Em busca das raízes — um filho adotivo ansiava saber
Muralha do Segredo de Justiça
EM 1977, eu e minha esposa vimos capítulos do programa especial de televisão, de uma semana, intitulado “Roots” (Negras Raízes). Talvez, mais do que a maioria dos telespectadores, eu podia entender plenamente por que muitos desejam conhecer suas origens. É somente natural a gente ficar imaginando de onde veio, como são seus pais e outros parentes. É interessante que, recentemente, um número cada vez maior de pessoas procura suas raízes ou identidade.
“A busca das origens pessoais tem sido fenomenal”, comentou um artigo de destaque de Newswesk. O porta-voz duma biblioteca genealógica comentou a respeito desta busca crescente: “A razão que as pessoas fornecem é, quase que invariavelmente: ‘Simplesmente quero saber quem sou,”’
Há um segmento da população, contudo, que possui interesse especial em suas origens. Somos nós, os adotados por pais fictos. A maioria de nós, porém, sente-se frustrada diante de cada tentativa de descobrir a identidade dos nossos pais biológicos.
Sabe o que é responsável por este segredo? Existem bons motivos para isso?
A Muralha do Segredo de Justiça
As leis, nos Estados Unidos, exigem o segredo de justiça. Quando um menor é adotado, faz-se nova certidão de nascimento; a idéia, com efeito, é de que a criança obtém ‘novo nascimento’. Os registros originais dos adotados são arquivados, com lacre, e permanecem lacrados em segredo de justiça apesar de quase todas as petições dum adotado para examiná-los. As pessoas que violam o segredo de justiça, contrário às estipulações legais, às vezes recebem multas e detenção.
Virtualmente em todos os estados dos EUA, mesmo quando os filhos adotivos atingem a maioridade, proibe-se-lhes de examinar seus registros de nascimento. As leis em outros países são diferentes. Em países tais como Israel, Finlândia e Escócia, por exemplo, os adotados adultos podem obter suas certidões originais de nascimento.
As leis de adoção, nos EUA, atingem literalmente milhões de pessoas, inclusive cerca de três a cinco milhões de nós, filhos adotivos, bem como nossos pais naturais e adotivos. Diz-se que o número de adoções, aqui, é maior do que o total do resto do mundo! Em 1970, atingiu-se um auge de 175.000 adoções nos EUA, mas, daí, o número começou a declinar.
Desenvolvimento das Leis de Adoção
Há alguns anos, interessei-me em aprender mais sobre o assunto da adoção. Pela leitura da Bíblia, ficou evidente que o processo era, evidentemente, bem antigo. Exemplificando: o bebê israelita, Moisés, foi levado do rio Nilo e adotado pela filha de Faraó “de modo que se tornou filho para ela”. (Êxo. 2:5-10) Li, mais tarde, que as provisões para adoção foram incorporadas no antigo Código de Hamurábi, babilônico, na Lei ou Código de Manu, hindu, bem como nas leis assírias, egípcias, gregas e romanas.
Uma finalidade específica destas leis de adoção era impedir a extinção das linhagens familiares e criar herdeiros legítimos. Assim, é interessante recordar que Abraão, pai da nação israelita, evidentemente considerava seu escravo, Eliézer, como em linha para uma posição similar à dum filho adotivo. Pois Abraão disse: Eu “me vou sem filhos e quem possuirá a minha casa é um homem de Damasco, Eliézer”. — Gên. 15:2-4.
Nos tempos mais recentes, a adoção era desconhecida na lei comum inglesa, em que se baseia a lei dos Estados Unidos. Assim, a adoção legal não existia nos EUA senão depois que os estados, de per si, começaram a promulgar leis que a permitiam, em algum tempo por volta de meados dos Oitocentos. Não foi senão em 1926 que a Lei da Adoção de Filhos tornou possível, na Inglaterra, a adoção. Quando um filho é adotado, ele não está mais, legalmente, vinculado a seus pais biológicos, mas somente tem vínculos de filiação com seus pais adotivos.
Provisão Humana
Posso pessoalmente testemunhar os benefícios da moderna legislação de adoção. No passado, as crianças que os pais não queriam ou não podiam sustentar eram comumente criadas em instituições. Em geral, tais menores passavam mal, e os índices de mortalidade eram elevados. É muito melhor quando os casais que realmente desejam filhos podem adotar os bebezinhos e lhes dar a amorosa atenção de que eles carecem!
Meus pais adotivos foram muito amorosos comigo, e sempre lhes serei muito grato. Criaram-me como se eu fosse seu próprio filho. Ao mesmo tempo, contudo, logo em tenra idade, me informaram que eu era um filho adotivo. Os pais adotivos serão sábios em contar isto aos filhos. Quando as crianças ficam sabendo disso por meio de outros — e provavelmente virão a saber— usualmente não só ficam abaladas, mas também sentem que foram enganadas por seus pais adotivos, que tentaram guardar segredo da adoção. No entanto, a melhor ocasião de lhes explicar que foram adotadas é quando podem compreender isso um pouco melhor, talvez quando já tenham de seis a oito anos.
Nos anos recentes, comprovei a grande importância do ambiente no desenvolvimento da criancinha, o que me tornou ainda mais apreciativo para com meus pais adotivos. Por exemplo, nos Estados Unidos, as crianças negras tipicamente não recebem a mesma instrução e as mesmas vantagens culturais que as brancas. Assim, as crianças negras criadas em lares de brancos, onde dispõem de mais vantagens educacionais, usualmente possuem maiores escores de QI do que outras crianças negras.
Fonte de Bebês Adotáveis
Durante os fins dos anos sessenta e o início dos setenta, muitos pais brancos adotavam crianças negras. Com efeito, mais de um terço de todos os filhos adotivos negros eram, por certo tempo, adotados por pais brancos. Mas, daí, os líderes negros começaram a protestar vigorosamente. Diziam que, a longo prazo, tais crianças teriam maiores problemas quando crescessem e tivessem de enfrentar a realidade do mundo. Seriam rejeitados pelos brancos, diziam os críticos, por causa da cor de sua pele, e, pelos negros, por causa de seus valores e comportamento muitíssimo diferentes.
Mas, talvez fique imaginando, por que há muitos brancos ansiosos de adotar bebês negros e birraciais? É por causa da grave escassez de bebês brancos adotáveis. As listas de espera das agências envolvem anos, e há agências que não aceitam mais novos interessados. Mas, por que existe escassez? Visto que a fonte principal de adotados sempre foram os filhos ilegítimos, por que, com as avolumantes taxas de filhos ilegítimos, há menos menores a ser adotados?
Especialmente isto se dá porque a mãe solteira não é mais desprezada pela hodierna sociedade em transformação. Famosas estrelas do rock e do cinema criam seus filhos ilegítimos, e canções de sucesso, tais como “Having My Baby” (Terei Meu Bebê) encheram de encanto tal tendência. Assim, há alguns anos, cerca de 80 por cento das mães solteiras, nos EUA, davam seus bebês para adoção. Mais recentemente, contudo, apenas cerca de 20 por cento os têm abandonado — daí haver menos bebês a serem adotados.
Será que as mães que desistem de seus filhinhos ficam pensando no que acontece com eles? Por que os adotados desejam encontrar seus pais biológicos?
O Desejo de Saber
Desde que eu era criança, ficava imaginando como eram meu pai e minha mãe, e isto apesar do ótimo relacionamento com meus pais adotivos. Desde então, verifiquei que a maioria dos outros filhos adotivos pensam de modo similar, como se “estivesse faltando um pedaço de si mesmos”. É como afirma o Dr. Arthur D. Sorosky, que estudou extensivamente o assunto:
“Temos verificado que a curiosidade do filho adotivo não depende de se tem ou não um bom relacionamento com seus pais. Trata-se duma necessidade simples, universal, de conhecer as raízes ou identidade da pessoa. O desejo do filho adotivo de ter informações genealógicas — ou até mesmo de conhecer seus pais naturais — é uma necessidade que realmente não pode ser compreendida por uma pessoa que não seja filho adotivo. Nem pode ser atribuída como só ocorrendo em indivíduos emocionalmente perturbados.”
Também, desde então comprovei que as mães biológicas amiúde anseiam saber sobre a criança que relegaram. Posso lembrar-me de minha mãe adotiva, uma senhora mui sensível e sensata, mencionar em meu aniversário: ‘Sua mãe, não importa onde esteja, está provavelmente pensando em você hoje.’ Sou grato de que Mamãe e Papai sejam tão compreensíveis. Quando finalmente decidi encetar tal busca, eles me ajudaram nela.
Um estudo revelou que a maioria dos adotados que encontraram seus pais biológicos estão contentes de terem feito tal busca. Mesmo quando o que encontraram não era agradável, não saber de nada era considerado ainda mais desagradável. Eu posso atestar isto.
Entretanto, eu compreendia que encontrar minha identidade física não era de importância primária para obter verdadeira felicidade. Pois, afinal de contas, quando remontamos bem atrás dás raízes da inteira família humana, chegamos ao patriarca Noé, que sobreviveu ao dilúvio global. Assim, o que é deveras vital é encontrar, não nossas raízes físicas, mas uma relação favorável para com Deus, nosso Pai espiritual. Embora prezando esta relação com Jeová Deus como muitíssimo importante, ainda assim desejava encontrar meus pais naturais. Deixe-me contar-lhe agora os resultados da busca das minhas raízes.