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  • g81 22/11 pp. 20-23
  • ‘Depois das flores, as pedras’ — nos campos de futebol

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  • ‘Depois das flores, as pedras’ — nos campos de futebol
  • Despertai! — 1981
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  • Grandes Aspirações
  • Surge um Novo Ídolo
  • Tempo Para Reflexão
  • Misticismo no Futebol
  • Decepções e Até Mesmo “Pedras”
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g81 22/11 pp. 20-23

‘Depois das flores, as pedras’ — nos campos de futebol

COMO a maioria dos garotos brasileiros, criei-me jogando futebol em qualquer terreno baldio, ou no meio da rua. Os astros do futebol daquela época eram os nossos ídolos. Tornar-se jogador profissional era meu grande sonho. Assim, aos 13 anos, quando me mudei com a família para o Rio de Janeiro e fomos morar perto do Estádio do São Cristóvão, fiquei ‘radiante de alegria’.

Depois de alguns anos, comecei a despontar como bom jogador de ataque. Mas, em 1958, pouco antes dum jogo importante, ficamos sem goleiro. “Heitor Amorim, você é o mais alto”, disse o treinador. “Você será o nosso goleiro.” Assim começou minha carreira qual jogador solitário debaixo do travessão, o jogador que jamais pode falhar.

O tempo passava, enquanto eu dividia meu tempo entre a escola e os treinamentos no campo de futebol. Em 1963, fiquei emocionado ao ser convocado para a Seleção Olímpica Brasileira. Naquele ano, ganhamos o campeonato pan-americano, em São Paulo. Isto me valeu um convite para jogar no famoso time do Corinthians, de São Paulo, e não pensei duas vezes antes de aceitar a oferta. Assim, deixando o emprego e a faculdade de engenharia, mudei-me para São Paulo a fim de dar atenção indivisa ao futebol profissional.

Grandes Aspirações

Minha nova carreira logo começou a render dividendos. Em poucos meses fui apontado como o goleiro “revelação” do ano e, logo depois, comecei a ganhar troféus, primeiro como o melhor goleiro e depois como o goleiro menos vazado, em 1964. Além de presentes, recebia convites para participar de programas esportivos na TV. Minha casa vivia cheia de torcedores e de repórteres, tínhamos intensa atividade social e a minha conta bancária aumentava.

Surge um Novo Ídolo

Jamais esquecerei um jogo contra o Santos, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. Já estávamos bem avançados no segundo tempo e a partida estava empatada. A nossa classificação para as finais do campeonato dependia desse jogo. Daí, que horror! Sofremos uma penalidade máxima! Esta penalidade praticamente decidiria o jogo, e quem foi escolhido para cobrá-la? Pelé, o mundialmente famoso “rei do futebol”! Os 60.000 torcedores no Estádio e os milhões de outros que escutavam o jogo pelo rádio prendiam a respiração, enquanto encarávamos um ao outro.

Ao observar Pelé, lembrei-me de que ele costumava dar uma quase imperceptível ‘paradinha’ antes de chutar a bola, na tentativa de deslocar o goleiro, fazendo-o pular para o canto oposto de onde planejava chutar a bola. De modo que fiquei parado e só pulei depois que ele chutou a bola — e agarreia-a! Foi um pandemônio! Em toda a cidade milhares de torcedores que ouviam o jogo pelo rádio saíram às ruas para comemorar, soltando fogos. O jogo terminou empatado e saí do campo carregado nos ombros dos torcedores. Nascia um novo ídolo!

Em meio a toda a euforia que se seguiu, lembro-me das palavras sábias do experiente Gilmar, goleiro da seleção, que me mandou um recado pelo rádio: “Heitor, não se iluda. As flores de hoje poderão ser pedras de amanhã!”

Tempo Para Reflexão

Em meio a toda esta fama era difícil imaginar que poderiam vir a existir quaisquer “pedras amanhã”. Contudo, meu casamento com Dilma, em 1965, ajudou-me a manter o equilíbrio e a pensar mais claramente sobre o nosso futuro. A minha carreira era sem dúvida importante para nós — não tanto pela glória e pela fama, mas, antes, pela segurança econômica que poderia propiciar. Com esta, teríamos a paz e a tranqüilidade necessárias para criar nossos filhos e os meios para podermos ajudar os outros.

Muitas vezes lembrava-me de meu pai, homem honesto e trabalhador, que realmente se desdobrara para me dar presentes, quando eu era criança. Mas, ao mesmo tempo, ele nos ensinara a termos profunda preocupação pelos outros. Estava eu fazendo o que ele faria? Também, a situação mundial piorava. “Será que nunca haverá paz?”, perguntava Dilma. Com minha formação católica, eu sabia que devia dedicar-me mais à religião.

Uma excursão internacional, em 1965-66, não alterou muito as coisas. Inglaterra, Espanha, Itália, Suíça, Estados Unidos — jogos contra algumas das melhores equipes do mundo. Em Londres, recebemos do príncipe Philip uma medalha de prata comemorativa de nosso jogo contra o Arsenal, no Estádio de Wembley. E nos jornais aparecia meu nome ao lado de outros astros — Rivelino, Garrincha — como atração para os jogos. Era tudo muito emocionante — e também muito intrigante.

Misticismo no Futebol

O que me intrigava especialmente era um aspecto do futebol que quase não é conhecido e talvez difícil de crer. Nos bastidores, o futebol no Brasil está saturado de superstições e até mesmo de práticas espíritas. Por exemplo, durante a última Copa do Mundo, na Argentina, em 1978, velas e outros objetos de macumba foram colocados em alguns campos de futebol no Brasil para ajudar sua seleção a ganhar a Copa. Mas isto não aconteceu. Tem-se dito, ironicamente, que, “se macumba ajudasse, o campeonato baiano terminaria sempre empatado”, por causa do grande número de rituais realizados a favor de cada time.

Lembro-me de que o Corinthians tinha um pai-de-santo contratado para esse fim. Às vezes, todos nós jogadores éramos convocados ao clube, à meia-noite, para um banho especial com ervas prescritas por ele.

Em certa ocasião a nossa equipe ia mal no Campeonato e o pai-de-santo concluiu que alguém havia feito algum feitiço contra nós e ele teria de desfazê-lo. Assim, certa sexta-feira, à meia-noite, todos os jogadores e alguns repórteres foram com ele ao estádio. Ele começou a cavar no campo e, para nossa surpresa, desenterrou sete punhais, um de cada canto do gramado, um detrás de cada meta e outro do meio do campo. Todos os punhais eram iguais, e cada um tinha sete ondulações no cabo. Aí estava, aparentemente, o motivo das nossas derrotas! Alguns jogadores ficaram profundamente impressionados, outros duvidosos.

Ainda assim, perdemos o campeonato e o pai-de-santo foi despedido! Mais tarde foi contratado por outro clube e lembro-me de como em certa ocasião ele lançava feitiço sobre nós, ao entrarmos no estádio. Mas, ganhamos o jogo! E os punhais? Mais tarde, fiquei sabendo que o roupeiro do clube havia dito ao pai-de-santo que os punhais haviam sido enterrados ali pelo pai-de-santo anterior, a fim de “ajudar” o nosso time a vencer. Por isso, ele sabia de onde desenterrá-los!

Decepções e Até Mesmo “Pedras”

Tive outras decepções depois de voltarmos da excursão internacional. Naquele tempo, era realizado o torneio Rio-São Paulo e dentre os clubes participantes era em geral convocado o goleiro para a seleção nacional. Embora apontado pela imprensa como o melhor goleiro, não fui convocado, aparentemente por causa de problemas envolvendo o meu clube. Foi uma pílula difícil de engolir.

Daí, também, comecei a ficar envolvido em reivindicar direitos trabalhistas para jogadores de futebol e isto levou a descontentamentos por parte da direção do clube. Por fim, os acontecimentos chegaram a um clímax. Minha esposa foi internada num hospital e seu estado inspirava cuidados. Enquanto isso, eu tinha de participar dum jogo. Preocupado, joguei mal e perdemos para uma equipe tecnicamente inferior. Fui culpado pela derrota, até mesmo acusado de ter sido subornado. Embora certo jornal tivesse declarado que eu fora “vítima da maldade humana”, foi-me vedada a entrada em certas dependências do clube. Meus amigos e vizinhos me olhavam com suspeita.

Que mudança! No domingo, um ídolo, na segunda-feira, um alienado! Gilmar tinha razão: ‘Flores hoje, pedras amanhã.’

Fiquei tão deprimido que por vários dias eu não queria nem sair de casa. Pouco depois fui transferido para um clube no Paraná, onde fiquei um ano. Depois retornamos a São Paulo.

Uma Visita Oportuna

Certo domingo de manhã, enquanto eu estava no novo clube, em São Paulo, um senhor idoso visitou nossa casa e, depois de algumas observações introdutórias perguntou a minha esposa: “Sabia que a Bíblia diz que em breve não haverá mais guerra? Gostaria de viver para sempre em paz na terra?”

Daí, para provar o que dizia, pediu-lhe que lesse na Bíblia o texto do Salmo 46:8, 9, que diz: “Vinde, observai as atividades de Jeová, como ele tem posto eventos assombrosos na terra. Ele faz cessar as guerras até a extremidade da terra. Destroça o arco e retalha a lança.” Bem, isto era boas novas para minha esposa! Foi assim que começou uma série de visitas à nossa casa por uma das Testemunhas de Jeová.

Embora pessoalmente não estivesse muito interessado num estudo bíblico, não me opus às visitas. Às vezes, eu fazia uma pergunta e invariavelmente recebia uma resposta satisfatória, baseada na própria Bíblia. Daí, algo despertou meu interesse. Minha esposa, sabendo que desde a infância eu tinha sido ensinado a ter profunda preocupação e respeito para com os mais velhos, me sugeriu habilmente ler o artigo intitulado “O Prazer de Ouvir os Avós”, na Despertai! de 8 de janeiro de 1969. Esse excelente artigo me animou a ler mais e logo passei a participar com minha esposa do estudo da Bíblia.

Nova Perspectiva na Vida

Poucos meses mais tarde, fomos convidados a assistir a um congresso das Testemunhas de Jeová no Estádio do Pacaembu, o mesmo local donde eu fora carregado para fora do campo nos ombros dos torcedores. Cenas vívidas me passavam pela mente, ao passo que eu tentava concentrar-me no excelente conselho bíblico que estava sendo apresentado.

À medida que os dias passavam, na assembléia, eu não podia deixar de observar os contrastes. Não havia empurrões, não havia vaias, nem agitação de bandeiras ou adoração de heróis. A movimentação tranqüila da multidão, a consideração amorosa de uns para com os outros e especialmente para com nós, novatos, os abraços calorosos e as alegres saudações “irmão” e “irmã”, tudo isso causou profunda impressão em mim e em minha esposa.

Um seguimento natural da assembléia foi o convite para acompanharmos as Testemunhas de Jeová na sua pregação de casa em casa. Muitas vezes eu era reconhecido pelos moradores e era interessante observar seu visível espanto. Não estavam acostumados a receber a visita dum astro do futebol para lhes falar sobre a Bíblia!

À medida que o tempo passava, apercebemo-nos de que estávamos gradualmente adquirindo uma nova perspectiva na vida, com novo senso de valores e, acima de tudo, uma nova esperança para o futuro. Aprendemos que a verdadeira segurança não depende dum bom salário ou duma casa espetacular, mas unicamente de se dar prioridade aos interesses do reino de Deus. “Persisti, pois, em buscar primeiro o reino e a Sua justiça, e todas estas outras coisas vos serão acrescentadas”, foi o que Jesus disse no Sermão do Monte. (Mat. 6:33) Minha consciência começou a acusar que a forte competição nos jogos de futebol, a grande rivalidade, sim, até mesmo o ódio e as práticas espíritas são todos contrários aos ensinamentos da Bíblia.

Por fim, por mais que eu gostasse de jogar futebol, decidi encerrar a minha carreira profissional e aceitar um emprego no Rio de Janeiro, com salário bem menor. Daí, em 18 de dezembro de 1970, eu e minha esposa fomos batizados pela imersão em água, em símbolo de nossa dedicação para servir a Jeová.

Desde então, que excelentes privilégios temos usufruído! Ajudamos a vários de nossos parentes a adquirirem conhecimento da promessa da Bíblia de viver para sempre num futuro paraíso terrestre. Temos uma sensação de segurança que somente este conhecimento pode produzir.

Ainda gosto dum joguinho de futebol amistoso, mas já se foi a época das “flores” e das “pedras”. Os nossos dias agora são mais plenos e mais significativos por causa do conhecimento das “boas novas” que enriqueceu a nossa vida. — Contribuído.

[Destaque na página 21]

“Saí do campo carregado nos ombros dos torcedores.”

[Destaque na página 22]

“Que mudança! No domingo, um ídolo, na segunda-feira, um alienado!”

[Destaque na página 23]

“Gostaria de viver para sempre na terra?”

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