é a imagem de Deus.” (2 Cor. 4:3, 4) Os primeiros inimigos das boas novas foram os líderes religiosos judeus. Sua inimizade, contudo, resultou em bem para os gentios ou povos das nações, no sentido de que abriu a oportunidade para que os gentios fossem co-participantes da “promessa, em união com Cristo Jesus, por intermédio das boas novas”. — Rom. 11:25, 28; Efé. 3:5, 6.
Os inimigos das boas novas causaram muitos sofrimentos aos cristãos, e fizeram com que os apóstolos travassem dura luta perante os regentes para defender e estabelecer legalmente as boas novas, de modo que pudessem espalhar-se com a máxima liberdade possível. — Fil. 1:7, 16; compare com Marcos 13:9-13; Atos 4:18-20; 5:27-29.
A PRESENÇA, A AUSÊNCIA E A VOLTA DE CRISTO
É digno de nota que, durante seis meses antes de Jesus dirigir-se a ele para o batismo, João Batista pregasse: “Arrependei-vos, pois o reino dos céus se tem aproximado”, e, quando Jesus surgiu, João apontou para Jesus como sendo o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Mat. 3:1, 2; João 1:29) Ele anunciou a presença do Rei, e voltou a atenção do povo para Ele. — Atos 19:4.
Cristo e seus discípulos, enquanto Jesus estava na terra, anunciaram: “O reino dos céus se tem aproximado.” (Mat. 4:17; 10:7) Jesus, ungido como Cristo, o Rei, disse aos fariseus, seus inimigos: “O reino de Deus está no vosso meio.” (Luc. 17:20, 21) Este era o tema ou ponto central das boas novas, durante o ministério terrestre de Jesus. No entanto, depois da morte de Jesus, não se registra que os apóstolos tenham proclamado o Reino como tendo ‘se aproximado’ ou estando às portas. Antes, pregaram boas novas sobre Cristo ter ascendido para o céu, depois de depor sua vida humana como preço resgatador para a salvação, e o assentar-se então à direita de Deus também, da volta de Jesus, e do Reino que viria num tempo posterior. — Heb. 10:12, 13; 2 Tim. 4:1; Rev. 11:15; 12:10; 22:20; compare com Lucas 19:12, 15; Mateus 25:31.
Quando Jesus Cristo respondia à pergunta, suscitada por seus discípulos: “Qual será o sinal da tua presença e da terminação do sistema de coisas?”, Jesus enumerou certas coisas que deveriam ocorrer nessa época. Ele disse, entre outras coisas: “Estas boas novas do reino serão pregadas em toda a terra habitada, em testemunho a todas as nações; e então virá o fim.” (Mat. 24:3, 14; Mar. 13:10; coteje com Colossenses 1:23.) Na Revelação fornecida ao apóstolo João, por volta de 96 E.C., ele viu um “anjo voando pelo meio do céu” que tinha “boas novas eternas para declarar, como boas notícias aos que moram na terra, e a toda nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo com voz alta: ‘Temei a Deus e dai-lhe glória, porque já chegou a hora do julgamento por ele.’” (Rev. 14:6, 7) Estas declarações inspiradas indicam que, nos “últimos dias”, haveria uma proclamação sem paralelo das boas novas do Reino.
SEIO, POSIÇÃO JUNTO AO. [peito, Imprensa Bíblica Brasileira]. Numa parábola, Jesus falou de um mendigo pobre, chamado Lázaro, que foi levado, ao morrer, para a “posição junto ao seio de Abraão”, e João se refere a Jesus como estando na “posição junto ao seio do Pai”. (João 16:22, 23; João 1:18) A expressão “posição junto ao seio” alude àquele que se reclina em frente de outra pessoa no mesmo divã, numa refeição.
Os judeus adotavam este costume de reclinar-se às refeições dos romanos, que o herdaram, por sua vez, de Cartago, depois das guerras púnicas. Os convidados se reclinavam do seu lado esquerdo, tendo um travesseiro apoiando seu cotovelo esquerdo, deixando livre o braço direito. Usualmente três pessoas ocupavam cada divã, mas podia haver até cinco delas. A cabeça de cada um ficava como que pousada, ou próxima, do peito ou seio da pessoa atrás dele. A pessoa que não tinha ninguém às suas costas era considerada como estando na posição mais elevada, e a próxima dela estava no segundo lugar de honra. Em vista da proximidade dos convidados, um em relação ao outro, era costumeiro que se colocasse um amigo junto do outro, o que tornava um tanto fácil travar uma palestra confidencial, caso isto fosse desejado. Estar em tal “posição junto ao seio” de outrem, num banquete, significava deveras ocupar um lugar especial de favor junto a tal pessoa. Assim, o apóstolo João, a quem Jesus amava ternamente, “recostava-se na frente do seio [peito, Imprensa Bíblica Brasileira, Mateus Hoepers, Dias Goulart] de Jesus” e lhe fez particularmente uma pergunta, na celebração da última Páscoa. — João 13:23, 25; 21:20.