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  • ‘Não consultei nem a carne, nem o sangue’

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  • ‘Não consultei nem a carne, nem o sangue’
  • A Sentinela Anunciando o Reino de Jeová — 1974
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A Sentinela Anunciando o Reino de Jeová — 1974
w74 1/5 pp. 282-286

‘Não consultei nem a carne, nem o sangue’

Conforme narrado por Emile Schrantz

QUANDO olho para trás, para os muitos anos gastos no serviço de Jeová, destaca-se um fato: “Não entrei imediatamente em conferência com carne e sangue.” Acho que estas palavras do apóstolo cristão Paulo, em Gálatas 1:16, também podem ser aplicadas a mim. Por quê? Porque logo no começo de minha carreira cristã, bem como muitas vezes na minha vida, ‘não consultei nem a carne, nem o sangue’, mas sim a Deus e sua Palavra.

Como jovem, porém, eu sabia muito pouco sobre Deus. Cresci na parte setentrional do Grão-Ducado do Luxemburgo, chamada Ösling; estávamos saturados de superstição. Por exemplo, faziam-se orações ao ‘Santo’ Albino, para proteger as vacas contra doenças, e ao ‘São’ Celso, para prevenir acidentes e doenças nos cavalos. Até mesmo orávamos a um ‘santo’ para proteger os porcos.

Meu pai, que era muito religioso, cultivava em mim o desejo de me tornar sacerdote. Eu já servira como acólito durante a Missa. Contudo, os acontecimentos que se seguiram à primeira guerra mundial abalaram minha confiança nos sacerdotes. Quanto a mim, havia sido informado de que, quando tomasse a minha primeira Comunhão, aos doze anos de idade, Deus se achegaria mais a mim e seria o dia mais maravilhoso da minha vida. Contudo, apesar duma preparação cabal, aquele dia só me trouxe a sensação de vazio. A mesma desilusão ocorreu na minha confirmação; não observei nem a mais leve manifestação do espírito santo, conforme se me prometera. Não mais tinha o desejo de me tornar sacerdote.

Passaram-se os anos, e eu passei a beber muito, desencaminhado por amigos. Mas, por volta de 1930, tomei por hábito visitar cada domingo um de meus irmãos. Muitas vezes falávamos sobre os dias da nossa juventude e conversávamos sobre o desapontamento que sentíamos por sermos ignorantes quanto a Deus e seus propósitos. Falávamos sobre a Bíblia, que nunca havíamos visto e que só o sacerdote parecia ter. Muitas vezes, meu irmão disse: “Se Deus não tiver outra coisa para nos dizer, exceto o que o sacerdote ensina, então Ele não existe.” Ele acrescentava as palavras: “Se tão-somente pudéssemos conseguir a própria Bíblia!” Até então, eu só pudera consultar carne e sangue. Se eu apenas pudesse ter a Bíblia e verificar diretamente o que procedia de Deus!

CONSULTA A DEUS POR MEIO DE SUA PALAVRA

Alguns dias depois de termos rememorado tais coisas, em 1933, veio um homem à porta da casa de meu irmão. Era estudante da Bíblia, uma das testemunhas de Jeová. Falava sobre profecias bíblicas. Meu irmão perguntou-lhe logo onde podia obter uma Bíblia. “Posso trazer-lhe uma esta noite”, respondeu o homem.

Naquela mesmíssima noite, ele voltou com dois exemplares duma tradução católica da Bíblia, junto com diversos folhetos, para ajudar no estudo da Bíblia. No domingo seguinte, meu irmão veio visitar-me com o rosto radiante. “Deus nos respondeu”, disse ele. “Temos a Bíblia Sagrada!” Ter a Bíblia era como que ter fogo nas mãos; fascinava-nos.

Naquele dia, continuei a ler a Bíblia até altas horas da noite. Os folhetos bíblicos que o homem deixara, intitulados “O Julgamento”, “A Liberdade dos Povos”, “Onde Estão os Mortos?” e “Céu e o Purgatório”, também me impressionaram.

Em resultado do que li, parei de beber com os amigos. Estes se voltaram então contra mim, caluniando-me. De fato, carne e sangue lutavam contra mim, mas Jeová entrara então na minha vida por meio de sua Palavra, a Bíblia, e ele venceu.

Meu irmão faleceu algumas semanas depois num acidente de trabalho, e perdi assim aquele que poderia ter sido meu companheiro íntimo na verdade de Deus. Precisava de outros em quem confiar. Por isso comecei a procurar verdadeiros amigos, os que consultavam a Jeová, mas eles não estavam muito perto. Reuniam-se em Athus, para o estudo da Bíblia, e isto significava uma viagem de cerca de vinte e cinco quilômetros desde o lugar onde eu morava, em Clemency. Eu assistia às reuniões quantas vezes meu trabalho permitia.

Em 1935, houve uma assembléia de um dia em Bruxelas. Na véspera da assembléia, o irmão Delaunoy, do escritório parisiense da Sociedade Torre de Vigia proferiu o discurso de batismo, e o batismo foi realizado numa banheira no porão da filial da Sociedade. Eu estava entre os batizados. No dia seguinte, de bom grado tomei parte no serviço de campo, e à tarde, cerca de duzentas pessoas, de muitas nacionalidades diferentes, estavam presentes.

SOZINHO, CONFRONTADO COM UMA DECISÃO IMPORTANTE

As condições mundiais atingiram um auge febril com a aproximação da Segunda Guerra Mundial. A atitude neutra e intransigente das testemunhas de Jeová causou um aumento da oposição. Eu falava com denodo cada vez maior sobre Deus e seus propósitos, mas isto me trouxe oposição e dificuldades. Em 1935, tive de tomar uma decisão: ou fechar a boca e manter meu emprego numa padaria, ou falar com denodo e perdê-lo. Fiz a minha escolha sem consultar pais ou amigos, nem mesmo outras Testemunhas. De qualquer modo, não havia nenhumas perto, para as quais me pudesse explicar. Eu tinha Jeová e sua Palavra. Decidi devotar-me inteiramente à sua Palavra e continuar enquanto tivesse pão e água.

Por isso, escrevi à filial da Sociedade Torre de Vigia, requerendo tornar-me ministro pioneiro, ou pregador por tempo integral, da Palavra de Deus. Algumas semanas depois, parti do Grão-Ducado do Luxemburgo para pregar na província vizinha de Luxemburgo (na Bélgica). Sozinho e com uma bicicleta, cobri toda a região florestal do planalto chamada “Ardenas”, tendo confiança em Jeová. A região era agreste e o povo estava em escuridão espiritual. Não muitas famílias estavam inclinadas a receber-me, mas, com o tempo, três ou quatro abriram seus lares para me oferecer de vez em quando alojamento temporário.

Em 1937, a Sociedade proveu-me um companheiro ministerial. Fomos designados a pregar as boas novas em Antuérpia, uma grande cidade da Bélgica. Com a ajuda de meu companheiro, André Wozniak, aprendi a viver economicamente e a me contentar com as meras necessidades, para permanecer no ministério de tempo integral. Naquele tempo, conseguimos viver com dez francos belgas (c. Cr$ 1,30) por dia, continuando saudáveis e felizes. Estávamos alegres no serviço de Jeová.

Pregar a verdade de Deus em Antuérpia não era sem problemas, porque os clérigos notaram nossa atividade incansável e procuraram impedir-nos por meio da polícia. O cenário era sempre o mesmo: A polícia prendia-nos sob o motivo de que mascateávamos sem licença. Em geral, depois de explicar a legalidade de nossa missão pregadora, o caso era arquivado, mas tínhamos a oportunidade, perante diversas autoridades, de dar testemunho do reino de Deus.

A invasão da Bélgica pelos nazistas, em 1940, acabou com nossa liberdade de pregar abertamente a palavra de Deus. Durante os primeiros dias da guerra, fui à filial da Sociedade em Bruxelas para apanhar diversas caixas de publicações bíblicas, a fim de impedir que fossem confiscadas. Elas se mostraram mais tarde muito úteis para nós.

DURANTE A OCUPAÇÃO ALEMÃ

Em pouco tempo, a Gestapo, a polícia secreta nazista, começou a procurar-nos. Meu companheiro havia sido designado superintendente de zona para visitar as congregações, a fim de edificá-las. A Gestapo procurava capturá-lo, e, certo dia, durante a minha ausência, vieram ao meu alojamento. A proprietária, irmã recém-batizada na verdade de Deus, foi advertida de que ela seria encarcerada se não informasse a polícia sobre a minha volta. Quando retornei para casa, ela me contou o que havia acontecido. Pedi-lhe que me deixasse ir e avisar meus irmãos cristãos, e que então eu voltaria. Avisei um número bastante grande de famílias, deixei uma caixa de publicações bíblicas num esconderijo seguro, e então voltei, sabendo o que esperar.

Eu não tinha a ninguém para me aconselhar sobre o que fazer. Mas queria manter a minha palavra e não criar problemas para a nova Testemunha. A Gestapo veio e me prendeu. Interrogaram-me sobre o paradeiro de meu companheiro. Eu lhes disse que havia ido visitar sua “família”. Meu interrogador parecia achar minha resposta razoável. A seguir, mostraram-me listas com nomes de Testemunhas e quiseram saber seu paradeiro. Decidi falar sobre os nomes daqueles que já estavam mortos ou haviam deixado o país. Quanto aos outros nomes, eu disse que conhecia muitos de vista, mas não de nome. Depois duma detenção de quatro dias em Antuérpia, fui transferido para uma prisão em Bruxelas.

A Gestapo decidiu que eu não seria liberto até que desse informações que levassem à prisão de meu companheiro. No entanto, depois de quarenta dias fui solto. Durante todas as interrogações pela Gestapo, apreciei muito o conhecimento de Deus e de sua Palavra que havia obtido, porque eu tinha de tomar muitas decisões importantes, sem me aconselhar com carne e sangue.

Ao ser liberto, decidi que era mais prudente sair daquela região, onde estava sendo muito vigiado. Voltei às Ardenas. Dali em diante, e até o fim da guerra, recebi diversas tarefas: Superintendente de circuito, tradutor e correio para impressos clandestinos (imprimíamos A Sentinela em francês, flamengo, alemão, polonês, esloveno e às vezes em italiano). Isso sempre era arriscado, e por isso tínhamos de estar constantemente atentos, prontos para fazer decisões rápidas. Em tais ocasiões, sente-se mais do que nunca a inteira dependência de Jeová e a necessidade de se estribar Nele passo por passo; e foi isto o que fiz. Estava acostumado a buscar conselho Dele em oração, e nunca foi em vão que lhe pedi ajuda.

Visto que eu não tinha carteira de trabalho, exigida pelas autoridades alemãs, corria o risco de ser deportado para a Alemanha, para fazer trabalho forçado. Uma anotação na minha cédula de identidade, porém, habilitou-me mais de uma vez a sair dos apuros. Minha profissão estava anotada como “missionário”. Assim, certa vez, quando fui apanhado num controle militar, enquanto carregava publicações bíblicas proibidas, um soldado pediu minha carteira de trabalho. Respondi que não precisava dela, por ser missionário e assim estar isento. Outro soldado concordou que eu não precisava duma carteira de trabalho. Ele me perguntou então o que eu carregava. Era o compêndio bíblico Filhos, impresso clandestinamente em Bruxelas. Eu lhe disse que era um livro religioso, chamando sua atenção para as citações bíblicas e ele ficou satisfeito.

Não podia obter cupons de racionamento para alimentos das autoridades, porque não queria arriscar registrar-me em qualquer prefeitura da Bélgica. Contudo, não passei fome, porque era notável o amor de meus irmãos cristãos. Embora eles mesmos tivessem apenas as meras necessidades da vida, faziam sacrifícios com alguns cupons de racionamento, entregando-os às Testemunhas responsáveis por ajuntá-los para seus irmãos cristãos que se ocultavam da Gestapo. Uma boa cenoura com um pedaço de pão satisfazia-me para o almoço. Eu havia cultivado a atitude expressa pelo apóstolo Paulo: “Aprendi a ser auto-suficiente em qualquer circunstância em que esteja.” (Fil. 4:11) As acomodações variavam; às vezes dormia no feno, num colchão de palha no chão, ou num banco duma estação da estrada de ferro.

Minha bicicleta sempre era o meio mais seguro de transporte, porque podia facilmente evitar as multidões e as buscas. Naturalmente, viagens de cem quilômetros ou mais nem sempre eram fáceis, especialmente não nas Ardenas, durante o grosso do inverno, em estradas cobertas pela neve ou pelo gelo. Mas tínhamos muita alegria em levar alimento espiritual aos nossos irmãos cristãos, e seu apreço nos recompensava grandemente pelas dificuldades e pelos riscos que tomávamos. Jeová abençoou os esforços de seu povo, porque, dos cem que éramos na Bélgica em 1940, aumentamos para mais de seiscentos até o fim da guerra.

NÃO MAIS NA CLANDESTINIDADE

Depois do fim da ocupação, recebi a tarefa de ajudar a reorganizar as congregações do povo de Jeová. Quando se completou esta obra de reorganização, fui convidado a escolher uma região onde não se fazia nenhuma pregação e servir ali como ministro pioneiro especial. Escolhi a cidade de Arlon, baluarte jesuíta, no sul das Ardenas. Fui para lá apenas com a minha bicicleta, duas malas e uma vitrola portátil, para tocar discursos bíblicos gravados.

Comecei a visitar as pessoas. Justamente naquela ocasião, a revista Consolação (agora Despertai!) publicava artigos que expunham os clérigos. Nem se precisa mencionar que minhas atividades puseram a cidade em polvorosa, mas eu havia sido endurecido pelos anos de guerra e estava decidido a continuar a pregar. Fez-se progresso, e finalmente uma família interessada ofereceu seu lar para um estudo da Sentinela em grupo.

Um número bastante grande de mulheres, naquela região, mostrou interesse em ter um estudo bíblico. Por isso, pedi que uma irmã cristã, que era viúva e pregadora por tempo integral, me ajudasse com estes estudos bíblicos. Mais tarde nos casamos e ela se tornou minha companheira permanente no ministério. Aos quarenta e cinco anos de idade, ela aprendeu a andar de bicicleta para cuidar de seu serviço de pioneira. Este continuou a ser nosso modo de transporte até 1958. Pudemos ajudar muitas pessoas, nesta região, e hoje há uma congregação próspera nesta cidade, e mais outra congregação por perto.

Mais tarde, a Sociedade designou-me para visitar as congregações como superintendente de circuito. Além de abranger três províncias belgas, incluía também o Grão-Ducado do Luxemburgo. Havia oposição especialmente severa no Grão-Ducado. As autoridades tornavam a vida difícil para nós, prendendo-nos muitas vezes. Cada vez confiscavam nossas bicicletas e nossas pastas de livros. Nossos irmãos cristãos providenciavam então outro equipamento para nós, e começávamos logo de novo. Finalmente, o caso foi levado perante o tribunal mais alto do Luxemburgo e a decisão foi a nosso favor. Todos os nossos bens confiscados foram devolvidos.

Mais tarde, fomos convidados a escolher outra região em que pregar, onde havia maior necessidade. Escolhemos Marche-en-Famenne, também nas Ardenas. Partimos para nossa designação, confiantes em que acharíamos acomodações antes de cair a noite. Mas não achamos nada. Por isso voltamos à estação da estrada de ferro, quando vimos, de repente, uma senhora dirigir-se a nós. Perguntou-nos se éramos os que procuravam alojamento; ela tinha exatamente o que necessitávamos. Começamos de novo desde o princípio.

Com o passar dos anos, pudemos iniciar estudos bíblicos, mas foi preciso ter muita perseverança, porque passaram-se oito anos de trabalho árduo antes de nossa cozinha ficar pequena demais para as reuniões. No entanto, lançou-se o alicerce, e a congregação aumentou. De modo que, em 1967, fomos designados para outra região — Aywaille e suas redondezas, não muito longe de Liège.

Novamente tivemos o privilégio de ajudar na edificação duma congregação, partindo praticamente do nada. Por fim, a congregação tornou-se bastante próspera para se estabelecer num local adequado, durante 1972.

No começo de 1971, a saúde de minha esposa caiu repentinamente. Ela foi implacavelmente atacada de câncer. Havia sido minha companheira fiel durante vinte e cinco anos, compartilhando comigo as aflições e os sacrifícios, para que a luz da verdade de Deus pudesse brilhar no Luxemburgo.

Assim como se deu com o apóstolo Paulo, que havia passado por muitas dificuldades, mas que estava cônscio da aprovação de Jeová, sinto-me feliz de ter estado no ministério de tempo integral por tantos anos. Não lamento não ter entrado em conferência com carne e sangue antes de tomar a minha decisão de servir a Jeová com toda a minha força vital. Se eu tivesse de começar tudo de novo, tomaria a minha bicicleta e sairia pregando a Palavra de Deus, assim como fiz em 1936. Jeová cuidou liberalmente de todas as minhas necessidades. Meu desejo é continuar fiel na tarefa de que me incumbiu.

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