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  • Livramento da inquisição totalitária pela fé em Deus

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  • Livramento da inquisição totalitária pela fé em Deus
  • A Sentinela Anunciando o Reino de Jeová — 1961
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  • O MOVIMENTO SUBTERRÂNEO CRISTÃO
  • SOB O TETO NAZISTA
  • DO CAMPO DE PRISÃO ATÉ SACHSENHAUSEN
  • A ESCRITA NA PAREDE
  • RECONSTRUÇÃO
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    Despertai! — 1985
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A Sentinela Anunciando o Reino de Jeová — 1961
w61 1/11 pp. 665-671

Livramento da inquisição totalitária pela fé em Deus

Conforme contado por Erich Frost

TENHO diante de mim uma bem conhecida revista alemã. O assunto duma novela publicada em série trata da vida num campo de concentração. É o mais genuíno relato sobre a vida nestes campos que eu já li. No entanto, ainda não se contou o pior. A pena resiste ao relato de tais coisas em papel.

Há pouco tempo, o mundo ficou horrorizado quando as hordas nazistas avançaram para o leste até as margens do Volga e avançaram como relâmpago até a costa do Canal da Mancha. Desde a frígida Escandinávia até as areias quentes da África, os totalitários marcharam a passo de ganso no seu triunfo. Por muitos anos, o nazismo não sofreu nenhum revés — exceto um na frente interna.

Na própria Alemanha, os nazistas tentaram em vão liquidar as testemunhas de Jeová. O calendário tinha voltado para trás uns cinco séculos, para ressuscitar a terrível Inquisição, que se desenvolveu plenamente nos campos de concentração nazistas. Pela fé em nosso Deus, milhares de pessoas iguais a mim estão vivas para contar a história.

Voltarei para trás aos eventos que começaram em 1919 — eventos que me levaram a estar em conflito com o estado totalitário. Foi o ano em que minha mãe se tornou testemunha de Jeová, então conhecidas como. “Estudantes da Bíblia”. Eu me interessei pela música. Felizmente, seu zeloso testemunho causou que meu pai e eu fôssemos batizados como Testemunhas na minha cidade natal, Leipzig, na Alemanha, em 4 de março de 1923. Descontinuei os meus estudos de música e comecei a ganhar o meu sustento tocando em cafés e em outros locais de diversão, o que me deixou bastante tempo para a obra do Senhor. Em 1924 comecei a servir a Jeová todo o tempo, trabalhando no depósito de literatura da Sociedade em Leipzig. Quatro anos depois fui convidado a participar na projeção do Foto-Drama da Criação, produzido pela Sociedade. Milhares de pessoas ainda se lembram dos belos diapositivos que retratavam a criação da terra e o propósito de Deus para com o homem. Foi um maravilhoso privilégio exibir o Drama e visitar muitas congregações como “peregrino” ou conferencista bíblico.

A APROXIMAÇÃO DA TORMENTA

A obra de testemunho espalhou-se rapidamente na Alemanha. De 1919 a 1933, as zelosas Testemunhas alemãs distribuíram 48.000.000 de livros e folhetos, além de 77.000.000 de exemplares da edição alemã de A Idade de Ouro, agora Despertai! Em 1932, o espírito do nazismo começou então a predominar. Muitas vezes houve amotinações de pessoas contra as exibições do Drama. Isto se tornou tão ruim, que a exibição só podia ser feita com proteção policial. Durante este tempo cheguei a ser conhecido pessoalmente por vários nazistas.

Enquanto eu estava de visita no lar de uma das Testemunhas em Nuremberg, em janeiro de 1933, ouvimos a irradiação radiofônica bombástica de Berlim, anunciando que Hitler assumira o poder. Suspeitávamos o que isso significaria para nós. A tormenta desencadeou-se no abril seguinte, quando a polícia ocupou a nova e grande fábrica e lar de Betel da Sociedade, em Magdeburgo, e selou as nossas prensas. Visto que não existia nenhuma evidência de atividade subversiva, a propriedade foi devolvida em 28 de abril.

Em junho, sete mil Testemunhas reuniram-se em Berlim e adotaram uma resolução que protestava fortemente contra a ação arbitrária do governo de Hitler. Distribuíram-se milhões de exemplares dela. Em três dias confiscou-se a propriedade em Magdeburgo e os 180 que trabalhavam ali foram obrigados a partir. Nossos adversários religiosos regozijaram-se quando Hitler declarou: “Eu dissolvo os ‘Sinceros Estudantes da Bíblia’ na Alemanha; dedico, a sua propriedade ao bem do povo; mandarei confiscar toda a literatura deles.”

Visto que a Sociedade nos Estados Unidos era dona da propriedade, houve negociações entre o Departamento de Estado dos Estados Unidos e da Alemanha. A propriedade foi novamente liberada, mas a proscrição da nossa atividade de pregação não foi suspensa. As reuniões estavam proibidas. Queimaram-se Bíblias e literatura bíblica no valor de mais de 25.000 dólares. Por volta de 1934, muitas Testemunhas começaram a perder seus empregos por se negarem a votar ou a aclamar “Heil Hitler”.

Na primavera de 1934 fiquei conhecendo o interior duma prisão, por dez dias, e depois fui solto. Pouco depois consegui voltar para a Tchecoslováquia, onde eu tinha anteriormente exibido o Foto-Drama. Quão grato sou agora que numa época em que o trabalho tinha sido proscrito na Alemanha e nosso escritório fechado, eu pude projetar o Drama 122 vezes fora do país! Contudo, não era mais tão fácil como antes na Tchecoslováquia. Muitas vezes fui acordado à noite pela polícia, que temia que eu fosse nazista!

No ínterim, os irmãos na Alemanha deram um passo destemido e decisivo. Embora fosse proibido, todas as congregações se reuniram em 7 de outubro de 1934 e adotaram uma resolução de protesto, dirigida ao governo de Hitler, avisando-o de que a adoração de Jeová Deus continuaria a qualquer custo: Depois duma solene oração, os protestos foram telegrafados a Berlim. Simultaneamente, as testemunhas de Jeová em mais cinqüenta países reuniram-se e telegrafaram fortes avisos ‘à Alemanha nazista. Um plenipotenciário do General Ludendorff revelou mais tarde que Hitler, ao ver os telegramas destemidos, pulou de pé e gritou: “Esta, raça será exterminada da Alemanha!”

O MOVIMENTO SUBTERRÂNEO CRISTÃO

Quando voltei para a Alemanha, em maio de 1935, tomei parte no trabalho subterrâneo. Na noite de 13 de junho, eu fui preso no meu hotel e levado À “Casa Columbia” de Berlim, onde passei os piores cinco meses da minha vida. Espancado e pisado, sempre em solitária, vexado e humilhado diariamente, aprendi que os homens podem tornar-se animais. As perguntas insensatas dum agente da Gestapo não conseguiram incriminar-me como revolucionário. Fui inesperadamente solto e voltei pouco a pouco ao trabalho subterrâneo, para servir Jeová ainda mais.

Fizeram-se então preparativos para um congresso em Lucerna, na Suíça. No ínterim, os nazistas começaram uma nova campanha contra nós. Já a maioria dos irmãos com uma posição de responsabilidade tinham sido presos. Meus esforços eram restabelecer novamente as relações e pôr ás coisas novamente em funcionamento. Inúmeras portas e janelas dos fundos ajudaram-me a escapar por um triz da Gestapo, porém minha mãe e meu irmão foram presos.

No congresso de Lucerna, em setembro de 1936, estavam presentes o presidente da Sociedade, o irmão Rutherford, e 2.500 de nós da Alemanha. Eu fui designado para reorganizar o trabalho subterrâneo, que tinha ficado seriamente prejudicado, e comecei imediatamente.. Planeamos também uma distribuição relâmpago da resolução do congresso através da Alemanha. No sábado, 12 de dezembro de 1936, entre as cinco e as sete horas da tarde, deixaram-se silenciosamente 300.000 exemplares nos lares em todas as cidades grandes da Alemanha. As ondas de patrulhas policiais e da SS não chegaram a apanhar nem uma única Testemunha!

O trabalho subterrâneo foi naturalmente feito em face de perseguição e do perigo de perder a liberdade e a própria vida. Mas, os irmãos precisavam receber o alimento espiritual para permanecerem fortes e para terem também algo para usar no seu testemunho. As buscas feitas nos trens foram um constante perigo. Até mesmo a compra de grande quantidade de papel era considerada suspeita. Muitos portadores caíram nas mãos da Gestapo. Vários irmãos, acusados de preparar A Sentinela para distribuição, foram executados. Não obstante, as testemunhas de Deus, em amor a ele e ao seu próximo, continuaram a falar das boas novas do reino de Deus, debaixo de Cristo. Nossa habilidade engenhosa nisso foi comentada num relatório publicado na primeira página do periódico O Espelho Jurídico Nacional-Socialista, órgão oficial da justiça nazista:

“Os aderentes da proibida associação tentaram também manter entre si a associação e a fortalecer-se mutuamente na fé. Além disso, tentaram em todas as oportunidades possíveis converter outros cidadãos para o seu modo de pensar. Muitas vezes, os Sinceros Estudantes da Bíblia, ao fazerem compras, ou quando passeando, ou sentados num parque, ou parados na rua, dirigiam-se a pessoas que lhes eram estranhas, empenhando-se com elas primeiro numa palestra sobre os eventos atuais, e depois passando gradualmente para a sua crença e doutrina proibida. Achavam-no seu dever como ‘Testemunhas de Jeová’ fazer isso.” Não importa qual o risco para si mesmas, as testemunhas de Jeová estão interessadas em transmitir fé aos outros, para que estes também possam ser libertos neste tempo do fim do mundo.

SOB O TETO NAZISTA

A celebração anual do Memorial da morte de Cristo caía em 27 de março de 1937. Eu tinha combinado encontrar-me com dez irmãos, naquele tempo, para considerarmos a atividade subterrânea. Às duas horas da manhã houve fortes batidas e ponta-pés contra a porta do apartamento! Em questão de segundos escondi no colchão do meu leito um pequenino rolo de papel, que continha informação vital. Entraram dez agentes da polícia secreta: “Vamos levante-se e vista-se, Frost. Acabou a história!” Orei a Jeová e vesti-me, enquanto eles vasculharam o quarto. O pequenino rolo nunca foi achado.

As coisas aconteceram rapidamente. A Gestapo sabia dos nossos planos de nos reunirmos naquela sexta-feira para o Memorial, mas não sabiam onde. Mais de uma vez espancaram-me até eu ficar inconsciente, jogando então água sobre minha cabeça, para reanimar-me. Em pouco tempo não pude mais nem sentar-me nem deitar-me. De sexta-feira a segunda-feira quase não comi nem bebi, mas continuei a invocar a Jeová, pedindo que me ajudasse a continuar calado, pela causa dos irmãos. Quando me levaram novamente diante do bando da Gestapo, pensei em Daniel na cova dos leões. Sua onda de palavras iradas revelaram o que eu estava ansioso de ouvir: A batida policial não conseguiu apanhar os irmãos! Minha alegria foi indescritível.

O julho me trouxe o aviso da prisão de minha esposa. Meu filho seria criado por nazistas. Muitos outros filhos de Testemunhas foram arrancados dos seus pais e colocados em lares nazistas. A maioria destes jovens ficou fortalecida por esta provação. Certa moça de treze anos escreveu aos seus pais: “Sempre me lembrei dos homens fiéis tais como Jó, Daniel e outros, tomando-os como exemplo, e eu teria antes morrido do que me tornado infiel a Deus.” Apesar da severa pressão, estes filhos negaram-se a entrar no movimento da juventude hitlerista. Por causa do seu comportamento cristão, alguns foram preferidos pelos pais nazistas aos seus próprios filhos.

DO CAMPO DE PRISÃO ATÉ SACHSENHAUSEN

Na região do pântano de Emsland, o trabalho inumano e o tratamento cruel levavam a pessoa quase ao desespero. Talvez tenha ouvido falar do “inferno de Waldesrand”. A fé e o companheirismo de Testemunhas leais capacitaram-me a suportar as coisas mais difíceis. Nos domingos realizávamos estudos bíblicos em grupo, por recapitularmos de memória o que tínhamos aprendido da Palavra de Deus nos anos anteriores. Convidamos os outros prisioneiros a beber da “água da vida” junto conosco. Eles escutaram muitas vezes atentamente as nossas palestras.

Minha pena terminou depois de irromper a Segunda Guerra Mundial, e eu fui levado de volta a Berlim. Noventa e nove dias depois fecharam-se atrás de mim os portões do ‘campo de concentração de Sachsenhausen. Não se pode imaginar a crueldade da recepção pelos guardas SS; tampouco se pode imaginar a minha alegria de ser acolhido por 280 Testemunhas, todas provadas e fortalecidas por tribulações similares. Estes eram os fiéis cristãos mencionados no livro muito vendido, intitulado A Teoria e a Prática do Inferno: “Ao irromper a guerra, as Testemunhas no campo de concentração de Sachsenhausen foram convidadas a se oferecerem para o serviço militar. Cada recusa foi seguida pelo fuzilamento de dez homens de suas fileiras. Depois de quarenta vítimas terem sido mortas, a SS desistiu. . . . Não se pode deixar de ter a impressão de que a SS, psicològicamente falado, nunca estava à altura do desafio representado pelas Testemunhas de Jeová.” Que alegria e consolação estar entre elas! Compreendi melhor do que nunca o que a Bíblia queria dizer: “O ferro com o ferro se aguça, assim o homem aguça o rosto do seu amigo.” — Pro. 27:17.

Fomos repetidas vezes informados de que os portões do campo se abririam para nós se assinássemos uma declaração, renunciando à nossa fé. A senhorita Genevieve de Gaulle, sobrinha de Charles de Gaulle, da França, confirmou isso ao se lembrar de nossas irmãs no campo de Ravensbruck: “Poderiam ter ficado imediatamente livres, se tivessem renunciado à sua fé. Mas, ao contrário, não cessaram na sua resistência, conseguindo até mesmo introduzir livros e tratados no campo, o que ocasionou o enforcamento de várias delas.” Tal testemunho destemido fez que 300 jovens russas naquele campo se tornassem testemunhas de Jeová. Embora proibido de falar cone os outros prisioneiros (que receberiam vinte e cinco chicotadas e prisão solitária só por ouvir), o povo de Jeová estava determinado a manter-se firme até o fim, para demonstrar o poder de Jeová a seu favor. Um sobrevivente do campo Buchenwald relatou que as Testemunhas davam testemunho de sua fé “apesar das proibições e das punições”. Não se preocupavam apenas com si mesmas, mas também com os outros. No campo de Neuengamme, perto de Hamburgo, nossos irmãos produziram até mesmo um jornal regular, Notícias do Reino de Deus.

No campo de extermínio de Auschwitz (Oswiecim), um dos irmãos foi mandado consertar o sistema de aquecimento no local onde trabalhavam trinta irmãs. Durante a hora do almoço, durante seis dias consecutivos, falou-lhes sobre a Palavra de Deus, renovando a sua força, pelo qual elas agradeceram a Jeová. Um guarda compassivo, com o fuzil junto ao pé, sentava-se e ouvia cone interesse. Não era incomum que os guardas mantivessem palestras espirituosas com os irmãos. Nossos carcereiros recebiam sempre um testemunho franco e direto, porque sabíamos que a vida eterna deles, bem como a nossa própria, estava em jogo. Certa irmã designada a trabalhar no escritório dum SS-Obersturmführer (mais ou menos do grau de major) foi muitas vezes advertida por ele: “Mandarei cortar-lhe a cabeça!” O que ele não sabia era que ela estava usando seu equipamento para produzir literatura para um congresso no campo. Ela lhe falou muitas vezes sobre os propósitos de Jeová, e pouco a pouco ele se tornou mais amistoso. Por tal pregação destemida e amor ao próximo nasceu muitas vezes a fé na cova dos leões. Ocasionalmente, nos diversos campos, houve guardas SS que renunciaram ao seu juramento nazista e declararam a sua crença em Jeová. Estes “Saulos”, nossos perseguidores, tornaram-se “Paulos”, nossos companheiros de prisão! Muitos homens e mulheres entre os prisioneiros políticos também se tornaram testemunhas de Jeová. Até mesmo um barril de água serviu para o batismo.

A nossa fé em Jeová nunca ficou desapontada. Aquilo que Björn Hallström, bem conhecido jornalista sueco, relatou mais tarde era verdade a respeito de todos os nossos irmãos durante a inquisição nazista: “Foram tratados pior do que qualquer outro grupo, mas conseguiram, pela sua crença em Deus, sobreviver melhor do que quaisquer outros.”

Fora dos campos, as batidas da Gestapo só conseguiram prender metade das Testemunhas, em qualquer tempo específico. Ao passo que cerca de 10.000 de nós foram encarcerados, um número igual continuou a falar das boas novas do reino de Jeová. Realizavam reuniões secretas à noite, ou nas florestas. Até mesmo os enterros eram ocasiões preciosas de associação cristã.

A ESCRITA NA PAREDE

Em punição por sermos classificados de “chefes”, dezesseis de nós receberam cada um vinte e cinco golpes com uma vara de aço, seguido pelo serviço no destacamento de punição. Por fim, levaram-nos para a ilha rochosa de Alderney, entre a França e a costa inglesa, como uma chamada companhia de construção da SS. Embora tivéssemos de sofrer muitas durezas da parte de nossos carcereiros, houve também oportunidades para desviar perigos e sofrimentos de nossos companheiros de prisão. Acontecia que a estrela de Hitler estava começando a cair, depois da paralisação dos seus exércitos em Stalingrad. O nazismo estava começando a compreender a escrita na parede.

Certa noite em junho de 1944, sob o céu estrelado, estávamos embaixo, no porto, observando a invasão aliada. Depois veio a nossa retirada em velhos navios para St. Malo, dali por trem — sessenta pessoas para cada vagão de carga — através da França, da Bélgica, da Holanda e de volta para a Alemanha. O plano de afundar vários navios na Baía de Jiel, com nós a bordo, falhou quando o nosso transporte para a Áustria ficou atrasado. Nó quinto dia de maio, em 1945, os tanques americanos finalmente nos libertaram.

Aproximadamente ao mesmo tempo, a pressão do avanço dos exércitos aliados abriu os portões de vários campos de concentração, soltando milhares de prisioneiros emaciados pelo país devastado pelas bombas. Tinham de marchar sob guarda, sendo que a SS fuzilava a todos os que fossem fracos demais para continuar ou os apanhados na pilhagem de alimentos ao longo do caminho. Muitos foram mortos. As testemunhas de Jeová ajudaram-se mutuamente a prosseguir. Muitas vezes pregaram aos aldeanos, que expressaram seu reconhecimento por partilhar seu alimento — mais uma provisão de Jeová. Em pouco tempo se tornaram típicas as palavras de uma das Testemunhas: “Agora estou livre. Dou graças ao Pai e ao nosso Líder, Jesus Cristo, que eu posso continuar a louvar o Seu nome.”

A inquisição tinha fracassado.

RECONSTRUÇÃO

O espírito de Jeová estimulou-nos à ação. Muitos de nós não planejaram voltar para casa, mesmo que ainda tivessem uma. Nossa primeira preocupação foi a propriedade da Sociedade em Magdeburgo. Descobrimos que estava prestes a ser convertida num hotel para os russos. Fazer os oficiais soviéticos compreender quem eram as testemunhas de Jeová foi um trabalho enervante. É possível que o nosso trabalho na Zona Oriental nunca teria recomeçado, se não tivéssemos enfatizado dia após dia que a matriz da nossa organização na Alemanha costumava estar em Magdeburgo e que planejávamos dirigir a obra em todas as quatro zonas de ocupação desde aquele escritório. Por fim eles consentiram, e a obra prosseguiu na zona comunista como em todas as outras partes.

Em pouco tempo, as congregações alemãs ficaram novamente organizadas. No princípio pregamos quase que exclusivamente com a Bíblia e um tratado, mas pelo menos nos podíamos reunir em liberdade e nos podíamos ajudar mutuamente. Durante estas reuniões, pouco depois da guerra, nossos irmãos e nossas irmãs caíam às vezes da cadeira por causa da fome e da fraqueza. As testemunhas de Jeová na América mandaram pacotes de alimentos bem como grande quantidade de roupa, procedente de nossos irmãos americanos e suíços. Isto foi muito apreciado e foi de grande ajuda.

Foi ansiosamente que 9.000 de nós assistimos a um congresso em Nuremberg, em 1946. Magdeburgo também teve um congresso, com 6.000 presentes. Seria difícil de imitar as expressões faciais e os gestos dos russos quando nos ouviram cantar e quando viram centenas de pessoas dirigir-se ao local do batismo. Naturalmente era proibido qualquer ajuntamento na rua, mas, depois de explicarmos o batismo, não interferiram. Esta liberdade sob o fosse regime totalitário da Alemanha Oriental não havia de durar por muito tempo.

O presidente da Sociedade, o irmão Knorr, veio à Alemanha em 1947. Arrendou-se um edifício e terreno em Wiesbaden, onde se ergue agora o nosso ampliado lar de Betel. Aqui, na Alemanha Ocidental, regozijamo-nos de ver que os poucos milhares de Testemunhas, no fim da guerra, aumentaram a 68.000 proclamadores zelosos das novas felizes do novo mundo de Jeová. Meu coração transborda de alegria e gratidão a Jeová por ter realizado isso. Apreciei também as semanas felizes passadas em 1950, 1953 e 1958 nas grandes assembléias internacionais em Nova Iorque. Jeová proveu também assembléias adicionais para nós na Alemanha, tais como a de 1955, em que 125.000 vieram a Nuremberg e Berlim. Quanto os servos de Deus podem fazer e ver em poucos anos!

LIVRAMENTO CERTO

Quando os comunistas foram companheiros de prisão nos campos de concentração nazistas, muitas vezes ameaçaram: “Se nós alcançarmos o poder, enforcaremos vocês comediantes!” Em 1950 reiniciou-se a inquisição totalitária na Alemanha Oriental comunista, pela proscrição das testemunhas de Jeová. O escritório de Magdeburgo foi confiscado novamente. E mais uma vez, com fé na capacidade libertadora de Jeová, nossos irmãos aceitaram o desafio.

Pode compreender por que meus pensamentos vão muitas vezes atrás da “èortina” que divide a Alemanha, concentrando-se nestas Testemunhas que sofreram por anos nos campos nazistas e agora suportam as prisões comunistas? Atualmente há 407 Testemunhas fiéis encarceradas na Alemanha Oriental. Penso nos irmãos de setenta anos, tais como o irmão X e o irmão Y, e em outros, apenas um pouco menos idosos, tais como o irmão Z, o irmão A e o irmão B, cada um dos quais passou quase vinte anos nas mãos dos cruéis inimigos de Deus, por causa da fidelidade a Jeová.

Os relatórios que conseguem atingir-nos são corajosos e cheios de confiança. Nossos irmãos mantêm-se ali firmes, tendo sempre presente, a esperança do Reino, mantendo-a também diante dos olhos dos seus próximos. Demonstram assim diariamente que Jeová, por meio de Cristo, seu Rei, está reinando no meio dos seus inimigos. As inquisições totalitárias podem capturar e embaraçar o povo de Jeová quando ele o permite para um testemunho; mas nada pode encarcerar o espírito de Jeová!

Que os cristãos sob inquisição totalitária e seus opressores nunca se esqueçam: Jeová estava constantemente com suas Testemunhas durante a inquisição nazista. Ele as alimentou e confortou, quando clamavam esgotadas. Ele os reanimou e revigorou quando desfaleciam. Deu-lhes a asseguração do livramento peia ressurreição dos que são fiéis até a morte. E, no seu tempo devido, ele abriu os portões e libertou seu povo!

O livramento pela fé em Deus é certo. Seu novo mundo de justiça está às portas! As testemunhas de Jeová já estão cantando: “Graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo.” – 1 Cor. 15:57.

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