A Perseverança Apesar da Oposição Traz Regozijo
Relatado por A. J. Joseph
QUANDO Jesus enviou seus discípulos a pregar, êle lhes disse que esperassem oposição. Disse também que o espírito santo os ajudaria a vencer tal oposição e que de fato poderiam regozijar-se quando perseguidos. — Mat. 5:10-12.
Tenho tido a experiência de tal oposição durante meus cinqüenta anos de serviço a Deus na Índia. Tenho também tido a experiência da ajuda do espírito santo de Jeová. Em adição, tive muitas ocasiões de regozijo, mesmo quando perseguido, estando contente com o conhecimento de que fizera a coisa certa e agradara a Deus como no caso dos antigos profetas.
CHAMADO AO MINISTÉRIO
Foi em 1905 que entrei em contato com a literatura publicada pela Sociedade Tôrre de Vigia. Morava então com meus pais em Travancor, uma das províncias do estado de Querala, Índia Meridional.
Já havia começado a suspeitar que algumas das doutrinas e práticas da Igreja Anglicana, à qual pertenciam meus pais, não eram bíblicas. Entretanto, nem meus pais nem quaisquer de meus amigos religiosos puderam esclarecer-me sôbre as minhas perguntas. Meu pai sugeriu que eu escrevesse a certo senhor que estava a cargo de uma organização de igreja na Índia Meridional e lhe perguntasse se por acaso tinha livros que pudessem explicar a doutrina da trindade sôbre a qual eu levantava dúvidas. Fiz isso. O que é que aquêle senhor me enviou? Ora, o quinto volume da publicação da Sociedade Tôrre de Vigia, Estudos nas Escrituras, intitulado “A Expiação Entre Deus e o Homem.” Mediante êste livro entendi pela primeira vez a verdade relativa à supremacia de Jeová, a relação entre Deus e Jesus Cristo, e o significado do espírito santo. Não demorou muito e adquiri mais dessas publicações, inclusive a revista A Sentinela.
Em fins de 1906 fiquei gravemente enfêrmo, e precisei ir morar em Cudapá, perto de Madrasta. Tive ali a oportunidade de estudar intensivamente, e logo que recuperei da minha enfermidade comecei a difundir a mensagem do Reino por meio de tratados que obtive da matriz em Brooklyn da Tôrre de Vigia. Arrumei um emprêgo para me sustentar e passei os poucos anos seguintes pregando aos “cristãos” naquela região.
Como leitor assíduo da revista A Sentinela, fiquei sabendo que o residente da Sociedade Tôrre de Vigia, C. T. Russell, ia visitar a Índia em 1912 em relação com a sua volta ao mundo. Quando êle chegou, tive a oportunidade de ouvi-lo falar. Pedi se poderia falar com êle em particular. Apesar de seu horário bem ocupado, êle me atendeu por duas horas. Convidou-me a assumir a ocupação de pregar as boas novas por tempo integral. Argumentei, como Jeremias da antiguidade, que não tinha experiência para empreender tal trabalho de responsabilidade. Êle me disse que Jeová ajudaria, fortalecendo-me como havia feito com todos os seus servos. Aceitei o privilégio.
Viajei de um lado a outro por estrada de ferro na Índia Meridional, parando em tôdas as estações para distribuir tratados nas aldeias circunvizinhas. Tinha de viajar de carro de boi para outras aldeias que ficavam bem no interior. Caminhava longas distâncias onde não havia meios de transporte. Nas áreas alagadas usava as primitivas barcaças do interior para chegar até aonde se encontravam as pessoas.
O campo de pregação na Índia era grande e compreendi a necessidade de ajuda. Pedi ao presidente da Sociedade Tôrre de Vigia para que enviasse alguém da América do Norte ou da Inglaterra para organizar o trabalho em âmbito maior. Foi enviado um irmão da filial de Londres e outro foi redesignado de Malaia. Isto se deu em meados de 1913.
O trabalho progrediu bem em Travancor, especialmente na parte central e setentrional do estado. Foram dados discursos com bastante publicidade em quase todos os centros ”cristãos”. Ficamos uma semana em cada lugar e realizamos reuniões tôdas as noitinhas. Dava-se oportunidade à assistência de fazer perguntas. As vêzes, essas palestras se prolongavam até altas horas da noite. Logo foram organizados pequenos grupos de pessoas interessadas para estudo regular da Bíblia.
Quando estourou a primeira guerra mundial, os irmãos britânicos foram chamados de volta para casa e eu tive que continuar do melhor modo que podia. Viajei para os locais onde pequenos grupos haviam aceitado a verdade em resultado das conferências públicas e dirigi estudos bíblicos com êles. Fiquei muito encorajado com os muitos frutos manifestos.
OPOSIÇÃO
Logo depois os líderes religiosos de diversas seitas “cristãs” instigaram grande oposição. Incitaram motins para criar distúrbios quando eu encontrava pessoas que mostravam interêsse. Se não fôsse a ajuda de Jeová, mediante o Seu espírito, eu teria desistido por causa da forte oposição.
Certo clérigo da igreja anglicana me desafiou a um debate sôbre a doutrina da imortalidade da alma. Havia uma assistência de cêrca de 300 para o debate. Citando apenas um texto da Bíblia, êle fracassou lastimàvelmente em provar que o homem tem alma imortal. Usando eu as Escrituras, a assistência pôde ver o ponto de vista correto sôbre essa doutrina. Depois do debate, alguns vieram para a frente e expressaram o desejo de aprender mais. Em resultado disso, organizou-se uma nova congregação naquela aldeia chamada de Thottakkad.
Em outra ocasião, eu dirigia uma reunião pública na cidade de Pallam, ao sul de Kottayam. Mal havia falado quinze minutos quando um homem robusto pulou por cima de mim e me lançou por terra, arrastando-me com êle enquanto um bando de gente batia tambores. Entretanto, êste incidente humilhante não diminuiu o meu zêlo. Só podia regozijar-me de ter sido contado digno de sofrer tal afronta pelo nome de Jeová. Certo transeunte que notara o incidente veio à minha casa no dia seguinte e expressou profunda condolência, convidando-me a dirigir reuniões públicas por uma semana inteira na sua própria propriedade, onde êle pôde armar um salão temporário. Aceitei, e essas reuniões foram bem concorridas, de 300 a 400 pessoas estavam presentes. Logo se formou mais uma congregação.
Ao passo que o trabalho progredia, intensificava-se a oposição, especialmente da parte das organizações religiosas da cristandade. Durante uma conferência, na cidade de Pullad, certo missionário de uma dessas seitas me interrompeu. Pedi-lhe bondosamente que se sentasse, mas êle não quis. Êle influenciou seus seguidores a derrubar a barraca temporária que havíamos armado para essa reunião, causando muito alvorôço. Mas, no dia seguinte, armamos a barraca outra vez e recebemos proteção da polícia. As reuniões continuaram no decorrer da semana inteira.
Houve em seguida diversos outros ataques instigados pelos clérigos. Em Kundara, aluguei um local para realizar reuniões públicas. Alguns irmãos distribuíram convites que anunciavam os discursos. Comecei um dos meus discursos na hora marcada, mas, vinte minutos depois, um proeminente clérigo, de uma das igrejas, postou-se diante de mim e deu um sinal à sua turba para que batessem em latas vazias e gritassem bem alto. O referido ministro, um professo líder “cristão”, instigou ainda mais o seu motim desregrado a jogar excremento de vaca e barro em cima de mim. Um cavalheiro de respeito, hindu, de influência, que se achava por perto, veio ver o que era todo aquêle barulho. Êle perguntou ao clérigo se isso era o exemplo que Cristo deu para os cristãos seguirem, ou se a oposição dêle contra mim era o exemplo deixado pelos líderes religiosos judaicos dos tempos de Jesus. O clérigo enrubesceu e recuou, e após isso eu continuei o discurso.
Em face de tôda esta oposição, recebi grande encorajamento mediante uma carta que recebi do presidente da Sociedade Tôrre de Vigia naquele tempo, J. F. Rutherford. A sua carta incluía o seguinte parágrafo: “Poderá esperar incrementada perseguição da parte dos que têm o espírito do adversário, porque êle está vendo que seu reino vai caindo ràpidamente. Todos os seguidores do grande Rei dos reis devem ser animados a avançar agora com zêlo renovado, ao passo que vemos que seu Reino esmaga totalmente o império de Satanás e em breve o estabelecimento da justiça.”
Em dezembro de 1921, o irmão Rutherford escreveu-me dizendo que fizesse arranjos para que tôdas as congregações realizassem reuniões públicas num domingo à tarde, em princípios de 1922. Todos haveriam de usar o tema: “Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão”. Este grandioso discurso público foi dado em quase tôdas as vilas e aldeias do nosso território. Êste testemunho cabal amargurou ainda mais aos clérigos, mas a obra prosperou.
PERSEVERANÇA APESAR DE TRAGÉDIA
Em 1925, ocorreu uma grande calamidade em minha família. Por causa de um sério tipo de disenteria três de meus filhos morreram. Isto foi um grande choque para mim e para minha espôsa, mas ficamos confortados pela nossa firme fé na ressurreição. Jeová nos susteve a ambos para que suportássemos tal calamidade com coragem e fôrça e continuássemos com o trabalho.
Quão emocionado fiquei de ter perseverado, quando, em julho de 1926, recebi uma carta da matriz em Brooklyn informando-me que o irmão F. E. Skinner estava designado para a Índia a fim de abrir uma filial em Bombaim e pedindo-me que continuasse o meu trabalho sob a direção desta filial. Meus sonhos se concretizaram! Especialmente a partir de então, a obra de pregação tem feito um firme progresso na Índia ao passo que a filial tem oferecido sugestões práticas relativas aos métodos a adotar na organização de congregações e no testemunho às pessoas. Ano após ano, tem havido um contínuo ajuntamento das pessoas semelhantes a ovelhas, sob a direção do Excelente Pastor Cristo Jesus, ao ponto de haver atualmente duas mil pessoas na Índia que estão associadas com 74 congregações, tôdas unidas em adorar a Jeová Deus.
Olhando para os cinqüenta anos do meu serviço a Jeová, na Índia, regozijo-me de que o Todo-poderoso Deus tem sido bom para comigo e me tem ajudado a perseverar durante todo êste tempo a despeito da intensa oposição. Embora eu esteja fi̇̀sicamente fraco agora por causa de minha idade avançada, sinto-me feliz aguardando o cumprimento adicional dos propósitos de Jeová.