A revolta armada — crescente ameaça
“TALVEZ, na década à nossa frente, a guerra civil, não a guerra entre nações, seja o principal perigo que enfrentaremos.”
Estas palavras de aviso vieram do primeiro-ministro britânico, Edward Heath, em fins de 1970. Foram dirigidas à Assembléia Geral das Nações Unidas.
Quão difundida se tornou a revolta armada? A revista Time declarou: “A atividade terrorista é mundial, e grande parte dela é levada a efeito por um novo tipo na história da guerra política: a guerrilha urbana.”
O número envolvido na revolta armada em qualquer país é em geral pequeno, talvez algumas centenas ou alguns milhares. Mas, quando acham o ponto de pressão certo, podem influenciar uma nação inteira. E a história mostra que em muitos casos apenas um punhado de homens derrubaram governos e mudaram o curso da história. O grupo de Lênine que trouxe o bolchevismo à Rússia em 1917 era pequeníssimo.
As ideologias políticas dos revolucionários hodiernos talvez difiram amplamente — da extrema ‘esquerda’ à extrema ‘direita’, mas a maioria são ‘esquerdistas’ em sua orientação política. Em geral, sustentam a crença em comum de que o governo sob o qual vivem é incapaz de trazer a espécie de mudança que querem. Os grupos mais extremos acham que as ‘instituições’, a autoridade governante, só podem ser derrubadas pela força das armas. Assim, seu alvo é destruir o que acham que não pode ser reformado.
Problemas da América do Norte
A maioria das pessoas não suspeitavam de que o Canadá tinha problemas com revolucionários urbanos. Mas, em fins de 1970, os terroristas seqüestraram James Cross, antigo adido comercial britânico em Quebec. Cinco dias depois, os terroristas atacaram de novo; o Ministro do Trabalho de Quebec, Pierre Laporte, foi também seqüestrado.
Quem eram os seqüestradores? Eram membros de um grupo chamado a F.L.Q., a Frente de Libertação de Quebec. Queriam a província de Quebec independente do resto do Canadá, e assim, pelo menos já por sete anos vêm cometendo atos de terrorismo. Que preço exigiram por seus reféns? A libertação de vinte e três presos políticos, Cr$ 30.000.000,00 em ouro e um avião para levá-los para Cuba ou Argélia.
O governo do Primeiro-Ministro Pierre Trudeau declarou guerra total aos terroristas por invocar o Ato de Medidas de Guerra de 1914 do Canadá. Esta medida drástica fora usada antes só nas duas guerras mundiais, nunca em tempo de paz. Suspendeu as liberdades civis e deu à polícia poderes extraordinários.
Menos de dois dias depois, um dos reféns, Pierre Laporte, foi encontrado morto. O país ficou aturdido. O outro refém, James Cross, foi mantido prisioneiro por cinqüenta e nove dias, mas daí foi solto numa permuta. O governo do Canadá concedeu aos seqüestradores e a alguns de seus parentes passagem a salvo para fora do país.
E os Estados Unidos? Explosões de bombas e outras atividades terroristas ali se aproximaram do que certo líder político chamou de “claro e atual perigo ao governo dos Estados Unidos”. O Senador James Eastland declarou: “Uma organizada ‘guerra contra a polícia’ ameaça minar a lei e a ordem nos Estados Unidos.” A matança de policiais cresceu ominosamente. E a revista Time noticiou uma média de cerca de 300 explosões de bombas e 5.000 ameaças de explosões cada mês durante 1970.
A América Latina em Tumulto
A revolta armada cresceu em grande parte da América Latina nos últimos anos. Pelo menos vinte e dois diplomatas foram seqüestrados. Centenas de pessoas foram mortas ou feridas.
Com o seqüestro e o resgate do embaixador dos Estados Unidos no Brasil em troca da libertação de quinze prisioneiros políticos encarcerados, os grupos revolucionários aprenderam que alguns guerrilheiros poderiam obrigar até mesmo governos fortes a ceder às suas exigências. E no Brasil, o preço subiu. U.S. News & World Report comentou: “O Brasil, até agora, pagou os seqüestradores terroristas. Resultado: O preço passou de 15 prisioneiros libertos, por um embaixador dos EUA, para 40 prisioneiros soltos, por um embaixador da Alemanha Ocidental, e daí para 70 prisioneiros enviados ao Chile, por um embaixador suíço.”
O que pode acontecer quando governos recusam-se a negociar? A mesma coisa que aconteceu ao Ministro do Trabalho de Quebec; o refém pode pagar o preço final — a sua vida. Similarmente, quando o Uruguai recusou fazer concessões aos guerrilheiros, um perito em polícia dos EUA ali foi assassinado. Na Argentina, mataram-se um ex-presidente e dois outros políticos. E na Guatemala, os terroristas mataram um embaixador norte-americano e também um da Alemanha Ocidental.
Do Outro Lado do Atlântico
Do outro lado do Oceano Atlântico, a revolta armada fermenta em muitos lugares. No Oriente Médio, em fins de 1970, os grupos de guerrilha palestinos seqüestraram, ou piratearam, quatro enormes aviões a jato e seus passageiros. Um deles, um jumbo jato 747 de Cr$ 144 milhões, foi explodido no Aeroporto do Cairo minutos depois de seus passageiros serem liberados. Três outros jatos foram forçados a pousar num aeroporto isolado na Jordânia, suas centenas de passageiros sendo mantidos como reféns. Os guerrilheiros exigiram a libertação de sete de seus membros presos na Europa. Receberam-nos, libertaram seus reféns, e então explodiram os jatos.
A Europa também tem o seu quinhão de terrorismo. A província italiana de Alto Adige na fronteira da Itália e a Áustria presenciou cerca de duzentas explosões de bombas e a morte de dez policiais nos últimos cinco anos. Ali, os separatistas de língua alemã exigem a reunificação com a Áustria.
As dificuldades na Espanha se centralizam na região basca, ao norte. O seqüestro de um cônsul da Alemanha Ocidental em fins de 1970 pôs a área em tumulto e o governo espanhol enviou um policiamento extra às províncias bascas. Os guerrilheiros ali querem a “Terra e a Liberdade Bascas”, isto é, um governo separado para a região basca.
Na Irlanda do Norte e em outras partes a tendência é a mesma — resolver as diferenças por meio da revolta armada. Na África, trinta dentre os trinta e seis países negros sofreram revoltas nos anos recentes.
Como Pensam
Que tipo de pessoas são estes terroristas hodiernos? Como pensam?
O Daily Star de Toronto noticiou: “O terrorismo começa nas mentes dos jovens que vêem o mundo em termos simples de preto e branco. Sua causa é justa e tudo que contrarie sua causa é mau. Têm então o direito de destruir qualquer coisa e qualquer um por quaisquer meios se isto ajudar a adiantar a sua causa.”
Alguns são operários, alguns são funcionários de escritório, outros são jovens idealistas. Muitos provêm de lares da ‘classe média’ ou mesmo da ‘classe alta’. Alguns são aventureiros e românticos. Mas, o que leva a maioria deles à atividade revolucionária são as condições desumanas encontradas em tantos lugares, especialmente nas cidades grandes.
Um historiador da Universidade Norte-Americana em Beirute, Líbano, declarou: “O indivíduo é vencido pelo desespero , desacreditando que chegará a realizar algo pelos meios convencionais.” Assim, se volta para a revolta armada. Leila Khaled, membro de um grupo da Libertação Palestina, declarou: “Se atiramos bombas, não é nossa responsabilidade. Talvez se importe com a morte de uma criança, mas o mundo inteiro desconsidera a morte de crianças palestinas por 22 anos. Não somos responsáveis.
Perguntou-se a um jovem rebelde nos EUA o que esperava ganhar com a revolta armada quando representava tal pequena minoria no país. Respondeu: “Não se sabe. Não se pode planejar uma revolução. Pensa que Stalin sabia, quando assaltou um banco, que isto levaria a uma revolução? Quando Lênine estudava, será que se visualizava como um líder revolucionário? A gente tenta uma coisa ou outra. Fazem-se explodir as coisas. Se isto não der certo, tentamos outra coisa.” O rapaz provinha de uma família abastada e seus pais partilhavam o ódio de seu filho pelas ‘instituições’. O pai declarou: “O sistema está podre desde o miolo.”
Embora o número real empenhado na violência seja ainda pequeno, tem muitos simpatizantes. As autoridades acham que alguns destes simpatizantes podem entrar em ação quando um movimento revolucionário parecer ter uma boa chance de êxito.
A Reação
É óbvio que os governos estabelecidos e seus apoiadores não vão entregar de bom grado a autoridade a um grupo revolucionário. Reagirão para proteger seus interesses.
Numa terra ditatorial, a reação pode ser rápida e mortífera. Os em autoridade usam todos os meios à disposição para eliminar os rebeldes. A ameaça de tal força esmagadora é o que tem impedido a revolta armada de ganhar terreno nos países comunistas até agora. Ainda na lembrança permanece a experiência das tropas russas entrarem depressa para esmagar as rebeliões na Hungria e Tchecoslováquia.
Nas nações classificadas como democracias, os governos em geral não tomam ação tão drástica. Mas, quando se seqüestraram as duas autoridades no Canadá, e se invocou o Ato das Medidas de Guerra, qualquer oficial de paz recebeu poder de dar busca e prender uma pessoa sem ter mandado judicial. Podiam deter qualquer um até por noventa dias sem fiança, e por três semanas sem que se lançasse quaisquer acusações.
Recorrer um país liberal tal como o Canadá a tais medidas drásticas chocou a muitos. Alguns acharam que se poderia abusar de tal poder. O Times de Nova Iorque declarou em dezembro passado: “Há pouca dúvida de que a legítima dissidência política no Canadá é atualmente muito mais difícil do que era há dois meses.”
Muitos acham que vencer o terrorismo é de pouco proveito se isto levar a um estado policial em que os cidadãos tenham seus direitos permanentemente cerceados.
O Que É Legítimo?
Todavia, ao cabo de tudo, o que é mais legítimo: os rebeldes, ou o governo contra o qual se rebelam? Naturalmente, todos os governos responderiam que os governos atuais são legítimos.
Contudo, como chegaram ao poder muitos governos hodiernos? Os regimes comunistas que esmagaram as revoltas armadas em suas terras — como se originaram? Não foi o comunismo levado ao poder na Rússia, na China e em Cuba pela revolta armada, e na Europa Oriental pelo poderio das forças armadas soviéticas?
Como alcançou o poder o governo dos Estados Unidos? Por uma revolução contra as ‘instituições’ da década de 1770 — o governo britânico. O que dizer da França? Não é o produto da Revolução Francesa de 1789? Muitos governos na Ásia, África, América Latina e em outras partes alcançaram o poder em resultado direto de revoltas armadas contra as ‘instituições’ prévias.
Encarando este fato sem retoques, o editorialista Sydney Harris, num artigo do Examiner de São Francisco, intitulado “Nós Todos Somos Foras da Lei”, comenta como segue:
“Não há lei mundial. Cada nação é sua própria lei. Isto significa, com efeito, que cada nação é fora da lei, no sentido literal da palavra.
“Se queremos algo, apoderamo-nos dele, e daí tentamos justificar nosso ato. Vamos à guerra quando temos vontade, e fazemos ‘paz’ quando temos vontade. O interesse próprio é a única força-motriz das nações . . .
“Não há diferença entre um bando de guerrilheiros nacionalistas ou revolucionários e um governo ‘devidamente constituído’. O êxito santifica a legitimidade. Quando o grupo revolucionário alcança o poder (como nossos próprios colonos o fizeram em 1776), torna-se o ‘governo estabelecido’. . . .
“Só os fracos apelam a ‘moralidade’, quando adquirem força, portam-se tão impiedosamente quanto os opressores contra quem se rebelaram. . . .
“O guerrilheiro de hoje . . . é apenas ‘o antepassado patriótico’ de amanhã.
“O mundo se livrará da guerra só quando vivermos debaixo duma lei igual. Até lá, um revólver é tão bom quanto o outro, e o seqüestrador não é mais ‘criminoso’ do que qualquer comandante supremo de um exército reluzente.”
Pelo registro da história, e pela crescente tendência para a revolta armada hoje em dia, torna-se evidente para cada vez mais pessoas pensantes que o sistema da regência humana entre as nações não operou, e não opera para o benefício de toda a humanidade. Faz-se mister de algo muito melhor.
Haverá algum dia um governo superior que possa estabelecer condições justas, com lei, ordem e justiça para todos? Sim, e ocorrerá sem falta. Há muito tempo, a profecia bíblica predisse que tal governo regeria toda a terra, nas seguintes palavras registradas em Daniel, capítulo 2, versículo 44: “Nos dias daqueles reis o Deus do céu estabelecerá um reino que jamais será arruinado. E o próprio reino não passará a qualquer outro povo. Esmiuçará e porá termo a todos estes reinos, e ele mesmo ficará estabelecido por tempo indefinido.” Este é o governo justo pelo qual Jesus Cristo ensinou os cristãos a orar. — Mat. 6:9, 10.
O tempo em que o reino de Deus regerá sem qualquer rival se aproxima rapidamente. E as pessoas de coração honesto o anseiam, porque sob sua administração o conflito armado se tornará coisa do passado. — Sal. 46:8, 9.