“Língua Pura” — Uma realidade ou apenas um sonho?
AO LADO da estrada havia uma grande placa, em dez idiomas; a primeira linha dizia “BEM-VINDOS!”, em inglês, e a última linha, “BEM-VINDOS A BETEL!”, em português. As linhas do meio diziam “BEM-VINDOS!” em alemão, dinamarquês, espanhol, francês, holandês, italiano, japonês e norueguês. Estas eram as primeiras palavras de acolhida dos 2.350 viajantes internacionais que chegavam para uma visita à sede das Testemunhas de Jeová no Brasil, conhecida como “Betel”, situada a 143 quilômetros da cidade de São Paulo.
No entanto, embora sua visita a Betel fosse uma ocasião muito feliz, era apenas uma excursão secundária. O principal objetivo de sua viagem ao Brasil era comparecer ao Congresso de Distrito “Língua Pura”, das Testemunhas de Jeová, a ser realizado em São Paulo de 17 a 19 de agosto de 1990. As publicações que seriam lançadas no congresso foram impressas em Betel, e os planos iniciais para o congresso foram feitos ali com meses de antecedência; assim, era natural que os viajantes quisessem visitar esta sede.
Para cuidar das grandes multidões esperadas, alugaram-se dois estádios, o do Pacaembu, perto do centro de São Paulo, e outro ainda maior, o estádio do Morumbi, situado numa zona residencial. De especial interesse para as Testemunhas de Jeová era que dois membros de seu Corpo Governante, C. W. Barber e A. D. Schroeder, viriam de Brooklyn, Nova Iorque, para participar no programa. Os auges de assistência, de 48.220 e 86.186 respectivamente nos dois estádios, no domingo, 19 de agosto, provaram ter sido sábio tal arranjo de se ter dois estádios. No entanto. . .
O Que É a “Língua Pura”, o Tema do Congresso?
O tema do congresso foi tirado da Bíblia, de Sofonias 3:9, que reza: “Pois então darei aos povos a transformação para uma língua pura, para que todos eles invoquem o nome de Jeová, a fim de servi-lo ombro a ombro.” A “Língua Pura” não é uma língua literal, mas tem conotação espiritual, como declarou um dos oradores do congresso: “A língua pura é a verdade de Deus, encontrada na sua própria Palavra, as Escrituras Sagradas. Em especial é a verdade a respeito do Reino de Deus, que trará paz e outras bênçãos para a humanidade.” Outro orador declarou que os que falam esta língua pura estão unidos “numa surpreendente fraternidade internacional” e que ‘o seu modo de pensar, o seu modo de falar e a sua conduta se centralizam todos no reconhecimento de Jeová como o único Deus verdadeiro’. Se isto é verdade, então tais características deveriam ser evidentes entre os presentes ao Congresso “Língua Pura”. Eram evidentes mesmo?
O congresso obteve boa cobertura da imprensa e da televisão; assim, o que tinham a dizer nesse sentido? O Jornal da Tarde, numa reportagem de página inteira sobre as Testemunhas de Jeová, teceu os seguintes comentários: “Para realizar o congresso, a igreja fez funcionar uma gigantesca estrutura que trabalha incansavelmente e em silêncio. Durante a noite de quarta-feira, apesar de não acompanharem futebol, milhares de fiéis esperaram ansiosamente pelo final do jogo. . . . À meia-noite o batalhão iniciou a limpeza do estádio. O trabalho terminou no dia seguinte. Em seus 50 anos de existência, o Pacaembu só esteve tão limpo no dia da inauguração. . . . Ao contrário de eventos de outras religiões, o Congresso não apresenta manifestações de fanatismo, ninguém grita, os hinos religiosos são suaves e não existem curas mirabolantes e nem pessoas com sacolinhas atrás do dinheiro dos fiéis. Existe, no entanto, um clima de circunspecção celestial . . . Nos últimos oito meses, 10 mil adeptos dedicaram suas horas ociosas à organização do evento. . . . Hoje, outra multidão de 10 mil ministros — pessoas já batizadas — colabora na realização do evento. Eles orientam o fluxo das pessoas e veículos, dão informações, trabalham nos bares e livrarias, atendem à imprensa, trabalham como tradutores. Um posto de emergência conta com a presença permanente de médicos e paramédicos para atender os casos de urgência.”
Repórteres e fotógrafos fizeram seus próprios comentários pessoais. Um deles disse: ‘Os congressistas são muito educados e cooperadores. Observei que as pessoas são solícitas, vestem-se decentemente e isso cria um excelente ambiente aqui no estádio. Não existe tensão, as pessoas podem andar sossegadas, bem diferente do que nos dias de jogo de futebol. Maravilhoso!’ Uma repórter disse: ‘O que mais me chamou a atenção foi o alto nível de organização e disciplina dos fiéis. Isto é coisa bastante rara hoje em dia, especialmente em grandes concentrações. Embora minha formação religiosa seja católica, admiro muito o trabalho das Testemunhas de Jeová.’
É interessante a declaração do jornal Folha da Tarde: “As 81 mil pessoas que lotaram ontem o estádio do Morumbi e outras 41 mil que foram ao Pacaembu conseguiram mostrar que atualmente a fé ganha da bola, pelo menos em número de espectadores. . . . E todos [os presentes ao jogo de futebol] estavam ali para assistir a 90 minutos de jogo, não para ficar das 9 às 16h30 cantando, orando e ouvindo palestras sobre a ‘Língua Pura’.”
Os administradores dos estádios comentaram sobre os frutos da língua pura. Um deles disse: ‘Quando as Testemunhas de Jeová querem alugar o estádio, a única preocupação que temos é com a data. O resto não nos traz nenhuma preocupação. Elas são muito organizadas. As crianças são treinadas a não jogar lixo no chão.’ Outro, depois do congresso, declarou ao supervisor geral da empresa responsável pela limpeza do estádio: ‘Daqui para a frente, vocês terão que fazer a limpeza no estádio do mesmo modo como fizeram as Testemunhas de Jeová. Veja, podemos até comer dentro dos banheiros.’ Comentou uma gerente do clube de futebol, ao qual pertence o estádio: ‘Estão de parabéns pela organização do congresso, pela limpeza e pela disciplina demonstradas. ‘Todos estão bem vestidos, até mesmo as pessoas humildes estão usando suas melhores roupas.’
Outras Expressões
As diferentes agências de turismo utilizadas pelas delegações estrangeiras forneceram ônibus e guias para levá-las, na ida e na volta de seus hotéis até os locais de congresso, e também para outras excursões. Mais tarde, um deles escreveu: ‘Sinceramente, após ter servido e conhecido as Testemunhas de Jeová, não dá vontade de trabalhar com outros grupos de turistas, tamanha é a diferença de um para o outro. Até agora já atendi cerca de 40 mil turistas, inclusive grupos de outras religiões, mas nenhum deles me comoveu tanto. . . . Vi gente de todo o canto do mundo, mesmo sob a chuva e frio, sentados desde a manhã cedo até o entardecer, ouvindo a Palavra de Deus. . . . Eu os vi confraternizando-se e abraçando uns aos outros como se fossem amigos de há muito tempo, e se despedindo com sorrisos e lágrimas, como se fossem irmãos de verdade.’
Com a afluência de tantas pessoas aos estádios, as Testemunhas apreciaram muito a presença de policiais para ajudar a dirigir o trânsito e resolver outros problemas que surgissem. O comandante do policiamento do estádio do Pacaembu comentou a excelente organização dos irmãos, dizendo que: ‘(1) não tinha havido nenhum incidente nos dois estádios, (2) houve o controle do trânsito de pedestres, (3) bom relacionamento com as autoridades, cortesia e prontidão em acatar instruções, e (4) a presença de patrulhas policiais era realmente desnecessária, em vista das circunstâncias’. Concluiu ele: ‘Tudo comprovava a informação que vim a ter sobre o tipo de pessoas com quem estávamos lidando, informação que adquiri através das revistas, A Sentinela e Despertai!, que obtive de seus missionários que fazem visitas de porta em porta.’
Um cabo da Polícia Militar, em serviço no estádio do Pacaembu, também expressou sua opinião: ‘Conheço algumas Testemunhas de Jeová há 10 anos, pois meu sogro e alguns dos meus amigos são Testemunhas. Mas é a primeira vez que estou a serviço em um Congresso. Minha surpresa é grande, pela multidão de pessoas, tão bem organizadas e sem necessidade de policiamento, e com a confiança e segurança encontradas em todos.’
Até mesmo estranhos se sentiram movidos a comentar a amabilidade evidente entre os congressistas. Uma Testemunha escreveu a respeito de dois deles: “Estávamos no aeroporto na sexta-feira, para receber congressistas franceses, italianos e japoneses. . . . Um senhor, muito elegante, tinha observado a calorosa acolhida dada ao grupo japonês e ficara intrigado. Agora era a vez de recebermos a delegação francesa. . . . Não podendo mais conter sua curiosidade, esse senhor, visivelmente emocionado, aproximou-se de minha esposa e perguntou: ‘Será que me podem explicar o que se passa aqui? Como podem conhecer tantas pessoas assim? Vejo que vocês recebem os que chegam usando um crachá similar como se fossem amigos íntimos! E realmente deve ser assim, porque percebi muita sinceridade e calor humano no abraço e nas expressões trocadas.’ Quando finalmente lhe explicamos quem éramos . . . e sobre nosso congresso, ele disse. ‘Não sei nada sobre a sua religião. Já tive funcionários de sua religião que tentaram explicar algo, mas eu nunca quis ouvir por achar que se tratava apenas de mais uma religião. Agora, no entanto, percebi que se existe uma religião capaz de produzir os sentimentos que aqui presenciei, então tal religião merece o meu respeito. Gostaria de saber mais sobre ela.’
O clima de amizade atraiu uma jovem senhora que passava diante dum hotel. Ao ver a placa, exposta no saguão, que informava sobre a presença das Testemunhas de Jeová e seu congresso, ela entrou no hotel. Minha esposa finalmente se aproximou e perguntou: ‘Posso ajudá-la? Está esperando alguém?’ A senhora pediu permissão para se expressar, dizendo: ‘Quando li no cartaz sobre a presença de Testemunhas de Jeová neste hotel pensei tratar-se de um engano, já que nunca pude imaginar Testemunhas de Jeová num hotel 5-estrelas. Depois de estar meia hora aqui, observando esse espírito de fraternidade sem nenhuma hipocrisia, sinto-me movida a pedir desculpas a vocês, Testemunhas de Jeová, por ter alimentado durante tantos anos conceitos preconcebidos e distorcidos sobre vocês. Nunca abri minha porta para vocês porque minha mente estava cheia de idéias erradas que me haviam sido transmitidas por amigos, também preconceituosos. Tudo o que sabia de vocês era que se tratava de um grupo inexpressivo de fanáticos, de baixa instrução, extremamente pobres e muito inconvenientes. Mas o que vejo aqui hoje, com os meus próprios olhos, me revela uma outra história. Observo uma cordialidade que me comove. Foi exatamente essa cordialidade que me fez entrar no hotel hoje. Sou de Minas Gerais e venho a São Paulo a negócios. Costumo me hospedar num hotel aqui perto e sempre que passo em frente a este hotel luxuoso vejo pessoas muito formais, entrando e saindo. Hoje, porém, me surpreendeu o espírito de alegria e amizade entre pessoas de diferentes raças e então achei que isso merecia ser visto mais de perto. E o que vi me levou a concluir que, se existe uma religião que pode criar um vínculo tão belo de amizade entre pessoas de raças tão diferentes, sem nunca antes se terem conhecido, então preciso saber mais sobre essa religião.’
Uma evidência dos frutos da língua pura em outras pessoas foi o batismo de 2.473 pessoas no sábado. Tais pessoas haviam, por meses antes do congresso, dedicado muito tempo e esforço a aprender e praticar a língua pura em sua vida, e, por seu batismo, expressaram abertamente sua dedicação a Jeová Deus e sua determinação de continuar fazendo isso nos meses e anos à frente.
Muito mais se poderia dizer dos efeitos do Congresso “Língua Pura”, realizado em São Paulo, com base nas dezenas de cartas recebidas. Todas atestam que a língua pura predita pelo profeta Sofonias está longe de ser um sonho, mas é uma realidade entre as Testemunhas de Jeová, atualmente. Isto pode ser observado por todos que demonstram pronta disposição para com Jeová e sua Palavra.
Insta-se com tais pessoas a acatar as palavras finais do orador do discurso público, no último dia do congresso, quando declarou: “Se deseja sobreviver para o novo mundo de Deus, agora é o tempo de aprender e falar a língua pura. As Escrituras asseguram-nos: ‘Todo aquele que invocar o nome de Jeová salvar-se-á.’ (Joel 2:32) Portanto, aprenda a língua pura e una-se ao povo de Deus. . . . Una-se a eles, e poderá esperar usufruir bênçãos eternas do Originador da língua pura, o Soberano Senhor Jeová.”
[Fotos na página 15]
Vista aérea do estádio do Morumbi e do Pacaembu, em São Paulo.
[Fotos na página 16]
Uma das 2.473 pessoas batizadas no congresso.
A. D. Schroeder, membro do Corpo Governante, lançando o livro O Homem em Busca de Deus, em português.
[Foto na página 17]
Grupos de congressistas estrangeiros foram convidados a percorrer o campo para dizer “Adeus!”.