Gana
O PAÍS de Gana se acha localizado no bojo enorme, que dá para o oeste, do continente da África. Acha-se pouco acima do Equador, partilhando fronteiras com a Costa do Marfim a oeste e com o Togo a leste. Com uma área de 239.460 quilômetros quadrados, é quase tão grande quanto a Grã-Bretanha. A população atual é de oito e meio milhões de pessoas, dentre as quais 16.093 são testemunhas de Jeová. Este é o país que, até 6 de março de 1957, era conhecido como Costa do Ouro.
É digno de nota que a religião indígena do povo de Gana se baseia no animismo. Por causa disto, a questão da alma e do que acontece após a morte é de tamanha importância aqui de modo a ananicar qualquer outro ensino religioso.
A crença de que os objetos inanimados têm almas ou são habitados por espíritos dignos de reverência tem levado à adoração de rios, lagos e lagoas, notórios entre eles sendo os Rios Prah, Tano e Densu, o Lago Bosomtwi e as lagoas Korle e Sakumo. Considera-se que certos animais são encarnações sagradas da alma de certas clãs e se lhes atribui apropriada reverência. As montanhas, as rochas, os vales, as árvores e as vinhas têm sido todos adorados ou considerados com reverência supersticiosa.
Quando os portugueses foram expulsos da Costa do Ouro, em 1642, os sacerdotes católicos partiram junto com eles. Antes de partirem, contudo, haviam introduzido entre o povo o culto de Santo Antônio.
Atualmente, o povo pagão de Elmina construiu um santuário para a estátua de Santo Antonio. Chamaram-no de Nana Ntuna (Vovô Antônio). Nos tempos recentes, a velha Bíblia que eles afirmam ter vindo junto com a estátua desapareceu da cabana, mas o rosário e o crucifixo ainda se acham lá. Também criaram um deus assistente, Brafu Kweku, para Santo Antônio. Isa (Jesus) é representado na Ntuna Bom (Cabana de Antônio) no “que parecem ser resíduos em pé de hóstias ou pão da comunhão muito antigos, deixados num receptáculo”.
Assim, “Nana Ntuna, Isa e Brafu Kweku constituem a trindade da adoração Antoni-Bum, durante cuja celebração colocam-se velas acesas em torno da estátua e queima-se incenso”. O culto de Ntuna de Elmina acha-se associado com o fruto da primeira tentativa da cristandade de cristianizar um povo que adorava de forma animista.
Passaram-se dois séculos desde o tempo da expulsão dos portugueses antes de a cristandade fazer outra tentativa de evangelizar a Costa do Ouro, desta vez através das missões protestantes. Logo que os missionários venceram o problema de aclimatação, que ceifou um bom número de vidas, dedicaram-se a estudar as línguas nativas. Dentro de pouco tempo, os missionários de Basiléia e de Bremen submeteram as três principais, o twi, o eve e o gã, à escrita. Seguiram isto com traduções de partes da Bíblia nas línguas vernaculares, e, por volta de 1871, a Bíblia inteira se achava disponível em forma impressa em twi, eve e gã.
Estas traduções eram tão exatas, no que diz respeito aos idiomas, que as em eve e gã ainda são as únicas traduções em uso, sofrendo muito pouca revisão.
Uma das modalidades mais elogiáveis de suas traduções é o uso do Nome Divino. Este, traduzido lehowa e Yehowa, aparece nas Escrituras Hebraicas em quase todos os seus devidos lugares em todas as três traduções. Os tradutores para o eve e o gã fizeram ainda melhor. Usaram o Nome Divino nas Escrituras Gregas, em gã em 2 Coríntios 6:17 e 18 e, em eve, em Hebreus 7:21; 13:6; 1 Pedro 3:12, e no livro de Revelação, sempre que ocorre a expressão “Aleluia”.
Os primitivos missionários ensinaram assim ao povo que o nome do Deus-Chefe é Iehowa ou Yehowa. Estabeleceram escolas e ensinaram ao povo a ler. Também produziram livros e folhetos que continham narrativas históricas simplificadas da Bíblia e encorajaram sua leitura. Tudo isto ajudou a fornecer aos nativos alguma informação básica sobre a Bíblia e para familiarizá-los com o Nome Divino.
Depois da Primeira Guerra Mundial, a educação adquiriu maior ímpeto na Costa do Ouro. Por volta dessa época, a influência das igrejas se havia espalhado por todo o país, as poucas exceções sendo as áreas muçulmanas do Norte. Haviam estabelecido mais escolas e até mesmo se ramificado para os campos comerciais e outros. A educação e as igrejas estavam tão intimamente vinculadas na mente dos nativos que as igrejas eram chamadas de Sukuu ou Escola.
Por este motivo, considerava-se sinal de prestígio ser batizado formalmente numa das igrejas da cristandade. Os educados se identificavam com esta ou aquela igreja, chamando de atrasados, matutos, iletrados e pagãos aqueles cujos nomes não se achavam inscritos em qualquer registro de igreja.
Outrossim, apesar dessa exibição exterior de piedade, o freqüentador nativo de igreja era o mesmo inferiormente. O batismo era barato, estando disponível para qualquer um que fizesse um pedido verbal, mesmo no leito de morte. As mudanças que precisavam ser feitas na vida da pessoa, em harmonia com a vontade de Deus, não tinham influência alguma.
Muitos freqüentadores “esclarecidos” de igreja continuavam a prestar homenagens aos deuses ancestrais. Em muitos sentidos, participavam nas festas pagas que honravam os mortos. Os chefes tribais, que faziam ofertas de comida e bebida aos deuses ancestrais, eram aceitos nas igrejas com uma sensação de prestígio. Para complementar as festas pagas, estes chefes, acompanhados de vasto séquito, freqüentavam os ofícios das igrejas com tambores e uma porção de atavios a fim de “agradecer a Deus” com enormes donativos financeiros, que eram sempre bem recebidos pelas igrejas.
A poligamia não constituira barreira para se ser membro duma igreja, embora os polígamos e alguns chefes, segundo se dizia, eram impedidos de receber a comunhão de pão e vinho. A posição da pessoa perante a igreja era realmente determinada pela habilidade da pessoa de contribuir para o fundo da igreja, assim como o enterro pela igreja e outros oficias eram decididos principalmente por ter a pessoa pago ou não suas taxas de membro.
Em face de tudo isso não é de admirar que alguns africanos nos anos 20 sentissem que as igrejas tinham sido um grande fracasso. Havia homens, na Costa do Ouro, nessa ocasião, que ficavam horrorizados com tais coisas, que olhavam para o ambiente confuso da cristandade e seus ensinos e ficavam pensando se Deus não era capaz de ter algo melhor.
Havia, por exemplo, Eddy Addo, esguio, da cor do cobre, agressivo e franco. Era ativo na igreja, sim, mas não hesitava em confrontar o clero quanto ao que ele chamava de “pensamento agitado dentro de mim quanto a solicitação freqüente de fundos”. Havia J. B. Commey, sério e meditativo, que procurava a verdade. Sofreu um abalo quando o sacerdote anglicano lhe disse que a igreja era uma sociedade e que tinha suas regras que não se ajustavam à Bíblia.
Considere também C. T. Asare, um estudante um tanto manso e apologético, que procurava sincera e honestamente adorar a Deus. Veja-o do outro lado da mesa, ao encarar o sacerdote numa entrevista antes da Comunhão. Ouça o sacerdote exigir o pagamento de suas taxas da igreja, condição para que lhe servisse a Comunhão. O tímido Asare muda sua expressão facial. Com dificuldade, explica que é estudante e, por isso, está incluso na dispensa especial que abrange os estudantes do pagamento das taxas da igreja. Ouça então o sacerdote mandar que vá embora, com a voz mais alta possível, acrescentando: “Acha que eu não preciso comer para trabalhar?”
Havia outros homens na Costa do Ouro que fervorosamente procuravam as verdades da Palavra de Deus, como I. K. Norman. Era jovem, inteligente, dotado de boa instrução e com um excelente futuro material no serviço público. Mas, o jovem Norman estava longe de se sentir contente com a religião que foi treinado desde criança a aceitar. Apesar de seu senso natural de humor, levava a religião a sério, tanto assim que, correndo o risco de perder o emprego, escreveu ao Arcebispo de Cantuária e ao Bispo de Liverpool, questionando a doutrina da Trindade em termos bem claros. Imagine seu desapontamento quando um capelão lhe respondeu para dizer que o arcebispo estava muito ocupado para responder à carta dele. Imagine seu desgosto, ao passo que a carta insta com ele a que se batize de imediato e diz que, depois disso, tudo ficará bem claro para ele!
Estes eram homens que desejavam conhecer o caminho correto para se adorar a Deus. Acharam insatisfatório o paganismo animista, e a cristandade lhes tinha falhado.
JEOVÁ ENVIA A LUZ
“Certamente . . . Deus não é parcial, mas em cada nação, o homem que o teme e que faz a justiça lhe e aceitável.” — Atos 10:34, 35.
É exatamente assim que o pequeno grupo de pessoas famintas pela verdade, na Costa do Ouro, pensava no ano de 1924. Tinham tateado nas trevas, suspirando e gemendo por causa de todas as coisas detestáveis que sabiam ser feitas na cristandade e no paganismo.
Naquele tempo, um dos servos ungidos de Deus chegou para ajudá-los a aprender a verdade da Palavra de Deus. Era Claude Brown, das maias Ocidentais, que havia emigrado para o Canadá. Era um Estudante Internacional da Bíblia durante a Primeira Guerra Mundial e passou algum tempo preso no Canadá, ao invés de violar sua neutralidade. Perto do fim de 1923, deixou a cidade de Winnipeg, no Canadá, e foi de navio para Serra Leoa. Ali, associou-se com W. R. Brown, que viera das Índias Ocidentais seis meses antes para declarar a boa-nova do reino do Deus ao povo da África Ocidental.
Claude Brown passou cerca de três meses em Serra Leoa preferindo discursos bíblicos e aclimatando-se a África Ocidental. Foi no início de 1924 que W. R. Brown o enviou numa excursão de discursos para a Costa do Ouro e a Nigéria.
Antes de partir de Serra Leoa, Claude Brown obteve informações sobre uma família de Serra Leoa que morava na Costa do Ouro. Embora Accra, capital da Costa do Ouro, fosse naquele tempo uma cidade movimentada de 43.000 pessoas, Claude Brown conseguiu localizar a família. Os Coles, como se chamavam, resultaram ser muito hospitaleiros e hospedaram este embaixador do reino de Deus na casa deles.
Possuíam um palácio composto de diversões chamado “Merry Villas”. O teatro principal era construído como um salão de cinema, e tinha capacidade para 400 pessoas sentadas. Era usado principalmente para um carrossel operado manualmente que podia ser desmontado e removido para dar lugar a outros espetáculos no salão. A “Merry Villas” já era famosa por ser o local ideal da cidade para discursos e reuniões públicas. Claude Brown conseguiu utilizar o salão para seus discursos bíblicos, o primeiro a ser proferida no país por um representante dos servos ungidos de Jeová.
Ele trouxera consigo grandes cartazes que anunciavam os discursos. A mão, preencheu os pormenores do local e horário e se manteve bem ocupado em colá-los nos prédios públicos em casas particulares e nos quadros de avisos públicos.
Ler avisos públicos, naqueles dias, era sinal de ser alfabetizado, elevava o prestígio da pessoa. Assim, muito em breve os cartazes de Claude Brown começaram a atrair a atenção de grande parte da população de Accra. Os alfabetizados e os semiletrados se juntavam em torno deles, por toda a parte. O que os cartazes diziam os deixava surpresos. Logo, várias pessoas que liam seus cartazes começavam a ressoar a pergunta: “Onde estão os mortos?” “Se os bons estão no céu e os maus no inferno de fogo, realmente, por que vivemos com medo dos mortos?”
Vale a pena registrar aqui que alguns dos homens que ponderaram os pontos suscitados pelos cartazes de Claude Brown, como J. B. Commey e Eddy Addo, recusaram ir à igreja naquele dia, certificando-se de que nada interferisse com sua ida a “Merry Villas” na hora de ouvir o estranho expositor bíblico internacional.
Já às 14,30 horas o salão estava cheio em mais da metade, e, ao se iniciar o discurso, havia nada menos de 500 pessoas presentes. Tratava-se duma assistência ilustre, composta de clérigos de destaque, entre os quais se achava J. T. Roberts fundador do Ginásio de Accra. Também presente se achava o Sr. E. Ayeh, diretor da Escola Bishop para rapazes, o advogado T. Hutton Mills, que mais tarde se tornou ministro de estado e o Sr. John Buckman, mais tarde secretário do Conselho Provincial de Chefes.
Não havia nenhuma tribuna ou púlpito esmerado, como tais pessoas estavam acostumadas a ver nas capelas da cristandade Havia apenas uma mesa de escrever, sobre a qual se colocara uma toalha de mesa branca e limpa. Sobre ela se achavam a Bíblia e os livros de consulta do orador.
Claude Brown deu uma breve olhada para sua assistência e então iniciou seu discurso. Indicou o fato de que a morte é um problema universal, e, por isso, era apropriada a pergunta: “Onde Estão os Mortos?” Ele sublinhou que a morte não é uma bênção, e sim uma maldição, o resultado da desobediência, e, por isso, não concorda com a natureza humana. A assistência não podia sendo balançar a cabeça, concordando.
O orador então indicou o conceito pagão de onde estão os mortos. Também declarou o conceito protestante do céu e do inferno, e a adição católica do purgatório. Agora, apelando para o raciocínio, ao invés de para as faculdades emocionais de sua assistência, mostrou como tais conceitos eram todos incoerentes uns com os outros, e, pior ainda, estavam em direto conflito com a doutrina bíblica da ressurreição. Visto que estavam assim opostos aos ensinos da Bíblia e eram incoerentes com o amor de Deus, tinham de estar opostos ao Autor da Bíblia, Jeová Deus. Se estavam em oposição a Jeová, o Deus da verdade, então eram falsos.
Então o orador passou a destacar a necessidade de dirigir-se à Palavra da verdade de Deus em busca duma resposta fidedigna. Escreve uma testemunha ocular: “Posso lembrar-me vividamente do ‘hum’ de aprovação dos quatro cantos do salão, quando o orador citou Atos 2:29-34, para refutar o ensino de que as ‘pessoas ilustres antigas’ iam direto para o céu ao morrerem.”
Passo a passo, o orador explicou a base das Escrituras a condição dos mortos. Depois de usar muitos textos para provar seus pontos, concluiu seu discurso.
Certa testemunha ocular relata: “Felizmente, todas as suas perguntas e as perguntas dos outros foram respondidas com perícia e de forma bíblica.” Disse outra testemunha ocular: “Se as primeiras impressões fossem sempre indício dos eventos vindouros, então, à base desse primeiro discurso potente, tornava-se evidente de que a verdade havia rompido em busca de um lugar permanente na Costa do Ouro.”
Depois dum segundo discurso, sobre o assunto: “Podem os Vivos Falar com os Mortos?”, o jovem Eddy Addo teve grande interesse no que fora dito. Dali em diante, ele trabalhou intimamente ligado a Claude Brown, ajudando o a terminar e colocar cartazes de publicidade para outros discursos da série. Nos dias entre os discursos, Claude Brown se empenhava em distribuir livros nas ruas. Multidões de pessoas o cercavam na Praça do Correio, na Rua Bannerman, perto de “Merry Villas”, onde morava, e em toda parte onde ele ia, obtendo publicações e fazendo perguntas bíblicas.
Algumas das pessoas que assistiam a seus discursos em Accra formaram um grupo para palestra. Insistiram com ele para que permanecesse em Accra e as ajudasse com aulas bíblicas. Embora Claude Brown apreciasse muito poder fazer isso, ele tinha a missão de visitar a Nigéria, fazendo a mesma série de discursos. Assim, em questão de alguns dias, partiu, assegurando-lhes de que solicitaria ao irmão W. R. Brown, em Serra Leoa, para que mandasse alguém que pudesse fixar-se de forma permanente na Costa do Ouro para ajudá-las.
Foi assim que 1924, o ano que presenciou a instalação de luzes elétricas em Accra, também viu a instalação de uma espécie diferente de luz, a luz espiritual, na Costa do Ouro.
A VERDADE PERCORRE O PAÍS INTEIRO
Os discursos e a distribuição de publicações feitos por Claude Brown iniciaram uma reação em cadeia que impulsionou a verdade por todo o país em incrível velocidade Algumas experiências dos mais antigos servirão para ilustrar isto.
J. O. Blankson, estudante de farmácia, dissera primeiramente que Claude Brown devia ser tolo ao desafiar a doutrina da imortalidade da alma. Ele compareceu a um discurso de Brown e verificou que os desinformados se achavam argumentando do seu lado. Naturalmente, mudou de lado. Num discurso subseqüente, obteve o livro A Batalha do Armagedom e devorou seu conteúdo com verdadeiro prazer. Na guarda, escreveu: “Agradeço a Deus esta grande mensagem que pude receber. Que Ele me encoraje a entendê-la. John Ottoe Blankson, 5 de novembro de 1924.”
“A verdade me deixou eufórico”, escreve, “e falei sobre ela livremente em nossa escola de farmácia”. Certo dia, decidiu acompanhar um estudante, seu amigo, até a Catedral anglicana da Trindade, onde eram dadas lições para a confirmação. No final das lições, fez uma pergunta sobre a Trindade. O instrutor não tinha resposta para ele. Foi ali uma segunda vez e fez outra pergunta, com o mesmo resultado. Na terceira ocasião, encontrou o próprio sacerdote, que mais tarde se tornou o Bispo anglicano de Accra. De novo eufórico, Blankson suscitou sua pergunta sobre a Trindade. Desta vez, houve uma resposta, e veio com acessos de raiva. “Saia daqui!” — ordenou o sacerdote. “Você não é cristão; você é do Diabo. Saia daqui imediatamente!”
Ao chegar em casa, escreveu ao sacerdote e o convidou para um discurso no Cine Palladium e ali, se ele estivesse seguro de que a doutrina da Trindade era certa, deveria explaná-la. Não teve de esperar muito para ver a reação do clérigo. Certa manhã, foi chamado ao escritório do principal orador da escola de farmácia. O senhor parecia perturbado, e Blankson sentiu que ia haver dificuldades.
“Blankson”, bradou ele, “você escreveu uma carta para o Reverendo Martinson?”
O coração de Blankson começou a bater forte. Com as mãos apertadas abas das costas, conseguiu responder: “Escrevi, sim senhor”, e então sentiu-se fortalecido para ficar firme em sua posição.
“Muito bem”, disse o instrutor. “Não quero que você fale. Sente-se ali. Aqui você tem papel, caneta e tinta. Escreva um pedido de desculpas agora mesmo, e me entregue. Eu me certificarei de que o Reverendo Martinson o receba e que o assunto acabe aqui mesmo.”
Blankson sentou-se, pegou o pedaço de papel, e a caneta, e escreveu: “Caro Senhor: Meu Instrutor me pediu que escrevesse um pedido de desculpas ao senhor, e estou preparado para pedir-lhe desculpas uma vez que o senhor admita que ensina doutrinas falsas.”
Ao ler isso, o instrutor disse: “Veja bem, Blankson, é isso mesmo que você gostaria de escrever?”
“É sim, senhor. Isso é tudo que eu posso escrever.”
“Muito bem. Nesse caso, você vai ser despedido. Como pode falar contra o sacerdote da igreja do governo e esperar continuar sendo empregado do governo?”
“Mas, senhor”, retrucou Blankson, “o senhor é o nosso instrutor. Quando o senhor nos dá aulas, e há pontos que não compreendemos, não lhe fazemos perguntas?”
“É claro que fazem.”
“Então, senhor, isso é tudo que aconteceu. O cavalheiro estava ensinando-nos a Bíblia e eu lhe propus uma pergunta. Se ele não conseguiu responder a pergunta, por que então tenho de pedir desculpas a ele?”
Blankson não foi despedido. O pedido de desculpas não foi enviado. Continuou a gozar do respeito dos instrutores e, naturalmente, a pregar a verdade na escola, com toda liberdade de palavra. Formou-se em 1926 e foi enviado para Salaga nos Territórios do Norte, onde dominavam o islamismo e o animismo. E, por certo, a verdade foi com ele, até mesmo para Navrongo, perto da fronteira norte
Esse era o zelo e o entusiasmo com que aqueles que abraçavam a verdade naqueles dias efetuavam a pregação e distribuíam publicações. O resultado foi que, por volta de 1935 as publicações da A. I. E. B. já haviam penetrado em muitos povoados e até mesmo invadido os vilarejos remotos do país.
ORGANIZAÇÃO PARA SERVIÇO EFICAZ
Fiel a sua promessa, Claude Brown mandou avisar a W. R. Brown em Serra Leoa a respeito dos maravilhosos resultados de seus discursos na Costa do Ouro. Também falou do desejo de várias pessoas interessadas em iniciar classes de estudo bíblico em Accra e Koforidua. De imediato, o irmão W. R. Brown fez arranjos para que o irmão Obadiah Jamieson Benjamin fosse para Accra. Chegou em maio de 1925.
O irmão Benjamin era um rapaz de vinte e seis anos, nativo de Serra Leoa. Era alto e magro, um pouco curvado para a frente e um andar aparatoso. Era orador eloqüente, instruído em grego, latim, francês e inglês. Foi um dos primeiros a entrar na verdade em Serra Leoa em resultado dos discursos do irmão W. R. Brown em 1923, e fez bom progresso até 1925, de modo que, quando convocado, estava disposto a deixar seu emprego como fiscal alfandegário e ir ajudar os interessados na Costa do Ouro.
Em Accra, o irmão Benjamin se dirigiu ao Sr. E. Ayeh, cuja casa se tornara o centro das pessoas que aguardavam a ajuda prometida. Imediatamente, o Sr. Ayeh mandou avisá-las. As classes foram então iniciadas no apartamento do Sr. Ayeh na Rua Kofi Oku.
Em algum tempo durante agosto de 1925, Claude Brown passou na Costa do Ouro, em sua viagem de volta a Serra Leoa. Quão contente ficou de ver os interessados progredindo tão bem nos estudos bíblicos! Passou algumas semanas com eles, preferindo discursos tanto em “Merry Villias” como no Cine Palladium. Em um desses discursos, convidou os dispostos a pegar um suprimento de tratados Acusados os Eclesiásticos e os distribuir gratuitamente para qualquer pessoa que se dispusesse a receber um. Quase todos na assistência correram para obter seus exemplares. Começando nas portas do auditoria, distribuíram-nos por toda a cidade, alguns realmente indo de casa em casa com esses tratados Assim, em 1925, pela primeira vez, os nativos da Costa do Ouro foram ajudados a ter parte na distribuição de casa em casa da mensagem, em forma impressa. É digno de nota que este era o tratado que continha a resolução relacionada com o terceiro toque de trombeta de mensagens de julgamento contra a religião falsa, lançada no congresso de Columbus, Ohio, EUA, de 20 a 27 de julho de 1924.
Numa visita de W. R. Brown à Costa do Ouro, em 1927, ele passou algum tempo em Accra, edificando os amigos. Daí, continuou viagem para Koforidua, com o mesmo fim. Lá, celebrou a Comemoração com os amigos, entrevistou aqueles que desejavam ser batizados e levou os que se habilitavam a um riacho próximo e os imergiu. Isso foi em 27 de abril de 1927. Estes foram os primeiros a serem batizados na Costa do Ouro.
Em 1932, o irmão W. R. Brown fez de novo uma excursão pelo país, visitando Kumasi, na região ashanti, e as cidades gêmeas costeiras de Sekondi e Takoradi. Retornou em 1935, com a vitrola e o equipamento para exibir os diapositivos do “Fotodrama da Criação”. A imprensa da Costa do Ouro forneceu excelente cobertura a esta visita, de modo que os salões sempre ficavam repletos. Em certa ocasião, 2.000 pessoas vieram ouvi-lo. Por volta do fim da excursão, congregações firmes haviam sido estabelecidas em quatro centros do país.
CERTO ACONTECIMENTO ERRADO
A distribuição zelosa de publicações por todo o país significou que muitos indivíduos recebiam publicações sem que pudessem associaras com qualquer congregação do povo de Jeová. O resultado foi que várias pessoas que liam os livros e reconheciam a mensagem da verdade tentavam praticar uma religião baseada naquilo que liam. Isto se deu especialmente no início dos anos 30. Antes disso, a mensagem só havia chegado a pessoas que tinham alguma instrução e que sabiam ler inglês. Agora, o povo simples da zona rural que trabalhava como animais de carga sob o jugo da cristandade, abraçava esta mensagem com apreço de todo o coração.
Muitas destas pessoas tinham ficado tão frustradas na cristandade que haviam deixado de ir à igreja. Suas taxas de igreja haviam-se acumulado a importâncias tais que elas sabiam que jamais conseguiriam pagar em toda a sua vida. Eram pobres e levavam vidas simples que envolviam muito pouco manuseio de dinheiro. Mas, agora, estavam com dívidas, e sabiam que, se morressem, seus parentes seriam obrigados a pagar cada centavo antes de receberem um enterro decente pela igreja. Pode-se imaginar, então, a prontidão, a disposição, com que tais pessoas aceitaram a verdade e queriam adorar de acordo com o caminho da verdade.
Sampson Nyame e seus amigos organizaram tais pessoas numa espécie de igreja, com sede em Osino, em Akim Abuakwa, perto da casa de Sampson Nyame. Criam que estavam trabalhando junto com a A. I. E. B.e chamavam-se de “Estudantes da Bíblia” e “Expositores da Bíblia” Os interessados que ficavam surpresos com a agilidade com que manejavam os textos bíblicos lhes deram o nome em twi “Bible Nkyerasefo”, literalmente “Intérpretes da Bíblia” O nome soava bem aos líderes, visto que traduzia mais ou menos a expressão “Expositores da Bíblia” do inglês. Mais tarde, a organização veio a ser chamada de “Gyidi” ou “Fé”.
Sem qualquer conhecimento da estrutura da organização das testemunhas de Jeová, Sampson Nyame, M. K. Twum e W. Otchere incorporaram em sua igreja uma porção de traços adventistas e pentecostais antibíblicos. Durante as orações em grupo, alguns afirmavam ter recebido o espírito santo e falavam em línguas. Em Nkwatia, os membros ficaram suspeitosos desse espírito e oraram a Jeová para que, se fosse deveras Seu espírito santo, então gostariam que viesse sobre todo membro do grupo e não apenas sobre alguns. Depois disso, nenhum deles recebeu mais esta espécie de espírito.
Esta sorte de “joio” espalhou-se rápido e obteve grande número de seguidores em Akim, Krobo, Kwahu e nas regiões ashantis. O curioso, porém, é que os líderes dessa organização estavam em contato constante com o grupo de estudo bíblico e com o depósito de publicações de Koforidua. O irmão A. W. Osei, colportor encarregado tanto do grupo como do depósito de publicações em Koforidua, visitava regularmente vários destes grupos junto com Sampson Nyame e colocava com eles as publicações da A. I. E. B. para seu uso congregacional. No entanto, não se fez nenhuma tentativa de organizá-los em corretas classes de estudo bíblico ou congregações, de acordo com as orientasses de organização da A. I. E. B., até o fim da década de 1930
A CRISTANDADE SENTE O APERTO
Não se devia esperar que o clero da cristandade aceitasse os ataques sobre a religião falsa sem planejar alguma espécie de represália suja. A maioria das pessoas que aceitavam a verdade naquele tempo eram do rebanho da cristandade e estavam fazendo isso por causa de a verdade expor o clero como obreiros da fraudulência. Tais homens achavam que haviam sido enganados a vida inteira e lamentavam ter pago somas de dinheiro para sustentar o clero. Nesta circunstância era apenas natural que tomassem verdades que feriam duro e as lançassem sobre o clero com espírito vingativo, e dum modo que as pessoas que agora aprendem a verdade talvez chamem de um tanto sem tato.
Em dezembro de 1930, certo irmão Norman enviou um artigo da Idade de Ouro sobre o Natal ao editor do Gold Coast Weekly Spectator (Espectador Semanal da Costa do Ouro). O senhor reproduziu o artigo na inteireza em seu jornal. Em janeiro de 1931, o irmão Norman continuou com outro artigo intitulado “Feriados e Suas Origens”. Este também foi reproduzido. Semanas depois, um leitor de Peki escreveu ao jornal, desafiando o clero a se apresentar para refutar ou apoiar as declarações feitas nos artigos. Naturalmente, não houve resposta alguma, ao passo que a ira dos sacerdotes bramia contra os irmãos.
Em junho de 1931, um advogado-editor dum jornal chamado Vox Populi instou com Eddy Addo a que escrevesse um artigo sobre a feitiçaria. Acontecia que a cristandade estava dividida sobre o assunto e estabelecera uma comissão de clérigos para examinar o assunto e oferecer um parecer quanto a se existiam ou não feitiços. O artigo intitulava-se “A Comissão Sobre Feitiçaria”. Continha um bom número de exposições que os clérigos devem ter achado enfurecedoras. No entanto, da longínqua Sekyedomase, no planalto setentrional ashanti, Eddy Addo recebeu uma carta datada de 27 de julho de 1931. Dizia: “Prezado Senhor: Li com o mais vívido interesse seu artigo de 27 de junho, sob o assunto ‘A Comissão Sobre Feitiçaria’, e do fundo do meu coração desejo congratulá-lo, Sr. Addo. . .. Nutro os mesmos sentimentos em oposição à feitiçaria e muitas vezes cito os mesmos tópicos a que o Sr. se refere em seu artigo para aqueles ‘mais santos do que tu’ que negam a existência de feitiços e suas ações.”
Não eram apenas os golpes cortantes das verdades que enfureciam os sacerdotes. Estavam perdendo membros. Por esta razão, vieram a odiar os irmãos e fizeram tudo que puderam para opor-se a eles. Em Jamase, a uns quarenta quilômetros ao norte de Jumasi, um sacerdote católico branco atacou violentamente o irmão Noah Adjei, num acesso incontrolável de ira. Em outros lugares, instigaram motins ou procuraram a ajuda das autoridades locais para expulsar os irmãos do povoado. Em Obuasi, em 1932, um sacerdote católico tentou isso, com resultados bem interessantes.
Obuasi era uma florescente cidade que minorava ouro no planalto ashanti. Michael Firempong, policial que foi ajudado por I. D. Anaman a aprender a verdade, fora promovido a cabo e transferido para lá, ficando encarregado da estação ferroviária. Não estava por muito tempo em Obuasi quando a cidade ficou saturada de publicações, algumas das quais chegaram às casas das missões das igrejas da cristandade.
Certa manhã, Firempong testemunhava ao chefe da estação ferroviária, membro da Igreja Católica, quando apareceu um sacerdote católico-romano. “É o Sr. um daqueles que distribuem estas publicações comunistas?” — perguntou. “No outro dia, alguns destes livros chegaram à Casa da Missão, e tive o prazer de acender uma fogueira com eles. O Sr. esta espalhando propaganda comunista nesta cidade. Eu vou falar com o encarregado das minas sobre as suas atividades.”
Cumprindo a palavra, o sacerdote escreveu extenso relatório, avisando que o comunismo estava operando no povoado, afirmando haver necessidade de ‘cortar o mal pela raiz’ e que o alto cabo de polícia encarregado da estação ferroviária era o agente. O diretor das minas enviou de imediato o relatório ao alto comissário de polícia, encarregado do planalto ashanti. Este, por sua vez, enviou-o ao comissário de polícia encarregado do distrito de Obuasi.
Certa manhã, Firempong foi chamado ao gabinete do comissário de polícia. O comissário exigiu exemplares dos livros que ele andava lendo e distribuindo no povoado. O cabo obedeceu, apresentando um pacote que continha Libertação, A Harpa de Deus, Luz, Governa e vários folhetos. Orou, e continuou seu ministério.
Três meses depois, quando já tinha sido transferido para Tarkwa, os livros foram enviados num pacote de volta para ele, com uma nota do comissário afirmando que não encontrara nada de comunista em qualquer um deles. As páginas das publicações haviam sido marcadas, ticadas e sublinhadas em muitos lugares. Pelo que parece, o comissário os fez circular entre as altas autoridades governamentais para que as lessem e tecessem observações. Naturalmente, o Cabo Firempong ficou muito alegre de ver que as tramóias do sacerdote católico tinham resultado em que as publicações fossem lidas nos altos círculos do governo.
Houve muitos de tais incidentes por todo o país, em que falharam os esforços clericais de abafar a verdade. Mandar seu rebanho não escutar os irmãos não lhes trouxe nenhum proveito; apenas gerou curiosidade e suscitou perguntas. Certo sacerdote anglicano frustrado se dirigiu ao irmão J. B. Commey, em Accra, protestando: “Por que não param com esta tolice? Vocês fazem com que as mulheres me façam perguntas bobas.”
Depois de algum tempo, o clero viu que não podia competir com os Gafanhotos simbólicos, que estavam devastando seu pasto religioso. (Joel 1:4) Nem poderiam restringir os cavalos simbólicos que os aguilhoavam pela esquerda, pela direita, pelas costas e pela frente. (Rev. 9:7-10) Por conseguinte, num gesto desesperado, a organização protestante chamada de Conselho Cristão, procurou a ajuda do governo colonial para declarar o irmão W. R. Brown, que dirigia a obra lá da Nigéria, “persona non grata”
Depois disso, estabeleceu-se uma proscrição não-declarada sobre a importação e a distribuição das publicações da Sociedade. Fez-se isso por invocar a Seção 27 (1) (a) (ii) da Lei da Alfândega de 1923, que autorizava as autoridades alfandegárias a apoderar-se e reter quaisquer “livros, jornais e matéria impressa que, na opinião do Delegado Fiscal (sujeito a qualquer orientação do Governador) sejam sediciosos, difamatórios, escandalosos ou desmoralizantes”. Todas as publicações da Sociedade Torre de Vigia (dos EUA) e da A. I. E. B. foram incluídas nessa categoria. Isso se deu em 1936. O clero da cristandade se regozijou. Cria que havia acabado com a obra das testemunhas de Jeová.
PROSCRIÇÃO E RESTRIÇÕES
A proscrição de outra entrada de W. R. Brown na Costa do Ouro não foi comunicada aos irmãos na ocasião em que tal decisão foi feita. Como é que vieram a saber disso? O próprio irmão Brown explica:
“Nós observamos, no relatório do último ano [ano de serviço de 1936] que havíamos determinado dedicar mais horas esse ano, e, se possível, triplicar a saída de livros e folhetos do ano passado. Por conseguinte, planejamos fazer uma viagem de carro recorde à Costa do Ouro, com o carro-sonante, começando no período de ‘Grito de Batalha’, de 3 a 11 de outubro de 1936.
“Enviamos um pedido a Brooklyn de 20.000 folhetos Quem Governará o Mundo? e 20.000 folhetos Governo, a ser despachados para a Costa do Ouro. Em primeiro de outubro, partimos de Lagos de barco, com o carro-sonante e 40 caixas de livros e folhetos, a fim de chegar em Accra um dia antes do período. Ao chegar o navio em Accra, o carro-sonante e 40 caixas desceram ao cais antes de chegar a bordo o oficial de imigração. Quando o oficial chegou, todos os passageiros estrangeiros foram vê-lo, levando seus passaportes. Eu entreguei o meu, foi-me dito que esperasse até que ele cuidasse dos passageiros, após o que fui chamado e informado de que não me seria permitido descer na Costa do Ouro. Quando os irmãos no cais, que me esperavam, ouviram isso, foram ao oficial de imigração com sessenta libras em dinheiro como depósito para meu desembarque, mas isso foi recusado. No dia seguinte, fui colocado em outro navio, com o carro e bagagem, e enviado de volta a Lagos, e fui obrigado a pagar a viagem de volta.
“Mais tarde, fomos informados de que o chamado ‘Conselho Cristão’ ali decidira que o representante da Sociedade fosse impedido de empreender quaisquer outras atividades na Costa do Ouro por causa da acolhida que o povo e os diários lhe deram um ano antes, quando os discursos do Juiz Rutherford foram preferidas a um auditório superlotado de aproximadamente 2.000 almas.”
Em 17 de fevereiro de 1937, os irmãos fizeram um requerimento ao governador, Sir Arnold Hodson, pedindo a liberação da remessa de livros enviados a Costa do Ouro um mês depois de se negar ao irmão Brown a entrada no país, livros que foram banidos pelas autoridades alfandegárias. Estavam sob custódia do Delegado Fiscal da Alfândega. Veio a resposta do governador, datada de 18 de março, que dizia que as publicações foram residas sob as leis da Costa do Ouro e que ele não tinha intenção de mudar a decisão do delegado fiscal da alfândega nesse assunto. Mais tarde, em junho de 1937, as 69 caixas que continham 22.245 publicações, foram queimadas.
A filial em Lagos imediatamente orientou os irmãos na Costa do Ouro a consultar um advogado para ver o que se poderia fazer para obter a compensação legal.
O que estava errado não era a Lei da Alfândega em si, antes, o preconceito e a maldade com que fora aplicada. Pelo jeito das coisas, o delegado fiscal da alfândega e seus oficiais estavam bem isolados, não podendo ser processados pela aplicação da lei, e isso ficava a discrição do governador.
Em 24 de agosto de 1937, o advogado escreveu ao irmão Brown, em Lagos, incluindo cópias da correspondência trocada entre ele e o governo. Dizia:
“É claro que, devido a certas circunstâncias que provavelmente se seguirão, a síntese da matéria submetida à consideração do Governador não se achava plenamente confrontada na carta do Secretário Colonial. Por conseguinte, cadernos decidir se devemos dar os passos que talvez induzam o Governo a nos dar uma resposta satisfatória. Ademais, embora eu não tenha abandonado a idéia de dirigir um requerimento formal ao Governador sobre o assunto inteiro, é muito improvável que, a menos que se exerça pressão externa sobre o Governo da Costa do Ouro, se dê qualquer passo voluntário em Accra para satisfazer e compensar a filial da Costa do Ouro de sua Sociedade.”
Falou então de uma pesquisa que estava fazendo para verificar a opinião pública em relação com as publicações e atividades dos irmãos no país. Esperava incorporá-la no requerimento. Esboçou o requerimento e pediu que os irmãos o verificassem. Quando aprovado, foi posto em sua forma final e apresentado ao governador. A resposta veio em 26 de janeiro de 1938, dizendo: “Sua Excelência considerou cuidadosamente a petição de seus clientes, a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (dos EUA), a Filial da Costa do Ouro, e não se dispõe a fazer qualquer declaração geral conforme solicitado no parágrafo 18 da petição.”
CARRO-SONANTE PERTURBA O INIMIGO
Posteriormente, W. R. Brown enviou S. Ogunde a Costa do Ouro com um carro-sonante, para usá-lo na disseminação da mensagem do Reino. A simples novidade do carro-sonante no país, junto com a tradicional curiosidade africana, assegurou de imediato o êxito da campanha. As pessoas levavam vidas simples naqueles dias, e tinham muito tempo livre, ao passo que as facilidades recreativas eram limitadíssimas, em especial nas zonas rurais. O africano corria para a rua ao ouvir o som de qualquer coisa incomum. Entre tais pessoas descontraídas, o carro-sonante, com sua música estranha e seus sermões que destacavam “a voz do europeu”, simplesmente atraia multidões. Embora muitos entre eles estivessem apenas curiosos, ao invés de realmente interessados, seus números anunciavam bem a atividade do carro-sonante. Como foi que o clero reagiu a isto? Relata o irmão Ogunde:
“A inscrição ‘Mensagem do Reino’ nos alto-falantes, que eram os primeiros de sua espécie a ser vistos na Costa do Ouro, deixou irado o clero, e ficaram horrorizados quando ouviram a transmissão dos discursos do Juiz Rutherford. Moveram as autoridades a nos perseguir, no sentido de sermos chamados diversas vezes pelos delegados de polícia nas Províncias Central e Ocidental, e ser acautelados de não mais operar o carro-sonante. Vendo que não existia nenhuma lei que nos impedisse de opera-lo, continuávamos o testemunho em outros lugares, saindo das capitais. Em certo caso, o oficial que fazia a lacração, em Takoradi, Província Ocidental, ameaçou cancelar a licença de nosso carro, se visse de novo o alto-falante sobre o carro, e fizemos tudo que pudemos para impedir que ele o visse.”
Ao considerar os resultados gerais, o relatório do irmão Ogunde passa a dizer: “Os de boa vontade mostravam grande interesse e apreço pela mensagem do Reino, mediante o carro-sonante, e, em três meses, colocamos mais de 100 livros encadernados e mais de 20.000 folhetos. As instâncias de Satanás, pior meio de seus agentes religiosos visíveis, o governo da (costa do Ouro planejou então o mal por fazer uma lei que exigia que em nenhum veículo motorizado na Costa do Ouro se montasse um alto-falante sem que primeiro se obtivesse permissão das autoridades.” Isso pôs fim à campanha com o carro-sonante.
VITROLAS E CORNETAS
Antes de o irmão Brown ser expulso do país, por ocasião de sua breve visita em 1938, ele pôde deixar três vitrolas e coleções de sermões fonográficos com os irmãos A. W. Osei e J. B. Commey. Com este equipamento novo, os irmãos podiam alcançar muitos povoados e falar a grandes multidões de uma só vez.
Em Konongo, em 1944, o Inspetor de Polícia Doe cercou vários irmãos e os deteve na delegacia sem fazer qualquer acusação formal contra eles. Isto se tornou quase que um assunto semanal, justamente quando os irmãos se preparavam para sair no serviço de campo. Certo dia, os irmãos confrontaram o inspetor na casa dele. O homem trouxe de sua biblioteca o livro Governo e o folheto Guerra Universal Próxima. Mencionou o quanto apreciava lê-los, como jamais se separaria deles por serem tão excelentes, falarem a verdade, e assim por diante. Os irmãos lhe disseram que o que pregavam era a mesma mensagem comida em tais livros.
“Eu sei disso”, afirmou.
“Por que cria tantas dificuldades para nós, então?”
“O sacerdote católico é quem cria dificuldades para vocês.”
“Por quê?”
“Ele diz que dois de seus membros já se juntaram a vocês, e que, a menos que vocês sejam expulsos do povoado, sua igreja acabará.”
“O Sr. concorda com ele?”
“O que ele diz é verdade, mas eu sei que não devo cooperar com ele. Com efeito, não vou mais fazer isso.”
O irmão Eric Adu Kumi relata que daquele dia em diante o Inspetor Doe não lhes causou mais dificuldades. A bem dizer, permitiu que os irmãos recebessem sua correspondência pela caixa postal da polícia, na agência postal, de modo que o inimigo não pudesse destruir quaisquer publicações que chegassem para eles.
No fim da década de 1930, havia apenas três vitrolas no país. Assim, os irmãos imaginaram algo por si mesmos. Cortaram e soldaram folhas de zinco ou de qualquer metal desse tipo, transformando-as em funis, que serviam-lhes como cometas. Os irmãos chamaram-nas de “trombetas” ou megafones e as usavam para falar a grandes multidões nos povoados e nas cidades. A respeito desse instrumento, o irmão K. Gyasi, que teve muita experiência em usá-lo, afirma: “Era muito eficaz em alcançar certa distância e acontecia ser o mais potente alto-falante para nós naqueles dias.”
Onde quer que fossem as cornetas, as pessoas saiam correndo de suas casas, até mesmo deixando suas refeições comidas pela metade, para ouvir a Palavra de Deus através da “trombeta curiosa”. Com ela os irmãos puderam iniciar a obra e fundar congregações e grupos em grande parte do território então não designado. Ajudou os irmãos, também, no sentido de que muitas experiências interessantes, e, as vezes, violentas, fortaleceram seu zelo e sua fé. O irmão Anaman lembra-se do seguinte:
Em algum tempo de 1943, quando seu pai se aposentara do serviço da Igreja Presbiteriana e se achava em Kwanyaku, sua cidade natal, ele decidiu retribuir-lhe uma visita. Ele enviou mensagens para J. O. Blankson e E. K. Paning para que se juntassem a ele ali, para trabalharem aquele território.
Certa manhã, por volta das 5 horas, estes três irmãos pegaram o megafone e se dirigiram à linha que dividia a chamada área cristã ou “Salém” do restante do povoado, e começaram a bradar um discurso no ar. “Salém” ficou agitada. Opanin Birikuran, presbítero da Igreja Presbiteriana, e o diretor da escola Presbiteriana saíram de suas casas. O presbítero caiu sobre o irmão Anaman e apoderou-se do megafone.
“Vocês não podem pregar aqui”, disse ele.
“Por que não?” — quis saber Anaman.
“Este território me pertence. Vá falar aos pagãos.”
Anaman virou-se para o diretor da escola e perguntou, em inglês: “O que havia de errado no que eu estava dizendo?”
“Era deveras uma explicação inteligente da Bíblia”, replicou esse senhor.
“Por que, então, deveriam impedir-nos de pregar?”
O presbítero, que não sabia nada de inglês, interrompeu e disse: “Eu lhes ordeno que saiam daqui! Vocês não têm direito de falar aqui. Este território é meu!”
“É dono também das pessoas que moram nele?”
“Sim, são minhas ovelhas. Vão embora daqui!”
O irmão Blankson se aproximou e explicou que, em tais circunstâncias, a instrução de Jesus de “sacudir o pó” de seus pés era apropriada. “Nesse caso, então, vamos sacudir o pé de nossos pés. Vamos aos pagãos. Mas, saiba o senhor hoje que, no dia de juízo, as coisas serão piores para o senhor do que para Sodoma e Gomorra!” Daí, dirigiram-se para o lado pagão da cidade.
A experiência deixou o presbítero tomado de uma espécie mórbida de temor. Ao pôr-do-sol, dirigiu-se ao pai do irmão Anaman e fez um protesto a ele, dizendo que o filho de Anaman e seus companheiros haviam-no amaldiçoado e que se deveria obrigá-los a remover a maldição. O clérigo aposentado censurou o presbítero por impedir a pregação da Palavra de Deus. Por estranha coincidência, o presbítero morreu, de forma súbita, na manhã seguinte. O irmão Anaman relata que “grande temor caiu sobre o povo, e as portas começaram a se abrir livremente para nós”.
Em geral, os pagãos do povoado estavam favoravelmente dispostos a ouvir a mensagem. Todavia, de vez em quando causavam dificuldades aos irmãos. Em Akoti, um povoado perto de Asevena, em território Probo, o irmão E. T. Quaye e outros foram espancados e lançados numa cela suja no palácio do chefe por pregarem o juízo de Deus contra os deuses pagãos.
INTÉRPRETES DA BÍBLIA MUDAM PARA A ADORAÇÃO VERDADEIRA
Uma atividade que trouxe a bênção de Jeová sobre a organização foi corrigir os chamados Intérpretes da Bíblia. Isto ocorreu a partir dos últimos trás ou quatro anos da década de 1930. Anteriormente houve esforços isolados, mas, então, tornou-se norma da organização ajudar os Intérpretes a acrescentar o conhecimento a seu zelo e orientar a pregação deles para o fim certo. Uma campanha conjunta foi então arranjada para isso.
Não foi fácil, mas, com amor e paciência, a verdade venceu. Como grupo, fizeram tal mudança, com a exceção de alguns que se desviaram do caminho. Nenhum dos que deixaram de fazer tal mudança conseguiu perpetuar sua organização. A “igreja” dos Intérpretes da Bíblia, portanto, deixou de existir de 1940 em diante.
Seus líderes, Sampson Nyame, W. Otchere e M. K. Vivam, todos iniciaram o serviço de pioneiro. Com esta bênção veio adicional responsabilidade de pastoreio. Significava que, de repente, a organização ficara inundada com pessoas analfabetas da zona rural. Precisavam estudar a Palavra de Deus a fim de alcançar a madureza. Mas, como, a menos que soubessem ler?
Havia muitos dos irmãos instruídos que tinham genuíno amor por tais pessoas da zona rural. Organizaram classes de alfabetização nas congregações e nas casas, começando, de forma notável, com o ano de 1937. O progresso foi simplesmente maravilhoso. Alguns progrediram em questão de dois meses, ao ponto de poderem ler a Bíblia. Alguns até mesmo passaram a aprender a falar, ler e escrever em inglês, e com distinção.
Tais pessoas se tornaram muitíssimo úteis à organização, servindo em várias posições nas congregações, bem como cuidando das reuniões congregacionais, que eram, naqueles dias, baseadas principalmente em publicações em inglês.
Surgiu outro problema, agora que se pediu aos amigos que acabassem com a prática da cristandade de tocar sinos para indicar as horas de se reunir para a adoração congregacional. Como é que tal gente simples do interior, a maioria delas sendo analfabetas, iriam saber quando era a hora das reuniões?
Bem, a resposta mais simples era pedir a um daqueles que possuíam um relógio, em tal sociedade rural, que estivesse no Salão do Reino na hora certa, de modo que os outros soubessem a hora de sua chegada. Outra forma era retornar ao relógio do sol rudimentar. As pessoas deviam escutar o badalar dos sinos da escola do povoado, que dobravam nas horas entre 7 da manhã e 4 da tarde. Então deviam marcar os pontos da sombra de sua casa, de uma árvore em frente da casa ou de algum objeto estacionário, nas várias horas, e assim adquirir algum conhecimento do “avanço” das sombras em relação com a passagem do tempo.
Arranjos similares foram feitos para ajudá-los a saber manter um registro de suas atividades de serviço de campo, e relatá-las à congregação. Naturalmente, à medida que cada vez maior número dos irmãos foram sendo alfabetizados, e compraram relógios, o problema começou a desaparecer.
O inteiro arranjo obteve a bênção de Jeová, de modo que, por volta de 1946, o número dos que relatavam o serviço de campo aumentara de menos de 50, em 1936, para 500, que trabalhavam em 33 congregações.
A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL AUMENTA AS DIFICULDADES
Quando irrompeu, em 1939, a guerra, as autoridades tornaram ainda mais insuportáveis as medidas já rigorosas contra os irmãos. Nestas circunstâncias, alguns dos irmãos, em especial os em Kumasi, que já eram chamados de “agitadores de cornetas”, decidiram ir à batalha contra o inimigo, ao invés de lutar com suas costas contra a parede.
Assim, em 1939, quando a revista Consolação iniciou uma série de artigos intitulados “O Papa e a Guerra”, os irmãos Anaman, Blankson e Quansah decidiram enviar todas as quarenta cópias de distribuidores que recebiam a destacados clérigos e autoridades governamentais no país, inclusive ao governador. Começaram a fazer isso com o primeiro número que publicou a Parte Um da série.
Semanas após esta distribuição especial, um guarda visitou o escritório do irmão Anaman. O comissário de polícia, membro da Igreja Católica Romana, queria vê-lo, foi o que lhe disse.
Pouco depois disto, J. G. Quansah também foi ao escritório do irmão Anaman. Quando foi-lhe contado o que acontecera, correu a delegacia, chegando lá antes de Anaman e o guarda. Acompanhou-os ao gabinete do comissário, onde encontraram um chefe de polícia hostil, carrancudo, sentado atrás de sua mesa.
“Vocês me mandaram isto?” — perguntou, segurando a revista Consolação. Seu semblante era deveras ameaçador. A pergunta foi feita a Anaman, e Quansah ficou impaciente quando ele preferiu as palavras: “Sou um daqueles que o enviou, sim.” Estando a última palavra ainda nos lábios de Anaman, Quansah bradou lá de trás:
“Eu também sou um deles, e aqui esta a Parte Dois!” Ao falar, deixou que a nova revista caísse sobre a mesa do comissário.
O chefe de polícia ficou atônito, completamente pasmado. Era óbvio que pretendia intimidá-los com ameaças, na esperança de reduzir o irmão a submissão. Jamais esperava tal audácia da parte das testemunhas de Jeová. Começou a hesitar naquilo que falava, como se tivesse perdido o fio da meada. Apenas anotou os endereços dos irmãos e permitiu que fossem embora, para grande surpresa dos seus subalternos.
A imprensa da Costa do Ouro, naquele tempo, era muito liberal e estava favoravelmente disposta quanto a causa dos irmãos. Em seu relatório do ano de serviço de 1939, o superintendente da filial para a área tinha o seguinte a dizer:
“Outra maneira em que se faz o testemunho aqui, uma maneira que o próprio Senhor sem dúvida iniciou, é por meio da imprensa. Uma coluna regular está reservada diariamente para nossos artigos, intitulando-se ‘Encare os Fatos’. Reproduções dos escritos do irmão Rutherford são feitas, e estas não só deixaram louca de raiva a Hierarquia, mas também uivando, como as Escrituras dizem que deviam fazer. Muitos aprenderam a verdade através da imprensa.”
Os oponentes usaram a Voz Católica para papaguear a mentira de que os irmãos eram comunistas que propagavam o desrespeito pelo Governo Britânico. Isto trouxe policiais à paisana ao Salão do Reino em Kumasi, durante uma reunião. Os irmãos reconheceram tais estranhos, como sendo policiais, e realizaram um programa extemporâneo em beneficio deles. Em forma de perguntas e respostas, a reunido se passou mais ou menos assim:
P. “Há um relatório de que desrespeitam e desconsideram o Governo Britânico e que tentam estabelecer seu próprio reino. Será isso verdade?”
R. “Não é! O Governo Britânico é um governo humano, como qualquer outro governo na terra hoje. O que desejamos é o próprio reino do céu, de Deus.”
P. “Não constitui um ato sedicioso advogar o reino de Deus?”
R. “Como poderia ser? Os reis e as rainhas da Inglaterra mesmos oram para que venha o reino de Deus, não oram? ‘Venha a nós o teu reino’, recitam na Oração do Pai-Nosso. Poderiam ser acusados de sedição?”
(Os policiais balançaram a cabeça, discernindo o assunto. O programa continuou.)
P “Mas, por que deveriam atacar em especial a Igreja Católica?”
R. “Veja a introdução da própria Bíblia do Rei, a Versão Autorizada do Rei Jaime. Lemos ali: ‘Assim é que, por um lado, seremos traduzidos por Pessoas Papistas aqui ou no exterior, que, por conseguinte, nos caluniarão, porque somos pobres instrumentos para tornar a santa Verdade de Deus cada vez mais conhecida pelas pessoas, às quais elas desejam que sejam ainda mantidas em ignorância e em escuridão. . ..’ Assim, como vê, o próprio Rei da Inglaterra e seus peritos concordam com o que afirmamos, que as ‘Pessoas Papistas’ da Igreja Católica desejam manter o povo afastado da ‘santa Verdade de Deus’ e na escuridão mental. E, então é injusto caluniar-nos por ousarmos desfazer o dano que causaram e ainda causam. Por certo, esta é a única razão pela qual a Hierarquia envia policiais atrás de nós.”
De novo os policiais balançaram a cabeça, de acordo. Depois de uma hora de tal palestra viva, os policiais se tornaram como os oficiais que foram enviados para prender Jesus — voltaram sem efetuar a prisão. — João 7:32, 45, 46.
No dia seguinte, o irmão Quansah encontrou o cabo na rua. Ele disse: “Fizemos um bom relatório em seu favor. Apenas que seu inimigo é a Igreja Católica.” Não mais foram vistos policiais à paisana nas reuniões.
O ESFORÇO DE GUERRA
Em 16 de junho de 1941, o governador da Costa do Ouro Sir Arnold Hodson, mandou que fosse publicado na Gazette um decreto-lei conhecido como “A Lei do Serviço Militar Obrigatório, 1941”. Sob a mesma, “todo súdito varão britânico e toda pessoa protegida pelos britânicos, e as pessoas tratadas como se fossem uma pessoa protegida pelos britânicos, que tenha atingido a idade de dezoito anos e que não tenha ainda alcançado quarenta e cinco anos e que for residente normal da Costa do Ouro”, era passível de ser convocada para o serviço militar obrigatório.
Em 1940, os irmãos em Kumasi traduziram o artigo de A Sentinela de 1.º de novembro de 1939 sobre “Neutralidade” em twi. Cópias mimeografadas foram enviadas as muitas das congregações de língua twi do país. Seguiu-se a isto uma tradução de um artigo da Consolação intitulado “A Quem Teme?”, que também foi distribuído as congregações de língua twi.
Em 1941, os irmãos de Kumasi fizeram arranjos para passar vários fins-de-semana estudando tais artigos com os irmãos em Safo e Asonomaso. Assim fortalecidos com o conhecimento, puderam decidir por si mesmos o que deviam fazer, em harmonia com sua posição neutra com respeito a guerra e a declaração do governador. Recusaram contribuir para o fundo que era ajuntado para comprar aviões Spitfire para serem usados na guerra. Isto provocou ressentimento contra eles, que teria vazão em forma de perseguição.
O inimigo procurou incitar os chefes de Kwahu a perseguir as Testemunhas. Os clérigos, membros destacados das igrejas e outros homens influentes da localidade representaram mal os irmãos perante o chefe supremo. Disseram que eram pessoas que se haviam rebelado contra o rei da região ashanti e que tiveram de fugir da ira dele. Tais pessoas, disseram haviam sido acolhidas pelas testemunhas de Jeová em seu meio a fim de subverter a autoridade desse local.
O chefe supremo sentou-se em conselho com seus subchefes a fim de considerar o assunto. Quase que decidiram expulsar os refugiados e proscrever as atividades das Testemunhas nativas quando o chefe de Obo se levantou e disse, em essência: “Estas pessoas são pregadores da Palavra de Deus. Não obrigam ninguém a escutar a elas, nem a juntar-se à sua igreja. São diferentes de todas as igrejas que conhecemos, e talvez sejam os verdadeiros adoradores de Deus e Deus as esteja apoiando. Deveis cuidar, portanto, do que fazeis com elas. Quanto a mim, não participarei em nada que possa equivaler a lutar contra a vontade de Deus.”
Isso atemorizou os chefes e pôs fim à reunião. Todavia vendo que haviam sido derrotados coletivamente, alguns deles começaram a tramar contra os irmãos em suas próprias cidades. O chefe de Nkwatia mostrou-se especialmente ativo nisso. Fez com que dois irmãos fossem lançados na prisão por dois meses, e, as instigações dele, o irmão Anaman foi detido e interrogado pela polícia por várias vezes.
Aqui, também, os irmãos foram mal representados perante o comissário distrital. Ele os convocou a seu gabinete em Mpraeso e os interrogou. Quando explicaram sua neutralidade a ele, ficou grandemente desapontado com os perseguidores. Disse ele aos irmãos:
“Sei que essa é a posição das testemunhas de Jeová na Inglaterra. Vão embora para casa, mas estejam seguros de não desencorajarem outros a apoiar os esforços de guerra.”
Os inimigos continuaram a causar agitações até que conseguiram que o chefe supremo convocasse os irmãos a falar de novo com ele. Desta vez, os irmãos foram acusados de deixar de pagar os impostos. Imagine só a situação quando lá mesmo, todos os irmãos apresentaram seus recibos para a taxa básica corrente (a taxa de desenvolvimento comunal). Isso silenciou vários opositores, visto que eles próprios não haviam pago este imposto básico.
Foi aqui que o capitão do exército do chefe, tradicional. mente chamado Osafohene, levantou-se e disse à assembléia:
“Vós bem sabeis que também temos deuses e fetiches que impõem certos tabus e restrições a nós. Como diz o ditado: ‘Ninguém obriga outro a por de lado os tabus de seu fetiche.’ Se, portanto, tais adoradores de Jeová afirmam que a guerra é tabu para eles pelo decreto de seu Deus, afirmo que devemos deixá-los em paz. Devemos ter cuidado de não obrigá-los a violar as leis de seu Deus.”
O RESULTADO DA PERSEGUIÇÃO
Bem, qual foi o resultado da perseguição? Em muitos sentidos, a perseguição resultou ser uma bênção para o trabalho no país. Por um lado, enviou muitos dos irmãos deslocados de guerra para território isolado, para abrir o território. Isto resultou em se iniciarem muitas congregações novas, além de fortalecer as antigas.
Por outro lado, de uma vez para sempre acabou com a oposição nos povoados gêmeos de Safo e Asonomaso. Muitos dos aldeões esperavam que, quando os irmãos retornassem da prisão, fizessem muita algazarra no povoado e pagassem o mal com o mal. Quando não fizeram nada disso, mas, ao invés, foram de casa em casa saudando a todos e palestrando com todos, os aldeões ficaram atônitos. Muitos ouvidos começaram a se abrir para a boa-nova. Isso não era tudo.
Depois das perseguições, graves adversidades começaram a sobrevir aos mais destacados perseguidores, adversidades que as mentes supersticiosas dos animistas prontamente ligaram com a perseguição dos cristãos verdadeiros. Um dos principais maquinadores dos espancamentos em Asonomaso, Opanin Kwabena Saara, despencou do alto duma árvore Funtumia (seringueira) e morreu. Dois dos oficiais do tribunal que julgaram e zombaram dos irmãos morreram de forma misteriosa. O sargento de polícia Fodwoo, que disse que ele próprio lançaria na prisão a J. F. Rutherford, se este estivesse na Costa do Ouro, foi expulso três dias depois de fazer tal declaração.
Estas e muitas outras coisas, os oponentes pagãos juntaram e disseram: ‘Deveras, Deus está com tal povo!’ Alguns entraram na verdade, em resultado disso, como mostra o seguinte.
Dois mensageiros de Asantehene se dirigiram ao chefe de Asonomaso. Depois de seus negócios oficiais, pararam junto a um senhor de meia-idade e sua esposa, que aproveitavam a brisa fresca da noitinha, do lado de fora de sua casa. Os mensageiros disseram: “Por favor, Ancião, desejamos perguntar-lhe alguma coisa, mas, primeiro, poderia dizer por favor se é natural deste povoado?”
Quando o senhor respondeu que era, passaram a dizer:
“Meses atrás, Nana, o rei da região ashanti, prendeu vários membros das testemunhas de Jeová que se recusavam a pagar o imposto de guerra. O próprio Nana esbofeteou a alguns deles, mas, como o senhor bem sabe, não vive nenhum homem a quem ‘Aquele Que Se Senta em Ouro’ [o rei], aponta sequer um dedo. Assim, queira dizer-nos: Quanto tempo se passou, depois de tais homens virem para casa, até que morreram?”
Foi-lhes assegurado de que nenhum dos homens morrera. Replicaram: “Bem, não cremos que o senhor saiba do que estamos falando.”
O senhor explicou que sabia, sim, que ele era o filho do chefe de Asonomaso e que um dos homens que foi assim tratado pelos asantehenes, Kwadwo Owusu, era seu cunhado. Apontando para sua esposa, disse: “Eis aí a irmã dele!”
Os homens ficaram atônitos. “Sabemos agora que tais homens, são, deveras, servos do verdadeiro Deus. Temos de relatar isto ao Poderoso e avisá-lo que tenha cuidado, no caso que tenha de lidar de novo com as testemunhas de Jeová.”
A esposa do senhor, Akua Kwatema, era então uma pagã supersticiosa. Ela jamais tinha considerado o assunto por esse ângulo. Agora, considerava muito a sério a situação. “Se há um Deus que pode preservar seus servos da ira dos deuses dos ashantis, então Ele é o Deus a quem devemos adorar”, concluiu ela. De imediato associou-se com as testemunhas de Jeová e o tem servido fielmente até o dia de hoje.
Mudando para outro assunto, gostaríamos de relatar uma experiência de congresso. O irmão B. A. Quaye, irmão cego de Koforidua, conta como conseguiu ir ao congresso de 1944 em Swedru. Ele não tinha dinheiro consigo para pagar a passagem, mas tinha bastante comida para toda a viagem de ida a pé. Decidiu estar lá, muito embora a distância fosse de uns 112 quilômetros.
Conseguiu convencer outro irmão, que decidira não ir, desculpando-se de “não ter dinheiro”, a que caminhasse com ele até lá. Partiram uma semana antes do congresso. Antes de chegarem a Swedru, o número dos que iam a pé ao congresso havia aumentado para cerca de vinte. Como foi que isso aconteceu?
Bem, ao passarem as noites com os irmãos pelo caminho, o esforço desse irmão cego deixou atônitos e encorajou a muitos dos irmãos e das irmãs robustos, que haviam decidido ficar por falta de dinheiro, e se juntaram a eles, indo também a pé. Fizeram isto e foram ricamente abençoados no congresso. A hospitalidade dos irmãos que ouviram a experiência, na assembléia, habilitou tais irmãos a retornar de trem ou de jardineira, depois do congresso.
ANO DE VITÓRIAS E SURPRESAS
No início de 1947, os irmãos da Costa do Ouro decidiram realizar um congresso em Accra. Não deixariam de mover uma pedra sequer para conseguir a remoção da proibição da entrada do irmão Brown no país, para permitir que ele comparecesse ao congresso. Designaram o irmão J. G. Quansah como seu secretário e o nomearam para fazer um requerimento ao governador em seu favor.
Em 6 de março, o irmão Quansah entregou o requerimento. Embora jamais tivesse tido qualquer instrução legal formal, seu requerimento foi saudado como obra-prima. Que alegria foi para todos eles quando, em 25 de março de 1947, o Sr. G. Sinclair, agindo em favor do secretário colonial, escreveu ao irmão Quansah, dizendo:
“Segundo orientações do Governador, devo informá-lo de que as autoridades da Imigração estão prontas a permitir a entrada do Sr. Brown no país.”
Isto foi comunicado ao irmão Brown em Lagos, e, em questão de duas semanas, ele estava em Accra. Diz ele: “Imaginem só quão feliz me senti de poder ver meus filhos no Senhor e assistir ao congresso!”
Ao invés do grupinho de Testemunhas que vira no país em 1935, havia 800 publicadores e pessoas interessadas reunidas no Auditório do Cinema Palladium.
APOIANDO A NORMA CRISTÃ DO CASAMENTO
Um ponto importante considerado neste congresso foi a norma cristã do casamento monogâmico. Antes de 1947, vários dos irmãos (mas não a maioria, de jeito nenhum) viviam em poligamia. A norma da moral cristã, conforme delineada em Gálatas 5:19-21, e em outras partes da Bíblia foi respeitada e eles se empenharam em aderir a ela. No entanto, a poligamia não estava claramente associada com o adultério. Isto se devia, principalmente, a que, na sociedade africana a poligamia é tão honrada quanto a monogamia.
Por fim, o número de 15 de janeiro de 1947 de A Sentinela (em inglês) publicou excelente artigo sobre o casamento. A revista declarava de forma meridiana que a “pluralidade de esposas” não é para os cristãos.
Na sexta-feira, 4 de abril de 1947, na assembléia de Accra, o irmão W. R. Brown proferiu um discurso de noventa minutos sobre o casamento, baseado na matéria da Sentinela de 15 de janeiro. De imediato, tornou-se o assunto favorito das conversas na assembléia. Pela primeira vez, recusou-se o batismo aos polígamos, e se disse aos que já eram batizados nessa condição que tinham de limpar-se a fim de ser aceitáveis na organização de Jeová.
Aceitar a norma cristã do casamento significava grandes mudanças e ajustes na vida dos polígamos. Todavia, havia a disposição de fazer isso, junto com o desejo de agradar a Deus. Em harmonia com a misericórdia de Jeová, a Sociedade lidou mui paciente e bondosamente com eles. Sob as circunstâncias normais, foram-lhes concedidos seis meses para endireitar seus assuntos. A maioria deles mostrou apreço por isto, como se evidencia do comentário seguinte, feito pelo então superintendente da filial:
“Foi muitíssimo encorajador, quando tudo foi endireitado, verificar que o número de pessoas que recusaram ajustar sua vida segundo o modo de agir cristão podia ser contado pelos dedos de uma só mão. Assim, agora, à medida que Jeová faz prosperar os irmãos em fazer novos discípulos, estes estão vindo à organização de Jeová com claro entendimento de todos os requisitos bíblicos.”
CHEGAM OS GRADUADOS DE GILEADE
No fim da assembléia, ouviram-se boas novas, quando o irmão Brown anunciou que dois graduados da oitava turma de Gileade foram designados à Costa do Ouro e chegariam em meados de junho. O aplauso que se seguiu ao anúncio foi deveras ensurdecedor. Daí, quando o irmão Brown anunciou que “da próxima vez que eu os visitar, seu número não será 800, mas 8.000”, os irmãos não conseguiam conter sua alegria.
O navio que transportava os graduados de Gileade, George Baker e Sidney Wilkinson, chegou exatamente na data certa, atracando na baía de Takoradi em 17 de de junho de 1947. Fizeram sua primeira prova do que os aguardava no país quando, ao desembarcarem, o irmão Baker viu ser apreendida a sua biblioteca particular das publicações da Sociedade, sob a Lei da Alfândega. Os irmãos que tinham ido ao porto para recebê-los logo os puseram em dia com o que estava acontecendo no país, o que fez o incidente quanto aos livros do irmão Baker parecer bem insignificante. De qualquer modo, a calorosa acolhida que lhes foi dada pelos irmãos ajudou-os a vencer esse choque inicial.
APELOS EM FAVOR DE MAIOR LIBERDADE
Foi em 11 de setembro de 1947 que a Sociedade foi informada em Lagos que o Conselho Legislativo da Costa do Ouro deveria reunir-se na terça-feira, 16 de setembro. Isto queria dizer que os irmãos só tinham cinco dias para levar ao governador e também a todos os membros eleitos do conselho, a primeira petição que haviam preparado.
Trabalharam arduamente e, por telegrama, carta aérea e outros meios de comunicação, tiveram êxito em entregar as cópias da petição, conforme planejado. No ínterim, cópias da petição e das cartas exploratórias tinham sido enviadas ao rei da Inglaterra, ao primeiro-ministro britânico e ao secretário de estado para as colônias. Ao mesmo tempo, a filial de Londres havia feito arranjos para que cada uma das congregações nas Ilhas Britânicas enviasse uma carta de apelo, como congregação, ao governo da Costa do Ouro. Em aditamento, incentivou-se as pessoas a que escrevessem como cidadãos, que amavam a liberdade, expressando seu desgosto com a atitude do governo da Costa do Ouro para com as testemunhas de Jeová. Os irmãos na Inglaterra também fizeram isso e inundaram a Casa do Governo, em Accra, de cerca de 1.500 cartas, protestando pela recusa de se permitir a entrada das publicações da Sociedade no país.
Em meados de novembro, 10.496 pessoas haviam assinado seus nomes numa terceira petição, afirmando: “Não temos motivos de queixa contra as atividades das testemunhas de Jeová, nem contra o conteúdo de suas publicações, que não são subversivas, mas se orientam para o mais elevado bem estar do povo.” Os signatários incluíam muitos educadores, chefes, advogados, clérigos, jornalistas, comerciantes de destaque, e assim por diante. A apresentação formal ocorreu em 17 de novembro de 1947.
Mas, agora, chegara o mês de dezembro, e na sexta-feira, dia 19, os irmãos Knorr e Henschel pousaram no aeroporto de Accra. Estes diretores visitantes da Sociedade estavam interessados nos problemas oriundos da atitude do governo colonial para com nosso trabalho. Assim, além de assistirem ao congresso, gastaram algum tempo visitando as autoridades governamentais, tais como o diretor fiscal da alfândega, membros do Conselho Legislativo, e o diretor da educação, que passou em revista os livros antes da proibição. No entanto, nenhum deles queria indicar, de forma específica, o que havia de objetável em nossas publicações.
Durante a visita dos irmãos Knorr e Henschel, foi realizado um congresso num cinema chamado Palladium. A assembléia foi bem organizada e os dois graduados de Gileade agora residindo em Accra muito contribuíram neste sentido.
Na manhã de domingo, o irmão Henschel proferiu o discurso sobre o batismo. Depois disso, os candidatos foram levados em ônibus alugados para a praia. Na reduzida intimidade provida pelos coqueirais costeiros, mudaram de roupa, e foram imersos nas ondas agitadas do Atlântico. Foram assim batizadas 171 pessoas, por contagem real.
Havia 950 irmãos na assistência da assembléia, e bem mais de 800 deles se empenharam no serviço de campo, anunciando a reunião pública e indo também de casa em casa com o livro Filhos, que foi liberado na Costa do Ouro. Marchas informativas foram bem organizadas e a distribuição de convites continuou até bem a hora do discurso público. As multidões que cruzam diariamente as ruas de Accra sabiam bem que “O Governante Permanente de Todas as Nações” era o título do discurso público a ser proferido pelo irmão Knorr.
Ao discurso compareceu uma multidão recorde de 1.353 pessoas, centenas delas ouvindo-o do lado de fora do salão. O irmão Knorr falou em inglês, e o discurso foi traduzido para o twi e o gã.
Em suas observações finais, o presidente da Sociedade ofereceu bons conselhos aos irmãos, sobre como efetuar a obra, apesar dos obstáculos da censura. Ele os encorajou com a Palavra de Deus, e, então, surpreendeu a todos, dizendo: ‘A partir de 1.º de janeiro de 1948, daqui a alguns dias apenas, o campo da Costa do Ouro será operado por uma filial.’ O irmão A. G. Baker seria o superintendente da filial, ajudado pelo irmão S. Wilkinson.
Eram deveras boas novas! Os irmãos continuaram aplaudindo pelo resto da sessão. Assim terminou o congresso, com todos vividamente aguardando as bênçãos duma filial.
Antes de o irmão Knorr partir da África Ocidental, delineou por escrito o proceder que os irmãos deveriam seguir na batalha de conseguir que fossem removidas as injustas restrições sobre as publicações da Sociedade. Entre outras coisas, mencionou que, a consulta que fez ao Dr. Danquah, advogado, foi feita a sugestão de que a Sociedade fizesse arranjos para que o assunto fosse considerado na Câmara dos Comuns inglesa. O Dr. Danquah citou o exemplo de um livro chamado How Russia Transformed Her Colonial Empire (Como a Rússia Transformou Seu Império Colonial), escrito pelo socialista George Padmore. A alfândega de sua majestade apreendeu uma consignação deste livro destinada ao advogado Ako Adjei, de Accra, sob a Lei da Alfândega. Quando o assunto foi comentado na Câmara dos Comuns, em julho de 1947, isso foi tudo o necessário para que o secretário de estado, o Sr. Creech Jones, examinasse o assunto. O resultado foi que o livro se achava em livre circulação na Costa do Ouro.
De acordo com isso o irmão Knorr escreveu às Ilhas Britânicas e instruiu a filial da Sociedade a fazer todo o possível para levar o assunto ao Parlamento.
Em 14 de janeiro de 1948, o irmão Atwood, da filial da Nigéria, escreveu a Sir Gerald Creasy, que havia então assumido os deveres de governador da Costa do Ouro, e levantou o ponto da petição que se destinava a ele, mas que fora apresentada antes de ele assumir o cargo. O governador enviou uma resposta bondosa, dizendo que a solicitação estava recebendo cuidadosa consideração.
Com a mesma data, 14 de janeiro de 1948, o irmão Atwood também remeteu uma carta e uma cópia do livro “Seja Deus Verdadeiro” a cada um dos membros eleitos do Conselho Legislativo da Costa do Ouro. Depois de considerar a história da batalha de forma um tanto extensa, a carta dizia:
“É difícil de entender como qualquer pessoa razoável poderia afirmar que esta publicação seja ‘sediciosa, difamatória, escandalosa e desmoralizadora’. Todavia, este é, pelo que parece, o parecer do Delegado Fiscal da alfândega, e, apesar do apelo de mais de 10.000 cidadãos, o livro se acha banido. Aproveito a oportunidade de lhe apresentar um exemplar deste livro, para sua cuidadosa consideração.”
Não foi senão em 7 de dezembro de 1948, depois de muitos meses de trabalho árduo, que o irmão Baker escreveu: “Foi permitida a entrada agora de dezessete publicações diferentes.”
Isto tinha que produzir resultados no campo, e, produziu mesmo. No fim do ano de serviço de 1949, as colocações de publicações aumentaram de 23.724 no ano anterior para 124.462. Os estudos bíblicos aumentaram de 168 para 569 e havia 2.053 publicadores, em comparação com 1.134. Então havia 65 congregações e quatro circuitos, ao invés de 42 e dois, respectivamente. Na verdade a vitória foi de Jeová.
OS TERRITÓRIOS SETENTRIONAIS DA COSTA DO OURO
Em muitos respeitos, o Norte difere grandemente do sul, tanto assim que bem que poderia ter sido um país inteiramente diferente. Este território abrange pouco mais de um terço da área total terrestre do país, mas é muito menos povoado. Os administradores coloniais mostraram muito pouco interesse nesta parte do país, em parte devido a seu clima quase inóspito, e também porque o território é praticamente desprovido de quaisquer recursos minerais ou de madeira. O resultado é que o Norte ainda continua sendo a região em que os costumes, em grande medida, são influenciados pelas superstições das religiões pagã e islâmica.
Fez-se certa pregação neste território em fins dos anos 20 e no início dos anos 30, por parte dos irmãos J. O. Bankson e C. S. T. Caesar, em lugares tais como Navrongo, Wa, Gambaga, Tamale e Salaga — famoso mercado de escravos nos tempos dos portugueses. Mas, isto foi principalmente feito às instruídas autoridades do governo, do sul.
Em agosto de 1949, depois da assembléia de Kumasi, os irmãos Baker e Wilkinson excursionaram pela região para examinar o território, mas não foi senão no ano de serviço de 1951 que a Sociedade teve êxito em conseguir que um pioneiro regular, E. K. Konu, se mudasse para Tamale, a capital administrativa do Norte. O irmão Konu foi designado pioneiro especial. Dois meses depois, E. A. S. Anson foi designado como pioneiro especial em Yendi, a uns 100 quilômetros a leste de Tamale.
Na assembléia “Avançai à Madureza”, de 1952, os irmãos ficaram emocionados com as experiências relatadas pelos pioneiros especiais que trabalhavam no Norte. Bem poucas pessoas do sul haviam visitado o norte, e as vastas diferenças de cultura e de paisagem tornavam o norte uma região fascinante e até mesmo intrigante para a maioria dos sulistas. Pelos relatórios, fazia-se bom progresso lá, mas a necessidade ainda era grande. Assim, a Sociedade fez arranjos para enviar mais pioneiros especiais para esse território.
Estes trabalharam arduamente, apesar das condições menos favoráveis no norte. Alguns deles haviam trazido bicicletas, a fim de poderem cobrir o amplo território que lhes fora designado. Às vezes, tinham de pedalar oitenta ou mais quilômetros para visitar e fortalecer os publicadores isolados. Aprenderam a língua nativa e ensinaram leitura e escrita a alguns dos interessados que encontraram, alguns até chegando a aprender inglês.
Um de tais nativos zelosos que abraçou a verdade e se tornou utilíssimo a congregação local é S. K. Adama, de Lawra. Encontramo-lo em sua pequena alfaiataria, vestido com um avental solto por cima de suas calças européias, com um fez tecido à mão na cabeça. Sua face redonda e simpática reluz, ao acolher-nos com vigorosos apertos de mão. Seu sorriso revela uma perfeita dentadura, delicadamente enfileirada. E agora ele nos conta sua história, sobre o tema “A Verdade Bíblica Me Livra da Prisão de Satanás”.
Foi em 1953, quando tinha apenas dezenove anos, que ouviu a um dos pioneiros especiais pregar a boa-nova do Reino em Lawra. O que foi dito soava estranho demais a seus ouvidos para que algo ficasse registrado em sua mente, mas ficou surpreso com a repetição freqüente do nome Jeová em todo o sermão.
Quando terminou, perguntou ao pioneiro quem seria esse Jeová. Foi-lhe dado mais testemunho sobre o verdadeiro Deus. Quando Adama voltou para casa, contou a seus parentes: “Hoje encontrei um homem que me falou que há um Deus cujo nome é Jeová.” Qual foi a reação dos veteranos pagãos?
“Para eles isso não era novidade”, diz o irmão Adama, “porque os dagartis possuem muitos que são chamados de deuses e, assim, Jeová poderia ser o deus de algum outro povo”.
Em questão de dias, o pioneiro o revisitou. Ficou comovido pelo sermão sobre as qualidades do verdadeiro Deus e sobre o que Jeová propôs fazer para a humanidade na terra por meio de Seu reino. Reconheceu a mensagem como sendo a verdade. Mas, não tomou posição a favor dela. Deixou Lawra, indo para Accra, onde teve outra oportunidade de investigar a mensagem das testemunhas de Jeová.
Quando ficou ainda mais convicto de que as testemunhas de Jeová tinham a verdadeira religião, em resultado do que ouviu e viu sobre elas em Accra, retornou a Lawra. Para seu desapontamento, o pioneiro partira de Lawra para Tumu, a uns 110 quilômetros de distância. Conseguiu convencer seu irmão sobre a veracidade da mensagem. Os dois decidiram viajar os 110 quilômetros até Tumu para procurar o pioneiro.
Bem nessa ocasião, alguém lhes forneceu o endereço do superintendente de circuito. Comunicaram-se com ele, e, quase que de imediato, ele escreveu para eles, assegurando-lhes que lhes faria uma visita. Dentro de poucas semanas, chegou lá, acompanhado de dois pioneiros especiais designados a Lawra. Num curto tempo, um pequeno grupo de nativos foi batizado.
Os anciãos da cidade não olharam isto com favor. “Levaram nossas esposas”, relata o irmão Adama, “e nos mandaram parar de servir a Jeová, porque não podiam tolerar que suas filhas fossem casadas com adoradores dum ‘deus estrangeiro’. Mas, isso não nos impediu. De modo que foram ao chefe supremo de Lawra e lhe disseram: ‘Estes rapazes trazem a tradição e os costumes de outras pessoas para o nosso povoado. Deve providenciar que parem de fazer isso.’
O chefe Karbo investigou o assunto e disse aos anciãos: “Eu sou o chefe, mas não tenho autoridade de impedir as pessoas de adorarem o deus que elas quiserem.”
“Os anciãos ficaram desapontados”, lembra-se o irmão Adama. “Amaldiçoaram-nos e disseram que estaríamos mortos em questão de dias, por termos abandonado a tradição e os costumes de nossos ancestrais.”
“Bem, passaram-se três dias, e nenhum de nós tinha morrido”, observou Adama. “Ao invés, tínhamos conseguido um terreno para construir um Salão do Reino em nome de Jeová.”
“O quê?” — disseram surpresos os oponentes. “Ainda estão vivos os rapazes, e construirão uma casa para seu Deus, Jeová? Deveras, ele tem de ser o Deus Todo-poderoso.”
“Por conseguinte, os anciãos vieram a reconhecer a Jeová como o Deus verdadeiro e, embora não viessem a adorá-lo junto conosco, deixaram de nos perseguir. Nossas esposas por fim dedicaram sua vida a Jeová, e Jeová continuou a prosperar nossa congregação.”
Muitas de tais experiências fortaleceram os pioneiros especiais que trabalhavam no norte. Também as visitas ocasionais de ônibus cheios de irmãos do sul, usualmente na época das assembléias de circuito, os encorajavam. Em certa ocasião, as congregações em Accra compraram bicicletas e as enviaram ao norte, por meio da Sociedade para serem usadas pelos pioneiros especiais. Outros enviavam roupas usadas para ser distribuídas entre os necessitados ali. Tudo isto foi muitíssimo apreciado.
EXPANSÃO
Não restava dúvida de que era grande a necessidade de publicações no vernáculo. Fez-se, portanto, o arranjo para traduzir “Seja Deus Verdadeiro” para o twi.
Nessa ocasião, T. A. Darko fora batizado. Ele estivera em contato com a verdade desde 1938, mas permanecera sendo presbiteriano devoto até ler “Seja Deus Verdadeiro” em 1948. Este senhor conhecia muito bem o twi, o inglês e o gã, e se interessava em traduções. Antes de seu batismo, já iniciara, por sua iniciativa, a traduzir “Seja Deus Verdadeiro” para o twi. Tencionava mudar-se para a fortaleza presbiteriana de Akropong, nas colinas Akwapim, e usar o livro para ensinar a verdade aos freqüentadores de igreja.
Depois de seu batismo, o superintendente da filial ficou sabendo do interesse dele em traduzir, e, assim, a Sociedade o convidou para Betel, para fazer traduções por tempo integral. Isso foi em 1.º de fevereiro de 1949.
No movimentado ano de 1949 foram realizadas duas assembléias de distrito, uma em Kumasi e outra em Accra, no Salão Memorial Rei George V, agora o Parlamento. O irmão Atwood, da Nigéria, visitou o país como superintendente de zona, em relação com a segunda assembléia.
A assistência total destas duas assembléias indicava 2.719 pessoas mais do que o número de publicadores no país. Um total de 404 pessoas foram batizadas nas duas assembléias, elevando o total para o ano a 806.
A obra crescia tão rápido que, por volta de agosto de 1949, 71 por cento dos 2.053 publicadores eram novos, isso é, pessoas que aceitaram a verdade desde o estabelecimento da filial. Isto, desnecessário é dizê-lo, trazia uma carga adicional de pastoreio. A Sociedade, por conseguinte, fez arranjos para que viessem mais missionários, treinados em Gileade.
Primeiro W. C. Walden e G. L. Covert chegaram, em fevereiro de 1949. Em setembro do mesmo ano, chegaram mais três missionários. O irmão G. F. Burt, da décima turma não teve êxito em conseguir entrar em Quênia, a sua designação original, de modo que foi então designado à Costa do Ouro. Os seguintes dois missionários foram John Charuk e seu irmão Michael, graduados canadenses da décima primeira turma.
OUTRO GOLPE TRANSFORMADO EM VITÓRIA
Os irmãos Knorr e Henschel programaram visitar a Costa do Ouro pela segunda vez, em 1952.
Com ansiedade, as testemunhas de Jeová em todo o país aguardavam essa visita. Desta vez, o número de publicadores aumentara para 4.446, em comparação com os meros 575 do ano de 1947. Cada um deles muito apreciaria beneficiar-se dos conselhos e dos discursos do presidente da Sociedade e secretário dele, de modo que, como se deu em 1947, programou-se um congresso nacional para Accra, de 21 a 23 de novembro.
Para a surpresa de todos, o Velho Campo de Pólo, da Coroa Britânica, foi cedido para o congresso! Tratava-se dum, campo espaçoso, à beira-mar, de frente ao Supremo Tribunal, e ao Salão Memorial Rei George V. Não poderia haver melhor lugar em toda a Costa do Ouro!
A uns 45 quilômetros de distância, cortaram-se 2.000 pedaços de bambu e foram transportados para o Velho Campo de Pólo. Uma cozinha gigante, com lugar para vinte fogões, foi a primeira estrutura erguida. Esteiras separavam os departamentos e serviam de paredes para os escritórios, ao passo que ramos de palmeiras forneciam excelente cobertura.
A tribuna dos oradores foi lindamente construída e ornamentada. Construiu-se um dossel sobre ela para fornecer sombra. Dele, dependuravam as letras recortadas, soletrando o tema da assembléia: “Avançai à Madureza.”
Ao se aproximar a ocasião, começaram a chegar do interior alimentos e outros suprimentos. Três caminhões de cinco toneladas de inhames, e um de bananas de S. Tomé vieram de quase 300 quilômetros ao norte, junto com tantas outras provisões que iriam manter ocupados os 150 voluntários do restaurante. Adicione-se a isto o trabalho de encontrar hospedagens para os 6.000 delegados esperados de fora de Accra.
Efetuou-se a publicidade com zelo. Trezentos cartazes foram colados por toda a Accra, e seus subúrbios. Grandes quadros de anúncios foram colocados em cruzamentos destacados. Dois letreiros de 15 metros forneciam os pormenores do discurso público intitulado “É Tempo de Considerar o Caminho de Deus”, a ser proferido por N. H. Knorr, presidente da Sociedade Torre de Vigia.
Então vieram as notícias de que os vistos de entrada para o irmão Knorr e o irmão Henschel foram cancelados!
“O primeiro-ministro, Dr. Nkrumah, concedeu-nos uma audiência. O assunto lhe foi explicado, e ele disse que decorriam precisamente duas semanas que nossa obra missionária fora considerada numa reunião do gabinete. A decisão feita foi de que nossas atividades missionárias poderiam continuar como estavam, mas que não seria permitida a entrada de mais missionários no país. Foi-lhe dito que o irmão Knorr e o irmão Henschel não vinham para cá como missionários, mas apenas para visitar-nos por alguns dias. Na conclusão da audiência, o primeiro-ministro declarou que ele consideraria o assunto com o ministro da defesa e dos negócios exteriores. Mais tarde, um secretário do governo disse que o assunto fora considerado e que a decisão final era que os vistos foram negados e que um cabograma nesse sentido fora enviado a Nova Iorque.”
Visto ser definitivo que os irmãos Knorr e Henschel não obteriam a permissão para assistir ao congresso, o mais importante destaque do congresso, em seqüência, foi o lançamento do livro “Seja Deus Verdadeiro” em twi. Oh, como os irmãos de língua twi estavam aguardando esta publicação em seu próprio idioma! Quanto progresso os ajudaria a alcançar na obtenção de conhecimento exato! E como os ajudaria a dirigir melhores estudos bíblicos!
Mas, mesmo assim, a possibilidade de fazer deste lançamento uma realidade estava seriamente ameaçada. Como? O navio que trouxera os livros chegara tarde demais para que alcançassem a assembléia!
Accra realmente nunca foi uma baía, e, naqueles dia antes da construção da baía de Tema, os navios tinham de enfileirar-se por cerca de uma milha, ao largo, e esperar sua vez de descarregar sua carga por meio das canoas muito vagarosas que iam e vinham na praia. Isto resultava em os navios esperarem por vários dias ao largo, e cada capitão tinha cuidado de não perder seu lugar na fila. Soube-se que a remessa de publicações chegara dois dias antes do congresso e não seria descarregada pelo menos por sete dias! O que poderiam fazer os irmãos?
A filial decidiu entrar em contato com o delegado fiscal da alfândega e pedir sua ajuda. Considerando a batalha que havia sido travada entre a alfândega e as testemunhas de Jeová no passado, foi necessário ter verdadeira fé para se dirigir com qualquer otimismo ao próprio chefe deste departamento, pedindo ajuda. Mas, o superintendente da filial fez isso.
O irmão Baker explicou a este oficial europeu que, nos três anos anteriores, fazia-se a tradução desta importante publicação para seu lançamento na assembléia. E agora, ela estava lá, retida a uma milha da praia, ao passo que a assembléia estava em andamento. Poderia ele ajudar-nos?
De imediato, o Delegado Fiscal de Sua Majestade levou o irmão Baker a seu assistente na praia e explicou a situação. Mandou que este oficial subalterno tomasse duas canoas da frota que descarregava as cargas e levasse o Sr. Baker ao comandante do navio. Deixemos que o irmão Baker conte o resto.
“Devido às ondas do mar, levou algum tempo para alcançarmos o navio. Uma vez junto a ele, compreendi que tinha de segurar firme a escada de cordas enquanto a canoa subia e descia ao sabor das ondas. Não me lembrava de ter recebido treinamento para isto na Escola de Gileade!
“Com certa palpitação, por fim consegui subir ao convés, encontrando o comandante esperando, querendo saber de que se tratava tudo isso. Depois de minha explicação, ele replicou ‘Esta quantidade de carga não estaria alistada em nossa folha. Não tenho idéia de onde possa estar.’
“Eu perguntei se poderíamos dar uma busca. Ele concordou e, vários membros da tripulação partiram em diferentes direções. Dez minutos depois, nada ainda tinha sido encontrado. Daí, o comandante gritou: ‘Será isso?’
“Eu corri para lá e, na verdade, ele encontrara as caixas. Abriram-se as escotilhas e o guindaste as moveu para o lado. Dentro de uma hora, estávamos remando de volta para a praia. Imagine a alegria de todos quando o livro foi lançado, conforme planejado, na assembléia!
“Todos ficamos muito desapontados de não ter o irmão Knorr e o irmão Henschel conosco para a assembléia, mas isso tudo resultou em maior testemunho, no fim das contas. Os jornais dos dias seguintes disseram muita coisa sobre essa ação governamental.”
Os comentários da imprensa foram volumosos, constituindo deveras grande testemunho, mas, ainda mais prazeiroso era que não houve um comentário adverso sequer sobre as testemunhas de Jeová.
Com manchetes tais como “Forneçam-se Razões”, “Protesta a Torre de Vigia”, “Triste Erro”, “Premier Nkrumah não Está Satisfeito com Proibição Contra Knorr, Questão Talvez Vá à ONU”, “Impedido Discurso de Knorr”, “EUA Talvez Indaguem Caso de Knorr”, “Não Existe Liberdade Aqui? Citado o Caso de Knorr, Apenas Vermelhos Fazem Isso”, “Encare os Fatos Sobre Sr. Knorr”, “Julgamento por Suposição”, e muitas outras — muito foi escrito que deve ter deixado embaraçada a Coroa Britânica.
Certo editorial avisava: “Há muito mais envolvido nas medidas contra as Testemunhas de Jeová. A liberdade individual se acha em jogo-a liberdade de adoração e de palavra ou de pensar se acha em perigo.”
Outro dizia: “Haverá repercussões, pois o povo da Torre de Vigia fala bem alto e com intrepidez. . . . Em si, a proibição a Knorr é uma zombaria às afirmações das Nações Unidas sobre a cidadania mundial. É trágica. E isso é o mínimo que se pode dizer.”
Muitas pessoas educadas suspeitavam que a cristandade era cúmplice no assunto, conforme publicado no seguinte editorial de jornal: “Não seria injusto sugerir que talvez se tenha exercido branda influência externa para impedir a entrada de Knorr no país. Essa fonte talvez tenha sido cristã pois a Igreja parece ter caído nos dias viciosos de competição viva; e o povo da Torre de Vigia parece estar ganhando.”
Nas primeiras horas da manhã de 26 de novembro de 1952, um avião aterrissou no aeroporto de Accra, com o irmão Knorr a bordo. Ele sabia que não lhe seria permitido entrar no país, de modo que fez arranjos para que alguns dos irmãos se encontrassem com ele no aeroporto. Ele relata:
“Ao passo que os irmãos esperavam que eu chegasse quatro dias antes, quando cheguei, às 15 horas, o servo da filial e vários outros do escritório estavam lá. Por quarenta e cinco minutos, apreciei vividamente considerar a situação em Accra com eles.
“O que me deu tanta alegria foi saber que tiveram um congresso maravilhoso assim mesmo. Oito mil irmãos vieram de todas as partes do país até Accra, e foi dado tremendo testemunho.”
Anteriormente, o irmão Knorr escrevera uma carta que se tencionou que fosse lida aos congressistas. Visto que foi recebida tarde demais para ser lida à assembléia, a filial fez circular seu conteúdo em todas as congregações, com a data de 25 de novembro.
Embora o irmão Knorr iniciasse sua carta dizendo: “É com profunda tristeza que escrevo esta carta”, ele encorajou muitíssimo e ofereceu admoestação cristã aos irmãos. Disse ele:
“Não deixem que esta situação os perturbe, nem deixem que provoque a ira em seu coração. Tais homens no governo têm a autoridade . . . de recusar vistos para aqueles que não desejam ter no país. É parte de seu trabalho e, por certo, de sua responsabilidade. . . . Estarmos junto dos irmãos teria sido uma grande alegria, e poderíamos ter . . . ajudado os irmãos no serviço que estão fazendo. Mas, se este serviço cristão lhes é negado pelo governo, não permitam que isto os perturbe de forma alguma.
“Sua dedicação, de sua vida, é a Jeová Deus, e os irmãos não são testemunhas de Jeová por causa de nenhum homem na organização, nem devido a um grupo de homens. São escravos do Altíssimo. Estão interessados em apenas uma coisa, quer eu e o irmão Henschel estejamos aí para lhes falar sobre isso, quer leiam por si mesmos na Palavra do Senhor, e isso é glorificar seu Pai nos céus. . . .
“Queiram continuar em sua pregação da boa-nova em paz, com calma e no espírito de Jeová. . . . Espero que o efeito desta restrição a mim e ao irmão Henschel quanto a entrarmos na Costa do Ouro seja muitíssimo saudável para todos os irmãos. Espero sinceramente que o efeito seja o de tornar cada um dos irmãos mais zeloso e mais determinado a alcançar mais pessoas com esta boa-nova do Reino, conseguindo mais estudos bíblicos, dando mais testemunho de casa em casa e aumentando a atividade em todo campo de serviço. . . .
“Que seu zelo seja expresso durante o ano vindouro de 1953 por adorarem a Jeová em santa formação . . .
“Mostrem seu amor a todas as pessoas na Costa do Ouro por lhes levar a ‘boa-nova’ do Reino de Deus, que é a única esperança do mundo. Que a rica bênção de Jeová esteja com os irmãos, ao assim fazerem, e que mantenham sua integridade e participem na vindicação do nome e da Palavra de Jeová. Eu e o irmão Henschel enviamos nosso amor à inteira congregação.”
Que carta inspiradora! Concluímos o ano de serviço de 1953 com um aumento de 21 por cento em publicadores e novo auge de 5.181 publicadores.
ATIVIDADES COM FILMES
Passamos para outubro de 1954, quando a Sociedade iniciou uma atividade com os filmes, por todo o país, usando a película “A Sociedade do Novo Mundo em Ação”. Visto que a eletricidade, até mesmo agora, só se acha disponível nas cidades principais, a Sociedade teve de comprar, não apenas um projetor, mas também um gerador e outros aparelhos elétricos, além de um utilitário Land-Rover para transportar tudo isso até às partes mais remotas do país.
Perto do fim do ano de serviço de 1955, 109.496 pessoas haviam visto o filme em cinqüenta e nove exibições. Ajudou muito a amainar a oposição e o preconceito, como se evidencia do comentário de um líder da Igreja Metodista, que disse:
“Jamais tive em grande conta a sua igreja, até que vi o filme. Desde então tenho dito aos meus membros que ouçam o que as testemunhas de Jeová ensinam.”
A menção do ano de 1955 nos recorda as assembléias “Reino Triunfante” daquele ano. Certamente foi encorajador ver vinte delegados partirem da Costa do Ouro para assistir a várias assembléias realizadas na Europa. Alguns destes congressistas não conheciam nada de inglês ou de outra língua européia. Assim mesmo, foram grandemente edificados pelo que viram e pelo que experimentaram no sentido da hospitalidade dos irmãos europeus, e o amor e a unidade da organização de Jeová. Voltaram sentindo mais profunda apreciação pela verdade e por suas obrigações para com seus concristãos.
Depois das assembléias européias, a filial da Costa do Ouro programou uma assembléia nacional com o mesmo tema em Accra, de 17 a 20 de novembro de 1955. De novo o governo nos favoreceu com a permissão de usar o Velho Campo de Pólo.
O irmão Henschel deveria comparecer a esta assembléia e era preciso obter um visto para ele. Haveria uma repetição do episódio de 1952, quando se negaram vistos aos irmãos Knorr e Henschel? Houve longa demora depois de se fazer o pedido, e isto provocou um pouco de ansiedade. No entanto depois de visitas persistentes, o visto foi dado, ainda em tempo para se enviar um cabo ao irmão Henschel, habilitando-o a incluir a Costa do Ouro em seu itinerário.
A primeira sessão da assembléia teve 7.000 pessoas na assistência. Esta aumentou constantemente até atingir um auge de 14.331 no discurso público. O número de batizados foi de 926.
AJUSTES NA SUPERVISÃO
Quando o irmão Baker partiu, devido à saúde ruim, o irmão Knorr designou o irmão G. F. Burt para administrar a filial até que fossem feitos outros arranjos. O irmão Burt fez isso até 27 de junho de 1956, quando chegou Herbert Jennings, sendo designado superintendente da filial.
O irmão Jennings, canadense, foi batizado em 22 de outubro de 1950, e começou o serviço de pioneiro regular em março de 1952. Foi designado superintendente de circuito em janeiro de 1955, e, sete meses depois, foi chamado para cursar a vigésima sexta turma de Gileade, de onde foi designado à Costa do Ouro. O irmão Jennings tinha apenas 25 anos quando chegou aqui, mas mesmo naquele tempo já estava ficando calvo. Visto que a calvície, como os cabelos grisalhos, são associados com a idade avançada na sociedade africana, isto provou ser de ajuda para seu trabalho.
Foi em 1956 que a Sociedade dava ênfase à madureza aqui e, naturalmente, isso exigia a supervisão capaz. Antes de 1956, parecia que a preocupação tinha sido com o crescimento numérico, e crescemos mesmo desta forma. Agora havia necessidade de treinar os publicadores para alcançarem maiores responsabilidades na organização. Isso significava, por exemplo, enfrentar o problema do analfabetismo, por ensinar os publicadores a ler e escrever, ao invés de designar duas ou três pessoas analfabetas para acompanharem um publicador alfabetizado de casa em casa, ou lhes dizer que registrassem a atividade de serviço de campo por guardarem pedrinhas e varinhas em diferentes sacos que representavam as várias modalidades do ministério de campo.
Outro problema que precisava de atenção era manter ativos todos os publicadores. Já por alguns anos se tinha observado que diminuíra o ritmo de aumento em publicadores, muito embora estivessem sendo batizados muitos novos. O aumento em publicadores no ano de serviço de 1953 foi de 21 por cento. Em 1954, baixou para 16 por cento, daí para 7 por cento no ano seguinte e para 4 por cento nos primeiros oito meses no ano de serviço de 1956. Isto era causa de preocupação.
Um estudo do problema revelou que várias pessoas eram logo batizadas sem real apreço das responsabilidades que acompanham a dedicação e o batismo. Tais pessoas não tinham obtido suficiente conhecimento de Jeová e de seus propósitos, sobre os quais basear uma fé sólida, como uma rocha. Em resultado disso, publicavam por algum tempo depois do batismo e então deixavam o serviço.
O remédio oferecido foi expresso no número do Suplemento do Informante de maio de 1956, num artigo intitulado “Exame Para Todos os Candidatos à Imersão”. O artigo responsabilizava os superintendentes de congregação de examinar pessoalmente cada candidato ao batismo patrocinado por suas congregações, a fim de certificar-se de que a pessoa não fosse impedida por um casamento impróprio, ou alguma outra conduta anticristã. Esperava-se que cada candidato tivesse conhecimento básico da verdade, adquirido pelo estudo de “Seja Deus Verdadeiro”, e claro entendimento e apreço do que significa a dedicação e o batismo e as obrigações duma pessoa perante Jeová ao ser batizada. Ao ser aprovado um candidato, o superintendente presidente preenchia e assinava uma fórmula “Habilitado Para o Batismo”. Com poucas exceções, o batismo estava restrito às épocas de assembléia, e ninguém era batizado em tais assembléias sem primeiro apresentar ao departamento de imersão uma fórmula “Habilitado Para o Batismo”, devidamente preenchida e assinada pelo seu superintendente de congregação. Ao passo que isso reduzia o número dos que eram batizados, assegurava que aqueles que eram reconhecidos como testemunhas de Jeová estavam verdadeiramente habilitados.
A COSTA DO OURO SE TORNA GANA
Em 6 de março de 1957, o governo britânico concedeu plena independência à Costa do Ouro. Então o país estava livre do domínio colonial, evento que trouxe grande júbilo a todos que clamavam pelo “Autogoverno Agora!”
Como seria de se esperar, uma porção de coisas de origem colonial, tais como títulos de dívida pública, estatutos e resoluções, inclusive a “lista de Sociedades Missionárias aprovadas” foram relegados aos arquivos ou aos museus. Ora até mesmo o nome Costa do Ouro foi considerado como tendo origem colonial e foi lançado fora. Dali em diante, o país dever-se-ia chamar Gana. Junto com a independência veio uma constituição que continha a provisão de que “Nenhuma lei privará qualquer pessoa de sua liberdade de consciência ou do direito de livremente professar, praticar ou propagar qualquer religião, em conformidade com a ordem pública, a moral e a saúde”.
Talvez o maior problema que se precisasse vencer fosse o do analfabetismo. Em 1957, 61 por cento dos 6.727 publicadores não sabiam ler nem escrever. Até aquele ano, a aprendizagem da leitura e escrita ficava mormente a critério da pessoa, e alguns dos mais zelosos saíram-se muito bem em aprender sozinhos. Talvez isso explicasse o fato de que os alfabetizados constituíam quase 40 por cento da organização ao passo que, para o país como um todo, eram de menos de 30 por cento.
Foram feitos arranjos para se estabelecer classes de alfabetização. Visitar as turmas de alfabetização é sempre uma experiência emocionante. Num Salão do Reino dum povoado humilde, encontra pessoas esforçadas, algumas idosas e outras não tão idosas, agrupadas ao redor duma lamparina de pressão e estudando com atenção as lições em gravuras. Algumas têm vistas fracas e algumas usam óculos. Então veja aquela irmã idosa ali, tentando lembrar-se, por associação, do significado do que o instrutor está indicando na gravura. E agora veja como seu rosto reluz, ao conseguir interpretar a página impressa em linguagem oral. O instrutor sente-se tão animado com isso que aplaude espontaneamente e a turma inteira se junta a ele. Ao se passarem os meses, ela progride com o grupo. Em nossa próxima visita, encontramo-la ajustando e reajustando seus óculos ao enfrentar os compêndios mais avançados. Em outra ocasião, encontramo-la tentando firmar a ponta dum lápis com dedos que estão encrispados devido aos anos de trabalho árduo com a enxada. Veja-a, ao se empenhar em fazer traços simples e travessões e círculos. Não têm aparência muito boa, mas ela deve ser elogiada. Ela fez progresso. Imagine só sua alegria quando, dentro de um ano, ela consegue ler por si a Palavra de Deus e escrever seu próprio relatório de serviço de campo e cartas pessoais.
Foi com tal diligência que as testemunhas de Jeová enfrentaram o problema do analfabetismo na organização. As classes foram supervisionadas de perto e dirigidas numa atmosfera de amor cristão. Isto granjeou o louvor de várias autoridades governamentais, como no caso de um supervisor da educação em massa da Região Ocidental que visitou as turmas duma congregação que conseguira ensinar 20 pessoas a ler e escrever em menos de um ano. Ele sentiu-se movido a dizer: “Deveras, vocês são um povo diferente. . . . Se seu espírito fosse manifesto em outras organizações, este país em breve teria bem poucos analfabetos.”
REGISTRO DO CASAMENTO
O seguinte grande projeto era ajudar os irmãos a pôr seus casamentos numa base sólida. Desde que o país se tornara colônia da Grã-Bretanha, as leis de casamento civil da Inglaterra se aplicavam no país, junto com as leis não escritas do casamento costumeiro ou consuetudinário. Tanto o casamento civil como o costumeiro são reconhecidos como perfeitamente legais, embora o casamento pela lei civil tenha precedência sobre o casamento costumeiro. Sem comparação, a maioria dos nossos irmãos até 1957 se haviam casado pela lei costumeira. Isto significava que, embora os casamentos fossem legais, não tinham sido registrados, exceto em alguns casos, em que as pessoas os haviam registrado nos conselhos locais.
Em 4 de julho de 1957, a filial escreveu a todas as congregações, explicando a necessidade de registrarem-se os casamentos entre as testemunhas de Jeová. A informação se baseava na matéria contida nos números de A Sentinela de 1956 (em inglês), que tratavam do casamento. Nessa ocasião isto significava que os casais que estavam casados sob as leis costumeiras, não-escritas, precisavam ter um casamento civil.
Agora a maioria dos conselhos locais no país têm a autorização do governo de registrar os casamentos costumeiros. Este não é o mesmo que o casamento civil, mas é tão válido, legal e é devidamente registrado. Assim, fica a critério dos casais decidir de que modo desejam casar-se, quer pelo arranjo do casamento civil, quer por meio do conselho local, de registrar casamentos costumeiros.
ASSEMBLÉIA DE KUMASI
Tudo estava pronto para que o congresso em Kumasi se iniciasse em 5 de março de 1959, se não houvesse nenhuma emergência. Mas, o que dizer do irmão Knorr?
Pela vontade divina, não houve desta vez nenhuma dificuldade com a imigração. O irmão Jennings nos conta:
“O irmão Knorr chegou em Accra e passou pela alfândega na noite anterior ao início da assembléia. Depois de passar a quinta e sexta-feira examinando os assuntos na filial, ele e eu e minha esposa voamos para Kumasi, para assistir a assembléia.
“Logo ao chegar, o irmão Knorr estava programado para proferir um discurso na sessão de língua estrangeira a que estavam presentes os delegados de língua francesa da Costa do Marfim, de Togo e os delegados de língua frafra de Gana setentrional. Os irmãos estavam esperando quando ele chegou e escutaram atentamente o discurso inteiro.
“Nessa tarde, os superintendentes estavam sentados na sessão reservada, para um programa especial. Começaram dois discursos de meia hora e então era a vez do irmão Jennings oferecer conselhos aos irmãos sobre ‘Superintendentes Mantenham Vivas Suas Congregações’. O irmão Knorr então discursou aos superintendentes sobre ‘Pastoreando o Rebanho de Deus com Perícia’. Citando o Rei Davi e Cristo Jesus, como exemplos de pastores fiéis e peritos, encarregou os superintendentes da responsabilidade de ajudar os publicadores novos e fracos antes que qualquer um deles se tornasse inativo. Depois de mostrar preocupação com o fato de que muitos que foram batizados deixaram de continuar no serviço ativo, deixou clara a obrigação dos superintendentes de reavivar tais inativos.
“Domingo, o dia final da assembléia, amanheceu um dia brilhante e quente. Pela manhã, vários oradores de Betel e servos de congregação ofereceram conselhos e informações sobre assuntos bíblicos. Experiências gravadas e músicas dos irmãos de trás da Cortina de Ferro também foram tocadas, para deleite dos congressistas. Todos os discursos desse dia, como de todos os demais dias da assembléia, foram traduzidos simultaneamente para o twi, gã, eve e adangbe.
“Às 12 horas, os servos de circuito e de distrito se reuniram para uma reunião especial, o irmão Knorr dirigindo uma palestra esclarecedora e séria sobre ser instrutores do rebanho — não apenas dizer o que este devia fazer, mas dando o exemplo, para fazer isso junto com eles. O programa da tarde incluía a leitura duma carta para que todos a aprovassem e adotassem, expressando apreço à Sociedade pela assembléia, pela visita do irmão Knorr e pelo novo livro Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado.
“O discurso final do dia foi o discurso público, ‘Uma Terra Paradísica por meio do Reino de Deus’, pelo presidente da Sociedade, N. H. Knorr. Quão contentes e emocionados ficaram todos quando a contagem revelou que 13.754 pessoas, quase o dobro das Testemunhas em Gana, ouviam ali atentamente este assunto interessante e importante. A atenção e os freqüentes aplausos revelaram que o discurso foi cabalmente apreciado e satisfez a todos.
“O batismo foi no sábado de manhã, e 460 pessoas foram imersas.”
O irmão Jennings se recorda de algumas experiências um tanto cômicas em relação com sua viagem de volta para Accra. O irmão Kofi Kye se oferecera para levá-los em seu carro, domingo de noite, depois do discurso público. Assim, depois de darem o último adeus e deixarem o local da assembléia, entraram no carro e partiram.
Já estava escuro e o irmão Knorr mostrava, por suas perguntas, estar um pouco apreensivo quanto ao motorista encontrar o caminho de volta para Accra. O irmão Jennings lhe assegurou disso, mas, a próxima coisa que viram é que estavam no fim de uma rua sem saída. Que modo de tranqüilizar um estranho que viajava ao anoitecer!
De qualquer forma, o motorista deu meia-volta e conseguiu pegar a estrada da selva, mas como o irmão Knorr poderia ter certeza de que esta o levaria a Accra? Quão aliviado se sentiu quando, depois de quatro horas de percorrer de carro a floresta, apareceu um letreiro que dizia “Está Entrando Agora em Accra”!
“Por estarmos viajando pela selva”, recorda o irmão Jennings, “o irmão Knorr fez com que todos nós ficássemos observando se não víamos animais selvagens na estrada, tais como leões, panteras, e assim por diante. Depois de quase 260 quilômetros de floresta, o número total de ‘caça’ que se conseguiu ver atingiu um rato do campo e uma rã verde, que pulava uns noventa centímetros no ar para cada trinta centímetros que ia à frente.”
RETORNA O IRMÃO BROWN
Ao terminar esta parte da história, retornemos ao Cine Palladium em Accra, onde termina um congresso de 800 irmãos, em 6 de abril de 1947. Ali está o irmão W. R. Brown aferindo suas observações à assistência e, no meio de ensurdecedor aplauso, ele diz: “Da próxima vez que eu os visitar, seu número não será 800, mas 8.000.”
Em 1950, quando já havia suficientes missionários treinados em Gileade na África Ocidental, para continuar o que começara, pela bondade imerecida de Jeová, o idoso irmão Brown e sua esposa deixaram a Nigéria, voltando para seu lar nas Ilhas das Antilhas.
Dez anos depois, foi lembrado por destacado estadista nigeriano, o Dr. Nnamdi Azikiwe, a quem conhecera durante sua estada na Nigéria. O Dr. Azikiwe tinha sido designado governador-geral da recém-independente Nigéria, e convidara o irmão Brown e sua esposa a visitar a Nigéria em outubro 1960.
O irmão Brown e sua esposa aproveitaram a oportunidade também de visitar Gana, e que ocasião de grande alegria para ele foi ver que vários dos veteranos que lutaram a seu lado nos dias primitivos ainda estavam fortes na verdade. E quantos publicadores havia em Gana nessa ocasião? Havia 8.172, segundo o relatório de serviço de campo de abril de 1960.
Perto do fim dos anos 50, a Sociedade treinara vários irmãos ganenses para habilitar-se para várias posições de responsabilidade na organização. Nessa década apenas, nove mãos e duas irmãs de Gana cursaram Gileade e foram designados a quatro países diferentes.
KNORR E HENSCHEL VISITAM DE NOVO
Em dezembro de 1970 ocorreu outro evento de bênção sem precedentes. O irmão Knorr, onze anos depois de sua última viagem até aqui, decidiu visitar-nos de novo. Ele viria junto com sua esposa e o irmão Henschel. Isso não era tudo. Viajavam em companhia de 182 outros irmãos e irmãs visitantes dos Estados Unidos, Canadá e outros países do ultramar. O grupo fazia uma viagem pela África Ocidental, arranjada para coincidir com uma série de congressos ao longo da Costa Ocidental.
Alguns meses antes das assembléias, tinha havido uma epidemia de cólera asiática ao longo da costa ocidental da África. As autoridades sanitárias que lutavam para impedir a disseminação desta pestilência nas áreas de sua jurisdição vieram a considerar com suspeita todas as grandes reuniões. Por este motivo, as autoridades municipais de Kumasi fizeram de tudo para que o congresso não se realizasse, exceto cancelá-lo diretamente. Cinco locais diferentes de congresso foram cancelados, um após o outro, à base de inadequadas instalações de saúde pública. Daí, apenas quatro semanas antes do congresso, obteve-se a permissão de usar o Estádio de Esportes, exceto no domingo. Centenas de voluntários puseram mãos à obra, e, seguindo-se grande parte do que fora feito na assembléia de 1967 no mesmo local, até mesmo cinco dias antes tudo já estava pronto para o início da assembléia.
A Sociedade, naturalmente, estava preocupada com a saúde dos congressistas e aconselhou medidas estritas quanto à saúde pública. Estas foram seguidas escrupulosamente, causando admiração nos inspetores sanitários. Em Kumasi, onde tivemos a maior dificuldade com o fiscal de saúde, uma das autoridades sanitárias confessou que nossa atenção aos pormenores em questões sanitárias e de saúde ultrapassavam até mesmo o que eles próprios conseguiam alcançar.
Em Accra, as dificuldades começaram poucas horas antes de o programa começar. Ao chegarem multidões de pessoas, uma autoridade sanitária, cujo escritório dava para o local da assembléia, correu para o servo do congresso, irmão Danley, com rosto muito preocupado. Depois de algumas deliberações, as autoridades decidiram cancelar o congresso, em vista da ameaça de cólera.
Depois de outras palestras, a razão prevaleceu. Conforme se indicou, dispersar a crescente multidão não era a solução do problema. Permitiu-se a realização do congresso, conforme programado, e muitos dos delegados visitaram os centros próximos de vacinação para ser imunizados contra a cólera. Não se observaram nem se relataram quaisquer casos de cólera durante as assembléias, e apenas pequenos casos de doenças foram tratados nos departamentos de socorros urgentes.
Todos se sentiam estimulados com o que era incomum quanto aos congressos “Homens de Boa Vontade”, a presença de mais de 180 delegados do ultramar. À medida que dois ônibus lotados com eles se enfileiravam para entrar no estádio de Kumasi, brados de alegria e um troar de aplausos irromperam dos 18.000 ali congregados. Centenas de pessoas alinharam-se pelas rampas para dar pessoalmente as boas vindas e apertar as mãos dos visitantes. E, em Accra, a excitação não era menor. “Uma experiência que jamais olvidaremos”, disse um dos visitantes. Outro acrescentou: “Jamais tivemos tão calorosa acolhida em parte alguma em que estivemos. Acho que devo ter apertado umas dezoito mil mãos.”
As Testemunhas locais, por outro lado, ficaram impressionadas com a humildade e a cooperação demonstradas pelos visitantes. Sua disposição de aguardar sua vez nas filas e de mostrar consideração pelos outros era surpreendente para muitos observadores. Tendo vivido sob o domínio colonial até “ontem”, por assim dizer, a impressão dos ganenses sobre o “homem branco” é bem oposta da disposição de servir. Era isto que se evidenciava no comentário do irmão K. A. Odoom, quando ele disse em uma das sessões de programas especiais: “Os brancos primeiramente vieram para este país como nossos amos. Mas, ‘a verdade nos libertou’ e agora os consideramos como sendo nossos irmãos.” Certamente, o espírito de Jeová é uma força unificadora.
Disse certa irmã de língua twi: “Já estou na verdade há trinta anos. Tenho lido sobre nossos irmãos estrangeiros. Agora, por fim, eu os tenho visto.” E eis como se expressou certo missionário: “Usualmente vamos para casa, de licença, para descansar e recuperar-nos. Desta vez, foram os irmãos que vieram até nós, e sentimo-nos grandemente revigorados e edificados com sua presença.”
Levaria páginas para registrar todas essas expressões de apreço e de amor. Sem dúvida, o irmão Knorr falou em nome de todos nós, visitantes e visitados, ao dizer: “As palavras não podem expressar meus sentimentos diante da maravilhosa expressão de seu amor.”
Foi durante suas observações finais na assembléia de 1970 em Accra que o irmão Knorr anunciou que a filial de Gana que fora construída em 1962, seria expandida para duplicar seu tamanho atual, a fim de prover instalações para depósito de publicações e novas instalações gráficas.
Em janeiro, depois da assembléia em Accra, estavam prontos os esboços para o anexo. As plantas finais foram entregues às autoridades municipais de Accra em maio. No ínterim iniciou-se o trabalho preliminar, inclusive o recebimento de materiais de construção enviados pelas congregações de Kumasi. A licença para a construção foi dada em 29 de julho de 1971, e a construção mesma se iniciou de imediato. As congregações das testemunhas de Jeová em Accra e Tema foram convidadas para enviar voluntários para a construção nos fins-de-semana, cada uma por sua vez. Houve tremenda acolhida de milhares de pessoas de coração disposto, e, apresentavam-se de cinqüenta a cento e cinqüenta, trabalhando arduamente para executar o projeto.
Somos gratos pelo excelente espírito demonstrado. Como resultado de todo este esforço voluntário e desta perícia, o anexo ficou pronto para ser ocupado em maio de 1972. Conseguimos construir a nova parte do edifício por apenas metade do custo de contratar uma construtora local. Esta economia — generosa contribuição de nossos irmãos e irmãs dispostos — é grandemente apreciada!
O anexo abriga nossa nova gráfica e depósito adicional de publicações no primeiro pavimento. O pavimento superior deste prédio de dois andares contém quartos de dormir e outras acomodações para mais quatorze membros da família de Betel.
Entre abril e junho, as máquinas de impressão e os suprimentos foram despachados da gráfica da Sociedade em Brooklyn, Nova Iorque, e nova prensa da companhia Heidelberg, na Alemanha. Nas semanas que se seguiram, nossa gráfica tomou forma. Foi instalado o equipamento completo para imprimir A Sentinela em eve, gã e twi. A impressão preliminar começou em julho. Já em agosto, o Ministério do Reino estava sendo impresso e se iniciava a composição de A Sentinela de dezembro de 1972 em três línguas.
Esta expansão e ampliação das atividades da filial da Sociedade em Gana será de real benefício para a associação das testemunhas cristãs de Jeová por toda a Gana.
Ao encerrarmos nossa narrativa da história das testemunhas de Jeová em Gana, de 1924 a 1972, certamente é correto reconhecer a parte desempenhada pelos missionários enviados da Escola de Gileade, e de outros que vieram do ultramar para ajudar-nos. Nem todos eles vieram a ficar em foco na história. Todavia, todos eles enfrentaram vários problemas para fazer a sua contribuição pessoal para o progresso da obra em Gana.
As testemunhas de Jeová neste país sentem-se deveras agradecidas a Jeová e à Sua organização por investir tanto neste território, não apenas em dinheiro e em propriedades, mas em recursos humanos, a fim de ajudar os de coração honesto neste país a aprender a granjear a boa vontade de Jeová, enquanto ainda há oportunidade.
Rememorando tudo, não podemos deixar de ficar admirados pela forma com que Jeová magnificou Seu próprio nome nesta parte da África. Se lembrarmos do ano de 1924, quando a única testemunha de Jeová, Claude Brown, ia pela cidade de Accra, colando cartazes nas paredes e distribuindo convites para as pessoas assistirem a um discurso bíblico na “Merry Villas”, até o ano de 1927, quando W. R. Brown batizou o primeiro punhado de crentes em Koforidua e Accra, passando pela luta de estabelecer legalmente a boa-nova sob a autocracia colonial e a tirania indígena, chegando até o ano de 1972, quando ainda detemos nossa liberdade como testemunhas de Jeová Deus, não podemos deixar de exclamar: “Por certo, isso não é obra de nenhum homem; é a obra de Jeová.”
E, assim, as 16.093 testemunhas de Jeová em Gana, 16 das quais professam ser da classe do restante ungido, e os muitos milhares que, esperamos, ainda se juntarão a elas como servos dedicados do Altíssimo, antes de irromper a “grande tribulação”, farão ressoar para sempre as palavras do livro bíblico de Salmos, dizendo:
“Magnificai comigo a Jeová, exaltemos juntos o seu nome.” Vou louvar o nome de Deus com cântico, e vou magnificá-lo com agradecimento.” “Agradecei a Jeová, porque ele é bom; pois a sua benevolência é por tempo indefinido.” — Sal. 34:3; 69:30; 107:1.