Compêndios bíblicos: são antibíblicos?
CERTO domingo de manhã, um senhor foi atender às batidas na porta e encontrou uma Testemunha de Jeová à entrada da casa. A Testemunha falou-lhe a respeito da Bíblia e ofereceu-lhe uma publicação que esclarecia importantes assuntos bíblicos. O senhor, porém, recusou-a. Apontou para uma Bíblia que se encontrava no painel de sua caminhonete e disse: “A Bíblia é tudo o que necessito.”
Concordaria com este senhor? Bem, se ele quis dizer que nada poderia substituir a Bíblia qual fonte da verdade, então todos os cristãos teriam de concordar com ele. Mas, a publicação que aquela Testemunha levava não visava substituir a Bíblia. Destinava-se a explicar a Bíblia, salientar partes dela que poderiam ser úteis na vida daquele senhor, e assim edificar o respeito por esse importante livro e o conhecimento dele. Será desnecessário ou mesmo errado ler tais publicações?
AS ESCRITURAS — SÃO EM SI MESMAS O BASTANTE?
Sugerem as Escrituras que ler a Bíblia — importante como isto seja — é tudo o que se precisa para adquirir conhecimento exato da verdade? Realmente, não. Por exemplo, o discípulo Tiago disse o seguinte a respeito dos judeus: “Desde os tempos antigos, Moisés tem tido em cidade após cidade os que o pregam, porque ele está sendo lido em voz alta nas sinagogas, cada sábado.” (Atos 15:21) Contudo, apesar de toda esta leitura da Bíblia, a maioria dos judeus nunca chegou a discernir que Jesus era o Messias.
O eunuco etíope, mencionado em Atos, capítulo 8, também era leitor da Bíblia. O discípulo Filipe ouviu-o ler em voz alta o livro de Isaías enquanto viajava para casa em sua carruagem. Era isso o bastante para ele obter conhecimento da verdade? Filipe perguntou-lhe: “Sabes realmente o que estás lendo?” Ele respondeu: “Realmente, como é que eu posso, a menos que alguém me guie?” (Atos 8:30, 31) Ele reconheceu humildemente a necessidade de ajuda para compreender a Bíblia.
Lembre-se também da ordem que Jesus deu aos seus seguidores pouco antes de ascender aos céus: “Ide, portanto, e fazei discípulos de pessoas de todas as nações, batizando-as em o nome do Pai, e do Filho, e do espírito santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos ordenei.” (Mateus 28:19, 20) Obviamente, era necessário fazer mais do que convidar os novos conversos para leituras públicas da Bíblia ou dar-lhes a Bíblia e deixar que a lessem por conta própria. Os cristãos também tinham de ensiná-los.
Além disso, o apóstolo Paulo viu a necessidade de algo mais do que meramente incentivar a leitura da Bíblia, quando disse a Timóteo: “Até eu chegar, continua a aplicar-te à leitura pública, à exortação, ao ensino.” (1 Timóteo 4:13) Ler a Bíblia era de importância vital — Paulo colocou a leitura pública no primeiro lugar de sua lista. Mas, também era necessário ajudar os ouvintes a entender o significado do que era lido (ensino) e incentivá-los a aplicar isso na vida (exortação).
Por fim, no livro de Atos, obtemos um quadro claro de que os discípulos e os apóstolos faziam muito mais do que apenas ler a Bíblia para as pessoas. Ajudavam a torná-la compreensível para elas. “Judas e Silas, visto que eles mesmos também eram profetas, encorajaram os irmãos com muitas dissertações e os fortaleceram. No entanto, Paulo e Barnabé continuaram a passar um tempo em Antioquia, ensinando e declarando, também com muitos outros, as boas novas da palavra de Jeová.” — Atos 15:32, 35.
AJUDAS POR ESCRITO
‘Mas, aquilo não era literatura escrita’, você talvez diga. É verdade. Entretanto, há grande diferença entre uma dissertação escrita e uma oral? De fato, embora não dispusessem de equipamentos de impressão, os apóstolos e outros dos primitivos cristãos realmente fizeram uso da palavra escrita para divulgar as boas novas. Escreveram numerosas cartas às diversas congregações, para manter contato com estas enquanto ausentes. Algumas destas tornaram-se realmente parte da Bíblia, mas muitas não.
Na primeira carta de Paulo aos Coríntios, que foi preservada na nossa Bíblia, lemos as seguintes palavras: “Eu vos escrevi na minha carta que cesseis de manter convivência com fornicadores . . . Mas, eu vos escrevo agora para que cesseis de ter convivência com qualquer que se chame irmão, que for fornicador.” (1 Coríntios 5:9-11) Aqui, Paulo refere-se claramente a uma carta anterior aos coríntios, uma que não possuímos hoje. Achavam os cristãos coríntios que não necessitavam da carta que não foi incorporada à Bíblia? É evidente que não. Eles a reconheciam como ajuda por escrito para auxiliá-los a compreender as verdades bíblicas e a aplicar os princípios bíblicos em suas vidas.
Quando escreveu à congregação colossenses, o apóstolo referiu-se a outra carta que não mais existe, desta vez a uma enviada aos cristãos em Laodicéia. Ele disse: “E, quando esta carta tiver sido lida entre vós, providenciai para que seja também lida na congregação dos laodicenses, e para que leiais também a de Laodicéia.” (Colossenses 4:16) Portanto, não só foram escritas cartas a diversas congregações, mas estas cartas eram circuladas entre as congregações. Se os modernos equipamentos de impressão estivessem disponíveis naquele tempo, pode imaginar como os apóstolos teriam feito uso deles para inundar o mundo do seu tempo com informações a respeito de Jesus?
Bem, hoje temos à nossa disposição equipamento moderno de impressão, e as Testemunhas de Jeová realmente fazem uso deste para inundar o mundo com Bíblias e compêndios bíblicos impressos. Não pode haver objeção bíblica a isto. Iguais aos cristãos a quem Timóteo ministrava, nós hoje precisamos ler a Bíblia. Mas, também temos de ser ensinados, a fim de a compreendermos e de sermos exortados, para que saibamos como aplicá-la na nossa vida.
Os compêndios bíblicos só lhe serão de benefício, contanto que não deturpem a Palavra de Deus e desde que glorifiquem a Deus, encaminhem o leitor para a adoração verdadeira, ajudem-no a manter-se separado do mundo e o auxiliem a achegar-se mais a Deus, ao passo que anda nas pisadas de Jesus Cristo. Acreditamos que verificará que as publicações bíblicas distribuídas pelas Testemunhas de Jeová cumprem todos esses requisitos.