O palhaço alado do lago vitória
Do correspondente de Despertai! no Quênia
NOSSO barco desliza nas plácidas águas do lago Vitória quando, de repente, o avistamos. Ali, encravado na principal bifurcação do tronco duma velha árvore com galhos que se estendem por cima do lago, há um enorme ninho de ave. Tem mais de um metro e oitenta centímetros de diâmetro — grande o bastante para evocar o medo de que alguma criatura pterodáctila o habite.
No entanto, decididos a ver o ninho, atracamos o barco a uma rocha grande perto da base da enorme árvore, e todos nós subimos até a bifurcação do tronco para ver de perto. Isto é, todos menos o condutor do barco. As pessoas que moram nas proximidades do lago evitam todo e qualquer contato com essa ave. Até o seu nome soa um tanto ameaçador — ave-martelo!
Ao nos aproximarmos do ninho, notamos que é diferente de todos os ninhos que já vimos. O macho e a fêmea da ave-martelo levam de três a quatro dias de trabalho árduo só para lançar o “alicerce” de sua casa — uma plataforma em formato de pires, construída de modo um tanto desagregado. Consiste de junco, gravetos e palha. Terminada essa etapa da construção, eles levantam as paredes e depois começam o telhado de trás para frente. Quando o telhado está na metade, a fêmea se instala. Ela fica no ninho enquanto o macho procura mais materiais de construção.
Depois de terminada a entrada, eles aplicam um revestimento de barro nela e na câmara interior. Em seguida, vários materiais soltos são colocados nos lados e no telhado para ajudar a impermeabilizar e aquecer o ninho. Por fim, seu lar é “decorado”. Latas, peles de cobra, trapos — qualquer coisa que o macho encontre — são colocados em cima do ninho. O trabalho todo leva cinco ou seis semanas.
Concluída a inspeção do ninho, voltamos para o barco e aguardamos. Não demora muito e a ave-martelo dá o ar da sua graça, pousando bem no telhado. Mas, para nossa surpresa, não é uma ave gigante. Tem apenas 56 centímetros de comprimento, coloração pardo-escura e aspecto um tanto comum. Só que sua cabeça é uma exceção. Um bico pesado e um penacho longo atrás dão-lhe a aparência de um martelo de orelhas. Daí o nome ave-martelo.
A ave-martelo logo começa o número que lhe rende a reputação de palhaço alado. Solta um cacarejo agudo e passa a dançar e pular. Seu parceiro de repente aparece e entra na brincadeira, pulando em seu dorso e acompanhando a engraçada coreografia. Mas o número da ave não termina aí. Agora ela sai de sua mansão à beira do lago e pousa no dorso dum hipopótamo adormecido. Quando o hipopótamo se mexe, o fundo lamacento do lago é agitado. Rãs alarmadas vêm à tona — e são engolidas pela ave-martelo. Peixinhos, vermes, insetos e crustáceos também fazem parte do seu cardápio.
Quer a chame de palhaço, quer de magistral construtora, a ave-martelo é fascinante — outro exemplo da ilimitada imaginação do Criador.
[Foto na página 31]
A ave-martelo e seu ninho