Pensa em mudar-se para a América do Sul?
Do correspondente de “Despertai!” no Equador
SE GOSTA dum desafio, então gostará da América do Sul. Novos lugares para ver, pessoas interessantes a conhecer a comida exótica que lhe agradará. Está tudo aqui. Cada vez mais pessoas descobrem este desafio por se mudarem para a América do Sul.
Entre os vários motivos de as pessoas se estabelecerem aqui há a transferência de emprego, a aposentadoria e a saúde. Outros vêm com espírito missionário cristão. Sem se considerar o motivo, há certos aspectos de tal mudança que deve considerar.
O Desafio do Idioma
Talvez o desafio mais imediato que a pessoa confronte seja o do idioma. Enfrentará este problema face a face ao chegar no porto de entrada e verificar que dificilmente poderá entender o que os fiscais aduaneiros dizem. Isto pode ser frustrador. Há algo um tanto humilhante em um adulto articulado ficar reduzido ao nível de vocabulário de uma criança de três anos. Mas, aqui o adulto pode aprender uma lição vital da criança de três anos. A criança, sem ter a mente obstruída pelo temor do que os outros talvez pensem, imita os outros e domina mui rapidamente o idioma. Eis o ponto — esqueça-se de si mesmo.
Irá cometer enganos — todos os aprendizes cometem. Tais enganos têm um jeitinho de impressionar na pessoa a necessidade de ter senso de humor, como se deu no caso do senhor que se dirigiu à loja de ferragens e pediu ‘um quilo de unhas’. Embora, em espanhol, as palavras para unha e pregos sejam inteiramente diferentes, o aprendiz simplesmente se confundiu. Assim, espere fazer alguns enganos. Não se leve a sério demais. Embora talvez ache que os outros rirão de você, raramente fazem isso. As pessoas querem ajudar.
Prepare-se para desapontamentos, e, talvez, algumas lágrimas de frustração. São parte das experiências de aprendizado. Espere ter de esforçar-se arduamente para dominar a língua. Poucos têm a chamada queda para línguas. A maioria é como nós — comum. Evite o uso duma muleta mental: “Não conseguirei aprender”, ou: “É difícil demais para mim.” Alguns ainda dizem isso depois de vinte anos.
Tais pessoas recorrem à segregação lingüística. Resista a essa tentação. Ao invés de sempre procurar conversar com aqueles que falam seu idioma nativo, vá mais do que meio caminho para iniciar palestras no idioma local. Outros são encorajados pela sua disposição de tentar.
A necessidade de enfrentar de frente o desafio da língua deve ser bem enfatizada. Todos os outros desafios associados com a mudança para a América do Sul estão diretamente relacionados a se aprender a comunicar nas línguas locais. Um bom começo na língua o equipará melhor a enfrentar outras mudanças. Se de todo possível, planeje devotar o primeiro mês ou mais tempo em concentrar-se no estudo da língua. A experiência tem demonstrado que, para o novo estudante do idioma, tal estudo inicial intensivo, em alguns casos, até de onze horas por dia, fornece resultados imediatos e agradáveis. No fim de quatro semanas, a pessoa conseguirá conversar de forma limitada sobre vários tópicos.
Assim, ao mudar, empenhe-se em aprender o idioma. Lembre-se de que isto é um desafio. Vai aceitá-lo?
O Desafio da Saudade de Casa
O problema do isolamento causado pelo idioma não raro é complicado pelas dores da saudade de casa. Há aqueles que afirmam que não sentem saudades de casa, mas parece que a maioria das pessoas são suscetíveis a isso.
Muitas vezes, a presença ou ausência da saudade de casa depende da atitude da pessoa. Um ministro cristão certa vez apresentou este interessante ponto de vista: ‘Deus deu a inteira terra ao homem como seu lar, sem qualquer injunção moderna de limitar-se a determinada área.’ Com este ponto de vista amplo, o ministro viera a apreciar a terra toda como sua morada, resultando em sentir-se sempre em casa em qualquer parte.
Seus conhecidos e associados desempenham papéis principais em fazer com que se sinta em casa em determinado local geográfico. Assim, quer vencer a saudade de casa? Então, logo que possível, fique à vontade em seu novo ambiente. Faça amizades. Deixe que o ajudem.
Todavia, talvez haja dias em que sinta saudades de casa. Poderá ser uma palavra, a vista de uma criança brincando ou até uma tarde ensolarada que abra as comportas da memória e talvez sobrevenha um dilúvio de melancolia. O que fazer? Bem, aprecia determinado passatempo? Aprecia a boa leitura? Já visitou os parques e museus locais? O que realmente sabe a respeito de seu novo ambiente? Mantenha um programa bem ocupado, e isto o ajudará a combater as saudades de casa.
O Desafio do Ambiente
Relacionado de perto ao problema das saudades de casa se acha o seu novo ambiente, que inclui as mudanças de clima, costumes locais e padrões de vida. Embora pareça estranho, a primeira reação de muitos recém-chegados é: “Mas tudo é tão diferente. Não é como na minha terra.” Ora, naturalmente que não é! Seu novo lar não seria realmente novo se fosse uma cópia exata do antigo.
Em vista disso, espere um período de ajuste. Em realidade, está sofrendo um transplante. Os efeitos de tais não devem ser minimizados. Os transplantes são freqüentemente acompanhados de crises que variam de gravidade. Seja adaptável, como o jovem que, uma hora depois de chegar da Europa em inverno, ficou nu até a cintura e brincava alegremente e tentava falar algumas palavras de espanhol. Nisso, também, o encorajamento dos amigos é de grande ajuda. Se já fez o esforço necessário de granjear tais amigos, o ajuste será muito mais fácil.
Venha preparado para enfrentar a vida como ela de fato é. Todo país tem seus próprios costumes e padrões sociais. É bem possível que estes não sejam seus costumes e padrões naturais. No entanto, reflita sobre seu propósito de vir para este país. Vem como reformador social? Na maioria dos casos, isto não seria sábio, nem apreciado. O padrão diário de vida de tais pessoas é característico delas. Se decidiu situar-se nesse padrão, então esteja preparado a fazer alguns ajustes.
Os pontos de vista das pessoas diferem quanto à higiene pública. Embora isso lhe pareça estranho, em certos lugares outros acham que os terrenos baldios e os muros podem ser usados como banheiros públicos. As mães que trabalham fora talvez amamentem seus filhos nas ruas. Talvez prefira não adotar tais práticas, mas trata-se de realidades da vida em muitas partes do mundo. Mudar de um lugar em que o costume não é este não irá alterar tais padrões estabelecidos, nem deveria esperar isso. Antes de recuar como espectador crítico, venha preparado a entrar no passo da vida que encontra aqui e virá a entender por que as coisas são como são.
Quanto tempo levará tal ajuste? A resposta depende em grande parte da pessoa mesma. Mas, leva tempo. Certo manual tece o seguinte comentário: “Tem-se verificado pela experiência que a pessoa não chega realmente a apreciar as pessoas ou o idioma, nem fica acostumado à sua designação estrangeira antes de se passarem dois anos, e, no fim de três anos, chega a conhecer as pessoas e os costumes do país, e a gostar deles.”
Por conseguinte, evite decisões precipitadas e a tendência de deixar que as primeiras impressões sejam as últimas. Alguns incorreram em grandes despesas em se mudar com suas famílias para novo local, para ficar ali apenas alguns dias ou semanas, e então voltar para casa. Tem havido casos de pessoas que decidiram, ao irem para o aeroporto, que não iriam gostar de seu novo lar, e não gostaram mesmo. Isto é deveras triste. É como o homem que vai comprar um terno novo mas que teimosamente se recusa a experimentar alguns modelos. Vai-se embora, infeliz, sem chegar sequer a saber quão bem ficaria num terno novo.
Simulando a Mudança
Algum tempo antes de realmente mudar-se, poderia achar proveitoso simular, até certo ponto, a vida como provavelmente será em seu novo lar. Faça arranjos para que toda a família participe na experiência, visto que todos estarão envolvidos na mudança de condições de vida.
Se possível, visite uma localidade em que falem espanhol ou português. Ouça as vozes! Parecem mais altas do que está acostumado? Mergulhe na aparente incoerência de sua conversa. Falam muito rápido, não falam? As miríades de palavras talvez causem uma sensação de confusão mental.
Vá até os bairros mais pobres de sua cidade, preferivelmente os das grandes metrópoles. As condições que vê ali talvez predominem em seu novo ambiente. Várias cidades sul-americanas oferecem um clima quase que ideal, relativamente livre do nevoeiro esfumaçado o ano inteiro, mas a pobreza também está bem presente. Terá de viver com ela. Pode imaginar sua família ali? Isso é um desafio.
Tente preparar as refeições de uma semana inteira sem usar qualquer alimento enlatado, empacotado ou congelado. Podem não estar disponíveis ou ser altamente proibitivos em muitos países para o sul. Isto inclui a preparação de coisas básicas tais como molhos para saladas e maionese. Encontrará receitas em seu livro de cozinha. Leva apenas alguns minutos a mais para se assar uma torta, usando os ingredientes básicos, do que ir ao congelador de seu supermercado. Um abridor de latas é muito mais rápido do que uma faca de cozinha na preparação de legumes, mas, na semana de prova, não use o abridor de latas.
Sua ida ao supermercado também se provará interessante. Faça as compras da semana sem pedir nada ao balconista. Ficará surpreso de ver quanta coisa gostaria de dizer ao açougueiro sobre como cortar, aparar ou moer o tipo de carne, mas, lembre-se, não poderá comunicar-se até aprender o idioma. Também, lembre-se que todos os rótulos serão ininteligíveis e muitas das marcas a que está acostumado simplesmente não poderão ser encontradas. Um bom costume é verificar os muitos itens de sua lista de compras em um dicionário de língua estrangeira.
Quanto a voltar do mercado para a casa, ou, a bem dizer, ir para qualquer outra parte, esqueça-se do carro durante a semana. Tente ir a toda parte no transporte público, ou de táxi. Embora haja carros disponíveis na América do Sul, são caros e talvez demore algum tempo até poder comprar um. Lembre-se de que toda esta atividade restrita precisa ser empreendida durante a mesma semana. Não tente dar cada passo individualmente, mas dê todos de uma só vez.
Agora, naturalmente, esta experiência talvez lhe pareça muito engraçada. Queira assegurar-se de que é um acontecimento bem real, uma vez se mude, e todas estas situações, além das saudades de casa e o desafio do ambiente, virão sobre o leitor. Experimente só.
Decidir Mudar
A decisão de vir para a América do Sul é sua. Talvez haja pessoas que o desanimarão. Ficará surpreso de encontrar até amigos que esperaria que o encorajassem e que talvez tentem desanimá-lo bastante de mudar-se. Entre os motivos que talvez apresentem para não mudar se acham os confortos materiais, o perigo para sua saúde e de que é mais necessário onde se encontra agora.
Por outro lado, há muito a encorajá-lo. Quão estimulante é, para exemplificar, ver aqueles que aceitaram o desafio e venceram. Há famílias que já vivem na América do Sul por cinco, dez ou vinte anos. Seus filhos são robustos e saudáveis. Cursam a escola, visitam o médico quando adoecem e sobrevivem muito bem. Têm rico campo de experiências pessoais a recorrer. Falam duas línguas. Têm a satisfação íntima, que não deve ser desprezada, de ter enfrentado o desafio e vencido.
Desejará sentar-se primeiro e calcular o custo de sua mudança, tanto material como emocionalmente. Façam isso como família. Lembre-se de que todos os membros estão envolvidos. Algumas famílias enviaram um ou dois membros mais velhos numa viagem de reconhecimento ao país prospectivo. Esse conhecimento de primeira mão, obtido em tal viagem, poderá mais do que contrabalançar as despesas adicionais.
Acima de tudo, não tente enganar a si mesmo. Haverá dificuldades. Tal mudança constitui real desafio. Mas, aqueles que já mudaram, e que já enfrentaram tal desafio e permaneceram, estarão ao seu lado, nos altos e baixos. Conte com a ajuda deles para permanecer, se, depois de calcular o custo, aceitar o desafio de mudar-se para a América do Sul.