Ajuda ao Entendimento da Bíblia
[Matéria extraída, condensada, de Aid to Bible Understanding, Edição de 1971.]
IRMÃO. [Continuação]
Quando, durante o ministério de Jesus, “seus irmãos, de fato, não estavam exercendo fé nele”, isso certamente impediria que fossem seus irmãos em sentido espiritual. (João 7:3-5) Jesus contrasta estes irmãos carnais com seus discípulos, que creram nele e que eram seus irmãos espirituais. (Mat. 12:46-50; Mar. 3:31-35; Luc. 8:19-21) Esta falta de fé por parte de seus irmãos carnais proíbe que os identifiquemos com os apóstolos que têm os mesmos nomes: Tiago, Simão, Judas; eles são explicitamente diferençados dos discípulos de Jesus. — João 2:12.
O parentesco que tais irmãos carnais de Jesus tinham com sua mãe, Maria, também indica que eram filhos dela, ao invés de parentes mais afastados. São usualmente mencionados em associação com ela. Declarações no sentido de que Jesus era o “primogênito” de Maria (Luc. 2:7), e que José “não teve relações [sexuais] com ela até ela ter dado à luz um filho” também apóiam o conceito de que José e Maria tiveram outros filhos. (Mat. 1:25) Até mesmo os vizinhos de Nazaré reconheceram e identificaram Jesus como o “irmão de Tiago, e José, e Judas, e Simão”, acrescentando. “E não estão as suas irmãs aqui conosco?” — Mar. 6:3.
À luz destes textos, suscita-se a pergunta: Por que, então, devia Jesus, pouco antes de sua morte, confiar os cuidados de sua mãe Maria ao apóstolo João, ao invés de a seus irmãos carnais? (João 19:26, 27) Manifestamente, porque o primo de Jesus, o apóstolo João, era um homem que provara sua fé, era o discípulo a quem Jesus amava mui ternamente, e este parentesco espiritual transcendia o carnal; naquele tempo, lembre-se, não há indícios de que seus irmãos carnais já fossem discípulos de Jesus.
Após a morte de Jesus na estaca de tortura, seus irmãos carnais mudaram sua atitude duvidosa, pois estavam presentes, junto com sua mãe e os apóstolos, quando se reuniram para oração, depois da ascensão de Jesus. (Atos 1:14) Isto sugere que também estavam presentes no derramamento do espírito santo no dia de Pentecostes. Tiago, que se destacou de forma proeminente entre os anciãos do corpo governante em Jerusalém, e que, muito embora não fosse apóstolo, escreveu a carta que leva seu nome, é, segundo se crê, irmão de Jesus. (Atos 12:17; 15:13; 21:18; Gál. 1:19; Tia. 1:1) Crê-se que o Judas, irmão de Jesus, e não o apóstolo, escreveu o livro que leva seu nome. (Judas 1, 17) Paulo indica que, pelo menos, alguns dos irmãos de Jesus eram casados. — 1 Cor. 9:5.
CABEÇA [Heb., ro’sh; Gr., kephalé]. Devido à sua posição superior no alto do corpo humano, e especialmente como a localização da mente e dos sentidos da visão, da audição, do olfato e do paladar, a cabeça figura de forma destacada na Bíblia, tanto em sentido literal como figurado.
A morte ou a destruição acham-se representadas pela expressão ‘rachar a cabeça’ ou ‘ferir’ a cabeça. (Sal. 68:21; 74:13, 14) A primeira profecia da Bíblia (Gên. 3:15) declara que o ‘descendente da mulher’, após ele mesmo sofrer um ferimento no calcanhar, esmagará a cabeça da serpente. Em cumprimento disso, outros textos mostram que a grande Serpente, Satanás, o Diabo, deverá ser colocada numa condição semelhante à morte no abismo, por mil anos, e pouco depois disso será aniquilada para sempre no “lago de fogo”, a “segunda morte”. — Rev. 20:1-3, 7, 10, 14; 12:9.
Expressões a respeito da cabeça literal são usualmente ligadas a algum significado figurado ou representativo. Faraó cumpriu a interpretação de José sobre o sonho do copeiro-mor por ‘levantar a cabeça dele’ de forma proeminente entre seus servos, restaurando-o a seu anterior cargo. Mas Faraó ‘levantou a cabeça’ de seu chefe dos padeiros, mandando matá-lo. (Gên. 40:13, 19-22) Entre algumas nações, os soldados eram sepultados com suas espadas sob a cabeça, isto é, com honras militares. (Eze. 32:27) Não ter Jesus Cristo “onde deitar a cabeça” significava que não dispunha de nenhuma residência que pudesse chamar de sua própria — Mat. 8:20.
BÊNÇÃO, UNIÃO, JURAMENTO
A cabeça era o membro do corpo sobre o qual se davam as bênçãos. (Gên. 48:13-20; 49:26) Os sacerdotes e outros em cujo favor eram feitos certos sacrifícios, punham a mão sobre a cabeça do animal, em reconhecimento de que o sacrifício era para eles. (Lev. 1:2-4; 8:14; Núm. 8:12) Óleo de unção era derramado sobre a cabeça. (Lev. 8:12; Sal. 133:2) No Sermão do Monte, Jesus aconselhou-nos a ‘untar a cabeça’ quando jejuarmos, de modo a parecermos bem arrumados e não fazermos uma exibição santimoniosa de abnegação para recebermos a aclamação pública. (Mat. 6:17, 18) Untar de óleo a cabeça dum conviva veio a ser um dos sinais essenciais de hospitalidade. (Luc 7:46) Pó, terra ou cinzas colocados sobre a cabeça significava angústia, pranto, ou humilhação. (Jos. 7:6; 1 Sam. 4:12; 2 Sam. 13:19) O salmista, ao recortar as provas e dificuldades sobrevindas ao povo de Deus, afirma que os homens cavalgaram sobre a cabeça de Israel. Ele se refere, pelo que parece, à sujeição a que foi submetido o povo de Deus por parte de simples homens mundanos (a palavra hebraica usada é ’enóhsh, “homem mortal”), que eram poderosos, cruéis e orgulhosos. (Sal. 66:12; compare com Isaías 51:23.) Os judeus adquiriram o costume de jurar por sua cabeça, prática que Jesus condenou. — Mat. 5:36, 37.
REPRESENTA A PESSOA
A cabeça, como membro governante do corpo, foi também usada para representar a própria pessoa. A cabeça dum nazireu estava sob um voto, seus cabelos compridos atestando esse fato. (Núm. 6:5, 18-20) Os pecados ou erros duma pessoa eram mencionados como estando sobre sua cabeça. (Esd. 9:6; Sal. 38:4; compare com Daniel 1:10.) Quando o julgamento sobrevém ao iníquo, diz-se que ele é recompensado por voltar o mal ou a punição sobre sua própria cabeça. (Juí. 9:57; 1 Sam. 25:39; Jer. 23:19; 30:23; Joel 3:4, 7; Obd. 15; compare com Neemias 4:4.) Ser alguém culpado de sangue, ou ter sangue sobre sua cabeça significava que a pessoa que seguia um proceder errado, digno de receber a sentença de morte, era pessoalmente responsável pela perda de sua própria vida. (2 Sam. 1:16; 1 Reis 2:37; Eze. 33:24; Atos 18:6) Fazer voltar sobre sua cabeça o sangue daqueles a quem a pessoa havia matado significaria submetê-lo a julgamento por culpa de sangue. (1 Reis 2:32, 33) Tendo significado similar, os pecados do povo eram confessados pelo sumo sacerdote de Israel, tendo as mãos sobre a cabeça do bode para Azazel (transferindo os pecados para o bode), após o que tal animal era levado para o deserto, a fim de levar tais erros para o esquecimento. (Lev. 16:7-10, 21, 22) Como mostram outros textos, Jesus Cristo pessoalmente ‘carregou nossas doenças e levou nossas dores’ e ‘levou os pecados de muitos’. — Isa. 53:4, 5; Heb. 9:28; 1 Ped. 2:24.
EXALTAÇÃO, HUMILHAÇÃO, DESPREZO
O favor, a orientação e a sabedoria de Deus são assemelhados a uma lâmpada que brilha sobre a cabeça e a uma grinalda de encanto sobre a cabeça. (Jó 29:3; Pro. 4:7-9) Quanto ao sábio, ele “tem os olhos na cabeça”, isto e, ele vê para onde vai. (Ecl. 2:14) O Rei Davi, curvado em humilhação e em dificuldades, voltou-se para Jeová como seu Escudo e como Aquele que ‘erguia sua cabeça’, habilitando-o a elevar de novo sua cabeça. (Sal. 3:3; compare com Lucas 21:28.) Também mostrou apreço pela repreensão do justo, chamando-a de óleo que sua cabeça não gostaria de recusar. (Sal 141:5) Curvar a cabeça era sinal de humildade ou pranto (Isa. 58:5), e menear ou sacudir a cabeça era símbolo de zombaria, desprezo ou assombro. — Sal. 22:7; Jer. 18:15, 16; Mat. 27:39, 40; Mar. 15:29, 30.
POSIÇÃO DOMINANTE
“Cabeça” poderia referir-se ao membro principal duma família, tribo, nação ou governo (Juí. 11:8; 1 Sam. 15:17; 1 Reis 8:1; 1 Crô. 5:24) “Patriarca” (Gr., patriárkhes) é, literalmente, “cabeça” ou “chefe de família”. (Atos 2:29; 7:8, 9; Heb. 7:4) Por isso, “à cabeça” era usado no sentido de liderança. (Miq. 2:13) O próprio Israel, se obediente a Deus, devia ficar à cabeça das nações, no topo, no sentido de que aquela nação seria livre e próspera, ficando até mesmo o povo de outras nações endividado a ela. (Deut. 28:12, 13) Se os israelitas desobedecessem, o residente forasteiro lhe emprestaria, tornando-se cabeça sobre eles. — Deut. 28:43, 44.
A RELAÇÃO DE JESUS CRISTO PARA COM A CONGREGAÇÃO CRISTÃ
Na congregação cristã, Jesus Cristo é a Cabeça da congregação, que é seu “corpo” de 144.000 membros. (Efé. 1:22, 23; Col. 1:18; Rev. 14:1) Possuindo a imortalidade, ele é o elemento sempre vivo de ligação do corpo de cristãos gerados pelo espírito na terra, em qualquer época, suprindo-lhes todas as coisas necessárias para que cresçam espiritualmente e operem para a glória de Deus. (1 Cor. 12:27; Efé. 4:15, 16; Col. 2:18, 19) Assim como o templo material possuía uma “pedra de remate”, literalmente, “de cabeça” (Zac. 4:7), assim Jesus é a Pedra de Remate do templo espiritual (Atos 4:8-11; 1 Ped. 2:7), e o Cabeça de todo governo e toda autoridade sob Deus, que é o Cabeça sobre todos. (Col. 2:10; 1 Cor. 11:3) A Bíblia assemelha a posição de Cristo qual Cabeça da congregação à dum marido para com sua esposa, para inculcar nos casais humanos a direção, o amor e o cuidado que o marido tem de exercer, e a sujeição que a esposa tem de demonstrar, na união marital — Efé. 5:22-33; veja CHEFIA.
CABELO. Historicamente, os homens e as mulheres, em geral, consideram seus cabelos como um ornamento, destacando sua atratividade, e como um sinal, em muitos casos, de força e de juventude. Por conseguinte, os cabelos tem merecido grandes cuidados.
HEBREUS
Desde o princípio, os homens hebreus costumavam deixar a barba crescer, mas ela era bem cuidada; e aparavam os pêlos em um comprimento moderado. Um exemplo disso era Absalão; embora seus cabelos crescessem com tamanha abundância que, quando ele os cortava, uma vez por ano, pesavam duzentos siclos — cerca de dois quilos (sem dúvida se tornando mais pesados pelo uso de Óleo ou de ungüentos). (2 Sam. 14:25, 26) A lei de Deus ordenava aos varões israelitas que não deviam ‘cortar curtas suas madeixas laterais’, nem destruir a “extremidade” de sua barba. Não se tratava duma injunção contrária a se aparar os cabelos ou a barba, mas isso era feito, evidentemente, para impedir que se imitassem os costumes pagãos. (Lev. 19:27; Jer. 9:25, 26; 25:23; 49:32) Deixar de cuidar dos cabelos ou da barba provavelmente, não os aparando ou deixando os descuidados, era sinal de pranto. (2 Sam. 19:24) Deus ordenou aos sacerdotes, em instruções fornecidas mediante o profeta Ezequiel, que eles aparassem, mas não rapassem, os cabelos de sua cabeça, e que não usassem cabelos soltos quando servissem no templo. — Eze. 44:15, 20.
As mulheres hebréias cuidavam bem de seus cabelos, como sinal de beleza (Cân. 7:5), permitindo que ficassem bem compridos. (João 11:2) Cortar uma mulher os seus cabelos era sinal de pranto ou de aflição. (Isa. 3:24) Quando um soldado israelita capturava uma virgem numa cidade inimiga e desejava casar-se com ela, exigia-se que ela primeiramente rapasse a cabeça e cuidasse de suas unhas, e passasse um período de um mês de luto por seus pais, tendo os mesmos sido mortos ao ser tomada a cidade. — Deut. 21:10-13; 20:10-14.
CRISTÃOS
Tanto o apóstolo Pedro como Paulo sentiram-se movidos a aconselhar as mulheres cristãs a não dar indevida atenção aos penteados e adornos, como era costumeiro naqueles dias. Antes, foram admoestadas a focalizar sua atenção em adornar-se com a vestimenta incorruptível dum espírito quieto e brando. — 1 Ped. 3:3, 4; 1 Tim. 2:9, 10.
O apóstolo Paulo também trouxe a atenção a situação e o costume geral que grassava entre as pessoas às quais escreveu, e mostrou que era natural um homem usar cabelos mais curtos que a mulher. Era uma desonra para a mulher ter seus cabelos tosados ou a cabeça rapada. Deus lhe dera cabelos compridos “em lugar de mantilha (cobertura para a cabeça)”, mas, argumentou Paulo, a mulher não poderia usar esta cobertura natural, que era uma glória para si, a fim de se escusar de usar uma cobertura para a cabeça, um “sinal de autoridade”, ao orar ou ao profetizar na congregação cristã. Ao reconhecer tal fato e usar uma cobertura em tais circunstâncias, a mulher cristã reconheceria a chefia teocrática e mostraria submissão cristã. Glorificaria, assim, tanto ao seu cabeça marital como a Jeová Deus, o Cabeça de todos. — 1 Cor. 11:3-16.
USO FIGURADO
Jó rapou a cabeça qual símbolo da condição desolada em que se achava, tendo perdido seus filhos e seus bens. — Jó 1:20.
Ordenou-se que Ezequiel cortasse os cabelos e a barba, dividindo-os em três partes, e livrando-se delas de formas que descreveriam profeticamente as coisas angustiantes que aconteceriam com os habitantes de Jerusalém na execução dos julgamentos de Deus contra ela (Eze. 5:1-13) A angústia e a aflição também eram simbolizadas pelo arrancar dos cabelos, ou por cortá-los. (Esd. 9:3; Jer. 7:29; 48:37; Miq. 1:16) A desonra, o desprezo ou o vitupério podiam ser expressos por se arrancarem os cabelos da cabeça ou da face de outrem. — Nee. 13:25; Isa. 50:6.
O número de cabelos na cabeça humana (que se diz ser em média de 120.000) foi usado para representar grandes números, ou inumerabilidade. (Sal. 40:12; 69:4) E a textura fina do cabelo foi usada figuradamente como símbolo de minúcia. (Juí. 20:16) ‘Nenhum cabelo de sua cabeça perecerá (ou cairá)’ é uma declaração que garante plena e completa proteção e segurança. (Luc. 21:18; 1 Sam. 14:45; 2 Sam. 14:11; 1 Reis 1:52; Atos 27:34) Um sentido similar foi indicado pelas palavras de Jesus Cristo a seus discípulos quanto ao cuidado de Deus por eles: “Os próprios cabelos de vossa cabeça estão todos contados.” — Mat. 10:30; Luc. 12:7.
As cãs mereciam respeito (Pro. 16:31; 20:29), e eram usadas às vezes qual sinônimo de idade avançada e de sabedoria. (Jó 15:9, 10) Jeová, numa visão dada a Daniel, foi representado simbolicamente como tendo cabelos brancos, “como pura lã”, sendo ele o “Antigo de dias”. (Dan. 7:9) O apóstolo João viu Jesus Cristo representado numa visão como tendo cabelos “brancos como lã branca”. — Rev. 1:1, 14, 17, 18.
PÊLOS DE ANIMAIS
O pêlo de cabra era usado para se fabricarem panos.(Êxo. 26:7) João Batista usava uma roupa de pêlo de camelo. (Mat. 3:4; Mar. 1:6) Este tipo de roupa era uma roupa oficial de profeta. (2 Reis 1:8; confronte com Gênesis 25:25.) Os pêlos que Rebeca colocou sobre as mãos e o pescoço de Jacó, para simular os cabelos de Esaú, eram provavelmente pêlos do bode camelo do Oriente, que eram usados pêlos romanos como substituto dos cabelos humanos. — Gên. 27:16.