BIBLIOTECA ON-LINE da Torre de Vigia
BIBLIOTECA ON-LINE
da Torre de Vigia
Português (Brasil)
  • BÍBLIA
  • PUBLICAÇÕES
  • REUNIÕES
  • w62 15/2 pp. 120-124
  • A religião na Inglaterra do século dezessete

Nenhum vídeo disponível para o trecho selecionado.

Desculpe, ocorreu um erro ao carregar o vídeo.

  • A religião na Inglaterra do século dezessete
  • A Sentinela Anunciando o Reino de Jeová — 1962
  • Subtítulos
  • Matéria relacionada
  • PERSEGUIÇÃO E INTOLERÂNCIA
  • LUTA PELA LIBERDADE DE ADORAÇÃO
  • O PÊNDULO DAS ATITUDES RELIGIOSAS
  • OBRAS DE REFERÊNCIA
  • Peregrinos e puritanos — quem foram?
    Despertai! — 2006
  • Os peregrinos e a sua luta pela liberdade
    Despertai! — 1996
  • O mundo atual — tolerante ou indiferente?
    Despertai! — 1984
  • Elogiai a Jeová, nosso Deus!
    Cantemos Louvores a Jeová
Veja mais
A Sentinela Anunciando o Reino de Jeová — 1962
w62 15/2 pp. 120-124

A religião na Inglaterra do século dezessete

SEMELHANTES às ondas num mar bravio, sempre mudando, avançando e recuando, assim se apresentava a cena mudável da luta religiosa na Inglaterra do século dezessete, que nunca mais foi igualada. Suas correntes de pensamento e ação opostos destacavam-se pela amargura, pela perseguição e pelo preconceito.

No princípio do reinado de Jaime I (1603-1625), a decisão de se produzir uma nova tradução da Bíblia resultou na Versão Autorizada de 1611, que em pouco tempo se tornou mais popular do que qualquer outra versão. Mas, embora os homens gostassem da Bíblia, a tolerância de várias crenças fora da Igreja Anglicana era limitada. Depois da descoberta dum projetado atentado, o controle ficou ainda mais severo. Debaixo de Carlos I (1625-1649), as medidas rígidas adotadas pelo Arcebispo Laud, de temperamento feroz, contribuíram para, a guerra civil, para a ascendência dos presbiterianos e dos independentes e para um desafio direto lançado ao direito divino dos reis. Maior tolerância foi mostrada por Oliver Cromwell e pela Commonwealth (1649-1660), embora se restringisse o episcopado. A inversão disso ocorreu rapidamente com a restauração da monarquia, sob Carlos II (1660-1685), e assim irrompeu uma grande onda de perseguição movida aos puritanos. Jaime II (1685-1688) procurou restabelecer o catolicismo de maneira tão sistemática, que ele perdeu a coroa devido aos temores que ele criou, e mais uma vez surgiu a tolerância, esta vez em medida maior do que nunca antes.

Em todo este cenário mudado, os puritanos desempenharam o papel destacado. Mas, o que era realmente o puritano? Os escritores definem o nome de diversas maneiras, alguns considerando o puritano apenas como fanático lúgubre, outros excluem os quacres e os presbiterianos, mas, no sentido mais amplo, incluía a todos os impelidos à dissidência, não querendo conformar-se aos modos anglicanos. O nome que no princípio foi aplicado em zombaria, tornou-se em pouco tempo razão de orgulho para o puritano.

PERSEGUIÇÃO E INTOLERÂNCIA

Hoje talvez tenhamos dificuldade em entender a vida no século dezessete e como era possível que os que se chamavam cristãos mostrassem tal preconceito fanático e intolerância. Mas a religião era assim naquele tempo, porque eles não eram realmente cristãos. “O humanitarismo não fazia parte de seu ensino especial. Deve-se realmente conceder que a religião era então associada com o instrumento de tortura, a estaca, a cidade queimada, o massacre de mulheres e crianças, o ódio que nunca morre, os males que, nunca são vingados.”1

Típico disso foi a queima na fogueira de Bartolomeu Legate, em Smithfield, Londres, só porque ele rejeitava a trindade e falava a outros sobre a sua opinião. Eduardo Wightman foi o último homem na Inglaterra a ser queimado na estaca, em 1612, e isso criou tal ressentimento, que o rei decidiu que, no futuro, era melhor deixar os hereges definhar-se nas prisões. Entre outros instrumentos de perseguição havia o pelourinho, um aparelho de madeira em que se prendiam a cabeça e as mãos do ofensor. Foi principalmente às instigações de Laud que três homens, Prynne, Burton e Bastwick, foram sentenciados a uma multa de £ 5.000 (Cr$ 4.000.000, 00) e a prisão perpétua, por terem circulado ataques ao bispo. A sugestão do juiz supremo, Prynne devia receber marcadas a ferro as letras “S L”, significando caluniador sedicioso, queimadas nas bochechas. Diante duma multidão gemente, os três infelizes foram postos no pelourinho e se lhes cortaram as orelhas. Esta foi apenas uma das sentenças severas proferidas pelo tribunal chamado “Star Chamber”. Seu rival, o tribunal eclesiástico da Alta Comissão também era culpado de crueldades despóticas, fazendo repetidas vezes que homens fossem lançados na prisão sem acusação e sem processo. Durante todo o século, os julgamentos eram muitas vezes apenas farsas; convocavam-se falsas testemunhas e a pessoa acusada muitas vezes não obtinha permissão para responder às acusações lançadas contra ela, ao passo que poucos advogados se arriscavam a apresentar uma defesa em favor dela.

Os atos do parlamento foram simplesmente usados como instrumentos de perseguição. O Ato de Corporação, de 1661, removeu os magistrados puritanos; os Atos do Conventículo proibiram as reuniões religiosas não-ortodoxas. O Ato das Cinco Milhas impediu que os ministros expulsos de seus alojamentos ficassem dentro dum raio de cinco milhas de qualquer cidade, afastando-os assim de seus principais ouvintes. Até mesmo não freqüentar a igreja estabelecida podia resultar em pesadas multas, e as multas dos que não podiam pagar eram acrescentadas aos dos puritanos mais ricos. Um exemplo destas exorbitantes multas foi registrado em 1673. Sir George Maxwell, de Newark, Renfrewshire, foi multado da seguinte maneira:

Por cada sábado em que

esteve ausente da igreja

paroquial durante

três anos £ 81.200 Cr$ 24.960.000,00

Por cada sábado em que

assistiu a conventículos 62.400 49.920.000,00

Por três batismos

“desordeiros” 1.200 960.000,00

Total £ 94.800 Cr$ 75.840.000,002

Apesar disso, muitos se reuniam em lugares secretos, em celeiros, nos fornos para secar malte e lúpulo è nas florestas. Muitos eram os ataques de surpresa feitos aos conventículos, e a morte instantânea era considerada justificável. Os informantes responsáveis pela descoberta eram muitas vezes homens dos níveis mais baixos da sociedade, criminosos e vagabundos, mas, os seus relatos eram recebidos com avidez. O comentário do Arcebispo Sancroft procura justificar o uso de tais homens: “Afinal de contas, não se pode construir um navio sem usar madeira torta.”3

Outras punições incluíam muitas vezes vender-se o ofensor às colônias no além-mar. A tragédia se abateu sobre um navio carregando mais de duzentos dos destinados à escravatura em Barbados, quando o navio, atacado por uma tempestade, sofreu naufrágio ao norte da Escócia. A tripulação fechou as escotilhas a prego, de modo que os presos não podiam nadar até à costa, e a maioria deles afogou-se. O encarceramento foi o método mais usual, porém, e, em certa ocasião, 12.000 quacres, bem como outros dissidentes encheram as prisões sujas e infeccionadas em todo o país. Não era de admirar-se que muitos o achassem um julgamento da parte de Deus quando primeiro a peste e depois o Grande Incêndio de Londres assolaram a metrópole em 1665 e 1666. Os pregadores não-conformistas não eram vagarosos para encher os púlpitos deixados vagos pelos clérigos que fugiram de Londres em medo.

LUTA PELA LIBERDADE DE ADORAÇÃO

As severas restrições impostas aos conceitos religiosos do povo levaram a uma longa luta árdua pela liberdade. Tanto a imprensa como o púlpito vieram sob censura. A coroa controlava tudo o que se imprimia, por intermédio do arcebispo de Cantuária e do bispo de Londres, e fazia valer os estatutos de imprensa por meio do “Star Chamber”. Impedia-se cada saída pela qual os sentimentos puritanos pudessem achar vazão. Para pregar, era preciso obter licença, e Laud fez uma lista de todos os clérigos, assinalando os preferíveis com a letra “O” (ortodoxo) e os que necessitavam de cuidadosa vigilância coma letra “P” (puritano). Laud parecia estar decidido a executar a ameaça feita pelo Rei Jaime contra os puritanos, no sentido de que ‘os perseguiria até expulsá-los do país’. Proibia-se a importação de literatura calvinista do Continente, e, em 1628, proibiu-se até aos homens palestrarem sobre o livre-arbítrio e a predestinação, uma das principais controvérsia s daquele tempo. Certo famoso comentarista eclesiástico comentou as condições então existentes: “A disciplina da Igreja foi usada para exercer influência sobre cada ramo da vida duma geração pouco preparada para recebê-la. Intervinha na administração da família pelo homem, no seu negócio, nos seus divertimentos, bem como na sua vida religiosa e nos seus deveres religiosos. Era de admirar-se que se tornasse igualmente odiosa para os imorais, os desleixados e os meticulosos?”4

Na sua luta pela liberdade, muitos culparam o poder dos bispos. Uma petição com 15.000 assinaturas projetava a abolição do episcopado de modo tão cabal, que ficou conhecida como a Petição da Raiz e do Ramo. Com a igreja dum lado e os presbiterianos tomando a dianteira no outro, o parlamento procurava conciliar ambos, mas no fim falhou em impedir a guerra civil.

Tais práticas restritivas e ações intolerantes deram origem a um aumento vigoroso do pensamento e da literatura. Os homens, nas suas celas de prisão ou atrás das portas trancadas dos seus lares, revolviam na mente os problemas que enfrentavam individualmente. Falavam quietamente com amigos e vizinhos e ficavam pensando. Quando um pregador destemido expressava publicamente os pensamentos deles, aclamavam-no como seu paladino. George Fox veio assim a ser amplamente conhecido, e em pouco tempo, o grupo de quacres que o seguiu,ganhou o respeito pela sua doutrina de livre consciência, a orientadora “luz íntima”. O quacre suportava toda espécie de zombaria, ficando imóvel no tribunal, enquanto se lhe enchia o chapéu de água — por ordem do tribunal — pondo-o então na cabeça dele, para a algazarra dos presentes. O quacre não o removia por causa da consciência, embora a água lhe corresse pelo pescoço e pela espinha.

Embora John Milton seja agora principalmente lembrado pela sua poesia, ele chefiou as fileiras dos escritores que produziram tratados e panfletos pela causa puritana. “Que a verdade e a falsidade se engalfinhem. Quem já ouviu que a verdade fosse derrotada num conflito franco e aberto?” era o moto de Milton. Mas a maior de todas as publicações puritanas, foi sem dúvida “A Viagem do Peregrino” de John Bunyan. Escrita na prisão de Bedford, onde ele passou doze anos por se negar a conformar a sua pregação às normas ortodoxas, a história do peregrino é a sua própria experiência naquela era. O maior tesouro de Bunyan foi a sua Bíblia, e foi o livro que deu a tantos a força para lutarem em prol da liberdade. Portanto, quando em 1960 se descobriu uma Bíblia de trezentos anos de idade escondida na parede duma casa em Wrotham, em Kent, constituiu isso um forte lembrete de quanto os homens souberam avaliar a Bíblia quando confrontados com a severa perseguição religiosa.

O PÊNDULO DAS ATITUDES RELIGIOSAS

O século dezessete foi notável pelo seu grau de mudanças. O assunto ia de um extremo a outro. Sob o regime do Arcebispo Laud só se podia usar o Livro de Orações, mas, sob o regime de Oliver Cromwell, proscreveu-se o Livro de Orações. Ambos os partidos expulsaram clérigos de seus alojamentos, durante os seus respectivos regimes. Em 1604, o Rei Jaime expulsou cerca de 300 clérigos, que se tornaram conhecidos como os “irmãos silenciados”. Em 1643, foi a vez dos clérigos anglicanos, quando 2.000 deles perderam os seus alojamentos, uma questão séria para as famílias naqueles tempos. Por volta de 1662, a igreja anglicana estava de volta no poder e 2.000 não-conformistas ficaram privados deles sob o Ato de Uniformidade.

A declaração chamada “Livro de Esportes” ajuda-nos também a entender as atitudes religiosas. Este permitia os jogos desportivos no domingo se a pessoa tivesse ido à igreja. Os puritanos opuseram-se a isso vigorosamente, apesar da multa de doze pence para cada falta ao ofício na igreja. As servas até sé recusavam a lavar os pratos no domingo.

Depois se inverteu a situação, e os puritanos obtiveram o controle. O Parlamento aboliu em 1647 o Natal, o Easter (a páscoa do tipo atual), a festa de Pentecostes e o dia de Todos os Santos. A causa disto mostra quão forte era o desejo de voltarem aos verdadeiros ensinos cristãos. Hugh Martin expressa isso nas seguintes palavras: “Não devemos desconsiderar a veracidade da alegação puritana de que muitas das tradições destas festas eram pagãs, em vez de cristãs, embora achemos às vezes possível podermos aprender até mesmo dos pagãos. Nas Escrituras não há justificação para tais dias; não foram mencionados pelos Pais apostólicos, é muitos dos primitivos escritores cristãos, tais como Crisóstomo, Sócrates, o historiador, e Orígenes, foram bastante críticos quanto à sua observância. Há bastante evidência para indicar que muitas das festas cristãs foram deliberadamente sobrepostas às festas pagãs.”5

As atitudes divergentes refletiam-se também na posição da mesa de comunhão. Devia o seu lado mais comprido estender-se do norte ao sul ou do leste ao oeste? Laud insistiu na primeira posição, “semelhante a um altar”. Mas, com a queda de Laud, as mesas voltaram à sua posição anterior, pelo qual houve grande regozijo. A vingança pelas ações de Laud manifestou-se na depredação de muitas igrejas, ou “casa de campanários”, como eram chamadas. Em Norwich, a catedral foi interiormente reduzida a ruínas, e o órgão, as vestimentas, os mantos, as sobrepelizes e os livros de ofício foram levados à praça do mercado para serem queimados, enquanto a multidão transformou a catedral numa cervejaria.

O breve regime dos presbiterianos viu a introdução da Liga e Pacto Solene. Em troca de ajuda militar da Escócia, o parlamento concordou em reformar a religião na Inglaterra e estabelecer a forma presbiteriana de governo eclesiástico. A famosa Assembléia de Westminster reuniu-se para resolver os pormenores, mas pouco se fez na realidade, e o presbiterianismo nunca ganhou muita força na Inglaterra. Antes, foram os Independentes ou os não-conformistas que, especialmente durante o tempo de Cromwell, lançaram o alicerce para o que havia de durar por séculos, garantindo a sua sobrevivência.

Oliver Cromwell é ainda uma das figuras mais controversas da história inglesa. Durante o seu domínio prevaleceu uma atitude mais tolerante para com as diferenças religiosas. Cromwell achava que todas as suas ações eram governadas por Deus, uma atitude partilhada por grande número de pessoas naqueles dias. Isto o levou ocasionalmente a declarações infelizes. Na captura de Drogheda, na Irlanda, Cromwell ordenou o massacre mais horrendo, justificando-o por dizer: “Estou convencido de que este é um julgamento justo de Deus sobre estes canalhas bárbaros.”6 Winston Churchill, descrevendo a batalha de Dunbar, onde Cromwell enfrentou os escoceses religiosos, observa com compreensão: “Ambos os lados apelaram confiantemente para Jeová; e o Altíssimo, achando tão pouca escolha entre eles em matéria de fé e zelo, deve ter permitido que fatores puramente militares prevalecessem.”7

Com o restabelecimento da monarquia, a Igreja Anglicana ficou novamente dominante e a perseguição dos puritanos foi em muitas partes renovada com vigor. Mas, os não-conformistas eram agora mais fortes, mais seguros de suas próprias idéias e objetivos. Com a morte de Carlos II, o pêndulo voltou rapidamente para o outro lado, quando Jaime colocou católicos romanos nos diversos cargos, em toda a parte. Ao procurar ganhar os dissidentes para a sua própria causa, ele os impeliu para o campo anglicano. Suas maquinações foram demasiado aparentes, e ele fugiu para a França quando Guilherme de Orange foi convidado para desembarcar na Inglaterra.

Guilherme não concordou em governar sem liberdade de adoração. Em 1689, o Ato de Tolerância viu o fim de grande sofrimento por causa da consciência em assuntos religiosos, embora exemplos isolados, tais como o massacre de Glencoe, três anos depois, ainda revelassem muito ódio e amargura.

Nem uma única vez, no século dezessete, voltou-se o pêndulo para um proceder realmente cristão da parte do governo e do povo. Foi uma era que se caracterizou pelo medo, pelo preconceito, pela perseguição, pela corrupção e pelo favoritismo. O enlace entre igreja e estado levou a grande restrição da liberdade para muitos e a promulgação de uma lei após outra para impedir os dissidentes. Tal página da história pode ser um aviso para hoje; seguir tal proceder seria rejeitar o conselho sadio do apóstolo, dado há dezenove séculos: “Por outro lado, os frutos do espírito são amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, autocontrole. Contra estas coisas não há lei.” — Gál. 5:22, 23:

OBRAS DE REFERÊNCIA

1 England Under the Stuarts, de G. M. Trevelyan, página 28.

2 The Scottish Covenanters, de J. Barr, página 98.

3 A Collection of the Sufterings of the People Called Quakers, de J. Besse; 1753, Tomo I, página 460.

4 The Church and the Puritans, de H. O. Wakeman, página 133.

5 Puritanism and Richard Baxter, de H. Martin, página 111.

6 Cromwells’s Letters and Speeches, de T. Carlyle, Letter 98, 17 de setembro de 1649.

7 A History of the English-speaking Peoples, de W. S. Churchill, Tomo 2, página 235.

    Publicações em Português (1950-2025)
    Sair
    Login
    • Português (Brasil)
    • Compartilhar
    • Preferências
    • Copyright © 2025 Watch Tower Bible and Tract Society of Pennsylvania
    • Termos de Uso
    • Política de Privacidade
    • Configurações de Privacidade
    • JW.ORG
    • Login
    Compartilhar