A igreja católica na África
DO CORRESPONDENTE DE DESPERTAI! NA ITÁLIA
A IGREJA Católica tem dezenas de milhões de fiéis na África, e seus problemas lá são graves. Em meados do primeiro semestre deste ano, mais de 300 líderes eclesiásticos reuniram-se no Vaticano, em Roma, para discutir alguns desses problemas num sínodo especial de um mês de duração.
Ao abrir as sessões, o papa disse, conforme noticiado no jornal L’Osservatore Romano: “Hoje, pela primeira vez, realiza-se um Sínodo da Igreja Africana, que abrange todo o continente. . . . Toda a África está presente hoje na Basílica de S. Pedro. Com profunda afeição, o Bispo de Roma saúda a África.”
Guerra tribal
Como muitos sabem, os problemas da Igreja Católica são gravíssimos em Burundi e Ruanda, países africanos predominantemente católicos. A guerra tribal lá virou notícia internacional em abril deste ano, quando centenas de milhares de pessoas foram mortas em massacres. Uma testemunha ocular disse: “Vimos mulheres com criancinhas nas costas matando. Vimos crianças matando crianças.”
O jornal National Catholic Reporter comentou sobre a angústia da liderança católica. Disse que o papa “sentiu ‘imensa dor’ ao receber novos relatos de conflitos na pequenina nação africana [Burundi], cuja população é predominantemente católica”.
Os massacres em Ruanda abalaram ainda mais a liderança católica. “Papa condena genocídio em nação 70% católica”, foi uma manchete no mesmo jornal. O artigo dizia: “O conflito nessa nação africana é ‘um verdadeiro genocídio, pelo qual, lamentavelmente, até mesmo os católicos são responsáveis’, disse o papa.”
A atenção dos bispos obviamente estava voltada para a situação em Ruanda, já que as atrocidades nesse país eram cometidas enquanto se realizava o histórico sínodo católico em Roma. O National Catholic Reporter comentou: “O conflito em Ruanda revela algo alarmante: a fé cristã não lançou raízes suficientemente profundas na África para superar o tribalismo.”
Chamando atenção para a preocupação dos bispos em assembléia, o National Catholic Reporter disse ainda: “Esse tema [o tribalismo] foi abordado por Albert Kanene Obiefuna, bispo de Awka, Nigéria, ao falar ao sínodo.” Em seu discurso, Obiefuna explicou: “O africano típico leva a vida familiar e também sua vida cristã no contexto das atividades tribais.”
Depois, sem dúvida pensando em Ruanda, Obiefuna prosseguiu em seu discurso ao sínodo: “Essa mentalidade é tão generalizada que os africanos costumam dizer que, na hora do aperto, não é o conceito cristão da Igreja, como família, que prevalece, mas o adágio ‘sangue é mais grosso do que água’. E, presumivelmente, é possível incluir nessa água as águas do Batismo, por meio das quais a pessoa se filia à família da Igreja. A relação consangüínea é mais importante, até mesmo para o africano que se torna cristão.”
O bispo admitiu assim que, na África, a fé católica não tivera êxito em criar uma fraternidade cristã em que os fiéis realmente amassem uns aos outros como Jesus Cristo ensinou que deviam amar. (João 13:35) Em vez disso, “a relação consangüínea é mais importante” para os católicos africanos, o que resulta em eles colocarem ódios tribais à frente de todas as outras considerações. Como o papa admitiu, os católicos na África precisam assumir a responsabilidade por algumas das piores atrocidades cometidas recentemente.
Sobrevivência em risco, diz o sínodo
Os bispos africanos no sínodo expressaram temor pela sobrevivência do catolicismo na África. “Se queremos que a Igreja continue a existir no meu país”, disse Bonifatius Haushiku, um bispo namíbio, “temos de considerar mui seriamente a questão da inculturação”.
Expressando sentimentos semelhantes, a agência católica de notícias Adista, uma agência italiana, disse: “Falar de ‘inculturação’ do Evangelho na África significa falar do próprio destino da Igreja Católica naquele continente, de suas chances de sobreviver ou não.”
Exatamente o que os bispos querem dizer com “inculturação”?
A Igreja e a “inculturação”
John M. Walliggo explicou que “adaptação é o termo usado já por muito tempo para referir-se à mesma realidade”. Em palavras mais simples, “inculturação” significa a assimilação de tradições e conceitos de religiões tribais nas cerimônias e no culto católicos, dando-se novo nome e novo significado a antigos ritos, objetos, gestos e lugares.
A inculturação permite que os africanos sejam considerados católicos de boa reputação e ainda se apeguem a práticas, cerimônias e crenças de suas religiões tribais. Deveria haver objeção a isso? O jornal italiano La Repubblica, por exemplo, perguntou: “Não é verdade que, na Europa, o Natal foi embutido na festa do Solis Invicti, que caía em 25 de dezembro?”
De fato, como comentou o cardeal Josef Tomko, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, “a Igreja missionária praticava a inculturação muito antes de o termo passar a ser usado”. A celebração do Natal ilustra bem isso, como disse La Reppublica. Originalmente, o Natal era uma celebração pagã. “A data de 25 de dezembro não corresponde ao nascimento de Cristo”, reconhece a New Catholic Encyclopedia, “mas à festa do Natalis Solis Invicti, o festival romano do sol, no solstício”.
O Natal é apenas um dentre muitos costumes da Igreja embutidos no paganismo. É o caso de crenças como a Trindade, a imortalidade da alma e o tormento eterno de almas humanas após a morte. O cardeal John Henry Newman, do século 19, escreveu: “Os governantes da Igreja, desde os tempos primitivos, estavam preparados, caso surgisse a ocasião, para adotar, imitar ou sancionar os existentes ritos e costumes da populaça.” Alistando muitas práticas e dias santos eclesiásticos, ele disse que ‘todos eram de origem pagã e foram santificados pela sua adoção na Igreja’.
Quando os católicos entram em regiões não-cristãs, como certas regiões da África, em muitos casos constatam que as pessoas já têm práticas e crenças religiosas similares às da Igreja. Isso acontece porque, em séculos passados, a Igreja adotou práticas e ensinos de povos não-cristãos e introduziu-os no catolicismo. Essas práticas e ensinos, disse o cardeal Newman, foram ‘santificados pela sua adoção na Igreja’.
Assim, quando o Papa João Paulo II visitou povos não-cristãos na África no ano passado, L’Osservatore Romano atribuiu-lhe a declaração: “Em Cotonou [Benin, África], encontrei-me com adeptos do vodu, e ficou evidente, por sua maneira de falar, que, de algum modo, eles já têm em sua mentalidade, ritos, símbolos e índole um pouco daquilo que a Igreja quer oferecer-lhes. Estão apenas esperando que alguém vá lá e lhes dê uma mão para que possam cruzar a fronteira e vivenciar, por meio do Batismo, o que, de algum modo, já vivenciavam antes do Batismo.”
O que você deveria fazer?
O fracasso da Igreja em ensinar o cristianismo genuíno e não adulterado aos povos da África tem tido conseqüências desastrosas. O tribalismo persiste, assim como o nacionalismo em outros lugares, o que resulta em católicos se massacrarem. Que desonra para Cristo! A Bíblia diz que essa matança bárbara identifica as pessoas como “filhos do Diabo”, e Jesus diz, com respeito a essas pessoas: “Afastai-vos de mim, vós obreiros do que é contra a lei.” — 1 João 3:10-12; Mateus 7:23.
Então, o que os católicos sinceros precisam fazer? A Bíblia recomenda fortemente que os cristãos estejam alertas contra transigir com quaisquer práticas ou crenças que tornariam sua adoração impura aos olhos de Deus. “Não vos ponhais em jugo desigual com incrédulos”, diz a Bíblia. Para ter o favor de Deus, você precisa ‘separar-se deles e cessar de tocar em qualquer coisa impura aos olhos de Deus’. — 2 Coríntios 6:14-17.
[Destaque na página 20]
‘A guerra em Ruanda é um verdadeiro genocídio, pelo qual até mesmo os católicos são responsáveis’, disse o papa
[Crédito da foto na página 18]
Foto: Jerden Bouman/Sipa Press