A população mundial — será um problema?
Do correspondente de “Despertai!” nas Filipinas
HOUVE época em que se fez muita publicidade sobre a bomba demográfica e a explosão populacional. Os cientistas nos dizem agora que a terra está longe de estar superpovoada e que poderia comportar muitas vezes sua atual população. Qual é a verdadeira situação?
Recentemente, a Sociedade Mundial da População e a Fundação do Centro Demográfico das Filipinas patrocinaram em Manila, capital das Filipinas, a quarta Conferência Internacional da População. Ouvimos especialistas, procedentes da Ásia, África e América, palestrar sobre este problema. Acreditamos que o leitor ache interessante o que disseram.
Há Algum Problema?
Alguém certa vez calculou que, se toda a terra e a água disponíveis fossem distribuídas de modo igual entre a população de hoje, cada pessoa teria 2,02 hectares de terra e 6,9 hectares de água a uma profundidade de 800 metros! Não parece haver problema de espaço para acomodações, não é verdade? Entretanto, essa mesma pessoa calculou que, até o ano 2600 E.C., com o crescimento anual de 2 por cento, isso ficaria reduzido a 8.000 centímetros quadrados de espaço habitável para cada pessoa. Isso seria então um problema.
Naturalmente, não vamos passar agora noites em claro por causa do que poderá acontecer no futuro daqui a 700 anos. Mas, mesmo hoje, muitos milhões de pessoas enfrentam problemas de superpopulação nas suas áreas. Alguns vivem em instabilidade precária entre a subsistência e a inanição; e não são poucos os que acreditam que o que estão padecendo agora poderá ser o que toda a humanidade sofrerá no futuro.
Ouvimos dizer que 70 por cento da população do mundo pertencem ao chamado Terceiro Mundo, ou aos países em desenvolvimento. A população nesses países está crescendo com o nascimento de dois a três bebês e meio por minuto. O Terceiro Mundo consome, segundo noticiado, 3,81 bilhões de quilos de alimentos, 7,6 bilhões de quilos de água e inala 76 bilhões de quilos de ar por dia. Embora ainda haja bastante ar (mesmo que um tanto poluído em algumas áreas), esse aumento da população resultou em escassez de alimento e de água em muitos países.
Imagine-se voltando para casa depois de um dia de trabalho árduo nos campos e não achando água para se lavar, nem mesmo para beber. Algumas pessoas já estão sofrendo isso atualmente, porque são muitas as pessoas que se abastecem de muito pouca água. A Organização de Alimentação e Agricultura foi citada como dizendo que “a disponibilidade de água potável para toda a humanidade é duvidosa até o fim do século. A demanda global de água potável aumentará 240% por volta daquele tempo”.
Quanto à disponibilidade de alimento, fez-se a declaração de que, segundo as tendências atuais de aumento, a humanidade dobrará em número nos próximos 25 anos. Visto que milhões, mesmo agora, não obtêm o suficiente para comer, significa que a produção de alimentos precisará aumentar mais do que o dobro. Para se combater a fome, certo orador declarou que será preciso um aumento de 3 a 4 por cento anualmente, nos próximos 25 anos.
Será isso possível? É verdade que, em condições ideais, esta terra poderia comportar muitas vezes a atual população. Mas as condições estão longe de serem ideais. Os países menos desenvolvidos estão lutando atualmente para aumentar sua produção de alimentos. E a situação econômica lhes dificulta, quando precisam, a compra de produtos das nações mais ricas.
Além do mais, à medida que os países mais pobres vão expandindo suas terras agrícolas, tendem a avançar em direção das florestas e das montanhas. Isto resulta em desmatamento. Amiúde acarreta cheias em proporções devastadoras. Mas se recorressem ao mar em busca do necessário alimento adicional? Pelo que parece, até mesmo os recursos supostamente infinitos do oceano são limitados. Vinte e um milhões de toneladas de peixe foram retiradas dos oceanos em 1950. Em 1970, atingiu-se o marco de 70 milhões de toneladas. Daí, a pesca diminuiu, e em 1973 só 65 milhões de toneladas foram apanhadas.
É óbvio que, se não houver equilíbrio entre a alimentação e a população, a humanidade continuará a enfrentar sérios problemas
Por Que Existe Problema?
Calcula-se que em 1660 havia apenas 500 milhões de pessoas na terra. Informa-se que o crescimento naquele tempo era de um décimo de um por cento. Nesse ritmo, o primeiro bilhão deveria ter sido atingido em algum tempo no século XXIV. Na realidade, o primeiro bilhão foi alcançado em 1830. O segundo bilhão foi em 1930, o terceiro, em 1960 e o quarto, em 1975. Até o ano 2000, espera-se, com o ritmo atual de crescimento, uma população entre seis e oito bilhões de pessoas. O ano 2000 não está muito longe, está?
Por que se acelera o ritmo de crescimento? Por um lado, abaixou a taxa da mortalidade infantil, e mais bebês estão crescendo e tendo seus próprios bebês. O flagelo causado por certas epidemias também foi controlado. Além disso, o casamento e a procriação bem cedo na vida e, infelizmente, o número de casos de gravidez entre adolescentes solteiras, foram as coisas mencionadas como sendo fatores contribuintes da continua aceleração do aumento da população. Outrossim, a Sra. Seria Grewal, do Ministério da Saúde e da Previdência Social da Índia, disse, segundo noticiado, que o baixo índice de alfabetização e o baixo nível econômico foram barreiras para os programas governamentais de planejamento familiar para combater o problema.
Há também choque entre os que executam os programas de planejamento familiar e seus opositores religiosos. Crenças religiosas têm incentivado muitos a ter famílias grandes. Adicionalmente, em muitos países, os filhos são considerados como riqueza e segurança. Isto acelerou o ritmo de crescimento da população.
Pode o Problema Ser Solucionado?
Portanto, há um problema, e sabemos quais são algumas das razões. Bem, o que está sendo feito a respeito disso? Achou-se que todos os países deveriam respeitar o direito das pessoas de determinar o número de seus filhos e o espaço entre eles. Entretanto, Philander P. Claxton, presidente e dirigente da Sociedade Mundial da População, achou que os países deviam continuar a se esforçar para alcançar as metas fixadas numa conferência anterior em Bancoque, Tailândia, em 1975: que, em média, nas próximas duas ou três décadas, cada nação-membro deveria conseguir alcançar o alvo de famílias com dois filhos. Mesmo que se atingisse essa meta, a população do mundo chegaria, até o fim do século, a 5,9 bilhões. Pelo que parece, porém, ainda é comum na maioria dos países em desenvolvimento famílias com quatro a seis filhos.
Viu-se recentemente nas Filipinas a seriedade com que alguns consideram este problema. Passou-se um projeto-de-lei no Interim Batasang Pambansa (o atual parlamento filipino) com o objetivo declarado de equilibrar a disponibilidade de alimento e abrigo com o número dos futuros habitantes do pais, mediante a imposição de multas às famílias que tiverem mais de dois filhos. O projeto-de-lei propunha que a mãe com dois filhos vivos pagasse uma multa de 100 pesos (cerca de Cr$ 675,00) ao nascer seu terceiro filho, de 200 pesos (Cr$ 1.350,00) ao nascer seu quarto filho, e assim por diante. Isto condiz com os comentários de certas fontes de que algum dia a paternidade talvez passe a ser um privilégio, e não um direito.
Naturalmente, houve muitos protestos contra o projeto-de-lei. Os principais opositores foram os líderes da Igreja Católica. A Conferência dos Bispos Católicos das Filipinas, composta de 80 membros, rejeitou a proposta, declarando: “O direito dos pais de determinar o número de filhos é um direito humano inalienável que não pode ser suprimido por ordem legislativa. Os ensinos da Igreja sobre este assunto são inequívocos. . . . Em virtude do direito inalienável de casar e de gerar filhos, compete aos pais determinar honestamente o número de filhos que devem nascer. A questão de forma alguma pode ser relegada à determinação governamental.”
O Progresso Até o Presente
Em conferências anteriores sobre população, deu-se ênfase a programas centralizados sobre população para frear o aumento. Afirmou-se que houve diminuição considerável do índice de nascimentos, entre outros países, na China, Indonésia, Coréia, Tailândia, Costa Rica, Colômbia, Tunísia, Hong Kong e Filipinas. Sessenta e três países em desenvolvimento têm seus próprios programas de planejamento familiar.
O índice de fertilidade na China caiu, segundo informado, da média de 4,2 para 3,2 filhos por mulher em idade de ter filhos. Na Indonésia, caiu de 6,5 para 4,6. A Organização Mundial de Saúde já por 10 anos vem realizando um programa de pesquisa, desenvolvimento e treinamento sobre-reprodução humana. O programa é subvencionado por contribuições voluntárias, e estão envolvidos cientistas de 62 países. Em 1976, segundo os relatórios, quase Cr$ 45.000.000.000,00 estavam sendo gastos em auxílio ao planejamento familiar.
A conferência nas Filipinas não salientou a necessidade de conhecimento dos dispositivos e das técnicas para planejamento familiar, embora tais fossem considerados importantes. Frisou-se, antes, o envolvimento da comunidade nos problemas demográficos e o uso de recursos locais para combater os problemas. Considerou-se que a saúde, a nutrição e o desenvolvimento da comunidade estão ligados ao controle demográfico. O Plano de Ação Mundial da População (adotado pela Conferência Mundial da População, das Nações Unidas, em 1974) foi citado como tendo declarado: “As metas da população são reconhecidas como ‘partes integrais’ do desenvolvimento social, econômico e cultural.”
A educação, o emprego e o desenvolvimento econômico geral foram também considerados como relacionados com o problema demográfico. Os jovens constituem cerca de 1,3 bilhões da população da terra, por conseguinte, os especialistas desejam que haja educação sexual e conselhos pré-nupciais disponíveis a esse grande grupo de pessoas. Mechai Viravaidya, da Tailândia, desejava que as crianças fossem ensinadas sobre sexo e planejamento familiar, não que ficassem embaraçadas. Ele afirmou, segundo noticiado, que houve diminuição no índice de gravidez, de 40 por cento, em um terço dos povoados da Tailândia, como resultado da “dessensibilização” e da publicidade sobre o planejamento familiar. Zahia Marzouk, do Egito, disse, segundo noticiado: “Pudemos elevar os padrões econômicos das mulheres ensinando-lhes artes manuais lucrativas, e com isso houve incrementado interesse em limitar o tamanho da família.”
Existe um Problema Demográfico
Pelo que foi dito na conferência, ficou nos bem claro que existe um problema demográfico. Embora a terra esteja longe de estar cheia, se a população continuar a aumentar, um dia a terra ficará mais do que cheia. Muito embora seja verdade que, se a riqueza da terra fosse distribuída de modo igual, haveria mais do que o suficiente para todos, essa condição ideal não existe. Na realidade, milhões de pessoas vivem em áreas superpovoadas. E, embora em muitos dos países mais ricos a população não cresça rapidamente, nos países mais pobres ela cresce. Por conseguinte, seus problemas se tornarão provavelmente mais sérios.
Todos na conferência em Manila estavam de acordo de que a população é um grande problema. As nações foram incentivadas a abandonar considerações de interesses nacionais e a trabalhar neste respeito para o bem da comunidade internacional. Os países ricos foram incentivados a limitar seu consumo excessivo das riquezas do mundo, e os países mais pobres foram encorajados a limitar o número de sua população. Considerou-se a cooperação como meio de entravar o aumento. Mas será que isso acontecerá?
Se depender da cooperação internacional para a solução do problema demográfico, então — a julgar da história deste mundo até agora — é bem provável que continue a ser mais um problema que não pode ser solucionado sob o atual sistema de coisas.